Conheci Gustavo Gutiérrez na década de 70, em Roma, quando fez palestra para os estudantes dos Colégios Pio Brasileiro e Latino-Americano.
Voltei a reencontrá-lo em julho de 2000, em Congresso da SOTER, em Belo Horizonte, quando o tema debatido foi Teologia na América Latina: Prospectivas. Estavam presentes 234 teólogos, teólogas e cientistas da religião, dos quais 77 vieram da Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, México, Peru e Uruguai, além de convidados da Áustria, Canadá, Espanha, Estados Unidos e Itália. E entre eles, Gustavo Gutiérrez, do Peru.
De sua obra tomei conhecimento em 1972, quando cursava o terceiro ano de Teologia na Universidade Gregoriana e nosso extraordinário colega de Pio Brasileiro, Alphonso Garcia Rubio, doutorando em Teologia, orientou um seminário sobre Teologia da Libertação, o tema de sua tese, para brasileiros e colegas do Colégio Pio Latino-Americano, que, à época, tinha sua sede ao lado do nosso.
No dia 22 de outubro de 1972 – o ano letivo começou em 15 de outubro – comprei o livro de Gustavo Gutiérrez, Teologia della Liberazione. Prospettive. Brescia: Queriniana, 1972, 312 p., base de nosso estudo. A edição brasileira pode ser vista aqui. E outras publicações de Gustavo Gutiérrez, aqui.
O teólogo protestante Jürgen Moltmann morreu em Tübingen na segunda-feira, 3 de junho de 2024, aos 98 anos. Ele é considerado um dos mais importantes teólogos protestantes do século XX. O livro Teologia da Esperança, publicado em 1964, foi traduzido para vários idiomas e influenciou teólogos de todo o mundo. Moltmann iniciou seus estudos teológicos enquanto prisioneiro de guerra na Inglaterra.
O presidente da Conferência Episcopal Alemã, Dom Georg Bätzing, homenageou Moltmann como “um dos teólogos mais influentes e incisivos do nosso tempo. Ele não apenas falou de esperança, mas foi uma esperança para a teologia que caracterizou sua vida”. O pensamento de Moltmann também inspirou a teologia católica. “Poderíamos aprender com Jürgen Moltmann o que significa uma vida inteira para o ecumenismo. Nós nos curvamos diante de alguém que deu à teologia um lugar na vida”.
Moltmann nasceu em Hamburgo em 8 de abril de 1926. De 1953 a 1957, foi pároco da pequena comunidade evangélica de Wasserhorst em Bremen e de estudantes universitários, antes de se tornar professor na Kirchliche Hochschule Wuppertal e depois na Universidade de Bonn.
De 1967 até sua aposentadoria em 1994, lecionou teologia sistemática e ética social na Faculdade Teológica Protestante da Universidade de Tübingen. Entre as obras mais conhecidas de Moltmann estão O Deus Crucificado e A Igreja no Poder do Espírito. Ele era casado com a teóloga feminista Elisabeth Moltmann-Wendel, falecida em 2016.
Moltmann é considerado por alguns como o teólogo europeu que mais entendeu a América Latina, onde esteve pela primeira vez em 1977 visitando Argentina, Brasil, Trinidad e Tobago e México. Foi nesta viagem que teve contato direto com teólogos da libertação, o que, posteriormente, influenciaria uma aproximação de suas reflexões teológicas ao contexto latino americano. Em 2016, foi sua última visita ao Brasil, onde teve oportunidade de participar do Seminário Internacional de Teologia, promovido pela Faculdade Unida, em Vitória, no Espírito Santo (Teologia Pública, 04.06.2024).
“Jürgen Moltmann talvez seja a figura mais representativa da teologia protestante contemporânea depois do desaparecimento dos grandes líderes de escolas: Barth, Cullmann, Tillich e Bonhoeffer. Seus livros são traduzidos em várias línguas, fazendo rapidamente a volta ao mundo. A Moltmann pertence a paternidade de dois movimentos teológicos que foram e continuam sendo amplamente seguidos: a Teologia da Esperança e a Teologia da Cruz.” (Battista Mondin)
“Moltmann é um dos teólogos europeus mais inovadores da atualidade. O presente livro foi sua primeira grande obra, pela qual se tornou conhecido e reconhecido internacionalmente. Ainda hoje ele nos encanta ao apresentar fantasia aliada à erudição, ousadia aliada à preocupação com a verdade cristã, amplitude do pensamento aliada à grande capacidade de focalização temática. A presente reedição revisada, feita a partir da tradução da última edição alemã de Teologia da esperança, vem dar novo impulso à teologia no Brasil. Essa teologia, ao revisitar o passado, dá mostras de sabedoria quando lida com seu presente e pensa sobre seu futuro.” (Enio Müller).
Jürgen Moltmann nasceu em 8 de abril de 1926 em Hamburgo (Alemanha). Aos dezessete anos de idade foi convocado para o exército alemão e, depois de seis meses de serviço, foi preso pelos ingleses e levado a um campo de prisioneiros, na Inglaterra. Foi ali que Moltmann iniciou seus estudos de Teologia. Em 1948, retornou à Alemanha e deu continuidade a esses estudos na Universidade de Göttingen, concluindo-os em 1952. Em 1957, habilitou-se para a docência nas áreas de História do Dogma e Teologia Sistemática, obtendo sua primeira colocação na cidade de Wuppertal, onde lecionou de 1957 a 1963. De 1963 a 1967 foi professor de Teologia Sistemática na Universidade de Bonn. Em 1967, continuou a exercer a mesma função na Universidade de Tübingen, até sua aposentadoria em 1994. É autor de muitas publicações na área da Teologia Sistemática e é considerado um dos grandes teólogos do século XX e da atualidade.
Li este livro, na versão italiana da Queriniana, de Brescia, Teologia della Speranza, 1971, no meu terceiro ano da graduação em Teologia na Gregoriana, em Roma. Era o ano letivo de 1972-1973.
Morreu na madrugada deste 5 de março de 2024, aos 89 anos de idade, o biblista José Luiz Gonzaga do Prado.
José Luiz Gonzaga do Prado era Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, Roma, Itália. Autor de vários livros e artigos, José Luiz era, também, um exímio tradutor da Bíblia.
Foi professor de Línguas Bíblicas e Novo Testamento no CEARP por 24 anos. A partir de 2013 passou a integrar o corpo docente da Faculdade Católica de Pouso Alegre, MG, onde lecionou por 8 anos.
Toda a Comunidade Acadêmica do Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (CEARP) manifesta seus mais profundos pesares pelo passamento do Pe. José Luiz Gonzaga do Prado, ocorrido na madrugada de hoje.
Nossa gratidão pelos tantos anos de serviço dedicados à nossa Instituição, lecionando a Sagrada Escritura e as línguas bíblicas no CEARP. A simplicidade e a humildade, bem como a profundidade da abordagem dos temas bíblicos ficarão sempre marcadas na memória de todos os seus ex-alunos.
À Diocese de Guaxupé, aos familiares e amigos, nossos mais sinceros sentimentos e a manifestação de nossa fé na Ressurreição: “Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos” (2Tm 2,11)
. Nasceu em Paraguaçu, MG, em 11 de janeiro de 1935
. Iniciou seus estudos de Humanística no Seminário Menor em Guaxupé e fez os estudos de Filosofia no Seminário Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte
. Estudou teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, onde foi ordenado sacerdote em 25 de outubro de 1959. Cursou, em seguida, o Mestrado em Ciências Bíblicas no Pontifício Instituto Bíblico, Roma, concluído em 1962
. Foi pároco da Paróquia de Santa Rita de Nova Rezende e de São Benedito de Petúnia (Distrito de Nova Rezende) por quase 40 anos
. Contribuiu para a implantação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na diocese e foi professor de Sagrada Escritura por décadas
. Pe. José Luiz Gonzaga do Prado era um incansável estudioso da Sagrada Escritura e seu testemunho de vida inspirou muitos
. Seu legado permanecerá vivo na memória daqueles que tiveram a honra de conhecê-lo.
Esse homem de estatura tão pequena, mas de um coração tão grande, tão maravilhoso, deve ser observado, seu exemplo deve ser seguido, porque a sua caminhada é digna, é merecedora de toda atenção e carinho (Dindinho, tio Clóvis, sobre o papai, por ocasião de seus 90 anos em 2014).
José Nicolau, meu pai, nasceu em 16 de janeiro de 1924 e faleceu em 21 de janeiro de 2020, aos 96 anos de idade.
Porém, fiz quase todas as disciplinas no Pontifício Instituto Bíblico (PIB), em Roma, pois o PIB era mais interessante por causa dos cursos oferecidos e dos professores que ali lecionavam.
O PIB investia, com seriedade, na aprendizagem dos métodos de leitura dos textos bíblicos. E as disciplinas contextuais, como história, arqueologia e geografia da Palestina e do Antigo Oriente Médio, assim como as disciplinas instrumentais – línguas bíblicas e outras línguas semíticas – que o PIB disponibilizava, são fundamentais para o estudante de Bíblia.
As disciplinas oferecidas pelo PIB eram válidas, na sua maioria, para a Teologia Bíblica da Gregoriana.
Agora, 50 anos depois de iniciado o curso (1973-2023), recolhi todas as informações que consegui na internet sobre meus professores e aqui as disponibilizo.
É uma parte de minha história acadêmica. É também um exercício de recordação e uma homenagem aos meus mestres.
Quando perguntado, em entrevista em 2006, porque trabalho com a Bíblia Hebraica/Antigo Testamento, respondi:
“Na verdade, trabalhei um bom tempo com o Novo Testamento [na década de 80, no CEARP], estudando e lecionando especialmente o Evangelho de Marcos, as Cartas de Paulo e o Grego do NT. [No Bíblico] tive a oportunidade de estudar com Jacques Dupont, por exemplo, o que me levou às parábolas e ao tema de minha Dissertação de Mestrado sobre Mt 25,1-13, com orientação do Professor Ugo Vanni.
Por outro lado, estava começando naqueles anos o uso cada vez mais persistente dos métodos sincrônicos nos estudos bíblicos, e eu me envolvi com estudos linguísticos e literários de Saussure, Benveniste, Barthes, Greimas, Umberto Eco, Genette, Todorov e tantos outros que nem me arrisco a citar todos.
Além disso, motivado pela luta contra a ditadura militar que persistia no Brasil desde 1964, luta na qual a Igreja estava fortemente envolvida, embrenhei-me pelo marxismo e pela leitura sociológica da Bíblia. Na França saía, naquela época, a obra de Fernando Belo, na qual Marx e Marcos caminhavam lado a lado, numa mistura bastante exótica até de abordagem estruturalista de Barthes com o marxismo de Althusser e a psicanálise de Lacan. Esta obra, por exemplo, gerou grande entusiasmo entre os estudantes de Bíblia.
Apesar de tudo isso, desde a época de Roma eu era fascinado pela História do Antigo Oriente Médio e pela Literatura Profética. O já citado professor Bernini me ensinou a gostar de Jeremias, e no PIB estudei com Alonso Schökel, J. Alberto Soggin, Ernst Vogt, Robert North, Rémi Lack e outros professores de Bíblia Hebraica. Se tento avaliar hoje mais corretamente as suas posturas, não creio que fossem hipercríticos — no PIB da época sempre se caminhava com independência, mas prudência — porém, eram mestres que nos incentivavam a encontrar nossos próprios caminhos. Isto tudo teve sua participação em minhas escolhas”.
Para conhecer a história do PIB, recomendo dois textos:
Il Centenario dell’Istituto Biblico – Conferenza del Prof. Maurice Gilbert [testo italiano, inglese e francese] – Solenne atto accademico per il 100° Anniversario della fondazione dell’Istituto [07.05.2009].
A lista tem links para informações sobre os professores, nacionalidade, data de nascimento e morte e as disciplinas que com eles estudei. Os professores estão listados em ordem alfabética.
1. Dionisio Mínguez Fernández, espanhol: Análise estrutural dos Atos dos Apóstolos
12. Rémi Lack, francês: Gêneros literários, formas literárias e forma estilística; O livro de Oseias: estrutura e exegese; Análise da narrativa bíblica veterotestamentária
15. Ugo Vanni, italiano (1929-2018): O Apocalipse: introdução e exegese; A escatologia pessoal em Paulo; Dissertação de Mestrado: A parábola das dez virgens (Mt 25,1-13)
Morreu no dia 16 de julho de 2023, aos 92 anos de idade, Franz Hinkelammert, economista e teólogo alemão que vivia na América Latina.
Destarte, na ocasião de sua passagem, pretendi demonstrar brevemente a trajetória e o conteúdo da produção intelectual de Franz Hinkelammert, pouco conhecida e discutida nos círculos acadêmicos e nos espaços de debates das esquerdas brasileiras. Cabe recordar que enfrentamos hoje um fascismo intimamente ligado à perspectiva cristã da teologia da prosperidade, professada por grande parte da população e defendida institucionalmente pelas igrejas neopentecostais.
Nesse sentido, mostra-se profícuo recuperar os escritos e a história dos agentes da Teologia da Libertação, cujo conteúdo não é apenas reformista, mas revolucionário. A obra de Franz Hinkelammert é um excelente objeto para esse exercício e pode ser acessada virtualmente através da coleção criada pela Universidad Centroamericana José Simeón Cañas. Que o nosso professor possa enfim descansar e que seu legado permaneça vivo na história, escreve Adriana Carneiro Marinho, em Franz Hinkelammert (1931-2023), artigo publicado em A terra é redonda, 18.07.2023.
Franz Josef Hinkelammert nació el 12 de enero de 1931 en Emsdetten, un pueblo de Westfalia, cercano a la ciudad de Münster, en Alemania. Obtuvo su diploma en Economía en 1955 y luego ingresó al Instituto de Europa Oriental de la Universidad Libre de Berlín, donde se doctoró, en 1961, con una investigación sobre el proceso de crecimiento en la economía soviética.
Hinkelammert viajó a Chile en 1963, para dedicarse a la investigación y la docencia en la Fundación Konrad Adenauer y la Universidad Católica de Chile. También fue uno de los fundadores del Centro de Estudios de la Realidad Nacional (CEREN) y se incorporó al Instituto Latinoamericano de Doctrina y Estudios Sociales (ILADES).
El golpe de Estado que derrocó al gobierno de Allende, en 1973, lo obligó a volver a Alemania, donde se quedó hasta 1976, fecha de su regreso a América Latina. En esta ocasión, su destino sería Centroamérica, radicándose primero en Honduras y luego en Costa Rica (1980), país en el que reside hasta la fecha.
En 1976, junto a Hugo Assman, fundó el Departamento Ecuménico de Investigaciones (DEI), donde se dedicaría a la investigación y publicación de la mayor parte de su obra.
En 2007 salió del DEI y creó, con algunos de sus discípulos, el Grupo Pensamiento Crítico, un colectivo formado por investigadores de diversos países de América Latina, que reflexionan sobre la realidad contemporánea tomando como referente su pensamiento.
Hinkelammert ha recibido importantes reconocimientos a lo largo de su trayectoria intelectual. Diversas instituciones de prestigio le han otorgado el doctorado honoris causa, como la Universidad Nacional (Heredia, Costa Rica), la Universidad UniBrasil de Curitiba, la Universidad de La Habana y la Universidad Nacional de Cuyo (Mendoza, Argentina), entre otras. Obtuvo también el Premio Nacional “Aquileo Echeverría”, que otorga el Ministerio de ultura de Costa Rica, y el Premio Libertador al Pensamiento Crítico, que le fue entregado en Caracas por el presidente de la República Bolivariana de Venezuela, Comandante Hugo Chávez Frías.
Desde la década de los sesenta, Franz Hinkelammert (nacido en 1931) ha reflexionado críticamente sobre los problemas de América Latina. En sus ideas encontramos bases importantes para un análisis de las construcciones ideológicas que usan los defensores del sistema capitalista, sobre todo en su forma extrema neoliberal.
Para este pensador, el pensamiento hegemónico no se puede comprender y criticar eficazmente si no es mediante el análisis de las relaciones entre los conceptos y creencias dominantes, y las condiciones materiales e históricas que constituyen la heterogénea realidad de América Latina, lo que viene a explicar, en parte, que su obra tenga un carácter variado y plural, combinando el análisis socioeconómico y la reflexión filosófica, así como la hermenéutica bíblica.
Para facilitar el acceso universal a la obra de Hinkelammert, la Universidad Centroamericana José Simeón Cañas, a través del Departamento de Filosofía y la Biblioteca “P. Florentino Idoate, S.J.”, pone a disposición de los interesados esta Colección Digital, que garantiza la disponibilidad del contenido de manera gratuita.
Trabalhamos juntos na Teologia da PUC-Campinas por alguns anos na década de 80, quando ele foi, temporariamente, substituir o Luiz Roberto Benedetti.
Já sabíamos um do outro através da Ana Lúcia da Silva, da UFG, minha amiga e companheira de trabalho no Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro a partir de 1977.
Quando o conheci, já era, portanto, seu amigo.
Ele veio a Ribeirão Preto falar sobre Folia de Reis para nossos alunos do CEARP, em um dos simpósios que eu, então, organizava.
Um intelectual extraordinário e uma pessoa extremamente humana.
Diz o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp:
É com imenso pesar que informamos o falecimento de nosso professor emérito Carlos Rodrigues Brandão, que deixa a toda a comunidade do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) um legado de trabalho, luta e generosidade.
Brandão, como era carinhosamente conhecido, foi professor permanente da Unicamp de 1976 até 1997, desenvolvendo pesquisas na área de cultura e educação popular, antropologia rural e questões ambientais, em diferentes regiões do país. No Departamento de Antropologia, ministrou disciplinas na graduação e na pós-graduação em áreas como religião, cultura popular e teoria antropológica. Participou da criação do Centro de Estudos Educação e Sociedade (Cedes) na Faculdade de Educação (FE) e do Centro de Estudos Rurais (Ceres) no IFCH. Foi também vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam).
Brandão formou uma legião de estudantes não somente na teoria, mas também na prática, nas inúmeras viagens de campo que organizou, especialmente no interior de São Paulo e Minas Gerais. Invariavelmente, esses estudantes se tornaram não só qualificados pesquisadores e colegas, mas, sobretudo, estimados amigos. Com eles, compartilhou o trabalho, o gosto pelo sertão, seu sítio Rosa dos Ventos, as delicadezas do cotidiano e da vida. Autor de inúmeros livros sobre comunidades tradicionais, sobre populações rurais e de literatura (contos e poesia), Brandão se definia como um “militante ativista”, para quem ensinar e aprender são ações coletivas e indissociáveis.
Depois de aposentado, continuou a atuar como professor colaborador nos Programas de Pós-Graduação em Antropologia e do Doutorado em Ciências Sociais da Unicamp. Foi ainda professor visitante de inúmeras universidades, pesquisador do Instituto Paulo Freire e recebeu vários prêmios, sempre compreendendo as homenagens como algo plural, de reconhecimento a um coletivo. Em 1998, foi contemplado com o título de Comendador do Mérito Científico pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e de Professor Benemérito do Centro de Memória da Unicamp (CMU). Em 2006, foi agraciado com a medalha Roquette Pinto da Associação Brasileira de Antropologia. Em 2008 e 2010, recebeu os títulos de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Uberlândia e pela Universidade Federal de Goiás. Em 2015, foi a vez de receber o título de Professor Emérito pela Unicamp.
Em nome da direção do IFCH, manifestamos nossa solidariedade a seus familiares e amigos/as e rendemos nossas homenagens a esse grande professor e educador popular. Brandão seguirá vivo e presente entre nós!
“Em 2011, Carlos Rodrigues Brandão me enviou originais de um novo livro. Pediu-me que opinasse sobre o conteúdo e indicasse editoras. É um texto autobiográfico, ainda inédito. Selecionei alguns textos para que todos tenham ideia de quão digno, profundo e competente foi este querido amigo e parceiro em muitas trincheiras, da pastoral à educação popular”, escreve Frei Betto, escritor e educador popular, autor, entre outros, de “Por uma educação crítica e participativa”.
Bom dia. Farei um fio em homenagem ao Carlos Rodrigues Brandão, que nos deixou ontem. Psicólogo e antropólogo, Brandão foi um dos maiores expoentes da educação popular. Farei um fio com a fala de Ciço.
Autor de mais de cem livros, boa parte sobre educação popular e método Paulo Freire, Brandão deixa um legado inestimável para a construção de uma escola mais justa e igualitária.
Com quatro anos de atraso, Chico Buarque recebe o mais importante prêmio da língua portuguesa. Bolsonaro havia se recusado a assinar a honraria. Lula diz que entrega corrige “absurdo cometido contra a cultura brasileira”
Quatro anos após ser agraciado com o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa, o cantor, compositor e escritor Chico Buarque finalmente recebeu a honraria, entregue pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, em cerimônia em Lisboa nesta segunda-feira (24/04).
O prêmio para Chico foi anunciado em 2019, mas o artista não pôde recebê-lo pois o então presidente Jair Bolsonaro, que praticamente congelou as relações com Portugal durante seu mandato, se recusou a assinar a documentação necessária para a entrega da distinção, segundo afirmaram os atuais governos do Brasil e de Portugal.
“Essa entrega é simbólica porque representa a vitória da democracia. Chico Buarque é um artista de uma envergadura tremenda, pela história, por tudo que já produziu, tanto na música, quanto na literatura. Ser testemunha, participar enquanto ministra desse momento depois de sofrermos uma tentativa de golpe recente no Brasil e do desmonte da cultura nesses últimos quatro anos, é motivo de festa”, afirmou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, às vésperas da cerimônia de premiação.
O primeiro-ministro português, António Costa, destacou a entrega do Prêmio Camões a Chico como parte da retomada de contatos entre Brasil e Portugal. “Viramos uma página e temos muita matéria para trabalhar em conjunto”, escreveu no Twitter.
O Ministério da Cultura de Portugal, por sua vez, destacou que, para o júri do Prêmio Camões, a atribuição da distinção a Chico reconheceu “o valor e o alcance de uma obra multifacetada, repartida entre poesia, drama e romance”, um trabalho que “atravessou fronteiras e se mantém como uma referência fundamental da cultura no mundo contemporâneo”.
A cerimônia de entrega da distinção, realizada no Palácio Nacional de Queluz, foi integrada à viagem oficial de Lula a Portugal. A passagem do presidente brasileiro pelo país se encerra nesta terça-feira, com uma cerimônia no Parlamento português à margem das comemorações do 49º aniversário da Revolução dos Cravos.
“Um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura”
Em discurso na cerimônia realizada na cidade de Sintra, Lula disse que entrega do prêmio serviu para “corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos tempos”. “Digo isso porque esse prêmio deveria ter sido entregue em 2019 e não foi. Todos nós sabemos por quê”, afirmou o presidente.
Lula declarou que o ataque a cultura em todas as suas formas foi um dos objetivos que a extrema direita tentou implementar no país, mas que “finalmente, a democracia venceu no Brasil”.
“Não podemos esquecer que o obscurantismo e a negação das artes também foram uma marca do totalitarismo e das ditaduras que censuraram o próprio Chico no Brasil e em Portugal. Esse prêmio é uma resposta do talento contra o censura, do engenho contra a força bruta'” disse.
Após receber o prêmio das mãos do presidente Rebelo de Souza, Chico criticou o governo de Jair Bolsonaro e a falta de incentivo às artes durante o mandato do ex-presidente, e disse ter valido a pena esperar quatro anos para receber o prêmio.
Ele disse ter a impressão de que “um tempo bem mais longo havia transcorrido. No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foram um tempo em que o tempo parecia andar para trás”, disse o artista.
(…)
“Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados, ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo”, concluiu Chico.
Ele disse também ter herdado de seu pai, o escritor e historiador Sergio Buarque de Holanda, o amor pela língua portuguesa.
Além de Chico Buarque e dos presidentes do Brasil e de Portugal, estiveram presentes na cerimônia na cidade de Sintra a ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, e autoridades dos dois países.
“Formação cultural de diferentes gerações”
Um dos maiores nomes da MPB, Francisco Buarque de Holanda nasceu em 19 de junho de 1944, no Rio de Janeiro. Começou sua carreira musical na década de 1960 e se tornou um dos maiores compositores brasileiros. Entre os sucessos musicais de Chico, que tem cerca de 80 álbuns em sua discografia, estão A banda (1966), Apesar de você (1970), Cotidiano (1971), Construção (1971) e Amor barato (1981).
Em 1967, escreveu sua primeira peça de teatro, Roda Viva. No total, foram quatro incursões nesse gênero, sendo a última delas a Ópera do malandro, de 1978.
Em 1974, escreveu a novela Fazenda modelo, e em 1979, o livro infantil Chapeuzinho amarelo. Em 1991, publicou seu primeiro romance, Estorvo. O sucesso como escritor lhe rendeu três prêmios Jabuti, a premiação literária mais importante do Brasil, por Estorvo, melhor romance e livro do ano de ficção de 1992; Budapeste, livro do ano de ficção de 2004; e Leite derramado, melhor livro de ficção de 2010. Seu último livro, O irmão alemão, foi publicado em 2014.
Essa foi a primeira vez que um músico foi agraciado com o Prêmio Camões, que é um reconhecimento pela obra completa do artista. Ele foi eleito por unanimidade por um júri composto por representantes de Portugal, Brasil, Angola e Moçambique.
O júri justificou sua escolha pela “qualidade e transversalidade” da obra de Chico Buarque, “tanto através de gêneros e formas, quanto pela sua contribuição para a formação cultural de diferentes gerações em todos os países onde se fala a língua portuguesa”.
O peso literário das composições de Chico também foi destacado à época do anúncio do prêmio. “Evidente que esse prêmio é um reconhecimento pela poesia dele nas letras de música, que também são literárias, não só pelos livros. São poemas. Grandes poemas. A música Construção, por exemplo, é um poema até raro de se fazer”, afirmou o escritor Antonio Cícero, um dos brasileiros que compôs o júri, ao lado de Antonio Hohlfeldt, ao jornal Folha de S.Paulo.
Brasil e Portugal criaram “Nobel da língua portuguesa”
O Prêmio Camões foi criado em 1988 por Brasil e Portugal e contempla anualmente autores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O objetivo é distinguir “um escritor que, pela sua obra, contribua para o enriquecimento e projeção do patrimônio literário e cultural de língua portuguesa”.
O nome da premiação é uma homenagem ao poeta português Luís Vaz de Camões (1524-1580), autor da epopeia Os Lusíadas e considerado um dos maiores nomes da literatura lusófona.
Ao longo de sua história, 14 escritores brasileiros já foram agraciados com o prêmio, entre eles Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Rubem Fonseca e Lygia Fagundes Telles.
Nos termos do regulamento do Prêmio Camões, Portugal e Brasil organizam de forma alternada as reuniões e as cerimônias de entrega da distinção. O júri é composto por seis membros com mandato de dois anos. Os governos de Portugal e do Brasil designam dois membros cada, sendo os dois membros restantes designados de comum acordo de entre personalidades dos restantes países lusófonos – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Os agraciados com o prêmio recebem atualmente a quantia de 100 mil euros. Metade desse valor é subsidiado pela Fundação Biblioteca Nacional, entidade vinculada ao Ministério da Cultura do Brasil.
“O Prêmio Camões é uma das grandes conquistas do diálogo entre os países da língua portuguesa”, destacou o presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, afirmando que a distinção representa “uma espécie de Nobel” do idioma.
Íntegra do discurso de Chico Buarque ao receber o prêmio Camões
Boa noite excelentíssimos senhores presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa; presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; primeiro ministro de Portugal, António Costa; ministra da cultura brasileira, minha amiga, Margareth Menezes; ministro da Cultura português, Pedro Adão e Silva; querida Janja da Silva; presidente do júri, professor Frias Martins; e tantos amigos e amigas aqui presentes, Fafá de Belém, Carminho, Mia Couto, Miguel de Sousa Tavares, Pilar del Río, meu editor brasileiro Luiz Schwarz, minha editora portuguesa, Clara Capitão, e minha mulher, Carol.
Eu estou emocionado porque hoje de manhã ela saiu do hotel, atravessou a avenida e foi comprar essa gravata. Isso me emociona. [Confira o contexto da ironia].
Ao receber este prêmio penso no meu pai, o historiador e sociólogo Sergio Buarque de Holanda, de quem herdei alguns livros e o amor pela língua portuguesa. Relembro quantas vezes interrompi seus estudos para lhe submeter meus escritos juvenis, que ele julgava sem complacência nem excessiva severidade, para em seguida me indicar leituras que poderiam me valer numa eventual carreira literária.
Mais tarde, quando me bandeei para a música popular, não se aborreceu, longe disso, pois gostava de samba, tocava um pouco de piano e era amigo próximo de Vinicius de Moraes, para quem a palavra cantada talvez fosse simplesmente um jeito mais sensual de falar a nossa língua. Posso imaginar meu pai coruja ao me ver hoje aqui, se bem que, caso fosse possível nos encontrarmos neste salão, eu estaria na assistência e ele cá no meu posto, a receber o Prêmio Camões com muito mais propriedade.
Meu pai também contribuiu para a minha formação política, ele que durante a ditadura do Estado Novo militou na Esquerda Democrática, futuro Partido Socialista Brasileiro. No fim dos anos sessenta, retirou-se da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em solidariedade a colegas cassados pela ditadura militar. Mais para o fim da vida, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, sem chegar a ver a restauração democrática no nosso país, nem muito menos pressupor que um dia cairíamos num fosso sob muitos aspectos mais profundo
O meu pai era paulista, meu avô, pernambucano, o meu bisavô, mineiro, meu tataravô, baiano. Tenho antepassados negros e indígenas, cujos nomes meus antepassados brancos trataram de suprimir da história familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias sangue do açoitado e do açoitador, o que ajuda a nos explicar um pouco.
Recuando no tempo em busca das minhas origens, recentemente vim a saber que tive por duodecavós paternos o casal Shemtov ben Abraham, batizado como Diogo Pires, e Orovida Fidalgo, oriundos da comunidade barcelense. A exemplo de tantos cristãos-novos portugueses, sua prole exilou-se no Nordeste brasileiro do século XVI. Assim, enquanto descendente de judeus sefarditas perseguidos pela Inquisição, pode ser que algum dia eu também alcance o direito à cidadania portuguesa a modo de reparação histórica.
Já morei fora do Brasil e não pretendo repetir a experiência, mas é sempre bom saber que tenho uma porta entreaberta em Portugal, onde mais ou menos sinto-me em casa e esmero-me nas colocações pronominais. Conheci Lisboa, Coimbra e Porto em 1966, ao lado de João Cabral de Melo Neto, quando aqui foi encenado seu poema Morte e Vida Severina com músicas minhas, ele, um poeta consagrado e eu, um atrevido estudante de arquitetura.
O grande João Cabral, primeiro brasileiro a receber o Prêmio Camões, sabidamente não gostava de música, e não sei se chegou a folhear algum livro meu.
Escrevi um primeiro romance, Estorvo, em 1990, e publicá-lo foi para mim como me arriscar novamente no escritório do meu pai em busca de sua aprovação. Contei dessa vez com padrinhos como Rubem Fonseca, Raduan Nassar e José Saramago, hoje meus colegas de Prêmio Camões. De vários autores aqui premiados fui amigo, e de outras e outros – do Brasil, de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde — sou leitor e admirador.
Mas por mais que eu leia e fale de literatura, por mais que eu publique romances e contos, por mais que eu receba prêmios literários, faço gosto em ser reconhecido no Brasil como compositor popular e, em Portugal, como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim.
Valeu a pena esperar por esta cerimônia, marcada não por acaso para a véspera do dia em os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos.
Lá se vão quatro anos que meu prêmio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido, ou, quem sabe, se prêmios também são perecíveis, têm prazo de validade.
Quatro anos, com uma pandemia no meio, davam às vezes a impressão de que um tempo bem mais longo havia transcorrido.
No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele Governo foi derrotado nas urnas, mas nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça fascista persiste, no Brasil como um pouco por toda parte.
Hoje, porém, nesta tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o ex-Presidente [Bolsonaro] teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso Presidente Lula.
Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.
James Aitken morreu de infarto no dia 7 de abril de 2023. Ele era um conhecido pesquisador da Septuaginta (LXX) e professor da Universidade de Cambridge, Reino Unido.
“It is with immense sorrow that we write to inform you that Professor Jim Aitken died peacefully in the early hours of this morning, with his family by his side. A beloved colleague, scholar, teacher, supervisor, and friend, Jim was held in high esteem and affection by all who knew him. As Professor of Hebrew and Early Jewish Studies, he commanded an international reputation, while here in Cambridge he provided distinguished leadership as Faculty Chair (2019-22), particularly during the pandemic. As we mourn his untimely passing, we extend our condolences to the members of his family and to his fiancée, Diana. We will be in touch again as further details become available”.
Alastair G Hunter – SOTS Membership Secretary
Suas áreas de pesquisa eram o texto e a linguagem da Bíblia Hebraica, a literatura e a história do judaísmo antigo, além da semântica hebraica. Uma área especial de pesquisa era a versão grega da Bíblia (a Septuaginta), incluindo sua linguagem, exegese e lugar na sociedade judaica do Segundo Templo.
Veja uma lista de suas publicações, em pdf, clicando aqui.
Professor Aitken studied at the Universities of Durham and Cambridge. He subsequently worked on projects on Hebrew semantics (Cambridge) and on the Greek Bible (Reading) before teaching Hebrew and Aramaic in the Faculty of Oriental Studies [AMES] (Cambridge), and then Jewish-Christian relations in the Centre for the study of Jewish Christian Relations (the Woolf Institute, Cambridge). He began teaching in the Faculty of Divinity in 2009.
Research Interests
Professor Aitken’s interests lie in the text and language of the Hebrew Bible, and in the literature and history of ancient Judaism. A particular area of research currently is the Greek version of the Bible (the Septuagint), including its language, exegesis and place within second temple Jewish society. He also works on Hebrew semantics and upon issues in ancient Jewish literature and history.
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