Gênese, crise e desafios da Teologia da Libertação
…três ordens de fatores e (…) cinco aspectos eclesiais, combinados entre si, estão na raiz da Teologia da Libertação. Esta nasce e se desenvolve como uma reflexão crítica a partir da práxis libertadora dos cristãos. Ou seja, num primeiro momento desenrola-se em inúmeros grupos, movimentos e pastorais sociais a luta pela libertação; só depois, num segundo momento, é que se desenvolve a reflexão teórica. Esta, no decorrer do tempo torna-se simultaneamente causa e efeito de novas lutas e novas sínteses reflexivas. Instala-se o que Juan Luis Segundo irá chamar de círculo hermenêutico: a consciência sobre a realidade opressiva leva a uma prática libertadora, a qual alimenta uma reflexão teórica que, por sua vez, retroage sobre a realidade, renovando e aprofundando a ação social e política (…) Mas um dos maiores desafios que hoje se coloca à TdL é, sem dúvida, o pluralismo cultural e religioso, como uma das principais características da chamada pós-modernidade. Leia o texto completo do Pe. Alfredo J. Gonçalves na Adital – 27.06.2007.
A Teologia da Libertação está viva
A história faz-se às vezes como ondas que vão e vêm. Mas nunca se consegue destruir os ventos da libertação e a palavra profética, a coragem de enfrentar os poderes, anunciar a justiça e construir a solidariedade. Sempre há um São Francisco, um Bartolomeu de las Casas, um D. Oscar Romero, sempre surge um Santo Dias, um Chico Mendes, uma Dorothy Stang. Ou um D. Luciano Mendes de Almeida, um Adriano Hypólito, um Ivo Lorscheiter, um Helder Câmara, que foram, cada um a seu tempo, portadores do novo e protagonistas do futuro. E sempre de novo surgem os mártires do povo, muitos dos quais nunca vai se ouvir falar, mas que no chão da vida doam seu sangue por um novo céu e uma nova terra, pelo Reino. Leia o texto completo de Selvino Heck na Adital – 31.05.2007 [link quebrado: 21.08.2010 – leia sobre este mesmo tema aqui].
Vida e morte da Teologia da Libertação
A Teologia da Libertação quer pensar a fé cristã respondendo às perguntas dos aflitos. A Teologia da Libertação continua viva ao preocupar-se com os novos pobres do continente e assumir-se como uma teologia da compaixão. Leia o texto completo de Fernando Altemeyer Júnior na Adital – 14.05.2007
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Conservadorismo político-religioso na Internet
Mês: julho 2007
Religião e formação de classes na antiga Judeia 4
4. Crise agrária, revolta dos camponeses e reforma de Neemias (446-432 a. C.)
4.1. O surgimento das cidades áticas, especialmente de Atenas…
:: Crise agrária na Judeia
4.2. Ne 5,1-5 narra um conflito social na Judeia. Há três grupos de queixosos:
. alguns empenharam seus filhos (escravidão por dívida) para receber alimentos
. outros hipotecaram suas terras na época da fome
. outros ainda, por não ter pago os impostos, tiveram que vender seus filhos como escravos
> Há determinada sequência na formação da dependência: primeiro penhoram-se os filhos (escravidão), depois a terra.
> A penhora dos filhos é a ‘ârab: o devedor insolvente tem que trabalhar para seu credor até saldar sua dívida. Mas se não for possível esta retribuição direta, ele e sua família podem ser vendidos a um terceiro como escravos por dívida e o credor recebe o seu preço.
4.3. Os casos de empobrecimento de um israelita e as respectivas soluções são as seguintes, segundo Lv 25,23-55:
. ele, o empobrecido, vende seu campo ou sua casa
. ele recebe dinheiro ou víveres como empréstimo
. ele é vendido a um israelita
. ele é vendido a um estrangeiro
4.4. Aí aparece o seguinte: a venda do campo ao goel agnático era o primeiro passo que levava um camponês à pobreza. A escravidão do chefe de família vem em segundo lugar. É o contrário de Ne 5.
4.5. Examinemos o caso 2 de Ne 5,1-5: o caso daqueles que têm campos, vinhas, casas e oliveiras (v. 11) e que tiveram que empenhá-los durante uma penúria. Trata-se de penhora cujo usufruto foi transferido ao credor. Ou seja: o credor tem direito aos produtos excedentes.
4.6. Como aparece também em Mq 2,1 (“Ai daqueles que planejam…”) os credores podiam se apropriar com facilidade dos campos e das casas dos outros. Se o camponês que penhora sua produção não produzir o suficiente, acaba na escravidão. A penhora permite ataque direto do credor à propriedade e à família do devedor. E, como nos mostra o papiro 10 de Cowley (papiros de Elefantina, séc. V a.C.) – cf. p. 55 – é desproporcional o tamanho da penhora em relação ao empréstimo feito.
4.7. A crise do tempo de Neemias, que aparece em Ne 5, pode ter tido vários motivos, como:
. piora da qualidade da terra
. mau tempo que prejudicou a colheita
. crescimento do número de familiares
. divisão e diminuição das terras por causa da herança
. exigências estatais de pagamentos de impostos sobre o terreno, de acordo com seu tamanho
. e pior: este imposto tinha que ser pago em moedas
> Daí: quem já tivesse hipotecado seus campos e sua produção precisava vender filhos e filhas como escravos.
4.8. A terminologia desta formação de classes:
. ‘ebed: escravo, servo: é o último grau de dependência, é quando uma pessoa se torna objeto de compra. Há distinção entre escravo estrangeiro (permanente) e escravo israelita, por dívida, que deve ser libertado no sétimo ano (Ex 21,2;Lv 25,39-41;Dt 15,12).
. sâkîr: operário: é o caso de quem perdeu suas terras e resgatou suas dívidas pelo trabalho.
. tôshâb: morador: é o estrangeiro domiciliado em Israel com situação jurídica e social específica.
. ‘ikkâr: lavrador: citado em 7 textos do AT, indica em três deles um camponês dependente do dono da terra: Is 61,5; 2Cr26,10 e Jl 1,11. É possível, por causa da data destes textos, que esta dependência só tenha acontecido no pós-exílio.
4.9. Voltemos à crise da época de Neemias, como aparece em Ne 5,6-12:
. v. 7: “repreendi os nobres (hôrîm) e os magistrados (seganîm)
. Estes são os credores, dos quais muitos judeus dependiam: são da classe alta, pessoas de posses. Por que a repreensão de Neemias? É que o endividamento tinha como objetivo levar à venda (ao estrangeiro) o judeu empobrecido. É que estava florescendo o comércio de escravos no Mediterrâneo.
4.10. As providências tomadas por Neemias:
. foi uma anistia: renúncia às rendas (pelos credores) das terras hipotecadas
. consequência: exclusão da escravidão do judeu ao estrangeiro (se a lei tiver funcionado…)
. mas: não houve distribuição de terras para os sem-terra.
:: Revolta dos camponeses e religião
4.11. A queixa dos camponeses era contra três tipos de dependência:
. serviço para pagar as dívidas
. obrigação de pagar juros e tributos
. escravidão
> A queixa era baseada no conceito de fraternidade/solidariedade judaica, fundamentado na relação de parentesco. Desapropriação e escravidão não são compatíveis com esta ordem jurídica. Os conceitos de ‘âh = irmão, ‘âmît = compatriota e rê’a = amigo não são puramente intelectuais, mas designam os membros de uma sociedade solidária.
4.12. O cap. 25 do Levítico trata desta questão, da igualdade entre irmãos para todos os judeus, ao falar do sábado e do ano jubilar.
4.13. Mas para se entender bem este capítulo é preciso considerar a situação de sacerdotes e levitas em Israel no pós-exílio.
> O culto e o sacerdócio não tinham propriedades, dependiam do tesouro do Estado (Esd 4,3;5,1-17;6,4-9 etc). Sacerdotes e levitas viviam da contribuição dos camponeses, estando eles mesmos isentos de contribuição (Esd 7,24). Prestavam serviços em Jerusalém só de tempos em tempos, morando, no mais, em suas cidades e aldeias (Ne 11,20.36; 1Cr 24,1-19). Segundo o Dt os levitas não têm herança, terra, e são juridicamente iguais aos gerîm (estrangeiros residentes): mas esta é a visão dos levitas sobre si mesmos, uma vez que há indícios de que alguns sacerdotes e levitas possuíam terras (Jr 1,1;32,6-15; Am 7,17: estes são da nobreza; Ne 11,20;13,10; Lv 27,21 etc.) Era permitido aos levitas usar os prados comunitários (migrâsh) das cidades (‘îr): Js 14,4; Lv 25,34; Nm 35,1-8; 1Cr 6,39-41.
4.14. Lv 25 determina que:
. se o irmão deve vender seu terreno, então o parente agnático mais próximo deve comprá-lo
. se isto não for possível, no 49º ou 50º ano o antigo dono deve receber de volta sua propriedade vendida
. se o irmão receber empréstimo em dinheiro ou víveres, não se deve cobrar dele nem juros, nem quantidade maior de víveres
. se é vendido a israelita, não deve prestar serviços de escravo, mas deve ser considerado como um tôshâb (estrangeiro residente) ou um diarista. No ano jubilar esta condição de empregado termina e ele deve voltar ao seu clã
. se o irmão for vendido a estrangeiros como escravo, deve ser resgatado pelo parente mais próximo. Caso contrário, deve ser libertado no ano jubilar
4.16. Todas as cláusulas tentam evitar a formação de classes. Exige-se a solidariedade na forma de resgate e de ajuda ao vizinho, mas também há duas concepções teológicas específicas: o ritual do ano jubilar e o direito sagrado à terra (a terra é de Iahweh).
4.17. Lv 25,23 liga a ideia de propriedade sagrada da terra à regra da organização do clã israelita:
. a posse da terra é direito de usufruto e não de propriedade: é uma relação de posse, não uma relação jurídica, baseada na posse concreta da terra
. segue-se que a dívida não confere ao credor direito de propriedade, nem da terra nem do homem, mas apenas uso limitado, como paga pelo empréstimo
. o tempo de uso é de 49 anos
. unem-se três normas com o postulado do direito de uso:
– a ge’ulla (resgate da terra): o direito preferencial de compra da terra
– o direito de resgate das casas
– o resgate de israelita que cai na escravidão estrangeira.
4.18. É provável que esta casuística jamais tenha funcionado. Mas o importante é: segundo estas formulações, a solidariedade não se baseia mais na relação de parentesco, mas na relação sagrada da propriedade da terra e do homem. Este é o conceito que preside à queixa dos camponeses em Ne 5: um amplo conceito de “irmão” que ultrapassa as normas estritas de parentesco.
4.19. A regra do ano jubilar está em contradição com a norma do resgate imediato da terra e do escravo e do ano sabático: é porque estas regras não funcionam mais que se tem de exigir a regra dos 49 anos.
> O ano jubilar, primitivamente, devia indicar a nova divisão das terras entre as famílias dos clãs. Se o clã, no pós-exílio, fosse igualitário, não haveria necessidade de leis de devolução da terra. É sinal, o ano jubilar, de estratificação social, onde uma aristocracia, criada no interior do clã, tende a excluir os mais pobres.
4.20. Agora, por que o sentido religioso, dado pelos sacerdotes, à posse da terra, propriedade de Iahweh? Coincidência de interesses dos camponeses e sacerdotes/levitas empobrecidos. A classe sacerdotal sem terras estava interessada no controle público das terras e não na privatização da propriedade da terra. Só assim ela poderia ter certeza das contribuições para o Templo e para os seus agentes.
4.21. A consequência ideológico-política: instituições camponesas de solidariedade adquiriram fundamento religioso e teológico [Diese Konstellation von Interessen hatte zur Folge, daß Institutionen bäuerlicher Solidarität religiös begründet wurden].
:: Constituição tradicional da Judeia no tempo de Neemias
4.22. A Judeia da época de Neemias é também obra dos dominadores persas, que favoreceram a criação de um Estado sacerdotal (em oposição a um Estado político) como forma de manter o controle.
. Nos documentos de Esdras/Neemias distinguem-se israelitas, sacerdotes e levitas como grupos específicos (Ne 11,9.14.22).
. Através de uma carta enviada de Elefantina aos judeus de Jerusalém em 410 a.C., sabemos que havia um governador persa, uma comunidade sacerdotal com o seu chefe e uma comunidade aristocrática com o seu chefe.
4.23. E aparece determinada ordem social em Ne 10,31-38 (cf. texto). Esta ordem se fundamenta na tradição religiosa judaica e reflete a resistência do povo contra os interesses da aristocracia quer desejava se desligar das instituições tradicionais da religião/sociedade judaicas.
Especialmente:
v. 32b: a restrição da penhora (Ne 5)
vv.33.36.37b: o dízimo para os levitas (Ne 13,10)
v. 32a: a proibição de negociar no sábado (Ne 13,15)
v. 31: a proibição do casamento com estrangeiras (Ne 13,23)
v. 32b: o descanso da terra a cada 7 anos (cf. p. 67 para os motivos)
> São normas que vão contra os interesses aristocráticos. A reforma de Neemias favoreceu os camponeses da tribo.
4.24. “Neemias, o governador persa da província, assumiu os ideais dos camponeses devedores. Em nome do poder central baixou normas que protegiam os camponeses nativos, bem como o Templo contra um capitalismo comercial do tipo das cidades gregas” (p. 71-72).
Leia em seguida:
Capítulo 9: Oposição da religião à política – Opposition der Religion gegen die Politik
Religião e formação de classes na antiga Judeia 3
3. Condições da economia na região montanhosa da Judeia no tempo do domínio persa (539-332 a. C.)
:: Discussão sobre a economia doméstica fechada
3.1. A partir da época persa a família (bêt ‘âb) tornou-se a unidade econômica fundamental, e não mais o clã. Também na Grécia e na Itália: o óikos, a família, formava a unidade fundamental da economia.
3.2. A questão da “economia doméstica fechada” [geschlossene Hauswirtschaft]…
3.3. A pergunta fundamental: surgiu algum progresso econômico que ameaçou as relações de parentesco da sociedade judaica? [Gab es wirtschaftliche Entwicklungen, die den Zusammenhalt der nach Verwandtschaftsgruppen organisierten judäischen Gesellschaft bedrohten?]
3.4. As fontes:
. os livros de Esdras, Neemias, Crônicas
. os papiros de Elefantina
. os livros de Ageu, Zacarias, Malaquias, Joel, partes de Ezequiel e Isaías, Jó e Rute
. os escritos sacerdotais
:: Agricultura
3.5. A província da Judeia, sob domínio persa, estava quase que só na região montanhosa. Somente no nordeste ela se estendia um pouco pela planície do Jordão.
. Na região montanhosa, o cultivo dependia das chuvas. Na planície era possível a irrigação e a rentabilidade era maior.
. As encostas íngremes das montanhas do leste impossibilitavam o aproveitamento da terra, enquanto que a região que descia para a planície costeira era mais favorável, só que a terra é calcária, desenvolvendo-se ali apenas plantas de raízes profundas como a oliveira, a parreira e a figueira.
3.6. Através de Ag 1,11 sabemos que na Judéia se cultiva o trigo, a vinha e a oliveira.
. Também Nm 5,11;13,15 diz que estas são as plantas principais da Judeia no século V a.C.
. Convém lembrar-se também da criação de gado, favorável na Judeia.
. Outros testemunhos que apontam na mesma direção: Eupólemo (séc. II a.C.) e a Carta de Aristéias a Filócrates (séc. II a.C.)
3.7. O cultivo da oliveira era menos trabalhoso do que o do trigo. E podia ser feito em terrenos ruins para o trigo. Só que este cultivo exige riquezas, já que a oliveira só dá lucro dez anos depois de plantada.
3.8. Na Ática e na Itália…
3.9. Os casos da Ática e da Itália nos ensinam que o tipo de aproveitamento da terra (como na Judeia) dependia:
. da existência de uma aristocracia que dispusesse de dinheiro
. da possibilidade de troca de derivados da azeitona e da uva pelo trigo.
3.10. Pelo menos este último fator já existia no tempo de Neemias: Ne 10,32 supõe que o ‘am hâ’ârets vendia, em Jerusalém, além de outras coisas, trigo trazido de outra região. É possível que a produção de trigo da Judeia não fosse suficiente para o consumo. Neste caso, os seus habitantes deveriam produzir derivados de azeitona e de uva e manufaturados para trocar pelo trigo.
:: Profissão e comércio
3.11. A mais antiga profissão em Israel era a de hârâsh, da raiz hrsh, “talhar”. Era o “artífice” que trabalhava com metal, pedra e madeira, podendo ser: lapidador, marceneiro, carpinteiro, pedreiro, ferreiro, serralheiro, armeiro, fundidor.
> Alguns profissionais – todos? – estavam organizados em clãs (Ne 3,8.31-32;1Cr 2,55;4,21.23 etc).
3.12. O comércio era feito por atacado e varejo nas cidades. Por ex., os habitantes de Tiro traziam peixes e mercadorias variadas para vendê-las em Jerusalém no sábado (Ne 13,16). Também os habitantes de Judá faziam isso (Ne 13,15).
> O comércio internacional é pouco documentado nesta época. Para o início do séc. VI a.C. existe Ez 27. Esd 3,7 indica que Judá exportava para Sídon “víveres, bebidas e óleo”. Enquanto importava ouro, pedras preciosas, madeira de lei e cerâmica grega.
:: Propagação da moeda
3.13. O dinheiro, como medida de valor na troca de produtos, já existia muito antes da moeda.
. No Israel antigo caracterizava-se a riqueza pela posse do gado (Gn 13,2;32,5;1Sm25,2 etc). Também a etimologia confirma: miqne (= posse de gado, bens em gado, rebanho) e miqna (= aquisição, compra).
. Era usado o ouro – na forma de peças de enfeite – nas transações (Gn 20,16;37,28;Nm 31,50;Js 7,21). Este ouro era pesado segundo o método sumério-babilônico, o shekel (Gn 23,16;Jr 32,9). Também pesava-se a prata.
3.14. As primeiras moedas citadas no AT: as dracmas persas de ouro, cunhadas após 517 a.C. por Dario I (os dáricos). Pesava uma dracma de ouro 8,4 gramas (Esd 2,69;Ne 7,70-72). Circulavam na Judeia também as moedas de prata de Atenas. Ainda: os siclos de prata da Pérsia (5,6 gramas) e as moedas yehud, cunhadas na Judeia. A proporção prata/ouro para troca era: ouro = 1 / prata = 13.
> Com uma dracma de ouro compravam-se 300 litros de cevada: daí que as moedas de prata eram mais práticas no uso cotidiano graças a seu valor menor.
3.15. Por que Dario mandou cunhar moedas?
. Heródoto informa: no tempo de Ciro e de Cambises não havia determinações fixas sobre o tributo devido pelas províncias ao império persa. Dario criou um sistema que permitia calcular receitas e despesas e regularizou os tributos com a criação da moeda.
3.16. Os moradores da Judeia não tinham minas de prata. Assim, vendiam seus produtos agrícolas (excedentes ou não) e adquiriam prata (Ne 5,4). Segundo Heródoto, a V satrapia, à qual pertencia a Judeia, pagava à Pérsia 350 talentos de prata por ano.
3.17. Consequências: os agricultores judeus precisavam diminuir o número de familiares que viviam de renda e produzir bens que dessem mais lucro. Vendia-se cevada e derivados da oliveira e da videira e gado. Não havendo grande produção de cevada na Judeia, o que compensava era o cultivo de oliveiras e parreiras. Para vender o excedente dependiam de negociantes estrangeiros.
Leia em seguida:
Capítulo 9: Oposição da religião à política – Opposition der Religion gegen die Politik
Religião e formação de classes na antiga Judeia 2
2. O sistema judaico de parentesco
:: Subdivisão da Judeia em grupos de parentesco
2.1. O resultado das pesquisas de J. P. WEINBERG (1983) sobre a comunidade pós-exílica é o seguinte:
. Há duas versões da lista de repatriados do exílio babilônico: Esd 2,1-70 e Ne 7,6-72a.
. A lista é composta de três partes:
– registro da posição das pessoas
– relação das doações destinadas ao Templo
– relatório sobre a região onde moravam os repatriados
. A lista divide os repatriados nos seguintes grupos:
– israelitas
– sacerdotes
– levitas
– cantores
– porteiros
– escravos do Templo
– filhos dos escravos de Salomão
. Estes grupos são ainda subdivididos em:
– os que descendem do mesmo patriarca
– os que pertencem a determinada localidade (e também uma distinção entre judeus e benjaminitas)
:: O tipo de mishpâhâ israelita
2.2. E. MEYER (Die Entstehung des Judentums, 1896) afirma que a mishpâhâ tem importância social e política e que surge pela ligação de numerosas famílias entre si, sob a ficção de terem os mesmos antepassados e o mesmo sangue.
2.3. O que é a mishpâhâ?
. é um grupo de descendência patrilinear
. confere direitos corporativos de propriedade da terra
. é unidade de convocação do exército (‘elef = milhares…)
. caracteriza-se pela residência comum (mesmo local) de seus membros
. onde o direito de posse é transmitido por herança (nahalâ)
. é formada de bêt ‘abôt, famílias ampliadas
. seus membros têm responsabilidade mútua (levirato, ge’ulla…)
. tem regras específicas de casamento (preferência pelo casamento entre primos patrilineares, dote… )
. é a responsável pelas festas cultuais e pela memória coletiva
. integra uma tribo
2.4. R. PATAI (Sitte und Sippe in Bibel und Orient, 1962) confirma a presença de 6 traços fundamentais da mishpâhâ israelita só encontráveis em sociedades do Oriente Médio. A família bíblica é:
. endógama: casam-se com parentes
. patrilinear: descendência pai-filho
. patriarcal: poder do pai
. patrilocal: a mulher vai para a casa do marido
. ampliada: reúne os parentes próximos todos no grupo
. polígena: tem muitas pessoas
2.5. A característica básica é o casamento patrilinear entre primos primeiros. É o parentesco agnático (= relacionamento dos varões dentro do parentesco consanguíneo), que aparece:
. na transferência da posse da terra
. no levirato
. na ge’ulla (resgate da terra).
> A casa e o clã unem-se através da relação agnática de parentesco, implicando reciprocidade e comportamento solidário.
:: Exposição da concepção de clã no livro de Rute
2.6. Exposição do enredo do livro…
2.7. Conclusões:
. A venda da terra (terra classificada como nahalâ, herança, posse) é limitada pela prerrogativa dos agnatos. Acima do princípio de troca está o do parentesco.
. O levirato é prática importante.
. A eficácia do resgate e do levirato é fundada na hesed, que significa a solidariedade, a confirmação de uma relação comunitária. Esta solidariedade, na concepção clânica, reduz-se ao grupos de parentes agnáticos.
:: Resgate de posse familiar na Judeia e na Ática
2.8. Através do direito de ge’ullâ (= resgate da terra) eram negociadas na Judéia, legitimamente, as terras. A venda da terra ao parente que tinha o direito de compra podia proteger o proprietário empobrecido de pagar tributos e impostos a estrangeiros. Podia protegê-lo de cair na escravidão por dívida e até mesmo de ser vendido como escravo a estrangeiros. Mas o colocava na dependência do parente mais rico dentro do clã.
2.9. A prásis epí lýsei grega…
2.10. Comparação entre a norma grega e a judaica…
:: Elementos de desigualdade no clã judaico
2.11. Assim, havia dentro das famílias dos mishpâhôt, e também entre os mishpâhôt, diferenças consideráveis.
2.12. No pós-exílio parece que a família adquiriu importância em relação ao clã e cuidou de seus interesses independentemente do clã…
2.13. Dentro dos clãs e entre eles havia hierarquia. Como diz G. BORKAMM (1959): se antigamente os zeqênîm (anciãos) tinham autoridade graças à posição que ocupavam nas grandes famílias (clãs) e nas tribos, agora ela se baseia na posição especial que sua família possui no meio do povo…
2.14. O cargo de preposto (= delegado, representante) era ligado à primogenitura, criando desigualdade dentro do clã entre os irmãos mais velhos e os mais novos. O preposto ia morar em Jerusalém e participava da administração. Esta hierarquia tornou-se o fundamento da administração persa, que, pressupondo a desigualdade social no sistema de parentesco judaico, a reforçou.
2.15. A função econômica dos prepostos de família…
:: Resumo
2.16. Três dados fundamentais:
. A estrutura de parentesco determinava a reprodução das famílias e as relações sociais dentro da família
. A estrutura de parentesco unia as famílias em uma hierarquia baseada nas prerrogativas dos irmãos mais velhos sobre os mais novos, mas criava laços de solidariedade entre eles (como no caso da escravidão e da venda da terra)
. A terra podia ser negociada entre parentes, mas não com estranhos ao círculo de parentesco. Este princípio levou ao acúmulo de terras pelas famílias mais ricas.
Leia em seguida:
Capítulo 9: Oposição da religião à política – Opposition der Religion gegen die Politik
Religião e formação de classes na antiga Judeia 1
1. Solidariedade e formação de classes à luz da etnologia
1.1. Duas precisões:
a) O parentesco, etnologicamente, não é um conceito que diz respeito à descendência natural: é uma classificação de ordem social, baseada nas relações de descendência. Logo, as instituições do sistema de parentesco são um produto histórico, criado por interesses sociais
b) O Estado não é a forma primária da comunidade humana: há sociedades sem Estado, conforme se verificou na África.
:: Etnologia de parentesco
1.2. L. H. MORGAN (Ancient Society, 1877) diz que há duas formas fundamentais de sociedade primitivas:
. a “societas”, baseada nas relações pessoais
. a “civitas”, baseada no território e na propriedade privada.
> Por detrás desta classificação há o seguinte: a descoberta de que nem todos os sistemas de parentesco eram naturais. Há sistemas onde não são as relações de consangüinidade que mais contam, mas a de parentes mais afastados, por exemplo.
> Daí MORGAN trabalhar o conceito de gens (hoje prefere-se linhagem) como instituição que organiza socialmente os indivíduos numa sociedade tradicional.
1.3. Avançando mais, M. FORTES (Kinship and the Social Order, 1969) chama a atenção para:
. a interação, que regula as relações entre as pessoas
. os títulos legais, atribuídos a grupos e através deles aos indivíduos
> São dois aspectos complementares do sistema de parentesco.
1.4. C. LÉVI-STRAUSS (The Elementary Structures of Kinship, 1969) partiu da exogamia e concluiu que os grupos se relacionam socialmente através da troca de mulheres… E. LEACH (1971) refutou a tese de Lévi-Strauss.
:: Antropologia econômica
1.5. M. MAUSS (Die Gabe, 1924) afirma que a dádiva, uma forma de trocas livres, realizadas pelos grupos, numa sociedade arcaica é o fato social (“fait social”) completo, é o mais significativo.
1.6. K. POLANYI (Trade and Market in the Early Empires, 1957) designa, como formas de integração, a reciprocidade, a distribuição e a troca.
1.7. M. D. SAHLINS (Tribesmen, 1968), explicando a reciprocidade, diz que ela é posta em prática gradualmente e que é a forma de circulação das sociedades tribais.
1.8. M. GODELIER (Ökonomische Anthropologie, 1973) afirma, por sua vez, que a determinação da função social das diversas formas de circulação tem por base a diferença de valor atribuída aos bens em cada sociedade. Os bens estão ordenados hierarquicamente, em classes diferentes, e somente nelas podem ser trocados.
:: Antropologia política
1.9. O conceito de segmentário foi usado por E. DURKHEIM (The Division of Labor in Society, 1893) para a sua análise da divisão do trabalho. A sociedade segmentária é a sociedade baseada nas relações de parentesco. “Falamos de ‘sistema segmentado’ não apenas porque é composto de segmentos combinados, mas também porque é constituído apenas disso: sua coerência não é mantida de cima através de instituições políticas públicas (como por uma autoridade soberana)”, diz M. D. SAHLINS, Sociedades tribais. 2. ed. Zahar, Rio de Janeiro 1974, p. 29.
1.10. M. FRIED (The Evolution of Political Society, 1967) chama as sociedades segmentárias de sociedades niveladoras.
1.11. Como interpretar a passagem da sociedade segmentária para a sociedade de classes?
. A primeira solução vê a passagem como problema (sociedade segmentária) e solução (sociedade de classes)
. A segunda solução vê a passagem como mudança e domínio em estrutura complexa.
1.12. A colaboração entre etnologia e história é fundamental. Especialmente na área do Mediterrâneo, onde o relacionamento de apadrinhamento foi central.
Leia em seguida:
Capítulo 2: O sistema judaico de parentesco – Das judäische Verwandtschaftssystem
Capítulo 9: Oposição da religião à política – Opposition der Religion gegen die Politik
Religião e formação de classes na antiga Judeia 01
Quero falar de um livro e de seu conteúdo. E gostaria que meus visitantes se servissem dele.
KIPPENBERG, H. G. Religião e formação de classes na antiga Judeia: estudo sociorreligioso sobre a relação entre tradição e evolução social. São Paulo: Paulus, 1997, 184 p. – ISBN 8505006798.
Original alemão: Religion und Klassenbildung im antiken Judäa: eine religionswissenschaftliche Studie zum Verhältnis von Tradition und gesellschaftlicher Entwicklung. 2. ed., erw. Aufl. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, [1978] 1982, 186 s. ISBN 3525553667.
Trabalho com partes deste texto na Literatura Pós-Exílica, no segundo semestre do Segundo Ano de Teologia. Tenho um resumo de seus pontos principais há muito tempo. Pensei em colocá-lo no blog para facilitar o seu acesso aos meus alunos. E acredito que possa servir a outras pessoas interessadas.
O livro de Hans G. Kippenberg é o resultado de uma tese de livre-docência [Habilitation] apresentada na Faculdade de Filosofia e Sociologia da Universidade Livre de Berlim [Fachbereich Philosophie und Sozialwissenschaften der Freien Universität Berlin], Alemanha, em 1975.
Li, no original alemão, a edição publicada em 1978 pela editora Vandenhoeck & Ruprecht. Fiquei entusiasmado com o livro e com o que pude aprender, na época, com ele. Agradeço ao amigo Wolfgang Gruen, de Belo Horizonte, que nos apresentou a obra em reunião do grupo dos “Biblistas Mineiros”.
Notei, porém, que muitos de meus alunos não conseguiam vencer as dificuldades da obra – um denso estudo socioantropológico, com vocabulário bastante técnico e centenas de notas de rodapé – que foi traduzida para o português em 1988, a partir da edição de 1982. Daí a ideia do resumo. Outras traduções? O livro teve tradução para o português e o japonês.
O resumo terá 11 partes, cada uma representando um dos 9 capítulos do livro, mais a Introdução e, por último, uma atualização da bibliografia citada, com eventuais traduções e links para as respectivas editoras. Se necessário, citarei, entre parênteses, palavras ou frases da obra original, em alemão.
Não ignoro que os estudos nesta área fizeram avanços consideráveis nestes últimos trinta e poucos anos, mas creio ser defensável a atualidade – pelo menos da maior parte – deste estudo. Alerto também que alguns pontos tratados pelo autor, pelo grau de complexidade, estão apenas citados e não foram explicados. Por outro lado, em outras situações, colocarei links para estudos mais amplos sobre o tema tratado. E, finalmente, anoto que há pequenos problemas com a transliteração do hebraico, que nem sempre segue as normas estabelecidos em meu curso.
Sobre o autor, Prof. Dr. Hans G. Kippenberg, Professor of Comparative Religious Studies (Wisdom-Professorship), School of Humanities & Social Sciences – Jacobs University Bremen, Bremen, Alemanha:
Hans G. Kippenberg nasceu em 1939. Estudou Teologia, História das Religiões, Línguas Semíticas e Iranianas nas Universidades de Marburg (1959/60), Tübingen (1960/62), Göttingen (1962/63), Leeds (Reino Unido) (1966) e Berlin (1969-1976).
Atividade profissional
. 1964-1967: Repetent für Allgemeine Religionsgeschichte am Bremer Studienhaus der Theologischen Fakultät Göttingen.
. 1969-1977: Assistent/Assistenzprofessor für Allgemeine Religionsgeschichte im Fachbereich Philosophie und Sozialwissenschaften der Freien Universität Berlin.
. 1977-1989: Professor für Allgemeine Religionsgeschichte und Vergleichende Religionswissenschaft an der Rijksuniversiteit Groningen (Países Baixos).
. 1989-2004: Professor für Religionswissenschaft mit dem Schwerpunkt Geschichte und Theorie der Religionen an der Universität Bremen.
. 1989-2004: apl. Professor an der Rijksuniversiteit Groningen.
. 1998-2009: Fellow am Max-Weber-Kolleg der Universität Erfurt.
. 2004-heute: Weisheitsprofessor für Vergleichende Religionswissenschaft an die Jacobs University Bremen
. Professor convidado em Universidades de Wassenaar, Heidelberg, Berlim, Princeton, Bielefeld, Chicago, Israel…
. Para conhecer todas as publicações de Hans G. Kippenberg, confira o catálogo da Deutschen Nationalbibliothek.
. Para um conhecimento maior do pensamento de Hans G. Kippenberg, pode ser lida a obra, em alemão e inglês, publicada em sua homenagem, por seus amigos e colegas, por ocasião de seus 65 anos: LUCHESI, B.; VON STUCKRAD, K. (eds.) Religion Im Kulturellen Diskurs / Religion in Cultural Discourse: Festschrift Für Hans G. Kippenberg Zu Seinem 65. Geburtstag / Essays in Honor of Hans G. Kippenberg on the Occasion of His 65th Birthday. Berlin: De Gruyter, 2004, 672 s. – ISBN 9783110177909.
Introdução
1. O objetivo da obra: relacionar o conteúdo das tradições religiosas judaicas com a vida social dos judeus.
O sentido de “tradição” usado aqui é diferente do sentido dado ao termo por Max WEBER e seguidores:
- M. WEBER fala de “tradição” na pesquisa das relações sociais das sociedades pré-modernas
- Aqui se fala de “tradição” como continuidade de narrações e costumes
- Em M. WEBER: tradição x racionalidade
- Aqui: tradição x nova criação
2. Qual é o motivo da obra?
É que os movimentos judaicos de resistência contra os gregos e contra os romanos tiveram interpretações divergentes por parte dos autores.
3. M. HENGEL (Die Zeloten, 1961) defende que o movimento zelota de resistência tem razões religiosas como dominantes. Ele defende a independência e a prioridade do religioso sobre o político-social. Ele entende a ação organizada dos zelotas como a ação de uma seita, que se inspira numa dogmática messiânica.
4. H. KREISSIG (Die sozialen zusammenhänge des judäischen Krieges, 1970) defende que, na revolta contra Roma, são os camponeses e sacerdotes das camadas mais baixas os motores principais. Ele defende que foram as contradições sociais, criadas por condições socioeconômicas, que possibilitaram o processo. E contesta a importância das tradições religiosas para a ação política: “Quaisquer possam ter sido os papéis dos partidos religiosos, tanto estimulando como freando, as grandes dissensões aconteceram entre as classes, como em todo lugar na História Universal, desde que elas existem”.
5. HENGEL e KREISSIG trabalham dentro da dicotomia Religião e Sociedade: para um são as motivações religiosas que dominam a história; para outro são as motivações sociais que contam.
6. S. K. EDDY (The King is Dead, 1961) avançou um pouco na interpretação da guerra dos Macabeus, quando recusou a dicotomia Religião/Sociedade. Ele aponta três motivos, interligados, para a resistência religiosa ao helenismo:
- lutas tendo por meta a retomada do poder pelos nativos
- luta pelo poder, visando o privilégio social dos revolucionários (Macabeus) e o fim da exploração econômica
- luta pelo poder, com o objetivo de proteger a Lei e a religião
> Ele defende que a esperança dos combatentes contra o helenismo era de instauração da monarquia nativa local.
> Mas ele deixa aberta a questão: a união de religião e resistência política era ou não coincidência?
7. Várias tentativas já foram feitas no sentido de reconstituir social e cientificamente a história e a sociedade israelitas, como CAUSSE (Du groupe ethnique à la communauté religieuse, 1937) que acredita ter Israel evoluído do princípio de parentesco para o princípio de localização.
8. M. WEBER (Das antike Judentum, 1917-1919) diz que os pastores nômades, os artesãos, os comerciantes e os sacerdotes das tribos hóspedes é que fizeram aliança com as tribos guerreiras de Israel, donas da terra. O modelo weberiano é o da República Romana e suas classes sociais (patrícios, clientes e plebeus). Mas em Israel o direito de cidadania não estava ligado à posse da terra, pelo menos intrinsecamente, mas sim à ascendência… Daí que a aliança não é entre possuidores e não-possuidores de terra, mas entre israelitas sem terra contra cananeus com terra.
9. Avançou a sociologia etnológica, neste meio tempo, em três áreas: etnologia do parentesco, etnologia econômica e antropologia política. Daí o presente livro: ele interpreta a antiga literatura judaica em relação aos conceitos e métodos da etnologia (ou antropologia social). A etnologia tenta reconstruir o tipo de ordem social da Judeia antiga, comparando-o com o de outras sociedades do Antigo Oriente Médio.
> Neste processo considera-se ainda a relação do indivíduo com a sociedade e da ideia religiosa com a ordem social mais como contradição do que como unidade.
10. Os movimentos judaicos de resistência levantam a seguinte questão: existia uma relação intrínseca entre determinados conteúdos da tradição religiosa e as lutas de resistência, ou a relação era extrínseca ou casual?
>> A hipótese do autor é: a tradição se uniu com duas tendências antagônicas: a tendência à formação de classes e a tendência à solidariedade. Formam-se, então, dois complexos divergentes de tradição que fundamentam os conteúdos religiosos dos movimentos judaicos de resistência [Die religiöse Tradition – so die Hypothese dieser Arbeit – ist in diesem Prozeß mit den beiden antagonistischen Tendenzen von Klassenbildung und Solidarität in Verbindung greteten. In der Herausbildung dieser beiden – in ihren Inhalten und ihren sozialen Funktionen divergierenden – Traditionskomplexe ist auch die Rolle bestimmter religiöser Inhalte in den judäischen Widerstandsbewegungen begründet].
11. O conceito de “antigo”:
- na análise marxista, representa o modo de produção baseado na escravidão e na propriedade particular
- em nosso caso, caracteriza relações sociais nas quais os camponeses perdem o controle sobre a produção:
- este processo começou na Judeia no séc. VIII a. C. com o plantio de novas culturas, o comércio com produtos artesanais e, mais tarde, com o uso da moeda, levando, finalmente, à fixação generalizada de valores monetários dos bens e homens
- mas também é preciso ver que a apropriação crescente dos excedentes leva à ruptura das relações sociais tradicionais. O comércio levou o camponês à dependência da aristocracia. Daí a resistência política do campo contra a aristocracia.
Leia em seguida:
Capítulo 2: O sistema judaico de parentesco – Das judäische Verwandtschaftssystem
Capítulo 9: Oposição da religião à política – Opposition der Religion gegen die Politik
A verdade do Pan
A Verdade do Pan 2007
Um blog que faz um clipping de tudo o que sai na imprensa sobre os XV Jogos Pan-americanos – Rio 2007.
Não perca! [Blog desativado: 16/05/2010]
Crossan: Latim, Grego ou Aramaico?
Leia o post Crossan, Back to Greek, or, Better, Aramaic? no biblioblog de Mark Goodacre, NT Blog.
Crossan’s latest contribution to On Faith is:
Back to Greek, or, Better, Aramaic?
. . . . In terms of Roman Catholicism, our ancestors in faith began with Aramaic, changed to Greek, then tried Latin, and finally, moved into the various vernaculars. If we wish to revert to our linguistic origins, why just to Latin, why not to Aramaic with Jesus or Greek with the New Testament? . . .
Mas não fique apenas no Crossan. Siga o link no post de Mark, para apreciar a riqueza de opiniões sobre o assunto, como, por exemplo, a de Kathleen Flake…