A dor daqueles que doem toda a vida

O senhor sabe: tanta pobreza geral, gente no duro ou no desânimo. Pobre tem de ter um triste amor à honestidade. São árvores que pegam poeira – Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas.

O teatro do horror

Se você tivesse um ente querido entre os mortos do avião da TAM, mediria consequências na hora de soltar os gritos de desespero? Se chegasse a câmera para registrar o seu choro convulsivo, e mostrasse a toda a nação o momento de maior fraqueza e desolação da sua vida…

O show da Grande Mídia alcançou números estratosféricos nos últimos dias, turbinado pelas lágrimas dos parentes dos mortos. A agonia em carne viva foi mostrada por ser um apelo necessário, ou tão somente porque esse tipo de imagem prende a atenção do espectador e rende uma fortuna no mercado midiático?!

Bonner nunca esteve tão bem vestido, nunca tão poderoso como durante o furo de reportagem Global apresentado por ele sobre as trapalhadas dos técnicos da TAM. Foi um momento de glória para a emissora. Apesar da evidente falha técnica, os informativos seguintes não se cansaram de mostrar as manifestações que associam o desastre às questões crônicas do transporte aéreo e, por conseguinte, ao governo Lula. Instigados pelos meios de comunicação, aqueles acostumados a perder horas nos aeroportos aproveitaram para juntar tudo num mesmo pacote de protesto.

QUESTÃO DE JUSTIÇA
A aviação comercial brasileira ganhará investimentos vultosos nos próximos anos. Não por ser esta uma questão de justiça, mas porque os reclamantes são poderosos. Se fosse pela justiça, o governo deixaria de se preocupar com aqueles que dormem nos corredores dos aeroportos por algumas noites, aquele povo bem servido que tem sofrido nas filas de chek-in, e trataria de multiplicar seus programas aos famintos da nação. Procuraria diminuir a dor daqueles que doem toda vida. Buscaria aquecer o frio daqueles que tremem em todo inverno. Daria abrigo àqueles que dormem mal toda noite.

É provável que muitos discordem, ou que me odeiem por dizer isso. Provavelmente já passaram horas no saguão de Congonhas, tendo somente as mochilas como travesseiros. Mas será que já experimentaram as carências extremas?

Tenho muitos amigos, companheiros de velhas batalhas que, depois de alcançarem uma certa posição econômica e social, botaram um tapume entre si e a favela. Viajam todas as férias para as praias do Nordeste, adquiriram dois ou três carros novos nos últimos cinco anos, construíram mais alguns quartos no velho sobrado e passam a vida malhando o nosso “iletrado” presidente, que estaria governando para os miseráveis e os banqueiros.

Milhares de calhambeques e carroças trafegam em estradas brasileiras que nunca foram asfaltadas e ninguém parece preocupado com isso. Caminhoneiros atravessam o país em viagens que duram dias, tocados à base de café e rebite, morrendo em desastres horríveis, e disso pouco se fala. A TV prefere mostrar aquelas justas manifestações nos aeroportos pedindo providências urgentes. Uma ou duas horas de atraso nos vôos e as senhoras de casaco de pele ficam histéricas. Os filhinhos de papai que nunca ergueram uma palha do chão querem bater nos aeroviários. A dentista que nunca lavou as próprias meias está possessa porque perdeu a abertura do congresso em Salvador. O estudante de medicina que comprou vaga no vestibular está catatônico porque não poderá chegar à tempo à festa de aniversário do namorado.

Perdoe-me, leitor, o povo merece, sim, voar com dignidade para visitar os parentes na Europa e fazer compras em Miami. Sim, ninguém deveria enfrentar aquelas filas horríveis. Mas, por favor, não me diga que essa é uma questão de justiça. O que temos aqui é uma questão de poder. O apagão aéreo, como repetem diuturnamente os papagaios tucanos, tornou-se notícia permanente porque mexeu com gente graúda. Por esse motivo, e só por isso, em breve o problema será resolvido.

(Obviamente, nem todos os que voam são graúdos, mas parece que todos os graúdos voam. Inclusive eu, que sonho ser graúdo para nunca mais olhar a miséria que ronda minha casa. Não quero nunca mais ver essas mães tentando cobrir os filhos com trapos, nem quero ver seus filhos juntando comida no latão de lixo. Que gente desclassificada! Ui! Parecem animais!).

Temos um ano de conflito aeroviário, e temos quinhentos anos de exploração escrava, mas qual é o assunto em pauta? Quando a grande mídia publicará em seus editoriais o fato de que a remuneração pelo trabalho do carregador portuário que anda de bicicleta deve ser, por justiça, igual ao do empreiteiro que anda de avião? Quando faremos as contas para constatar que a empregada doméstica realiza um trabalho mil vezes mais difícil que a senhora dona da loja de bijuterias do shopping e que, por isso, deve receber, quando menos, o mesmo salário?

Não se fala mais nisso, pois o capitalismo venceu, e quem tem coragem de defender Marx ou o socialismo? Talvez Oscar Niemeyer!? A revista Veja não se cansa de dizer que os marxistas não conseguiram provar as teorias do mestre, o que comprova que o ser humano é mesmo uma besta, um capitalista nato. Quem pode mais chora menos, é essa a humanidade que estamos construindo, é com essa coisa horrível que temos de nos conformar!

Fonte: Chico Guil – Carta Maior: 30/07/2007

> Este é o post de número 1000 do Observatório Bíblico.

Resenhas na RBL – 30.07.2007

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Octavian D. Baban
On the Road Encounters in Luke-Acts: Hellenistic Mimesis and Luke’s Theology of the Way
Reviewed by Thomas L. Brodie

Stephen Barton, ed.
The Cambridge Companion to the Gospels
Reviewed by Paul Foster

Dianne Bergant
Israel’s Story: Part One
Reviewed by Sven Petry

John A. Bertone
The Law of the Spirit: Experience of the Spirit and Displacement of the Law in Romans 8:1-16
Reviewed by Volker Rabens

Thomas L. Brodie, Dennis MacDonald, and Stanley E. Porter, eds.
The Intertextuality of the Epistles: Explorations of Theory and Practice
Reviewed by Korinna Zamfir

Trevor J. Burke and J. Keith Elliott, eds.
Paul and the Corinthians: Studies on a Community in Conflict. Essays in Honour of Margaret Thrall
Reviewed by Joubert Stephan

Jacques Cazeaux
Le partage de minuit: Essai sur la Genèse
Reviewed by Hugh S. Pyper

Dorothea Erbele-Küster and Detlef Dieckmann, eds.
“Du hast mich aus meiner Mutter Leib gezogen”: Beiträge zur Geburt im Alten Testament
Reviewed by Silvia Schroer

Dennis Hamm
The Acts of the Apostles
Reviewed by Steve Walton

James L. Kugel, ed.
Prayers That Cite Scripture
Reviewed by Marvin A. Sweeney

James Limburg
Encountering Ecclesiastes: A Book for Our Time
Reviewed by David Brian Warner

Mark Munn
The Mother of the Gods, Athens, and the Tyranny of Asia: A Study of Sovereignty in Ancient Religion
Reviewed by Gerhard van den Heever

Mikeal Parsons
Luke: Storyteller, Interpreter, Evangelist
Reviewed by Robert C. Tannehill

Susanne Rudnig-Zelt
Hoseastudien: Redaktionskritische Untersuchungen zur Genese des Hoseabuches
Reviewed by Eberhard Bons

Wolfgang Schrage
Vorsehung Gottes? Zur Rede von der providentia Dei in der Antike und im Neuen Testament
Reviewed by Michael Labahn

Mikael Sjöberg
Wrestling with Textual Violence: The Jephthah Narrative in Antiquity and Modernity
Reviewed by Rüdiger Bartelmus

Simpósio da ABIB sobre Bíblia e Ciências Humanas

ABIB: Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica – Regional São Paulo

I Simpósio Regional Bíblia e Ciências Humanas

Data: 25 de agosto de 2007
Local: Seminário Teológico da Igreja Presbiteriana Independente
Rua Genebra, 180 – Bela Vista – São Paulo
(próximo à Câmara Municipal e às estações Anhangabaú e Sé do Metrô)

:: Apresentação
A Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica – ABIB, recentemente instituída, tem o objetivo de congregar pesquisadores e pesquisadoras em Bíblia nos mais diversos campos e ambientes, com vistas a favorecer a identidade acadêmica. Para tanto, vem realizando congressos em âmbito nacional – o próximo deverá ocorrer em 2008 – e também eventos de alcance regional.

:: Simpósio Regional São Paulo
Em 25 de agosto de 2007, será realizado o I Simpósio Regional São Paulo, com o tema Bíblia e Ciências Humanas, que espera reunir biblistas do Estado, seja para acompanhar a programação e interferir no debate, seja para contribuir com a apresentação de uma comunicação acadêmica.

:: Programação
8h Abertura
8h30 Mesa-redonda: Bíblia e Ciências Humanas
Conferencistas:
. Prof. Dr. Archibald Mulford Woodruff (UMESP, Seminário da IPI)
. Prof. Dr. André Chevitarese (UFRJ)
11h Intervalo
11h30 ABIB: apresentação e notícias
12h30 Almoço
14h Comunicações acadêmicas
16h Intervalo
16h30 Conferência: Bíblia e Ciências Humanas – Perspectivas
Conferencista:
. Prof. Dr. Milton Schwantes (UMESP, EDT)
18h Encerramento

:: Inscrições
Para efetuar a inscrição no I Simpósio Regional Bíblia e Ciências Humanas, favor preencher os dados abaixo e enviar para o endereço eletrônico abib.sp@bol.com.br. Caso haja interesse em apresentar uma comunicação, pedimos que os dados sejam enviados até dia 10/08.
A taxa de inscrição, a ser paga no momento da abertura dos trabalhos, é de:
R$ 20,00 (sócios da ABIB)
R$ 30,00 (não-sócios)

:: Ficha de Inscrição:
Nome:
Endereço:
Telefone:
E-mail:
Instituição e atividade que exerce em ligação com a Bíblia:
Título da comunicação (caso queira fazê-la):
Resumo da comunicação (10 a 15 linhas):

> No dia do evento será possível afiliar-se à ABIB, caso haja interesse.