A Igreja é chamada a sair de si mesma e ir para as periferias, não apenas geográficas, mas também as periferias existenciais: as do mistério do pecado, da dor, das injustiças, das ignorâncias e recusa religiosa, do pensamento, de toda miséria. Quando a Igreja não sai de si mesma para evangelizar torna-se autorreferencial e então adoece. Os males que, ao longo do tempo, se dão nas instituições eclesiais têm raiz na autorreferencialidade, uma espécie de narcisismo teológico.
Papa Francisco: inaugura o terceiro milênio?
O primeiro milênio do Cristianismo foi marcado pelo paradigma da comunidade. As igrejas possuíam relativa autonomia com seus ritos próprios: a ortodoxa, a copta, a ambrosiana de Milão, a moçárabe da Espanha e outras. Veneravam seus próprios mártires e confessores e tinham suas teologias como se vê na florescente cristandade do norte da África com Santo Agostinho, São Cipriano e o leigo teólogo Tertuliano. Elas se reconheciam mutuamente e, embora em Roma já se esboçasse uma visão mais jurídica, predominava a presidência na caridade. O segundo milênio foi caracterizado pelo paradigma da Igreja como sociedade perfeita e hierarquizada: uma monarquia absolutista centrada na figura do Papa como suprema cabeça (cefalização), dotado de poderes ilimitados e, por fim, infalível quando se declara como tal em assuntos de fé e moral (…) Este modelo de Igreja, tudo indica, se encerrou com a renúncia de Bento XVI (…) A eleição do Papa Francisco, vindo “do fim do mundo” como ele mesmo se apresentou, da periferia da cristandade, do Grande Sul, onde vivem 60% dos católicos, inaugura o paradigma eclesial do Terceiro Milênio: a Igreja como vasta rede de comunidades cristãs, enraizadas nas diferentes culturas (…) Será praticamente impossível de se falar em paróquias territoriais; mas, em comunidades de vizinhança de prédios ou de ruas próximas. Esse cristianismo terá como protagonistas…
Leia o artigo completo de Leonardo Boff na Adital – 28/03/2103. Em pdf, aqui.