A Bíblia e a homossexualidade

O Professor James F. McGrath, da Universidade Butler, Indianápolis, e do biblioblog Exploring Our Matrix, publicou hoje em um post um significativa coleção de links sobre o tema Bíblia e homossexualidade.

Diz ele que os links apontam para textos que abordam o tema sob vários pontos de vista. E isto é importante, pois o tópico, muitas vezes, produz forte polêmica e ferrenha polarização.

Em suas palavras:
My Sunday school class has been discussing the topic of homosexuality, and we’ve reached the point where we are ready to take a close look at the New Testament passages that are potentially relevant to the topic. I’ve blogged about this subject here before, but want to offer links to web resources which reflect differing views, which can provide basis for discussion in the class.

Leiam: The Bible and Homosexuality: Resources for Sunday School discussion

Em português, podem ser lidos, além de outras fontes, dois números da revista IHU On-Line:
:: Edição 199, de 09/10/2006: Os desafios da diversidade sexual
:: Edição 253, de 07/04/2008: Uniões homoafetivas. A luta pela cidadania civil e religiosa

Crossley: o estudo do NT na última década

Vale a pena ler um balanço dos estudos neotestamentários na última década. Embora parcial e localizado, focalizando principalmente o mundo acadêmico bíblico do Reino Unido, da Europa e dos Estados Unidos, aborda elementos bem interessantes.

Este a que me refiro, foi feito por James Crossley em seu biblioblog Earliest Christian History. Ele diz: “The following are just some thoughts on trends and developments in NT studies/biblical studies over the past decade. There are plenty of other developments of course (blogging and online scholarship, gospel of Judas, more interest in GThomas and not simply as containing sources for understanding the historical Jesus) but here are merely a few…”

O post, publicado em 31 de dezembro de 2009 é:

A Decade in…NT/Biblical Studies!

Transcrevo algumas frases soltas, para indicar temas abordados [os sublinhados são meus]:

One of the most notable things of the 00s has been the ‘secular’/atheist versus theological/believer/evangelical divide.

At the end of the decade it seems that ‘memory’ and ‘cultural memory’ has become one of the dominant ways of discussing the development of biblical tradition and beyond.

Memory is really the major distinctive feature of historical Jesus studies (again, see Bauckham and Dunn).

As implied, there have been some developments in *reading* Jesus and NT scholarship in historical and cultural contexts, including ideological critiques, and beyond the old debates about ‘you’re liberal…well, you’re conservative…etc’ (though they remain, of course).

As a special treat for certain readers and bloggers, I should note that there *might* have been a notable shift in who supports what in discussions of the Synoptic Problem.

Some of the old debates concerning the New Perspective have not gone way in Pauline studies, though there seems to be a further, though qualified, return of Old Perspective ideas. The other big debate in Pauline studies (and other areas of NT) is the role of empire and emperor cult etc, partly a product, no doubt, of the hardly ignorable impact of a Bush-led US empire, though a more hearty dose of postcolonial critique and/or Gramsci might have helped this (as started to happen in a more sustained way towards the end of the decade).

Reception history has certainly caught on and may be one of the major areas where biblical studies will flourish in future given the sheer amount of material waiting to be analysed.

E, finalmente, alguma previsão para os próximos anos? Ele diz:

“I don’t like predicting the future but I will give an exception which might be particular to the UK and perhaps elsewhere in Europe. At the end of the decade, the humanities are not going to be supported anything like the way the sciences are“.

Paulo de Tarso e a evangelização

Na REB 69, fascículo 275, de julho de 2009, o tema central é Paulo de Tarso evangelizador.

Artigos:
:: Valdir Marques: A antropologia de Paulo de Tarso, p. 516-532
:: Carlos Mesters e Francisco Orofino: A espiritualidade do Apóstolo Paulo. Vencer os obstáculos, sem perder a ternura, p. 533-548
:: Isidoro Mazzarolo: Evangelizar é um imperativo (1Cor 9,16)! A evangelização, hoje, à luz da missão do Apóstolo Paulo, p. 549-572

Comunicado:
:: Michel Sakr: Jesus Cristo nas cartas paulinas, p. 676-683

Sobre estes textos, diz o editorial, assinado pelo redator Elói Dionísio Piva:
“É, pois, como fruto do ano paulino e com o propósito de dar continuidade à refontalização e atualização da Igreja que a REB tem a satisfação de se fazer porta-voz de teólogos e pastoralistas que oferecem sua contribuição no discernimento do que Paulo entendia por ser humano (Valdir Marques), no discernimento de sua força motriz, ou seja, de sua espiritualidade (Carlos Mesters e Francisco Orofino), de seu impulso evangelizador (Isidoro Mazzarolo) e de sua experiência de Jesus Cristo (Michel Sakr)”.

Mês da Bíblia 2009: Carta aos Filipenses

Setembro: Mês da Bíblia

“Há 38 anos a Igreja do Brasil celebra no mês de setembro o Mês da Bíblia. A celebração teve sua origem na arquidiocese de Belo Horizonte, em 1971, e foi se espalhando para todo o Brasil.

O objetivo do mês da Biblia, segundo a assessora da Comissão Bíblico-Catequético da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é infundir no povo a convicção de que a Palavra de Deus é, por excelência, o livro que deve ser inserido na vida de cada pessoa. Fazer com que as famílias sintam necessidade de ter uma Bíblia em casa e incentivar a reunião das comunidades para o estudo e a vivência da Palavra de Deus.

‘A centralidade da Palavra de Deus tem impulsionado a vida e a ação evangelizadora da nossa Igreja. A redescoberta da Sagrada Escritura e o seu uso constante por todas as Igrejas Cristãs no Brasil tem sido muito significativo para o processo e crescimento da experiência da fé das comunidades espalhadas pelo nosso imenso país’, afirmou a assessora da CNBB.

Sobre o mês da Bíblia, o membro da Comissão Episcopal Bíblico-Catequética da CNBB, dom Jacinto Bergmann, explica que setembro é dedicado de forma especial ‘à Palavra de Deus’, e que o período é um estímulo para os fiéis se tornarem responsáveis pela causa de Jesus por meio do discipulado. ‘Isso também nos ajudará a sermos mais discípulos missionários de Jesus Cristo – Caminho certo, Verdade segura e Vida plena’, enfatizou.

Para este ano o livro proposto é a Carta de São Paulo ao Filipenses, cujo tema é ‘Alegria de servir no amor e na gratuidade’ e o lema: ‘Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus’ (Fl 2,5).

Clique aqui e leia a íntegra do subsídio proposto”.

Fonte: Notícias – CNBB: 01/09/2009 10:35:33

Lembro aos interessados que o n. 102, o segundo de 2009, da revista Estudos Bíblicos, da Vozes, é todo sobre a Carta aos Filipenses, onde o leitor poderá encontrar, além de 11 artigos, suficiente bibliografia para aprofundamento.

Também a revista Vida Pastoral, da Paulus, em seu número 268, de setembro-outubro de 2009, traz 4 artigos e bibliografia sobre a Carta aos Filipenses. A revista pode ser obtida nas livrarias da Paulus ou pode ser acessada online em formato pdf. A bibliografia dos 4 artigos sobre Filipenses está na p. 32 da edição online.

Simpósio Internacional sobre Paulo

Paul in His Jewish Matrix – Paolo nella sua matrice giudaica

International Symposium organized by the Cardinal Bea Centre in collaboration with the Pontifical Biblical Institute, the Hebrew University of Jerusalem, the Catholic University of Leuven and the Basilica of St. Paul Outside the Walls from May 20 to 22, 2009.

Roma, 20-22 maggio 2009: Convegno Internazionale con la partecipazione dei maggiori studiosi del settore, ebrei e cristiani. La tematica riguarda le origini dei rapporti tra il nascente Cristianesimo e l’Ebraismo e va al cuore della complessa relazione tra la Chiesa e il mondo ebraico. Organizzato dal Centro Cardinal Bea per gli Studi Giudaici della Pontificia Università Gregoriana, il convegno si svolge in tre sedi: Pontificio Istituto Biblico, Pontificia Università Gregoriana e Basilica Papale di San Paolo fuori le Mura.

Entre os palestrantes, que abordarão vários temas paulinos, anoto:
. Joseph Sievers, Pontifício Instituto Bíblico e Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália – The Pontifical Biblical Institute & The Pontifical Gregorian University
. Serge Ruzer, Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel – The Hebrew University of Jerusalem
. Antonio Pitta, Pontifícia Universidade Lateranense, Roma, Itália – The Pontifical Lateran University
. E. P. Sanders, Universidade Duke, Carolina do Norte, USA – Duke University, North Carolina, USA
. Pasquale Basta, Pontifício Instituto Bíblico, Roma, Itália- The Pontifical Biblical Institute
. Adriana Destro & Mauro Pesce, Universidade de Bolonha, Itália – University of Bologna
. Reimund Bieringer & Emmanuel Nathan, Universidade Católica de Leuven, Bélgica – The Catholic University of Leuven
. Didier Pollefeyt & David Bolton, Universidade Católica de Leuven, Bélgica – The Catholic University of Leuven
. Shaye J. D. Cohen, Universidade de Harvard, USA – Harvard University
. Daniel R. Schwartz, Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel – The Hebrew University of Jerusalem
. Emanuel Tov, Universidade Hebraica de Jerusalém e Pontifícia Universidade Gregoriana, Israel e Itália – The Hebrew University of Jerusalem & the Pontifical Gregorian University
. Paula Fredriksen, Universidade de Boston e Universidade Hebraica de Jerusalém, USA e Israel – Boston University & The Hebrew University of Jerusalem
. Justin Taylor, Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém, Israel – École Biblique et Archéologique Française, Jerusalem

Mesters: Uma entrevista com o Apóstolo Paulo

A Adital – Agência de Informação Frei Tito para a América Latina – publicou em três partes, nos dias 22, 23 e 24 de abril de 2009, um estudo de Carlos Mesters sobre Paulo, estruturado em forma de entrevista, com 40 perguntas.

Este texto está disponível também em um livro de Mesters, publicado pelo CEBI em 2002: Uma entrevista com o Apóstolo Paulo

Diz Mesters no início do texto:
“O objetivo deste subsídio é abrir uma porta de entrada para a vida do apóstolo Paulo e, assim, oferecer uma chave de leitura para as cartas que ele escreveu. É uma porta em forma de entrevista que procura fornecer a ficha completa do apóstolo. Serve como exercício. Formulamos uma série de 40 perguntas e procuramos as respostas na própria Bíblia e nas informações que temos do contexto daquele tempo, tanto judaico como helenista-romano. As perguntas que fizemos revelam apenas alguns aspectos da vida de Paulo. Outras perguntas poderão revelar outros aspectos da sua vida e da vida das comunidades daquele tempo. As respostas são dadas na terceira pessoa e não na primeira pessoa de ‘Eu, Paulo’, como se esperaria numa entrevista. É por dois motivos: 1. Não tive coragem; 2. Respondendo na primeira pessoa, fica mais difícil relativizar as conclusões ainda incertas da pesquisa histórica em torno da vida de Paulo. Pois nem tudo é certo e claro. Há vários pontos obscuros que não passam de hipóteses. Existe uma discussão entre os exegetas sobre a autenticidade de várias cartas que a Bíblia atribui ao apóstolo Paulo. Elas não seriam de Paulo, mas de um discípulo de Paulo. Para a finalidade desta breve entrevista achamos não ser necessário discutir esta questão difícil. Tomamos as cartas da maneira como aparecem na Bíblia. Um estudo mais aprofundado, porém, não poderá ignorar a questão da autenticidade. A dúvida se alguma carta é ou não é de Paulo não diminui em nada o seu valor como palavra inspirada de Deus. A entrevista imaginária é feita depois da primeira prisão de Paulo em Roma, pouco antes da sua morte, quando ele estava com mais ou menos 63 anos de idade”.

Disponível em pdf aqui.

Leia Mais:
Homenagem a Carlos Mesters
Leitura popular da Biblia no Brasil
Livros de Carlos Mesters

Natal: mito de fundação ou manifesto político?

Natal: uma mitologia?

A revista Riforma, n° 49, 19-12-2008, publicação semanal dos evangélicos batistas, metodistas e valdenses italianos, trouxe em sua última edição uma carta de um de seus leitores questionando a credibilidade do Natal, que mais parece, segundo sua opinião, uma lenda, um “mito de fundação”. Questionado pelo leitor, o teólogo Paolo Ricca, colaborador da revista, mais adiante, responde à carta.

Eis o texto em italiano, que pode ser encontrado aqui.

Natale: una mitologia?

L’avvicinarsi della festività della nascita di Gesù mi offre argomento per alcune osservazioni su questo tema, nel quale scorgo, a mio modo di vedere, importanti percentuali di mitologia. La leggenda del Natale, infatti, è riportata da due evangelisti – Matteo e Luca – ma in modi così divergenti da escludersi a vicenda.

Secondo Matteo la nascita di Gesù avvenne durante l’ultimo anno del regno di Erode il grande, da cui la strage degli innocenti (ne sarebbe stato capace), la fuga in Egitto, ecc. Sempre secondo Matteo, l’annunciazione fu data in sogno a Giuseppe, ultimo discendente della stirpe regale di Davide. Secondo Luca, invece, la nascita avvenne quando la Giudea era già dominio romano (almeno 10 anni dopo) e quindi soggetta al censimento voluto dall’imperatore Ottaviano Augusto. Inoltre, secondo Luca, Giuseppe discenderebbe da una stirpe sacerdotale nella quale compaiono tutt’altri nomi.

Una cronologia esclude l’altra. Ma non basta, perché in entrambe sono presenti elementi mitici: annunciazione angelica a Maria (non a Giuseppe e non in sogno), parto verginale, cori angelici, nascita in una stalla vuota (Luca), adorazione dei Magi guidati da una stella (Matteo) che va a fermarsi sopra la casa (non stalla) della natività. Tutte cose che fanno pensare a «miti di fondazione» come la leggenda di Romolo e Remo per la fondazione di Roma. Infatti le divergenze sopra dette sottraggono attendibilità storica ai racconti della natività e fanno pensare a una leggenda.

La cosa, di per sé, non avrebbe molta importanza (gli evangelisti Marco e Giovanni non ne parlano neppure) poiché quello che conta è il contenuto dell’insegnamento di Gesù, non le circostanze della sua nascita. Stiamo però attenti a non prendere per oro colato tutto ciò che dicono gli evangeli, nei quali, come ho detto, è presente anche una percentuale di mitologia (contraddittoria per di più).

Gradirei sapere se il prof. Ricca condivide o meno le mie osservazioni. Sergio Bilato – Verona

 

Condivido senz’altro le osservazioni del nostro lettore sulle divergenze notevoli (egli non le elenca neppure tutte!) tra le due tradizioni evangeliche sulla nascita di Gesù,Paolo Ricca - nasceu em 1936 contenute rispettivamente nei capitoli 1 e 2 di Matteo e nei capitoli 1 e 2 di Luca. A questi ultimi bisogna aggiungere la genealogia di Gesù collocata da Luca subito dopo il racconto del battesimo (3, 23-38), mentre in Matteo si trova proprio all’inizio della sua narrazione (1, 1-15): le due genealogie sono anch’esse molto diverse. Concordo anche, almeno in parte, con i dubbi del nostro lettore sulla attendibilità storica di questi «evangeli – o racconti – dell’infanzia» (come vengono chiamati dagli studiosi), non però nel senso di un dubbio radicale su tutto ciò che vi si trova, ma nel senso che in essi «l’interesse teologico domina su quello storico», come scriveva Giovanni Miegge già nel 1951. Questo significa che quei capitoli non mirano tanto a fornire dati storici accurati sulle circostanze e il luogo della nascita di Gesù, quanto piuttosto ad affermare due verità costitutive della fede dei primi cristiani: la prima è l’ascendenza davidica di Gesù, quindi la sua messianicità espressa nell’appellativo «Figlio di Davide» con il quale egli è spesso salutato dalla folla; la seconda è la divinità originaria della sua persona fin dalla nascita, quindi la sua qualità di «Figlio di Dio» (oltre che di Maria), acquisita non dopo il battesimo, o dopo la risurrezione, ma posseduta già nel concepimento.

Il lettore dell’evangelo dovrà dunque cercare in quei capitoli il loro significato teologico piuttosto che l’esattezza storica dei fatti narrati. Condivido infine l’osservazione del nostro lettore secondo cui i «racconti dell’infanzia» contengono alcuni elementi leggendari (egli dice «mitici»), a patto però che in questo caso per «leggenda» non s’intenda semplicemente «cosa inventata, non vera, puro prodotto dell’immaginazione», ma s’intenda l’elaborazione poetica di un fatto storico – la nascita di Gesù – elaborazione che non necessariamente deforma il dato storico, ma può metterne in luce aspetti nascosti. Non condivido invece il giudizio complessivo del nostro lettore sui «racconti dell’infanzia» nei quali egli ravvisa «importanti percentuali di mitologia» – se, come immagino, egli intende con questo termine un puro prodotto della fantasia religiosa dei primi cristiani, privo di qualunque consistenza storica, un «mito di fondazione» come quello di Romolo e Remo.

No, non credo che i «racconti dell’infanzia» siano un mito di fondazione. Perché no? Perché essi contengono almeno tre dati fondamentali sicuramente storici, e niente affatto mitici o leggendari.

(1) Il primo è il fatto che Gesù è nato, cioè «Gesù» non è un nome simbolico creato dalla primissima comunità cristiana per esprimere un suo progetto o una sua speranza, ma è il nome di una persona in carne e ossa, vissuta e morta in Palestina nei primi anni Trenta della nostra era. Ma dove è nato Gesù? Qui le tradizioni evangeliche sono diverse. I «racconti dell’infanzia» lo fanno nascere a Betlemme e questa tradizione non è del tutto priva di plausibilità storica. Ma è più verosimile che Gesù sia nato a Nazareth, indicata da Marco come la sua «patria» (6, 1), cioè, presumibilmente, il suo luogo di origine: lo conferma l’aggettivo «Nazareno» con il quale viene abitualmente chiamato.

(2) Il secondo dato sicuramente storico, e niente affatto mitico o leggendario, contenuto nei «racconti dell’infanzia» è l’identità dei genitori di Gesù: Giuseppe e Maria. Su questo non ci sono dubbi, qui non c’è posto per nessuna invenzione. Non è invece chiaro, nei testi evangelici, la natura della paternità di Giuseppe nei confronti di Gesù. Secondo le due genealogie (su questo sono concordi) si giunge a Gesù attraverso Giuseppe, che quindi è suo «padre». Ma in che senso? In senso fisico? Sembra di no, dato che Maria è costantemente designata come «vergine» o come «ragazza non sposata»: il termine greco ha i due significati, che però, nel quadro della società ebraica di allora, indicano la stessa realtà e implicano entrambi l’assenza di un rapporto sessuale prima della nascita di Gesù. Giuseppe è dunque «padre» di Gesù nel senso di una paternità legale, adottiva, non in quello di una paternità fisica.

(3) Il terzo dato sicuramente storico, e per nulla mitico o leggendario, contenuto nei «racconti dell’infanzia» è l’ebraicità di Gesù. Questi racconti, pur con tutte le loro grosse differenze (hanno però anche alcuni importanti punti in comune), provengono dalle stesso ambiente giudeo-cristiano, e perciò sono pieni di reminiscenze bibliche. Matteo interpreta vari passi dell’Antico Testamento come profezie degli avvenimenti che hanno preceduto e accompagnato la nascita di Gesù (1, 23; 2, 6.15.17); in Luca 1 e 2 invece l’Antico Testamento è presente quasi in ogni riga dei cantici di Maria, di Zaccaria e di Simeone. I due racconti sono quindi fortemente impregnati di spiritualità ebraica e descrivono bene l’ambiente religioso e sociale nel quale Gesù è nato e cresciuto. La sua patria, la Galilea, era malvista dalle autorità romane perché terra politicamente irrequieta, e dalle autorità religiose di Gerusalemme perché semipagana. La famiglia di Gesù però, come il resto della popolazione ebraica della regione, partecipava alle feste e liturgie del Tempio di Gerusalemme e coltivava la pietà degli anawim, i «poveri d’Israele». L’ebraicità di Gesù, fortemente sottolineata dai «racconti dell’infanzia», è fondamentale per capire la sua missione e la sua persona.

C’è dunque molta storia in questi racconti, ma c’è anche molta teologia e molta poesia. La teologia l’ho già indicata: annunciare che Gesù è il Figlio di Davide e come tale il Messia (Matteo), e che è «concepito di Spirito santo» e come tale Figlio di Dio (Luca). In fondo, i due racconti dell’infanzia non dicono altro che quello che dirà l’intera narrazione evangelica e che diranno Paolo (Romani 1, 3: Gesù Figlio di Davide) e Giovanni (Gesù Figlio di Dio). Ma lo dicono all’inizio, quasi come preludio o ouverture dell’evangelo, raccontando il fatto storico della nascita di Gesù in forme poetiche e con finalità teologiche. Non parlerei dunque di «mitologia», ma di teologia e poesia intrecciate a un nucleo storico fondamentale.

Giustamente il nostro lettore osserva che gli evangelisti Marco e Giovanni non parlano della nascita di Gesù. Per Marco l’evangelo comincia non con la nascita, ma con il battesimo di Gesù nel Giordano (1, 9-11). Giovanni si limita a dichiarare che «la Parola è stata fatta carne», senza precisare né come né dove. Nella sua narrazione, Maria compare per la prima volta alle nozze di Cana, al capitolo 2: il fatto di aver dato alla luce Gesù viene totalmente ignorato. Perché questo doppio silenzio? La ragione principale sembra essere questa: per quanto fondamentale, la nascita di Gesù non è, di per sé, un atto salvifico. Sono la sua morte e la sua risurrezione che salvano, non la sua nascita. Anche l’apostolo Paolo non dà alcun rilievo e non attribuisce alcun significato particolare alla nascita di Gesù, che egli menziona una sola volta, en passant, nella lettera ai Galati, dove parla di Gesù «nato da donna» (4, 4). L’importanza che la festa del Natale ha acquistato nel culto e nella pietà cristiana e che continua a mantenere anche nel nostro tempo così largamente secolarizzato, è sproporzionata rispetto al posto che la nascita di Gesù occupa nel Nuovo Testamento.

Del resto, come è noto, i primi cristiani non festeggiavano il Natale, anche perché né Matteo né Luca ci permettono di stabilire la data di nascita di Gesù. L’indicazione di Luca secondo cui, nella notte in cui Gesù nacque, dei pastori «stavano nei campi e facevano di notte la guardia al loro gregge», supponendo che sia attendibile, fa pensare a un periodo che va da marzo-aprile fino a novembre. Altre indicazioni non ci sono. Anche questo dimostra lo scarso interesse dei primi cristiani per la nascita di Gesù. Per loro, l’unico «giorno del Signore» era la domenica, cioè il giorno della risurrezione, non quello della nascita.

Ma allora, come mai è nato (tardivamente) il Natale? E perché è stato fissato al 25 dicembre? A queste domande risponde un volumetto del prof. Oscar Cullmann apparso nel lontano 1947, intitolato Il Natale nella chiesa antica e pubblicato in versione italiana curata dal pastore Franco Sommani già nel 1948. Eccone i dati essenziali.

[a] La prima traccia di una celebrazione del Natale di cui ci sia pervenuta notizia si trova nell’ambito di una scuola cristiana gnostica (quindi non ortodossa), quella di Basilide, fiorita dal 120 al 140 dopo Cristo. Il 6 gennaio di ogni anno Basilide e i suoi seguaci festeggiavano non già la nascita di Gesù, bensì il suo battesimo, nel quale ebbe luogo la sua «manifestazione» o «apparizione» come «Figlio di Dio», essendo così chiamato, e quindi costituito, dalla voce celeste. «Apparizione» in greco si dice epifanéia, da cui proviene il termine epifania, che cade appunto il 6 gennaio. Ma perché il 6 gennaio? Perché il quel giorno aveva luogo una festa pagana del dio Eone figlio della vergine Kore, collegata anche ai poteri speciali attribuiti alle acque del Nilo. Basilide volle sostituire la feste pagana con una festa cristiana: il vero Figlio di Dio, Cristo, manifestato come tale al battesimo, al posto del dio Eone, e le acque del giordano al posto di quelle del Nilo.

[b] La Chiesa d’Oriente, pur condannando Basilide per le sue dottrine gnostiche, adottò la sua festa, abbinando però alla memoria del battesimo di Gesù anche quella della sua nascita: questa si celebrava nella notte tra il 5 e il 6 gennaio, mentre il giorno 6 si celebrava il battesimo. Possediamo una liturgia del Natale (nascita e battesimo) dell’inizio del IV secolo.

[c] Dall’Oriente la festa del Natale si spostò in Occidente, e qui la festa della nascita venne fissata il 25 dicembre, dissociandola da quella del battesimo che continuò a essere celebrata il 6 gennaio. Perché il 25 dicembre? Per la stessa ragione per la quale Basilide aveva scelto il 6 gennaio per celebrare il battesimo di Gesù, e cioè per sostituire una festa pagana. Qui la festa era quella del dio Sole, cara – sembra – tra gli altri all’imperatore Costantino, che la cristianizzò sostituendo il dio Sole con il «vero sole», Cristo. La festa del dio Sole era celebrata il 25 dicembre, ed ecco perché il nostro Natale cade in quella data.

Come si vede, la storia della festa di Natale è piuttosto complessa, per non dire complicata. Il racconto evangelico del Natale è invece limpido, lineare (nelle due diverse versioni di Matteo e di Luca), e straordinariamente bello, di una bellezza non solo poetica, ma spirituale. Per questo il Natale è diventato la festa cristiana più amata e più universalmente celebrata di tutte. È anche, ahimé, la più mondanizzata. Questo però non è un motivo sufficiente per non celebrarla, è piuttosto un motivo per celebrarla bene, cioè in semplicità d’animo e consapevolezza di fede, conservando la capacità di stupirci davanti alla grandezza di Dio diventato per amore nostro così piccolo (le sue vie non sono le nostre vie) e cercando di festeggiare non noi stessi (i nostri affetti, la gioia di rivedersi, riabbracciarsi e trascorrere insieme bei momenti conviviali), ma Gesù che è venuto a cercarci, per essere lui la via della nostra vita.

Tratto dalla rubrica Dialoghi con Paolo Ricca del settimanale Riforma del 19 dicembre 2008.

 

BORG, M. J.; CROSSAN, J. D. O primeiro Natal: O que podemos aprender com o nascimento de Jesus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008Por outro lado, acaba de sair em português o livro de BORG, M. J.; CROSSAN, J. D. O primeiro Natal: O que podemos aprender com o nascimento de Jesus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, 304 p. – ISBN 9788520921470.

Original inglês: The First Christmas: What the Gospels Really Teach About Jesus’s Birth. New York: HarperOne, 2007, 272 p. – ISBN 9780061430701

Para os autores, “o tema comum por trás das narrativas [do nascimento e infância de Jesus] é a rejeição do projeto imperial de Roma, que dominava um quarto da população do planeta na época, em favor de um projeto alternativo para a humanidade, representado por Jesus e seu evangelho. ‘As histórias do primeiro Natal são, em geral, anti-imperiais. Em nosso contexto, isso significa afirmar, seguindo as histórias da natividade, que Jesus é o Filho de Deus (e o imperador não é), que Jesus é o Salvador do mundo (e o imperador não é), que Jesus é o Senhor (e o imperador não é), que Jesus é o caminho para a paz (e o imperador não é)’, escrevem os autores”, explica Reinaldo José Lopes na reportagem Histórias bíblicas de Natal têm viés político, diz pesquisa, publicada no G1 em 22/12/2008 – 09h32.

Leia o texto completo.

Paulo de Tarso: tema de capa da IHU On-Line

Paulo de Tarso: a sua relevância atual

Este é o tema de capa da edição 286 da IHU On-Line, publicada ontem, 22/12/2008.
As entrevistas:

  • Hermann Häring: Paulo, o universalismo e a Ética Mundial
  • Alain Gignac: A redescoberta de Paulo pela pós-modernidade
  • Rémi Brague: Antecipando os slogans da modernidade
  • Jean-Claude Eslin: O universalismo paulino
  • Jerome Murphy O’Connor: Paulo: um novo sentido para a igreja de hoje
  • Maria Clara Bingemer: Paulo e a Carta aos Romanos: a Igreja e a Sinagoga
  • Diane Kuperman: Fraternidade judaico-cristã: a busca pelo diálogo
  • Eduardo Pedreira: Um plantador de igrejas

Veja todas as edições da IHU On-Line.

II Simpósio de Teologia da PUC-Rio aborda Paulo

O II Simpósio Internacional de Teologia da PUC-Rio acontecerá de 31/3/2009 a 02/4/2009 e terá como tema Paulo Apóstolo, diante do Judaísmo e do Helenismo.

Fazem palestras ou participam de debates especialistas como: Florentino García Martínez (Lovaina), Edgard Leite Ferreira Neto (UERJ), Milton Schwantes (UMESP), Jesus Hortal Sanchez (PUC-Rio), Romano Penna (Roma), Johan Konings (FAJE-BH), Cláudia Andréa Prata Ferreira (UFRJ), Henrique Fortuna Cairus (UFRJ), Dom José Antônio Peruzzo (Bispo de Palmas – PR), André Leonardo Chevitarese (UFRJ), Marta Braga (UCP) e Ricardo Lengruber (BENNETT).