Projeto Biblioteca de Assurbanípal

A Biblioteca de Assurbanípal é o nome dado a uma coleção de mais de 30 mil tabuinhas de argila e fragmentos com escrita cuneiforme. As tabuinhas foram descobertas nas ruínas da cidade de Nínive, norte do atual Iraque, outrora capital do poderoso império assírio, governado por Assurbanípal de 668 a 627 a. C. Elas foram encontradas em uma série de escavações iniciadas na metade do século XIX e que prosseguiram até o primeiro terço do século XX, e formam as coleções reais assírias de literatura e arquivos acadêmicos sobreviventes. Nínive foi consumida pelo fogo por volta de 612 a. C., mas enquanto livros de papel seriam inevitavelmente destruídos, as tabuinhas de argila tornaram-se, na maioria dos casos, mais duras, fazendo delas os documentos mais bem preservados de milhares de anos da história da Mesopotâmia.

Tabuinhas da Biblioteca de Assurbanípal em exposição no Museu Britânico em 2018/19A vasta biblioteca de tabuinhas de argila de propriedade do rei Assurbanípal continua sendo um achado de rara importância. Uma combinação de erudito dedicado e governante extremamente poderoso, ele reuniu em Nínive uma riqueza incomparável de conhecimento especializado acumulado ao longo de muitos séculos. Esse aprendizado alimentou e sustentou diretamente a realeza de Assurbanípal. A coleção de Assurbanípal foi a maior, mais ampla e mais importante biblioteca já reunida em mais de 3.500 anos de cultura cuneiforme. Até a Biblioteca de Alexandria, era a biblioteca mais significativa da antiguidade. Quase 32.000 tabuinhas e fragmentos sobreviveram. Eles abrangem textos escolásticos, incluindo textos divinatórios, mágicos, médicos, literários e lexicais, e administrativos, bem como inscrições históricas locais. Eles preservam a ampla extensão da cultura tradicional da Mesopotâmia, como era conhecida no final do século VII a. C.

A primeira grande descoberta de tabuinhas da biblioteca foi feita pelo arqueólogo inglês Austen Henry Layard aí pela metade do século XIX. Seu assistente iraquiano, Hormuzd Rassam, continuou as escavações e em 1852 descobriu um segundo palácio em Nínive e nele outra grande coleção de tabuinhas.

Antes da descoberta da biblioteca, quase tudo o que sabíamos sobre a antiga Assíria vinha de histórias da Bíblia ou de historiadores clássicos. Com a descoberta da biblioteca, milhares de textos cuneiformes foram recuperados, contando a história dos assírios com suas próprias palavras. A partir deles, podemos conhecer intrigas de corte, ouvir relatórios secretos de inteligência, seguir rituais passo a passo, ouvir as palavras de hinos e orações e folhear manuais médicos, além de ler sobre os feitos dos reis, narrados com muitos detalhes.

A biblioteca ficou famosa também na antiguidade, pois, séculos após a morte de Assurbanípal e a destruição da Assíria, escribas na Babilônia celebraram a compilação da biblioteca. Embora muitas tabuinhas tenham sido encontradas em outros locais nos últimos 170 anos, as tabuinhas da Biblioteca de Assurbanípal continuam sendo nossa fonte primária para a maior parte do que sabemos sobre os estudos mesopotâmicos da época (Confira mais em: Jonathan Taylor, A library fit for a king, The British Museum Blog, 25 October 2018).

 

O Projeto Biblioteca de Assurbanípal recria digitalmente a biblioteca de tabuinhas cuneiformes de Assurbanípal, rei da Assíria (668 – c. 627 a.C.). Desde sua descoberta no século XIX, a Biblioteca tem sido o mais popular e informativo de todos os recursos assiriológicos. É a base sobre a qual a assiriologia foi construída.Assurbanípal, rei da Assíria (668-627 a.C.)

Estamos documentando a biblioteca da forma mais completa possível em textos e imagens: transliterações da escrita cuneiforme, traduções, cópias desenhadas à mão, um conjunto completo de novas imagens digitais de alta qualidade e uma biblioteca de fotografias mais antigas produzidas desde 1850. O catálogo está sendo atualizado e aprimorado.

Nosso trabalho visa estimular o interesse e facilitar o ensino e a pesquisa sobre os textos. Estamos realizando nossa própria pesquisa, revisando o conteúdo e o significado da Biblioteca de Assurbanípal agora 170 anos após sua descoberta. Pretendemos compreender a composição e o funcionamento da Biblioteca.

O Museu Britânico foi fundado em 1753 para disponibilizar suas coleções gratuitamente aos “estudiosos e curiosos”. Em 1852, Lord Ross, presidente dos curadores, declarou:

“Estou muito ansioso para que se faça alguma tentativa de fotografar as inscrições para colocá-las convenientemente ao alcance de pessoas que tenham gosto por essa linha de pesquisa”.

Somente nos últimos anos, na virada do século 21, com a pronta disponibilidade da fotografia digital, armazenamento de dados barato, internet e acesso generalizado à banda larga, tornou-se viável tornar esse sonho realidade.

 

Histórico do projeto

O Projeto Biblioteca de Assurbanípal foi criado em 2002 como uma cooperação de longo prazo com a Universidade de Mossul, Iraque. A primeira etapa foi financiada pelo Townley Group of British Museum Friends. A Dra. Jeanette Fincke produziu uma lista das 3.500 tabuinhas da Biblioteca em escrita babilônica. Em uma segunda fase, Fincke voltou a atenção para textos astrológicos de adivinhação de Nínive em escrita assíria. Os resultados deste trabalho estão em um site separado, The Nineveh Tablet Collection, e foram publicados em 2003/04, 2004 e 2014.

Uma terceira fase de atividade, novamente financiada pelo Townley Group, trouxe a inestimável ajuda do professor Riekele Borger, professor emérito de assiriologia da Universidade de Göttingen. Há 40 anos vinha ao Museu, identificando e juntando fragmentos da biblioteca. Ele estava compilando um catálogo atualizado das tabuinhas. Como parte dessa colaboração, seus resultados seriam incorporados ao nosso catálogo, além de serem publicados como monografia nos moldes tradicionais. Infelizmente, o Prof. Borger faleceu em dezembro de 2010 antes que pudesse completar seu catálogo. No entanto, seu trabalho meticuloso é uma ajuda inestimável para os estudiosos.

De 2009 a 2013, com o generoso apoio da Andrew Mellon Foundation, produzimos imagens digitais de alta resolução de todas as tabuinhas da Biblioteca. Cada imagem é uma composição de até 14 imagens primárias, que representam um desdobramento virtual do objeto 3D em um fac-símile 2D. Todas as faces de cada tabuinha são visíveis em uma única imagem. Imagens adicionais de impressões de selos foram feitas, uma vez que requerem iluminação diferente do texto. As imagens foram divulgadas ao longo do projeto tanto no site do British Museum Collections Online quanto no site do CDLI. O conjunto completo agora também está disponível aqui em nosso catálogo online dedicado.

Desde 2014 a nossa ênfase tem sido a atualização e melhoria do catálogo. Este catálogo serve de base para novas pesquisas sobre a composição e natureza da Biblioteca.

 

About the project

The Ashurbanipal Library Project recreates digitally the cuneiform tablet library of Ashurbanipal, King of Assyria (668 – c. 630 BC). Since its discovery in the nineteenth century, the Library has been the most popular and most informative of all Assyriological resources. It is the foundation on which Assyriology has been built.

George Smith (1840-1876) e fragmentos da tabuinha 11 da Epopeia de Gilgámesh, com o relato do dilúvioWe are documenting the Library as fully as possible in texts and images: sign-transliterations, translations, hand-drawn copies, a complete set of new, high-quality digital images and a library of older photographs produced since 1850’s. The catalogue is being updated and improved.

Our work is designed to stimulate interest and facilitate teaching and research on the texts. We are undertaking our own research, looking afresh at the contents and significance of Assurbanipal’s Library now 160 years after its discovery. We aim to understand the composition and functioning of the Library.

The British Museum was founded in 1753 to make its collections freely available to the “studious and curious”. In 1852 Lord Ross, Chairman of the Trustees, declared:

I feel very anxious that some attempt should be made to Photograph the inscriptions so as to place them conveniently within the reach of persons that have a taste for that line of research … and it seems to me to be a reproach to the Trustees … that the aids of modern Science should not have been called for sooner.

Only in the last few years, at the turn of the 21st century, with the ready availability of digital photography, cheap data storage, the internet and widespread broadband access, has it become feasible to make that dream a reality. Now for the first time the entire Library is available in new high-quality images.

Jonathan Taylor, ‘About the project’, Ashurbanipal Library Project, The Ashurbanipal Library Project, Department of the Middle East, The British Museum, Great Russell Street, London WC1B 3DG, 2019 [http://oracc.museum.upenn.edu/asbp/abouttheproject/]

 

History of the project

The Ashurbanipal Library Project was set up in 2002 as a long-term co-operation with the University of Mosul, Iraq. The first stage was funded by the Townley Group of British Museum Friends. Dr Jeanette Fincke produced a list of the 3,500 Library tablets in Babylonian script. In a second phase, Fincke turned attention to astrological fortune-telling texts from Nineveh in Assyrian script. The results of this work feature on a separate web-site, and are published in (2003/04), (2004), (2014).

A third phase of activity, again funded by the Townley Group, brought the invaluable help of Professor Riekele Borger, Emeritus Professor of Assyriology at the University of Göttingen. For 40 years he had been coming to the Museum, identifying and joining fragments from the library. He was compiling an updated catalogue of the tablets. As part of this collaboration, his results would be incorporated into our catalogue, as well as being published as a monograph in the traditional manner. Sadly, Prof. Borger passed away in December 2010 before he was able to complete his catalogue. Nevertheless, his meticulous work is an invaluable aid to scholars.

From 2009-2013, with the generous support of the Andrew Mellon Foundation, we produced high resolution digital images of all the Library tablets. Each image is a composite of up to 14 primary images, which represents a virtual unfolding of the 3D object into a 2D facsimile. All faces of each tablet are visible in a single image. Additional images of seal impressions were taken, since these require different lighting from the text. The images were released over the course of the project both on the British Museum Collections Online site and on the CDLI website. The complete set is now also made available here in our dedicated online catalogue.

Since 2014 our emphasis has been on updating and improving the catalogue. This catalogue serves as the foundation of new research on the composition and nature of the Library.

Jonathan Taylor, ‘History of the project’, Ashurbanipal Library Project, The Ashurbanipal Library Project, Department of the Middle East, The British Museum, Great Russell Street, London WC1B 3DG, 2019 [http://oracc.museum.upenn.edu/asbp/abouttheproject/historyoftheproject/]

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