O que aconteceu com a cruz em que Jesus morreu?

O que aconteceu com a cruz em que Jesus morreu? – Alejandro Millán Valencia: BBC News Mundo

Segundo a história em que os cristãos se baseiam, Jesus de Nazaré morreu crucificado por ordem do então prefeito romano da Judeia, Pôncio Pilatos.

A jornada dele até aquela morte — uma série de episódios conhecida como Paixão de Cristo — é um dos elementos centrais das comemorações da Semana Santa.

A crucificação é tão simbólica para o Cristianismo que a cruz acabou se tornando o símbolo das religiões que professam devoção à figura de Jesus Cristo.

Mas o que aconteceu com a cruz original?

Dezenas de mosteiros e igrejas em todo o mundo afirmam ter pelo menos um pedaço da chamada “verdadeira cruz” nos altares, para louvor dos seus fiéis.

E muitos deles baseiam a veracidade da origem dessas relíquias em textos dos séculos 3 e 4, que narram a descoberta em Jerusalém do pedaço de madeira onde Jesus Cristo foi executado pelos romanos.

“Essa história, que inclui o imperador romano Constantino e a mãe dele, Helena, foi o ponto inicial dessa trajetória da cruz de Cristo, que sobrevive até hoje”, explica Candida Moss, professora de História dos Evangelhos e Cristianismo Primitivo da Universidade de Birmingham, no Reino Unido.

Ela baseia-se nos escritos de historiadores antigos como Gelásio de Cesareia e Tiago de Vorágine. Mas, para muitos historiadores de hoje, eles não determinam a autenticidade dos pedaços de madeira que vemos em vários templos ao redor do mundo — nem podem servir como confirmação da origem dessas relíquias.

“É muito provável que aquele pedaço de madeira não seja a cruz onde Jesus foi crucificado, porque muitas coisas poderiam ter acontecido com esse objeto. Por exemplo, os romanos podem tê-lo reutilizado para outra crucificação, em outro lugar e com outras pessoas”, raciocina Moss.

Mas, então, como surgiu a história da “verdadeira cruz” e por que existem tantas peças que supostamente fazem parte da madeira “original”?

“(Isso se deve ao) desejo de ter uma proximidade física com algo que acreditamos”, responde o historiador Mark Goodacre, especialista em Novo Testamento da Universidade Duke, nos Estados Unidos.

“As relíquias cristãs são mais um desejo do que algo verdadeiro”, diz ele.

Mas, então, como surgiu a história da “verdadeira cruz” e por que existem tantas peças que supostamente fazem parte da madeira “original”?

“(Isso se deve ao) desejo de ter uma proximidade física com algo que acreditamos”, responde o historiador Mark Goodacre, especialista em Novo Testamento da Universidade Duke, nos Estados Unidos.

“As relíquias cristãs são mais um desejo do que algo verdadeiro”, diz ele.

 

A lenda dourada

Na narrativa do Evangelho, após a morte de Jesus na cruz, o corpo dele foi levado para um túmulo onde hoje é a Cidade Velha de Jerusalém.

E, durante quase 300 anos, não houve menção alguma ao pedaço de madeira usado na crucificação.

Foi por volta do século 4 que o bispo e historiador Gelásio de Cesareia publicou um relato em seu livro A História da Igreja sobre a descoberta em Jerusalém da “verdadeira cruz” por Helena, uma santa da Igreja Católica.

Helena também era mãe do imperador romano Constantino, que impôs o Cristianismo como religião oficial do império.

A história, referenciada por outros historiadores e por escritores como Tiago de Voragine no livro Lenda Dourada, do século 13, indica que Helena, enviada pelo filho para encontrar a cruz de Cristo, foi levada para um local próximo do Monte Gólgota, onde Jesus foi supostamente crucificado. Havia ali três cruzes.

Algumas versões indicam que Helena, ao duvidar de qual seria a cruz verdadeira, colocou uma mulher doente próxima de cada uma das cruzes — e aquela que curou a mulher foi considerada a autêntica.

Outros historiadores afirmam que a “cruz verdadeira” foi reconhecida porque era a única das três que apresentava sinais de ter sido usado para uma crucificação com pregos — segundo o Evangelho de João, Jesus foi o único que foi crucificado com esse método naquele dia.

“Toda essa história faz parte do desejo por relíquias que começou a ocorrer no cristianismo durante os séculos 3 e 4”, contextualiza Goodacre.

O acadêmico destaca que os primeiros cristãos não tinham como foco a busca ou a preservação desse tipo de objeto como fonte de devoção.

“Nenhum cristão durante o primeiro século colecionava relíquias de Jesus”, destaca ele.

“À medida que o tempo passou e o cristianismo se expandiu pelo mundo naquela época, os seguidores da religião começaram a criar formas de ter alguma conexão física com a pessoa que consideram o salvador”, acrescenta o acadêmico.

A origem da busca por essas relíquias tem muito a ver com os mártires.

Segundo historiadores, o culto aos santos começou a ser uma tendência dentro da Igreja Católica. Desde cedo, por exemplo, se estabeleceu que os ossos dos mártires eram evidências do “poder de Deus operando no mundo”, pois eles supostamente produziam milagres que “provavam” a eficácia da fé.

E, como Jesus ressuscitou, não foi possível procurar os ossos dele: segundo a Bíblia, depois de três dias no túmulo, o regresso de Cristo à vida e a posterior “ascensão ao céu” foram corporais.

Com isso, só restaram os objetos, como a cruz e a coroa de espinhos, entre outros.

“Esse período de tempo, quase três séculos após a morte de Jesus, é o que torna improvável que os objetos encontrados em Jerusalém, como a cruz onde ele morreu ou a coroa de espinhos, sejam autênticos”, observa Goodacre. .

“Se isso tivesse sido feito pelos primeiros cristãos, que tiveram um contato mais próximo com os acontecimentos, poderíamos falar na possibilidade de que fossem reais, mas não foi assim que aconteceu.”

 

Relíquias para encher um navio

Parte da cruz entregue à missão capitaneada por Helena foi levada para Roma (o outro pedaço permaneceu em Jerusalém). Segundo a tradição, grande parte dos restos de madeira está preservada na Basílica de Santa Cruz, na capital italiana.

Com o “descobrimento” e a expansão do cristianismo pela Europa durante a Idade Média, a cruz se tornou o símbolo universal da religião. Nesse período, iniciou-se também a multiplicação de fragmentos da cruz, que foram parar em outros templos.

Esses pedaços são conhecidos como lignum crucis (“madeira da cruz”, em latim).

Além da Basílica da Santa Cruz, as catedrais de Cosenza, Nápoles e Gênova, na Itália, o mosteiro de Santo Turíbio de Liébana (que tem a peça maior), Santa Maria dels Turers e a Basílica de Vera Cruz, na Espanha, afirmam ter um fragmento do tronco onde Jesus Cristo foi executado.

A Abadia de Heiligenkreuz, na Áustria, também guarda uma peça. Outro segmento muito importante está na Igreja da Santa Cruz, em Jerusalém.

Junto com as evidências físicas, os concílios de Niceia, no século 4, e de Trento, no século 16, deram validade espiritual à devoção destas relíquias.

Um tratado católico de 1674 afirma: “O sentido religioso do povo cristão encontrou, em todos os tempos, uma expressão em formas variadas de piedade em torno da vida sacramental da Igreja com a veneração das relíquias.”

Esses registros também indicam que as próprias relíquias não são “objetos de salvação”, mas meios para alcançar intercessão e “benefícios por meio de Jesus Cristo, seu Filho, nosso Senhor, que é nosso redentor e salvador”.

Da mesma forma, a multiplicidade de fragmentos foi questionada na época por diversos pensadores.

O teólogo francês João Calvino destacou no século 16, em meio a um boom no tráfico de relíquias onde pedaços da chamada “verdadeira cruz” foram espalhados por igrejas e mosteiros, que, “se quiséssemos recolher tudo o que foi encontrado (da cruz), haveria o suficiente para encher um grande navio”.

No entanto, esta afirmação foi posteriormente refutada por vários teólogos e cientistas ao longo da História.

Recentemente, Baima Bollone, professor da Universidade de Turim, na Itália, destacou num estudo que, se todos os fragmentos que afirmam fazer parte da cruz de Cristo fossem reunidos, “só conseguiríamos restaurar 50% do tronco principal”.

 

Veracidade

“É muito provável que Helena tenha encontrado um pedaço de madeira, mas o que também é muito provável é que alguém o tenha colocado naquele local para dar ideia de que aquela era a cruz onde Jesus morreu”, pondera Moss.

O acadêmico indica que há outra dificuldade em comprovar se estas peças realmente pertenceram, pelo menos, a uma crucificação ocorrida no tempo de Cristo.

“Por exemplo, a datação por carbono, que seria uma das primeiras coisas a se fazer num caso desses, é cara. Uma igreja de porte médio não tem fundos para realizar este tipo de trabalho”, diz ele.

Mesmo que fosse possível financiar tal estudo, a investigação pode afetar a integridade da relíquia.

“A datação por carbono é considerada intrusiva e um tanto destrutiva. Mesmo que seja necessária apenas cerca de 10 miligramas de madeira, esse processo ainda envolve o corte de um objeto sagrado”, observa Moss.

Em 2010, o pesquisador americano Joe Kickell, membro do Comitê de Investigação Cética, conduziu um estudo para determinar a origem das lascas que eram consideradas parte da “verdadeira cruz”.

“Não há uma única evidência que apoie que a cruz encontrada por Helena em Jerusalém, ou por qualquer outra pessoa, venha da verdadeira cruz onde Jesus morreu”, escreveu Kickell num artigo.

Tanto para Moss quanto para Goodacre, a possibilidade de encontrar a verdadeira cruz de Cristo é muito remota.

“Teríamos que fazer um trabalho arqueológico, não teológico. E, mesmo assim, seria muito improvável encontrar uma madeira de mais de dois milênios atrás”, especula Goodacre.

Nesse sentido, para Moss as dificuldades vêm até do objeto a ser procurado.

“Tanto em grego como em latim, a palavra cruz se refere a uma árvore ou a uma vara vertical onde se praticava tortura”, explica o historiador.

“Ou seja, possivelmente estamos falando de um único pedaço de madeira ou estaca, — e não do símbolo que conhecemos atualmente”, conclui ele.

Fonte: BBC News Brasil – 30.03.2024

Quem matou Jesus? Judeus ou romanos?

EDWARDS, J. C. Crucified: The Christian Invention of the Jewish Executioners of Jesus. Minneapolis: Fortress Press, 2023, 237 p. – ISBN 9781506490953.

Os historiadores do cristianismo primitivo concordam unanimemente que Jesus foi executado por soldados romanos. Este consenso estende-se à população em geralEDWARDS, J. C. Crucified: The Christian Invention of the Jewish Executioners of Jesus. Minneapolis: Fortress Press, 2023 quando vê um filme sobre Jesus ou uma peça na Semana Santa e se lembra dos soldados romanos martelando os cravos na cruz.

No entanto, para os primeiros cristãos o detalhe de que Jesus foi crucificado por soldados romanos sob a direção de um governador romano ameaçava o seu desejo de uma existência estável no mundo romano. Começando com os escritos encontrados no Novo Testamento, os primeiros cristãos procuraram reescrever a sua história e transferir a culpa pela crucificação de Jesus de Pilatos e dos seus soldados para os judeus. Durante o século II, predominou uma narrativa da crucificação com algozes judeus. Durante o século IV, esta narrativa funcionou para encorajar o antijudaísmo dentro do recém-estabelecido império cristão.

No entanto, no mundo moderno, existe um grau significativo de ignorância relativamente à difusão – ou, por vezes, até à existência! – da afirmação entre os antigos cristãos de que Jesus foi executado por judeus. Esta ignorância é profundamente problemática, porque deixa uma lacuna na nossa compreensão daquilo que durante tanto tempo foi a base direta da perseguição cristã aos judeus. Além disso, isenta de culpa os venerados autores cristãos antigos que construíram e perpetuaram a afirmação de que os judeus executaram Jesus. E a um nível inconsciente, ainda pode influenciar a compreensão dos cristãos sobre os judeus e o judaísmo.

Leia o prefácio do livro, em pdf, clicando aqui.

J. Christopher Edwards é professor de Estudos Religiosos no St. Francis College, Brooklyn, New York.

Algumas resenhas

Roma matou Jesus, mas os judeus foram levaram a culpa. Por que isso aconteceu, quando e como? Passo a passo, texto por texto, J. Christopher Edwards traça o desenvolvimento desta terrível tradição, ao mesmo tempo que convoca os seus leitores a refletirem sobre as suas consequências morais e teológicas para o cristianismo. Esta é uma história assustadora, contada de forma convincente. —Paula Fredriksen, Universidade de Boston / Universidade Hebraica de Jerusalém

Quem matou Jesus? A realidade histórica – que os romanos crucificaram Jesus – foi abandonada pouco depois da sua morte. Neste livro muito legível e envolvente, Christopher Edwards nos conduz cuidadosamente pelas evidências. Ele mostra-nos o surgimento do mito que culpava os judeus e como funcionou entre os primeiros seguidores de Jesus para justificar a ruptura do cristianismo com o judaísmo e acusar falsamente os judeus do pior crime: o deicídio. Seu livro é um esforço crucial para corrigir esse “erro sagrado”. —Susannah Heschel, autora de The Aryan Jesus: Christian Theologians and the Bible in Nazi Germany.

Neste livro acadêmico, mas acessível, J. Christopher Edwards investiga a afirmação errônea de que os judeus crucificaram Jesus. Ele traça o seu desenvolvimento desde os primeiros documentos cristãos, incluindo os Evangelhos, até o século IV. Ele elucida as diferentes circunstâncias em que esta acusação surgiu e as diferentes formas como foi utilizada, bem como o seu papel na criação de um antijudaísmo cristão. Edwards escreve com sobriedade e equilíbrio louváveis, mas ao fazê-lo nunca se esquiva das questões moralmente complexas e perturbadoras que acompanham o estudo de tal assunto. —James Carleton Paget, Universidade de Cambridge.

J, Christopher Edwards (1982-)Historians of early Christianity unanimously agree that Jesus was executed by Roman soldiers. This consensus extends to members of the general population who have seen a Jesus movie or an Easter play and remember Roman soldiers hammering the nails. However, for early Christians, the detail that Jesus was crucified by Roman soldiers under the direction of a Roman governor threatened their desire for a stable existence in the Roman world. Beginning with the writings found in the New Testament, early Christians sought to rewrite their history and shift the blame for Jesus’s crucifixion away from Pilate and his soldiers and onto Jews. During the second century, a narrative of the crucifixion with Jewish executioners predominated. During the fourth century, this narrative functioned to encourage anti-Judaism within the newly established Christian empire. Yet, in the modern world, there exists a significant degree of ignorance regarding the pervasiveness–or sometimes even the existence!–of the claim among ancient Christians that Jesus was executed by Jews. This ignorance is deeply problematic, because it leaves a gaping hole in our understanding of what for so long was the direct underpinning of Christian persecution of Jews. Moreover, it excuses from blame the venerated ancient Christian authors who constructed and perpetuated the claim that the Jews executed Jesus. And on an unconscious level, it may still influence Christians’ understanding of Jews and Judaism.

J. Christopher Edwards (PhD, University of St Andrews) is professor of religious studies at St. Francis College, Brooklyn. He is the author of Early New Testament Apocrypha and The Ransom Logion in Mark and Matthew.

Jesus: sua vida

Estão disponíveis na web alguns artigos sobre Jesus: His Life [Jesus: sua vida] série em oito capítulos do canal History que começou em 25.03.2019. Em português a série tem o título de Eu conheci Jesus e está no History de 18 a 21 de abril de 2019.

Esta série segue em grande parte as apresentações de Jesus feitas pelos quatro evangelhos canônicos, embora os situe no contexto da Palestina do século I sob o Império Romano. Ao fazê-lo, segue a visão mais suave da historiografia neotestamentária iniciada por James Dunn em Jesus Remembered, explica Paul N. Anderson.

One of the impressive features of the series is the fact of its intentional hybridity. While megachurch pastor Joel Osteen served as the Executive Producer of the series, the contributions of such first-rate biblical scholars as Robert Cargill, Mark Goodacre, Nicola Denzey Lewis, and Michael Peppard give this series a robust reasoned gravitas, including also the pastoral insights of such ministerial standouts as Pastor Susan Parks, Reverend Otis Moss, III, Father James Martin, SJ, and Bishop Michael Curry. The hybridity works well, and the making of meaning is well founded, based upon solid historical-critical research and inferences.

Jesus: His Life - Eu conheci Jesus

:: “Jesus: His Life—Perspectives of Joseph and John the Baptist” – By Paul N. Anderson: The Bible and Interpretation – March 2019

As the calendar approaches Easter, made-for-television movies and documentaries appear on the History Channel, CNN, the National Geographic Channel, and other venues; and, why not? Christianity is the largest religion in the world, and there’s a great deal of interest within society at large, as well as among the believing faithful. As Robert Cargill points out in the introit to Jesus: His Life, “The Story of Jesus is the greatest story ever told.” Or, as Ben Witherington III notes, “If we want to understand western civilization at all, we must understand the story of Jesus.” In that sense, this eight-part series on Jesus and his life is of interest both to believers and others, and the series produced by Nutopia for the History Channel the four Monday evenings before Easter is certainly worth taking in. As the series claims for itself, “Jesus: His Life” explores the story of Jesus Christ through a unique lens: the people in his life who were closest to him. Each of the eight chapters is told from the perspective of different biblical figures, all of whom played a pivotal role in Jesus’ life including Joseph, John the Baptist, Mary Mother of Jesus, Caiaphas, Judas Iscariot, Pontius Pilate, Mary Magdalene and Peter.

Leia os artigos de Paul N. Anderson:

“Jesus: His Life—Perspectives of Joseph and John the Baptist” (Pt. 1)

“Jesus: His Life from the Perspectives of Mary and Caiaphas” (Pt. 2)

“Jesus: His Life from the Perspectives of Judas and Pilate” (Pt. 3)

 “Jesus: His Life from the Perspectives of Mary Magdalene and the Apostle Peter” (Pt.4)

:: ”Jesus, sua vida”: série televisiva apresenta novo olhar sobre o personagem mais estudado do mundo –  Por John Anderson: IHU On-Line – 25 Março 2019

Há apenas uma narrativa que pode reivindicar ser “a maior história já contada”, e nós ouvimos essa frase – imediata e talvez previsivelmente – no início de “Jesus: His Life” [Jesus: sua vida], a série de oito capítulos do canal History [dos Estados Unidos], que começa nesta segunda-feira, 25 de março. Quem pode discordar disso? Bem, algumas das pessoas que aparecem no programa. O comentário é de John Anderson, crítico de televisão do The Wall Street Journal e colaborador do The New York Times, em artigo publicado em America, 22-03-2019. Grande parte dessa série ambiciosa, produzida pelo estúdio Nutopia, com sede no Reino Unido (“Finding Jesus”, “Civilizations”), segue a estética estabelecida do canal History: encenações dramáticas que ninguém jamais confundirá com a obra de Cecil B. DeMille e uma trilha sonora que se intensifica e enfurece como um Mar Vermelho furioso. Mas há também uma integridade intelectual em ação e uma estrutura que proporciona um novo modo de ver a vida mais estudada do mundo.

:: ‘Jesus: His Life’: a fresh take on the world’s most studied character – By John Anderson: America – March 22, 2019

There is only one narrative that can lay claim to being “the greatest story ever told” and we hear that very phrase, immediately and perhaps predictably, at the beginning of “Jesus: His Life,” the eight-part History series beginning on Monday, March 25. Who can argue? Well, as it happens, some of the people who appear in the show. Much about this ambitious series, produced by the U.K.-based Nutopia studio (“Finding Jesus,” “Civilisations”), hews to the established History aesthetic: Dramatic re-enactments that no one will ever confuse with the work of Cecil B. DeMille and background music that roils and swells like an angry Red Sea. But there is also an intellectual integrity at work, and a structure that provides a fresh way of looking at the world’s already most studied life.

 

Andei lendo outras coisas que encontrei em simples busca no Google por “Jesus his life review”. Dizem, por exemplo:

According to History, the project represents an effort to tell Jesus’ story “in a new way.” Yet “Jesus: His Life” basically feels like a classic example of one of Hollywood’s most familiar pursuits — namely, merely serving old wine in a new bottle (Brian Lowry, CNN)

But the History Channel isn’t just out to inspire the faithful: It aims to entertain the masses, too. And as such, the story of Jesus’ life can sometimes take on a more breathless, action-packed aura than the biblical accounts strictly call for. The raw emotions we see here would feel more at home in a CW soap than a sober examination of history (Paul Asay, Plugged In)

Sem esquecer os alertas de Jim West. Por exemplo:

Another ‘Jesus’ Special By the History Channel… Scheduled for March

Don’t Get Your Historical Info About Biblical Stuff From the History Channel or BAR…

The Disinformation Campaign of the History Channel

Qual era a aparência de Jesus?

Jesus de Nazaré é, sem dúvida, o homem mais famoso que já existiu. Sua imagem está por toda parte. Ele é o tema de milhões de objetos devocionais e obras de arte.

Mas qual era a aparência de Jesus de Nazaré? Qual era a cor de sua pele? E sua altura? O que ele vestia?

Para responder a esta questão, já por outros abordada – confira a reconstrução digital feita pela BBC aqui e aqui -, a estudiosa das origens cristãs Joan E. Taylor examina, em livro recente, as evidências históricas e as imagens predominantes de Jesus na arte e na cultura.

Os evangelhos não dizem se ele era alto ou baixo, se bonito ou não, se frágil ou forte… À primeira vista, nada de especial o distinguia dos outros. Lucas 3,23 fala de sua idade apenas: “Ao iniciar o ministério, Jesus tinha mais ou menos trinta anos“, o que também é impreciso, sabemos hoje.

Em geral, não percebemos estas lacunas nos evangelhos porque, graças a todas as imagens de Jesus que temos, pensamos que conhecemos sua aparência. Mas o Jesus que reconhecemos tão facilmente é o resultado da história cultural. Será que se encontrássemos Jesus de Nazaré na rua, um judeu da Palestina do século I, seríamos capazes de reconhecê-lo?

Diz Joan E. Taylor em seu artigo What did Jesus really look like, as a Jew in 1st-century Judaea? (publicado em The Irish Times em 9 de fevereiro de 2018):

In the Gospels, he is not described, either as tall or short, good-looking or plain, muscular or frail. We are told his age, as “about 30 years of age” (Luke 3:23), but there is nothing that dramatically distinguishes him, at least at first sight.

We do not notice this omission of any description of Jesus, because we “know” what he looked like thanks to all the images we have. But the Jesus we recognise so easily is the result of cultural history. The early depictions of Jesus that set the template for the way he continues to be depicted today were based on the image of an enthroned emperor and influenced by presentations of pagan gods. The long hair and beard are imported specifically from the iconography of the Graeco-Roman world. Some of the oldest surviving depictions of Jesus portray him as essentially a younger version of Jupiter, Neptune or Serapis. As time went on the halo from the sun god Apollo was added to Jesus’s head to show his heavenly nature. In early Christian art, he often had the big, curly hair of Dionysus.

The point of these images was never to show Jesus as a man, but to make theological points about who Jesus was as Christ (King, Judge) and divine Son. They have evolved over time to the standard “Jesus” we recognise.

So can we imagine Jesus appropriately in terms of the evidence of the 1st century?

O livro

TAYLOR, J. E. What Did Jesus Look Like?  London: Bloomsbury T&T Clark, 2018, 288 p. – ISBN 9780567671509.

TAYLOR, J. E. What Did Jesus Look Like? London: Bloomsbury T&T Clark, 2018, 288 p.

Jesus Christ is arguably the most famous man who ever lived. His image adorns countless churches, icons, and paintings. He is the subject of millions of statues, sculptures, devotional objects and works of art. Everyone can conjure an image of Jesus: usually as a handsome, white man with flowing locks and pristine linen robes.

But what did Jesus really look like? Is our popular image of Jesus overly westernized and untrue to historical reality?

This question continues to fascinate. Leading Christian Origins scholar Joan E. Taylor surveys the historical evidence, and the prevalent image of Jesus in art and culture, to suggest an entirely different vision of this most famous of men.

Confira mais sobre o livro aqui e aqui.

Overall, then, we can arrive at a general image of Jesus as an average man: he was probably around 166 cm (5 feet 5 inches) tall, somewhat slim and reasonably muscular, with olive-brown skin, dark brown to black hair, and brown eyes. He was likely bearded (but not heavily, or with a long beard), with shortish hair (probably not well kept) and aged about 30 years old at the start of his mission. His precise facial features will, nevertheless, remain unknown.

A autora esboça uma imagem de Jesus mais ou menos assim: ele provavelmente tinha cerca de 1,66 m de altura, um pouco magro e razoavelmente musculoso, com a pele oliva, cabelo castanho escuro a preto e olhos castanhos. Ele provavelmente usava barba escura, curta e desleixada, e estava na faixa dos 30 anos no início de seu ministério. E se vestia de maneira muito simples. Suas características faciais precisas, no entanto, permanecem desconhecidas.

Jesus, em esboço de Joan Taylor, What Did Jesus Look Like? London: Bloomsbury T&T Clark, 2018, p. 192 (Figure 76)

Joan E. Taylor publicou recentemente dois artigos sobre este tema:

:. What did Jesus really look like, as a Jew in 1st-century Judaea? – The Irish Times: February 9, 2018

:. What did Jesus wear? – The Conversation: February 8, 2018

Joan E. Taylor é Professora de Origens Cristãs e Judaísmo do Segundo Templo no King’s College de Londres, Reino Unido.

Veja uma resenha do livro por Jim West, publicada em 09.02.2018, aqui.

Diz ele:

The title of the book poses a question:  what did Jesus look like?  At first blush it may seem that the aim of the book is to answer that question of the man known as Jesus of Nazareth but in fact the question, more fully stated, which this book addresses is far more comprehensive than merely wondering what Jesus of Nazareth looked like.  It wonders how Jesus has been imagined through the entire history of Christianity.  What did Jesus look like to the Byzantines?  What did he look like to Europeans?  How has he been portrayed in art and icon? The result of Taylor’s incisive study is a spectacular survey (…) Jesus, with lice…   This book is genius.  A term I am not used to using of books, or most authors and scholars.  But here it applies to both book and scholar.  Pure genius.  Read it and you’ll not regret a page of it.

Jesus existiu mesmo?

Assista no YouTube :

:. Jesus existiu? Especial Semana Santa, parte 1 – 12.04.2017
Atendendo a pedidos do pessoal que assiste ao canal e tentando dissipar as eternas dúvidas sobre o tema, começo uma minissérie de Semana Santa sobre as dúvidas a respeito da existência histórica de Jesus. Afinal, há alguma base por trás da tese que afirma que Jesus Cristo foi apenas um mito inventado pelos primeiros cristãos?

:. Textos sobre Jesus foram forjados? Especial Semana Santa, parte 2 – 14.04. 2017
Afinal, será que historiadores e cronistas não cristãos do século I d.C. chegaram a mencionar Jesus ou os textos que chegaram até nós são apenas fraude deslavada? Neste vídeo, vamos examinar em detalhes três exemplos dessas menções. O consenso entre os historiadores é que pelo menos duas delas são autênticas, o que indicaria que Jesus, embora não fosse nem de longe famoso ou importante naquele momento, era visto como um personagem real, e não como um mito. 

:. Paulo inventou o mito de Jesus? Especial Semana Santa, parte 3 – 15.04.2017
Será que os textos mais antigos do Novo Testamento, como as cartas do apóstolo Paulo e o Evangelho de Marcos, indicam que Jesus não foi um ser humano real, mas simplesmente um mito criado pelos primeiros cristãos como base para uma nova seita mística? Essa, em resumo, é a tese do livro “Nailed” (um trocadilho com as palavras em inglês para “pregado” e “resolvido”), escrito pelo historiador e ativista ateu americano David Fitzgerald. A obra de Fitzgerald é a primeira da corrente miticista (ou seja, dos historiadores que defendem que Jesus não foi uma pessoa real, mas apenas uma figura mítica) a chegar ao Brasil. Neste vídeo, explico os principais argumentos de Fitzgerald e conto por que, embora o autor tenha tentado fazer um trabalho sério, a tese dele não se sustenta nem de longe, na minha opinião — e na opinião da imensa maioria dos historiadores do cristianismo primitivo.

Por Reinaldo José Lopes.

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Um artigo na Ayrton’s Biblical Page:

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Ainda:

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As vidas neoliberais de Jesus

Jesus não é apenas um objeto de interesse histórico, mas uma figura de imensa importância cultural e autoridade hoje, de maneira que qualquer declaração feita sobre ele é simultaneamente uma declaração sobre o mundo contemporâneo em que vivemos… A ideologia neoliberal impregnou as condições sob as quais as pesquisas recentes sobre o Jesus histórico foram produzidas, comercializadas e consumidas.

The Neoliberal Lives of Jesus

By Robert J. Myles – Faculty of Arts – The University of Auckland – New Zealand

Publicado em The Bible and Interpretation – Maio de 2016

A chave para a busca pelo Jesus histórico, eu argumentaria, não é a história ou a teologia – como normalmente se presume – mas, na verdade, a ideologia. Com algumas notáveis exceções ​​relegadas às margens do cânone acadêmico, a pesquisa histórica de Jesus – envolvida em uma espécie de positivismo brando – evitou de forma esmagadora um amplo envolvimento com seus próprios compromissos ideológicos, suposições e contextos discursivos. A compreensão acadêmica mais comum da ideologia, como Terry Eagleton a descreve, não se refere necessariamente a uma “falsa consciência”, mas sim às “maneiras pelas quais o que dizemos e acreditamos se conecta à estrutura de poder e às relações de poder da sociedade em que vivemos… Estes são modos de sentir, avaliar, perceber e acreditar que têm algum tipo de relação com a manutenção e reprodução do poder social ”[Terry Eagleton, Literary Theory: An Introduction, 2ª ed. (Malden: Blackwell, 1996), 13]. Schweitzer já reconheceu essa dimensão na pesquisa. Jesus não é apenas um objeto de interesse histórico, mas uma figura de imensa importância cultural e autoridade hoje, de maneira que qualquer declaração feita sobre ele é simultaneamente uma declaração sobre o mundo contemporâneo em que vivemos. Ele cunhou a frase “The Liberal Lives of Jesus” para se referir à abundância de livros escritos no século XIX que domesticaram Jesus às então formas dominantes de ideologia liberal. Além de diminuir a perspectiva escatológica que impulsiona a atividade profética de Jesus, a vida liberal de Jesus intensificou sua “psicologia natural” de maneiras que solidificaram anacronicamente o indivíduo burguês moderno.

As “vidas neoliberais de Jesus”, então, é uma designação genérica útil para o amplo trabalho realizado sobre o Jesus histórico nos últimos quarenta anos. Essa “busca” ocorreu quando o neoliberalismo fez a transição de uma ideologia política emergente para uma racionalidade governante firmemente enraizada, exercendo influência sobre quase todos os domínios da vida em todos os setores, da política e do Estado atá a academia. De acordo com a teórica política Wendy Brown, o neoliberalismo deve ser entendido “não simplesmente como política econômica, mas como uma racionalidade governante que dissemina valores e métricas de mercado para todas as esferas da vida … Ele formula tudo, em todos os lugares, em termos de investimento de capital e valorização, incluindo especialmente os próprios humanos” [Wendy Brown, Undoing the Demos: Neoliberalism’s Stealth Revolution (Cambridge: MIT Press, 2015), 176]. No neoliberalismo nos concebemos como sujeitos a serem comercializados e autopromovidos, seja por redes sociais, blogs ou sites pessoais. O neoliberalismo é intensamente focado no indivíduo, especificando a conduta empreendedora em todos os lugares e obrigando o sujeito a agir de forma a aumentar o capital. Os próprios sujeitos neoliberais são interpelados como consumidores individuais, “construídos interseccionalmente” por categorias complexas de identidade como gênero, sexualidade, raça e classe. A ideologia neoliberal impregnou as condições sob as quais as pesquisas recentes sobre o Jesus histórico foram produzidas, comercializadas e consumidas.

 

The key to the quest for the historical Jesus, I would argue, is not history or theology—as typically assumed—but, in fact, ideology. With some notable exceptions relegated to the margins of the scholarly canon, historical Jesus research—embroiled in a kind of soft-positivism—has overwhelmingly avoided extensive engagement with its own ideological commitments, assumptions, and discursive contexts. The most common scholarly understanding of ideology, as Terry Eagleton describes it, refers not necessarily to a “false consciousness”, but rather to “the ways in which what we say and believe connects to the power-structure and power-relations of the society we live in… [T]hose modes of feeling, valuing, perceiving and believing which have some kind of relation to the maintenance and reproduction of social power” [Terry Eagleton, Literary Theory: An Introduction, 2nd ed. (Malden: Blackwell, 1996), 13]. Schweitzer already recognized this dimension to the quest. Jesus is not merely an object of historical interest, but a figure of immense cultural significance and authority today, in that any statement made about him is simultaneously a statement about the contemporary world we inhabit. He famously coined the phrase “The Liberal Lives of Jesus” to refer to the plethora of books written in the nineteenth century that domesticated Jesus to then dominant forms of liberal ideology. In addition to diminishing the eschatological outlook driving Jesus’s prophetic activity, the liberal lives of Jesus heightened his “natural psychology” in ways that anachronistically solidified the modern, bourgeois individual.

The “neoliberal lives of Jesus”, then, is a useful catch-all designation for the varied and extensive work done on the historical Jesus over the past forty years. This “quest” has taken place when neoliberalism has transitioned from an emerging political ideology into a firmly entrenched governing rationality exerting influence over almost every domain of life in every realm from politics and the state to the academy. According to the political theorist Wendy Brown, neoliberalism is best understood “not simply as economic policy, but as a governing rationality that disseminates market values and metrics to every sphere of life… [I]t formulates everything, everywhere, in terms of capital investment and appreciation, including and especially humans themselves” [Wendy Brown, Undoing the Demos: Neoliberalism’s Stealth Revolution (Cambridge: MIT Press, 2015), 176]. Under neoliberalism we even conceive of ourselves as subjects to be marketed and self-promoted, whether by social media, blogs, or personal websites. Neoliberalism is intensely focused on the individual, specifying entrepreneurial conduct everywhere, and constraining the subject to act in a capital-enhancing fashion. Neoliberal subjects themselves are interpellated as individual consumers, “intersectionally constructed” by complex categories of identity like gender, sexuality, race, and class. Neoliberal ideology has saturated the conditions under which recent historical Jesus research has been produced, marketed, and consumed.

A pesquisa atual sobre o Jesus Histórico

Recomendo outro artigo em The Bible and Interpretation, publicado em junho de 2014, e que pode ser útil para os interessados na questão do Jesus Histórico. O autor lista, em 8 itens, características fundamentais da pesquisa sobre o Jesus Histórico nos últimos vinte anos.

De Mark Allan Powell: Historical Jesus Studies Today: An Update

Ele explica o que é a pesquisa sobre o Jesus Histórico assim:

“For those who might not be familiar with this field of inquiry, historical Jesus studies is a science that attempts to determine what can be known of Jesus on the basis of historical research alone, that is through the analysis of data pertaining to Jesus in accord with the same standards that would be employed when analyzing data pertaining to any other figure from antiquity. Such analysis is supposed to be free of religious (or anti-religious) bias, and scholars engaged in the field call each other to task when they suspect that one’s conclusions have been influenced by personal predilection. The scholars frequently maintain that they are not trying to discover what might be true of Jesus, but what is verifiable. Thus, if (as a Christian) you want to believe Jesus was born to a virgin, that’s fine, but (as a historian) you must recognize that this is not verifiable–at least, not in accord with any criteria that are normally employed for historical research. So where are we now? I will list eight developments that have marked the last twenty years of research–and, then, I will mention three ‘peripheral currents’ that might be of interest to purveyors of this website”.

Não deixe de verificar também o importante livro de Mark Allan Powell sobre o tema:

POWELL, M. A. Jesus as a Figure in History: How Modern Historians View the Man from Galilee. 2. ed. Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 2013, 288 p. – ISBN 9780664234478.

A historicidade de Jesus de Nazaré

Recomendo a leitura de um texto de Reinaldo José Lopes, no blog Darwin e Deus, um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas.

O texto está distribuído em seis posts e trata da historicidade de Jesus de Nazaré.

Ele explica:
Como o título da série de posts deixa claro, a ideia é defender que algum sujeito chamado Jesus de fato nasceu em Nazaré (ou nasceu em Belém e cresceu em Nazaré, como queiram), andou pelas estradas da Galileia e da Judeia pregando e foi crucificado em Jerusalém lá pela terceira década do século 1º d.C. A questão é que, embora a esmagadora maioria dos historiadores sérios, tanto religiosos quanto agnósticos ou ateus, defenda que esse personagem existiu, há uma pequena minoria de amadores, e um ou outro historiador sério (em geral não especialista na análise das fontes bíblicas como documentos históricos), que diz que Jesus é basicamente um mito, inventado por Paulo ou por outros membros da primeira geração de cristãos. É claro que as afirmações desse pequeno grupo se tornaram populares, viraram “virais” na internet e seduziram boa parte das pessoas que, com bons ou maus motivos, querem dar umas porradas na crença cristã tradicional. Bem, meu objetivo é demonstrar que essa ideia, desculpaí, beira a pseudociência. Se você usar os critérios SECULARES, “não religiosos”, que todos os historiadores usam para estudar o resto da Antiguidade clássica, e for honesto e equilibrado com os dados, a tendência esmagadora da lógica é aceitar a historicidade básica de Jesus de Nazaré.

:: Desculpaí, mas Jesus existiu: um preâmbulo – 15/04/2014

:: Desculpaí, mas Jesus existiu: Flávio Josefo – 16/04/2014

:: Desculpaí, mas Jesus existiu: fontes pagãs – 17/04/2014

:: Desculpaí, mas Jesus existiu: critérios – 20/04/2014

:: Desculpaí, mas Jesus existiu: fontes cristãs – 22/04/2014

:: Desculpaí, mas Jesus existiu: epílogo – 23/04/2014

 

Quem é Reinaldo José Lopes?
Reinaldo José Lopes, 34, jornalista de ciência nascido e criado em São Carlos (SP), hoje colabora com a Folha de sua cidade natal, depois de passar quase três anos como editor de “Ciência+Saúde” na capital paulista. É formado em jornalismo pela USP e mestre e doutor em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela mesma universidade, com trabalhos sobre a obra de J.R.R. Tolkien. Sobre evolução, já escreveu o livro “Além de Darwin” (editora Globo) e tem planos de escrever vários outros. É católico, são-paulino, casado e pai de um menino. Confira seu Currículo Lattes.

A pesquisa atual sobre Jesus segundo 40 especialistas

Este volume, publicado neste mês, explora quase todas as facetas da pesquisa contemporânea sobre o Jesus histórico

CHARLESWORTH, H. (ed.) with RHEA, B. and POKORNÝ, P. Jesus Research: New Methodologies and Perceptions – The Second Princeton-Prague Symposium on Jesus Research. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2014, 1087 p. – ISBN 9780802867285.

Diz a editora:

This volume explores nearly every facet of contemporary Jesus research — from eyewitness criteria to the reliability of memory, from archaeology to psychobiography, from oral traditions to literary sources. With contributions from forty internationally respected Jewish and Christian scholars, this distinguished collection of articles comes from the second (2007) Princeton-Prague Symposium on Jesus Research. It summarizes the significant advances in understanding Jesus that scholars have made in recent years through the development of diverse methodologies.

Este volume explora quase todas as facetas da pesquisa contemporânea sobre Jesus. São 40 pesquisadores judeus e cristãos de renome. Este livro resume as pesquisas mais significativas na compreensão de Jesus nos últimos anos através do desenvolvimento de diversas metodologias.

Observe o impressionante número de páginas…

A publicação resultante do Primeiro Simpósio Princeton-Praga, de 2009, pode ser vista aqui ou aqui (Kindle).