O lado obscuro dos blogs

No dia 21 de abril postei notícia que denunciava o charlatanismo de muitos blogs que publicam lixo como se fosse ciência.

E os blogs políticos? O Brasil não ficou envaidecido com o sucesso de seus blogs políticos? Pois é. Lendo hoje três blogs de grandes publicações jornalísticas brasileiras, depois de conter a náusea lembrei-me de um artigo publicado na Carta Maior.

 

Fofoca de “blogueiros” vira notícia no jornalismo virtual

Na primeira metade do século XX, o rádio exerceu o papel preponderante na formação de opinião para a disputa do poder político ou geopolítico estratégico. Os discursos de Hitler, na Alemanha Nazista, as transmissões da BBC, a cobertura jornalística da Segunda Guerra Mundial são exemplos da relevância dessa mídia naquele período. A comunicação de massa passou a ser uma realidade.

Na segunda metade do século passado, foi a vez da televisão. Imagens transmitidas via satélite para dezenas de países transformaram o mundo em uma aldeia global. Encanto, indignação e revolta mobilizaram, em poucos dias ou poucos segundos, cidadãos de todas as partes em torno de acontecimentos como a conquista do espaço, as guerras e tragédias, o choque de ideologias e os embates políticos e comerciais.

Embora ainda seja um meio de comunicação relativamente “elitizado”, a internet já se consagrou como uma mídia de massa na Era Digital. Sua agilidade, interatividade, amplitude e flexibilidade encurtaram o tempo de propagação das informações noticiosas, ao mesmo tempo em que facilitaram o acesso a uma ampla diversidade de canais e redes de comunicação e formação de opinião.

Sem menosprezar a força do rádio e da televisão, ainda preponderantes na interlocução com as camadas mais pobres da sociedade, arrisco a afirmação de que o campo da internet será o diferencial da disputa eleitoral deste ano. Menos pelo alcance direto da audiência da maioria do eleitorado e mais pela extrema capacidade de pautar os outros meios de comunicação, espraiando com grande rapidez informações verdadeiras ou falsas para uma rede de cidadãos de classe média cada vez mais ávidos pela sensação de estarem bem informados.

Na Era do Jornalismo Em Tempo Real, os sítios de notícias da internet tornaram-se referência para um público expressivo e crescente. Inicialmente desprezada pelas estrelas do jornalismo brasileiro, a internet passou a ser a vitrine da moda, especialmente depois de ter pautado parte significativa da cobertura dos escândalos que abalaram as estruturas do governo petista. Os blogs, espécie de diário pessoal eletrônico, ganharam fama e prestígio antecipando notícias e direcionando o noticiário, que geralmente se orienta pelo comportamento de manada.

Tal como as colunas de notas e fofocas, os blogs de jornalistas têm demonstrado mais afinidade com versões do que com fatos, transformando pautas em notícias publicadas. Novidade no mundo da comunicação, esse tipo de canal noticioso ainda não consolidou um compromisso com o conjunto de regras éticas, morais e jurídicas que regulam o jornalismo. Portanto, está solto para espalhar muito joio no meio do trigo. Ganharam em poucos meses e até dias a credibilidade que outros meios levaram décadas para consolidar. Mas sem a mesma responsabilidade ética, moral e jurídica que traça os limites da liberdade de informação no Estado Democrático.

Nesta terça-feira (18), observamos dois exemplos distintos de como a mistificação dos blogs está envenenando o jornalismo. O primeiro caso envolve o “ex-blog” do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, do PFL, assumidamente criado para fazer o embate político na internet. O segundo, o blog do jornalista Ricardo Noblat, hospedado no portal do Estadão, que abriu o terreno desse canal de comunicação no Brasil ao conciliar o prestígio do ex-diretor de redação de alguns dos principais jornais do país com a publicação de notícias quentes no auge da cobertura das CPIs.

Com boletins diários (Informação e Opinião de César Maia – IOCM) enviados para endereços eletrônicos de boa parte da imprensa brasileira, o blog de César Maia tem sido uma referência na propagação de boatos e insinuações com o objetivo de constranger o governo Lula. No fim da semana passada, informava que estava para ser detonado um novo escândalo envolvendo um ministro e sua casa. A expectativa em torno do noticiário das revistas semanais e jornais se frustrou. Os vestígios do terrorismo virtual só foram vistos na coluna de uma revista. Tratava-se de nova tentativa de denúncia não comprovada para enfraquecer o ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos.

Na investida desta terça-feira, o prefeito do Rio espalha, em tom de galhofa, números de contas bancárias do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, insinuando que a quebra do sigilo delas poderia revelar transferências de recursos para familiares do presidente Lula. A linguagem cifrada sugere ainda que Okamotto pode ter sido grampeado falando do assunto. Até aí, nada de mais. A disputa política é uma guerra. Em 1998, o sítio do PDT na internet reproduziu um artigo do jornalista Sebastião Nery falando de um filho não reconhecido do presidente Fernando Henrique Cardoso.

A diferença é que aquela informação não foi disseminada como verdade pela imprensa. No caso do boato de César Maia, o texto foi reproduzido integralmente no blog do jornalista Fernando Rodrigues, colunista do jornal Folha de S.Paulo. A chamada para a nota do blog foi destacada no alto da página principal do portal UOL, com o título “Maia divulga suposta conta de Okamotto”. Mesmo com os adjetivos cautelosos e os verbos no condicional recomendando a desconfiança na informação, o objetivo do prefeito do PFL foi alcançado. O jornalista e o veículo emprestaram sua credibilidade para espalhar um boato que só se justificaria como interesse público se devidamente comprovado. Divulgando o torpedo político como informação noticiosa, eles serviram, consciente ou inconscientemente, aos interesses de uma facção política.

No entanto, o portal do Estadão fez pior. Pegou um comentário de uma fonte não identificada publicado no blog do Noblat e transformou em verdade absoluta. No seu diário pessoal eletrônico, o jornalista conta que “um destacado senador da CPI dos Correios” teria sido procurado pelo lobista Marcos Valério, que teria lhe passado o seguinte recado: “Estou duro de dinheiro. Diga isso ao Okamotto”. A conversa, segundo Noblat, teria sido relatada a Okamoto e ao presidente Lula.

A nota do blog não dá nenhuma indicação de quem possa ser a fonte da informação. Tem o nítido objetivo de insinuar que Okamoto não seria só uma espécie de tesoureiro particular o presidente e sua família, teria assumido o papel de responsável pelo caixa-dois do PT depois que Delúbio Soares teve que sair de cena.

As suposições e insinuações de um “blogueiro”, mesmo sendo jornalista, fazem parte do território sem lei da internet. Todos dizem o que querem sem dar satisfação a ninguém. O problema maior está no fato do portal do Estadão ter alçado a especulação para a manchete principal da página. E o que é pior, tratando um comentário sem fonte como verdadeiro: “Valério pediu dinheiro a Okamotto”.

O editor do sítio nem se deu ao trabalho de desconfiar da informação, como é prática comum no jornalismo responsável. Ele poderia ter checado a lista de senadores da CPI para ver quem poderia ter feito uma inconfidência dessas. Destacado senador da CPI com intimidade suficiente com o presidente Lula a ponto de constrangê-lo? O mais próximo do perfil é o senador Delcídio Amaral (PT-MS). Será que alguém tão elogiado pela oposição e pela imprensa teria se prestado ao papel de levar recados de Marcos Valério a Paulo Okamotto? A história não bate, mas será reproduzida como verdade por ter sido chancelada pelo Estadão.

A internet é uma mídia democrática e os blogs são canais de comunicação interessantes para disseminar informações e opiniões. Mas os jornalistas precisam ter mais responsabilidade ao lidar com tais informações. Sem rigor jornalístico, podem se transformar em instrumentos da disputa política, minando a credibilidade dos veículos de comunicação e de seus jornalistas. Em uma disputa política acirrada como a que se avizinha é preciso redobrar a vigilância.

Fonte: Nelson Breve – Carta Maior: 18/04/2006

No sistema neoliberal somos levados, cada vez mais, a viver e morrer em função do consumo

Agência Carta Maior: 21/04/2006

Velhos e novos consensos morais

Luís Carlos Lopes

Durante muito tempo a Igreja Católica foi a guardiã da moral pública brasileira. Não é mais (…) Nas últimas cinco décadas, o capitalismo se instalou profundamente na vida brasileira, chegando a sua atual fase, que alguns críticos chamam de neoliberal. Tivemos um longo percurso de passagem de uma economia rural, para uma economia urbana. A maior parte dos brasileiros (80%) passou a viver nas cidades grandes, médias e pequenas. A antiga hegemonia católica esfacelou-se, bem como o consenso social sobre questões afetivas e sexuais. O país se dessacralizou e a moral e os moralistas se defrontaram com novas crenças e novos comportamentos que, mesmo fragmentariamente, trouxeram novos modos de encarar antigos problemas. As novas igrejas e mesmo os novos movimentos católicos já não são capazes de conseguir os mesmos consensos de antes (…) Todos querem o mesmo: viver e morrer para e pelo consumo. Infelizmente, é fácil de ver em muita gente boa, que eles crêem em sua superioridade sobre os demais. Os mesmos vêem como desnecessário se ter preocupações éticas e acreditam no lucro acima do amor entre os homens e mulheres de boa vontade…


Acredito que outros fatores devam ser igualmente considerados, quando se tenta pensar a ética da complexa sociedade atual. Mas estes que são aqui apresentados já nos fazem pensar…

Luís Carlos Lopes é professor do Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense.

Morreu John Trever

John C. Trever: 1916-2006 - Photo by Lou Mack/Los Angeles Times via Getty ImagesI am sorry to inform you that John Trever died on Saturday morning“. Assim começa Jim Davila seu post no PaleoJudaica.com, comunicando a morte de John C. Trever, que teve papel importante na descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, como se pode ler aqui.

Leia sobre John C. Trever na Wikipedia.

Vale a pena ler seu livro The Dead Sea Scrolls: A Personal Account. A Revised Edition of the Author’s Untold Story of Qumran. Piscataway, NJ: Gorgias Press, 2003, 268 p. – ISBN 9781593330422.

O homem está devorando o planeta: e depois?

Humanidade já consome metade da energia do planeta, diz livro

Existem muitos jeitos de examinar o complicado sistema que os cientistas chamam de biosfera, a camada de vida que reveste a Terra. Um deles é perceber que esse conjunto funciona como um conversor de energia ridiculamente grande: o processo começa com a luz que vem do Sol e com os organismos que conseguem usá-la como bateria, e atravessa todas as formas de vida que precisam comer ou parasitar outros organismos.

Fazer a conta de como essa Itaipu de dimensões planetárias converte tanta energia em matéria viva pode parecer missão impossível, mas o biólogo britânico Stuart Pimm, da Universidade Duke (Estados Unidos) encarou o desafio em seu livro “Terras da Terra”, lançado recentemente no Brasil. O resultado da conta, ainda que provisório, não é nada bom: a ação de uma única espécie, a humana, está perigosamente próxima de monopolizar a conta de luz do planeta. Nem é preciso dizer que, num caso desses, a multa pelo consumo excessivo de energia está além do que a humanidade pode pagar.

De calculadora na mão, Pimm faz um tour pelos ecossistemas terrestres e marinhos do planeta para estimar, em cada caso, que fatia do bolo energético da Terra o homem anda mordendo. A somatória incessante é um dos poucos entraves à leitura do livro –ainda mais porque quase não precisava, brinca o biólogo.

É que, sem querer e fazendo piada, Pimm atinou com a resposta certa. Ele conta que outro biólogo, Paul Ehrlich, da Universidade Stanford, fez a pergunta fatídica durante uma viagem da dupla ao Havaí. “Que percentual do crescimento anual das plantas terrestres nós consumimos, direta ou indiretamente?”, questionou Ehrlich. Debochando do amigo, Pimm teria retrucado “A resposta é 42%”. Um parêntese para o leitor não-nerd: 42 é a resposta dada pelo Deep Thought, o computador mais potente do cosmos, para “a pergunta definitiva, sobre a vida, o Universo e tudo o mais”, na série de ficção científica “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, de Douglas Adams.

Pimm achou menos graça na piada quando Ehrlich soltou um palavrão e disse: “Levamos meses para obter essa cifra. Como você conseguiu seu número assim tão rápido?”. De fato, a conta de Ehrlich e companhia realmente ficava muito perto de 42% –para ser mais exato, 45%.

Usar a produtividade total das plantas, no caso dos ambientes terrestres, é bastante razoável porque são elas que convertem a energia solar numa forma utilizável pelas outras formas de vida, que podem então comer a biomassa vegetal (no caso dos herbívoros) ou se alimentar da biomassa herbívora. Continuando com a metáfora energético-econômica, é como se as atividades humanas engolissem quase metade do “juro” produzido pela conta biológica do planeta por ano. Pimm resume a conta em linguagem de manchete sensacionalista: “O homem come o planeta! Dois quintos já se foram!”.

Perigo em alto mar

A contabilidade terrestre ocupa boa parte do livro e viagens aventurescas da Polinésia ao Brasil, mas a situação dos mares da Terra também ganha destaque –não por acaso. No último século, as frotas pesqueiras do planeta suaram um bocado para provar que Thomas Huxley (1825-1895), naturalista britânico e defensor número um de Charles Darwin, tinha falado bobagem. Numa palestra em 1883, ele declarara: “Acredito… que todos os grandes pescados marinhos são inexauríveis”. Mais de 120 anos depois, é difícil achar uma espécie de peixe muito apreciada comercialmente que não esteja sob risco de extinção.

Há muitas razões para essa situação alarmante, além da capacidade industrial dos atuais barcos de pesca. Uma delas é que os recursos do mar, na verdade, são surpreendentemente escassos, apesar da vastidão oceânica. Boa parte do mar é estéril: a vida se concentra em lugares como as plataformas próximas dos continentes ou em “montanhas” submersas, onde há nutrientes. A região perto dos continentes e as poucas manchas com riqueza de vida em alto-mar, assim, são sistematicamente saqueadas, explica Pimm.

Há, porém, outro problema: o uso da biomassa marinha pelo homem consegue ser ainda mais perdulário do que o que acontece em terra. Quando se olha a cadeia alimentar oceânica, que começa com o minúsculo fitoplâncton (“plantas” microscópicas) e vai subindo até predadores que comem vários outros predadores, como os atuns, o impacto humano se exerce sobre quem está no alto dela. É como se os restaurantes estivessem servindo filé de leão ou tigre no lugar de carne bovina. O desperdício é quantificável: “Na próxima vez que você comer um delicioso filé de espadarte, digamos um quarto de quilo grelhado na manteiga”, escreve Pimm, “pense que um quarto de tonelada de fitoplâncton foi morto pelo zôoplancton para tornar possível tal situação”.

E que tal acabar com todo esse desperdício de níveis tróficos (como os cientistas chamam os degraus da cadeia alimentar) e ir direto à fonte, por assim dizer? A ex-União Soviética bem que tentou. Em meados da década de 1980, conta Pimm, barcos soviéticos capturavam mais de 400 mil toneladas anuais de krill, um camarãozinho herbívoro e extremamente abundante da Antártida.

Acontece que os bichos adquirem gosto de capim quando estão se alimentando, além de estragar depressa. As máquinas descascadoras das caudas dos crustáceos estragavam cerca de três quartos da colheita. O principal produto derivado dos camarões, batizado de “Okean”, não passava de proteína coagulada. Compreensivelmente, ninguém na Rússia pós-comunista (aliás, no mundo) quer comer krill com catupiry no almoço de domingo. O mesmo vale para quase todas as espécies que ainda são abundantes no mar: não são fáceis de explorar comercialmente nem saborosas.

A grande crise

Tamanha voracidade humana, alerta o pesquisador, está cobrando seu preço. Está cada vez mais difícil negar que o planeta passa pela pior crise de extinções de espécies dos últimos milhões de anos. Os cálculos mais recentes, embora imprecisos, falam numa taxa de desaparecimento de espécies entre mil e 10 mil vezes maior que a registrada em condições normais (na qual uma ave se extinguiria a cada cem anos).

Fonte: Reinaldo José Lopes – Folha de S. Paulo: 30/04/2006

 

Rutgers University Press

Humans use 50 percent of the world’s freshwater supply and consume 42 percent of its plant growth. We are liquidating animals and plants one hundred times faster than the natural rate of extinction. Such numbers should make it clear that our impact on the planet has been, and continues to be, extreme and detrimental. Yet even after decades of awareness of our environmental peril, there remains passionate disagreement over what the problems are and how they should be remedied (cont.)

 

O livro
PIMM, S. Terras da Terra: O que sabemos sobre o nosso planeta. Londrina: Editora Planta, 2005, 308 p.
PIMM, S. L. A Scientist Audits the Earth. Reprint Edition. Piscataway, NJ: Rutgers University Press, 2004, 304 p. ISBN 0813535409

 

O autor
Stuart L. Pimm is Doris Duke Chair of Conservation Ecology at the Nicholas School of the Environment and Earth Sciences at Duke University. He is the author of more than 150 scientific papers, as well as three books, and numerous articles in publications such as New Scientist, The Sciences, Nature, and Science.

Seminário de historiografia antiga

The Ancient Historiography Seminar / Conférence antique d’historiographie is a professional, academic working group of the Canadian Society of Biblical Studies / Société canadienne des Études bibliques (CSBS/SCÉB).

The purpose of the Ancient Historiography Seminar is to advance the study of ancient historiography within the Canadian Society of Biblical Studies and the broader biblical studies and ancient Near Eastern studies communities.

This encompasses issues relating to the form and function of ancient historiographic texts, comparative historiography of the ancient world, methodological problems related to employing ancient historiographic texts for modern historical reconstruction, as well as various themes and tropes in biblical and cognate historography.

While certainly not limited to biblical texts, the Seminar will bring comparative material to bear on the understanding of the historiographic texts of the Bible.