A visita dos Magos: Mt 2,1-12
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1. O método: prestar atenção a três momentos
:: Nosso tempo
O texto é lido HOJE, século XXI: as razões de nossa leitura – A leitura
:: Tempo do evangelho
O texto é escrito por Mateus para uma COMUNIDADE, nos anos 80-90 d.C.: as razões da escrita – A escritura
:: Tempo de Jesus
O texto conta certos acontecimentos com pessoas agindo ao redor de JESUS, nos anos 8-6 a.C.: as razões das ações – O acontecimento
Defeitos a evitar:
. saltar da leitura para o acontecimento: não é uma reportagem – leitura ingênua
. ler mal o texto, vendo o que está em nossa cabeça (pressuposições) e não o que o texto diz – ideologia
A chave para entender o texto:
. leitura: comunidade atual (o exegeta esclarece)
. escritura: comunidade primitiva (o evangelista esclarece)
>> A COMUNIDADE é a ponte que nos liga através de dois mil anos de história, pois: é cristã – tem projeto de… – daí, a fé é compromisso com…
10 tempo: olhar o texto – A leitura
. ler
. observar as ações: o que cada pessoa faz
. observar os personagens: o papel que cada pessoa representa
. observar as relações entre os personagens: a disposição do texto
. tentar achar a razão central que movimenta todos: a oposição central
20 tempo: olhar a situação da época do autor – A escritura
. quem escreveu o texto
. quando
. para quem escreveu
. como era a situação da época, ou, que problemas estavam acontecendo na comunidade
. como o autor responde aos problemas: a organização de Mt 1-2
. quais os recursos que o autor usa para responder aos problemas: o gênero literário
30 tempo: olhar a situação da época dos fatos – O acontecimento
. três personagens: Herodes, magos, chefes dos sacerdotes e escribas do povo
. três situações (coisas, lugares): estrela, Belém, presentes
Conclusão
. Por que a mensagem é atual?
. Voltar ao 10 tempo: compromisso comunitário, cristão, hoje.
A Folia de Reis
1. Com licença morador
Boa tarde, como vai?
Quem vem lhe trazer bênção
É a visita de nosso Pai.
2. Ô que hora tão bonita
Que a estrela apareceu
Oi, clareou lá em Belém
Onde que Jesus nasceu.
3. O sinal mais importante
Que neste mundo foi visto
Foi quando apareceu a estrela
Mas que clareia Jesus Cristo.
4. Apareceu aquele sinal
Que clareou o mundo de luz
Chegou o tempo o dia e a hora
Do nascimento de Jesus.
5. Quando o bom Jesus nasceu
De toda a parte souberam
Aí para adorar o nascimento
Foi que os Reis Magos vieram.
“A Folia de Reis é um espaço camponês simbolicamente estabelecido durante um período de tempo igualmente ritualizado, para efeitos de circulação de dádivas – bens e serviços – entre um grupo precatório e moradores do território por onde ele circula (…) Ao constituir o espaço simbólico da jornada dos Reis, a Folia transporta para dentro dele, com nomes e proclamações de bênçãos: as pessoas, os animais, os objetos e as trocas do próprio mundo camponês. Assim, os mesmos homens do trabalho agrário cotidiano aparecem por sete dias revestidos de cumplicidade com os mitos populares de uma história sagrada que todos conhecem por ali (…) Tudo o que fazem é recontar, nos versos e no que eles comandam, a jornada da busca de um Deus nascido pobre, por Três Reis Magos (muito mais nomeados como ‘santos’ do que como ‘magos’ ou ‘sábios’), entre trocas de ofertas de dons e contradons (…) Aí então (…) as palavras da cantoria proclamam a própria vida e a morte da gente do lugar“, explica BRANDÃO, C. R. Sacerdotes de viola: rituais religiosos do catolicismo popular em São Paulo e Minas Gerais. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 36;40-41;50-51.
2. Como é construído Mt 2,1-12?
Os personagens
. Jesus Cristo
. Os magos
. Herodes
. Toda Jerusalém
. Chefes de sacerdotes e escribas do povo
. Maria
. O profeta
Os personagens centrais, entretanto, são
. Os magos
. Herodes
. Jesus Cristo
O texto de Mt 2,1-12
1. Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém,
2. perguntando: “Onde está aquele que nasceu* rei dos judeus? Com efeito, vimos sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo”.
3. Ouvindo isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém.
4. E, convocando todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo.
5. Eles responderam: “Em Belém da Judeia, pois é isto que foi escrito pelo profeta:
6. E tu Belém, terra de Judá,
de modo algum és o menor entre os clãs de Judá,
pois de ti sairá um chefe
que apascentará Israel, o meu povo”.
7. Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido.
8. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: “Ide e procurai obter informações exatas a respeito do menino e, ao encontrá-lo, avisai-me, para que também eu vá homenageá-lo”.
9. A essas palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que tinham visto no seu surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde se encontrava o menino.
10. Eles, revendo a estrela, alegraram-se imensamente.
11. Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.
12. Avisados em sonho que não voltassem a Herodes, regressaram por outro caminho para a sua região.
Tradução da Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002, 2a impressão, 2003.
*. A tradução da Bíblia de Jerusalém “O rei dos judeus recém-nascido” é incorreta. O grego diz: “Poû estin ho techtheìs basileùs tõn Ioudaíôn“. Techtheìs: particípio aoristo passivo nominativo masculino singular do verbo tíktô, “nascer”.
Mt 2,1-12 pode ser dividido em 4 partes, cada uma composta de três elementos:
1a) vv. 1-2: os magos chegam a Jerusalém
a. Jesus nasceu em Belém
b. Magos do Oriente vieram a Jerusalém
c. Os magos perguntaram por aquele que nasceu rei dos judeus
2a) vv. 3-6: Herodes e os doutores judeus
a. Herodes ouviu e ficou alarmado
b. Herodes convocou os especialistas e procurou saber
c. Os doutores judeus responderam
3a) vv. 7-9a: Herodes e os magos
a. Herodes chamou os magos
b. Herodes enviou-os a Belém
c. Os magos partiram
4a) vv. 9b-12: Os magos chegam a Belém
a. Os magos reviram a estrela, que parou sobre o lugar
b. Os magos entraram onde estava o menino e o homenagearam
c. Os magos ofereceram-lhe presentes e regressaram para sua terra
Mt 2,1-12 é composto segundo o princípio usual da oposição simétrica dos elementos, uma disposição conhecida como paralelismo antitético:
10) Os magos chegam a Jerusalém
20) Herodes e os doutores judeus
30) Herodes e os magos
40) Os magos chegam a Belém
O mesmo paralelismo antitético visto de outra maneira:
. Os magos chegam a Jerusalém x Os magos chegam a Belém
. Herodes e os doutores judeus x Herodes e os magos
Outras propostas para arranjar o paralelismo antitético são possíveis, como a seguinte:
A. vv. 1-2: Os magos procuram o rei dos judeus em Jerusalém, lugar do poder despótico de Herodes
B. vv. 3-6: As autoridades dos judeus não encontram Jesus
C. vv. 7-8: Herodes quer homenagear Jesus
A’. vv. 9-10: Os magos dirigem-se a Belém, lugar da dinastia davídica
B’. v. 11: Os magos, sábios gentios, encontram Jesus
C’. v. 12: Herodes quer matar Jesus[1]
As principais oposições são:
. Jerusalém x Belém
. Doutores judeus x Magos gentios
. Matar Jesus x Homenagear Jesus
Entretanto, a oposição fundamental, que preside todo o conjunto é:
As elites judaicas rejeitam Jesus x Sábios gentios aceitam Jesus
>> Este é o recado central do texto.
Entretanto: isto aconteceu de fato?
[1]. Cf. PERROT, C. As narrativas da infância de Jesus: Mt 1-2 – Lc 1-2. São Paulo: Paulus, 1982, p. 43.
Última atualização: 27.04.2019 – 13h10