O Cântico dos Cânticos

D’HAMONVILLE, D.-M. O Cântico dos Cânticos. São Paulo: Loyola, 2024, 152 p. – ISBN 9786555043228.

Sobre a coleção ABC da Bíblia:D'HAMONVILLE, D.-M. O Cântico dos Cânticos. São Paulo: Loyola, 2024, 152 p.

Trata-se de uma verdadeira “caixa de ferramentas” que ajudará o leitor a fazer uma leitura sistemática e esclarecida dos livros da Bíblia. Cada volume desta coleção identifica o autor, ou autores, de determinado livro bíblico ou de um conjunto de escritos, apresenta seu contexto histórico, cultural e redacional, analisa-o literariamente, mostra sua estrutura, resume-o, aborda seus grandes temas, estuda sua recepção, influência e atualidade, e fornece um léxico de lugares e pessoas, tabelas cronológicas, mapas e bibliografia.

O original foi publicado em francês em 2021.

David-Marc d’Hamonville é monge beneditino da abadia de En-Calcat (Dourgne, França) e autor também de Le livre des proverbes e Jonas desta mesma coleção.

Literatura Profética II 2024

Literatura Profética II é continuação da Literatura Profética I. A carga horária semanal é de 2 horas, no segundo semestre do segundo ano de Teologia.

Ementa
Introdução e análise dos principais textos do profeta Jeremias. Introdução e análise dos livros de profetas exílicos e pós-exílicos: Ezequiel, Dêutero-Isaías (Is 40-55), Ageu, Zacarias 1-8, e Trito-Isaías (Is 56-66).

II. Objetivos
Coloca em discussão as características e a função do discurso profético e confronta os textos dos profetas com o contexto da época, possibilitando ao aluno uma leitura atualizada e crítica dos textos proféticos em confronto com a realidade contemporânea e suas exigências.

III. Conteúdo Programático
1. Jeremias
2. Ezequiel
3. Dêutero-Isaías (Is 40-55)
4. Ageu
5. Zacarias 1-8
6. Trito-Isaías (Is 56-66)

IV. Bibliografia
Básica
MESTERS, C. O profeta Jeremias: um homem apaixonado. São Paulo: Paulus/CEBI, 2016.

SCHÖKEL, L. A.; SICRE DÍAZ, J. L. Profetas 2v. 2. ed. São Paulo: Paulus, vol. I: 2004 [3. reimpressão: 2018]; vol. II: 2002 [4. reimpressão: 2015].

SICRE DÍAZ, J. L. Introdução ao profetismo bíblico. Petrópolis: Vozes, 2016.

Complementar
DA SILVA, A. J. Perguntas mais frequentes sobre o profeta Jeremias. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 04.02.2022.

DA SILVA, A. J. Superando obstáculos nas leituras de JeremiasEstudos Bíblicos, Petrópolis, n. 107, p. 50-62, 2010. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 09.07.2022.

NAKANOSE, S. et alii Como ler o Terceiro Isaías (56-66): novo céu e nova terra. São Paulo: Paulus, 2004 [4. reimpressão: 2019].

WIÉNER, C. O profeta do novo êxodo: o Dêutero-Isaías. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

WILSON, R. R. Profecia e sociedade no antigo Israel. 2. ed. revista. São Paulo: Targumim/Paulus, 2006.

Pentateuco 2024

A disciplina Pentateuco é estudada no segundo semestre do primeiro ano, com carga horária de 4 horas semanais. Há uma profunda crise nesta área de estudos, muito semelhante à crise da História de Israel. A teoria clássica das fontes JEDP do Pentateuco, elaborada no século XIX por Hupfeld, Kuenen, Reuss, Graf e, especialmente, Wellhausen, vem sofrendo, desde meados da década de 70 do século XX, sérios abalos, de forma que hoje muitos pesquisadores consideram impossível assumir, sem mais, este modelo como ponto de partida. O consenso wellhauseniano foi rompido, contudo, ainda não se conseguiu um novo consenso e muitas são as propostas hoje existentes para explicar a origem e a formação do Pentateuco.

I. Ementa
Novos paradigmas no estudo do Pentateuco. O Decálogo: Ex 20,1-17 e Dt 5,6-21. A criação: Gn 1,1-2,4a e Gn 2,4b-25. O pecado em quatro quadros: Gn 3,1-24. O dilúvio: Gn 6,5-9,19. A cidade e a torre de Babel: Gn 11,1-9. As tradições patriarcais: Gn 11,27-37,1. O êxodo do Egito: Ex 1-15.

II. Objetivos
Familiariza o aluno com as tradições históricas de Israel e com as mais recentes pesquisas na área do Pentateuco para que o uso do texto na prática pastoral possa ser feito de forma consciente.

III. Conteúdo Programático
1. Novos paradigmas no estudo do Pentateuco

2. O Decálogo: Ex 20,1-17 e Dt 5,6-21

3. A criação: Gn 1,1-2,4a e Gn 2,4b-25

4. O pecado em quatro quadros: Gn 3,1-24

5. O dilúvio: Gn 6,5-9,19

6. A cidade e a torre de Babel: Gn 11,1-9

7. As tradições patriarcais: Gn 11,27-37,1

8. O êxodo do Egito: Ex 1-15

IV. Bibliografia
Básica
MESTERS, C. Paraíso terrestre: saudade ou esperança? 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

SKA, J.-L. Introdução à leitura do Pentateuco: chaves para a interpretação dos cinco primeiros livros da Bíblia. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2014.

VOGELS, W. Abraão e sua lenda: Gn 12,1-25,11. São Paulo: Loyola, 2000.

Complementar
DA SILVA, A. J. Histórias de criação e dilúvio na antiga MesopotâmiaEstudos Bíblicos, Petrópolis, n. 140, p. 397-424, 2018. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 27.10.2023.

DA SILVA, A. J. Leis de vida e leis de morte: os dez mandamentos e seu contexto socialEstudos Bíblicos, Petrópolis, n. 9, p. 38-51, 1986. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 17.08.2022.

DA SILVA, A. J. Novos paradigmas no estudo do Pentateuco. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 10.08.2023.

FINKELSTEIN, I.; RÖMER, T. Às origens da Torá: novas descobertas arqueológicas, novas perspectivas. Petrópolis: Vozes, 2022.

SKA, J.-L. O canteiro do Pentateuco: problemas de composição e de interpretação/aspectos literários e teológicos. São Paulo: Paulinas, 2016.

Literatura Deuteronomista 2024

Lecionar Literatura Deuteronomista é um desafio e tanto. Enquanto as questões da formação do Pentateuco são discutidas há séculos, a noção da existência de uma Obra Histórica Deuteronomista (= OHDtr) só foi formulada muito recentemente, como se pode ver aqui.

Além disso, há dois problemas com a disciplina: carga horária exígua para estudar textos de livros tão complexos como, por exemplo, Josué ou Juízes – a disciplina tem apenas 2 horas semanais durante o primeiro semestre do segundo ano de Teologia – e uma bibliografia ainda insuficiente em português. Há excelente debate acadêmico hoje, contudo está em inglês e alemão, principalmente.

Para completar, prefiro estudar o livro do Deuteronômio aqui e não no Pentateuco, também por duas razões: a disciplina Pentateuco já é por demais sobrecarregada e o Deuteronômio é a chave que abre o significado da OHDtr. Por isso, ele faz muito sentido aqui.

Por outro lado, há uma integração muito grande da Literatura Deuteronomista com três outras disciplinas bíblicas: com a História de Israel, naturalmente; com a Literatura Profética, irmã gêmea; com o Pentateuco, através do elo deuteronômico.

I. Ementa
O contexto da Obra Histórica Deuteronomista. O Deuteronômio: análise de textos teológicos e leitura comentada do Código Deuteronômico. O livro de Josué e o problema das origens de Israel. O livro dos Juízes. Os livros de Samuel. Os livros dos Reis.

II. Objetivos
Pesquisar a arquitetura, as ideias basilares e a teologia da Literatura Deuteronomista como uma obra globalizante, e de cada um de seus livros, a fim de dar fundamentos para sua interpretação e atualização.

III. Conteúdo Programático
1. O contexto da Obra Histórica Deuteronomista
2. O Deuteronômio
3. O livro de Josué
4. O livro dos Juízes
5. Os livros de Samuel
6. Os livros dos Reis

IV. Bibliografia
Básica
FINKELSTEIN, I. ; SILBERMAN, N. A. A Bíblia desenterrada: A nova visão arqueológica do antigo Israel e das origens dos seus textos sagrados. Petrópolis: Vozes, 2018.

RÖMER, T. A chamada história deuteronomista: Introdução sociológica, histórica e literária. Petrópolis: Vozes, 2008.

SKA, J.-L. Introdução à leitura do Pentateuco: chaves para a interpretação dos cinco primeiros livros da Bíblia. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2014.

Complementar
DA SILVA, A. J. O Código Deuteronômico: levantamento de dados. Post publicado no Observatório Bíblico em 25.06.2020.

DA SILVA, A. J. O contexto da Obra Histórica DeuteronomistaEstudos Bíblicos, Petrópolis, n. 88, p. 11-27, 2005. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 10.03.2022.

DA SILVA, A. J. O problema das origens de Israel e o livro de Josué. In: LOPES, J. R.; SILVANO, Z. A; VITÓRIO, J. (orgs.) Josué: “Nós serviremos ao Senhor” (Js 24,15). São Paulo: Paulinas, 2022. Capítulo disponível para download no Observatório Bíblico, 19.06.2022.

KONINGS, J. et alii Obra Histórica Deuteronomista. Estudos Bíblicos, n. 88, 2005. Disponível online no site da ABIB.

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: história antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008.

Literatura Profética I 2024

Abordarei agora a Literatura Profética I, que é estudada no primeiro semestre do segundo ano de Teologia, com carga horária semanal de 2 horas. A Literatura Profética I trabalha, além de questões globais do profetismo, uma seleção de textos dos profetas do século VIII a.C. O texto que orienta a maior parte do estudo é o meu livro A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C. Os profetas dos séculos seguintes são estudados na Literatura Profética II, que vem logo no semestre seguinte.

I. Ementa
A origem do movimento profético em Israel. O teor do discurso profético: a denúncia da idolatria e a função do discurso profético. Introdução e análise dos livros dos profetas do século VIII a.C.: Amós, Oseias, Isaías 1-39 e Miqueias.

II. Objetivos
Coloca em discussão as características e a função do discurso profético e confronta os textos dos profetas do século VIII a.C. com o contexto da época, possibilitando ao aluno uma leitura atualizada e crítica dos textos proféticos em confronto com a realidade contemporânea e suas exigências.

III. Conteúdo Programático
1. A origem do movimento profético em Israel
2. O teor do discurso profético
3. Os profetas do século VIII a.C.
3.1. Amós
3.2. Oseias
3.3. Isaías 1-39
3.4. Miqueias

IV. Bibliografia
Básica
DA SILVA, A. J. A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C. São Paulo: Paulus, 1998. Atualizado em 2011 e disponível para download na Ayrton’s Biblical Page.

SCHÖKEL, L. A.; SICRE DÍAZ, J. L. Profetas 2v. 2. ed. São Paulo: Paulus, vol. I: 2004 [3. reimpressão: 2018]; vol. II: 2002 [4. reimpressão: 2015].

SICRE DÍAZ, J. L. Introdução ao profetismo bíblico. Petrópolis: Vozes, 2016.

Complementar
DA SILVA, A. J. Notas sobre a pesquisa do livro de Oseias no século XX. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 03.12.2020.

DA SILVA, A. J. Perguntas mais frequentes sobre o profeta Amós. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 22.02.2023.

DA SILVA, A. J. Perguntas mais frequentes sobre o profeta Isaías. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 22.02.2023.

SCHWANTES, M. A terra não pode suportar suas palavras“ (Am 7,10): reflexão e estudo sobre Amós. São Paulo: Paulinas, 2012.

SICRE, J. L. Com os pobres da terra: a justiça social nos profetas de Israel. São Paulo: Academia Cristã/Paulus, 2015.

Por que a Bíblia Hebraica foi escrita?

WRIGHT J. L. Why the Bible Began: An Alternative History of Scripture and Its Origins. Cambridge: Cambridge University Press, 2023, 500 p. – ISBN 978110849093.

Por que nenhuma outra sociedade antiga produziu algo como a Bíblia? Parece improvável que uma comunidade minúscula e isolada pudesse ter criado um corpusWRIGHT J. L. Why the Bible Began: An Alternative History of Scripture and Its Origins. Cambridge: Cambridge University Press, 2023 literário tão determinante para os povos de todo o mundo.

Para Jacob Wright a Bíblia não é apenas um testemunho de sobrevivência, mas também uma conquista sem paralelo na história humana. Forjada após a devastação de Jerusalém pela Babilônia, não faz da vitória, mas da humilhação total o fundamento de uma nova ideia de pertença. Lamentando a destruição da sua terra natal, os escribas que compuseram a Bíblia imaginaram um passado cheio de promessas, enquanto refletiam profundamente sobre o fracasso abjeto. Mais do que apenas escrituras religiosas, a Bíblia começou como um projeto pioneiro para uma nova forma de comunidade política.

A sua resposta à catástrofe oferece uma mensagem poderosa de esperança e restauração que é única no antigo Oriente Médio e no mundo greco-romano. A Bíblia é, portanto, um roteiro social, político e até econômico – um roteiro que permitiu a uma pequena e obscura comunidade, localizada na periferia das principais civilizações e impérios, não apenas regressar do abismo, mas, em última análise, moldar o destino do mundo.

A Bíblia fala, em última análise, de ser um povo unido mas diverso, e as suas páginas apresentam um manual de estratégias pragmáticas de sobrevivência para comunidades que enfrentam o colapso social.

 

Why did no other ancient society produce something like the Bible? That a tiny, out of the way community could have created a literary corpus so determinative for peoples across the globe seems improbable.

For Jacob Wright, the Bible is not only a testimony of survival, but also an unparalleled achievement in human history. Forged after Babylon’s devastation of Jerusalem, it makes not victory but total humiliation the foundation of a new idea of belonging. Lamenting the destruction of their homeland, scribes who composed the Bible imagined a promise-filled past while reflecting deeply on abject failure. More than just religious scripture, the Bible began as a trailblazing blueprint for a new form of political community.

Jacob L. Wright (1973-)Its response to catastrophe offers a powerful message of hope and restoration that is unique in the Ancient Near Eastern and Greco-Roman worlds. Wright’s Bible is thus a social, political, and even economic roadmap – one that enabled a small and obscure community located on the periphery of leading civilizations and empires not just to come back from the brink, but ultimately to shape the world’s destiny.

The Bible speaks ultimately of being a united yet diverse people, and its pages present a manual of pragmatic survival strategies for communities confronting societal collapse.

Jacob L. Wright is a professor of Hebrew Bible / Old Testament at Emory University. Before coming to Emory, he taught at the University of Heidelberg in Germany. As an American with a European education, he is widely known for his ability to blend a wide range of historical, religious, and geographical perspectives on the Bible. His writing and teaching are thoroughly interdisciplinary, demonstrating how the ideas of the Bible and other ancient writings bear directly on central problems that face our societies in modern times. He brings to his work first-hand acquaintance with archeological finds and primary sources from ancient Mesopotamia, Egypt, and Greece. Wright writes on an array of topics, ranging from social life in ancient Israel (feasting, war commemoration, urbicide, etc.) to the formation of biblical writings.

As confissões de Jeremias

EWALD, H. Die Propheten des Alten Bundes. In zwei Bänden. Erster Band. Stuttgart: Verlag von Adolph Krabbe, 1840.Quem usou pela primeira vez o termo “confissões”?

Quem começou os estudos críticos sobre Jeremias foi o alemão Heinrich Ewald em 1840: Die Propheten des Alten Bundes, In zwei Bänden [Os profetas da Antiga Aliança, vols. 1 e 2]. Nesta obra ele analisa os “diálogos” de Jeremias, especialmente o material hoje conhecido como “confissões” de Jeremias.

O termo “confissões” (Konfessionen, em alemão) foi usado pela primeira vez em 1902 pelo alemão Wilhelm Erbt, em seu livro Jeremia und seine Zeit: Die Geschichte der letzten fünfzig Jahre des vorexilischen Juda [Jeremias e seu tempo: a história dos últimos cinquenta anos do Judá pré-exílico] .

Estes textos foram analisados sob a ótica da crítica das formas [estudo do gênero literário] e foram aprovados pelo alemão Walter Baumgartner em 1917, em seu livro Die Klagegedichte des Jeremia [As lamentações de Jeremias]. Ele os definiu como “lamentos individuais”, semelhantes aos que são encontrados nos Salmos.

A posição de Walter Baumgartner influenciou a maioria dos pesquisadores que vieram depois dele.

Foram feitas outras tentativas, como, por exemplo a definição destes textos como “processos legais”, mas a ideia não teve sucesso. Ou como “lamento profético”, mas isto também não funcionou.

Quantas “confissões”?

Não existe consenso acadêmico quanto ao número de textos que podem ser chamados de “confissões de Jeremias”. O número vai de 5 a 8.

Qual é o significado das “confissões”?

Georg Heinrich August Ewald (1803-1875)De H. Ewald (1840) até H. Graf Reventlow (Liturgie und prophetisches Ich bei Jeremia, 1963) as confissões foram vistas, com raras exceções, como fontes primárias para a reconstrução biográfica e psicológica da vida do profeta.

A partir de Reventlow – que via Jeremias como um profeta cultual e os textos das confissões como uma expressão cultual, e que foi muito criticado por isso – as confissões passam a ser vistas como uma expressão mais ampla da interpretação redacional da atividade profética de Jeremias. Ou seja: da vida real do profeta sabemos pouco, sabendo mais, através da redação do livro, sobre como Jeremias foi lido por seus intérpretes, especialmente no pós-exílio.

Para saber mais sobre Jeremias e sobre as “confissões de Jeremias” leia o meu texto Perguntas mais frequentes sobre o profeta Jeremias.

Bibliografia

DIAMOND, A. R. The Confessions of Jeremiah in Context: Scenes of Prophetic Drama. Sheffield: Sheffield Academic Pres, 1987.

LINDBERG, R. J. “‘The Pain of Being Faithful to the Word of the LORD’: An Exegetical Study of Jeremiah’s Confessions” (2015). Seattle Pacific Seminary Theses. Disponível em: https://digitalcommons.spu.edu/spseminary_etd/2

MASTNJAK, N. Jeremiah’s Laments as Effective Speech. Journal for the Study of the Old Testament, Vol. 47(4), p. 431–454, 2023.

THIELE, D. H.The identity of the “I” in the “Confessions” of Jeremiah. Master’s thesis, Avondale College, Cooranbong, Australia, 1998. Disponível em: https://research.avondale.edu.au/theses_masters_research/1/

Sobre o mundo conceitual da Bíblia Hebraica

WALTON, J. H. O pensamento do Antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento: Introdução ao mundo conceitual da Bíblia Hebraica. São Paulo: Vida Nova, 2021, 416 p. – ISBN 9786586136395.

Nesta obra, John H. Walton investiga como os povos vizinhos de Israel pensavam sobre os deuses e seus templos, sobre a formação do universo, sobre os seres humanosWALTON, J. H. O pensamento do Antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento: Introdução ao mundo conceitual da Bíblia Hebraica. São Paulo: Vida Nova, 2021 e seus governantes e até mesmo sobre sua produção cultural, a fim de desvendar como tudo isso moldou a forma como Israel pensava acerca de si, do mundo e de Deus.

Walton vai além do academicismo e mantém um objetivo prático ao longo da obra: ajudar seus leitores a aperfeiçoar a exegese do Antigo Testamento com base em informações do mundo antigo. Com dezenas de ilustrações e quadros com análises comparativas, Pensamento do antigo Oriente Próximo é um recurso indispensável para todos que desejam estudar e expor o texto bíblico fielmente.

O original em inglês Ancient Near Eastern thought and the Old Testament: introducing the conceptual world of the Hebrew Bible é de 2006 e a segunda edição de 2018.

John H. Walton é professor de Antigo Testamento no Wheaton College, Illinois, USA.

Veja aqui outras obras de John H. Walton. Algumas foram traduzidas para o português.

O Pentateuco sapiencial

MAZZINGHI, L. O Pentateuco sapiencial: Provérbios, Jó, Coélet, Sirácida, Sabedoria. Características literárias e temas teológicos. São Paulo: Loyola, 2023, 362 p. – ISBN 9786555042917.

O aprofundamento unitário do “Pentateuco sapiencial” — composto por Provérbios, Jó, Coélet, Sirácida e Sabedoria — permite-nos fazer emergir uma riqueza teológicaMAZZINGHI, L. O Pentateuco sapiencial: Provérbios, Jó, Coélet, Sirácida, Sabedoria. Características literárias e temas teológicos. São Paulo: Loyola, 2023 que ilumina o pensamento judaico e a identidade de Israel.

O livro descreve as características literárias e históricas próprias de cada um dos livros analisados e focaliza os temas teológicos que procedem com clareza da reflexão de Israel: a dimensão experiencial própria de uma sabedoria entendida como “arte de viver”; a perspectiva pedagógica e ético-social com a qual a sabedoria é proposta dentro de um preciso projeto educativo; o papel de Deus na vida do homem; o problema do mal; a figura da Sabedoria personificada; a teologia da criação como verdadeiro coração da teologia dos sábios.

O texto configura-se como uma introdução à literatura sapiencial bíblica e se dirige sobretudo a estudantes e a pessoas interessadas em empreender um percurso de aprofundamento.

“Julguei oportuno” — escreve o autor — “evitar dois extremos: por um lado, o risco de oferecer um texto muito volumoso e excessivamente difícil […]. Por outro lado, eu quis evitar também o risco de oferecer um manual muito simples, de nível mais baixo, que deixasse de abordar problemáticas complexas e aspectos exegéticos que exigem um estudo mais aprofundado”.

O original, em italiano, é de 2012.

Luca Mazzinghi é professor de Antigo Testamento na Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma.

Profetismo e política em Estudos Bíblicos

CORREIA JÚNIOR, J. L. (org.) Profetismo e política. Estudos Bíblicos, São Paulo, v. 38, n. 146, 2022.

O profetismo bíblico tem como característica mais forte da missão o engajamento político que se expressa por meio da inserção na luta pelo bem comum. No centro dosCORREIA JUNIOR, J. L. (org.)  Profetismo e política. Estudos Bíblicos, São Paulo, v. 38, n. 146, 2022. oráculos proféticos estava a mensagem direta de um Deus surpreendente, que foi se revelando como Senhor Justo e Misericordioso ao povo de Israel. Segundo a Teologia do livro do Êxodo, esse Deus “viu a miséria” dos ancestrais escravizados em trabalhos forçados no Egito, “ouviu seu grito” por causa da exploração econômica dos opressores, e “conhece as suas angústias” sob essa dura opressão (Ex 3,7).

Os profetas e profetisas de Israel como Débora, Amós, Isaías, Jeremias e tantos outros, animados por essa consciência ético-religiosa, são porta-vozes da vontade de Deus. Denunciam os abusos da classe dominante sobre camponeses, assalariados, estrangeiros, endividados, enfim, sobre todas as pessoas cujos direitos estavam sendo suprimidos por conta da ganância econômica opressora e do poder político corrupto.

Situado no contexto histórico sociopolítico da luta pela justiça social, além de protestar contra a exclusão econômica da qual era vítima parte significativa do povo, o profetismo bíblico chega a criticar veementemente todo tipo de ritualismo religioso que, desprovido de comprometimento ético, era um insulto ao Senhor Deus do Direito e da Justiça.

Isso fica claro logo no primeiro capítulo do livro do Profeta Isaías, onde está escrito que para agradar a Deus não basta simplesmente cultuá-lo em belas celebrações religiosas alienadas e alienantes dos problemas sociais. O que realmente agrada a Deus é buscar o direito, corrigir o opressor, fazer justiça ao órfão, defender a causa da viúva (Is 1,17). Nessa linha, a crítica à classe dirigente detentora do poder político opressor é bastante dura: “Teus príncipes [principais dirigentes] são rebeldes, companheiros de ladrões; todos são ávidos por subornos e correm atrás de presentes. Não fazem justiça ao órfão, a causa da viúva não os atinge” (Is 1,23).

Não é de se estranhar que o engajamento político do profetismo esteja marcado pelo conflito com o poder econômico, com a classe política subserviente ao poder econômico, e com a classe religiosa a serviço desses poderosos. A simples presença dos profetas e profetisas nas aldeias e vilarejos demarca não só o lado que assumem na sociedade, como também de onde provém a sua força política.

É a partir desse lugar existencial de luta pela sobrevivência que os profetas e profetizas tornam-se intermediários para que Deus fale por meio de seus gestos simbólicos e de suas palavras. Desse modo, participam ativamente das grandes crises da história, tais como no estabelecimento das dinastias de Saul e Davi, no grande cisma após a morte de Salomão, na sucessiva derrubada das dinastias do Reino do Norte e na queda do Reino do Sul, posteriormente.

Pode-se inferir, portanto, que o modo como se dá a ação dos profetas e profetisas na Bíblia foi e continua sendo uma forte interpelação à prática política motivada pela fé no Deus Justo e Misericordioso. É também uma evidente crítica à prática religiosa alienante e alienada dos problemas sociais, circunscrita a ritualismos que podem até anestesiar momentaneamente o sofrimento, mas não conduzem à experiência do Deus da Vida que toma partido dos pobres.

Esse é o mesmo Deus a quem Jesus chamava de Abbá, Paizinho, em profunda intimidade familiar e afetiva, que o motivou à experiência radical de compaixão solidária com a causa das multidões abandonadas “como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34).

Daí o potencial revolucionário que tem o discipulado missionário de Jesus ainda hoje, quando não se contenta apenas com o ritualismo estéril circunscrito ao ambiente religioso, e se insere no meio das multidões insatisfeitas com os impérios deste mundo, colaborando para que, a partir delas, tome forma na história a “nova sociedade” que os Evangelhos intitulam de “Reino de Deus”.

É nesse ambiente de reflexão que está inserida a Revista Estudos Bíblicos sobre “Profetismo e Política” (Trecho do Editorial, escrito por João Luiz Correia Júnior).

A revista está disponível online no site da Abib.