Assíria

Todas as postagens sobre a Assíria publicadas no Observatório Bíblico. Em ordem cronológica, da mais recente à mais antiga:

:: Fontes textuais para o Akitu durante o Primeiro Milênio a.C. – 21.11.2024Senaquerib, rei da Assíria de 705 a 681 a.C.

:: Layard e Botta em Nínive em 1842 – 17.10.2024

:: Assíria e Egito na Palestina na época de Josias – 03.10.2024

:: A escavação arqueológica da Assíria – 17.08.2024

:: O império assírio: ascensão e queda – 11.06.2024

:: Tiglat-Pileser I, rei da Assíria de 1115 a 1076 a.C. – 18.05.2024

:: Notas sobre o começo da arqueologia na Mesopotâmia – 20.03.2024

:: Como ser um assiriólogo? – 28.06.2023

:: Eles criam uma solidão e a chamam de paz: o domínio assírio na Palestina – 16.03.2022

:: As campanhas militares de Tiglat-Pileser III na Síria e na Palestina – 13.03.2022

:: A imperialização da Assíria: uma abordagem arqueológica – 16.02.2022

:: Projeto Biblioteca de Assurbanípal – 03.02.2022

:: Revisitando o legado de Layard – 16.03.2021

:: A tomada de Laquis por Senaquerib em 701 a.C. – 3 — 27.04.2020Assurbanípal, rei da Assíria (668-627 a.C.)

:: A tomada de Laquis por Senaquerib em 701 a.C. – 2 — 27.04.2020

:: A tomada de Laquis por Senaquerib em 701 a.C. – 1 — 27.04.2020

:: Um retrato de Senaquerib, rei da Assíria – 16.04.2020

:: O cerco de Jerusalém por Senaquerib em 701 a.C. – 11.04.2020

:: As inscrições reais do período neoassírio – 07.04.2020

:: A invasão de Judá por Senaquerib: as fontes – 28.03.2020

:: Senaquerib, rei da Assíria – 14.03.2020

:: Eu sou Assurbanípal: exposição no Museu Britânico – 04.02.2019

:: Ensaios sobre a Assíria – 02.01.2018

:: Sargão II, rei da Assíria – 13.10.2017Os relevos de Laquis no British Museum, Londres

:: Religião e ideologia na Assíria – 13.06.2017

:: Assíria: a pré-história do imperialismo – 08.06.2017

:: O EI e a destruição do patrimônio arqueológico na Síria e no Iraque – 05.09.2015

:: A invasão de Judá por Senaquerib em 701 a.C. – 22.03.2015

:: O EI está mesmo destruindo artefatos assírios? – 27.02.2015

:: Ezequias e os espiões da Assíria – 01.02.2007

:: As campanhas de Tiglat-Pileser III contra Damasco e Samaria entre 734 e 732 a.C. – 21.06.2006

Um guia para a leitura do livro de Isaías

HAYS, C. B. (ed.) The Cambridge Companion to the Book of Isaiah. Cambridge: Cambridge University Press, 2024, 400 p. – ISBN 9781108456784.

Poucos escritos moldaram o mundo tanto quanto o livro de Isaías. Seu lirismo, imagens, teologia e ética estão profundamente arraigados em nós e na cultura judaica eHAYS, C. B. (ed.) The Cambridge Companion to the Book of Isaiah. Cambridge: Cambridge University Press, 2024, 400 p. cristã em geral. Tem sido um fenômeno cultural desde o momento em que foi formado e influenciou também autores bíblicos posteriores.

O livro de Isaías também é uma obra literária complexa, densa em poesia, retórica e teologia, e ricamente entrelaçada com a história antiga. Por todas essas razões, é um desafio lê-lo bem.

The Cambridge Companion to Isaiah serve como um guia atualizado e confiável para este livro bíblico. Incluindo diversas perspectivas de estudiosos renomados de todo o mundo, ele aborda Isaías a partir de uma ampla gama de abordagens metodológicas. Ele também apresenta os mundos em que o livro foi produzido, a maneira como foi formado e os impactos que teve no público contemporâneo e posterior de uma forma acessível.

Christopher B. Hays é professor de Antigo Testamento e Estudos do Antigo Oriente Médio no Seminário Teológico Fuller, Pasadena, Califórnia, USA, e pesquisador associado da Universidade de Pretória, África do Sul.

 

Few writings have shaped the world as much as the book of Isaiah. Its lyricism, imagery, theology, and ethics are all deeply ingrained into us, and into Jewish and Christopher B. HaysChristian culture more generally. It has been a ­cultural touchstone from the time when it was formed, and it ­influenced later biblical authors as well. The book of Isaiah is also a complex work of literature, dense with poetry, rhetoric, and ­theology, and richly intertwined with ancient history. For all these reasons, it is a challenge to read well. The Cambridge Companion to Isaiah serves as an up-to-date and reliable guide to this biblical book. Including diverse perspectives from leading scholars all over the world, it approaches Isaiah from a wide range of methodological approaches. It also ­introduces the worlds in which the book was produced, the way it was formed, and the impacts it has had on contemporary and later audiences in an accessible way.

Christopher B. Hays is the D. Wilson Moore Professor of Old Testament and Ancient Near Eastern Studies at Fuller Theological Seminary and a research associate of the University of Pretoria (South Africa). He is the author of The Origins of Isaiah 24–27 (Cambridge University Press, 2019) and Death in the Iron Age II and in First Isaiah (2011), and ­coauthor of Isaiah: A Paradigmatic Prophet and His Interpreters (2022). He co-translated Isaiah for the Common English Bible.

Uma introdução ao livro de Isaías

TIEMEYER, L-S. (ed.) The Oxford Handbook of Isaiah. New York: Oxford University Press, 2020, 756 p. – ISBN 9780190669249.

O livro de Isaías é sem dúvida um dos livros mais importantes da Bíblia hebraica/Antigo Testamento, como evidenciado por seu lugar de destaque nas tradições judaica eTIEMEYER, L.S. (ed.) The Oxford Handbook of Isaiah. New York: Oxford University Press, 2020, 756 p. cristã, bem como na arte e na música. A maioria das pessoas, acadêmicos e leigos, estão familiarizados com as palavras de Isaías acompanhadas pelos tons magníficos do “Messias” de Handel.

Isaías também é um dos livros mais complexos devido à sua variedade e pluralidade, e tem sido, consequentemente, o foco do debate acadêmico nos últimos 2000 anos.

Dividido em oito seções, The Oxford Handbook of Isaiah constitui uma coleção de ensaios sobre um dos livros mais longos da Bíblia. Eles cobrem diferentes aspectos sobre a formação, interpretações e recepção do livro de Isaías, e também oferecem informações atualizadas em um formato atraente e facilmente acessível.

O resultado não representa um ponto de vista unificado; em vez disso, as contribuições individuais refletem o amplo e variado espectro de envolvimento acadêmico com o livro. Os autores dos ensaios também representam uma ampla gama de tradições acadêmicas de diversos continentes e afiliações religiosas, acompanhados de recomendações abrangentes para leituras adicionais.

Lena-Sofia Tiemeyer é professora de Exegese do Antigo Testamento na Escola de Teologia de Örebro, Suécia, e pesquisadora associada no Departamento de Antigo Testamento e Escrituras Hebraicas, Faculdade de Teologia e Religião, Universidade de Pretória, África do Sul.

 

The book of Isaiah is without doubt one of the most important books in the Hebrew Bible/Old Testament, as evidenced by its pride of place in both Jewish and Christian traditions as well as in art and music. Most people, scholars and laity alike, are familiar with the words of Isaiah accompanied by the magnificent tones of Handel’s ‘Messiah’.

Isaiah is also one of the most complex books due to its variety and plurality, and it has accordingly been the focus of scholarly debate for the last 2000 years.

Lena-Sofia Tiemeyer - nascida em 1969Divided into eight sections, The Oxford Handbook of Isaiah constitutes a collection of essays on one of the longest books in the Bible. They cover different aspects regarding the formation, interpretations, and reception of the book of Isaiah, and also offer up-to-date information in an attractive and easily accessible format. The result does not represent a unified standpoint; rather the individual contributions mirror the wide and varied spectrum of scholarly engagement with the book. The authors of the essays likewise represent a broad range of scholarly traditions from diverse continents and religious affiliations, accompanied by comprehensive recommendations for further reading.

Lena-Sofia Tiemeyer is Professor of Old Testament Exegesis at Örebro School of Theology, Sweden, and Research Associate at the Department of Old Testament and Hebrew Scriptures, Faculty of Theology and Religion, University of Pretoria, South Africa.

Um Paulo judeu

THIESSEN, M. A Jewish Paul: The Messiah’s Herald to the Gentiles. Grand Rapids: Baker Academic, 2023, 208 p. – ISBN 9781540965714.

Qual era a relação do apóstolo Paulo com o judaísmo? Como ele via a lei judaica? Como ele entendia o evangelho da messianidade de Jesus em relação aos judeus étnicos e gentios? Essas continuam sendo questões perenes tanto para os estudiosos do Novo Testamento quanto para todos os leitores sérios da Bíblia.THIESSEN, M. A Jewish Paul: The Messiah's Herald to the Gentiles. Grand Rapids: Baker Academic, 2023, 208 p.

O respeitado estudioso do Novo Testamento Matthew Thiessen oferece uma contribuição importante para esta discussão. Um Paulo judeu: o arauto do Messias para os gentios é uma introdução acessível que situa Paulo claramente dentro do judaísmo do primeiro século, não se opondo a ele. Thiessen defende uma leitura historicamente mais plausível de Paulo. Paulo não rejeitou o judaísmo ou a lei judaica, mas acreditava que estava vivendo nos últimos dias, quando o Messias de Israel libertaria as nações do pecado e da morte. Paulo se via como um enviado às nações, desejando apresentá-las ao Messias e seu Espírito vivificante e transformador.

 

Leio na Introdução do livro:

A maioria das pessoas, talvez até mesmo uma boa porcentagem do clero cristão, provavelmente continua inconsciente do fato de que as pessoas que passam suas carreiras estudando e escrevendo sobre Paulo discordam fortemente umas das outras sobre o que ele diz. Mesmo aqueles de nós que dedicaram partes ou todas as nossas carreiras a pensar e escrever sobre Paulo lutam para dar sentido às diferentes cartas de Paulo, para pegar escritos ocasionais e fornecer um relato coerente, embora inevitavelmente incompleto, do que ele pensava. Nas últimas décadas, temos visto livros cada vez mais longos delineando o pensamento de Paulo. Para se ter uma noção dessa corrida armamentista exegética (e teológica), onde mais longo parece ser equiparado a melhor, veja estes três exemplos: em 1997, James Dunn publicou The Theology of Paul the Apostle (844 páginas), em 2009, Douglas Campbell publicou The Deliverance of God (1.248 páginas) e em 2013, N. T. Wright publicou Paul and the Faithfulness of God (1.700 páginas). Não acredito que exista um tratamento mais longo da teologia de Paulo, mas, dada essa tendência, o próximo grande livro sobre Paulo deve ter pelo menos 2.100 páginas.

Este pequeno livro não busca ser exaustivo. Não discutirei todos os versículos ou mesmo todos os temas nas cartas de Paulo. Em vez disso, procuro apresentar aos leitores uma questão particularmente espinhosa: como Paulo se relaciona com o judaísmo (ou, talvez melhor, os judaísmos) de sua época? Esta é uma questão histórica, mas para os cristãos modernos (e quaisquer judeus interessados) é uma questão histórica que tem relevância teológica e ecumênica. Paulo condena e abandona o judaísmo? Ele o vê como algo inferior ou pelo menos ultrapassado na esteira de Jesus? Se sim, como os cristãos de hoje devem pensar sobre o judaísmo e se relacionar com os judeus? Olhando para os últimos dois mil anos, sabemos que a maioria dos cristãos viu o judaísmo como inferior ou mesmo pernicioso, algo deixado para trás ou algo que morreu. Consequentemente, muitos cristãos trataram judeus individuais e comunidades judaicas com desprezo, repulsa, ódio e violência. As cartas de Paulo frequentemente serviram como suporte bíblico para o antijudaísmo cristão.

É possível que haja uma maneira diferente de ler as cartas de Paulo, uma que não denigra o judaísmo? A questão da relação de Paulo com o judaísmo dominou os estudos paulinos nas últimas décadas, resultando em (pelo menos) quatro maneiras pelas quais os acadêmicos tentaram dar sentido aos escritos de Paulo em relação ao judaísmo; essas quatro maneiras são comumente chamadas de leituras “luterana”, “nova perspectiva”, “apocalíptica” e “nova perspectiva radical” (ou “Paulo dentro do judaísmo”). Algumas dessas “escolas” podem ser mais familiares aos leitores do que outras. Mas lembre-se, familiaridade não significa necessariamente que tal leitura esteja correta.

(…)

Nas páginas seguintes, esboçarei um breve relato do pensamento de Paulo de uma forma que busca situá-lo dentro e não contra o mundo judaico que fazia parte do mais amplo mundo antigo do Mediterrâneo. Embora eu apresente meu próprio relato, ele compartilha muitas (mas não todas) coisas em comum com uma quarta corrente dos estudos paulinos que recebeu alguns nomes diferentes: a leitura Sonderweg de Paulo associada a Lloyd Gaston e John Gager, a nova perspectiva radical associada a Stanley Stowers e Pamela Eisenbaum, e a leitura Paulo dentro do judaísmo associada a William Campbell, Kathy Ehrensperger, Paula Fredriksen, Mark Nanos e Magnus Zetterholm*.

* Gaston, Paul and the Torah; Gager, Reinventing Paul; Stowers, Rereading of Romans; Eisenbaum, Paul Was Not a Christian; W. Campbell, Unity and Diversity in Christ; Ehrensperger, Searching Paul; Fredriksen, Paul; Nanos, Reading Paul within Judaism; and Zetterholm, Approaches to Paul.

Matthew Thiessen é professor de estudos religiosos na McMaster University em Hamilton, Ontário, Canadá. Veja algumas de suas publicações.

 

What was the apostle Paul’s relationship to Judaism? How did he view the Jewish law? How did he understand the gospel of Jesus’s messiahship relative to both ethnic Jews and gentiles? These remain perennial questions both to New Testament scholars and to all serious Bible readers.

Respected New Testament scholar Matthew Thiessen offers an important contribution to this discussion. A Jewish Paul is an accessible introduction that situates Paul clearly within first-century Judaism, not opposed to it. Thiessen argues for a more historically plausible reading of Paul. Paul did not reject Judaism or the Jewish law but believed he was living in the last days, when Israel’s Messiah would deliver the nations from sin and death. Paul saw himself as an envoy to the nations, desiring to introduce them to the Messiah and his life-giving, life-transforming Spirit.

 

Most people, perhaps even a good percentage of Christian clergy, likely remain unaware of the fact that people who spend their careers studying and writing on Paul disagree quite strongly with each other about what he says.5 Even those of us who have dedicated parts or all of our careers to thinking and writing about Paul struggle to make sense of Paul’s different letters, to take occasional writings and provide a coherent, if inevitably incomplete, account of what he thought. In recent decades we have seen longer and longer books outlining Paul’s thinking. To get a sense of this exegetical (and theological) arms race, where longer seems to be equated with better, take these three examples: in 1997 James Dunn published The Theology of Paul the Apostle (844 pages), in 2009 Douglas Campbell published The Deliverance of God (1,248 pages), and in 2013 N. T. Wright published Paul and the Faithfulness of God (1,700 pages). I don’t believe there exists a longer treatment of Paul’s theology, but given this trend, the next big book on Paul should be at least 2,100 pages in length.

This little book does not seek to be exhaustive. I won’t discuss every verse or even every theme in Paul’s letters. Instead, I seek to introduce readers to one particularly thorny question: How does Paul relate to the Judaism (or, perhaps better, Judaisms) of his day? This is a historical question, but for modern Christians (and any interested Jews) it is a historical question that has theological and ecumenical relevance. Does Paul condemn and abandon Judaism? Does he view it as something inferior or at least outdated in the wake of Jesus? If so, how should Christians today think about Judaism and relate to Jews? Looking back over the last two thousand years, we know that most Christians have viewed Judaism as inferior or even pernicious, something left behind or something that has died.6 Consequently, many Christians have treated individual Jews and Jewish communities with contempt, revulsion, hatred, and violence. Paul’s letters have frequently served as scriptural support for Christian anti-Judaism.

Matthew ThiessenIs it possible that there is a different way to read Paul’s letters, one that does not denigrate Judaism? The question of Paul’s relationship to Judaism has dominated Pauline scholarship over the last several decades, resulting in (at least) four ways that academics have tried to make sense of Paul’s writings as they relate to Judaism; these four ways are commonly called the “Lutheran,” “new perspective,” “apocalyptic,” and “radical new perspective” (or “Paul within Judaism”) readings. Some of these “schools” may be more familiar to readers than others. But remember, familiarity doesn’t necessarily mean that such a reading is correct.

(…)

In the following pages, I will sketch a brief account of Paul’s thinking in a way that seeks to situate him within and not against the Jewish world that was part of the larger ancient Mediterranean world. While I present my own account, it is one that shares many (but not all) things in common with a fourth stream of Pauline scholarship that has gone by a few different names: the Sonderweg reading of Paul associated with Lloyd Gaston and John Gager, the radical new perspective associated with Stanley Stowers and Pamela Eisenbaum, and the Paul within Judaism reading associated with William Campbell, Kathy Ehrensperger, Paula Fredriksen, Mark Nanos, and Magnus Zetterholm* (From Introduction).

* Gaston, Paul and the Torah; Gager, Reinventing Paul; Stowers, Rereading of Romans; Eisenbaum, Paul Was Not a Christian; W. Campbell, Unity and Diversity in Christ; Ehrensperger, Searching Paul; Fredriksen, Paul; Nanos, Reading Paul within Judaism; and Zetterholm, Approaches to Paul.

Matthew Thiessen (PhD, Duke University) is associate professor of religious studies at McMaster University in Hamilton, Ontario. He is the author of numerous books, including Paul and the Gentile Problem, Jesus and the Forces of Death, and Contesting Conversion: Genealogy, Circumcision, and Identity in Ancient Judaism and Christianity.

Paulo dentro do judaísmo

BIRD, M. et alii (eds.) Paul Within Judaism: Perspectives on Paul and Jewish Identity. Tübingen: Mohr Siebeck, 2023, 371 p. – ISBN ‎ 9783161623257. Disponível online.

O volume Paul Within Judaism [Paulo dentro do judaísmo] é baseado em um simpósio acadêmico online organizado pelo Ridley College em Melbourne, Austrália,
graciosamente patrocinado pelo Australian College of Theology, realizado de 21 a 24 de setembro de 2021.BIRD, M. et alii (eds.) Paul Within Judaism: Perspectives on Paul and Jewish Identity. Tübingen: Mohr Siebeck, 2023, 371 p.

O tema foi escolhido por causa do fascínio ocidental pelo apóstolo Paulo e por causa do persistente desafio que é explorar Paulo em relação à sua herança judaica e sua crença no Messias. Em certo sentido, a tensão a ser explorada ou explicada é como Paulo é tanto “Paulo, o judeu/judeu seguidor de Jesus” quanto, simultaneamente, o “São Paulo” da fé e do testemunho da Igreja. Este é o assunto que continua a mover os acadêmicos em sua articulação tanto da história antiga quanto dos compromissos teológicos contemporâneos e que também pesa nos relacionamentos inter-religiosos.

Os colaboradores deste volume não são monolíticos e representam uma pluralidade de perspectivas e diversidade de abordagens sobre Paulo e sua relação com o judaísmo antigo. A esperança dos editores é de que este volume dê continuidade à conversa sobre Paulo e sua condição de judeu.

 

Our volume Paul within Judaism is based on an on-line scholarly symposium organized by Ridley College in Melbourne, Australia, graciously sponsored by the Australian College of Theology, held during 21–24 September 2021. The topic of exploration was chosen because of the western fascination with the apostle Paul and the persistent challenge of exploring Paul in relation to both his Jewish heritage and his Messiah-believing commitments. In a sense, the tension to be explored or explained is how is Paul both “Paul the Jewish/Judean follower of Jesus” and simultaneously “St. Paul” of the church’s faith and witness. This is the subject which continues to excite and energize scholars in their articulation of both ancient history as well as contemporary theological commitments and informing inter-faith relationships. The contributors to this volume are not monolithic and they represent a plurality of perspectives and diversity of approaches to Paul vis-à-vis ancient Judaism. It is the hope of the editors that this volume will continue the conversation about Paul and his Jewishness, not despite his being a Messiah-believer, but precisely as part of it.

Michael Bird, born 1974; 2005 PhD; Academic Dean and Lecturer in New Testament at Ridley College, Melbourne, Australia (Australian College of Theology).

Ruben Bühner, born 1990; 2020 Dr. theol.; PostDoc and Lecturer at the Department of New Testament Studies at the University of Zurich, Switzerland.

Jörg Frey, born 1962; 1996 Dr. theol.; 1998 Habilitation; Professor of New Testament Studies at the University of Zurich, Switzerland.

Brian Rosner, born 1959; 1991 PhD; Principal and Lecturer in New Testament at Ridley College, Melbourne, Australia (Australian College of Theology).

 

O que significa Paulo dentro do judaísmo?

O seguinte texto explica:

Já se passaram quase quarenta anos [Nota: este texto é de 2016; em 2024 já são quase cinquenta anos] desde que a publicação de Paul and Palestinian Judaism (1977) de E.P. Sanders iniciou uma revolução nos estudos paulinos.

Até aquele ponto, os intérpretes protestantes liam Paulo como uma crítica ao judaísmo por sua justificação pelas obras da Lei, denunciando seu legalismo inerente, em Romanos e Gálatas, e defendendo a justificação somente pela fé. Nessa visão, as pessoas desfrutam da salvação apenas como um presente que podem receber e que não pode ser conquistado. O evangelho paulino brilhou intensamente em contraste com o pano de fundo sombrio do judaísmo com sua obrigação assumida de ganhar a salvação pelo acúmulo de mérito por meio de boas obras.

Argumentando contra isso, Sanders alegou que o judaísmo do primeiro século não era uma religião de justificação pelas obras, mas de graça. Os judeus desfrutavam da salvação em virtude da eleição e sua observância da Lei simplesmente mantinha seu relacionamento de aliança com Deus.

Embora a discussão subsequente de Sanders sobre Paulo tenha deixado muito a desejar, outros intérpretes, principalmente James Dunn e N. T. Wright, basearam-se em sua compreensão revisada do judaísmo para liderar uma reconsideração de Paulo que durou mais de três décadas.

De acordo com sua “Nova Perspectiva“, Paulo não rejeitou o judaísmo por causa de sua justificação pelas obras, mas sim por seu etnocentrismo. Os judeus limitaram o escopo da salvação aos judeus étnicos e Paulo se opõe a isso com o evangelho da salvação pela graça por meio de fé independente das “obras da Lei”. Eles observam que em Romanos e Gálatas “obras da Lei” indicam atos em observância aos mandamentos da Lei mosaica que apontam para a sua identidade como judeu. Quando Paulo afirma que uma pessoa não é justificada por “obras da Lei” (Rm 3,28; Gl 2,16), portanto, ele está argumentando que a identidade étnica de alguém não é relevante no que diz respeito à justificação diante de Deus.

O presente volume (NANOS, M. D.; ZETTERHOLM, M. (eds.), Paul Within Judaism: Restoring the First-Century Context to the Apostle. Minneapolis: Fortress Press, 2015) representa uma perspectiva ainda mais nova, que sustenta que a “nova perspectiva” não vai longe o suficiente, uma vez que tanto a perspectiva “nova” quanto a “tradicional” erroneamente imaginam que Paulo, de alguma forma, se opõe, dispensa ou abandona o judaísmo.

O que une os autores do livro é a convicção de que “Paulo deve ser interpretado dentro do judaísmo” (p. 1). O que as perspectivas “nova” e “tradicional” erram é que ambas consideram Paulo como o fundador de um novo movimento chamado “cristianismo”. Mesmo que esse termo não seja usado, os intérpretes frequentemente falam de Paulo fundando um “novo movimento religioso” que é “construído sobre a convicção de que há algo fundamentalmente, essencialmente ‘errado’ com, e dentro, do judaísmo” (p. 5).

NANOS, M. D.; ZETTERHOLM, M. (eds.), Paul Within Judaism: Restoring the First-Century Context to the Apostle. Minneapolis: Fortress Press, 2015De acordo com essa perspectiva “radical” ou “Paulo dentro do judaísmo” (…), “a escrita e a construção da comunidade do apóstolo Paulo ocorreram dentro do judaísmo tardio do Segundo Templo, dentro do qual ele permaneceu um representante após sua mudança de convicção sobre Jesus ser o Messias (Cristo).” Portanto, “as ‘assembleias’ que ele fundou, e para as quais ele escreveu” suas cartas, “também estavam desenvolvendo sua (sub)cultura com base em suas convicções sobre o significado de Jesus para os não judeus, bem como para os judeus dentro do judaísmo” (p. 9). Imaginar que Paulo deixou o judaísmo para fundar um novo movimento religioso – o cristianismo – é fazer história ruim. Nossos colaboradores “estão comprometidos em propor e buscar responder a perguntas pré-cristãs e certamente pré-agostinianas / protestantes sobre as preocupações de Paulo e aquelas de seu público e contemporâneos, sejam amigos ou inimigos” (p. 9). O resultado é um Paulo que não se afasta nem rejeita o judaísmo, mas cria um movimento de reforma dentro dele.

Aqueles que subscrevem esse ângulo de abordagem sustentam que a erudição do Novo Testamento é amplamente dominada por preocupações dogmáticas cristãs e é insuficientemente histórica ao realizar suas atividades, moldada como é pela divisão entre judaísmo e cristianismo. “As ideias binárias de que o cristianismo substituiu o judaísmo e que a graça cristã substituiu o legalismo judaico, por exemplo, parecem ser aspectos essenciais da maioria das teologias cristãs” (p. 34).

A tentativa aqui é retornar a uma concepção de Paulo antes do desenvolvimento do “cristianismo”. Durante a primeira geração cristã, antes da missão de Paulo, a “identidade religiosa normal dentro desse movimento era uma identidade judaica” (p. 50). Embora houvesse a expectativa de que os gentios fossem incluídos no movimento, havia desacordo sobre como isso ocorreria. “Como todos os judeus dentro do movimento continuavam a viver como judeus, enquanto reconhecia Jesus como o Messias, os conflitos refletidos nas cartas de Paulo não eram sobre a observância da Torá judaica para os judeus” (p. 50). Eles eram sobre como incluir as nações na fé de Israel.

Essencial para essa perspectiva é a noção de que as cartas de Paulo são direcionadas a seguidores não judeus de Jesus, incluindo — e especialmente — suas cartas aos crentes romanos e gálatas. Suas declarações proibindo a circuncisão e a vida sob a Lei mosaica, portanto, são mal compreendidas quando são “universalizadas” para se referir também aos judeus que vieram (ou que virão) a crer em Jesus. Paulo diz pouco ou nada sobre os crentes judeus relacionados à Lei mosaica, pois era sua suposição que eles continuariam em fiel observância da Lei como seguidores de Jesus. Já que o próprio Paulo permaneceu um judeu observante — e até mesmo essa noção deve ser esclarecida, como Karin Hedner Zetterholm busca fazer — não devemos pensar nele como um defensor de algo chamado “cristianismo”. Podemos falar mais fielmente de “judaísmo apostólico” (p. 67), já que Paulo pensou sobre “o significado de Jesus para os não judeus, bem como para os judeus dentro do judaísmo” (p. 9).

Vários dos colaboradores defendem que o apostolado de Paulo aos gentios deve ser entendido em continuidade com as concepções proféticas da restauração das nações. No último dia, Israel seria restaurado por Deus e seria novamente uma luz para as nações, adorando o Deus de Israel junto com os gentios. Embora os autores reconheçam a diversidade de visões no judaísmo do Segundo Templo sobre como isso funcionaria, eles afirmam que o relacionamento de Paulo com os seguidores judeus de Jesus teria sido entendido dentro dessa visão mais ampla.

As implicações disso são que os seguidores não judeus de Jesus adorariam o Deus de Israel em Cristo e permaneceriam não israelitas, enquanto os seguidores judeus deMichael Bird, nascido em 1974 Jesus, como Paulo, teriam permanecido observantes da lei. E alguns dos autores concordariam com a afirmação adicional de que, em vez de serem chamados de “cristãos”, o público de Paulo “pertence a um grupo especial dentro do judaísmo, composto por judeus e não judeus, em vez de constituir um povo inteiramente novo, o que veio a ser chamado pelos Padres da Igreja de ‘terceira raça'” (p. 148).

Este novo ângulo de abordagem de Paulo pode ser visto em continuidade com abordagens da Nova Perspectiva, na medida em que insiste em uma análise verdadeiramente histórica e objetiva da situação do primeiro século (continua).

Fonte: Paul Within Judaism. By Timothy Gombis, Reformation21 – February 23, 2016.

 

Claro que isto gera controvérsias. Em outra página leio:

O movimento “Paulo dentro do Judaísmo”, também conhecido como a Nova Perspectiva Radical sobre Paulo (não confundir com a Nova Perspectiva mais moderada), é uma visão do apóstolo Paulo que ganhou alguma proeminência através dos escritos de estudiosos judeus do Novo Testamento como Mark Nanos e Paula Fredricksen, bem como de estudiosos protestantes mais liberais como Matthew Theissen e Candida Moss. Algumas ideias unificadoras que emergem são as seguintes:

1. Não devemos chamar Paulo de cristão, pois ele não se chamava assim e permaneceu um judeu leal
2. Paulo teria esperado que os judeus mantivessem a Torá
3. Paulo, pelo que podemos saber, escreveu exclusivamente para gentios. Portanto, é um erro pensar que suas exortações se aplicam aos judeus.

Mais aqui.

Outras leituras possíveis:

Apóstolo judeu, não apóstata judeu: (mal) lendo o apóstolo Paulo – IHU 30 Junho 2023

Paulo: três vias de salvação. Artigo de Roberto Mela – IHU 19 Fevereiro 2022

Para Paulo há três caminhos para a salvação – Observatório Bíblico – 22.09.2020

Cosmogonias

Trechos do capítulo 8, Cosmologia e cosmogonia, do livro de WALTON, J. H. O pensamento do Antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2021.

Para entendermos ideias antigas sobre trazer o cosmo à existência (cosmogonia / cosmologia da criação), é essencial entender ideias antigas sobre o que constitui aWALTON, J. H. O pensamento do Antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento: Introdução ao mundo conceitual da Bíblia Hebraica. São Paulo: Vida Nova, 2021, 416 p. existência (ontologia da criação).

No mundo antigo algo vinha a existir quando era separado como uma entidade distinta, recebia uma função e um nome. Para efeitos de estudo, chamarei essa abordagem de “ontologia orientada pela função”. Isso está em contraste gritante com a ontologia moderna, muito mais interessada no que poderia ser chamado de estrutura ou substância dos objetos juntamente com suas propriedades físicas. No pensamento popular moderno (em oposição à análise filosófica técnica), a existência do mundo é percebida em termos físicos e materiais. Para nossa análise, darei a essa abordagem o nome de “ontologia orientada pela substância”.

O cosmo funcionava por meio do desempenho do papel dos deuses. Qualquer que fosse a estrutura física dos céus, isso não era uma prioridade para eles. Descrever o processo da criação é descrever o estabelecimento do cosmo funcional, ordenado com propósitos específicos — não é descrever as origens da estrutura ou substância material do cosmo. A substância material tinha relativamente quase nenhuma importância ou relevância para eles entenderem o mundo.

Se no mundo antigo a ontologia é orientada pela função, então criar algo (i.e., trazê-lo à existência) significava dar-lhe uma função ou um papel em um sistema ordenado.

Os principais verbos acádicos para “criar” são banû e bašāmu. O primeiro é geralmente usado com toda uma gama de significados, incluindo os de “construir, erigir, formar, fazer, fabricar”, e às vezes é traduzido por “criar”

Nos textos do Egito ou da Mesopotâmia, não há nenhuma palavra ou expressão que concentre, exclusiva ou mesmo principalmente, a atenção nos “objetos”. Mesmo naquelas ocasiões em que o objeto do verbo é uma coisa, em geral o contexto indica interesse em ordenamento.

Uma ontologia/cosmologia orientada pela função não se preocupa com perguntas que, com frequência, estudiosos modernos fazem sobre o mundo antigo: Acaso eles tinham um conceito de “criação a partir do nada”? Será que acreditavam na existência eterna da matéria? Essas perguntas têm importância apenas em uma ontologia material. Aqueles que pressupõem a criação a partir do nada querem saber se objetos materiais (matéria) foram criados sem o uso de materiais preexistentes. Caso a criação seja vista como algo que não diz respeito à criação física das coisas, essas perguntas não podem ser analisadas por meio dos textos.

O resultado desse estudo é a sugestão de que, no antigo Oriente Próximo, “criar” significava envolver-se no processo de ordenar — atribuir papéis e funções —, e não de dar substância aos objetos materiais que formam o universo.

 

In the ancient world something came into existence when it was separated out as a distinct entity, given a function, and given a name. For purposes of discussion I will label this approach to ontology as “function oriented.” This is in stark contrast to modern ontology, which is much more interested in what might be called the structure or substance of objects along with their physical properties. In modern popular thinking (as opposed to technical philosophical discussion), the existence of the world is perceived in physical, material terms. For discussion I will designate this approach to ontology as “substance oriented.”

The cosmos functioned by means of the gods playing out their roles. Whatever the physical structure of the heavens, it was not a priority to them. To describe creation is to describe the establishment of the functioning cosmos, ordered with particular purposes, not the origins of the material structure or substance of the cosmos. Material substance had relatively little importance or relevance to their understanding of the world.

WALTON, J. H. Ancient Near Eastern thought and the Old Testament: Introducing the Conceptual World of the Hebrew Bible. ‎ 2nd ed. Grand Rapids: Baker Academic, 2018, 384 p.If ontology in the ancient world is function oriented, then to create something (i.e., bring it into existence) would mean to give it a function or a role within an ordered system.

The main Akkadian verbs for “create” are banû and bašāmu. The former is used generally with a whole range of meanings, including “build, construct, form, make, manufacture,” and is sometimes translated as “create.”

These data demonstrate that there is no language for creation in the literatures of Egypt or Mesopotamia that focuses attention solely or even primarily on “objects.” Even on those occasions where the object of the verb is a thing, the context often indicates an interest in ordering.

A function-oriented ontology/cosmology bypasses the questions that modern scholars often ask of the ancient world: Did they have a concept of “creation out of nothing”? Did they believe in the eternal existence of matter? These questions have significance only in a material ontology. Those who posit creation out of nothing want to know whether material objects (matter) were created without using preexistent materials. If creation is not viewed as concerned with the physical making of things, these questions cannot be approached through the texts.

The result of this study is the suggestion that in the ancient Near East to “create” meant to engage in ordering—assigning roles and functions rather than giving substance to the material objects that make up the universe.

Ouça textos em acádico

Ouça trechos do Enuma Elish, da Epopeia de Gilgámesh, da Epopeia de Atrahasis, do Código de Hammurabi e de outros importantes textos da literatura mesopotâmica.

Em acádico. Com transcrição e tradução em inglês.

Os textos são lidos por conhecidos especialistas, a partir de publicações acadêmicas confiáveis.Literatura da antiga Mesopotâmia lida por especialistas

Onde?

SOAS: Recorded Akkadian (recordings of Akkadian literature by noted specialists)

O que é o SOAS? School of Oriental and African Studies – University of London, UK.

 

Um exemplo: Gilgamesh X read by John Huehnergard

A. George, The Babyonian Gilgamesh Epic, vol. 1, p. 278, text OBVA+BM, “Meissner Fragment” read by John Huehnergard

Gilgameš, êš tadâl?
Gilgamesh, where are you wandering?

Balāṭam ša tasaḫḫuru lā tutta.
You cannot find the life you seek.

Inūma ilū ibnû awīlūtam,
When the gods created humanity,

mūtam iškunū ana awīlūtim,
They assigned death to humanity,

balāṭam ina qātīšunu iṣṣabtū.
Kept life in their possession.

Atta, Gilgameš, lū mali karaška;
You, Gilgamesh, let your belly be full;

urrī u mūšī ḫitaddu atta;
Day and night be ever joyful;

ūmišam šukun ḫidûtam;
Every day arrange joy;

urrī u mūšī sūr u mēlil.
Day and night dance and play.

lū ubbubū ṣubātūka,
Let your clothes be cleaned,

qaqqadka lū mesi; mê lū ramkāta.
Your head washed; be bathed in water.

ṣubbi ṣeḫram ṣābitu qātīka;
Gaze at the youngster who holds your hand;

marḫītum liḫtaddâm ina sūnīka.
Let your wife ever rejoice in your embrace.

Fontes textuais para o Akitu durante o Primeiro Milênio a.C.

O capítulo 3 do livro Of Priests and Kings: The Babylonian New Year Festival in the Last Age of Cuneiform Culture, de Céline Debourse, trata das fontes textuais para o Festival do Ano Novo Babilônico, o Akitu, durante o Primeiro Milênio a.C. Transcrevo aqui alguns trechos.

O período neoassírio

A primeira evidência que se relaciona diretamente com o Festival do Ano Novo Babilônico deriva, talvez surpreendentemente, de um contexto assírio. É em fontes assíriasDEBOURSE, C. Of Priests and Kings: The Babylonian New Year Festival in the Last Age of Cuneiform Culture. Leiden: Brill, 2022, 524 p. que encontramos pela primeira vez o rei levando Marduk pela mão para a procissão Akitu. No entanto, a maioria das fontes é sobre a tradição Akitu no próprio território assírio, cujo desenvolvimento ocorreu em grande escala e em alta velocidade. No entanto, mesmo que a maioria das fontes neoassírias relacione práticas assírias em vez de babilônicas, muitas vezes presume-se que os elementos mais importantes do festival foram emprestados da versão babilônica do Akitu. Em um sentido mais geral, a evidência neoassíria demonstra a importância do Akitu na sociedade babilônica já no oitavo século a.C.

Resumo
As fontes neoassírias são as primeiras a lançar alguma luz sobre o Festival do Ano Novo Babilônico durante o primeiro milênio a.C. Elas mostram a importância do festival no mundo babilônico, não apenas pela disposição dos assírios em participar dele (no caso de Tiglat-Pileser III e Sargão II), mas também por sua ânsia em adotar o conceito e integrá-lo em sua própria ideologia. Além disso, a interrupção forçada do festival na Babilônia causada pela remoção de Marduk durante o reinado de Senaquerib também mostra o poder ideológico que o Akitu detinha na Babilônia. No entanto, as fontes assírias devem ser abordadas com muito cuidado quando se trata de reconstruir o festival babilônico. Embora esteja claro que os estudiosos assírios tomaram a tradição babilônica como modelo, eles a remodelaram para se adequar ao contexto assírio no qual foi inserida.

No entanto, algumas características gerais do Festival do Ano Novo Babilônico podem ser discernidas nesses textos, sem a necessidade de adaptá-los a partir de fontes posteriores. O material de origem neoassírio menciona apenas o festival Akitu da Babilônia e não registra nada sobre outras cidades babilônicas onde o festival pode ter ocorrido. Isso mostra como o festival nesta cidade era de particular importância. O fato de que os festivais Akitu eram observados em diferentes cidades assírias provavelmente também é modelado a partir de uma tradição babilônica existente.

Também deve ser notado que já nessa época tanto Marduk quanto Nabú são os protagonistas divinos do festival na Babilônia. A importância de Nabú no Festival do Ano Novo Babilônico já estava estabelecida nessa época. Além disso, os registros deixam claro que a procissão dos deuses ao templo Akitu era a característica mais distintiva do Festival do Ano Novo: quase todas as fontes se concentram neste evento. Em relação ao Festival do Ano Novo Babilônico, o uso da frase “tomando Bel pela mão” é prevalente para se referir à procissão.

Por fim, não apenas o conteúdo das fontes, mas também sua natureza demonstra o lugar importante que o Festival do Ano Novo da Babilônia ocupava na sociedade e cultura babilônicas já no início do período sargônida. A escolha dos reis assírios para participar do festival babilônico é um dos indicadores disso, mostrando que eles usaram o Festival do Ano Novo como uma ferramenta para estabelecer pacificamente seu governo na Babilônia.

Não há dúvida de que havia uma forte tradição Akitu na Babilônia já no século VIII a.C., permitindo que os assírios a usassem dessa forma, mas os detalhes dela permanecem envoltos em escuridão. O festival acontecia anualmente? Os reis participavam? Quão importante era o festival para a legitimação real? Até que mais evidências venham à tona, essas questões devem permanecer sem resposta.

O período neobabilônico e o período persa inicial

Durante o período neobabilônico, o festival Akitu na Babilônia permaneceu como uma ferramenta para a legitimação real, como pode ser observado não apenas nas inscrições reais, mas também na tradição historiográfica emergente. Enquanto o festival na Babilônia era celebrado no Ano Novo e exaltava o rei, o deus nacional Marduk e o império babilônico, os documentos administrativos de outras cidades santuário mostram a observância de festivais Akitu locais em outros momentos do ano que giravam em torno da divindade padroeira local. Como tal, a continuidade — em termos gerais — com a tradição Akitu neoassíria pode ser observada independentemente das diferenças no material de origem. Em contraste, a mudança ocorreu de forma marcante com a chegada dos persas em 539 a.C. Esses novos governantes não parecem ter participado ou investido no festival. Apesar desse desinteresse real no Akitu, os registros administrativos mostram que os sacerdotes conseguiram manter alguns aspectos tradicionais do Festival do Ano Novo, como a jornada de Nabú de Borsipa para a Babilônia, mas somente até o reinado de Dario I.

Há cinco grupos de fontes que dão informações sobre o Festival do Ano Novo no longo século VI a.C.: inscrições reais, textos administrativos, crônicas, textos histórico-literários e composições de culto. Eles mostram como o Akitu era um fenômeno que não estava restrito aos templos, mas estava profundamente enraizado na cultura, na erudição e na ideologia real da Babilônia.

Resumo
O número de testemunhos em diferentes tipos de texto mostra como o Festival do Ano Novo Babilônico era parte integrante da vida religiosa, cultural e social da Babilônia durante o longo século VI a.C. Os textos se referem ao Akitu como um conceito tão bem definido na mentalidade babilônica que não precisa ser especificado por escrito e, portanto, as fontes não são muito indicativas para os detalhes da performance de culto, rituais e organização do festival. Em vez disso, a documentação neobabilônica pode ser melhor usada para estudar como o Festival era usado e percebido na sociedade babilônica.

Primeiro, na Babilônia, Akitu funciona praticamente como um sinônimo para “Festival de Ano Novo”. Em um significado secundário, a palavra se refere ao templo Akitu, embora nesses casos isso seja frequentemente especificado referindo-se ao edifício como bīt akīti. No contexto de outras cidades, Akitu perde sua conexão com o Ano Novo.

Segundo, a documentação é amplamente a favor do festival Akitu da Babilônia. Embora a administração dos templos locais forneça alguns vislumbres dos calendários de culto locais, incluindo um festival Akitu local, em inscrições públicas e círculos acadêmicos o conceito de Akitu estava inextricavelmente ligado à Babilônia. No entanto, o papel de Borsipa não deve ser negligenciado. A importância da cidade-irmã da Babilônia é refletida na parte proeminente atribuída a Marduk e Nabú no festival, outro elemento característico do Festival do Ano Novo Babilônico nessa época.

Terceiro, as fontes falam claramente que o Festival do Ano Novo estava associado ao rei e à realeza. Não é apenas um tópico recorrente nas inscrições reais, mas também está ligado à realeza nas Crônicas. Vários detalhes permanecem obscuros, no entanto. O silêncio das fontes em relação à participação anual do rei no festival pode ser considerado um argumento a favor dessa ideia? Qual período foi definidor para essa tradição de envolvimento real no Akitu e as Crônicas podem ser usadas como fontes confiáveis ​​para responder a essa pergunta?

Quarto, as diferentes fontes estão quase todas preocupadas com o mesmo evento: procissões Akitu, seja a jornada de Nabú entre Borsipa e Babilônia ou as procissões de e para o templo Akitu. Claramente, esse era o aspecto mais importante do festival, o que pode ser explicado de muitas maneiras: pode ser o ato simbólico/ritual mais crucial; pode estar conectado à natureza perigosa de trazer os deuses para fora de seus templos, enfatizando assim a conclusão bem-sucedida desse esforço; ou pode ser simplesmente a natureza pública e festiva da procissão; e provavelmente foi a combinação de todos os elementos que fez disso o evento característico do Festival do Ano Novo.

Nabônides foi o último rei da Babilônia a mencionar o Akitu em suas inscrições. As Crônicas terminam, no máximo, com a chegada dos persas. E embora o material administrativo referente ao Akitu continue até o reinado do rei persa Dario I, é perceptível que a mudança havia se instalado de forma irreversível. Há um silêncio completo de 484 a.C. em diante e somente quando os Selêucidas estabeleceram firmemente seu reinado na Babilônia é que temos notícia novamente do Festival do Ano Novo Babilônico.

A Babilônia helenística

As ideias atuais sobre o Akitu também são baseadas em fontes que datam do período helenístico. Muitos estudiosos modernos subscrevem a ideia de que o Akitu continuou a ser realizado durante todo o período helenístico, seja como um renascimento de tradições antigas ou como uma continuidade ininterrupta do período neobabilônico até os períodos persa e helenístico. Além disso, é comumente assumido que o Akitu manteve seu formato de doze dias e incluiu a procissão dos deuses de e para o templo Akitu. Também é amplamente aceito que os reis Selêucidas participaram do festival da mesma forma que seus predecessores neobabilônicos.

Eságil: templo de Marduk em Babilônia. Pergamonmuseum, BerlinNo entanto, a natureza e o escopo do material de origem deste período são notavelmente diferentes dos de períodos anteriores. Nenhuma fonte emana do rei e, em vez disso, o material deriva de um contexto puramente sacerdotal. Além disso, novos gêneros são adotados e desenvolvidos, mais notavelmente os Diários Astronômicos e as Crônicas. Além disso, os diferentes tipos de fontes fornecem insights muito diferentes sobre o Akitu, em contraste com a documentação anterior, que coloca uma ênfase pesada na procissão e no papel do rei no festival.

Resumo
Em resumo, a documentação referente ao Akitu babilônico no período helenístico difere muito daquela de períodos anteriores, tanto no tipo de fontes disponíveis quanto no que elas relatam. A questão é se isso se deve a meras mudanças documentais ou a diferenças reais no culto. Por exemplo: não é nenhuma surpresa que não haja fontes helenísticas que derivem do rei, como foi o caso nos períodos neoassírio e neobabilônico, porque não havia mais um rei nativo da Babilônia.

Um aspecto notável é a discrepância entre registros contemporâneos e aquelas fontes que relatam eventos do passado. Atente-se para o fato de que nenhuma das fontes contemporâneas atesta a procissão Akitu com exceção de um documento do período parta que o faz parecer um evento bastante pequeno e banal. O que é relatado nesses textos é principalmente limitado a oferendas e outras atividades rituais que ocorreram no Eságil e dentro do é.ud.1kam. Em contraste, a procissão ainda é o tópico central nos relatos Akitu nas Crônicas históricas, que também são as únicas fontes que se referem ao evento com terminologia conhecida da documentação pré-persa.

Também a função atribuída ao rei é diferente na documentação contemporânea, por um lado, e nos relatos históricos, por outro. Enquanto o rei é apresentado como a força motriz por trás dos festivais Akitu do passado, na Babilônia helenística ele parece desempenhar um papel bastante distante e passivo, deixando a iniciativa com o sacerdócio local. Especificamente, isso também distingue as Crônicas históricas de textos anteriores, pois elas apresentam o sumo sacerdote como um agente proeminente no festival. À luz disso, é notável que alguns dos textos rituais incluam o rei como um participante do Festival. Isso levanta a questão da função desses textos em um contexto no qual o governante estava ausente.

Considerações finais e perspectiva

A pesquisa de fontes deixa claro que não podemos manter nossas ideias convencionais sobre a continuidade do Akitu e nem podemos falar de algo como “o” Akitu. Em nenhum momento no tempo podemos reconstruir a estrutura básica e os princípios do festival celebrado na Babilônia no Ano Novo com base apenas em fontes contemporâneas. Além disso, uma série de diferenças são discerníveis no material disponível, não apenas entre as fontes neoassírias e neobabilônicas, mas ainda mais fortes entre o material neobabilônico e o babilônico tardio. Claramente, o Akitu mudou ao longo do tempo e foi fortemente influenciado por seu contexto histórico, apesar da natureza inerentemente conservadora do ritual.

Uma coisa é inegavelmente verdadeira: o Akitu ou Festival do Ano Novo Babilônico foi uma parte integral e constante da cultura cuneiforme durante todo o primeiro milênio a.C., como pode ser verificado em textos cuneiformes que datam do período neoassírio ao parta. Não apenas muitas fontes atestam a observação cultual do Ano Novo e a realização do festival Akitu, tanto na Assíria quanto na Babilônia, mas o Akitu também se tornou parte da memória cultural dessas sociedades. Em contraste, a apresentação real assumiu formas distintas em diferentes cenários, embora muitas vezes não se possa dizer muito sobre o que exatamente aconteceu. Portanto, deve-se distinguir entre uma noção abstrata do Festival do Ano Novo e o festival que foi realmente realizado. De certa forma, os antigos mesopotâmicos fizeram o mesmo, como fica claro na adoção do festival pelos sargônidas. Isso se torna especialmente visível nas fontes do período helenístico, quando há uma clara discrepância entre o que aprendemos sobre o Ano Novo a partir de fontes contemporâneas, por um lado, e de composições cultuais e historiográficas, por outro.

As semelhanças entre o material neoassírio e neobabilônico são múltiplas. Muitas das fontes emanam do rei (ou pelo menos do círculo de estudiosos ao seu redor) e também aquelas poucas que derivam de um contexto diferente mostram o envolvimento do rei no festival. Além disso, é claro que se deve distinguir entre o festival Akitu da capital e aqueles de outras cidades. Enquanto o último serviu a um propósito local de elevar o deus principal do panteão local, o primeiro tinha um objetivo nacional: celebrar o chefe do panteão nacional, marcar o Ano Novo e reafirmar o rei como governante do império. Dentro dessa imagem, o foco permaneceu na Babilônia, a sede final do festival Akitu e da realeza mesopotâmica. Enquanto as evidências antes dessa época são pequenas (para dizer o mínimo), é inegável que a partir dos sargônidas o festival Akitu se tornou um fator crucial na ideologia real. Isso continuou sob os reis neobabilônicos. Isso explica a alta concentração de referências à procissão: esse era o momento em que todos podiam ver o vínculo entre o deus e o rei sendo restabelecido. Não havia prova mais forte da legitimidade de um rei do que essa.

Enquanto durante a primeira metade do primeiro milênio a.C. a ideia do Akitu, por um lado, e sua performance real, por outro, parecem ter permanecido bem próximas uma da outra, elas parecem ser duas coisas distintas no período helenístico. O dado seguinte pode ilustrar isso: um dos principais propósitos do festival era apresentar o rei como um governante aprovado pelos deuses; portanto, os reis participavam dele, patrocinavam e garantiam que ele pudesse ser celebrado – tudo isso pode ser lido nas fontes neoassírias e neobabilônicas. No entanto, nas fontes helenísticas, os textos contemporâneos raramente mencionam o envolvimento real, enquanto o discurso acadêmico e cultual continuou a apresentar o Akitu como um festival para legitimação real. Como tal, há uma sensação de incongruência no material de origem helenística que não encontramos nos textos anteriores.

Como foi mostrado neste capítulo, um grande número de fontes está disponível para estudar o Festival do Ano Novo Babilônico ao longo do primeiro milênio a.C. No entanto, um grupo de textos é de extrema importância para nossa compreensão do festival, uma vez que eles dão um relato detalhado dos eventos que aconteciam antes da procissão dos deuses. Esses textos rituais são geralmente considerados como tendo se originado na primeira metade do primeiro milênio a.C., embora todos os manuscritos conhecidos datem do período helenístico. Supõe-se que eles foram usados ​​no culto e que os rituais que eles contêm foram realizados exatamente como é descrito. O problema é que os textos do Festival do Ano Novo, como costumamos chamar os textos deste corpus, nunca foram submetidos a um exame minucioso, o que significa que falhamos em compreender sua função e permanecemos no escuro sobre seu contexto de criação. Nos capítulos seguintes, os textos do Festival do Ano Novo da Babilônia serão estudados extensivamente, a fim de entender melhor seu propósito, contexto de criação e relação com outras fontes para o Akitu no primeiro milênio a.C.

Fontes online:

1. Oracc – The Open Richly Annotated Cuneiform Corpus

2. As inscrições reais do período neoassírio – Post publicado no Observatório Bíblico em 07.04.2020

The Royal Inscriptions of the Neo-Assyrian Period (RINAP)

3. Inscrições reais de Babilônia – Post publicado no Observatório Bíblico em 20.12.2017

The Royal Inscriptions of Babylonia online (RIBo) Project

 

Chapter 3
Textual Sources for the Babylonian New Year Festival During the First Millennium BCE

In this chapter, I will re-evaluate the sources that are commonly used to study the NYF celebrated at Babylon in the first millennium BCE.

3.1 The Neo-Assyrian Period

The first evidence that directly relates to the Babylonian NYF stems, perhaps surprisingly, from an Assyrian context. It is in Assyrian sources that we first encounter the king taking Marduk by the hand for the akītu-procession. Nevertheless, the majority of the sources are about the akītu-tradition in the Assyrian heartland itself, the development of which took place on a grand scale and at high speed. Yet, even if most NA sources relate Assyrian practices rather than Babylonian, it is often presumed that the most important elements in the festival were borrowed from the Babylonian version of the akītu. In a more general sense, the Neo-Assyrian evidence demonstrates the importance of the NYF in Babylonian society already in the eighth century BCE.

3.1.4 Summary
The Neo-Assyrian sources are the first to shed some light on the Babylonian NYF during the first millennium BCE. They show the importance of the festival in theMarduk e seu dragão Babylonian world, not only through the Assyrians’ willingness to participate in it (in the case of Tiglath-Pileser III and Sargon), but also because of their eagerness to adopt the concept and integrate it into their own ideology. Moreover, the forced disruption of the festival in Babylon caused by the removal of Marduk also shows the ideological power the NYF held in Babylonia. The Assyrian sources should be approached very carefully when it comes to reconstructing the Babylonian festival, however. Even though it is clear that Assyrian scholars took the Babylonian tradition as a model, they reshaped it to fit the Assyrian context into which it was inserted.

Nevertheless, a few general characteristics of the Babylonian NYF can be discerned in these texts, without needing to retrofit them from later sources. The Neo-Assyrian source material mentions only the akītu-festival of Babylon and does not record anything about other Babylonian cities where the festival might have taken place. This shows how the festival in this city was of particular importance. The fact that akītu-festivals were observed in different Assyrian cities is probably also modeled after an existing Babylonian tradition. It should also be noted that already at this time both Marduk and Nabû are the divine protagonists of the festival at Babylon. The importance of Nabû in the Babylonian NYF was thus already established at this time. Aside from that, the records make clear that the procession of gods to the akītu-temple was the most distinctive characteristic of the NYF: almost all the sources focus on this event. In relation to the Babylonian NYF, the use of the phrase “taking Bēl by the hand” is prevalent to refer to the procession. Lastly, not only the content of the sources, but also their nature demonstrates the important place the NYF of Babylon held in Babylonian society and culture already at the onset of the Sargonid period. The choice of Assyrian kings to participate in the Babylonian festival is one of the indicators of this, showing that they used the NYF as a tool to peacefully establish their rule in Babylonia. There is no doubt that there was a strong akītu-tradition in Babylon already in the eighth century BCE, allowing the Assyrians to use it in that way, but the details of it remain shrouded in darkness. Did the festival happen on a yearly basis? Did kings participate? How important was the festival for royal legitimation? Until more evidence comes to light, those questions must remain unanswered.

3.2 The Neo-Babylonian and Early Persian Period

During the Neo-Babylonian period the akītu-festival at Babylon remained a tool for royal legitimation as can be observed not only in the royal inscriptions, but also in the emergent historiographical tradition. While the festival at Babylon was celebrated at the New Year and exalted the king, the national god Marduk and the Babylonian empire, the administrative documents of other temple cities show the observance of local akītu-festivals at other moments in the year that revolved around the local patron deity. As such, continuity—in broad terms—with the Neo-Assyrian akītu-tradition can be observed regardless of the differences in the source material. In contrast, change markedly set in with the arrival of the Persians in 539 BCE. These new rulers do not seem to have participated or invested in the festival. Despite this royal disinterest in the NYF, the administrative records show that the priesthoods managed to uphold some traditional aspects of the NYF, such as the journey of Nabû from Borsippa to Babylon, but only until the reign of Darius I.

There are five groups of sources that give information about the NYF in the Long Sixth Century: royal inscriptions, administrative texts, chronicles, historical-literary texts, and cultic compositions. They show how the NYF was a phenomenon that was not restricted to the temples but was deeply embedded in Babylonian culture, scholarship and royal ideology.

Summary
The number of attestations in different text types shows how the Babylonian NYF was an integral part of Babylonian religious, cultural, and social life during the Long Sixth Century. The texts refer to the NYF as a concept so well defined in Babylonian mentality that it need not be specified in writing and, thus, the sources are not very indicative for the details of the cultic performance, rituals, and organization of the festival. Instead, the Neo-Babylonian documentation can best be used to study how the NYF was used and perceived in Babylonian society.

First, in Babylon akītu functions practically as a synonym for “New Year Festival” and it often occurs together with zagmukku and rēš šatti. In a secondary meaning, the word refers to the akītu-temple, although in those cases this is often specified by referring to the building as the bīt akīti. In the context of other cities, akītu loses its connection to the New Year.

Second, the documentation is largely in favor of the akītu-festival of Babylon. Although the local temples’ administration provides some glimpses into local cultic calendars, including a local akītu-festival, in public inscriptions and scholarly circles the concept of akītu was inextricably linked to Babylon. However, the role of Borsippa should not be neglected. The importance of Babylon’s sister-city is reflected in the prominent part assigned to both Marduk and Nabû in the festival, another characteristic element of the Babylonian NYF at this time.

Third, it speaks clearly from the sources that the NYF was associated with the king and kingship. Not only is it a recurrent topic in royal inscriptions, it is also linked with kingship in the chronicles. Several details remain unclear, however. Can the silence of the sources regarding the yearly participation of the king in the festival be considered an argument in favor of that idea? Which period was defining for this tradition of royal involvement in the NYF and can the chronicles be used as reliable sources to answer that question?

Fourth, the different sources are almost all concerned with the same event: the akītu-processions, be it the journey of Nabû between Borsippa and Babylon or the processions to and from the akītu-temple. Clearly this was the most important aspect of the festival, which can be explained in many ways: it may be the most crucial symbolic/ritual act; it may be connected to the dangerous nature of bringing the gods out of their temples, thus emphasizing the successful completion of that endeavor; or it may simply be the procession’s public and festive nature; and probably it was the combination of all elements that made this into the characteristic event of the NYF.

Nabonidus was the last king in Babylon to mention the akītu-festival in his inscriptions; the chronicles end, at the latest, with the arrival of the Persians; and although the administrative material regarding the NYF continues until the reign of the Persian king Darius I, it is noticeable that change had irreversibly set in. A complete silence descends from about 484 BCE onwards and not until the Seleucids had firmly established their reign in Babylonia do we learn again about the Babylonian NYF.

3.3 Hellenistic Babylon

Current ideas about the Babylonian NYF are also based on sources dating to the Hellenistic period. Many modern scholars subscribe to the idea that the NYF continued to be performed throughout the Hellenistic period, whether as a revival of ancient traditions or as an uninterrupted continuity from the Neo-Babylonian through the Persian and Hellenistic periods. Furthermore, it is commonly assumed that the NYF retained its twelve-day format and included the procession of gods to and from the akītu-temple. It is also widely accepted that Seleucid kings participated in the festival in the same vain as their Neo-Babylonian predecessors.

Céline DebourseHowever, the nature and scope of the source material from this period is remarkably different from that of earlier periods. No sources emanate from the king and instead the material stems from a purely priestly context. Moreover, new genres are adopted and developed, most conspicuously the Astronomical Diaries and Chronicles. Aside from that, the different types of sources provide very different insights into the NYF, in contrast to the earlier documentation, which places a heavy emphasis on the procession and the role of the king in the festival.

In the following, an overview is given of the sources that are generally used to prove the undisturbed continuity of the Babylonian NYF and the king’s participation in it. The focus will lie on a critical re-evaluation of this evidence, in order better to assess the question of continuity and change.

3.3.4 Summary
In summary, the documentation regarding the Babylonian NYF in the Hellenistic period differs greatly from that of earlier periods, both in the kind of sources available and in what they recount. The question is whether this is due to mere documentary changes or to actual differences in the cult. For example: it comes as no surprise that there are no Hellenistic sources that derive from the king, as was the case in the Neo-Assyrian and Neo-Babylonian periods, because there was no longer a native Babylonian king.

A remarkable aspect is the discrepancy between contemporary records and those sources that relate events from the past. A case was made for the fact that none of the contemporaneous sources attests the akītu-procession, with the exception of one Parthian-period document that makes it seem like a rather small and unremarkable event. What is related in these texts is mostly limited to offerings and other ritual activities that took place at Esagil and inside the é.ud.1kam. In contrast, the procession is still the central topic in the akītu-accounts in the historical chronicles, which are also the only sources to refer to the event with terminology known from the pre-Persian documentation.

Also the function ascribed to the king is different in the contemporary documentation on the one hand and historical accounts on the other. Whereas the king is presented as the driving force behind the akītu-festivals of the past, in Hellenistic Babylon he appears to play a rather distant and passive role, leaving the initiative with the local priesthood. Specifically, this also distinguishes the historical chronicles from earlier texts, as they do present the high priest as a prominent agent in the festival. In light of this, it is remarkable that some of the ritual texts include the king as a participant in the NYF. This raises the question of the function of those texts in a context in which the ruler was mostly absent.

3.4 Summary and Outlook
The survey of sources above makes it clear that we cannot maintain our long-standing ideas about the continuity of the Babylonian NYF nor can we speak of such a thing as “the” NYF. For no moment in time can we reconstruct the basic structure and principles of the festival celebrated in Babylon at the New Year based on contemporary sources alone. Furthermore, a number of differences are discernible in the available material, not only between the Neo-Assyrian and the Neo-Babylonian sources, but even stronger between the Neo-Babylonian and the Late Babylonian material. Clearly, the Babylonian NYF changed over time and was heavily influenced by its historical context, despite the inherently conservative nature of ritual.

One thing is undeniably true: the Babylonian akītu or NYF was an integral and constant part of cuneiform culture during the whole first millennium BCE, as it can be found in cuneiform texts dating from the Neo-Assyrian to the Parthian periods. Not only do many sources attest to the cultic observation of the New Year and the performance of the akītu-festival, in both Assyria and Babylonia, but akītu also became part of the cultural memory of those societies. In contrast, the actual performance took distinct forms in different settings, although often not much can be said about what exactly happened. Therefore, one should distinguish between an abstract notion of the NYF and the festival that was actually performed. In a way, the ancient Mesopotamians did the same, as is clear in the adoption of the festival by the Sargonids. It especially becomes visible in the sources from the Hellenistic period, when there is a clear discrepancy between what we learn about the New Year from contemporary sources on the one hand and from cultic and historiographical compositions on the other.

The similarities between the Neo-Assyrian and Neo-Babylonian material are manifold. Many of the sources emanate from the king (or at least the circle of scholars around him) and also those few that do stem from a different context show the involvement of the king in the festival. Aside from that, it is clear that one should distinguish between the akītu-festival of the capital and those of other cities. While the latter served a local purpose of elevating the main god of the local pantheon, the former had a state-wide aim: to celebrate the head of the national pantheon, to mark the New Year, and to reaffirm the king as ruler of the empire. Within that picture, the focus remained on Babylon, the ultimate seat of the akītu-festival and Mesopotamian kingship. Whereas evidence before this time is slight (to say the least), it is undeniable that from the Sargonids onwards the akītu-festival became a crucial factor in the royal ideology. This continued under the Neo-Babylonian kings. It explains the high concentration of references to the procession: this was the moment when everyone could see the bond between god and king being re-established. There was no stronger proof of a king’s legitimacy than that.

While during the first half of the first millennium BCE the idea of the NYF on the one hand and its actual performance on the other seem to have remained quite close toMesopotâmia each other, they seem to be two separate things in the Hellenistic period. The following can illustrate that: one of the main purposes of the festival was to present the king as a ruler of whom the gods approved; therefore, kings participated in it, sponsored it and made sure that it could be celebrated—all of that can be read in the Neo-Assyrian and Neo-Babylonian sources. However, in the Hellenistic sources, the contemporary texts only rarely mention royal involvement, while the scholarly and cultic discourse continued to present the NYF as a festival for royal legitimation. As such, there is a sense of incongruity in the Hellenistic source material that we do not find in the earlier texts.

As was shown in this chapter, a large number of sources are available to study the Babylonian NYF throughout the first millennium BCE. Nevertheless, one group of texts is of extreme importance for our understanding of the festival, since they give a detailed account of the events that happened before the procession of gods took place. These ritual texts are generally considered to have originated in the first half of the first millennium BCE, although all the known manuscripts date to the Hellenistic period. It is assumed that they were used in the cult and that the rituals they contain were performed exactly as is described. The problem is that the NYF texts, as we can call the texts of this corpus, have never been subjected to close scrutiny, which means that we fail to grasp their function and remain in the dark about their context of creation. In the following chapters, the NYF texts from Babylon will be studied extensively, in order better to understand their purpose, context of creation, and relation to other sources for the Babylonian NYF in the first millennium BCE.