Lula entrega prêmio Camões a Chico Buarque

Lula entrega Prêmio Camões a Chico Buarque

Com quatro anos de atraso, Chico Buarque recebe o mais importante prêmio da língua portuguesa. Bolsonaro havia se recusado a assinar a honraria. Lula diz que entrega corrige “absurdo cometido contra a cultura brasileira”

Quatro anos após ser agraciado com o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa, o cantor, compositor e escritor Chico Buarque finalmente recebeu aLula entrega prêmio Camões a Chico Buarque - Lisboa: 24.04.2023 honraria, entregue pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, em cerimônia em Lisboa nesta segunda-feira (24/04).

O prêmio para Chico foi anunciado em 2019, mas o artista não pôde recebê-lo pois o então presidente Jair Bolsonaro, que praticamente congelou as relações com Portugal durante seu mandato, se recusou a assinar a documentação necessária para a entrega da distinção, segundo afirmaram os atuais governos do Brasil e de Portugal.

“Essa entrega é simbólica porque representa a vitória da democracia. Chico Buarque é um artista de uma envergadura tremenda, pela história, por tudo que já produziu, tanto na música, quanto na literatura. Ser testemunha, participar enquanto ministra desse momento depois de sofrermos uma tentativa de golpe recente no Brasil e do desmonte da cultura nesses últimos quatro anos, é motivo de festa”, afirmou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, às vésperas da cerimônia de premiação.

O primeiro-ministro português, António Costa, destacou a entrega do Prêmio Camões a Chico como parte da retomada de contatos entre Brasil e Portugal. “Viramos uma página e temos muita matéria para trabalhar em conjunto”, escreveu no Twitter.

O Ministério da Cultura de Portugal, por sua vez, destacou que, para o júri do Prêmio Camões, a atribuição da distinção a Chico reconheceu “o valor e o alcance de uma obra multifacetada, repartida entre poesia, drama e romance”, um trabalho que “atravessou fronteiras e se mantém como uma referência fundamental da cultura no mundo contemporâneo”.

A cerimônia de entrega da distinção, realizada no Palácio Nacional de Queluz, foi integrada à viagem oficial de Lula a Portugal. A passagem do presidente brasileiro pelo país se encerra nesta terça-feira, com uma cerimônia no Parlamento português à margem das comemorações do 49º aniversário da Revolução dos Cravos.

 

“Um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura”

Em discurso na cerimônia realizada na cidade de Sintra, Lula disse que entrega do prêmio serviu para “corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos tempos”. “Digo isso porque esse prêmio deveria ter sido entregue em 2019 e não foi. Todos nós sabemos por quê”, afirmou o presidente.

Lula declarou que o ataque a cultura em todas as suas formas foi um dos objetivos que a extrema direita tentou implementar no país, mas que “finalmente, a democracia venceu no Brasil”.

“Não podemos esquecer que o obscurantismo e a negação das artes também foram uma marca do totalitarismo e das ditaduras que censuraram o próprio Chico no Brasil e em Portugal. Esse prêmio é uma resposta do talento contra o censura, do engenho contra a força bruta'” disse.

Após receber o prêmio das mãos do presidente Rebelo de Souza, Chico criticou o governo de Jair Bolsonaro e a falta de incentivo às artes durante o mandato do ex-presidente, e disse ter valido a pena esperar quatro anos para receber o prêmio.

Ele disse ter a impressão de que “um tempo bem mais longo havia transcorrido. No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foram um tempo em que o tempo parecia andar para trás”, disse o artista.

(…)

“Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados, ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo”, concluiu Chico.

Ele disse também ter herdado de seu pai, o escritor e historiador Sergio Buarque de Holanda, o amor pela língua portuguesa.

Além de Chico Buarque e dos presidentes do Brasil e de Portugal, estiveram presentes na cerimônia na cidade de Sintra a ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, e autoridades dos dois países.

 

“Formação cultural de diferentes gerações”

Um dos maiores nomes da MPB, Francisco Buarque de Holanda nasceu em 19 de junho de 1944, no Rio de Janeiro. Começou sua carreira musical na década de 1960 e se tornou um dos maiores compositores brasileiros. Entre os sucessos musicais de Chico, que tem cerca de 80 álbuns em sua discografia, estão A banda (1966), Apesar de você (1970), Cotidiano (1971), Construção (1971) e Amor barato (1981).

Em 1967, escreveu sua primeira peça de teatro, Roda Viva. No total, foram quatro incursões nesse gênero, sendo a última delas a Ópera do malandro, de 1978.

Em 1974, escreveu a novela Fazenda modelo, e em 1979, o livro infantil Chapeuzinho amarelo. Em 1991, publicou seu primeiro romance, Estorvo. O sucesso como escritor lhe rendeu três prêmios Jabuti, a premiação literária mais importante do Brasil, por Estorvo, melhor romance e livro do ano de ficção de 1992; Budapeste, livro do ano de ficção de 2004; e Leite derramado, melhor livro de ficção de 2010. Seu último livro, O irmão alemão, foi publicado em 2014.

Essa foi a primeira vez que um músico foi agraciado com o Prêmio Camões, que é um reconhecimento pela obra completa do artista. Ele foi eleito por unanimidade por um júri composto por representantes de Portugal, Brasil, Angola e Moçambique.

O júri justificou sua escolha pela “qualidade e transversalidade” da obra de Chico Buarque, “tanto através de gêneros e formas, quanto pela sua contribuição para a formação cultural de diferentes gerações em todos os países onde se fala a língua portuguesa”.

O peso literário das composições de Chico também foi destacado à época do anúncio do prêmio. “Evidente que esse prêmio é um reconhecimento pela poesia dele nas letras de música, que também são literárias, não só pelos livros. São poemas. Grandes poemas. A música Construção, por exemplo, é um poema até raro de se fazer”, afirmou o escritor Antonio Cícero, um dos brasileiros que compôs o júri, ao lado de Antonio Hohlfeldt, ao jornal Folha de S.Paulo.

 

Brasil e Portugal criaram “Nobel da língua portuguesa”

O Prêmio Camões foi criado em 1988 por Brasil e Portugal e contempla anualmente autores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O objetivo é distinguir “um escritor que, pela sua obra, contribua para o enriquecimento e projeção do patrimônio literário e cultural de língua portuguesa”.

O nome da premiação é uma homenagem ao poeta português Luís Vaz de Camões (1524-1580), autor da epopeia Os Lusíadas e considerado um dos maiores nomes da literatura lusófona.

Ao longo de sua história, 14 escritores brasileiros já foram agraciados com o prêmio, entre eles Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Rubem Fonseca e Lygia Fagundes Telles.

Nos termos do regulamento do Prêmio Camões, Portugal e Brasil organizam de forma alternada as reuniões e as cerimônias de entrega da distinção. O júri é composto por seis membros com mandato de dois anos. Os governos de Portugal e do Brasil designam dois membros cada, sendo os dois membros restantes designados de comum acordo de entre personalidades dos restantes países lusófonos – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Os agraciados com o prêmio recebem atualmente a quantia de 100 mil euros. Metade desse valor é subsidiado pela Fundação Biblioteca Nacional, entidade vinculada ao Ministério da Cultura do Brasil.

“O Prêmio Camões é uma das grandes conquistas do diálogo entre os países da língua portuguesa”, destacou o presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, afirmando que a distinção representa “uma espécie de Nobel” do idioma.

Fonte: Redação DW | 24 de Abril de 2023

 

Confira na Amazon as obras de Chico Buarque.

Ouça as músicas de Chico Buarque no YouTube.

 

Íntegra do discurso de Chico Buarque ao receber o prêmio Camões

Boa noite excelentíssimos senhores presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa; presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; primeiro ministro de Portugal, António Costa; ministra da cultura brasileira, minha amiga, Margareth Menezes; ministro da Cultura português, Pedro Adão e Silva; querida Janja da Silva; presidente do júri, professor Frias Martins; e tantos amigos e amigas aqui presentes, Fafá de Belém, Carminho, Mia Couto, Miguel de Sousa Tavares, Pilar del Río, meu editor brasileiro Luiz Schwarz, minha editora portuguesa, Clara Capitão, e minha mulher, Carol.

Eu estou emocionado porque hoje de manhã ela saiu do hotel, atravessou a avenida e foi comprar essa gravata. Isso me emociona. [Confira o contexto da ironia].

Ao receber este prêmio penso no meu pai, o historiador e sociólogo Sergio Buarque de Holanda, de quem herdei alguns livros e o amor pela língua portuguesa. Relembro quantas vezes interrompi seus estudos para lhe submeter meus escritos juvenis, que ele julgava sem complacência nem excessiva severidade, para em seguida me indicar leituras que poderiam me valer numa eventual carreira literária.

Mais tarde, quando me bandeei para a música popular, não se aborreceu, longe disso, pois gostava de samba, tocava um pouco de piano e era amigo próximo de Vinicius de Moraes, para quem a palavra cantada talvez fosse simplesmente um jeito mais sensual de falar a nossa língua. Posso imaginar meu pai coruja ao me ver hoje aqui, se bem que, caso fosse possível nos encontrarmos neste salão, eu estaria na assistência e ele cá no meu posto, a receber o Prêmio Camões com muito mais propriedade.

Meu pai também contribuiu para a minha formação política, ele que durante a ditadura do Estado Novo militou na Esquerda Democrática, futuro Partido Socialista Brasileiro. No fim dos anos sessenta, retirou-se da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em solidariedade a colegas cassados pela ditadura militar. Mais para o fim da vida, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, sem chegar a ver a restauração democrática no nosso país, nem muito menos pressupor que um dia cairíamos num fosso sob muitos aspectos mais profundo

O meu pai era paulista, meu avô, pernambucano, o meu bisavô, mineiro, meu tataravô, baiano. Tenho antepassados negros e indígenas, cujos nomes meus antepassados brancos trataram de suprimir da história familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias sangue do açoitado e do açoitador, o que ajuda a nos explicar um pouco.

Recuando no tempo em busca das minhas origens, recentemente vim a saber que tive por duodecavós paternos o casal Shemtov ben Abraham, batizado como Diogo Pires, e Orovida Fidalgo, oriundos da comunidade barcelense. A exemplo de tantos cristãos-novos portugueses, sua prole exilou-se no Nordeste brasileiro do século XVI. Assim, enquanto descendente de judeus sefarditas perseguidos pela Inquisição, pode ser que algum dia eu também alcance o direito à cidadania portuguesa a modo de reparação histórica.

Lula entrega prêmio Camões a Chico Buarque - Lisboa: 24.04.2023Já morei fora do Brasil e não pretendo repetir a experiência, mas é sempre bom saber que tenho uma porta entreaberta em Portugal, onde mais ou menos sinto-me em casa e esmero-me nas colocações pronominais. Conheci Lisboa, Coimbra e Porto em 1966, ao lado de João Cabral de Melo Neto, quando aqui foi encenado seu poema Morte e Vida Severina com músicas minhas, ele, um poeta consagrado e eu, um atrevido estudante de arquitetura.

O grande João Cabral, primeiro brasileiro a receber o Prêmio Camões, sabidamente não gostava de música, e não sei se chegou a folhear algum livro meu.

Escrevi um primeiro romance, Estorvo, em 1990, e publicá-lo foi para mim como me arriscar novamente no escritório do meu pai em busca de sua aprovação. Contei dessa vez com padrinhos como Rubem Fonseca, Raduan Nassar e José Saramago, hoje meus colegas de Prêmio Camões. De vários autores aqui premiados fui amigo, e de outras e outros – do Brasil, de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde — sou leitor e admirador.

Mas por mais que eu leia e fale de literatura, por mais que eu publique romances e contos, por mais que eu receba prêmios literários, faço gosto em ser reconhecido no Brasil como compositor popular e, em Portugal, como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim.

Valeu a pena esperar por esta cerimônia, marcada não por acaso para a véspera do dia em os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos.

Lá se vão quatro anos que meu prêmio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido, ou, quem sabe, se prêmios também são perecíveis, têm prazo de validade.

Quatro anos, com uma pandemia no meio, davam às vezes a impressão de que um tempo bem mais longo havia transcorrido.

No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele Governo foi derrotado nas urnas, mas nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça fascista persiste, no Brasil como um pouco por toda parte.

Hoje, porém, nesta tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o ex-Presidente [Bolsonaro] teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso Presidente Lula.

Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.

Muito obrigado.

Morreu o biblista James Aitken (1968-2023)

James Aitken morreu de infarto no dia 7 de abril de 2023. Ele era um conhecido pesquisador da Septuaginta (LXX) e professor da Universidade de Cambridge, Reino Unido.

O comunicado da SOTS diz:

“It is with immense sorrow that we write to inform you that Professor Jim Aitken died peacefully in the early hours of this morning, with his family by his side. A belovedJames Aitken (1968-2023) colleague, scholar, teacher, supervisor, and friend, Jim was held in high esteem and affection by all who knew him. As Professor of Hebrew and Early Jewish Studies, he commanded an international reputation, while here in Cambridge he provided distinguished leadership as Faculty Chair (2019-22), particularly during the pandemic. As we mourn his untimely passing, we extend our condolences to the members of his family and to his fiancée, Diana. We will be in touch again as further details become available”.

Alastair G Hunter – SOTS Membership Secretary

 

Suas áreas de pesquisa eram o texto e a linguagem da Bíblia Hebraica, a literatura e a história do judaísmo antigo, além da semântica hebraica. Uma área especial de pesquisa era a versão grega da Bíblia (a Septuaginta), incluindo sua linguagem, exegese e lugar na sociedade judaica do Segundo Templo.

Veja uma lista de suas publicações, em pdf, clicando aqui.

 

Da página da Universidade de Cambridge:

Professor Aitken studied at the Universities of Durham and Cambridge. He subsequently worked on projects on Hebrew semantics (Cambridge) and on the Greek Bible (Reading) before teaching Hebrew and Aramaic in the Faculty of Oriental Studies [AMES] (Cambridge), and then Jewish-Christian relations in the Centre for the study of Jewish Christian Relations (the Woolf Institute, Cambridge). He began teaching in the Faculty of Divinity in 2009.

Research Interests

Professor Aitken’s interests lie in the text and language of the Hebrew Bible, and in the literature and history of ancient Judaism. A particular area of research currently is the Greek version of the Bible (the Septuagint), including its language, exegesis and place within second temple Jewish society. He also works on Hebrew semantics and upon issues in ancient Jewish literature and history.

Morreu Wayne A. Meeks (1932-2023)

Morreu no dia 10 de janeiro de 2023 Wayne A. Meeks, importante pesquisador norte-americano na área de Novo Testamento e história social do cristianismo primitivo. Era Professor Emérito da Universidade de Yale.Wayne A. Meeks (1932-2023)

Em 1983 Wayne A. Meeks publicou uma obra que chamou a atenção: The First Urban Christians: The Social World of the Apostle Paul [Os primeiros cristãos urbanos: o mundo social do apóstolo Paulo. 2. ed. São Paulo: Academia Cristã/Paulus, 2022].

Usando a abordagem sociológica do funcionalismo estrutural, estudou a origem, posse e status social dos indivíduos das comunidades paulinas, e também os programas, a organização e o comportamento dos grupos mencionados no conjunto dos textos paulinos.

Ele chegou à conclusão de que o típico cristão paulino era o artesão livre e o pequeno comerciante, gente dotada de alta mobilidade social nas grandes cidades do Império Romano. Não teriam pertencido às comunidades paulinas nem o topo da pirâmide social da época (aristocratas donos de terras, senadores, cavaleiros etc.) e nem a base da pirâmide, constituída, então, pelos agricultores pobres, escravos agrícolas, trabalhadores braçais da roça, entre outros.

Leia mais sobre ele aqui, veja seu curriculum vitae em pdf e uma lista de suas obras na página da Amazon.

 

Wayne A. Meeks is Woolsey Professor of Biblical Studies Emeritus in the Department of Religious Studies, Yale University, where he taught from 1969 until 1999.

He was Chairman of the Department 1972-75, Acting Chairman 1978-79, 1982-83, and Director of the Division of the Humanities of the University 1988-91.

Earlier, he taught at Indiana University 1966-69 and Dartmouth College 1964-65.

Ordained a Presbyterian minister in 1956, he served as a university pastor for a time in Memphis and later at Yale.

He has been president of the two leading professional societies in his field, the Society of Biblical Literature (1985) and Studiorum Novi Testamenti Societas (2004-2005).

He holds an honorary doctorate from the University of Uppsala and is a fellow of the British Academy and of the American Academy of Arts and Sciences.

He is best known for his publications on the writings of the apostle Paul and on the Fourth Gospel, for his investigation of the social history of earliest Christianity, and for work on the formation of early Christian morality.

Bento XVI (1927-2022)

Morreu hoje Bento XVI, Papa Emérito, aos 95 anos de idade.

“É com pesar que informo que o Papa Emérito Bento XVI faleceu hoje às 9h34 [5h34 no horário de Brasília] no Mosteiro Mater Ecclesiae no Vaticano”, escreveu o perfil deBento XVI  1927-2022 notícias do Vaticano no Twitter.

Todas as postagens sobre Bento XVI publicadas no Observatório Bíblico. Em ordem cronológica, da mais recente à mais antiga:

:: O papel de Martini na eleição e renúncia de Ratzinger – 29.07.2015

:: Em carta a Küng, Bento XVI manifesta apoio a Francisco – 11.02.2014

:: Especiais sobre a renúncia de Bento XVI – 17.02.2013

:: A história dos quatro papas que renunciaram – 12.02.2013

:: A renúncia de Bento XVI: artigos e análises – 12.02.2013

:: Papa Bento XVI anuncia renúncia – 11.02.2013

:: Hans Küng e Roma – 31.10.2009

:: Martini e Doré apresentam livro do Papa em Paris – 25.05.2007

:: Geza Vermes resenha livro do Papa sobre Jesus – 20.05.2007

Leia também:

As mortes que marcaram 2022 – G1: 29.12.2022

Morreu o professor David Clines (1938-2022)

David J. A. Clines, importante estudioso de Bíblia, de origem australiana, morreu em Sheffield no dia 8 de dezembro de 2022.

David J. A. Clines nasceu em Sydney, Austrália, em novembro de 1938 e morreu em Sheffield, em 8 de dezembro de 2022. Ele viveu na Inglaterra desde 1961, masDavid J. A. Clines (1938-2022) permaneceu cidadão australiano. Seu primeiro diploma, na Universidade de Sydney, foi em grego e latim. Continuou seus estudos em Cambridge, especializando-se em Estudos Orientais (hebraico, aramaico e siríaco). Em 1964 foi nomeado Professor no Departamento de Estudos Bíblicos da Universidade de Sheffield, onde passou toda a sua carreira acadêmica.

Sua especialidade sempre foi a Bíblia hebraica e sua contribuição foi a introdução de novos métodos de leitura da Bíblia, ao mesmo tempo em que trabalhava com as formas tradicionais de estudo como, por exemplo, seu comentário sobre Jó e a redação do Dicionário de Hebraico Clássico.

 

David J.A. Clines, a leading biblical scholar in the UK, was born in Sydney, Australia, in November 1938 and died in December 2022 (funeral, memorial service and memorial symposium details now available). He lived in England from 1961, but remained an Australian citizen. His first degree, at the University of Sydney, was in Greek and Latin (BA 1960). He won a travelling scholarship to continue his studies at St John’s College, Cambridge, where he read the Oriental Tripos in Hebrew, Aramaic and Syriac (BA 1963, MA 1967). In 1964 he was appointed Assistant Lecturer in the Department of Biblical Studies at the University of Sheffield, where he spent the whole of his academic career (apart from a temporary appointment in California in 1974–75), becoming in turn Lecturer, Senior Lecturer and Reader. In 1985 he was appointed Professor of Biblical Studies.

His specialism has always been the Hebrew Bible, and his distinctive contribution has been the introduction of new methods of biblical criticism (e.g. rhetorical criticism, reader-response criticism, deconstruction, feminist criticism). At the same time, he has made significant contributions to traditional forms of study, for example his commentary on Job and his editorship of the Dictionary of Classical Hebrew.

Leia A short academic obituary. Veja uma lista das obras de David J. A. Clines.

Morreu a biblista Romi Auth

Morreu, no dia 8 de dezembro de 2022, a Ir. Romi Auth, FSP.

Romi Auth era religiosa da Congregação das Filhas de São Paulo (Paulinas). Bacharel em Filosofia e Teologia e Mestra em Teologia Bíblica pela Pontifícia UniversidadeRomi Auth Gregoriana, Roma, Itália. É autora de livros de teor teológico e bíblico da Paulinas Editora. Atuava no Projeto Bíblia em Comunidade do SAB/Paulinas.

Romi pertenceu ao grupo dos Biblistas Mineiros.

Morreu John P. Meier (1942-2022)

Morreu no dia 18 de outubro de 2022, aos 80 anos de idade, o biblista norte-americano John P. Meier. Fui contemporâneo dele no Bíblico de Roma. Eu fazia o mestrado, ele o doutorado.

Muito conhecido entre nós por sua monumental obra sobre o Jesus Histórico, Um judeu marginal: repensando o Jesus histórico, em 5 volumes, publicados, em inglês,John P. Meier (1942-2022)
entre 1991 e 2016.

Leia uma resenha do primeiro volume de Um Judeu marginal feita por Johan Konings em 1993.

Confira, abaixo, dois textos sobre ele. Um em espanhol, outro em inglês.

 

Fallece J. P. Meier, autor de la investigación más documentada y extensa sobre la vida de Jesús – El Blog de X. Pikaza – 19.10.2022 Xabier Pikaza

Acaba de morir J. P. Meier, noticia tristísima para todos los “amigos” de la historia de Jesús. Fui compañero suyo en el Bíblico de Roma, aunque no tuvimos ocasión de relacionarnos.

Después he seguido apasionadamente su obra, que he comentado varias veces en RR y en mis libros sobre la historia de Jesus.

J. P. Meier sido un historiador ejemplar. He discutido algunos de sus planteamientos, en especial su manera de catalogar y analizar las parábolas. He respondido a su visión del proyecto de Jesús en mi Historia de Jesús. Pero sin él y muchos como él no podríamos haber conocido la trayectoria del proyecto de Jesús. Editorial Verbo Divino ha publicado su obra sobres Jesús. Descansa en paz, sentimos tu ausencia. Sigues estando con nosotros. A mis amigos y colegas de Verbo Divino quiero dar gracias por haber publicado fielmente tu obra: He was the world’s leading scholar of the historical Jesus.

Compendio de su obra

Sacerdote y teólogo católico norteamericano, nacido en New York. Estudió en la Universidad Gregoriana y en el Instituto Bíblico de Roma. Ha sido presidente de la Catholic Biblical Association y profesor de la Universidad Católica de Washington y de de la de Notre Dame. Ha escrito varios libros sobre Jesús y el Nuevo Testamento: Law and History in Matthew’s Gospel (Roma 1976); The Vision of Matthew: Christ, Church and Morality in the First Gospel (New York 1979); Antioch and Rome: New Testament Cradles of Catholic Christianity (en collaboración con R. E. Brown, Philadelphia 1983).

Es autor de la investigación más documentada y extensa sobre la vida de Jesús: A Marginal Jew: Rethinking the Historical Jesus I-IV (New York 1991/2009; versión castellana: Un judío marginal. Nueva visión del Jesús histórico I-V, Estella 1998-2018). Meier presenta a Jesús como pretendiente mesiánico, maestro sabio y carismático asesinado, a lo largo de una obra enciclopédica, escrita de forma clara, atractiva y apasionada que constituye, posiblemente el mejor trabajo histórico actual sobre la historia de Jesús.

Meier ha desarrollado una visión multiforme de Jesús, a quien presenta, por otra parte, como la figura más rica y variada del judaísmo de su tiempo, desde una perspectiva histórica y no dogmática. Su trabajo seguirá marcando el pensamiento cristiano de los próximos decenios.

Así resume su visión de Jesús: «Simplemente, como dato fáctico, podemos decir: ningún judío individual de los que podamos identificar, que viviera en Palestina, en aquel tiempo de cambio de era, ha encarnado en sí mismo y, ciertamente, en una carrera que sólo ha durado unos pocos años esta variedad de funciones: (1) Predicador itinerante, (2) profeta escatológico, (3) heraldo del Reino de Dios, (4) hacedor de milagros (así se le suponía), 5) maestro e intérprete de la Ley de Moisés, (6) maestro de sabiduría y tejedor de parábolas y aforismos, (7) gurú personal y líder de una banda itinerante de discípulos, varones y mujeres, (8) profeta judío de Galilea, que terminó siendo crucificado en Jerusalén por el prefecto romano, a causa de su pretensión de ser Rey de los Judíos. (9) Hijo de David…» (cf. Jesús: Un coloquio en tierra santa, Estella 2004, 107-108) (Pikaza, Diccionario pensadores cristianos)

Leia o texto completo.

 

Biography

A native New Yorker, Dr. Meier obtained a BA in philosophy from St. Joseph Seminary, Dunwoodie. He obtained a Licentiate in Theology summa cum laude with the gold medal awarded at the Gregorian University, Rome, and a Doctorate in Sacred Scripture summa cum laude with the gold medal awarded at the Biblical Institute in Rome. His doctoral dissertation was published in the Analecta Biblical series of the Institute.

He taught at St. Joseph Seminary, Dunwoodie (12 years) and Catholic University, DC (14 years), before coming to Notre Dame (20 years).

His scholarly interests include the Gospels of Matthew and John, New Testament Christology, the historical Jesus, and Palestinian Judaism around the turn of the era.

His major publication project has been a detailed study of the historical Jesus, entitled A Marginal Jew, presently in five volumes. In retirement, he continues to offer courses at Notre Dame while working on Volume Six of A Marginal Jew.

He was ordained a Catholic priest at the Altar of the Chair in St. Peter’s Basilica, Rome, in 1967, and was made an Honorary Prelate of the Papal Household (Monsignor) by Pope John Paul II in 1994.

Morreu o biblista Johan Konings (1941-2022)

Morreu em Belo Horizonte, no dia 21 de maio de 2022, aos 80 anos de idade, em decorrência de um aneurisma cerebral, o biblista Johan Konings. Konings era um dos mais ilustres membros do grupo dos Biblistas Mineiros.

Johan Maria Herman Jozef Konings era Mestre em Filologia Bíblica (1968) e Doutor em Teologia Bíblica pela Universidade Católica de Lovaina, Bélgica (1972). Veio aoJohan Konings (1941-2022) Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Foi professor de exegese bíblica na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (1972-1982) e na PUC do Rio de Janeiro (1984). Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, onde recebeu o título de Professor Emérito em 2011.

Konings está presente no Observatório Bíblico em várias postagens. Confira aqui.

No site da CNBB, leio:

Faleceu neste sábado, 21 de maio, às 16h, em Belo Horizonte (MG), em decorrência de um aneurisma cerebral, o padre jesuíta Johan Konings, filósofo, filólogo e doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina (Bélgica). Ele era professor titular da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE e autor de vários livros. Padre Johan encontrava-se internado, desde ontem, no hospital Madre Tereza, na capital mineira.

(…)

Natural da Bélgica e radicado no Brasil desde 1972, padre Johan Konings foi membro da equipe, composta pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se dedicou à coordenação de Tradução e Revisão oficial da Bíblia que é referência para a Igreja no Brasil.

O trabalho de tradução, que levou 11 anos, foi oficialmente lançado no dia 21 de novembro de 2018, durante a reunião do Conselho Permanente da CNBB, em Brasília (DF).

Ele também participou como perito na XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Roma, em 2008, com o tema “A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja”.

(…)

Dedicou-se principalmente à exegese dos Evangelhos, especialmente ao de João, e à hermenêutica e tradução da Bíblia. Foi organizador da Tradução Ecumênica da Bíblia (1994) e da tradução do Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral (Denzinger-Hünermann), primeira edição (2007) e segunda edição atualizada em 2013. Era membro da Society of New Testament Studies (SNTS) e da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB).

Veja no Youtube:

Tributo ao Prof. Dr. Johan Konings: celebração dos seus 80 anos

Missa de Corpo Presente do Padre Johan Konings – Transmitido ao vivo em 22 de maio de 2022

Leia:

Johan Konings – *1941 – +2022. Foi um dos tradutores da bíblia oficial no Brasil – Jesuítas Brasil: IHU – 23 de maio de 2022

Homenagem ao Pe. Johan Konings, SJ – Patrus Ananias: IHU – 23 de maio de 2022

Dos “sinais” à “glória”: Johan Konings, ouvinte e servidor da Palavra – Geraldo De Mori: IHU – 27 de maio de 2022

Confira as publicações de Johan Konings na Amazon.com.br e no WorldCat.