História da língua acádia

VITA, J.-P. (ed.) History of the Akkadian Language (2 Vols). Leiden: Brill, 2021, 1692 p. – ISBN 9789004445208.

O acádio é, depois do sumério, a língua mais antiga atestada na Mesopotâmia, bem como a mais antiga língua semítica conhecida. É também uma língua com um dos registros escritos mais longos da história. E, no entanto, diferentemente de outras línguas relevantes escritas ao longo de um grande período de tempo, não houve nenhum volume dedicado à sua própria história. O objetivo do presente trabalho é preencher esse vazio. Como ele cresceu para abraçar tantas facetas do acádio, e alguns de seus capítulos são tão extensos, o trabalho é dividido em dois volumes, o primeiro cobrindo as partes 1–4 (Contexto linguístico e períodos iniciais), o segundo cobrindo as partes 5–8 (O segundo e o primeiro milênios a.C. Vida após a morte).VITA, J.-P. (ed.) History of the Akkadian Language (2 Vols). Leiden: Brill, 2021, 1692 p.

Um trabalho desse tipo só poderia ser um esforço coletivo. O resultado é apresentado em 26 capítulos escritos por 25 autores. É, portanto, um trabalho com uma gestação longa e complexa. Os autores receberam apenas uma sugestão geral de que, na medida do possível, seus capítulos não deveriam se limitar aos aspectos gramaticais da língua, mas também deveriam levar em conta seu contexto histórico e cultural.

Veja o sumário do livro e informações sobre os autores, em pdf, clicando aqui.

Juan-Pablo Vita é pesquisador do CSIC (Consejo Superior de Investigaciones Científicas) em Madri. Ele trabalha com línguas semíticas do noroeste (especialmente ugarítico) e acádio (em particular dialetos acádios periféricos), contato linguístico e história social e econômica da Síria e Canaã na Idade Recente do Bronze. Ele também é epigrafista da Mission archéologique syro-française de Ras Shamra-Ougarit.

 

Akkadian is, after Sumerian, the second oldest language attested in the Ancient Near East, as well as the oldest known Semitic language. It is also a language with one of history’s longest written records. And yet, unlike other relevant languages written over a long period of time, there has been no volume dedicated to its own history. The aim of the present work is to fill that void. Because it grew to embrace so many facets of Akkadian, and some of its chapters are so extensive, the work is divided into two volumes, the first covering parts 1–4 (Linguistic Background and Early Periods), the second covering parts 5–8 (The Second and First Millennia bce. Afterlife).

Juan-Pablo Vita (1967-)A work of this type could only be a collective endeavor. The outcome is presented in 26 chapters written by 25 authors. It is, therefore, a work with a long and complex gestation. The authors were given only a general suggestion that, as far as possible, their chapters should not be limited to the grammatical aspects of the language, but should also take into account its historical and cultural background.

Juan-Pablo Vita is a researcher at the Spanish National Research Council (csic) in Madrid. He works on Northwest Semitic languages (especially Ugaritic) and Akkadian (in particular peripheral Akkadian dialects), language contact, and the social and economic history of Syria and Canaan in the Late Bronze Age. He is also epigraphist of the Mission archéologique syro-française de Ras Shamra-Ougarit.

Hebraico Bíblico 2025

O curso de Hebraico Bíblico compreende apenas 30 horas no primeiro semestre do primeiro ano de Teologia. É um tempo insuficiente mesmo para a aprendizagem elementar do hebraico bíblico. Por isso o curso se propõe apenas familiarizar o estudante de Teologia com o universo da língua hebraica e o modo semítico de pensar. No transcorrer das aulas os três itens principais – ouvir, ler e escrever – são trabalhados simultaneamente e não sequencialmente. Este curso está disponível para download ou acesso online na Ayrton’s Biblical Page > Noções de Hebraico Bíblico.

I. Ementa
Texto-base: Gn 1,1-8. O alfabeto hebraico. A pronúncia, a transliteração e a análise morfológica de Gn 1,1-8. As sílabas, o shevá e o dâghēsh. O vav conjuntivo, o artigo e as preposições. O substantivo, o adjetivo e os numerais. O verbo, forte e fraco, e o vav consecutivo.

II. Objetivos
Trabalha conceitos semíticos importantes para a compreensão do texto bíblico veterotestamentário.

III. Conteúdo Programático
1. Ouvir
Ouvir repetidamente o hebraico, para se acostumar com os sons estranhos. Não há aqui a preocupação em entender. O objetivo é fixar a atenção nos sons e acompanhar o texto de cada versículo, palavra por palavra. Até começar a distinguir onde está o leitor, no caso, o cantor.

2. Ler
Nesta seção o objetivo é tentar ler o hebraico. Estão disponíveis, para cada versículo de Gn 1,1-8, a pronúncia, a transliteração e a análise do texto. A pronúncia está bem simplificada, somente chamando a atenção para as tônicas, sem dizer se a vogal é breve ou longa e se o seu som é aberto ou fechado. Já a transliteração, representação dos caracteres hebraicos em caracteres latinos, é mais complexa e tem que ser detalhada.

3. Escrever
Nesta seção é possível aprender algumas regras básicas da gramática hebraica. Regras que permitirão uma escrita mínima de palavras e expressões. Mas a gramática é muito mais do que isto. Há sugestões de gramáticas e dicionários na bibliografia. E há revisões. Uma para cada versículo. As revisões ajudarão o estudante de hebraico verificar o seu nível de absorção do ouvir, do ler e do escrever. Poderão servir igualmente para as avaliações da disciplina.

IV. Bibliografia
Básica
FARFÁN NAVARRO, E. Gramática do hebraico bíblico. São Paulo: Loyola, 2010.

LAMBDIN, T. O. Gramática do hebraico bíblico. São Paulo: Paulus, 2003 [5. reimpressão: 2020].

MENDES, P. Noções de hebraico bíblico: texto programado. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.

Complementar
DA SILVA, A. J. Noções de hebraico bíblico. Brodowski, 2001. Disponível para leitura online e download na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 11.01.2025.

DA SILVA, A. J. Recursos para aprender hebraico – Na Play Store (Android) e no YouTube. Observatório Bíblico – 29 de julho de 2018.

ELLIGER, K.; RUDOLPH, W. Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. [1997]. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011. A BHS está disponível também online ou para download gratuito.

KIRST, N. et alii Dicionário hebraico-português e aramaico-português. 33. ed. São Leopoldo/Petrópolis: Sinodal/Vozes, 2018.

SCHÖKEL, L. A. Dicionário Bíblico Hebraico-Português. São Paulo: Paulus, 1997 [7. reimpressão: 2022].

Ouça textos em acádio

Ouça trechos do Enuma Elish, da Epopeia de Gilgámesh, da Epopeia de Atrahasis, do Código de Hammurabi e de outros importantes textos da literatura mesopotâmica.

Em acádio. Com transcrição e tradução em inglês.

Os textos são lidos por conhecidos especialistas, a partir de publicações acadêmicas confiáveis.Literatura da antiga Mesopotâmia lida por especialistas

Onde?

SOAS: Recorded Akkadian (recordings of Akkadian literature by noted specialists)

O que é o SOAS? School of Oriental and African Studies – University of London, UK.

 

Um exemplo: Gilgamesh X read by John Huehnergard

A. George, The Babyonian Gilgamesh Epic, vol. 1, p. 278, text OBVA+BM, “Meissner Fragment” read by John Huehnergard

Gilgameš, êš tadâl?
Gilgamesh, where are you wandering?

Balāṭam ša tasaḫḫuru lā tutta.
You cannot find the life you seek.

Inūma ilū ibnû awīlūtam,
When the gods created humanity,

mūtam iškunū ana awīlūtim,
They assigned death to humanity,

balāṭam ina qātīšunu iṣṣabtū.
Kept life in their possession.

Atta, Gilgameš, lū mali karaška;
You, Gilgamesh, let your belly be full;

urrī u mūšī ḫitaddu atta;
Day and night be ever joyful;

ūmišam šukun ḫidûtam;
Every day arrange joy;

urrī u mūšī sūr u mēlil.
Day and night dance and play.

lū ubbubū ṣubātūka,
Let your clothes be cleaned,

qaqqadka lū mesi; mê lū ramkāta.
Your head washed; be bathed in water.

ṣubbi ṣeḫram ṣābitu qātīka;
Gaze at the youngster who holds your hand;

marḫītum liḫtaddâm ina sūnīka.
Let your wife ever rejoice in your embrace.

eBL: electronic Babylonian Library

O objetivo da plataforma electronic Babylonian Library (eBL) é acelerar o ritmo de reconstrução e publicação de tabuinhas cuneiformes em todo o mundo. Ao oferecer uma plataforma versátil para edição de tabuinhas e textos e para anotação de edições e fotografias, e um conjunto de ferramentas para pesquisa epigráfica, lexicográfica e historiográfica, ela visa acelerar dramaticamente o ritmo em que a documentação escrita da antiga Mesopotâmia é recuperada para o mundo moderno.

A plataforma eBL é baseada na Ludwig-Maximilians-Universität (LMU), de Munique, Alemanha e na Bayerische Akademie der Wissenschaften (BAdW) e hospedada pela Leibniz-Rechenzentrum der Bayerischen Akademie der Wissenschaften (LRZ).

Meio milhão de tabuinhas cuneiformes

Quantas tabuinhas cuneiformes da antiga Mesopotâmia os museus possuem? Onde estão?Tabuinhas da Biblioteca de Assurbanípal em exposição no Museu Britânico em 2018/19

Não há uma contagem oficial do número de tabuinhas cuneiformes da antiga Mesopotâmia mantidas por museus do mundo todo, mas os especialistas concordam que há cerca de meio milhão.

O maior acervo, de longe, está em poder do British Museum, em Londres, que possui aproximadamente 130 mil tabuinhas cuneiformes.

Em seguida, em ordem aproximadamente decrescente, estão o Museu Vorderasiatisches de Berlim, o Louvre em Paris, o Museu do Antigo Oriente em Istambul, o Museu de Bagdá e a Coleção Babilônica da Universidade de Yale, que, com 40.000 tabuinhas, tem o maior acervo nos Estados Unidos. Em segundo lugar, nos Estados Unidos, está o Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade da Pensilvânia.

Mas são poucos os especialistas em cuneiforme – fala-se em cerca de 500 – e assim muitos desses escritos não são lidos.

Fragmentarium

Para resolver isso, o Prof. Enrique Jiménez na Ludwig-Maximilians-Universität (LMU) de Munique, Alemanha, está utilizando, com sua equipe, técnicas avançadas de inteligência artificial (IA) para analisar e decifrar inscrições cuneiformes antigas, incluindo a Epopeia de Gilgámesh. Eles desenvolveram várias ferramentas e algoritmos para facilitar esse processo, que estão disponíveis em seus repositórios do GitHub.

Henrique JiménezÉ uma ferramenta que não existia antes, um enorme banco de dados de fragmentos. Ele pode desempenhar um papel vital na reconstrução da literatura babilônica. Apropriadamente chamado de Fragmentarium, ele foi projetado para juntar fragmentos de texto usando métodos sistemáticos e automatizados. Os especialistas esperam que o programa também seja capaz de identificar e transcrever fotos de escritas cuneiformes no futuro. Até o momento, milhares de fragmentos cuneiformes adicionais foram fotografados em colaboração com o Museu Britânico em Londres e o Museu do Iraque em Bagdá.

Este projeto utiliza tecnologias de Reconhecimento Óptico de Caracteres (OCR) e Processamento de Linguagem Natural (NLP) para ler e combinar os textos. Especificamente, usa OCR para converter os sinais cuneiformes de imagens em texto legível por máquina. A equipe do Prof. Enrique Jiménez então aplica algoritmos para detectar e combinar segmentos sobrepostos de diferentes manuscritos, auxiliando na reconstrução de textos fragmentados.

Veja no YouTube: KI Lectures an der LMU – Die Rekonstruktion altorientalischer Literatur durch den Einsatz von KI (Palestras sobre IA na LMU – A Reconstrução da Literatura do Antigo Oriente Médio através do uso de IA) – 6 de dez. de 2021.

 

The electronic Babylonian Library (eBL) Project brings together ancient Near Eastern specialists and data scientists to revolutionize the way in which the literature of Iraq in the first millennium BCE is reconstructed and analyzed. Generations of scholars have striven to explore the written culture of this period, in which literature in cuneiform script flourished to an unprecedented degree, but their efforts have been hampered by two factors: the literature’s fragmentary state of reconstruction and the lack of an electronic corpus of texts on which to perform computer-aided analyses.

The eBL project aims to overcome both challenges. First, a comprehensive electronic corpus has been compiled, and legacy raw material now largely inaccessible has been transcribed into a database of fragments (“Fragmentarium”). Secondly, a pioneering sequence alignment algorithm (“cuneiBLAST”) has been developed to query these corpora. This algorithm will propel the reconstruction of Babylonian literature forward by identifying hundreds of new pieces of text, not only in the course of the project but also in the decades to come.

In order to answer several fundamental and much-debated questions about the nature of the Babylonian poetic expression and the composition and transmission of the texts, three tools are being developed to data-mine the eBL corpus. The first will search for patterns in the spelling variants in the manuscripts, the second will find rhythmical patterns, and the third will sift the corpus for intertextual parallels. The bottom-up study of the corpus by means of these tools will decisively change our conceptions of how Babylonian literature was composed and experienced by ancient audiences (from AWOL – August 22, 2023).

Quatro sistemas de vocalização do hebraico bíblico

Os sistemas babilônico, palestino, tiberiano-palestino e tiberiano de vocalização do hebraico bíblico

O hebraico bíblico é estudado em todo o mundo por estudantes universitários, seminaristas e pelo público instruído. Também é estudado, quase universalmente, através de um único prisma – o da tradição massorética tiberiana, que é a tradição do hebraico bíblico mais bem atestada e mais amplamente disponível. Graças em grande parte ao seu endosso por Maimônides, tornou-se também a tradição de vocalização de maior prestígio na Idade Média. Para a maioria, o hebraico bíblico é sinônimo do hebraico bíblico tiberiano.

Existem, no entanto, outras tradições de vocalização. A tradição babilônica foi difundida entre os judeus por volta do final do primeiro milênio d.C. O estudioso caraíta do século X, al-Qirqisani, relata que a pronúncia babilônica estava em uso na Babilônia, no Irã, na península arábica e no Iêmen. E apesar do fato de os judeus iemenitas terem continuado a usar manuscritos babilônicos sem interrupção, de geração em geração, os estudiosos europeus só tomaram conhecimento deles em meados do século XIX.

Décadas depois, manuscritos vocalizados com o sistema palestino foram redescobertos na Genizah do Cairo.

Depois disso veio a descoberta de manuscritos escritos de acordo com o sistema tiberiano-palestino e, talvez o mais importante, os textos encontrados em grutas nasGARR, W. R. ; FASSBERG, S. E. (eds.) A Handbook of Biblical Hebrew. Volume 1: Periods, Corpora, and Reading Traditions; Volume II: Selected Texts. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2016 proximidades do Mar Morto.

Estas são notas de leitura de capítulos da terceira e quarta partes do volume 1 de GARR, W. R. ; FASSBERG, S. E. (eds.) A Handbook of Biblical Hebrew. Volume 1: Periods, Corpora, and Reading Traditions; Volume II: Selected Texts. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2016, 370 p. – ISBN 978-1575063713.

A terceira parte está nas páginas 99-185 do primeiro volume e tem os seguintes títulos e autores:

Part III – Ancient and Medieval Reading Traditions

8. Hebrew in Greek and Latin Transcriptions – Alexey Eliyahu Yuditsky
9. Samaritan Tradition – Moshe Florentin
10. Babylonian Tradition – Shai Heijmans
11. Karaite Transcriptions of Biblical Hebrew – Geoffrey Khan
12. Palestinian Tradition – Joseph Yahalom
13. Tiberian-Palestinian Tradition – Holger Gzella

A quarta parte está nas páginas 186-227 do primeiro volume e tem os seguintes títulos e autores:

Part IV – Essays
14. The Tiberian Tradition of Reading the Bible and the Masoretic System – Yosef Ofer
15. The Contribution of Tannaitic Hebrew to Understanding Biblical Hebrew – Moshe Bar-Asher
16. Modern Reading Traditions of Biblical Hebrew – Aharon Maman

 

A tradição babilônica

É amplamente aceito que a vocalização discutida neste capítulo foi inventada pelos judeus babilônicos durante o período geônico (final do século VI até o século XI d.C.). Não há nenhuma evidência direta, entretanto, de que a vocalização seja de fato babilônica; é uma suposição baseada principalmente em declarações em fontes medievaisDt 9,15-21 - Vocalização babilônica - Do vol. 2 de GARR, W. R. ; FASSBERG, S. E. (eds.) A Handbook of Biblical Hebrew, 2016 de que os judeus babilônicos e palestinos tinham diferentes tradições de pronúncia do texto bíblico. O fato de algumas notas massoréticas atribuírem aos “orientais” uma pronúncia conforme à vocalização aqui discutida fortalece esta suposição.

A comunidade judaica na Babilônia tem uma longa história. Os judeus chegaram pela primeira vez à região alguns anos antes da destruição do Templo em 586 a.C. A evidência sugere que estavam bem integrados na vida cultural e econômica que os rodeava. Durante os períodos parta e sassânida, a comunidade estabeleceu-se como a mais influente entre as comunidades judaicas da diáspora. Seus membros se viam como verdadeiros guardiões da tradição judaica.

A colonização judaica na Babilônia talmúdica concentrou-se entre o Tigre e o Eufrates, na região onde os principais canais ligavam os dois rios. No Talmud Babilônico encontramos uma declaração sobre a área de “linhagem judaica pura” (Qidd. 71b): no Tigre, esta área alcançava Moshkani no norte e Apameia no sul (aproximadamente 60 km ao norte de Bagdá e 160 km a seu sudeste, respectivamente).

Durante a antiguidade tardia, os judeus babilônicos gozavam, em geral, de uma autonomia considerável em assuntos internos. À sua frente estava o Exilarca, o Rosh ha-Golah, que derivava sua autoridade tanto de sua linhagem como descendente da casa de Davi quanto do status que lhe foi concedido pelo governo. A vida espiritual e cultural foi dominada pelas academias judaicas, as yeshivot, que funcionaram apenas com pequenas interrupções a partir do século III d.C. Existiam duas academias importantes: uma em Nehardeʿa, que após a destruição da cidade em 259 d.C. mudou-se para Pumbedita; e a outra na Sura. Os ensinamentos dessas academias foram compilados e editados por gerações de estudiosos (Amoraʾim) para formar o corpus literário chamado Talmud Babilônico.

O início do período geônico, assim designado pelo título do chefe da academia, o Gaon, corresponde aproximadamente à conquista da Babilônia pelos árabes.

Sob a lei islâmica, os judeus tinham o direito de culto e de administrar a sua própria lei religiosa. As academias, portanto, continuaram sob o domínio islâmico e alcançaram reconhecimento internacional e autoridade moral na maior parte do mundo judaico. Durante o período geônico, os geonim babilônicos estabeleceram-se como líderes intelectuais de toda a diáspora, alcançando preeminência sobre o centro concorrente na Palestina. Além dos estudos jurídicos, eles também se dedicaram às áreas de exegese bíblica, linguística e poesia.

O fim da era geônica é geralmente associado à morte do rabino Hayya Gaon em 1038. Na realidade, porém, a transição do período geônico para o período rishonim, que se seguiu, foi um processo contínuo de descentralização, à medida que novos centros judaicos no norte da África e Europa substituíram o centro babilônico durante os séculos X e XI.

A tradição de pronúncia babilônica e sua vocalização aparentemente tiveram seu apogeu durante os séculos VIII e IX e se espalharam pelas comunidades judaicas vizinhas na Pérsia e no Iêmen. No final do período geônico, entretanto, a tradição tiberiana substituiu a babilônica, e esta última continuou a ser empregada apenas em alguns lugares, principalmente no Iêmen, onde sobreviveu até o século XV, e, com forte influência tiberiana, continua a ser empregada entre os judeus iemenitas até hoje.

Nosso conhecimento da vocalização babilônica e da tradição de pronúncia que ela representa baseia-se inteiramente em manuscritos medievais. Quase todos os manuscritos são fragmentos de genizah, espalhados em bibliotecas de todo o mundo. Eles representam aproximadamente 500 códices originais, mas muitas vezes não mais do que uma dúzia de páginas sobrevivem de um único codex.

O corpus pode ser dividido em três grupos principais: textos bíblicos, textos rabínicos e piyyuṭim (poemas litúrgicos). Destes, os textos bíblicos formam o maior grupo, com aproximadamente 350 manuscritos. Infelizmente, a maioria dos manuscritos não contém colofões, portanto sua data e procedência só podem ser conjecturadas.

A tradição de pronúncia babilônica representada pela vocalização no corpus de manuscritos não é uniforme, uma vez que a influência tiberiana penetrou na pronúncia babilônica em vários graus.

Israel Yeivin (1985) dividiu os manuscritos em três grupos principais de acordo com a pronúncia que representam: Babilônico Antigo, Babilônico Médio e Babilônico Tardio. O primeiro representa a tradição babilônica sem (quase) nenhuma influência tiberiana. O último representa uma tradição babilônica fortemente tiberianizada.

O sistema de vocalização babilônico, diferentemente do tiberiano, nunca alcançou uniformidade. Praticamente todos os manuscritos importantes são vocalizados de acordo com princípios ligeiramente diferentes. No entanto, podem distinguir-se três subsistemas principais da vocalização babilônica: (1) o sistema “simples”, (2) o sistema “complexo”, (3) e o sistema de pontos.

Os manuscritos raramente são totalmente vocalizados no sistema simples. Os sinais vocálicos são geralmente escritos entre consoantes. Quando, no entanto, as vogais acompanham yod ou vav como matres lectionis, elas geralmente vêm diretamente acima dessas letras.

 

A tradição palestina

Supõe-se que o sistema de vocalização “palestino” foi usado por judeus em algum lugar da Palestina medieval, exceto Tiberíades.

Sl 55,1-12 - Vocalização palestina - Do vol. 2 de GARR, W. R. ; FASSBERG, S. E. (eds.) A Handbook of Biblical Hebrew, 2016A evidência baseia-se apenas no relato mais antigo existente sobre uma “vocalização palestina”, que está contido num comentário sobre o tratado ʾAbot da Mishná no Vitry Mahzor, uma coleção medieval da lei judaica. Em seu comentário, o estudioso do século XII, Jacob ben Samson, discute a afirmação “Moisés recebeu a Torá do Sinai” (m. ʾAbot 1,1). Como parte desta discussão, ele cita a opinião de que a cantilena do texto (taʿame ha-miqra) também foi recebida por Moisés no Sinai, “mas os sinais do canto foram estabelecidos pelos escribas. Portanto, a vocalização tiberiana (niqqud) é diferente da nossa vocalização; nem é como a vocalização palestina. Eles os estabeleceram porque acentos e cantos tendem a ser esquecidos”. O exegeta refere-se claramente aqui ao sistema de acentos de cantilena, do qual existem de fato três versões conhecidas: o sistema tiberiano, o sistema palestino e o sistema babilônico. Conclui-se que Moisés não poderia ter recebido os acentos do Sinai, embora tenha recebido a detalhada divisão sintática do texto da Torá, que seria posteriormente marcada por meio de acentos criados expressamente para esse fim.

É um tanto surpreendente que Jacob ben Samson chame um dos sistemas de “tiberiano” e outro de “palestino”, uma vez que Tiberíades fica na Palestina. Evidência indireta adicional da origem palestina desse sistema de vocalização é fornecida pela poesia litúrgica palestina antiga (piyyûṭîm), bem como por um pergaminho vocalizado do targum palestino. Alguns palimpsestos rabínicos revelam um texto original em siríaco ou grego palestino, sobre o qual foi escrito um texto hebraico rabínico com vocalização palestina supralinear. Estes palimpsestos também constituem provas indiretas de uma origem palestina.

Manuscritos palestinos vocalizados são conhecidos apenas no material recuperado na Genizah do Cairo. A maioria dos manuscritos contém piyyûṭîm palestino, mas também são encontrados manuscritos bíblicos e um pergaminho do targum palestino. Existem algumas vocalizações palestinas isoladas em fragmentos da Mishná, do Talmud e dos midrashim, dos quais mais de metade são palimpsestos. Os sinais de vocalização são usados ​​com moderação nesses fragmentos para evitar erros de leitura, principalmente em locais propensos a erros.

Os mais antigos fragmentos dos manuscritos bíblicos com a vocalização palestina foram escritos como pergaminhos. As primeiras cópias mais bem preservadas são de Ezequiel e Salmos. Cópias posteriores dos Salmos foram preservadas em fragmentos de códices e fragmentos de códices semelhantes também existem principalmente para Jeremias e Daniel. Sinais de vocalização isolados podem ser encontrados em um fragmento da Massorá aos Reis, bem como em um manuscrito de Josué no qual os sinais palestinos foram adicionados por duas mãos diferentes.

Todos os manuscritos vocalizados com o sistema palestino utilizam sinais supralineares – isto é, a vogal é colocada acima da letra (como no sistema de vocalização babilônico). Os textos bíblicos vocalizados palestinos seguem a ortografia consonantal do sistema tiberiano. Os textos não-bíblicos tendem a uma grafia mais completa, como é habitual nos Manuscritos do Mar Morto e nos textos pós-bíblicos.

 

A tradição tiberiano-palestina

A vocalização tiberiano-palestina é um sistema tiberiano de vocalização não padronizado atestado em alguns manuscritos, dos quais o Codex Reuchlin do século XII ocupa o lugar mais proeminente. Como o nome sugere, este sistema combina sete sinais vocálicos da tradição tiberiana com cinco qualidadesIs 50,1-5 - Vocalização tiberiano-palestina - Do vol. 2 de GARR, W. R. ; FASSBERG, S. E. (eds.) A Handbook of Biblical Hebrew, 2016 vocálicas subjacentes aos manuscritos palestinos. Um segundo traço característico apresenta um uso mais extenso de dâghēsh e rafe, especialmente para distinguir os valores consonantais de certos grafemas de sua função como letras vocálicas e para destacar os limites das sílabas. Ambos geralmente refletem práticas ortográficas divergentes das convenções tiberianas, em vez de uma tradição de pronúncia diferente.

Pode-se, portanto, considerar a vocalização tiberiano-palestina uma variante graficamente diferente e não totalmente padronizada da tradição de leitura tiberiana, com tendência à desambiguação. Não está claro por que este sistema surge particularmente em vários manuscritos da Europa Ocidental, incluindo vários manuscritos importantes da Itália, entre os séculos XI e XIV d.C. Da mesma forma, as origens históricas precisas e a extensão da sua combinação de práticas palestinas e tiberianas, juntamente com a presença de alguns representantes de escolas palestinas entre os judeus italianos durante este período e a origem palestina das tradições de pronúncia hebraica na Itália permanecem obscuras.

O sistema tiberiano-palestino ocorre em vários manuscritos bíblicos, mishnaicos e litúrgicos; como mencionado, vários deles vêm claramente da Europa Ocidental, e uma proveniência europeia é pelo menos provável para outros. No entanto, eles apresentam certas diferenças no uso de sinais vocálicos e outros sinais diacríticos que apontam para uma falta geral de padronização.

O Codex Reuchlin, em homenagem ao seu proprietário mais famoso, Johannes Reuchlin (1455-1522, um dos fundadores do hebraísmo cristão), e agora na Badische Landesbibliothek em Karlsruhe, Alemanha, atua como a principal testemunha na discussão. Lindamente escrito em 382 folhas em colunas duplas com 30 a 32 linhas cada, contém o texto dos “Oito Profetas” (Josué, Juízes, 1–2 Samuel, 1–2 Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Profetas Menores ) junto com o targum aramaico após cada versículo. Este último foi publicado separadamente, embora vocalização. De acordo com o cólofon, o Codex pode ser datado de 1105–1106 d.C.

A vocalização tiberiano-palestina emprega os mesmos sinais vocálicos e sinais diacríticos que o hebraico tiberiano, mas sua função e, em casos específicos, sua posição em relação à letra a que um sinal se refere, diferem.

 

A tradição tiberiana

Várias tradições de leitura da Bíblia evoluíram ao longo do tempo, correspondendo a diferentes dialetos do hebraico. Essas tradições são refletidas em manuscritos e Início do livro do Gênesis no Codex de Leningrado - Vocalização tiberianafragmentos de genizah dos séculos IX e X d.C., cujos textos são vocalizados de acordo com diferentes sistemas: babilônico, palestino, tiberiano-palestino e tiberiano. Com o tempo a tradição linguística tiberiana tornou-se o mais prestigiado dos sistemas, deslocou todos os outros, e a sua vocalização passou a ser aceita por todas as comunidades judaicas.

Já no século X há evidências de que o sistema tiberiano foi reconhecido como superior. O sábio caraíta Abū Yūsuf Yaʿqūb al Qirqisāni escreveu em seu Kitāb al-Anwār (937 d.C.): “Nesta geração não há mais ninguém entre aqueles que se ocupam com a ciência da linguagem e da gramática, entre o povo de Isfahan (Pérsia) , Basra (Iraque), Tastur (Tunísia) e outros lugares, que não admitem a superioridade da leitura da terra de Israel, que não a reconhecem como a verdadeira, e que não veem que a verdade da gramática só é explicada por ela”.

Quando Qirqisāni escreveu esta passagem, a vocalização babilônica da Bíblia era de uso comum em toda a Ásia Ocidental, Iraque, Irã, Afeganistão, Arábia e Iêmen. Na época, era provavelmente o mais utilizado, geográfica e quantitativamente, de todos os sistemas de vocalização hebraica. No entanto, Qirqisāni sustentou que os gramáticos reconheciam a superioridade da leitura palestina (ou seja, a tiberiana), na qual baseavam a gramática hebraica.

Saadia Gaon (882–942), um pioneiro da gramática hebraica, é um exemplo disso. Ele nasceu no Egito, viveu algum tempo em Tiberíades e depois se estabeleceu na Babilônia. Embora estivesse familiarizado com a vocalização babilônica e com a tradição de leitura babilônica, ele baseou sua gramática na vocalização tiberiana.

Um exame dos manuscritos com vocalização babilônica revela um claro processo evolutivo: os manuscritos mais antigos preservam uma tradição única do hebraico que difere em muitos detalhes daquela do tiberiano. Com o passar do tempo, porém, as diferenças tenderam a desaparecer: os manuscritos babilônicos ainda usavam os sinais de vocalização supralinear do sistema babilônico, mas a tradição linguística que neles se refletia foi perdendo gradualmente as características que a distinguiam da tradição tiberiana.

Como observado acima a tradição de vocalização tiberiana acabou por triunfar sobre todas as outras e todas as comunidades judaicas adotaram o uso dos sinais tiberianos.

O sistema não permaneceu limitado à Bíblia, mas foi estendido também à Mishná, à poesia litúrgica e outras poesias e, ocasionalmente, também aos escritos em prosa. As tradições de leitura, por outro lado, não se fundiram, e até hoje a Bíblia é lida de forma diferente entre os judeus iemenitas, asquenazes e sefarditas, bem como em algumas outras comunidades judaicas. As tradições destes vários grupos preservaram traços linguísticos antigos.

Os massoretas estavam determinados a produzir um texto bíblico que fosse unificado e uniforme em todos os detalhes: as letras, os sinais vocálicos e os sinais de cantilena. Embora existissem desacordos e diferenças em todos os três domínios – devido à influência de tradições antigas distintas e por causa de erros introduzidos no decurso da cópia e transmissão – onde tais desacordos surgiram, os massoretas tiveram o cuidado de chegar a um acordo sobre uma solução única, que foi então fixada e preservada por meio de um comentário massorético.

Deve-se enfatizar que por uniformidade entendemos a maneira pela qual se deve ler e escrever uma determinada palavra em um determinado versículo. Não queremosJs 1,1 no Codex de Aleppo - Vocalização tiberiana dizer uma uniformidade geral na ortografia ou na vocalização entre diferentes ocorrências em um texto. Nem nos referimos à padronização de textos paralelos que aparecem em vários lugares da Bíblia. Pelo contrário, os massoretas esforçaram-se por preservar as diferenças internas no texto. Transmitiam, por exemplo, quantas vezes uma determinada palavra aparecia plena e quantas vezes defectiva, e preparavam listas de diferenças entre textos paralelos da Bíblia [Obs.: a grafia plena usa consoantes vocálicas, ou matres lectionis, e a grafia defectiva usa sinais vocálicos].

Uma comparação dos melhores manuscritos da Bíblia mostra uma notável uniformidade, que também é mantida nas edições impressas atualmente disponíveis. Porém, esta uniformidade não é absoluta, uma vez que existem algumas diferenças entre os vários manuscritos, bem como entre os manuscritos e as edições impressas mais comuns. Quase todas as diferenças são pequenas e não afetam a interpretação do texto.

Isso pode ser demonstrado através de uma comparação de dois códices, o Codex de Aleppo (A) e o Codex de Leningrado (L), os dois manuscritos mais conhecidos da Bíblia.

O texto do Codex de Aleppo foi escrito em Tiberíades no início do século X por Shlomo ben Boyaʿa, e a vocalização e os comentários massoréticos foram acrescentados pelo famoso massoreta Aharon ben Moshe da família Ben Asher. Hoje o manuscrito não está mais completo depois que cerca de um terço de suas páginas foram perdidas durante os conflitos de Damasco em 1947.

O Codex de Leningrado foi escrito no Egito no ano de 1009 por Shmuel ben Yaʿaqov que escreveu o texto e também adicionou as vogais e os comentários massoréticos. O copista observou que baseou seu trabalho “nos livros editados e iluminados feitos pelo sábio Aharon ben Moshe ben Asher”. Muitas edições modernas da Bíblia baseiam sua versão do texto em um ou em ambos desses códices.

Quatro fases do hebraico bíblico

Estas são notas de leitura da primeira parte do livro de GARR, W. R. ; FASSBERG, S. E. (eds.) A Handbook of Biblical Hebrew. Volume 1: Periods, Corpora, and Reading Traditions; Volume II: Selected Texts. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2016, 370 p. – ISBN 978-1575063713.

Esta primeira parte está nas páginas 1-54 e tem os seguintes títulos e autores:GARR, W. R. ; FASSBERG, S. E. (eds.) A Handbook of Biblical Hebrew. Volume 1: Periods, Corpora, and Reading Traditions; Volume II: Selected Texts. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2016

Phases of Biblical Hebrew

1. Standard/Classical Biblical Hebrew – Joseph Lam and Dennis Pardee
2. Archaic Biblical Hebrew – Agustinus Gianto
3. Transitional Biblical Hebrew – Aaron D. Hornkohl
4. Late Biblical Hebrew – Matthew Morgenstern

 

Quatro estágios do Hebraico Bíblico

A divisão do Hebraico Bíblico em quatro estágios, conforme adotado neste livro – Arcaico/Antigo, Padrão/Clássico, Transicional e Tardio – representa um refinamento da tradicional divisão tripartida do Hebraico Bíblico em arcaico, padrão e tardio (pós-exílico). Como uma língua literária definida por um grupo de textos e não por uma comunidade de fala, o Hebraico Bíblico apresenta certas dificuldades para a tarefa de descrição linguística.

 

Hebraico Bíblico Padrão

Os estudos histórico-críticos tradicionais da Bíblia Hebraica usam o termo Hebraico Bíblico Padrão ou Hebraico Bíblico Clássico para designar o estágio da língua falada no reino de Judá, na Idade do Ferro, nos séculos VIII a VI a.C.

O termo Hebraico Bíblico Padrão implica uma restrição do corpus nos textos contidos na Bíblia Hebraica. Na maioria das vezes, o termo tem sido aplicado às porçõesGARR, W. R. ; FASSBERG, S. E. (eds.) A Handbook of Biblical Hebrew. Volume 1: Periods, Corpora, and Reading Traditions; Volume II: Selected Texts. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2016 narrativas em prosa da “história primária” de Gênesis até Reis, especialmente porque os livros de Reis e Crônicas, em virtude do suposto intervalo de tempo entre suas respectivas datas de composição e sua sobreposição de conteúdo fornecem um ponto de partida conveniente para comparação diacrônica. Tal definição também tem a vantagem de produzir um corpus relativamente homogêneo para análise linguística.

Coloca-se, contudo, a questão de saber se é metodologicamente justificável excluir a poesia de uma definição do corpus do Hebraico Bíblico Padrão que é ostensivamente diacrônica.

Como é geralmente aceito que o Hebraico Bíblico Arcaico é atestado apenas em um número limitado de textos poéticos contendo características que são especialmente antigas (por exemplo, Gênesis 49, Êxodo 15, Juízes 5), os poemas não arcaicos restantes, incluindo o textos proféticos, da Bíblia Hebraica precisam ser atribuídos a algum lugar no continuum diacrônico.

E uma vez que é claro que os textos poéticos abrangem todo o intervalo cronológico do hebraico bíblico, somos inexoravelmente levados a incluir textos poéticos nos vários estágios do hebraico bíblico, com a poesia do Hebraico Bíblico Padrão abrangendo poemas bíblicos que não são abertamente arcaicos ou comprovadamente tardios.

 

Hebraico Bíblico Arcaico

O termo Hebraico Bíblico Arcaico caracteriza uma fase do hebraico que difere do Hebraico Bíblico Padrão, mas está mais próximo das antigas línguas semíticas do noroeste, isto é, do ugarítico e do cananeu de Amarna e das línguas cognatas do primeiro milênio, isto é, línguas fenícias, aramaicas antigas e transjordânicas.

Não há consenso se suas características representam uma fase real e falada da linguagem. Os estudos mais antigos tendem a prosseguir com base nesta visão. Por outro lado, estudos mais recentes mostram que vários traços arcaicos também aparecem no Hebraico Bíblico Padrão, especialmente nos textos poéticos. Isto leva à ideia de que o Hebraico Bíblico Arcaico reflete uma fase de transição para a linguagem clássica.

Várias características mais antigas do semítico do noroeste no Hebraico Bíblico Arcaico também foram explicadas como originárias do aramaico, que, neste caso, mantém as formas mais antigas do semítico do noroeste. Algumas características do Hebraico Bíblico Arcaico foram consideradas pertencentes a um dialeto hebraico do norte com afinidades mais próximas com o fenício e o aramaico do que com o hebraico judaico.

Uma data precisa não pode ser atribuída ao Hebraico Bíblico Arcaico Pode-se presumir que a comunidade de fala original seja a sociedade israelita primitiva. As origens desta sociedade estão intimamente ligadas às transformações sociopolíticas na Síria-Palestina durante a segunda metade do segundo milênio a.C. Este período testemunhou o colapso do sistema de cidades-estado na área e a ascensão de variados grupos como os reinos arameu, moabita, edomita, amonita e israelita. Cada um com um governante e um centro administrativo, por exemplo, Jerusalém para os israelitas, Damasco para os arameus, Dibon para os moabitas Uma divindade (Iahweh, Hadad, Kemosh, respectivamente) e uma língua própria.

Este é o cenário para o crescimento do hebraico como a língua “nacional” de Israel, que atingiu o seu auge na forma de Hebraico Bíblico Padrão durante o período do Primeiro Templo.

A comunidade que falava o Hebraico Bíblico Arcaico também foi a que esteve na base da primeira corte genuinamente real – isto é, a de Davi. O Hebraico Bíblico Arcaico representa, portanto, o estágio inicial do desenvolvimento do hebraico.

As primeiras tradições são preservadas em vários poemas da Bíblia Hebraica que formam o corpus do Hebraico Bíblico Arcaico: Ex 15,1–18; Nm 23,7–10; 23,18–24; 24,3–9; 24,16–19; Dt 32,1–43; Hab 3; Sl 68; Gn 49; Dt 33,1-29; Jz 5,1–30; 1 Sm 2,1–10; 2 Sm 22,2–51.

 

Hebraico Bíblico de Transição

O Hebraico Bíblico de Transição é uma camada histórica heterogênea do registro literário hebraico antigo, refletido em certas obras da Bíblia Hebraica, representando vários gêneros (narrativa, poesia, profecia, retórica exortativa), escritores de diversas vocações (historiador, profeta, poeta) e vários contextos regionais (principalmente Judá e Babilônia).

O rótulo “de transição” deve-se ao fato de que parece ligar os dois estágios históricos mais bem definidos, conhecidos como Hebraico Bíblico Padrão e Hebraico Bíblico Tardio.

Dito de forma simples o Hebraico Bíblico de Transição refere-se ao estrato histórico da Bíblia Hebraica que liga a era pré-exílica à era pós-exílica. O Hebraico Bíblico de Transição é definido como a linguagem do material bíblico escrito ao longo de aproximadamente 150 anos desde o encerramento da era pré-exílica até a reconstrução pós-exílica, isto é, de 600 a 450 a.C.

Acredita-se que o corpus do Hebraico Bíblico de Transição consista em Isaías 40-66, Jeremias, Ezequiel, Ageu, Zacarias, Malaquias e Lamentações. A linguagem de 2 Reis 24–25 também apresenta características do Hebraico Bíblico de Transição.

A evidência mais antiga desses livros consiste em múltiplos manuscritos hebraicos, embora muitas vezes fragmentários, do deserto da Judeia, datados entre o século III a.C. e o século I d.C. Mais tarde, embora indireta, a evidência é oferecida pelas traduções grega, latina, siríaca e aramaica dos séculos seguintes.

 

Hebraico Bíblico Tardio

Hebraico Bíblico Tardio é um termo acadêmico moderno aplicado ao idioma nos livros da Bíblia Hebraica que são considerados compostos durante o período do Segundo Templo.

A estratificação do hebraico bíblico em pré-exílico e pós-exílico já foi reconhecida no século XII d.C. pelo exegeta e gramático judeu Abraham ibn Ezra, que, em seus comentários sobre Êxodo 12,1, observou que os nomes dos meses apenas aparecem em livros posteriores e foram trazidos para Israel na volta do exílio babilônico.

Embora vários livros bíblicos se relacionem explicitamente com eventos que ocorreram durante o período persa (539–333 a.C.), nenhum menciona pelo nome eventos do período helenístico. No entanto, o filósofo neoplatônico Porfírio de Tiro (século III d.C.) já correlacionava o livro de Daniel com eventos da época de Antíoco Epífanes. Portanto, o livro, pelo menos em parte, não foi composto antes do segundo século a.C.

Os livros bíblicos do final do período helenístico são, portanto, aproximadamente contemporâneos das primeiras composições não-bíblicas encontradas nos manuscritos de Qumran. Na verdade, estes livros e os manuscritos de Qumran partilham muitas características linguísticas.

Com exceção das memórias pessoais de Neemias, que aparecem no livro que leva seu nome e são narradas na primeira pessoa, o texto bíblico não fornece nenhuma informação explícita sobre a identidade dos autores dos livros deste corpus.

As outras partes do corpus – tanto as que mencionam claramente acontecimentos do período persa como as que foram atribuídas ao período do Segundo Templo – são narradas anonimamente na terceira pessoa.

Os livros de Esdras e Neemias (que provavelmente eram originalmente uma única obra) referem-se a eventos que cercaram a fundação do Segundo Templo. Seus dois personagens centrais são exilados judeus de origem nobre servindo na corte persa antes de seu retorno a Jerusalém; ambos eram presumivelmente falantes competentes de persa e aramaico.

O livro de Crônicas reconta a história da monarquia de um ponto de vista teológico polêmico, e seu redator é frequentemente considerado como um levita. O autor do livro de Ester também parece estar familiarizado com a corte persa, embora alguns especialistas tenham lançado dúvidas sobre a exatidão do relato.

Antes da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto (tanto de Qumran quanto dos textos posteriores de outros locais no deserto da Judeia), afirmava-se frequentemente que o hebraico nesse período era uma mistura literária de materiais herdados extraídos de fontes anteriores e empréstimos do aramaico.

Neemias já reclamava das crianças que não sabiam falar “judaico” (Ne 13,24). Do período helenístico temos evidências claras de polêmicas linguísticas pró-hebraicas, o que levou alguns estudiosos a acreditar que o hebraico não era mais uma língua falada após o exílio babilônico. Outros estudiosos desafiaram esta suposição e as evidências epigráficas e documentais indicam agora que o hebraico permaneceu uma língua falada pelo menos até o século segundo d.C.

No entanto, existem usos encontrados no Hebraico Bíblico Tardio que parecem ser exclusivos deste período e podem resultar especificamente da influência literária do aramaico, uma vez que não sobrevivem no uso posterior do hebraico. Este fato implica que os autores destes livros eram bem versados na literatura aramaica e nos seus usos linguísticos. A presença do aramaico em Daniel e Esdras e a importância do aramaico no registro epigráfico e literário do período do Segundo Templo apoiam esta suposição.

Por outro lado, não há nenhuma evidência convincente da influência grega no Hebraico Bíblico Tardio.

O corpus do Hebraico Bíblico Tardio geralmente inclui os livros de Esdras, Neemias, Ester, Crônicas, Daniel e Qohelet. Muitos estudiosos também incluem Cântico dos Cânticos, Jonas e alguns salmos, apesar das incertezas de datação.

A descoberta dos Manuscritos do Mar Morto indica até que ponto eram comuns os empréstimos literários e linguísticos de textos religiosos hebraicos anteriores. Como resultado, classicismos e neologismos são frequentemente justapostos nas obras literárias hebraicas do período, incluindo os livros proféticos do período de transição e as obras do hebraico bíblico tardio. O grau em que um texto do Hebraico Bíblico Tardio está em conformidade com as normas do hebraico do período monárquico pode depender do gênero ou da habilidade dos escritores.

Quando uma obra não se relaciona explicitamente com o período pós-exílico, sua atribuição ao Hebraico Bíblico Tardio baseia-se principalmente em considerações linguísticas. Assim, Qohelet e, de acordo com muitos estudiosos, Cântico dos Cânticos estão agora incluídos neste corpus.

Ao datar tais textos, a ênfase é colocada na distribuição de lexemas e formas sintáticas, nos contrastes entre as formas pré-exílicas e posteriores e, sempre que possível, na corroboração externa do uso posterior de outras fontes.

Hebraico Bíblico 2024

O curso de Hebraico Bíblico compreende apenas 30 horas no primeiro semestre do primeiro ano de Teologia. É um tempo insuficiente mesmo para a aprendizagem elementar do hebraico bíblico. Por isso o curso se propõe apenas familiarizar o estudante de Teologia com o universo da língua hebraica e o modo semítico de pensar. No transcorrer das aulas os três itens principais – ouvir, ler e escrever – são trabalhados simultaneamente e não sequencialmente. Este curso está disponível para download ou acesso online na Ayrton’s Biblical Page > Noções de Hebraico Bíblico.

I. Ementa
Texto-base: Gn 1,1-8. O alfabeto hebraico. A pronúncia, a transliteração e a análise morfológica de Gn 1,1-8. As sílabas, o shevá e o dâghēsh. O vav conjuntivo, o artigo e as preposições. O substantivo, o adjetivo e os numerais. O verbo, forte e fraco, e o vav consecutivo.

II. Objetivos
Trabalha conceitos semíticos importantes para a compreensão do texto bíblico veterotestamentário.

III. Conteúdo Programático
1. Ouvir
Ouvir repetidamente o hebraico, para se acostumar com os sons estranhos. Não há aqui a preocupação em entender. O objetivo é fixar a atenção nos sons e acompanhar o texto de cada versículo, palavra por palavra. Até começar a distinguir onde está o leitor, no caso, o cantor.

2. Ler
Nesta seção o objetivo é tentar ler o hebraico. Estão disponíveis, para cada versículo de Gn 1,1-8, a pronúncia, a transliteração e a análise do texto. A pronúncia está bem simplificada, somente chamando a atenção para as tônicas, sem dizer se a vogal é breve ou longa e se o seu som é aberto ou fechado. Já a transliteração, representação dos caracteres hebraicos em caracteres latinos, é mais complexa e tem que ser detalhada.

3. Escrever
Nesta seção é possível aprender algumas regras básicas da gramática hebraica. Regras que permitirão uma escrita mínima de palavras e expressões. Mas a gramática é muito mais do que isto. Há sugestões de gramáticas e dicionários na bibliografia. E há revisões. Uma para cada versículo. As revisões ajudarão o estudante de hebraico verificar o seu nível de absorção do ouvir, do ler e do escrever. Poderão servir igualmente para as avaliações da disciplina.

IV. Bibliografia
Básica
FARFÁN NAVARRO, E. Gramática do hebraico bíblico. São Paulo: Loyola, 2010.

LAMBDIN, T. O. Gramática do hebraico bíblico. São Paulo: Paulus, 2003 [5. reimpressão: 2020].

MENDES, P. Noções de hebraico bíblico: texto programado. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.

Complementar
DA SILVA, A. J. Noções de hebraico bíblico. Brodowski, 2001. Disponível para leitura online e download na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 06.12.2022.

DA SILVA, A. J. Recursos para aprender hebraico – Na Play Store (Android) e no YouTube. Observatório Bíblico – 29 de julho de 2018.

ELLIGER, K.; RUDOLPH, W. Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. [1997]. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011. A BHS está disponível também online ou para download gratuito.

KIRST, N. et alii Dicionário hebraico-português e aramaico-português. 33. ed. São Leopoldo/Petrópolis: Sinodal/Vozes, 2018.

ORTIZ, P. Dicionário do hebraico e aramaico bíblicos. São Paulo: Loyola, 2010.

O som de 10 línguas indígenas brasileiras

O som de 10 línguas indígenas brasileiras em perigo de extinção – BBC News Brasil: 18 de dezembro de 2023

O território brasileiro abriga hoje apenas 20% das estimadas 1.175 línguas que tinha em 1500, quando chegaram os europeus. E, ao contrário de outros países da região,O som de 10 línguas indígenas no Brasil como Peru, Colômbia, Bolívia, Paraguai e até Argentina, o Brasil não reconhece como oficiais nenhuma de suas línguas indígenas em âmbito nacional.

Ainda assim, o Brasil é considerado um dos 10 países com o maior número de línguas no mundo e um dos que possuem maior diversidade linguística – ou seja, grande quantidade de famílias diferentes e de línguas isoladas.

Para dar uma ideia da diversidade linguística e cultural do país, a BBC News Brasil fez uma seleção com a ajuda de especialistas indígenas e não indígenas.

O resultado é este especial, no qual mostramos 10 das línguas indígenas faladas hoje no Brasil, de diferentes famílias e em distintas situações de preservação.

Leia também a primeira parte do especial da BBC sobre línguas indígenas.

Teoria linguística e texto bíblico

ROSS, W. A.; ROBAR, E. (eds.) Linguistic Theory and the Biblical Text. Cambridge, UK: Open Book Publishers, 2023, 374 p. – ISBN 9781805111085.

Este volume, que está disponível para download gratuito, é o resultado da sessão de 2021 do grupo de pesquisa linguística e texto bíblico do Institute for BiblicalROSS, W. A. ; ROBAR, E. (eds.) Linguistic Theory and the Biblical Text. Cambridge, UK: Open Book Publishers, 2023, 374 p. Research, que aborda a história, relevância e perspectivas de amplos quadros teóricos linguísticos no campo dos estudos bíblicos.

Linguística Cognitiva, Gramática Funcional, linguística generativa, linguística histórica, teoria da complexidade e análise computacional recebem, cada um deles, um capítulo, descrevendo os principais compromissos teóricos de cada abordagem, seus principais conceitos e/ou métodos e suas importantes contribuições para o estudo contemporâneo do texto bíblico.

À medida que as disciplinas acadêmicas e as publicações acadêmicas proliferam e se tornam mais complexas em um contexto digital e global, a síntese de volumes como este assume uma nova importância tanto para especialistas quanto para generalistas. Esse é particularmente o caso em áreas interdisciplinares de pesquisa.

Este volume, portanto, pretende tornar a teoria linguística mais clara e mais acessível aos estudiosos da Bíblia em particular, não apenas através de uma explicação cuidadosa, mas também através de ilustrações específicas, recorrendo às antigas línguas hebraica, aramaica e grega dentro do corpus bíblico cristão.

As bibliografias fornecidas são estruturadas para os não especialistas, observando manuais, complementos e glossários, introduções gerais e textos fundamentais.

Ao fazê-lo, este volume apresenta não apenas um corte transversal totalmente atualizado da pesquisa linguística em estudos bíblicos, mas também um caminho explícito para o campo, ao mesmo tempo em que destaca caminhos importantes para investigação e colaboração contínuas.

William A. RossWilliam A. Ross (PhD, Universidade de Cambridge, 2018) é professor associado de Antigo Testamento no Reformed Theological Seminary em Charlotte, Carolina do Norte.

Elizabeth Robar (PhD, Universidade de Cambridge, 2013) é autora de The Verb and the Paragraph: A Cognitive Linguistic Approach (Brill, 2014), uma adaptação de sua tese de doutorado. Fundadora de Scriptura (antigo Cambridge Digital Bible Research). Sua pesquisa é de natureza filológica, linguística e exegética, com foco no sistema verbal do hebraico bíblico, sintaxe, mudança linguística e nas ramificações da pesquisa nessas áreas para interpretação exegética.

 

This volume is the result of the 2021 session of the Linguistics and the Biblical Text research group of the Institute for Biblical Research, which addresses the history, relevance, and prospects of broad theoretical linguistic frameworks in the field of biblical studies. Cognitive Linguistics, Functional Grammar, generative linguistics, historical linguistics, complexity theory, and computational analysis are each allotted a chapter, outlining the key theoretical commitments of each approach, their major concepts and/or methods, and their important contributions to contemporary study of the biblical text.As academic disciplines and academic publishing proliferate and become more complex in a digital and global context, synthesising volumes such as this one have taken on new importance for both specialists and generalists alike. That is particularly the case in interdisciplinary areas of research. This volume therefore sets out to make linguistic theory clearer and more accessible to biblical scholars in particular, not only by careful explanation but also by specific illustration, drawing upon ancient Hebrew, Aramaic, and Greek languages within the Christian biblical corpus. The volume assists the reader in distinguishing the separate assumptions and scope of study for the separate theories, recognising methods of approach that can be applied to any of the theories, and the role of an umbrella theory to enable all the others to fruitfully interact.

The bibliographies provided are structured for the non-specialist, noting handbooks, companions, and glossaries, general introductions, and foundational texts.Elizabeth Robar

In so doing, this volume presents not only a fully up-to-date cross-section of linguistic research in biblical scholarship but also an explicit path into the field, while highlighting important avenues for continued investigation and collaboration.

William A. Ross (PhD, University of Cambridge, 2018) is associate professor of Old Testament at Reformed Theological Seminary in Charlotte, North Carolina. His publications include Postclassical Greek Prepositions and Conceptual Metaphor (edited with Steven E. Runge; De Gruyter, 2022) and Postclassical Greek and Septuagint Lexicography (SBL Press, 2022). His research focuses on the Septuagint, linguistics and lexicography, and the history of biblical philology.

Elizabeth Robar (PhD, University of Cambridge, 2013) is author of The Verb and the Paragraph: A Cognitive Linguistic Approach (Brill, 2014), an adaptation of her doctoral dissertation. She founded Cambridge Digital Bible Research, a charity to make biblical scholarship available, accessible, and useful to interpreters of the Bible. Her research is philological, linguistic, and exegetical in nature, focusing on the Biblical Hebrew verbal system, syntax, linguistic change, and the ramifications of research in these areas for exegetical interpretation.

Gn 1,1: no princípio ou em princípio?

Estamos tão acostumados a ler o começo do livro do Gênesis como No princípio que dificilmente perguntamos como é em hebraico.

Em hebraico é  בְּרֵאשִׁית (berē’shîth) e Gn 1,1 pode ser ouvido aqui.Em princípio ou No princípio? Por Edson de Faria Francisco - 2018

Bereshít é formado por uma preposição (be=em), sem artigo, e por um substantivo (reshit=princípio, início, começo) e, por isso, deveria ser traduzido, literalmente, por “Em [um] princípio” ou “Em [um] começo” ou, ainda, “Em [um] início”, sem o artigo definido que usamos em “No princípio”.

Lembrando que não existe artigo indefinido em hebraico, como “um” ou “uma”. O artigo é, portanto, apenas definido, como “o” ou “a”. Mas o português exige que coloquemos “um” aqui, “Em um princípio”.

Entretanto, isto não quer dizer que todas as traduções que usam o artigo definido “o” estejam erradas. Gramáticos e comentaristas dizem que a presença do artigo pode estar implícita nesta formulação.

Quer saber mais sobre isso? Recomendo a leitura de Em princípio ou No princípio? texto muito claro escrito por Edson de Faria Francisco, da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e que está disponível para download, em pdf, em Academia.edu.

Pode ser baixado também aqui.

Recomendo ainda, para os interessados na Bíblia Hebraica e na língua hebraica bíblica, a página Bíblia Hebraica, de Edson de Faria Francisco.