3. Condições da economia na região montanhosa da Judeia no tempo do domínio persa (539-332 a. C.)
:: Discussão sobre a economia doméstica fechada
3.1. A partir da época persa a família (bêt ‘âb) tornou-se a unidade econômica fundamental, e não mais o clã. Também na Grécia e na Itália: o óikos, a família, formava a unidade fundamental da economia.
3.2. A questão da “economia doméstica fechada” [geschlossene Hauswirtschaft]…
3.3. A pergunta fundamental: surgiu algum progresso econômico que ameaçou as relações de parentesco da sociedade judaica? [Gab es wirtschaftliche Entwicklungen, die den Zusammenhalt der nach Verwandtschaftsgruppen organisierten judäischen Gesellschaft bedrohten?]
3.4. As fontes:
. os livros de Esdras, Neemias, Crônicas
. os papiros de Elefantina
. os livros de Ageu, Zacarias, Malaquias, Joel, partes de Ezequiel e Isaías, Jó e Rute
. os escritos sacerdotais
:: Agricultura
3.5. A província da Judeia, sob domínio persa, estava quase que só na região montanhosa. Somente no nordeste ela se estendia um pouco pela planície do Jordão.
. Na região montanhosa, o cultivo dependia das chuvas. Na planície era possível a irrigação e a rentabilidade era maior.
. As encostas íngremes das montanhas do leste impossibilitavam o aproveitamento da terra, enquanto que a região que descia para a planície costeira era mais favorável, só que a terra é calcária, desenvolvendo-se ali apenas plantas de raízes profundas como a oliveira, a parreira e a figueira.
3.6. Através de Ag 1,11 sabemos que na Judéia se cultiva o trigo, a vinha e a oliveira.
. Também Nm 5,11;13,15 diz que estas são as plantas principais da Judeia no século V a.C.
. Convém lembrar-se também da criação de gado, favorável na Judeia.
. Outros testemunhos que apontam na mesma direção: Eupólemo (séc. II a.C.) e a Carta de Aristéias a Filócrates (séc. II a.C.)
3.7. O cultivo da oliveira era menos trabalhoso do que o do trigo. E podia ser feito em terrenos ruins para o trigo. Só que este cultivo exige riquezas, já que a oliveira só dá lucro dez anos depois de plantada.
3.8. Na Ática e na Itália…
3.9. Os casos da Ática e da Itália nos ensinam que o tipo de aproveitamento da terra (como na Judeia) dependia:
. da existência de uma aristocracia que dispusesse de dinheiro
. da possibilidade de troca de derivados da azeitona e da uva pelo trigo.
3.10. Pelo menos este último fator já existia no tempo de Neemias: Ne 10,32 supõe que o ‘am hâ’ârets vendia, em Jerusalém, além de outras coisas, trigo trazido de outra região. É possível que a produção de trigo da Judeia não fosse suficiente para o consumo. Neste caso, os seus habitantes deveriam produzir derivados de azeitona e de uva e manufaturados para trocar pelo trigo.
:: Profissão e comércio
3.11. A mais antiga profissão em Israel era a de hârâsh, da raiz hrsh, “talhar”. Era o “artífice” que trabalhava com metal, pedra e madeira, podendo ser: lapidador, marceneiro, carpinteiro, pedreiro, ferreiro, serralheiro, armeiro, fundidor.
> Alguns profissionais – todos? – estavam organizados em clãs (Ne 3,8.31-32;1Cr 2,55;4,21.23 etc).
3.12. O comércio era feito por atacado e varejo nas cidades. Por ex., os habitantes de Tiro traziam peixes e mercadorias variadas para vendê-las em Jerusalém no sábado (Ne 13,16). Também os habitantes de Judá faziam isso (Ne 13,15).
> O comércio internacional é pouco documentado nesta época. Para o início do séc. VI a.C. existe Ez 27. Esd 3,7 indica que Judá exportava para Sídon “víveres, bebidas e óleo”. Enquanto importava ouro, pedras preciosas, madeira de lei e cerâmica grega.
:: Propagação da moeda
3.13. O dinheiro, como medida de valor na troca de produtos, já existia muito antes da moeda.
. No Israel antigo caracterizava-se a riqueza pela posse do gado (Gn 13,2;32,5;1Sm25,2 etc). Também a etimologia confirma: miqne (= posse de gado, bens em gado, rebanho) e miqna (= aquisição, compra).
. Era usado o ouro – na forma de peças de enfeite – nas transações (Gn 20,16;37,28;Nm 31,50;Js 7,21). Este ouro era pesado segundo o método sumério-babilônico, o shekel (Gn 23,16;Jr 32,9). Também pesava-se a prata.
3.14. As primeiras moedas citadas no AT: as dracmas persas de ouro, cunhadas após 517 a.C. por Dario I (os dáricos). Pesava uma dracma de ouro 8,4 gramas (Esd 2,69;Ne 7,70-72). Circulavam na Judeia também as moedas de prata de Atenas. Ainda: os siclos de prata da Pérsia (5,6 gramas) e as moedas yehud, cunhadas na Judeia. A proporção prata/ouro para troca era: ouro = 1 / prata = 13.
> Com uma dracma de ouro compravam-se 300 litros de cevada: daí que as moedas de prata eram mais práticas no uso cotidiano graças a seu valor menor.
3.15. Por que Dario mandou cunhar moedas?
. Heródoto informa: no tempo de Ciro e de Cambises não havia determinações fixas sobre o tributo devido pelas províncias ao império persa. Dario criou um sistema que permitia calcular receitas e despesas e regularizou os tributos com a criação da moeda.
3.16. Os moradores da Judeia não tinham minas de prata. Assim, vendiam seus produtos agrícolas (excedentes ou não) e adquiriam prata (Ne 5,4). Segundo Heródoto, a V satrapia, à qual pertencia a Judeia, pagava à Pérsia 350 talentos de prata por ano.
3.17. Consequências: os agricultores judeus precisavam diminuir o número de familiares que viviam de renda e produzir bens que dessem mais lucro. Vendia-se cevada e derivados da oliveira e da videira e gado. Não havendo grande produção de cevada na Judeia, o que compensava era o cultivo de oliveiras e parreiras. Para vender o excedente dependiam de negociantes estrangeiros.
Leia em seguida:
Capítulo 9: Oposição da religião à política – Opposition der Religion gegen die Politik