Seria a Amazônia a fronteira final do capitalismo?

Noam Chomsky é um linguista, filósofo, sociólogo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em âmbito acadêmico como “o pai da linguística moderna”. É professor emérito de linguística no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e leciona na Universidade do Arizona. É autor de mais de 70 livros sobre linguística, conflitos armados, política, mídia e filosofia.

Conversamos com Noam Chomsky sobre as consequências das eleições no Brasil para o mundo, os riscos da expansão da OTAN e as alternativas para as crises social eNoam Chomsky (1928- ) ambiental. Ele retoma a memória dos movimentos sindical e por direitos civis nos EUA e exalta a importância do MST e o MTST na atual configuração da luta de classes.

Em um trecho da entrevista, diante da pergunta sobre a crise ambiental,

Seria a Amazônia a fronteira final do capitalismo?

Chomsky disse:

Pode ser a fronteira final da sociedade organizada na Terra, não apenas para o capitalismo. Assim como foi de conhecimento geral, por um longo tempo, que se as tendências atuais persistirem, a Amazônia, da qual a maior parte é território brasileiro, será obliterada. E, assim, chegaremos a um ponto em que a umidade produzida será insuficiente para sustentar a floresta, e ela se tornará uma savana, ao invés de ser o maior reservatório de carbono, vai se tornar um imenso emissor de carbono.

Isso é um desastre para o Brasil, uma catástrofe que o mundo não terá realmente como superar. Era algo previsto para acontecer em algumas décadas, mas, recentemente, os cientistas brasileiros descobriram que, com o aumento do desmatamento madeireiro ilegal, a mineração, o agronegócio financiado pelo governo Bolsonaro começou a tomar porções da Amazônia que já se encontram em estado crítico — o qual só era esperado para décadas mais adiante.

Uma das piores consequências da eleição desse primeiro turno, foi a eleição de pessoas como Ricardo Salles. Ele é uma liderança da verdadeira campanha para destruir a vida humana na Terra. Isso soa como um exagero, mas não é. É isso que significa a destruição da Amazônia, que é uma das principais formas de comprometer a vida humana.

Voltemos ao dia 8 de novembro nos Estados Unidos. O Partido Republicano pode tomar o Congresso. Eles são 100% negacionistas, não se importam, negam que a mudança climática esteja ocorrendo. E dizem “quem se importa?”. Trump era o mais explícito em relação a isso, mas o resto do Partido Republicano também não se importa, porque está enriquecendo empresas de combustíveis fósseis, cujos lucros estão explodindo.

Muitas outras coisas que estão acontecendo ao redor do mundo e, assim como a destruição da Amazônia, são espantosas. O Ártico tem esquentado bem mais do que os cientistas esperavam, e isso tem como consequência o derretimento do permafrost, que tem uma quantidade astronômica de carbono armazenado e que começa a derreter, liberando consequentemente gases tóxicos na atmosfera.

Uma das principais empresas de energia, a ConocoPhillips acabou de anunciar uma descoberta científica importante. Encontraram uma forma de desacelerar o degelo do permafrost no Alasca, onde exploram petróleo, por um método mediante o qual se introduzem hastes metálicas no gelo. Por que estão fazendo isso? Para que possam endurecer a superfície e extrair o petróleo, mantendo a produtividade. Então não é só capitalismo selvagem — em forma bestial. Atrasaremos o degelo do permafrost para que possamos extrair, precisamente, e mais rapidamente, o material que destruiu o mundo.

Coisas assim estão acontecendo em todo lugar. Muitos estavam bastante empolgados com a incrível proeza de Israel e Líbano terem chegado a um acordo, há poucos dias, sobre uma antiga disputa territorial no mar Mediterrâneo. Mas isso tinha apenas a ver com a repartição das áreas de extração submarina de gás, o que pode ser, na verdade, um golpe de misericórdia mais rápido nos países que possuem costas no Mediterrâneo.

Alguns cientistas descobriram que as estimativas de aumento do nível do mar no Mediterrâneo eram muito moderadas. E a previsão agora é de que, no fim desse século, esse aumento chegará a dois metros e meio. Imaginem isso: dois metros e meio de aumento do nível do mar!

Então, Israel e Líbano estavam discutindo sobre quem vai ter o direito de enfiar a adaga no coração de todas aquelas sociedades. Isso é o que está sendo celebrado. Quando você vai ao sul da Ásia, você presencia coisas similares. É como se aqueles que Adam Smith chamava de “mestres da humanidade” tivessem feito uma aposta para ver quem nos destruiria primeiro.

Alguns dias atrás, a Associação Meteorológica Mundial mostrou sua análise da situação climática global, dizendo que devemos dobrar os investimentos no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis até 2030, poucos anos daqui até lá, se quisermos ter esperanças de sobreviver de forma organizada. Enquanto isso, na Ucrânia, os poderes globais estão investindo recursos escassos na destruição em massa, retrocedendo os esforços limitados que deveriam ser direcionados para lidar com a crise climática. Ao mesmo tempo, condenam a Arábia Saudita por não estar produzindo óleo suficiente para a destruição.

Alguém assistindo isso do espaço, pensaria que essa espécie está enlouquecendo, a luta de classes se tornando completamente bestial.

Leia a entrevista completa.

Fonte: Bolsonaro é um instrumento da guerra de classes global – Uma entrevista com Noam Chomsky – Jacobin Brasil: 27/10/2022

Para entender a Cop26

26 palavras para entender a Cop26

Cop26, a conferência da ONU sobre as mudanças climáticas aparece como uma última chamada para a salvação do planeta. Os poderosos da Terra se reúnem para COP26: Glasgow, 1 a 12 de novembro de 2021atualizar, reafirmar ou anunciar seus empenhos na luta contra o aquecimento global. Porque a crise já chegou e só pode piorar. Aqui está, então, um glossário para entender os termos do debate e as agendas apresentadas pelos diversos países: 26 palavras, siglas e expressões que fazem parte da linguagem científica e institucional, mas que, às vezes, não são familiares à opinião pública. Conhecê-las é o primeiro passo para exigir o cumprimento das promessas que serão feitas.

A reportagem é de Anna Dichiarante, publicada por la Repubblica, 30-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini – Publicada por IHU, em 3 de novembro 2021.

1. COP26

É a 26ª Conferência das Partes (Conference Of Parties) que aderiram à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, um tratado no qual o Acordo de Paris foi assinado. A cúpula está sendo realizada em Glasgow, Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro próximo: cerca de 120 líderes de todo o mundo são esperados, com mais de 25.000 delegados de 197 países.

2. Acordo de Paris

Tratado internacional assinado entre 196 partes na COP21 em Paris, em dezembro de 2015. Estabelece os objetivos que os Estados aderentes devem alcançar para conter os efeitos das alterações climáticas: o principal empenho é manter o aquecimento global abaixo do limiar de 2 °C a mais do que os níveis pré-industriais, mas incentiva-se a limitá-lo a 1,5 °C. Pela primeira vez, tanto os países em desenvolvimento quanto as economias mais avançadas concordaram em cortar as emissões de gases de efeito estufa para controlar o aumento das temperaturas.

3. Unfccc

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudança Climáticas (ou Acordos do Rio) é um tratado internacional produzido pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ou Cúpula da Terra), realizada no Rio de Janeiro em 1992; foi assinado por 154 estados com o objetivo de limitar as concentrações de gases de efeito estufa e evitar as consequências mais dramáticas das mudanças climáticas. No entanto, as medidas a serem implementadas não foram especificadas concretamente. Um glossário “climático” está disponível no site da Convenção.

4. Protocolo de Kyoto

O primeiro instrumento prático da Unfccc foi o Protocolo de Kyoto de 1997: os objetivos de redução das emissões de gases de efeito estufa foram definidos para cada país desenvolvido, prevendo um corte geral de 5% até 2012, enquanto os países em desenvolvimento (incluindo a China) foram autorizados a aumentá-las. Os EUA assinaram o tratado, mas não o ratificaram devido à oposição do Congresso. O Protocolo entrou em vigor em 2005: agora obsoleto, foi no final substituído pelo Acordo de Paris.

5. Ndc

As contribuições determinadas em nível nacional (Nationally Determined Contributions) são planos com que os países estabelecem metas de redução de emissões, geralmente fixadas para 2030, e as ações para alcançá-las. São um instrumento previsto pelo Acordo de Paris; se os resultados que os Estados almejam são insuficientes para conter o aumento das temperaturas, recorre-se a um mecanismo de salvaguarda: a cada cinco anos, as partes devem reabrir as negociações e ajustar os empenhos.

6. Ipcc

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change) é um órgão criado em 1988 por decisão da ONU e da Organização Meteorológica Mundial. Reúne importantes cientistas do clima, que produziram cinco relatórios de avaliação sobre o aquecimento global e a crise climática. O sexto será publicada nos próximos meses: a primeira parte, apresentada em agosto passado, descreve os eventos extremos (por vezes irreversíveis e sem precedentes) que o planeta terá de enfrentar e as relativas, graves responsabilidades dos seres humanos.

7. +1,5 °C

E é nos relatórios do IPCC que se baseiam os objetivos cruciais estabelecidos pelo Acordo de Paris, a saber, manter o aquecimento global bem abaixo de 2 °C a mais do que na época pré-industriais e implementar todos os esforços para limitar o aumento da temperatura para 1,5 °C. O quarto relatório de 2007 sugeria que o mundo teria se aquecido em 1,8 °C se algumas medidas fossem tomadas para cortar as emissões, e 4 °C se as emissões não fossem controladas. O limiar de 2 °C foi considerado extremo: além disso, o impacto das mudanças climáticas seria catastrófico. O relatório de 2018, no entanto, concluiu que as consequências seriam trágicas já com +1,5 °C.

8. Aquecimento global

O aumento progressivo da temperatura média da superfície registrada em nível planetário. É medido sobretudo em comparação com a época pré-industrial, para entender como as atividades humanas afetam esse processo e interagem com outros fatores. A principal causa do fenômeno, de fato, são as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. O fato de a Terra aquecer provoca mudanças no clima e eventos climáticos particularmente intensos.

9. Mudança climática

Conjunto de fenômenos que dizem respeito ao clima em nível global e que se materializam tanto na forma de eventos meteorológicos extremos quanto por meio de outros mecanismos físicos. Exemplos? Elevação do nível médio do mar, derretimento de geleiras, aumento das temperaturas, maior frequência e intensidade das precipitações, secas persistentes e cada vez mais generalizadas. Desastres das quais muitas vezes dependem carestias e incapacidade de acesso à água potável.

10. Adaptação

A resiliência exigida dos seres humanos, assim como dos animais e das plantas, para aprender a viver em temperaturas mais altas. O planeta já aqueceu cerca de 1,2 °C em relação aos níveis pré-industriais, em todas as latitudes estamos enfrentando as consequências da mudança climática. No futuro, mesmo que conseguíssemos reduzir parcialmente as emissões poluentes, ainda teremos que nos preparar para eventos meteorológicos ainda mais extremos. Muitos setores – das infraestruturas à construção e à agricultura – terão que se adequar e se equipar de meios para enfrentar enchentes, calor escaldante e seca.

11. Gases de efeito estufa (Ghg)

Categoria dos gases atmosféricos que contribuem para o aquecimento global por meio de sua capacidade de gerar o efeito estufa. A lista daqueles cujas emissões devem ser limitadas, inclui dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hidrofluorocarbonos (HFC), perfluorocarbonos (PFC) e hexafluoreto de enxofre (SF6).

12. Equivalente de Dióxido de Carbono (CO2e)

A unidade de medida usada para agrupar e calcular de maneira uniforme as emissões de gases de efeito estufa. Na prática, os outros gases que contribuem para o aquecimento global são convertidos em dióxido de carbono com base nesse seu efeito potencial; mede-se a quantidade correspondente de CO2, o que provocaria o mesmo nível de aquecimento.

13. Metano

É um gás de efeito estufa ainda mais poderoso do que o dióxido de carbono: pode reter o calor de maneira 80 vezes mais eficaz do que o dióxido de carbono. Enquanto o CO2 permanece na atmosfera por cerca de um século após ser liberado, o metano permanece por algumas décadas e depois se decompõe justamente em dióxido de carbono. As principais fontes são as perdas geradas pela extração e processamento de combustíveis fósseis (como no caso dos poços de petróleo), mas também pela pecuária e outras atividades agrícolas.

14. Biomassa e fontes renováveis

Biomassa é matéria orgânica que vem de plantas e animais; pode ser usado para produzir energia limpa ou biocombustíveis. As fontes renováveis, em geral, são aqueles fatores presentes na natureza sem limites (sol, vento, água) a partir dos quais se pode obter energia de baixo impacto ambiental (fotovoltaica, eólica, hidrelétrica).

15. Mitigação

No âmbito da UNFCCC, entende-se todas aquelas intervenções realizadas para reduzir as fontes de gases de efeito estufa ou para potencializar os instrumentos capazes de absorvê-los. Por exemplo: o consumo mais racional de combustíveis fósseis nos processos industriais, a passagem para a energia solar ou eólica, a melhoria do isolamento dos edifícios, os planos para a extensão da superfície florestal.

16. Zero líquido

Uma das metas climáticas que governos e empresas buscam. Consiste em reduzir ao máximo as emissões de gases de efeito estufa e em compensar as residuais que não podem ser eliminadas (por exemplo, aquelas produzidas por algumas indústrias ou setores como a aviação). Como? Protegendo e potencializando os instrumentos de captura de CO2 e os locais de armazenamento do CO2. Ambientalistas atacam o conceito de “emissões líquidas zero”, ou “neutralidade de carbono”, porque seria um álibi para justificar a poluição que não se quer reduzir.

17. Compensação de CO2

Como o dióxido de carbono gera o mesmo impacto ambiental independente da fonte, acredita-se que, ao absorver certa quantidade em um ponto do planeta, o efeito consequente possa ser anulado em outro lugar. Estados e empresas compensam parcialmente a poluição atmosférica produzida, investindo em projetos que visam reduzir as emissões ou armazenar CO2. Quais? Conservação de florestas, plantio de árvores, transição dos combustíveis fósseis para energias renováveis, técnicas de cultivo sustentáveis. Para cada empenho mantido, é atribuído o número correspondente de “créditos de carbono”. Uma prática controversa.

18. Créditos de carbono

Podem ser ganhos, precisamente, compensando o CO2. Cada crédito, que deve ser certificado pelos órgãos competentes, representa uma redução de emissões equivalente a uma tonelada de dióxido de carbono. Esses bônus também podem ser adquiridos por uma empresa ou país para serem contabilizados em seu balanço patrimonial e para alcançar as metas climáticas. Daí as críticas dos ambientalistas: a medida agrava a disparidade entre ricos e pobres.

19. Artigo 6º

Um problema a resolver é o que diz respeito ao Artigo 6º do Acordo de Paris, que permite a criação de “mercados de carbono”. Ativistas e representantes de alguns setores temem que a compra e venda de créditos não se traduza em cortes reais nas emissões ou esconda cálculos inflacionados. Portanto, pediram a abolição dessa norma. Pelo contrário, o Brasil e outros estados com grandes florestas querem que seja mantida. Os conflitos já comprometeram o desfecho da COP25, realizada em Madri em 2019.

20. Captura e armazenamento de CO2

Antes de se espalhar para a atmosfera, o dióxido de carbono é capturado (ou sequestrado) na saída de uma grande fonte (como uma central elétrica ou planta industrial); eventualmente é transportado e armazenado em reservatórios artificiais ou naturais. O processo, por exemplo, muitas vezes comporta a injeção do gás no subsolo, onde fica preso. É um método para reduzir as concentrações e a poluição no ar.

21. Pegada ecológica

Também chamada de pegada de carbono. É uma medida que se refere à quantidade de CO2 emitida por uma empresa ou qualquer outro sujeito em um determinado período de tempo, através da sua produção ou através de suas ações e hábitos de vida (consumo de energia, meios de transporte…).

22. “Climate positive”

Expressão usada para definir todas aquelas atividades ou realidades que têm um impacto positivo do ponto de vista climático. Na prática, superam a meta do zero líquido: absorvem e removem mais CO2 da atmosfera do que geram.

23. “Escopo” 1, 2, 3

Os âmbitos delimitados pelo Protocolo Ghg para calcular a pegada ecológica de uma empresa (e para distinguir entre as fontes de emissão que podem ser diretamente controladas ou não).

O número 1 avalia as emissões diretas, como aquelas criadas pela queima de combustível ou processos industriais.

O 2 considera as emissões indiretas, associadas à eletricidade ou aquecimento.

O 3 se refere às emissões no começo e no final da cadeia de valor.

As primeiras incluem aquelas devidas a transporte, distribuição, deslocamento de funcionários, resíduos, produção de bens e serviços adquiridos. As segundas incluem aquelas relacionadas ao uso do produto da empresa, seu tratamento até o fim de vida ou aos investimentos.

24. Eco-imposto

Tipo de imposto cobrado pelas autoridades administrativas em nível central ou local sobre atividades prejudiciais ao meio ambiente. Indiretamente, incentiva os comportamentos virtuosos e leva as empresas ou os indivíduos a aumentarem sua sustentabilidade, penalizando aqueles que fazem escolhas com altas emissões (exemplos são o imposto sobre veículos altamente poluentes ou o “carbono tax”).

25. Finança para o clima e justiça climática

Na Cop15, realizada em Copenhague em 2009, ficou estabelecido que os países em desenvolvimento receberiam financiamento para o clima correspondentes a pelo menos US $ 100 bilhões por ano, a partir de 2020. Assim, as economias mais avançadas os ajudariam a reduzir as emissões e enfrentar os desastres naturais cada vez mais frequentes. Mas a promessa não foi cumprida: em 2019 os fundos concedidos pararam em 80 bilhões de dólares. É por isso que o clima é uma questão de justiça social. As populações mais ameaçadas pelos efeitos das mudanças climáticas são frequentemente aquelas mais pobres e menos responsáveis pelo aquecimento global.

26. “Greenwashing”

Termo que indica as iniciativas adotadas por empresas e especialistas em marketing para chamar a atenção para seus alardeados planos de sustentabilidade, que consistem apenas em medidas de fachada e não incidem (aliás, tendem muitas vezes a ocultar) sobre as práticas consolidadas mais prejudiciais ao meio ambiente.

Fonte: IHU – 03 Novembro 2021

 

Ventisei parole per capire Cop26 – di Anna Dichiarante – la Repubblica: 30 Ottobre 2021

Da ‘Accordo di Parigi’ a ‘Zero netto’, guida ragionata a sigle, numeri, termini del linguaggio scientifico che scandiranno i 13 giorni della conferenza sul clima di Glasgow e che saranno sulla bocca di tutti, ma di cui non tutti conoscono il significato esatto

A jovem indígena brasileira Txai Suruí, 24 anos, discursa na COP26, em Glasgow, no dia 1 de novembro de 2021Mancano poche ore all’inizio dei lavori della Cop26, la conferenza dell’Onu sui cambiamenti climatici che appare come un’ultima chiamata per la salvezza del pianeta. I potenti della Terra si riuniscono per aggiornare, ribadire o annunciare i propri impegni nella lotta contro il riscaldamento globale. Perché la crisi è già qui e può solo peggiorare. Ecco, allora, un glossario per capire i termini del dibattito e le agende presentate dai vari Stati: 26 parole, sigle ed espressioni che fanno parte del linguaggio scientifico e istituzionale, ma sono talvolta poco familiari per l’opinione pubblica. Conoscerle è il primo passo per vigilare sul rispetto delle promesse che verranno fatte.

1. Cop26

È la 26ª Conferenza delle parti (Conference Of Parties) che hanno aderito alla Convenzione quadro delle Nazioni Unite sui Cambiamenti climatici, trattato nel cui ambito è stato siglato l’Accordo di Parigi. Il vertice si terrà a Glasgow, in Scozia, dal 31 ottobre al 12 novembre prossimi: sono attesi circa 120 leader da tutto il mondo, con più di 25 mila delegati provenienti da 197 Paesi.

2. Accordo di Parigi

Trattato internazionale siglato tra 196 parti alla Cop21 di Parigi, nel dicembre 2015. Stabilisce gli obiettivi che gli Stati aderenti devono raggiungere per contenere gli effetti dei cambiamenti climatici: l’impegno principale è quello di mantenere il riscaldamento globale sotto la soglia dei 2 °C in più rispetto ai livelli preindustriali, ma s’incentiva a limitarlo a 1,5 °C. Per la prima volta, sia i Paesi in via di sviluppo sia le economie più avanzate hanno concordato di abbattere le emissioni di gas serra per controllare l’aumento delle temperature.

3. Unfccc

La Convenzione quadro delle Nazioni Unite sui Cambiamenti climatici (o Accordi di Rio) è un trattato internazionale prodotto dalla conferenza sull’Ambiente e sullo Sviluppo delle Nazioni Unite (o summit della Terra), tenutasi a Rio de Janeiro nel 1992; è stato firmato da 154 Stati con l’obiettivo di limitare le concentrazioni di gas serra e scongiurare le conseguenze più drammatiche del cambiamento climatico. Tuttavia, non si sono specificate nel concreto le misure da attuare. Un glossario “climatico” è consultabile sul sito web della Convenzione.

4. Protocollo di Kyoto

Il primo strumento pratico dell’Unfccc è stato il Protocollo di Kyoto del 1997: si sono fissati gli obiettivi di riduzione delle emissioni di gas serra per ciascun Paese sviluppato, prevedendo un taglio complessivo del 5% entro il 2012, mentre ai Paesi in via di sviluppo (Cina inclusa) si è permesso di aumentarle. Gli Usa hanno firmato il trattato, ma non l’hanno ratificato per l’opposizione del Congresso. Il Protocollo è entrato in vigore nel 2005: ormai obsoleto, è stato alla fine superato dall’Accordo di Parigi.

5. Ndc

I contributi determinati a livello nazionale (Nationally Determined Contributions) sono piani con cui i singoli Paesi stabiliscono gli obiettivi di riduzione delle emissioni, solitamente fissati al 2030, e le azioni per raggiungerli. Sono uno strumento previsto dall’Accordo di Parigi; qualora i risultati che gli Stati si prefiggono siano insufficienti a contenere l’aumento delle temperature, si ricorre a un meccanismo di salvaguardia: ogni cinque anni, le parti devono riaprire i negoziati e adeguare gli impegni.

6. Ipcc

Il Gruppo intergovernativo sui Cambiamenti climatici (Intergovernmental Panel on Climate Change) è un organismo nato nel 1988 per volontà dell’Onu e dell’Organizzazione meteorologica mondiale. Vi sono riuniti i principali scienziati del clima, che hanno prodotto cinque rapporti di valutazione su riscaldamento globale e crisi climatica. Il sesto sarà pubblicato nei prossimi mesi: la prima parte, presentata lo scorso agosto, delinea gli eventi estremi (talvolta irreversibili e senza precedenti) che il pianeta dovrà affrontare e le relative, gravi responsabilità degli esseri umani.

7. +1,5 °C

Ed è sui rapporti dell’Ipcc che si basano gli obiettivi cruciali fissati dall’Accordo di Parigi, ovvero mantenere il riscaldamento globale ben al di sotto dei 2 °C in più rispetto all’epoca preindustriale e attuare ogni sforzo per limitare l’aumento della temperatura a 1,5 °C. Il quarto rapporto del 2007 suggeriva che il mondo si sarebbe riscaldato di 1,8 °C, se si fossero prese alcune misure per tagliare le emissioni, e di 4 °C se non si fossero controllate queste ultime. La soglia dei 2 °C era considerata estrema: oltre, l’impatto dei cambiamenti climatici sarebbe catastrofico. Il rapporto del 2018, però, ha rilevato che le conseguenze sarebbero tragiche già con +1,5 °C.

8. Riscaldamento globale

L’aumento progressivo della temperatura media superficiale registrato a livello planetario. Si misura soprattutto in confronto all’epoca preindustriale, per capire come le attività umane incidano su tale processo e interagiscano con altri fattori. La causa principale del fenomeno, infatti, sono le emissioni di gas serra nell’atmosfera. Il fatto che la Terra si riscaldi provoca cambiamenti nel clima ed eventi meteorologici particolarmente intensi.

9. Cambiamento climatico

L’insieme di fenomeni che riguardano il clima a livello globale e che si materializzano sia in forma di eventi meteorologici estremi sia attraverso altri meccanismi fisici. Esempi? Innalzamento del livello medio dei mari, scioglimento dei ghiacciai, aumento delle temperature, maggiore frequenza e intensità delle precipitazioni, siccità persistenti e sempre più diffuse. Calamità da cui spesso dipendono anche carestie e impossibilità di accedere all’acqua potabile.

10. Adattamento

La resilienza richiesta agli esseri umani, oltre che ad animali e piante, per imparare a vivere con temperature più alte. Il pianeta si è già riscaldato di circa 1,2 °C rispetto ai livelli preindustriali, a ogni latitudine stiamo affrontando le conseguenze del cambiamento climatico. In futuro, anche se riuscissimo a ridurre parzialmente le emissioni inquinanti, dovremo comunque prepararci a eventi meteorologici ancora più estremi. Molti settori – dalle infrastrutture all’edilizia, fino all’agricoltura – dovranno adeguarsi e dotarsi di mezzi per affrontare inondazioni, caldo torrido, siccità.

11. Gas serra (Ghg)

La categoria dei gas atmosferici che contribuiscono al riscaldamento globale attraverso la loro capacità di generare l’effetto serra. Nell’elenco di quelli di cui occorre limitare le emissioni rientrano anidride carbonica (CO2), metano (CH4), protossido di azoto (N2O), idrofluorocarburi (HFC), perfluorocarburi (PFC) ed esafluoruro di zolfo (SF6).

12. Equivalente dell’anidride carbonica (CO2e)

L’unità di misura utilizzata per raggruppare e calcolare in maniera uniforme le emissioni di gas serra. In pratica, gli altri gas che contribuiscono al riscaldamento globale sono convertiti in anidride carbonica in base a questo loro potenziale effetto; si misura la quantità corrispondente di CO2 che provocherebbe lo stesso livello di riscaldamento.

13. Metano

È un gas serra ancora più potente dell’anidride carbonica: può intrappolare il calore in maniera 80 volte più efficace di quest’ultima. Mentre la CO2 rimane nell’atmosfera per circa un secolo dopo essere stata rilasciata, il metano resta per un paio di decenni e poi si degrada proprio in anidride carbonica. Le principali fonti sono le perdite generate da estrazione e lavorazione di combustibili fossili (come nel caso dei pozzi di petrolio), ma anche l’allevamento di animali e altre attività agricole.

14. Biomassa e fonti rinnovabili

La biomassa è la materia organica che proviene da piante e animali; può essere utilizzata per produrre energia pulita o biocarburanti. Le fonti rinnovabili, in generale, sono quei fattori presenti in natura senza limiti (Sole, vento, acqua) da cui si può ricavare energia a basso impatto ambientale (fotovoltaico, eolico, idroelettrico).

15. Mitigazione

Nell’ambito dell’Unfccc, s’intendono tutti quegli interventi realizzati per diminuire le fonti di gas serra o per potenziare gli strumenti in grado di assorbirli. Ad esempio: il consumo più razionale dei combustibili fossili nei processi industriali, il passaggio all’energia solare o eolica, il miglioramento dell’isolamento degli edifici, i piani per l’estensione della superficie forestale.

16. Zero netto

Uno degli obiettivi climatici che governi e imprese perseguono. Consiste nel ridurre il più possibile le emissioni di gas serra e nel compensare quelle residue non eliminabili (ad esempio, quelle prodotte da alcune industrie o settori come l’aviazione). Come? Proteggendo e potenziando gli strumenti di cattura e i siti di stoccaggio della CO2. Gli ambientalisti attaccano il concetto di “emissioni nette zero”, o di “carbon neutrality”, perché sarebbe un alibi per giustificare l’inquinamento che non si vuole abbattere.

17. Compensazione della CO2

Siccome l’anidride carbonica genera lo stesso impatto ambientale indipendentemente dalla fonte, si ritiene che assorbendone una certa quantità in un punto del pianeta si possa annullare l’effetto conseguente in un altro posto. Stati e aziende compensano in parte l’inquinamento atmosferico prodotto investendo in progetti mirati a ridurre le emissioni o a immagazzinare CO2. Quali? Conservazione delle foreste, piantumazione di alberi, transizione dai combustibili fossili alle energie rinnovabili, tecniche sostenibili di coltivazione. Per ciascun impegno mantenuto viene assegnato il corrispondente numero di “crediti di carbonio”. Una pratica controversa.

18. Crediti di carbonio

Possono essere guadagnati, appunto, attraverso la compensazione della CO2. Ogni credito, che dev’essere certificato da appositi organismi, rappresenta una riduzione delle emissioni equivalente a una tonnellata di anidride carbonica. Questi bonus possono anche essere acquistati da un’azienda o da un Paese per essere conteggiati nel proprio bilancio e per raggiungere gli obiettivi climatici. Di qui le critiche avanzate dagli ambientalisti: la misura aggrava la disparità tra ricchi e poveri.

19. Articolo 6

Un nodo da sciogliere è quello che riguarda l’articolo 6 dell’Accordo di Parigi, il quale ammette la creazione dei “mercati di carbonio”. Attivisti e rappresentanti di alcune parti temono che la compravendita di crediti non si traduca in tagli reali delle emissioni o nasconda calcoli gonfiati. Perciò hanno chiesto l’abolizione di questa norma. Al contrario, il Brasile e altri Stati con grandi foreste vogliono che sia mantenuta. I contrasti hanno già compromesso l’esito della Cop25, tenutasi a Madrid nel 2019.

20. Cattura e stoccaggio della CO2

Prima che si diffonda nell’atmosfera, l’anidride carbonica viene catturata (o sequestrata) all’uscita di una grande fonte (come una centrale elettrica o un impianto industriale); viene eventualmente trasportata e poi stoccata in serbatoi artificiali o naturali. Il processo, per esempio, comporta spesso l’iniezione del gas nelle profondità del sottosuolo, dove resta intrappolato. È un metodo per abbattere le concentrazioni e l’inquinamento nell’aria.

21. Impronta ecologica

Detta anche impronta di carbonio. È una misura che si riferisce alla quantità di CO2 emessa da un’azienda o da un qualsiasi altro soggetto in un determinato periodo di tempo, attraverso la propria produzione o attraverso le proprie azioni e abitudini di vita (consumo di energia, mezzi di trasporto…).

22. “Climate positive”

Locuzione con cui si definiscono tutte quelle attività o realtà che hanno un impatto positivo dal punto di vista climatico. In pratica, superano l’obiettivo dello zero netto: assorbono e rimuovono dall’atmosfera più CO2 di quanta ne generino.

23. “Scope” 1, 2, 3

Gli ambiti delineati dal Ghg Protocol per calcolare l’impronta ecologica di un’azienda (e distinguere tra fonti di emissione direttamente controllabili o meno).

. Il numero 1 valuta le emissioni dirette, come quelle create dalla combustione di carburante o dai processi industriali.
. Il 2 considera le emissioni indirette, associate a elettricità o riscaldamento.
. Il 3 si riferisce alle emissioni a monte e a valle della catena di valore. Le prime includono quelle dovute a trasporto, distribuzione, pendolarismo dei dipendenti, rifiuti, produzione di beni e servizi acquistati. Le seconde comprendono quelle legate all’uso del prodotto dell’azienda, al suo trattamento a fine vita o agli investimenti.

24. Ecotassa

Un tipo di tributo imposto dalle autorità amministrative a livello centrale o locale su attività dannose per l’ambiente. Incentiva in maniera indiretta i comportamenti virtuosi e spinge aziende o individui a incrementare la propria sostenibilità, penalizzando chi compia scelte ad alte emissioni (esempi sono la tassa sugli autoveicoli altamente inquinanti o la “carbon tax”).

25. Finanza per il clima e giustizia climatica

Alla Cop15, tenutasi a Copenaghen nel 2009, s’è stabilito che i Paesi in via di sviluppo ricevessero finanziamenti per il clima pari ad almeno 100 miliardi di dollari l’anno, a partire dal 2020. Così le economie più avanzate li avrebbero aiutati a ridurre le emissioni e a fronteggiare le calamità naturali sempre più frequenti. Ma la promessa non è stata mantenuta: nel 2019 i fondi elargiti si sono fermati a 80 miliardi di dollari. Ecco perché il clima è una questione di giustizia sociale. Le popolazioni maggiormente minacciate dagli effetti del cambiamento climatico sono spesso quelle più povere e meno responsabili del riscaldamento globale.

26. “Greenwashing”

Termine che indica le iniziative adottate da aziende ed esperti di marketing per attirare l’attenzione sui propri sbandierati piani di sostenibilità, i quali consistono solo in misure di facciata e non intaccano (anzi, spesso tendono a nascondere) le pratiche consolidate più dannose per l’ambiente.

Novo relatório do IPCC sobre mudanças climáticas

Mudanças climáticas: cinco coisas que descobrimos com novo relatório do IPCC – Por Matt McGrath – BBC Brasil: 9 agosto 2021

O novo relatório sobre mudanças climáticas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) mostra que estamos diante de mudanças sem precedentes no clima – algumas delas irreversíveis.

O estudo, feito por centenas de cientistas que analisam milhares de evidências coletadas ao redor do planeta, alerta para o aumento de ondas de calor, secas, Mudanças climáticas afetam o planeta - G1: 09.08.2021alagamentos e outros eventos climáticos extremos nos próximos dez anos.

Para quem vive no Ocidente, os perigos do aquecimento global não são mais algo distante, impactando pessoas em lugares distantes.

“A mudança climática não é um problema do futuro, está aqui e agora e afeta todas as regiões do mundo”, diz o professor Friederike Otto, da Universidade de Oxford, um dos muitos pesquisadores do IPCC.

O que marca essa nova publicação do IPCC é o mais alto nível de confiança nas conclusões dos cientistas até agora.

A frase “muito provável” aparece 42 vezes nas 40 páginas do relatório, voltado para formulação de políticas públicas. Em termos científicos, isso é equivalente a 90-100% de certeza daquele resultado.

“Acho que não há nenhuma surpresa no relatório. É a solidez abrangente dos resultados que torna este o relatório mais forte do IPCC feito até agora”, diz o professor Arthur Petersen, da University College London, à BBC News.

Petersen é um ex-representante do governo holandês no IPCC e foi observador no comitê que produziu este relatório.

“Não é um relatório acusador, são apenas fatos, claros, um atrás do outro”, afirma Petersen.

E uma das conclusões mais claras do novo relatório é sobre a responsabilidade da humanidade pelas mudanças climáticas que vivemos no momento.

Não há mais dúvidas – a causa somos nós.

Leia o texto completo.

Leia também: Mudanças climáticas: os efeitos alarmantes sobre o mundo hoje, segundo novo relatório da ONU – Por Matt McGrath – BBC Brasil: 9 agosto 2021

 

IPCC AR6 WGI – Síntese das principais conclusões do relatório – IHU: 10 Agosto 2021

Os cientistas não têm dúvidas de que as atividades humanas aqueceram o planeta. Mudanças rápidas e generalizadas ocorreram no clima do planeta e alguns impactos estão agora se concretizando.

A reportagem é publicada por Instituto ClimaInfo e reproduzida por EcoDebate, 09-08-2021.

Hoje, a 54ª sessão do IPCC aceitou o trabalho do muito esperado Resumo para Formuladores de Políticas (SPM) da contribuição do Grupo de Trabalho I ao Sexto Ciclo de Avaliação (AR6), intitulado Climate Change 2021: the Physical Science Basis (Mudança Climática 2021: a Base da Ciência Física).

Incêndios no Pantanal em 2020O relatório do Grupo de Trabalho I (AR6 WGI) – finalizado e aprovado por 234 autores e 195 governos – é a maior atualização do estado do conhecimento sobre ciência climática desde o lançamento do AR5 do IPCC em 2014, e seu marco 1.5 Relatório Especial (SR1.5, disponível aqui).

O trabalho do WGI examina a base física das mudanças climáticas passadas, presentes e futuras. Ele examina fundamentos como, por exemplo, como as emissões causadas pelo homem estão levando a mudanças fundamentais no sistema climático planetário. Ele também nos dá uma ideia de como essas mudanças nos levaram a sofrer os impactos climáticos já no nosso nível atual de aquecimento, bem como mapear como esses impactos podem piorar se as temperaturas e emissões continuarem a aumentar sem controle.

A liberação do WGI acontece após uma sessão plenária de duas semanas realizada virtualmente de 26 de julho a 6 de agosto de 2021, na qual o relatório foi examinado linha por linha para aprovação pelos representantes do governo em diálogo com os autores do relatório.

A minuta da primeira ordem do relatório do WGI teve 23.462 comentários de revisão de 750 revisores especialistas, a minuta da segunda ordem recebeu 51.387 comentários de revisão de governos e 1.279 especialistas, e a distribuição final Resumo para Formuladores de Políticas teve mais de 3.000 comentários de 47 governos. Mais de 14.000 artigos científicos são referenciados no relatório.

Este documento é para jornalistas que cobrem a divulgação do relatório. Ele destaca as principais conclusões do Resumo para Formuladores de Políticas, descreve o que há de novo no AR6 em comparação com relatórios anteriores, e fornece respostas de especialistas.

Leia o texto completo.

 

Painel da ONU quantifica influência humana no aquecimento pela 1ª vez – Observatório do Clima: 09.08.2021

Sexto grande relatório do IPCC, publicado hoje, mostra que planeta esquentou 1,09ºC e, desse total, 1,07ºC são provavelmente atribuíveis a nós

É inequívoco que os seres humanos esquentaram o planeta e mudanças climáticas rápidas e disseminadas vêm acontecendo. É com essa frase que um comitê de 800 cientistas do mundo inteiro bate o último prego no caixão do negacionismo ao apresentar o alerta mais completo e poderoso até agora sobre as causas, os efeitos atuais e futuros e o caminho possível para limitar a crise do clima.

Incêndios na Grécia em 2021O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) apresentou nesta segunda-feira (9) o sumário executivo da primeira parte de seu Sexto Relatório de Avaliação (AR6). O documento de 41 páginas, destinado à leitura por tomadores de decisão, é uma síntese do relatório de centenas de páginas contendo a revisão de todo o conhecimento científico sobre a base física das mudanças do clima. No ano que vem, ele será seguido de mais dois volumes, um sobre impactos e vulnerabilidades e outro sobre as formas e os custos de atacar os causadores da crise – os gases de efeito estufa.

Uma das maiores novidade do AR6 em relação aos relatórios anteriores do IPCC é que, pela primeira vez, a ciência não apenas tem certeza da influência humana, como conseguiu quantificá-la: desde a era pré-industrial, o mundo esquentou 1,09oC, e desse total apenas 0,02oC podem ser atribuídos a causas naturais. A fatia do leão do aquecimento global, 1,07oC, é provavelmente de responsabilidade das atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, que emitem gases de efeito estufa.

Os efeitos disso vêm sendo amplamente documentados e, pior que isso, sentidos por gente de todos os países e todas as classes sociais (com mais gravidade, claro, entre os mais pobres). Apenas nas últimas semanas assistimos a calor de 49oC no Canadá, incêndios florestais na gélida Sibéria, inundações catastróficas na rica Europa Central, oito meses de chuva em um dia na China e uma onda de frio polar causada por alterações na circulação do ar antártico no Brasil. Falando neste, aliás, o Centro-Sul enfrenta a pior seca em 91 anos, que deve nos deixar sem luz em breve.

O IPCC confirma essas tendências ao mostrar que ondas de calor estão mais frequentes – inclusive as marinhas, que arrebentam recifes de coral da Bahia à Austrália –, as chuvas intensas aumentaram, a proporção de furacões intensos idem, e cada uma das últimas quatro décadas foi mais quente que todas as antecessoras desde 1850, quando as medições com termômetros tiveram início.

E, claro, vai piorar. Em outra conclusão chocante, o painel constatou que na próxima década, o que quer que nós façamos para cortar emissões, a temperatura global ultrapassará 1,5oC, limite mais ambicioso do Acordo de Paris e a partir do qual entramos em mares climáticos nunca dantes navegados (mas certamente revoltos). Se conseguirmos implementar o acordo do clima, teremos chance de devolver o termômetro ao mais palatável 1,4oC entre 2081 e 2100. Mas, se o mundo subitamente passasse a ser governado por Trumps e Bolsonaros e abandonasse o esforço para cortar emissões, chegaríamos ao fim do século com até 5,7oC de elevação de temperatura acima da média pré-industrial. O nome disso seria apocalipse.

“Este relatório é um toque de despertar. Hoje nós temos um quadro muito mais claro do clima passado, presente e futuro, o que é essencial para entendermos aonde estamos indo, o que pode ser feito e como podemos nos preparar”, disse a copresidente do Grupo de Trabalho 1 do IPCC, a climatóloga francesa Valérie Masson-Delmotte.

Mesmo com a estabilização em 1,5oC, adverte o AR6, o mundo ainda precisa se preparar para “eventos extremos sem precedentes” no registro histórico. Daí o relatório também ter inovado e feito cenários regionais e de mais curto prazo, para o meio do século, para orientar políticas de adaptação que os governos teriam de ter começado ontem a adotar em grande escala. Há péssimas notícias para o Brasil: o Nordeste já é hoje uma das regiões do planeta onde é mais clara a influência do aquecimento global em secas que afetam a ecologia e a agricultura (alô, plantadores de soja da Bahia, do Piauí e do Maranhão) e o oeste da região Centro-Oeste e sul da Amazônia serão uma das mais afetadas por extremos de calor nas próximas décadas.

A saída é uma só: “do ponto de vista da ciência física, limitar o aquecimento global induzido por seres humanos requer limitar as emissões cumulativas de CO2, atingindo pelo menos emissão líquida zero”. Só que, para termos a melhor chance de chegar lá, o CO2 que ainda podemos emitir é bem pouco: 300 bilhões de toneladas, o equivalente a menos de dez anos de emissão no ritmo atual. Isso não casa em nada com a narrativa vendida como “ambiciosa” pelos governos mundiais, que acham que estão abafando ao prometer zerar emissões líquidas em 2050. É pressão extra sobre a COP26, a conferência do clima de Glasgow, em novembro, na qual o aumento da ambição estará na ordem do dia. “Se reduzirmos as emissões líquidas a zero em 2050, poderemos manter as temperaturas perto de 1,5ºC”, afirmou Masson-Delmotte.

“Esse relatório precisa ser o sino da morte para o carvão mineral e os combustíveis fósseis, antes que eles destruam nosso planeta”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres. “É um código vermelho para a humanidade. Os sinais de alerta são ensurdecedores e a evidência é irrefutável; as emissões de combustíveis fósseis e desmatamento estão sufocando nosso planeta e colocando bilhões de pessoas em risco imediato”, prosseguiu.

Antes que algum tio do zap acuse o painel de viés, alarmismo ou “comunismo”, cabe explicar que cada linha do texto do sumário foi revisada e aprovada por 196 governos do mundo inteiro – da progressista Alemanha à recalcitrante Arábia Saudita, passando por países negacionistas, como Austrália e Brasil, ex-negacionistas como EUA e Canadá, e tradicionais campeões da causa climática, como Costa Rica e Tuvalu.

Esse veto prévio dos governos sempre fez parte da dinâmica do painel (que não se chama “intergovernamental” à toa) e acaba retirando um tanto da contundência das afirmações dos sumários do IPCC.

Enchentes na Alemanha em 2021Para dar apenas alguns exemplos, nos dez dias de plenária virtual para fechar o sumário, a afirmação sobre o caráter “inequívoco” da influência humana sofreu objeções e chegou a ser retirada de uma das versões do texto, trocada pelo mais anódino “os humanos esquentaram o clima”, sem o adjetivo (e depois colocada de volta). A afirmação de que até 94% das ondas de calor marinhas nas últimas décadas foram causadas por influência humana acabou saindo do sumário. E a linguagem do parágrafo que diz que zerar emissões líquidas é pré-condição para estabilizar o clima “em qualquer nível” foi diluída e trocada por “em um nível específico”.

Essas concessões à diplomacia, que já fizeram alguns cientistas desistirem do painel no passado e outros criticarem o caráter “coxinha” dos sumários, não significam de forma alguma intervenção nas conclusões científicas do IPCC. A ciência é soberana e suas conclusões jamais são alteradas. Números que eventualmente fiquem de fora do sumário, como o das ondas de calor marinhas, são mantidos no relatório principal – que no entanto dificilmente é lido por prefeitos, governadores e chefes de Estado.

Ao contrário, esse conservadorismo é uma das razões pelas quais o IPCC tem tanta credibilidade: a ciência que vai parar nos relatórios e as declarações do sumário executivo são o oposto de alarmista. Previsões feitas nos dois últimos relatórios (2007 e 2013) sobre nível do mar e degelo do Ártico, por exemplo, eram mais conservadoras do que alguns estudos mais recentes já vinham afirmando na época da publicação. E acabaram incorporadas em relatórios posteriores. (CLAUDIO ANGELO e FELIPE WERNECK)

O Observatório do Clima produziu um resumo comentado em português do sumário do IPCC. Acesse aqui.

Querida Amazônia

A Amazônia querida apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério.

“Querida Amazônia”: o sonho de Francisco por um mundo melhor – IHU: 12 fevereiro 2020

Em uma entrevista publicada recentemente no jornal Le Monde, Davi Kopenawa, o grande líder do povo Yanomami, e uma das vozes mais influentes entre os povos originários da Amazônia, disse que “os brancos estão destruindo a Amazônia porque não sabem sonhar”. No entanto, “Querida Amazônia” nos mostra que há um branco, que também se veste de branco, que sabe e quer sonhar, que quer que o mundo e a Igreja sonhem, fazê-lo a partir de sua “Querida Amazônia”, pela que tanto ele tem se interessado desde o início de seu pontificado. A análise é do missionário Luis Miguel Modino.

Ousaria dizer que Francisco é um papa que assumiu o universo indígena como seu. Não devemos esquecer que, nas visões de mundo dos povos originários, os sonhos são algo que determina a vida cotidiana. Para os povos indígenas, sonhar não é uma questão de pessoas que vivem em outro mundo, mas daquelas que trazem a este mundo o que está marcando o curso da vida.

Os sonhos do Papa Francisco nos levam a diferentes dimensões, que fazem parte da vida do ser humano: um sonho social, um sonho cultural, um sonho ecológico e um sonho eclesial. São sonhos que incluem tudo o que foi vivenciado no processo sinodal e que ajudarão a tecer novas relações sociais, culturais, ecológicas e eclesiais, provenientes da periferia e que atingiram o centro do debate e da vida eclesial e social. O cuidado da casa comum tornou-se uma preocupação comum, dentro e fora da Igreja, e o Papa Francisco tem sido um ator fundamental e decisivo.

Estamos diante de um documento que coleta e valoriza aqueles que participaram do processo sinodal e o Documento Final da assembleia, que o Papa Francisco convida a ler e, entende-se, assumir. Desde o início, podemos dizer que os sonhos são uma maneira de dizer à Igreja e às pessoas de boa vontade, o diagnóstico que foi desenvolvido ao longo de todo o processo sinodal, algo em que ele sempre insistiu, para examinar os diagnósticos e são nas coisinhas.

Seu diagnóstico parte do comum a todos, o sonho social, para alcançar o específico, o sonho eclesial, passando pelo cultural e pelo ecológico (continua).

 

Os sonhos do papa para a sua Querida Amazônia. Artigo de Adelson Araújo dos Santos, SJ – IHU: 12 fevereiro 2020

A primeira coisa que salta aos olhos de quem lê a exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco a respeito do Sínodo sobre a Amazônia é o seu título, com a impactante frase: “Querida Amazônia”. Isto parece indicar que a mensagem que o sucessor de Pedro deseja passar desde o início da sua exortação aos povos e às igrejas da Amazônia é que eles são queridos, amados pelo Papa, como também todas as demais criaturas de Deus ali presentes, isto é, toda a sua biodiversidade. E é este amor, esse “querer bem”, que o fez tomar iniciativas como a convocação de um sínodo especial sobre aquela região, conclamando os católicos do mundo inteiro, junto com as pessoas de boa vontade, a cuidar bem desta parte vital do planeta, seguindo o exemplo do próprio Senhor Jesus, “que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar de nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá todos os dias”. Porque, quem ama, cuida.

Logo em seguida, o leitor se depara com outra surpresa preparada pelo Papa, isto é, ao invés de apresentar conclusões teóricas ou se deter somente em propostas de ação concretas sobre a Amazônia, ele prefere compartilhar conosco quatro sonhos sobre a sua querida Amazônia: Um sonho social; Um sonho cultural; Um sonho ecológico e um sonho eclesial. Parece-nos importante indagar, então, sobre o conteúdo desses sonhos e o valor teológico que ocupam no documento que estamos agora a conhecer (continua).

 

“A floresta amazônica é como o “coração biológico” da Terra. O planeta (pelo menos, o planeta que conhecemos) não pode viver sem a Amazônia” – IHU: 13 fevereiro 2020

Francisco e Lula em 13 de fevereiro de 2020 - Foto: Ricardo Stuckert
Lula: A razão da minha vinda à Itália foi discutir com o papa Francisco a questão da desigualdade social e da sua luta em defesa de uma boa política ambiental

“O modelo extrativo dominante tem trazido resultados calamitosos, causando estragos na Amazônia e a seus povos. A fim de avançar e reverter este modelo destrutivo-extrativista, precisamos urgentemente abraçar uma terceira via, um caminho que cultive a Amazônia sem destruí-la, um caminho que trabalhe com a população local sem a colonizar (cf. QA, 28), um caminho que conjugue as culturas ancestrais indígenas com as técnicas contemporâneas”, afirmou Carlos Nobre, cientista brasileiro, ao apresentar, em Roma, a Exortação Apostólica “Querida Amazônia”.

Segundo ele, “a comunidade científica está ansiosa para ver os sonhos sociais, culturais, pastorais e ecológicos do papa virarem realidade. Com os povos originários sendo os protagonistas deste novo caminho, com a riqueza da diversidade cultural e biológica da região, e com os católicos mobilizando-se para promover a inclusão e a sustentabilidade, os novos modelos de produção que cuidam da Amazônia poderão acontecer, e os sonhos do Papa Francisco tornar-se-ão realidade”. O artigo é publicado por Sala de Imprensa da Santa Sé, 12-02-2020.

Na qualidade de cientista que trabalha na área da ecologia há mais de 35 anos, especialmente nas questões ecológicas da região amazônica, dou as boas-vindas à exortação do Papa Francisco Querida Amazônia (QAm). Claro está que tanto a exortação quanto o Documento Final do Sínodo dos Bispos, a que a exortação faz referência (cf. QAm, 2, 3), têm inspiração na encíclica Laudato Si’: Sobre o cuidado da casa comum (2015). Alguns bispos, como o Cardeal Pedro Barreto, do Peru, têm chamado este sínodo de o “filho da Laudato Si’”. A presente exortação apostólica pode bem ser a filha de Laudato Si’ (continua).

 

Dom Leonardo Steiner: “Virou moda chamar de comunista. Falar de democracia virou comunismo” – Thais Reis Oliveira – CartaCapital: 12 de fevereiro de 2020

Transferido à Amazônia após oito anos na cúpula da CNBB, Dom Leonardo Steiner promete não se omitir diante do governo

“Estamos tentando governar o País na base de notícias falsas, da agressividade, da violência. Isso não constrói um Brasil. (…).” A afirmação não foi ouvida em nenhum plenário ou palanque, mas do altar. Mais precisamente, na missa que consagrou Dom Leonardo Steiner, ex-secretário-geral da CNBB, o novo arcebispo de Manaus. Depois de oito anos ocupando o cargo de mais destaque da conferência, o catarinense promete manter neste novo capítulo o tom combativo que marcou sua trajetória até aqui.

Sua chegada é vista como um contraponto à apatia que tomou conta da CNBB desde as últimas eleições, em maio. Embora a temida guinada à direita não tenha se concretizado, a conferência tem moderado o tom crítico ao governo. Prevaleceu nos bastidores a tese de que uma reação aguda daria ao bolsonarismo um ‘inimigo ideal’. (Leia a reportagem completa de CartaCapital aqui).

De formação franciscana, Steiner é discípulo de Dom Pedro Casaldáliga, o ‘bispo do povo’. Também mantém proximidade de dom Claudio Hummes, o cardeal brasileiro que mais influencia o papa Francisco. Fora da cúpula da CNBB, pediu à Santa Sé transferência para a Amazônia — é o quarto franciscano que, desde o Sínodo, assumiu dioceses naquela região.

O bispo defende uma aproximação dos católicos com a política. “Nesse momento, precisamos de pessoas lúcidas“. Sobre a pecha de ‘comunista’ que muitas vezes recai sobre a CNBB, retruca: “A CNBB teve e tem um papel fundamental na sociedade brasileira, apesar do desejo de que ela se cale. A grande maioria não leu Marx.”

Em entrevista a CartaCapital, ele fala sobre o novo ofício e as similitudes entre política e religião (continua).

 

A íntegra da Exortação Apostólica “Querida Amazônia” pode ser lida aqui.

Amazônia: a destruição da floresta e a reação internacional

Amazônia vira maior revés da imagem do Brasil em 50 anos, dizem diplomatas

Jamil Chade

Com protestos previstos para está sexta-feira pelo mundo, Itamaraty confirma que embaixadas brasileiras já reforçaram sua segurança. Ao colocar Amazônia no G7, Macron alerta que não vai dar seu apoio ao acordo Mercosul-UE e manda mensagem de que Bolsonaro não tem capacidade de lidar, sozinho, com a crise. “Jamais tivemos nos últimos 50 anos um desastre de imagem tão catastrófico e irreparável como esse”, afirmou ex-ministro Rubens Ricupero.

GENEBRA – A fumaça das queimadas na Amazônia já sufocou o governo Jair Bolsonaro, pelo menos em sua imagem no exterior. No plano internacional, observadores apontam que a crise já poderia ser considerada como o maior revés do Brasil no cenário externo em meio século. Em apenas sete dias, mais de 10 milhões de tuítes foram publicados sobre a crise no país.

O acordo de comércio entre Mercosul e UE também está ameaçado, depois que França e Irlanda anunciaram nesta sexta-feira que vão se opor ao tratado diante da postura brasileira no clima. Até mesmo um pedido de sanções contra o País foi lançado no Reino Unido, enquanto proliferam pedidos da sociedade civil para que governos se distanciem de Bolsonaro.

Emmanuel Macron, que recebe os líderes do G-7 neste fim de semana, decidiu colocar a Amazônia em sua agenda e chamou o tema de “crise internacional”. No fundo, a manobra é vista como tendo o potencial de criar uma pressão internacional sobre o Brasil em termos ambientais.

O UOL apurou que a França, antes de fazer a sugestão, já havia estabelecido um entendimento de que teria o apoio da Alemanha e da chanceler Angela Merkel, ridicularizada por Bolsonaro. A alemã suspendeu sua colaboração para o Fundo Amazônia e, como resposta, recebeu do presidente brasileiro a sugestão de usar o dinheiro para reflorestar a Alemanha.

O cenário desenhado é de que, ao tratar da crise, Macron estipule que Bolsonaro, sozinho, não tem como lidar com a situação da Amazônia.Tamanduá-mirim cego luta para sobreviver em meio ao fogo na Amazônia - Crédito: Araquém Alcântara

Nesta sexta-feira, Merkel já saiu em apoio à proposta francesa e declarou a situação no Brasil como sendo uma “emergência aguda”.

Em Bruxelas, a Comissão Europeia afirmou estar “profundamente preocupada” com a situação e disse que está disposta a ajudar o Brasil. A UE ainda apoiou a ideia de Macron de tratar da crise durante a reunião do G7.

Em Dublin e Paris, os governos já deixam claro que poderão simplesmente vetar o acordo com o Mercosul, assinado há poucas semanas, abrindo uma crise na relação entre a Europa e o Brasil.

Macron ganhou ainda o sinal verde de Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá e que também estará no G7.

Além da pressão, os governos poderiam lançar um apelo para que o Brasil se comprometa a retomar iniciativas como o Fundo Amazônia ou simplesmente aceitar recursos estrangeiros. Em qualquer um dos casos, isso significaria um monitoramento estrangeiro do que ocorre no Brasil e uma tentativa de blindar o desmonte da política ambiental do País.

Brasil sem voz no G7 só contaria com Trump

Não por acaso, a iniciativa deixou parte do governo enfurecido, diante do risco de que decisões sejam tomadas no fim de semana sem sequer consultar o Brasil. Um dos negociadores que estará na reunião acredita que, ainda mais prejudicial, será o fato de o país não poder se defender diante de um grupo que conta com Macron e Merkel.

Para os funcionários da chancelaria francesa, a dúvida é se Donald Trump sairá ao resgate de seu novo aliado, Jair Bolsonaro. Entre diplomatas brasileiros, a percepção é de que, mesmo que a Casa Branca monte uma blindagem para o Brasil, ela não o fará sem um custo. “Nada é feito nos EUA sem uma contrapartida”, admitiu um diplomata.

O ex-ministro do Meio Ambiente e embaixador Rubens Ricupero foi contundente. “No dia 21 de agosto, percorri todos os principais noticiários da televisão mundial: RAI 1, France 2, BBC, CNN. Todos, até na seção de previsão de tempo, dedicavam atenção principal às queimadas na Amazônia”, disse à reportagem.

“Jamais tivemos nos últimos 50 anos um desastre de imagem tão catastrófico e irreparável como esse”, afirmou o embaixador. “É muitas vezes pior em intensidade, horário nobre, repercussão junto a estadistas e gente do povo do que sucedeu nos piores momentos do regime militar”, alertou.

Segundo Ricupero, está sendo destruído “em poucas horas um esforço que se iniciou na época de Sarney e demandou mais de 30 anos e enormes esforços e recursos”.

“Houve dois momentos em que o Brasil começava a recuperar um pouco sua imagem. O primeiro foi quando Sarney ofereceu o Rio de Janeiro para sediar a maior conferência do clima de todos os tempos, a Rio 92 e Collor honrou o compromisso, um momento alto da diplomacia ambiental brasileira”, argumentou.

“O segundo foi mais recente, a partir do ano em que a taxa de desmatamento principiou a cair e assim permaneceu durante alguns anos. Mesmo assim, a imagem geral, aquela que ficava lá no fundo da mente das pessoas, é que o Brasil era um país agressor do meio ambiente, uma vez que, mesmo nos bons momentos, não faltavam episódios lamentáveis de invasão de terras de índios por garimpeiros, assassinatos de líderes ambientais como o de Chico Mendes e atentados de todo tipo. Agora, o que está ocorrendo pôs tudo a perder”, alertou.

“Desmantelamento”

Ele, porém, não vê uma saída clara. “A situação desta vez é mais grave. Nos governos anteriores, existia uma vontade sincera, mais ou menos eficaz de tentar controlar a destruição. Infelizmente, mesmo os ministros e governos melhor intencionados lutavam em posição desfavorável, uma vez que os empenhados na destruição -grileiros, madeireiros, garimpeiros, fazendeiros pecuaristas – se encontravam presentes em toda a região amazônica, ao contrário do governo, cuja presença era débil e precária”, disse.

“Às vezes, reservas maiores que um país europeu tinham apenas dois funcionários na vigilância! Faltava tudo: aviões, helicópteros, equipamento moderno de comunicação, viaturas. O pouco que se obteve foi graças a doações como as do Fundo Amazônia, que o atual desgoverno está em vias de liquidar”, afirmou.

Para Ricupero, Bolsonaro e seu “antiministro do Meio Ambiente estão consciente e deliberadamente empenhados em destroçar todas as instituições e mecanismos de fiscalização e controle”.

“Desde o começo, o governo intimidou os fiscais, desmoralizou a fiscalização ao denunciar o que chamou de “indústria das multas”, quando é mais do que sabido que mais de 90% das multas nunca são pagas. Em seguida, afastou os funcionários de carreira e nomeou para dirigir o IBAMA e o Instituto Chico Mendes oficias da PM de São Paulo que prosseguiram o trabalho do desmantelamento”, alertou.

Para ele, é falsa a percepção de que Bolsonaro “peca apenas pela língua, pelas suas desastrosas declarações”. “Na verdade, o governo federal a rigor nem precisa fazer nada de especial para que o desmatamento aumente. Basta cruzar os braços, já que os destruidores estão apenas esperando o sinal verde para agir. Sinal que este governo vem fornecendo a cada dia, a cada hora, por meio da impunidade”, disse.

“O que está ocorrendo lembra um episódio sinistro de nossa história: o fim do tráfico de escravos. Foi preciso que a esquadra inglesa começasse a capturar navios tumbeiros dentro de águas territoriais brasileiras e até dentro de nossos portos para que finalmente o governo imperial se decidisse em 1850 a colocar fim ao tráfico. Por que do contrário, os ingleses o fariam. É isso que deseja Bolsonaro?”, questionou.

Na ONU

A percepção de Ricupero ecoa dentro da ONU, onde o Brasil vê sua reputação afetada. Dois embaixadores que pedem para não ser identificados confirmam que, em décadas, jamais viram uma reação internacional contra o Brasil de tal magnitude. “Não me lembro da última vez que o Brasil passou a ser tratado como um pária, como está sendo hoje”, admitiu um deles.

O caso foi considerado como sendo de tal gravidade que António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, saiu de seu tradicional silêncio em temas polêmicos para pedir que a Amazônia seja protegida. “Estou profundamente preocupado pelo fogo na floresta amazônica”, escreveu, alertando que o mundo não poderia se dar ao luxo de perder tal “fonte de oxigênio”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também se pronunciou, alertando que os acontecimentos no Brasil revelam o risco que enfrenta o planeta.

Fontes na entidade apontam que a crise não se limitará aos assuntos ambientais. Para diplomatas, a capacidade de o Brasil liderar esforços ou campanhas em outras áreas deve ser afetada. “O Brasil é hoje meio tóxico e são poucos os que estão dispostos a embarcar em algum projeto com o país”, disse um experiente negociador.

Pela Europa, parlamentares que terão de votar uma ratificação do acordo comercial com o Mercosul estão sendo pressionados por seus eleitores a não chancelar o tratado com o Brasil. Numa rua de uma cidade austríaca, nesta semana, jovens simularam um enforcamento. Enquanto o gelo aos seus pés derretia, seguravam um cartaz contra o Mercosul e Bolsonaro.

Diplomatas que conversaram com a reportagem do UOL admitiram que as imagens enfraquecem o governo brasileiro e ameaçam até mesmo ser traduzidas em perdas reais para as exportações.

Com os partidos ambientalistas ganhando força pela Europa, deputados sabem que precisam dar uma roupagem “climática” para seus discursos. O resultado, com um Brasil debilitado, pode ser a transformação de Bolsonaro numa espécie de “bola da vez” para que políticos locais mostrem que estão comprometidos com o meio ambiente.

Sanções

No Reino Unido, uma petição foi lançada ao Parlamento Britânico solicitando que o governo faça pressão para que sanções sejam impostas contra o Brasil, por conta da floresta. Até a manhã de sexta-feira (horário europeu) e em poucas horas, a petição já contava com 40 mil assinaturas.

Não faltaram ainda aqueles que, se aproveitando de um clima deteriorado para o Brasil, embarquem numa nova campanha para minar as exportações brasileiras e evitar a concorrência.

Na Noruega, que negocia um acordo de livre comércio com o Mercosul, a Associação dos Produtores Agrícolas alertou ao governo de Oslo que os consumidores noruegueses precisavam ser respeitados e que um acordo com o Brasil não deveria ser fechado.

Para eles, um norueguês deve poder comer uma carne “sem ter de ter a consciência pesada” por estar desmatando a Amazônia. Mas sua real preocupação era outra: a capacidade dos produtos agrícolas do Brasil de minar a rentabilidade de seus próprios agricultores.

Na França, entidades de agricultores que sempre foram contra um acordo com o Mercosul agora adotaram o lema ambientalista para justificar seu pedido por barreiras.

De fato, em Brasília, o governo oficialmente instruiu seus diplomatas a defender a soberania do país sobre a Amazônia e a colocar em questão as reais intenções de ONGs. O discurso ainda inclui uma tentativa de qualificar os ataques contra o Brasil como uma espécie de estratégia de protecionismo comercial.

Mas, entre uma parcela menos radical do governo, o temor é de que não apenas as chamas na floresta saíram do controle. Com uma ampla campanha internacional, a percepção é de que a imagem do País queima junto com sua floresta. E os prejuízos podem ser enormes, politicamente e em termos comerciais.

Segurança reforçada

No centro do mundo e na periferia do Brasil, a realidade é que a floresta conseguiu unir artistas, políticos de diferentes partidos e, acima de tudo, a opinião pública contra o chefe de estado brasileiro.

Para esta sexta-feira, protestos estão sendo organizados diante de embaixadas do Brasil pelo mundo, enquanto nos bastidores do Itamaraty muitos temem depredações e ações mais contundentes. Desde o início do governo, foram pelo menos quatro incidentes e quase todos com recados sobre a situação ambiental do país.

Ao UOL, o Itamaraty confirmou que “os postos no exterior já adotaram medidas de reforço de segurança, conforme avaliação da necessidade local”.

Grupos de estudantes querem usar o dia de protestos, nesta sexta-feira, para também dedicar uma mensagem especial ao presidente brasileiro. Nesta semana, personalidades como Leonardo DiCaprio e Greta Thunberg usaram as redes sociais para denunciar a destruição da floresta, levando críticas a Bolsonaro a milhões de seguidores.

Em diversos países europeus, o assunto se transformou em um dos “trending topics” das redes sociais, obrigando até mesmo membros do governo a postar mensagens em inglês.

Dentro da ONU, um antigo chefe de negociações de desarmamento comentava, ao ver estampada as imagens da Amazônia em chamas na imprensa de todo o mundo, na prateleira de uma banca de jornais dentro das Nações Unidas.

“Bom, quem até agora não conhecia Bolsonaro, agora sabe quem é: aquele que está permitindo a destruição da floresta”, completou.

Fonte: Jamil Chade – 23/08/2019

A contribuição da Laudato Si’ para a consciência ecológica

«LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor», cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços: «Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras»

“A Laudato Si’ é uma contribuição de extraordinária importância para o desenvolvimento, em escala planetária, de uma consciência ecológica”. Entrevista com Michel Löwy – IHU On-Line: 14 junho 2019

“A encíclica Laudato Si’ é uma contribuição de extraordinária importância para o desenvolvimento, em escala planetária, de uma consciência ecológica. Para o Papa Francisco, os desastres ecológicos e a mudança climática não são simplesmente o resultado de comportamentos individuais, mas dos atuais modelos de produção e de consumo”, afirma Michael Löwy, em entrevista abaixo.

Michel Löwy é um dos principais intelectuais do marxismo atual e um destacado impulsionador do ecossocialismo anticapitalista. Diretor de pesquisa emérito do Centre National da Recherche Scientifique e professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. Entre suas obras, destacamos A teoria da revolução no jovem Marx, O pensamento de Che Guevara, Walter Benjamin: aviso de incêndio e Ecossocialismo. Há alguns meses, a editora El Viejo Topo publicou Cristianismo de liberación: Perspectivas marxistas y ecosocialistas.LÖWY, M. Cristianismo de liberación: Perspectivas marxistas y ecosocialistas. Barcelona: El Viejo Topo, 2019

A entrevista é de Juanjo Sánchez e Evaristo Villar, publicada pela revista Éxodo e reproduzida por Rebelión, 13-06-2019.

Ele diz no final da entrevista:

Uma parte de seu livro [Cristianismo de liberación: Perspectivas marxistas y ecosocialistas. Barcelona: El Viejo Topo, 2019] aborda as relações entre cristianismo de libertação, ecossocialismo e anticapitalismo. O que pensa da posição do Papa Francisco no âmbito da ecologia?

A encíclica Laudato Si’ é uma contribuição de extraordinária importância para o desenvolvimento, em escala planetária, de uma consciência ecológica. Para o Papa Francisco, os desastres ecológicos e a mudança climática não são simplesmente o resultado de comportamentos individuais, mas dos atuais modelos de produção e de consumo.

Bergoglio não é um marxista e a palavra capitalismo não aparece na encíclica. Mas, fica muito claro que para ele os dramáticos problemas ecológicos de nossa época são o resultado das “engrenagens da atual economia globalizada”, engrenagens que constituem um sistema global. É, segundo suas palavras, “um sistema de relações comerciais e de propriedade estruturalmente perverso”.

Quais são, segundo o papa Francisco, estas características “estruturalmente perversas”?. Antes de tudo, é um sistema no qual predominam os interesses limitados das empresa e uma questionável racionalidade econômica, uma racionalidade instrumental que tem por único objetivo maximizar o lucro. Afirma este Papa: “O princípio da maximização do lucro, que tende a isolar-se de todas as outras considerações, é uma distorção conceptual da economia: desde que aumente a produção, pouco interessa que isso se consiga à custa dos recursos futuros ou da saúde do meio ambiente”.

Esta distorção, esta perversidade ética e social, não é própria de um ou outro país, mas, sim, de um “sistema mundial actual, onde predomina uma especulação e uma busca de receitas financeiras que tendem a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade humana e sobre o meio ambiente. Assim se manifesta como estão intimamente ligadas a degradação ambiental e a degradação humana e ética”. São citações textuais. Penso que fica claro seu pensamento quando relaciona capitalismo, destruição ambiental e ecologia.

Biomas brasileiros e defesa da vida

:. “Admirar os biomas é contemplar a obra do criador”, afirma cardeal Sergio da Rocha

Como bem sabemos, a importância da Campanha da Fraternidade tem crescido a cada ano, repercutindo não apenas no interior das comunidades católicas, mas também nos diversos ambientes da sociedade, especialmente pela sua natureza e pela iminência dos assuntos abordados”. Foi com estas palavras que o arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Sergio da Rocha, abriu oficialmente a Campanha da Fraternidade 2017.

A cerimônia ocorreu na sede da entidade, nesta quarta-feira, 1º de março, em Brasília (DF). Com o tema “Fraternidade: biomas brasileiros e a defesa da vida”, este ano, a Campanha busca alertar para o cuidado e o cultivo dos biomas brasileiros: Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa, Pantanal e Amazônia. Além disso, enfatiza o respeito à vida e a cultura dos povos que neles habitam. O lema escolhido para iluminar as reflexões é “Cultivar e guardar a criação (Gn 2, 15)”.

Para dom Sergio, a temática é de extrema urgência. “Cada Campanha da Fraternidade quer nos ajudar a vivenciar a fraternidade em um campo específico da vida ou da realidade social brasileira que tem necessitado de maior atenção e empenho, e este ano o tema escolhido é de grande notoriedade”, enfatizou. Ainda de acordo com ele, é preciso que as pessoas conheçam os biomas a fundo para poderem “contemplar a beleza e a diversidade que estão estampados no próprio cartaz da Campanha da Fraternidade”.

Na mesa de abertura, dom Sergio disse ainda que não bastava apenas conhecer os biomas e que era preciso também refletir sobre a presença e sobre a ação humana nesses ambientes. Ele também ressaltou a valorização dos povos originários, que de acordo com ele são “verdadeiros guardiões dos biomas”. “Nós precisamos valorizar, defender a vida e a cultura desses povos, mas também somos motivados a refletir sobre as causas dos problemas que afetam os biomas como, por exemplo, o desmatamento, a poluição da natureza e das nascentes. Necessitamos também refletir sobre a ação de cada um de nós e nossas posturas nos biomas onde estamos inseridos”, disse.

Por último, o bispo destacou que pode haver um certo estranhamento por parte das pessoas em relação à Igreja ter escolhido este assunto para a Campanha, mas segundo ele, ninguém pode assistir passivamente à destruição de um bioma ou de sua própria casa, da Casa Comum. “O assunto de fato não pode ser descuidado, não pode ser deixado para depois, ele necessita da atenção e dos esforços de todos. O tema tem sim muito a ver com a fé em Cristo, com a fé no criador, com a palavra de Deus, e admirar os biomas é contemplar a obra do criador”, finalizou.

O presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado federal Alessandro Molon, compôs a mesa da cerimônia e, em sua fala, agradeceu pela escolha do tema por parte da Igreja no Brasil, considerando a iniciativa um serviço de extrema importância para o país e para a proteção do meio ambiente… (continua)

Fonte: CNBB

Campanha da Fraternidade 2017: biomas brasileiros e a defesa da vida

:. Degradação da natureza e agravamento da pobreza são frutos do sistema de produção, de consumo e de especulação que impera. Entrevista especial com Ivo Poletto – IHU On-Line: 03.03.2017
Biomas brasileiros e a defesa da vida é o tema da Campanha da Fraternidade (CF) deste ano. Não é a primeira vez que a dimensão socioambiental da vida é abordada, lembra o filósofo e cientista social Ivo Poletto. Em 2007, a temática foi Fraternidade e Amazônia; em 2011, a temática enfrentou as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global.

Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, Poletto lembra que na primeira Campanha não foi fácil mobilizar as pessoas em favor da Amazônia, pois era vista como uma realidade distante. “Foi neste ano, com certeza, que nasceu a reivindicação em favor de uma CF que encarasse a realidade de todos os biomas do país”, avalia.

Poletto considera que a escolha do tema de 2017 se relaciona “com o avanço da consciência de muitos cristãos/ãs e, de modo especial, os animados pelas pastorais sociais, pela Cáritas e pelo Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social”. Isso decorre do fato de que “todos os biomas estão sendo afetados por ações humanas e precisam, por isso, de uma atenção cuidadosa e de práticas que ajudem a Terra a recuperar as suas características originais”. Há outro motivo, que é “o insistente convite do papa Francisco a todas as pessoas – de modo especial na sua encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum – para que se deem conta de como a vida está ameaçada no planeta Terra e de como é urgente a mudança estrutural do sistema econômico dominante e do estilo de vida dos que estão envolvidos no produtivismo e no consumismo”.

O tema não é fácil de tratar, reconhece Poletto. “Na maior parte das vezes, a visão eclesial esteve centrada no ser humano, no seu direito a um ambiente saudável. Tem sido difícil superar o antropocentrismo, justificado até mesmo por leituras do Gênesis, em que a narrativa da Criação afirmaria o ser humano como centro, como destinatário de tudo que Deus fez”, afirma. “Não é correto dizer que a humanidade enfrenta duas crises, a social e a ambiental. Só há uma crise, de caráter socioambiental. Tanto a degradação da natureza quanto o agravamento da pobreza são frutos do sistema de produção, de consumo e de especulação que domina a terra e as pessoas.”

Ivo Poletto é filósofo e cientista social. Trabalha atualmente como assessor educacional no Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, que articula movimentos, entidades e pastorais sociais em torno da defesa dos direitos sociais da população afetada pelas mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global. Entre 1975 e 1992, foi o 1º secretário executivo da Comissão Pastoral da Terra; de 1993 a 2002, foi assessor da Cáritas Brasileira; em 2003 e 2004, foi membro da Equipe de Mobilização Social do Programa Fome Zero, do governo federal – sobre esse período, escreveu o livro Brasil: oportunidades perdidas – Meus dois anos no Governo Lula (Editora Garamond, 2005). Confira a entrevista.

:. Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida – IHU On-Line: 24.02.2017
“A Campanha da Fraternidade 2017 nos ajuda a entender mais profundamente o sentido da Quaresma, que é um tempo forte de mudança de vida e de preparação para a Páscoa: passagem para a Vida Nova em Cristo, vida de amor verdadeiro, baseado na gratuidade e na busca de radicalidade. Sem esse amor verdadeiro não há Fraternidade (ou Irmandade)”, escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP) e professor aposentado de Filosofia (UFG)

:. Campanha pelos biomas brasileiros – IHU On-Line: 10.02.2017
“O Brasil em sua vasta dimensão territorial possui seis biomas: a Amazônia, a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pantanal e o Pampa. Cada determinação se caracteriza, pois, pela dinâmica de semelhança que forma o ecossistema, isto é, pela similaridade de vegetação, de clima e formação histórica”, escreve Felipe Augusto Ferreira Feijão, estudante de Filosofia Faculdade Católica de Fortaleza (FCF).

:. Cerrado. O pai das águas do Brasil e a cumeeira da América do Sul – Revista IHU On-Line n. 382 – 28.11.2011
Considerado o celeiro do mundo e o berço das águas do Brasil, o Cerrado brasileiro desfruta de uma biodiversidade ainda pouco conhecida por muitos brasileiros e brasileiras. A IHU On-Line desta semana dá continuidade à série referente aos diferentes biomas brasileiros. A revista já abordou os biomas Floresta Amazônica, o Pampa, o Pantanal e a Floresta de Araucária. Buscando conhecer um pouco mais a cumeeira da América do Sul e o pai das águas do Brasil, vários pesquisadores e pesquisadoras contribuem nesta edição.

Os biomas brasileiros e a teia da vida – Evento IHU: 15 de março a 14 de junho de 2017. Clique aqui

Francisco sobre o clima: caminharemos para o suicídio?

Desde 30 de novembro está sendo realizada, em Paris, a XXI Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, também conhecida como Conferência das Partes (COP21), onde se busca chegar a um acordo que evite uma temperatura global acima dos 2ºC, pois, caso contrário, levar-nos-ia a ultrapassar o ponto de não retorno de uma espiral ascendente de consequências apocalípticas.

Francisco falou sobre o tema com os jornalistas na viagem de volta da África.

 

“Clima: a mudança é agora ou nunca mais. Estamos à beira do suicídio.” Entrevista com o Papa Francisco no voo de volta da África – IHU – 02/12/2015

Francisco dialoga fala com os jornalistas no voo de volta da África. “Se a humanidade não mudar, continuarão as misérias, as tragédias, as guerras, as crianças que morrem de fome, a injustiça.” Sobre o caso Vatileaks: “Foi um erro a nomeação de Vallejo e de Chaouqui”. “Os jornalistas fazem bem em denunciar a corrupção. Agradeço a Deus que não existe mais a Lucrécia Bórgia! Devemos continuar com os cardeais na obra de limpeza.” O reconhecimento à obra de Ratzinger. O fundamentalismo? “Existe em todas as religiões, mas não é religioso, é idolátrico”.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 30-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O mundo está à beira do suicídio e corre o risco de nele cair se não mudar decisivamente de rota ao enfrentar os problemas ligados às mudanças climáticas, fruto do atual modelo de desenvolvimento. Francisco disse isso dialogando com os jornalistas durante o voo de Bangui para Roma.

O papa também respondeu a algumas perguntas sobre o Vatileaks: “Foi um erro a nomeação de Vallejo Balda e de Chaouqui na comissão Cosea”. Francesco acrescentou um significativo reconhecimento da obra contra a corrupção iniciada por Ratzinger.

 

A entrevista

No Quênia, você encontrou as famílias pobres de Kangemi e ouviu as suas histórias de exclusão dos direitos humanos fundamentais, como a falta de acesso à água potável. O que sentiu ouvindo as suas histórias e o que é preciso fazer para pôr fim às injustiças?

Sobre esse problema eu falei várias vezes. Não recordo bem as estatísticas, mas acho que eu li que 80% da riqueza do mundo está nas mãos de 17% da população. Não sei se é verdade. É um sistema econômico que tem no centro o dinheiro, o deus dinheiro. Lembro que uma vez um embaixador não católico, falava francês, e me disse: “Nous son tombeé dans l’idolatrie dell’argent”. O que eu senti em Kangemi? Senti dor, uma grande dor! Ontem [domingo] fui ao hospital pediátrico, o único em Bangui e do país. Na terapia intensiva, eles não têm oxigênio, havia muitas crianças desnutridas. A doutora me disse: a maioria deles vai morrer, porque tem a malária forte e estão desnutridos. A idolatria é quando um homem ou uma mulher perdem a sua carteira de identidade, ou seja, ser filhos de Deus, e preferem buscar um Deus à sua própria medida. Este é o princípio: se a humanidade não mudar, continuarão as misérias, as tragédias, as guerras, as crianças que morrem de fome, a injustiça. O que pensa esse percentual que tem nas mãos 80% da riqueza do mundo? Isso não é comunismo, é verdade. E a verdade não é fácil de ver.

Qual foi o momento mais memorável da visita? Você voltará para a África? E qual será a sua próxima viagem?

Se as coisas forem bem, acho que a próxima viagem será ao México. As datas ainda não estão precisas. Se eu vou voltar para a África? Não sei. Estou idoso, as viagens são pesadas! O momento mais memorável: aquela multidão, aquela alegria, aquela capacidade de festejar, de fazer festa, mesmo tendo o estômago vazio. Para mim, a África foi uma surpresa. Deus sempre nos surpreende, mas a África também nos surpreende. Eu me lembro de tantos momentos, mas sobretudo a multidão… Eles se sentiram “visitados”, têm um senso da acolhida muito grande, e eu vi isso nas três nações. Depois, cada país tem a sua identidade: o Quênia é um pouco mais moderno e desenvolvido. A Uganda tem a identidade dos seus mártires: o povo ugandês, tanto os católicos quanto os anglicanos, venera os mártires. A República Centro-Africana tem vontade de paz, reconciliação, perdão. Eles viviam até quatro anos atrás entre católicos, protestantes, muçulmanos como irmãos. Ontem eu fui aos evangélicos, que trabalham tão bem, e depois eles vieram à missa. Hoje [segunda-feira], eu fui à mesquita, rezei na mesquita, o imã subiu no papamóvel para dar uma pequena volta entre os refugiados. Há um pequeno grupo muito violento, acho que cristão ou que se diz cristão, mas não é o Isis, é outra coisa [os anti-Balaka]. Agora, serão feitas as eleições, eles escolheram um presidente de transição, uma mulher presidente, e buscam a paz: nada de ódio.

Hoje se fala muito do Vatileaks. Sem entrar no mérito do processo, gostaria de lhe perguntar: qual é a importância da imprensa livre e laica para erradicar a corrupção?

A imprensa livre, laica e também confessional deve ser profissional. O importante é que sejam profissionais, e que as notícias não sejam manipuladas. Para mim, é importante, porque a denúncia das injustiças e das corrupções é um belo trabalho. A imprensa profissional deve dizer tudo, mas sem cair nas três pecados mais comuns: a desinformação, ou seja, dizer só a metade da verdade e não a outra; a calúnia, quando a imprensa não profissional suja as pessoas; a difamação, que é dizer coisas que tiram a reputação de uma pessoa. Esses são os três defeitos que atentam contra a profissionalidade da imprensa. Precisamos de profissionalidade. E sobre a corrupção: ver bem os dados e dizer as coisas. “Há corrupção aqui por causa disto, disto e disto.” Depois, um verdadeiro jornalista, se erra, pede desculpas.

O fundamentalismo religioso ameaça o planeta inteiro, vimos isso com os atentados de Paris. Diante desse perigo, você pensa que os líderes religiosos devem intervir mais no campo político?

Se intervir no campo político significa fazer política, não. Sejam padres, pastores, imãs, rabinos. Mas que se faça política indiretamente, pregando os valores, os valores verdadeiros, e um dos maiores valores é a fraternidade entre nós. Somos todos filhos de Deus, temos o mesmo Pai. Eu não gosto da palavra tolerância, devemos fazer convivência, amizade. O fundamentalismo é uma doença que existe em todas as religiões. Nós, católicos, temos alguns – muitos – que acreditam ter a verdade absoluta e vão em frente sujando os outros com a calúnia, a difamação e fazem mal. Digo isso porque é a minha Igreja. O fundamentalismo religioso deve ser combatido. Não é religioso, falta Deus, é idolátrico. Convencer as pessoas que têm essa tendência: eis o que devem fazer os líderes religiosos. O fundamentalismo que acaba em tragédia ou comete crimes é uma coisa ruim, mas acontece em todas as religiões.

Como foi possível a nomeação do Mons. Lucio Anjo Vallejo Balda e de Francesca Chaouqui na comissão Cosea? Você acha que cometeu um erro?

Foi feito um erro. Vallejo entrou por causa do cargo que tinha e que teve até agora: ele era o secretário da Prefeitura para os Assuntos Econômicos. Quando ela entrou? Não tenho certeza, mas acho que não me engano se eu disser que foi ele que a apresentou como uma mulher que conhecia o mundo das relações comerciais. Eles trabalharam e, acabou o trabalho, os membros da Cosea permaneceram em alguns postos no Vaticano. A senhora Chaouqui não permaneceu no Vaticano: alguns dizem que ela se irritou com isso. Os juízes nos dirão a verdade sobre as intenções deles, como eles fizeram. Para mim, não foi uma surpresa, não me tirou o sono, porque mostraram o trabalho que se começou com a comissão dos nove cardeais, o de buscar a corrupção e as coisas que estão erradas. Quero dizer uma coisa, não sobre Vallejo e Chaouqui. Treze dias antes da morte de São João Paulo II, durante a Via Sacra, o então cardeal Ratzinger falou da sujeira da Igreja. Ele a denunciou por primeiro. Depois, João Paulo II morreu, e Ratzinger, que era decano, na “pro eligendo Pontifice”, falou da mesma coisa. Nós o elegemos por causa dessa sua liberdade de dizer as coisas. É desde aquele tempo que está no ar que há corrupção no Vaticano. Quanto ao processo: eu não li as acusações concretas. Deveria terminar antes do Jubileu, mas acho que não se poderá fazer isso, porque eu gostaria que todos os advogados da defesa tenham tempo para desenvolver o seu trabalho e que haja liberdade de defesa.

Como proceder para que esses fatos não voltem a ocorrer?

Eu agradeço a Deus que não haja mais a Lucrécia Bórgia! Mas devemos continuar com os cardeais e as comissões a obra de limpeza.

A Aids atinge duramente a África, a epidemia continua. Sabemos que a prevenção é a chave e que o preservativo não é o único meio para parar a epidemia, mas é uma parte importante da resposta. Talvez não chegou o tempo de mudar a posição da Igreja para permitir o uso dos preservativos para evitar novas infecções?

A pergunta me parece parcial. Sim, é um dos métodos. A moral da Igreja, sobre esse ponto, se encontra diante de uma perplexidade. Ou o quinto ou o sexto mandamento: defender a vida ou a relação sexual aberta à vida. Mas esse não é o problema. O problema é maior: essa pergunta me faz pensar naquela que fizeram uma vez a Jesus: “Diga-me, Mestre, é lícito curar no sábado?”. É obrigatória curar! A desnutrição, a exploração, o trabalho em escravidão, a falta de água potável, esses são os problemas. Não falamos se se pode usar este curativo para tal ferida. A grande injustiça é uma injustiça social, a grande injustiça é a desnutrição. Eu não gosto de descer para reflexões casuísticas quando as pessoas morrem por falta de água e por fome. Pensemos no tráfico de armas. Quando não houver mais esses problemas, acho que se poderá fazer a pergunta: é lícito curar no sábado? Por que as armas continuam sendo fabricadas? As guerras são o maior motivo de mortalidade. Não pensar sobre se é lícito ou não é lícito curar no sábado. Façam justiça, e, quando todos estiverem curados, quando não houver injustiça neste mundo, podemos falar do sábado.

Qual é a posição do Vaticano sobre a crise que se abriu entre Rússia e Turquia? Você pensou em ir para a Armênia para os 101 anos do massacre dos armênios?

No ano passado, eu prometi aos três patriarcas que iria. A promessa existe. Depois, vêm as guerras: vêm por ambição. Não falo daquelas feitas para se defender justamente de uma injusta agressão. As guerras são uma indústria. Na história, vimos muitas vezes que um país com o orçamento que não vai bem decide fazer uma guerra e, assim, coloca o orçamento no seu lugar. A guerra é um negócio. Os terroristas fabricam armas? Quem lhes dá as armas? Há toda uma rede de interesses, e por trás há o dinheiro ou o poder. Há anos, nós estamos em uma guerra mundial em pedaços, e todas as vezes os pedaços são cada vez menos pedaços e são cada vez maiores. Não sei o que o Vaticano pensa. O que eu penso? Que as guerras são um pecado, destroem a humanidade, são a causa da exploração, tráfico de pessoas. Devem ser paradas. Para as Nações Unidas, por duas vezes, eu disse essa palavra, tanto em Nova York quanto no Quênia: que o trabalho de vocês não seja um nominalismo declamatório. Aqui na África, eu vi como trabalham os Capacetes Azuis, mas isso não é suficiente. As guerras não são de Deus. Deus é o Deus da paz, criou o mundo todo bonito. Depois, lemos na Bíblia que o irmão mata outro irmão: a primeira guerra mundial. E eu digo isso com muita dor.

Inicia nesta segunda-feira, em Paris, a COP-21, a conferência sobre as mudanças climáticas. Nós esperamos que possa ser o início da solução. Você está certo de que serão dados alguns passos?

Eu não estou certo, mas posso lhe dizer: agora ou nunca mais. Acho que a primeira conferência foi realizada em Kyoto… fez-se pouco. A cada ano, os problemas são cada vez mais graves. Falando em uma reunião de universitários sobre que mundo nós queremos deixar aos nossos filhos, um jovem disse: mas você tem certeza de que haverá filhos desta geração? Estamos no limite de um suicídio, para dizer uma palavra forte, e tenho certeza de que quase a totalidade daqueles que estão em Paris têm essa consciência e querem fazer alguma coisa. No outro dia, eu li que na Groenlândia as geleiras perderam bilhões de toneladas. No Pacífico, há um país que está comprando outro país para se mudar, porque, dentro de 20 anos, não vai mais existir [por causa da elevação do nível do mar]… Eu tenho confiança nessas pessoas, tenho confiança de que se fará alguma coisa. Espero que seja assim e rezo por isso.

Você fez muitos gestos de amizade e respeito para com os islâmicos. O que o Islã e os ensinamentos de Maomé dizem ao mundo de hoje?

Pode-se dialogar, eles têm tantos valores, e esses valores são construtivos. Eu também tenho a experiência de amizade com um islâmico, um dirigente mundial. Podemos falar. Você tem os seus valores, e eu, os meus, você reza, e eu rezo. Tantos valores: a oração, o jejum. Não pode apagar uma religião, porque há alguns ou muitos grupos fundamentalistas em um certo momento da história. É verdade, as guerras entre religiões sempre existiram. Também nós devemos pedir perdão: Catarina de Médici, que não era uma santa, e aquela Guerra dos Trinta Anos, a noite de São Bartolomeu… Devemos pedir perdão também nós. Mas eles têm valores, pode-se dialogar. Hoje, eu estive na mesquita, o imã quis vir comigo. No papamóvel estavam o papa e o imã. Quantas guerras nós, cristãos, fizemos? O saque de Roma não foi feito pelos muçulmanos.

Sabemos que você visitará o México. Pretende ir também para a Colômbia ou Peru?

As viagens, na minha idade, não fazem bem, deixam rastros. Eu vou para o México e, em primeiro lugar, vou visitar a Senhora, a Mãe da América [Nossa Senhora de Guadalupe]. Se não fosse por Ela, eu não iria para a Cidade do México pelo critério da viagem: visitar três ou quatro cidades que nunca foram visitadas pelos papas. Depois, vou para Chiapas, depois para Morelia e, quase certamente, no caminho de volta para Roma, haverá um dia para Ciudad Juarez. Sobre os outros países latino-americanos: em 2017, fui convidado para ir a Aparecida, a outra padroeira da América de língua portuguesa, e de lá se pode visitar algum outro país. Mas não sei, não há planos.

Essa foi a sua primeira visita, e todos estavam preocupados com a segurança. O que você diz ao mundo que pensa que a África é apenas vítimas de guerras e destruição?

A África é vítima, a África sempre foi explorada por outras potências. Os escravos da África eram vendidos na América. Há potências que buscam apenas tomar as grandes riquezas da África, talvez o continente mais rico, mas não pensam em ajudar os países a crescer, não pensam em fazer com que todos possam trabalhar. A África é mártir da exploração. Aqueles que dizem que da África vêm todas as calamidades e todas as guerras não conhecem bem o dano que certas formas de desenvolvimento fazem à humanidade. E, por isso, eu amo a África, porque foi vítima de outras potências.

No fim, depois de agradecer novamente aos jornalistas pelo seu trabalho realizado durante a viagem, o pontífice fez a seguinte conclusão sobre a entrevista recém-terminada: “Eu respondo aquilo que eu sei, e o que não sei eu não digo, não invento”.

 

 

Il Papa: “Clima: si cambi ora o mai più. Siamo al limite del suicidio” – Andrea Tornielli – Vatican Insider – 30/11/2015

Francesco dialoga con i giornalisti sul volo di ritorno dall’Africa. «Se l’umanità non cambia continueranno le miserie, le tragedie, le guerre, i bambini che muoiono di fame, l’ingiustizia». Caso Vatileaks: «E’ stato un errore la nomina di Vallejo e della Chaouqui». «I giornalisti fanno bene a denunciare la corruzione. Ringrazio Dio che non ci sia più Lucrezia Borgia! Dobbiamo continuare con i cardinali l’opera di pulizia». Il riconoscimento all’opera di Ratzinger. Il fondamentalismo? «C’è in tutte le religioni, ma non è religioso, è idolatrico»

Il mondo è sull’orlo del suicidio e rischia di precipitarvi se non cambia decisamente strada nell’affrontare i problemi legati al cambiamento climatico e frutto dell’attuale modello di sviluppo. L’ha detto Francesco dialogando con i giornalisti durante il volo da Bangui a Roma. Il Papa ha risposto anche a un paio di domande su Vatileaks: «E’ stato un errore la nomina di Vallejo Balda e della Chaouqui nella commissione Cosea». Francesco ha aggiunto un significativo riconoscimento dell’opera contro la corruzione iniziata da Ratzinger.

In Kenya ha incontrato le famiglie povere di Kangemi e ha ascoltato le loro storie di esclusione dai diritti umani fondamentali come la mancanza di accesso all’acqua potabile. Che cosa ha provato sentendo le loro storie e che cosa bisogna fare per porre fine alle ingiustizie?

«Su questo problema ho parlato varie volte. Non ricordo bene le statistiche, ma mi sembra di aver letto che l’80 per cento della ricchezza del mondo è nelle mani del 17 per cento della popolazione. Non so se è vero. È un sistema economico che ha al centro il denaro, il dio denaro. Ricordo una volta un ambasciatore non cattolico, parlava francese e mi ha detto: “Nous son tombeé dans l’idolatrie dell’argent”. Cosa ho provato a Kangemi? Ho sentito dolore, un grande dolore! Ieri sono andato all’ospedale pediatrico, l’unico di Bangui e del Paese. In terapia intensiva non hanno l’ossigeno, c’erano tanti bambini malnutriti. La dottoressa mi ha detto: la maggioranza di loro moriranno perché hanno la malaria forte e sono malnutriti. L’idolatria è quando un uomo o una donna perdono la propria carta d’identità, cioè l’essere figli di Dio e preferiscono cercarsi un Dio a propria misura. Questo è il principio: se l’umanità non cambia continueranno le miserie, le tragedie, le guerre, i bambini che muoiono di fame, l’ingiustizia. Cosa pensa questa percentuale che ha nelle mani l’ottanta per cento della ricchezza del mondo? Questo non è comunismo, è verità. E la verità non è facile vederla».

Qual è stato il momento più memorabile della visita? Tornerà in Africa e quale sarà il suo prossimo viaggio?

«Se le cose vanno bene credo che il prossimo viaggio sarà in Messico, le date non sono ancora precise. Tornerò in Africa? Non lo so. Io sono anziano, i viaggi sono pesanti! Il momento più memorabile: quella folla, quella gioia, quella capacità di festeggiare, di far festa pur avendo lo stomaco vuoto. Per me l’Africa è stata una sorpresa. Dio sempre ci sorprende, ma anche l’Africa ci sorprende. Ricordo tanti momenti, ma soprattutto la folla… Si sono sentiti “visitati”, hanno un senso dell’accoglienza molto grande, e io l’ho visto nelle tre nazioni. Poi, ogni Paese ha la sua identità: il Kenya è un po’ più moderno e sviluppato. L’Uganda ha l’identità dei suoi martiri: il popolo ugandese, sia i cattolici che gli anglicani, venera i martiri. La Repubblica Centrafricana ha voglia di pace, riconciliazione, perdono. Loro hanno vissuto fino a quattro anni fa tra cattolici, protestanti, islamici, come fratelli. Ieri sono andato dagli evangelici che lavorano tanto bene e poi sono venuti a messa. Oggi sono andato in moschea, ho pregato in moschea, l’Imam è salito sulla papamobile per fare un piccolo giro tra i profughi. C’è un piccolo gruppetto molto violento, credo cristiano o che si dice cristiano, ma non è l’Isis, è un’altra cosa (gli anti-Balaka, ndr). Adesso si faranno le elezioni, hanno scelto un Presidente di transizione, una donna presidente e cercano la pace: niente odio».

Oggi si parla molto di Vatileaks. Senza entrare nel merito del processo in corso, vorrei chiederle: qual è l’importanza della stampa libera e laica per sradicare la corruzione?

«La stampa libera, laica e anche confessionale, deve essere professionale. L’importante è che siano professionisti e che le notizie non vengano manipolate. Per me è importante perché la denuncia delle ingiustizie e delle corruzioni è un bel lavoro. La stampa professionale deve dire tutto, ma senza cadere nei tre peccati più comuni: la disinformazione, cioè dire solo metà della verità e non l’altra; la calunnia, quando la stampa non professionale sporca le persone; la diffamazione che è dire cose che tolgono la reputazione a una persona. Questi sono i tre difetti che attentano alla professionalità della stampa. Abbiamo bisogno di professionalità. E sulla corruzione: vedere bene i dati e dire le cose. “C’è corruzione qui per questo, questo e questo”. Poi, un vero giornalista professionista, se sbaglia chiede scusa».

Il fondamentalismo religioso minaccia il pianeta intero, lo abbiamo visto con gli attentati di Parigi. Di fronte a questo pericolo lei pensa che i leader religiosi debbano intervenire di più in campo politico?

«Se intervenire in campo politico vuol dire fare politica, no. Facciano il prete, il pastore, l’imam, il rabbino. Ma si fa politica indirettamente predicando i valori, i valori veri, e uno dei valori più grande è la fratellanza tra noi. Siamo tutti figli di Dio, abbiamo lo stesso Padre. Non mi piace la parola tolleranza, dobbiamo fare convivenza, amicizia. Il fondamentalismo è una malattia che c’è in tutte le religioni. Noi cattolici ne abbiamo alcuni, – tanti – che credono di avere la verità assoluta e vanno avanti sporcando gli altri con la calunnia, la diffamazione, e fanno male. Questo lo dico perché è la mia Chiesa. Il fondamentalismo religioso si deve combattere. Non è religioso, manca Dio, è idolatrico. Convincere la gente che ha questa tendenza: ecco cosa devono fare i leader religiosi. Il fondamentalismo che finisce in tragedia o commette reati è una cosa cattiva, ma avviene in tutte le religioni».

Com’è stata possibile la nomina di monsignor Lucio Angel Vallejo Balda e di Francesca Chaouqui nella commissione Cosea? Pensa di aver commesso un errore?

«È stato fatto un errore. Vallejo è entrato per la carica che aveva e che ha avuto fino ad ora: era il segretario della Prefettura degli Affari economici. Come è entrata lei? Non sono sicuro, ma credo di non sbagliare se dico che è stato lui a presentarla come una donna che conosceva il mondo dei rapporti commerciali. Hanno lavorato e quando è finito il lavoro, i membri della Cosea sono rimasti in alcuni posti in Vaticano. La signora Chaouqui non è rimasta in Vaticano: alcuni dicono che si è arrabbiata per questo. I giudici ci diranno la verità sulle loro intenzioni, come l’hanno fatto. Per me non è stata una sorpresa, non mi ha tolto il sonno, perché hanno fatto vedere il lavoro che si è cominciato con la commissione dei nove cardinali, quello di cercare la corruzione e le cose che non vanno. Voglio dire una cosa, non su Vallejo e Chaouqui. Tredici giorni prima della morte di san Giovanni Paolo II, durante la Via Crucis, l’allora cardinale Ratzinger ha parlato della sporcizia della Chiesa. Lui ha denunciato per primo. Poi muore Giovanni Paolo II, e Ratzinger, che era decano, nella messa “pro eligendo Pontifice”, ha parlato della stessa cosa. Noi lo abbiamo eletto per questa sua libertà di dire le cose. È da quel tempo che è nell’aria che in Vaticano c’è corruzione. In quanto al processo: non ho letto le accuse concrete. Dovrebbe finire prima del Giubileo, ma credo che non si potrà fare perché vorrei che tutti gli avvocati della difesa abbiano il tempo di svogere il loro lavoro e che ci sia libertà di difesa».

Come procedere perché questi fatti non si verifichino più?

«Io ringrazio Dio che non ci sia più Lucrezia Borgia! Ma dobbiamo continuare con i cardinali e le commissioni l’opera di pulizia».

L’AIDS colpisce duramente in Africa, l’epidemia continua. Sappiamo che la prevenzione è la chiave e che il condom non è l’unico mezzo per fermare l’epidemia ma è una parte importante della risposta. Non è forse il tempo di cambiare la posizione della Chiesa per permettere l’uso dei preservativi per evitare nuove infezioni?

«La domanda mi sembra parziale. Sì è uno dei metodi, la morale della Chiesa si trova su questo punto di fronte a una perplessità. O il quinto o il sesto comandamento: difendere la vita o il rapporto sessuale aperto alla vita. Ma questo non è il problema. Il problema è più grande: questa domanda mi fa pensare a quella che fecero una volta a Gesù: “Dimmi Maestro, è lecito guarire di sabato?”. È obbligatorio guarire! La malnutrizione, lo sfruttamento, il lavoro in schiavitù, la mancanza di acqua potabile, questi sono i problemi. Non parliamo se si può usare tale cerotto per una tale ferita. La grande ingiustizia è una ingiustizia sociale, la grande ingiustizia è la malnutrizione. Non mi piace scendere a riflessioni casistiche quando la gente muore per mancanza di acqua e per fame. Pensiamo al traffico delle armi. Quando non ci saranno più questi problemi credo che si potrà fare la domanda: è lecito guarire di sabato? Perché si continuano a fabbricare armi? Le guerre sono il motivo di mortalità più grande. Non pensare se è lecito o non è lecito guarire di sabato. Fate giustizia, e quando tutti saranno guariti, quando non ci sarà l’ingiustizia in questo mondo possiamo parlare del sabato».

Qual è la posizione del Vaticano sulla crisi che si è aperta tra Russia e Turchia? Lei ha pensato di andare in Armenia per i 101 anni del massacro degli armeni?

«L’anno scorso ho promesso ai tre patriarchi di andare. La promessa c’è. Poi arrivano le guerre: vengono per ambizione. Non parlo di quelle fatte per difendersi giustamente da un’ingiusta aggressione. Le guerre sono una industria, nella storia abbiamo visto tante volte che un Paese con il bilancio che non va bene decide di fare una guerra e così mette a posto il bilancio. La guerra è un affare. I terroristi, loro fabbricano le armi? Chi dà loro le armi? C’è tutta una rete di interessi, dove dietro ci sono i soldi, o il potere. Noi da anni siamo in una guerra mondiale a pezzi e ogni volta i pezzi sono meno pezzi e sono sempre più grandi. Il Vaticano non so che cosa pensa. Che cosa penso io? Che le guerre sono un peccato, distruggono l’umanità, sono la causa di sfruttamento, traffico di persone. Si devono fermare. Alle Nazioni Unite per due volte ho detto questa parola, sia a New York, sia in Kenya: che il vostro lavoro non sia un nominalismo declamatorio. Qui in Africa ho visto come lavorano i Caschi Blu ma questo non è sufficiente. Le guerre non sono di Dio, Dio è il Dio della pace, ha creato il mondo tutto bello. Poi leggiamo nella Bibbia che il fratello ammazza un altro fratello: la prima guerra mondiale. E lo dico con molto dolore»

Si apre oggi a Parigi COP21, la conferenza sul cambio climatico. Noi speriamo che possa essere l’inizio della soluzione, lei è sicuro che si faranno dei passi avanti?

«Io non sono sicuro, ma posso dirle: adesso o mai più. La prima conferenza credo che si sia tenuta a Kyoto… si è fatto poco. Ogni anno i problemi sono più gravi. Parlando in una riunione di universitari su quale mondo noi vogliamo lasciare ai nostri figli, un ragazzo ha detto: ma lei è sicuro che ci saranno figli di questa generazione? Siamo al limite di un suicidio per dire una parola forte e io sono sicuro che quasi la totalità di quelli che sono a Parigi hanno questa coscienza e vogliono fare qualcosa. L’altro giorno ho letto che in Groenlandia i ghiacciai hanno perso miliardi di tonnellate. Nel Pacifico c’è un Paese che sta comprando un altro Paese per traslocare perché entro 20 anni non ci sarà più (a causa dell’innalzamento del livello del mare, ndr)… Ho fiducia in questa gente, ho fiducia che faccia qualcosa. Mi auguro che sia così e prego per questo».

Lei ha compiuto molti gesti di amicizia e rispetto nei confronti degli islamici. Che cosa dicono l’Islam e gli insegnamenti di Maometto al mondo di oggi?

«Si può dialogare, loro hanno tanti valori, e questi valori sono costruttivi. Anche io ho l’esperienza di amicizia con un islamico, un dirigente mondiale. Possiamo parlare. Lui ha i suoi valori e io i miei, lui prega e io prego. Tanti valori: la preghiera, il digiuno. Non si può cancellare una religione perché ci sono alcuni o molti gruppi di fondamentalisti in un certo momento della storia. È vero, le guerre tra religioni ci sono sempre state, anche noi dobbiamo chiedere perdono: Caterina di Medici che non era un santa e quella guerra dei trent’anni, quella notte di San Bartolomeo… Dobbiamo chiedere perdono anche noi. Ma loro hanno valori, si può dialogare. Oggi sono stato in moschea, l’Imam ha voluto venire con me, sulla papamobile c’erano il Papa e l’Imam. Quante guerre abbiamo fatto noi cristiani? Il sacco di Roma non l’hanno fatto i musulmani».

Sappiamo che visiterà il Messico. Pensa di andare anche in Colombia o in Perù?

«I viaggi alla mia età non fanno bene, lasciano traccia. Vado in Messico e per prima cosa vado a visitare la Signora, la Madre dell’America (la Madonna di Guadalupe, ndr), se non era per Lei non sarei andato a Città del Messico per il criterio del viaggio: visitare tre o quattro città che non siano mai state visitate dai Papi. Poi andrò in Chiapas, poi a Morelia e quasi sicuramente sulla via del rientro a Roma ci sarà una giornata a Ciudad Juarez. Su altri Paesi latinoamericani: nel 2017 sono stato invitato ad andare ad Aparecida, l’altra Patrona d’America di lingua portoghese, e di là si potrà visitare qualche altro Paese, ma non so, non ci sono piani».

Questa è stata la sua prima visita e tutti erano preoccupati per la sicurezza. Che cosa dice al mondo che pensa che l’Africa sia soltanto vittima di guerre e distruzione?

«L’Africa è vittima, l’Africa è sempre stata sfruttata da altre potenze, gli schiavi dall’Africa venivano venduti in America. Ci sono potenze che cercano solo di prendere le grandi ricchezze dell’Africa, forse il continente più ricco, ma non pensano di aiutare a crescere i Paesi, non pensano a far sì che tutti possano lavorare. L’Africa è martire dello sfruttamento. Quelli che dicono che dall’Africa vengono tutte le calamità e tutte le guerre non conoscono bene il danno che fanno all’umanità certe forme di sviluppo. E per questo io amo l’Africa, perché è stata una vittima di altre potenze».

Alla fine il Pontefice, dopo aver ringraziato nuovamente i giornalisti per il lavoro svolto durante il viaggio, ha concluso a proposito dell’intervista appena terminata: «Rispondo quello che so e quello che non so non lo dico, non invento».

Francisco e os prefeitos

Na tarde de terça-feira, 21 de julho de 2015, às 17h00, o Papa Francisco falou na Aula do Sínodo no Vaticano ao Workshop Modern Slavery and Climate Change: the Commitment of the Cities, organizado pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais, do qual participaram mais de 60 prefeitos de grandes cidades do planeta, para enfrentar duas emergências interligadas: a crise climática e as novas formas de escravidão. Do Brasil participaram os prefeitos de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e Goiânia.

O discurso de Francisco, em espanhol, começa assim:

Les agradezco sinceramente, de corazón el trabajo que han hecho. Es verdad que todo giraba alrededor del tema del cuidado del ambiente, de esa cultura del cuidado del ambiente. Pero esa cultura del cuidado del ambiente no es una actitud solamente – lo digo en buen sentido- “verde”, no es una actitud “verde”, es mucho más. Es decir, cuidar el ambiente significa una actitud de ecología humana. O sea, no podemos decir: la persona está aquí y el Creato, el ambiente, está allí. La ecología es total, es humana. Eso es lo que quise expresar en la Encíclica “Laudato Si”: que no se puede separar al hombre del resto, hay una relación de incidencia mutua, sea del ambiente sobre la persona, sea de la persona en el modo como trata el ambiente; y también, el efecto de rebote contra el hombre cuando el ambiente es maltratado. Por eso, frente a una pregunta que me hicieron yo dije: “no, no es una encíclica ‘verde’, es una encíclica social”. Porque dentro del entorno social, de la vida social de los hombres, no podemos separar el cuidado del ambiente. Más aun, el cuidado del ambiente es una actitud social, que nos socializa en un sentido o en otro -cada cual le puede poner el valor que quiere- y por otro lado, nos hace recibir – me gusta la expresión italiana cuando hablan del ambiente- del “Creato”, de aquello que nos fue dado como don, o sea, el ambiente (Encuentro sobre “Esclavitud moderna y cambio climático: el compromiso de las grandes ciudades” – Intervención del Santo Padre Francisco: 21 de julio de 2015).

O discurso do papa aos prefeitos do mundo  – IHU On-Line 22/07/2015

Na tarde desta terça-feira, 21 de julho, às 17h, o Santo Padre Francisco falou na Aula do Sínodo no Vaticano ao Workshop Modern Slavery and Climate Change: the Commitment of the Cities, organizado pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais, do qual participaram os prefeitos de grandes cidades do planeta, para enfrentar duas emergências interligadas: a crise climática e as novas formas de escravidão.

Durante o encontro com os prefeitos provenientes de todo o mundo, o papa pronunciou de improviso um breve discurso em espanhol, do qual oferecemos uma transcrição.

O discurso foi publicado no sítio da Santa Sé, 21-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Boa tarde, bem-vindos.

Agradeço-lhes sinceramente, de coração, pelo trabalho que fizeram. É verdade que tudo girava em torno do tema do cuidado do ambiente, dessa cultura do cuidado do ambiente. Mas essa cultura do cuidado do ambiente não é uma atitude somente – digo no bom sentido – “verde”, não é uma atitude “verde”, é muito mais.

Isto é, cuidar do ambiente significa uma atitude de ecologia humana. Ou seja, não podemos dizer: a pessoa está aqui, e a Criação, o ambiente está ali. A ecologia é total, é humana. Isso é o que eu quis expressar na encíclica Laudato si’: que não se pode separar o homem do resto, existe uma relação de incidência mútua, seja do ambiente sobre a pessoa, seja da pessoa no modo como trata o ambiente; e também o efeito de rebote contra o homem, quando o ambiente é maltratado.

Por isso, diante de uma pergunta que me fizeram, eu disse: “Não, não é uma encíclica ‘verde’, é uma encíclica social”. Porque, dentro do entorno social, da vida social dos homens, não podemos separar o cuidado do ambiente. Mais ainda, o cuidado do ambiente é uma atitude social, que nos socializa, em um sentido ou outro – cada um pode dar-lhe o valor que quiser –, e, por outro lado, nos faz receber – eu gosto da expressão italiana quando falam do ambiente – do “Criado”, daquilo que nos foi dado como dom, ou seja, o ambiente.

Por outro lado, por que esse convite que me pareceu uma ideia – da Academia de Dom Sánchez Sorondo – muito fecunda, de convidar os prefeitos das grandes cidades e não tão grandes, mas convidá-los aqui para falar disso? Porque uma das coisas que mais se nota quando o ambiente, a Criação não é cuidada é o crescimento desmedido das cidades.

É um fenômeno mundial. É como se as cabeças, as grandes cidades, tornam-se grandes, mas cada vez mais com cinturões de pobreza e de miséria maiores, onde as pessoas sofrem os efeitos de um descuido do ambiente. Nesse sentido, está envolvido o fenômeno migratório. Por que as pessoas vêm para as grandes cidades, para os cinturões das grandes cidades, as villas miseria, as chabolas, as favelas? Por que isso se arma? Simplesmente, porque o mundo rural para eles já não lhes dá oportunidades.

E um ponto que está na encíclica, e com muito respeito, mas deve ser denunciado, é a idolatria da tecnocracia. A tecnocracia leva a despojar o trabalho, cria desemprego, os fenômenos de desemprego são muito grandes, e as pessoas precisam ir migrando, buscando novos horizontes. O grande número de desempregados alerta. Eu não tenho as estatísticas, mas, em alguns países da Europa, especialmente entre os jovens, o desemprego juvenil, dos 25 anos para baixo, passa dos 40% e, em alguns, chega a 50%. Entre 40%, 47% – estou pensando em outro país –, 50%. Estou pensando em outras estatísticas sérias dadas pelos chefes de governo, os chefes de Estado diretamente.

E isso, projetado para o futuro, nos faz ver um fantasma, ou seja, uma juventude desempregada. E hoje que horizonte e que futuro se pode oferecer a ela? O que resta a essa juventude? Ou os vícios, ou o tédio, ou não saber o que fazer da sua vida – uma vida sem sentido, muito dura –, ou o suicídio juvenil – as estatísticas de suicídio juvenil não são publicados na sua totalidade –, ou buscar em outros horizontes, até mesmo em projetos guerrilheiros, um ideal de vida.

Por outro lado, a saúde está em jogo. A quantidade de doenças “raras” – assim são chamadas – que vêm de muitos elementos de fertilização dos campos – ou, sabe-se lá, ainda não se sabem bem as causas –, mas de um excesso de tecnificação. Entre os maiores problemas que estão em jogo é o oxigênio e a água. Isto é, a desertificação de grandes áreas por causa do desmatamento.

Aqui ao meu lado está o cardeal arcebispo encarregado da Amazônia brasileira [Claudio Hummes]. Ele pode dizer o que significa um desmatamento hoje em dia na Amazônia, que é o pulmão do mundo. Congo, Amazônia, grandes pulmões do mundo. O desmatamento na minha pátria, há alguns anos – há oito ou nove anos –, me lembro que houve, por parte do governo federal contra uma província, um julgamento para deter um desmatamento que afetava a população.

O que acontece quando todos esses fenômenos de tecnificação excessiva, de não cuidado do ambiente, além dos fenômenos naturais, incidem sobre a migração? O fato de não ter trabalho e, depois, o tráfico de pessoas. É cada vez mais comum o trabalho ilegal, um trabalho sem contrato, um trabalho arranjado por baixo da mesa. Como cresceu! O trabalho ilegal é muito grande, o que significa que uma pessoa não ganha o suficiente para viver. Isso pode provocar atitudes delitivas e tudo o que acontece em uma grande cidade por causa dessas migrações causadas pela tecnificação.

Sobretudo, refiro-me ao agronegócio ou ao tráfico de pessoas no trabalho minerário. A escravidão minerária ainda é muito grande e muito forte. E o que significa o uso de certos elementos de lavagem de minerais – arsênico, cianureto – que incidem em doenças da população.

Nisso, há uma responsabilidade muito grande. Ou seja, tudo rebota, tudo volta. É o efeito-rebote contra a mesma pessoa. Pode ser o tráfico de pessoas para o trabalho escravo, a prostituição, que são fontes de trabalho para poder sobreviver hoje em dia.

Por isso, alegro-me que vocês tenham refletido sobre esses fenômenos. Eu mencionei alguns, não mais, que afetam as grandes cidades.

Finalmente, eu diria que isso deve interessar às Nações Unidas. Tenho muita esperança na Cúpula de Paris, de novembro, para que se alcance algum acordo fundamental e básico. Tenho muita esperança, mas, no entanto, as Nações Unidas têm que se interessar muito fortemente por esse fenômeno, sobretudo o tráfico de pessoas provocado por esse fenômeno ambiental, a exploração das pessoas.

Eu recebi há alguns meses uma delegação de mulheres das Nações Unidas, encarregadas pelo combate à exploração sexual de crianças nos países em guerra. Ou seja, as crianças como objeto de exploração. É outro fenômeno. E as guerras também são um elemento de desequilíbrio do ambiente.

Gostaria de terminar com uma reflexão que não é minha, é do teólogo e filósofo Romano Guardini. Ele fala de duas formas de incultura: a incultura que Deus nos entregou para que nós a transformássemos em cultura e nos deu o mandato de cuidar, e fazer crescer e dominar a terra; e a segunda incultura, quando o homem não respeita essa relação com a terra, não a cuida – é muito claro no relato bíblico, que é uma literatura de tipo místico ali. Quando não a cuida, o homem se apodera dessa cultura e começa a tirá-la do rumo. Ou seja, a incultura a tira do rumo e sai de controle, e forma uma segunda forma de incultura: a energia nuclear é boa, pode ajudar, mas até “aqui” – senão, pensemos em Hiroshima e em Nagasaki, ou seja, já se cria o desastre e a destruição, para dar um exemplo antigo.

Hoje em dia, em todas as formas de incultura, como as que vocês abordaram, essa segunda forma de incultura é a que destrói o homem. Um rabino da Idade Média, mais ou menos da época de São Tomás de Aquino – e talvez alguns de vocês já me ouviu falar sobre isso – explicava em um “midrash” o problema da Torre de Babel aos seus fiéis na sinagoga, e dizia que construir a Torre de Babel levou muito tempo e precisou de muito trabalho, principalmente para fazer os tijolos: isso supunha armar a lama, buscar a palha, amassar, cortar, deixar secar, depois pôr no forno, cozinhar. Ou seja, um tijolo era uma joia, valia muito. E iam subindo o tijolo para ir colocando na torre. Quando um tijolo caía, era um problema muito grave, e o culpado ou aquele que descuidou do trabalho e o deixou cair, era castigado. Quando caía um operário daqueles que estavam construindo, não acontecia nada.

Esse é o drama da segunda forma de incultura: o homem como criador de incultura, e não de cultura. O homem criador de incultura, porque não cuida do ambiente.

E por que esta convocatória da Pontifícia Academia das Ciências aos prefeitos, alcaldes, intendentes das cidades? Porque essa consciência, embora saia do centro para as periferias, o trabalho mais sério e mais profundo é feito a partir da periferia para o centro. Isto é, a partir de vocês para a consciência da humanidade.

A Santa Sé ou tal país, ou aquele outro poderão fazer um bom discurso nas Nações Unidas, mas se o trabalho não vier das periferias para o centro, não tem efeito. Daí a responsabilidade dos prefeitos, dos intendentes, dos alcaldes das cidades. Por isso, agradeço-lhes muitíssimo por terem se reunido como periferias sumamente sérias desse problema. Cada um de vocês tem dentro da sua cidade coisas como as que eu disse e que vocês têm que governar, solucionar etc. Eu lhes agradeço a colaboração.

Dom Sánchez Sorondo me disse que muitos de vocês falaram, e tudo isso é muito rico. Agradeço-lhes e peço ao Senhor que nos dê a todos a graça de poder tomar consciência desse problema da destruição que nós mesmos estamos levando adiante ao não cuidar da ecologia humana, ao não ter uma consciência ecológica como a que nos foi dada no princípio para transformar a primeira incultura em cultura e parar por aí, e não transformar essa cultura em incultura.

Muitíssimo obrigado.