Seca severa contribuiu para o colapso da Idade do Bronze

No item 2 de minha “História de Israel”, quando trato das origens de Israel, procuro explicar o que pode ter provocado o colapso das civilizações na Idade do Bronze Recente.

Escrevi:

“Mario Liverani, em Para além da Bíblia: História antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008. p. 59-80, assim como muitos outros pesquisadores, tenta explicar a catástrofe como resultado de uma conjunção de fatores dramáticos.

Isso pode ser verificado, por exemplo, com a severa crise climática na região do Saara, fazendo com que tribos líbias entrassem no vale do rio Nilo à procura de pastagens e água aí pelo fim do século XIII e início do século XII a.C. Os faraós Merneptah e Ramsés III se vangloriam de tê-las combatido, mas parece que tiveram que se adaptar à nova realidade.

Também na Ásia Menor houve uma sequência de anos muito secos no final do século XIII, com chuvas escassas, provocando uma grave carestia, como atestam textos hititas, ugaríticos, egípcios e a moderna dendrocronologia. A tudo isso se somou a pressão dos “povos do mar”, o fenômeno mais impressionante desta época.

Deste modo, Ugarit, Alashiya (Chipre) e toda uma série de reinos e cidades do Egeu, Ásia Menor, Síria e Palestina foram destruídos. Ruiu todo o sistema político do Bronze Recente. Minoicos, micênios, hititas, egípcios, babilônios, assírios, cananeus e cipriotas eram civilizações independentes umas das outras, mas interligadas por rotas de comércio que geravam prosperidade”.

Agora leio um interessante artigo sobre um dos fatores envolvidos na catástrofe da época: a seca.

 

A seca e a queda do Império Hitita – Por Nathan Steinmeyer – Biblical Archaeology Society: February 17, 2023

Como uma seca severa contribuiu para o colapso da Idade do Bronze

Embora a queda do Império Hitita – e de fato o colapso de todo o mundo da Idade do Bronze – tenha sido uma importante área de pesquisa por décadas, novas evidências sobre o que causou o colapso estão continuamente vindo à tona.

De fato, de acordo com muitos estudiosos, esse momento crucial da história não foi o resultado de um só fator, mas foi o resultado de múltiplos fatores. Conforme discutido em um artigo na Nature, um fator importante foi provavelmente uma crise climática.Medinet Habu: Ramsés III x Povos do Mar

Por meio milênio, o Império Hitita – localizado onde hoje é a Turquia e o noroeste da Síria – foi uma das forças mais poderosas do antigo Oriente Médio, muitas vezes competindo pelo poder com outros impérios pelo controle da Síria e do Palestina. Mas tudo isso acabou por volta de 1200 a.C., durante o catastrófico colapso da Idade do Bronze, quando os impérios e reinos da região de repente se desfizeram.

Isso, por sua vez, abriu as portas para muitos reinos chegarem ao poder, incluindo os israelitas e os arameus. No entanto, a causa desse desastre ainda não é completamente compreendida.

O estudo na Nature, que utilizou dendrocronologia (datação de anéis de árvores) e análise de isótopos estáveis, examinou um grupo de antigas árvores de zimbro de Hatti para investigar uma possível causa: a mudança climática.

Essa técnica permitiu que a equipe examinasse o nível de chuva na região com maior precisão temporal do que nunca, o que, por sua vez, revelou uma seca inesperadamente severa entre 1198 e 1196 a.C.

Embora as secas fossem uma ocorrência frequente no mundo antigo, as secas de longo período tinham o potencial de sobrecarregar os sistemas agrícolas e administrativos ao ponto de ruptura.

De acordo com o estudo, provavelmente foi isso que aconteceu com o Império Hitita. Combinada com outros fatores internos e externos, a severa crise ecológica não foi superada.

“Isso teria levado a um colapso da base tributária, deserção em massa do grande exército hitita e provavelmente um movimento em massa de pessoas em busca de sobrevivência. Os hititas também foram desafiados por não terem um porto ou outras vias fáceis para transportar alimentos para a região”, disse Brita Lorentzen, coautora do estudo, ao The Guardian.

Ao longo dos anos estudiosos sugeriram muitos fatores para explicar o colapso da Idade do Bronze, principalmente as invasões e/ou migrações dos povos do mar, mencionadas em fontes egípcias. No entanto, estudos recentes enfatizaram o papel que a natureza desempenhou nesse colapso civilizacional maciço. Amostras de pólen de todo o Mediterrâneo, por exemplo, demonstraram um declínio acentuado na precipitação anual durante os séculos XIII e XII a.C. Estes incluem estudos da Itália, Grécia, Turquia, Síria, Líbano, Israel e Irã.

Vários textos do século XIII, que mencionam escassez de grãos e fome em Hatti, corroboram a evidência de seca de estudos científicos modernos, embora falte o contexto necessário para conectá-los com a seca severa que os pesquisadores datam de 1198 a1196 a.C. Pouco depois dessa época, no entanto, o Império Hitita entrou em colapso, com sua capital, Hattusa, abandonada e nenhuma outra menção a seu último rei, Suppiluliuma II.

Os autores do estudo foram, entretanto, enfáticos em apontar que a seca não foi o único fator no colapso de Hatti e do restante das potências da Idade do Bronze. Em vez disso, eles sugerem que isso pode ter apenas exacerbado questões políticas, econômicas e sociais já existentes enfrentadas pelo império.

CLINE, E. H. 1177 B.C.: The Year Civilization Collapsed. Princeton: Princeton University Press, 2021 (Revised and Updated Edition)Segundo Eric Cline, autor de 1177 a.C.: o ano em que a civilização entrou em colapso, a seca foi apenas um dos inúmeros problemas que os hititas e outros enfrentavam naquela época.

Diz Eric Cline: “Houve uma conjunção de catástrofes que levaram não apenas ao colapso do Império Hitita, mas também ao colapso de outras potências. Elas incluem a mudança climática, que por sua vez levou à seca, fome e migração; terremotos; invasões e rebeliões internas; colapso dos sistemas; e possivelmente doença também. Todos estes fatores provavelmente contribuíram para a ‘tempestade perfeita’ que pôs fim a esta era, especialmente se aconteceram em rápida sucessão, um após o outro, provocando um efeito dominó que levou a uma falha catastrófica de todo o sistema, que era interligado”.

 

Drought and the Fall of the Hittite Empire – Por Nathan Steinmeyer – Biblical Archaeology Society: February 17, 2023

How severe drought contributed to the Bronze Age collapse

While the fall of the Hittite Empire—and indeed the collapse of the entire Bronze Age world—has been an important area of research for decades, new evidence for what caused the collapse is continually coming to the surface. Indeed, according to many scholars, this pivotal moment in history was not the result of one factor, but the perfect storm of causes. As discussed in an article in Nature, a primary factor was likely one of humanity’s oldest enemies, nature.

For half a millennium, the Hittite Empire—located in what is today Turkey and northwestern Syria—was one of the most powerful forces in the ancient Near East, often vying for power with other empires for control of Syria and the Levant. But that all came to a screeching halt around 1200 BCE, during the infamous Bronze Age collapse when the empires and kingdoms of the region suddenly fell apart. This, in turn, led to a long “dark age,” which opened the door for many later kingdoms to come to power, including the biblical Israelites and Arameans. Yet, the cause of this disaster is still not completely understood.

The study in Nature, which utilized dendrochronology (tree-ring dating) and stable isotope analysis, examined a group of ancient Juniper trees from Hatti to look into one possible cause: climate change. This technique allowed the team to examine the level of rainfall in the region with greater temporal precision than ever before, which in turn revealed an unexpectedly severe multi-year drought from 1198–1196 BCE. Although droughts were a frequent occurrence in the ancient world, long-period droughts had the potential to strain agricultural and administrative systems to the breaking point. According to the study, this is likely exactly what happened to the Hittite Empire. Combined with other internal and external factors, the sudden ecological crisis was too much to overcome.

“This would have led to a collapse of the tax base, mass desertion of the large Hittite military, and likely a mass movement of people seeking survival. The Hittites were also challenged by not having a port or other easy avenues to move food into the area,” Brita Lorentzen, co-author of the study, told The Guardian.

Over the years, scholar have suggested many factors to explain the Bronze Age collapse, most notably the invasions (and/or migrations) of the infamous Sea Peoples (including the biblical Philistines), who were first mentioned in Egyptian sources in the 13th-century BCE. However, recent studies have emphasized the role that nature played in this massive civilizational collapse. Pollen samples from around the Mediterranean, for example, have demonstrated a steep decline in annual rainfall during the 13th and 12th centuries. These include studies from Italy, Greece, Turkey, Syria, Lebanon, Israel, and Iran.

Several texts from the 13th century, which mention grain shortages and famines in Hatti, corroborate the evidence of drought from modern scientific studies, although they lack the necessary context to connect them with the severe drought the researchers date to 1198–1196 BCE. Shortly after this time, however, the Hittite Empire collapsed, with its capital city of Hattusa abandoned and no further mention of its last king, Suppiluliuma II.

The authors of the study were quick to point out, however, that the drought was not the only factor in the collapse of Hatti and the rest of the Bronze Age powers. Instead, they suggest that it may have only exacerbated already existing political, economic, and social issues facing the empire.

According to Eric Cline, Professor of Classics and Anthropology at George Washington University and author of 1177 B.C.: The Year Civilization Collapsed, “In my opinion, drought was just one of the numerous problems that the Hittites and others were facing at that time.” Instead, Cline said, “There was a cacophony of catastrophes that led not only to the collapse of the Hittite Empire but also to the collapse of other powers as well. They include climate change, which led in turn to drought, famine, and migration; earthquakes; invasions and internal rebellions; systems collapse; and quite possibly disease as well. All probably contributed to the ‘perfect storm’ that brought this age to an end, especially if they happened in rapid succession one after the other, leading to domino and multiplier effects and a catastrophic failure of the entire networked system.”

Leia também: Severe multi-year drought coincident with Hittite collapse around 1198–1196 BC – Nature: 08 February 2023

As origens de Israel

O item 2 da “História de Israel” sobre as origens de Israel foi totalmente reformulado. Confira.

2. As origens de Israel
2.1. Quatro propostas para explicar as origens de Israel
2.2. A crise da Idade do Bronze Recente e o fenômeno dos povos do mar
2.3. O caos da Palestina na época do surgimento de Israel
2.4. Uma sociedade baseada na solidariedade do parentesco
2.5. Apêndice sobre “As tribos de Iahweh” de Norman K. Gottwald
2.6. Apêndice sobre a teoria da evolução pacífica e gradual

História de Israel II 2023

Este curso de História de Israel II compreende 2 horas semanais, com duração de um semestre, o segundo dos oito semestres do curso de Teologia. Os alunos recebem os roteiros de todas as minhas disciplinas do ano em curso nos formatos pdf e html. Os sistemas de avaliação e aprendizagem seguem as normas da Faculdade e são, dentro do espaço permitido, combinados com os alunos no começo do curso.

I. Ementa
O exílio babilônico. A época persa e as conquistas de Alexandre. Os Ptolomeus governam a Palestina. Os Selêucidas: a helenização da Palestina. Os Macabeus I: a resistência. Os Macabeus II: a independência. O domínio romano: da intervenção de Pompeu à revolta de Bar-Kosibah.

II. Objetivos
Oferece ao aluno um quadro coerente da História de Israel e discute as tendências atuais da pesquisa na área. Constrói uma base de conhecimentos histórico-sociais necessários ao aluno para que possa situar no seu contexto a literatura bíblica veterotestamentária produzida no período.

III. Conteúdo Programático
1. O exílio babilônico

2. O judaísmo pós-exílico

2.1. O domínio persa

2.2. O domínio grego

2.3. O domínio romano

IV. Bibliografia
Básica
FINKELSTEIN, I. ; SILBERMAN, N. A. A Bíblia desenterrada: a nova visão arqueológica do antigo Israel e das origens dos seus textos sagrados. Petrópolis: Vozes, 2018.

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: história antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008.

MAZZINGHI, L. História de Israel das origens ao período romano. Petrópolis: Vozes, 2017.

Complementar
DA SILVA, A. J. História de Israel. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 10.01.2022.

GERSTENBERGER, E. S. Israel no tempo dos persas: séculos V e IV antes de Cristo. São Paulo: Loyola, 2014.

HORSLEY, R. A. Arqueologia, história e sociedade na Galileia: o contexto social de Jesus e dos Rabis. São Paulo: Paulus, 2000 [2a. reimpressão: 2017].

KIPPENBERG, H. G. Religião e formação de classes na antiga Judeia: estudo sociorreligioso sobre a relação entre tradição e evolução social. São Paulo: Paulus, 1997. Resumo publicado em Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 120, p. 413-434, 2013 e disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 12.02.2021.

STEGEMANN, W. Jesus e seu tempo. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2013.

História de Israel I 2023

Este curso de História de Israel I compreende 2 horas semanais, com duração de um semestre, o primeiro dos oito semestres do curso de Teologia. Os alunos recebem os roteiros de todas as minhas disciplinas do ano em curso nos formatos pdf e html. Os sistemas de avaliação e aprendizagem seguem as normas da Faculdade e são, dentro do espaço permitido, combinados com os alunos no começo do curso.

I. Ementa
Noções de geografia do Antigo Oriente Médio. As origens de Israel: as principais tentativas de explicação. A monarquia tributária israelita: os governos de Saul, Davi, Salomão, o reino de Judá e o reino de Israel.

II. Objetivos
Oferece ao aluno um quadro coerente da História de Israel e discute as tendências atuais da pesquisa na área. Constrói uma base de conhecimentos histórico-sociais necessários ao aluno para que possa situar no seu contexto a literatura bíblica veterotestamentária produzida no período.

III. Conteúdo Programático
1. Noções de geografia do Antigo Oriente Médio

2. As origens de Israel

3. A monarquia tributária israelita

3.1. Os governos de Saul, Davi e Salomão

3.2. O reino de Israel

3.3. O reino de Judá

IV. Bibliografia
Básica
FINKELSTEIN, I. ; SILBERMAN, N. A. A Bíblia desenterrada: a nova visão arqueológica do antigo Israel e das origens dos seus textos sagrados. Petrópolis: Vozes, 2018.

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: história antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008.

MAZZINGHI, L. História de Israel das origens ao período romano. Petrópolis: Vozes, 2017.

Complementar
DA SILVA, A. J. História de Israel. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 10.01.2022.

DONNER, H. História de Israel e dos povos vizinhos. 2v. 7. ed. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2017.

FINKELSTEIN, I. O reino esquecido: arqueologia e história de Israel Norte. São Paulo: Paulus, 2015.

GOTTWALD, N. K. As tribos de Iahweh: uma sociologia da religião de Israel liberto, 1250-1050 a.C. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004.

NAKANOSE, S.; DIETRICH, L. J. (orgs.) Uma história de Israel: leitura crítica da Bíblia e arqueologia. São Paulo: Paulus, 2022.

Uma história de Israel

NAKANOSE, S.; DIETRICH, L. J. (orgs.) Uma história de Israel: leitura crítica da Bíblia e arqueologia. São Paulo: Paulus, 2022, 360 p. – ISBN 9786555626551.

Neste livro sobre a história de Israel, procuramos pôr em prática as perspectivas desse nosso mestre [Milton Schwantes]. Procuramos, a partir das transformações e dasNAKANOSE, S.; DIETRICH, L. J. (orgs.) Uma história de Israel: leitura crítica da Bíblia e arqueologia. São Paulo: Paulus, 2022 novas interpretações dos achados arqueológicos – feitas de modo mais firmemente amparado em uma vasta gama de ciências, e com autonomia diante da narrativa bíblica – e dos estudos críticos da Bíblia, elaborar uma história de Israel com os mais recentes achados e descobertas desses campos.

Sabedores da precariedade de todas as histórias que são construídas, nossa pretensão é tão somente expor nossas ideias e reflexões como mais uma contribuição nas áreas da história de Israel e da história da Bíblia, desde séculos estremecidas pelos métodos críticos e ultimamente mais abaladas pelas novas interpretações arqueológicas.

O livro inicia com uma introdução a respeito da necessidade de novas elaborações sobre a história de Israel e a da Bíblia. E, nos capítulos seguintes, aborda diferentes períodos dessas histórias.

O primeiro capítulo procura levantar o que se pode afirmar sobre os inícios do povo de Israel, partindo de datas ao redor dos anos 1300 a.C.

O segundo capítulo faz o mesmo para as primeiras experiências monárquicas, porém sem a pressuposição das doze tribos unidas no grande Império Davídico-Salomônico, noções a tempo descartadas pela arqueologia.

O terceiro capítulo apresenta a história dos reinos de Israel Norte e de Judá como duas entidades políticas que nunca estiveram unidas e que foram bastante desiguais, pois Israel Norte, durante todo o tempo que existiu, foi sempre mais forte do que Judá, tendo Judá somente alcançado peso e importância sociopolítica na região dentro do período assírio, após a destruição da Samaria.

O quarto capítulo aborda o período da dominação babilônica, mostrando que as deportações não deixaram a Judeia como uma “terra vazia” e desarticulada, e descreve as organizações remanescentes na terra; expõe também as diferenças entre o primeiro grupo de deportados e o segundo, bem como suas relações entre si e com os remanescentes.

O quinto capítulo se debruça sobre o período persa, especialmente sobre as diferentes propostas e projetos de reconstrução política e teológica dos vários grupos que retornam do exílio e as relações que propõem estabelecer com os remanescentes que ficaram na terra, na então província de Yehud.

Por último, o sexto capítulo procura dissecar a história e os movimentos religiosos de adaptação e de resistência ao domínio grego e à cultura helênica. A par dos impactos sociais e econômicos, a religião e a sabedoria, em suas diferentes perspectivas e espiritualidades, serão fortemente desafiadas nesse período. Novelas e escritos apocalípticos estão entre os textos canônicos, deuterocanônicos e extracanônicos que nascem nesse contexto.

Em todos os capítulos, procura-se situar o surgimento de narrativas, textos e livros bíblicos, colocando-se os elementos do contexto que consideramos as chaves de leitura essenciais para a compreensão das narrativas bíblicas e a formação da própria Bíblia.

Este livro resulta de trabalho em grupo, em mutirão, como tudo o que aprendemos no CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos) e no CBV (Centro Bíblico Verbo), que nos reuniu e nos acolheu, visto que, além do Prof. Milton Schwantes, aprendemos também com frei Carlos Mesters, Prof. Gilberto Gorgulho, Profa. Ana Flora Anderson e tantos outros e em tantos outros lugares nascidos na esteira da leitura popular da Bíblia.

Leia a apresentação e veja o sumário do livro em pdf, clicando aqui.

A casa de Herodes

CHILTON, B. The Herods: Murder, Politics, and the Art of Succession. Minneapolis: Fortress Press, 2021, 384 p. – ISBN ‎ 9781506474281.

Herodes, filho de Antípater, idumeu, foi nomeado rei da Judeia pelo Senado romano. Em 37 a.C. Herodes torna-se o senhor da Palestina. Casa-se com Mariana I, parenteCHILTON, B. The Herods: Murder, Politics, and the Art of Succession. Minneapolis: Fortress Press, 2021 de Aristóbulo II e Hircano II, entrando definitivamente para a família asmoneia. Herodes Magno governa o povo judeu durante 34 anos (37-4 a.C.).

Herodes luta com decisão para consolidar o seu poder. Isto significa, antes de mais nada, que ele elimina, através de assassinatos e intrigas várias, adversários seus, inclusive alguns membros de sua família – como esposa e filhos.

Consolidado o poder, constrói obras grandiosas na Judeia. Templos, teatros, hipódromos, ginásios, termas, cidades, fortalezas, fontes. Reconstrói totalmente o Templo de Jerusalém, a partir do inverno de 20-19 a.C.

Reconstrói Samaria, dando-lhe o nome de Sebaste, feminino grego de Augusto, em homenagem ao Imperador romano; constrói um importante porto, Cesareia Marítima; Mambré, lugar sagrado ligado a Abraão, recebe uma grande construção que o valoriza; fortalezas são reedificadas ou totalmente construídas como Alexandrium, Heródion, Massada, Maqueronte, Hircania etc. Jericó é embelezada e torna-se sua residência favorita.

Valorizando o culto, Herodes Magno ganha para si o povo. Construindo fortalezas, controla possíveis revoltas. Matando seus inimigos, seleciona seus herdeiros. Apoiando a cultura helenística, aparece diante do mundo. Servindo fielmente a Roma, conserva-se no poder.

Entretanto, Herodes não tem legitimidade judaica, pois descende de idumeus e sua mãe é descendente de árabe. Assim, por ser estrangeiro, não tem para com os judeus nenhuma relação de reciprocidade e sua legitimidade se funda na própria estrutura do poder exercido.

Quando vence os seguidores de Antígono, Herodes constrói uma estrutura de poder independente da tradição judaica:

. nomeia o sumo sacerdote do Templo: destitui os Asmoneus e nomeia um sacerdote da família sacerdotal babilônica e, mais tarde, da alexandrina
. exige de seus súditos um juramento que obriga a pessoa a obedecer às suas ordens em oposição às normas tradicionais; se a pessoa recusar o juramento, é perseguida
. interfere na justiça do Sinédrio
. manda vender os assaltantes e os revolucionários políticos capturados como escravos no exterior, sem direito a resgate
. a venda à escravidão e a execução pessoal (a morte) tornam-se normas comuns do arrendamento estatal.

Mas, se ele viola assim a tradição, como consegue legitimidade?

A estrutura de poder do Estado sob Herodes é bem diferente da estrutura da época dos Macabeus:

. o rei é legitimado como pessoa e não por descendência
. o poderio não se orienta pela tradição, mas pela aplicação do direito pelo senhor
. o direito à terra é transmitido pela distribuição: o dominador a dá ao usuário: é a “assignatio”
. a base filosófica helenística é que legitima o poder do rei, quando diz que o rei é “lei viva” (émpsychos nómos), em oposição à lei codificada, ou seja: o rei é a fonte da lei, porque ele é regido pelo “nous“: o rei tem função salvadora e, por isso, dá aos seus súditos uma ordem racional, através das normas do Estado.
. o poder militar de Herodes se baseia em mercenários estrangeiros que ficam em fortalezas ou em terras dadas aos mercenários (cleruquias) por ele (terras no vale de Jezrael), e nas cidades não judaicas por ele fundadas, a cujos cidadãos ele dá como posse o território que as rodeia, com os camponeses dentro.

Seus herdeiros: Arquelau, Herodes Antipas e Felipe.

Bruce Chilton, nascido em 1949, é especialista em cristianismo primitivo e em judaísmo. Ele é Professor de Religião no Bard College, Annandale-on-Hudson, New York. É autor de várias obras, algumas muito populares. Veja aqui.

 

Bruce Chilton (1949-)Until his death in 4 BCE, Herod the Great’s monarchy included territories that once made up the kingdoms of Judah and Israel. Although he ruled over a rich, strategically crucial land, his royal title did not derive from heredity. His family came from the people of Idumea, ancient antagonists of the Israelites.

Yet Herod did not rule as an outsider, but from a family committed to Judaism going back to his grandfather and father. They had served the priestly dynasty of the Maccabees that had subjected Idumea to their rule, including the Maccabean version of what loyalty to the Torah required. Herod’s father, Antipater, rose not only to manage affairs on behalf of his priestly masters, but to become a pivotal military leader. He inaugurated a new alignment of power: an alliance with Rome negotiated with Pompey and Julius Caesar. In the crucible of civil war among Romans as the Triumvirate broke up, and of war between Rome and Parthia, Antipater managed to leave his sons with the prospect of a dynasty.

Herod inherited the twin pillars of loyalty to Judaism and loyalty to Rome that became the basis of Herodian rule. He elevated Antipater’s opportunism to a political art. During Herod’s time, Roman power took its imperial form, and Octavian was responsible for making Herod king of Judea. As Octavian ruled, he took the title Augustus, in keeping with his devotion to his adoptive father’s cult of “the divine Julius.” Imperial power was a theocratic assertion as well as a dominant military, economic, and political force.

Herod framed a version of theocratic ambition all his own, deliberately crafting a dynastic claim grounded in Roman might and Israelite theocracy. That unlikely hybrid was the key to the Herodians’ surprising longevity in power during the most chaotic century in the political history of Judaism.

Bruce Chilton (born September 27, 1949) is Bernard Iddings Bell Professor of Religion at Bard College, former Rector of the Church of St John the Evangelist and formerly Lillian Claus Professor of New Testament at Yale University. He holds a PhD in New Testament from Cambridge University (St. John’s College). He has previously held academic positions at the Universities of Cambridge, Sheffield, and Münster.

Como Alexandre tornou-se “o Grande”?

A partir de 21 de outubro de 2022, a British Library em Londres sediará uma exposição intitulada Alexander the Great: The Making of a Myth (Alexandre, o Grande: a criação de um mito).

Filho de Filipe II da Macedônia e de sua esposa Olímpia, o histórico Alexandre nasceu em Pella, capital da Macedônia, em julho de 356 a.C. Em julho de 330 a.C ele haviaAlexandre Magno (356-323 a.C.) derrotado o exército persa, tornando-se, aos 25 anos, governante da Ásia Menor, faraó do Egito e sucessor de Dario III, o “Grande Rei” da Pérsia. Durante os sete anos seguintes, Alexandre criou um império que se estendia da Grécia, no oeste, até além do rio Indo, no leste – antes de sua morte precoce na Babilônia, aos 32 anos.

A exposição, no entanto, não é sobre história, mas a primeira de seu tipo a explorar 2.000 anos de narrativa e criação de mitos. Com objetos de 25 países em 21 idiomas, mostra como uma figura pode servir a tantos propósitos, criando narrativas compartilhadas de apelo universal. O Romance de Alexandre, composto originalmente em grego no século III d.C., estava no centro dessa narrativa. Mas as lendas também encontraram seu caminho na poesia épica e no drama e, mais recentemente, em romances, quadrinhos, filmes e videogames. Exemplos de tudo isso podem ser vistos na exposição.

De aproximadamente 140 objetos, cerca de 86 são das coleções da British Library. Para dar um gostinho do que está por vir, escolhi destacar alguns dos 37 itens de nossas próprias coleções asiáticas e africanas.

A exposição está organizada em seis seções baseadas na vida lendária de Alexandre. Após uma introdução, A Conqueror in the Making explora as diferentes versões das origens de Alexandre, sua educação pelo filósofo Aristóteles e Bucéfalo, seu fiel cavalo de guerra.

Alexandre, o Grande: a criação de um mito será inaugurada em 21 de outubro. Será acompanhada por um livro com o mesmo título. Editado por Richard Stoneman, inclui nove ensaios de importantes estudiosos, juntamente com imagens e descrições dos itens da exposição.

Leia o texto completo.

 

From October 21, the British Library in London will host an exhibition titled “Alexander the Great: The Making of a Myth”. Son of Philip II of Macedon and his wife Olympias, the historical Alexander was born in Pella, capital of Macedon in July 356 BC. By July 330 BC he had defeated the Persian army, becoming, at the age of 25, ruler of Asia Minor, pharaoh of Egypt and successor to Darius III, the “Great King” of Persia. During the next seven years, Alexander created an empire that stretched from Greece in the west to beyond the Indus river in the east – before his early death in Babylon aged 32.

STONEMAN, R. ; NAWOTKA, K. ; WOJCIECHOWSKA, A. (ed.) The Alexander Romance: History and Literature. Gröningen: Barkhuis & Gröningen University Library, 2018The exhibition, however, is not about history, but the first of its kind to explore 2,000 years of storytelling and mythmaking. With objects from 25 countries in 21 languages, it shows how one figure could serve so many purposes, creating shared narratives of universal appeal. The Alexander Romance, composed originally in Greek in the third century AD, was at the heart of this storytelling. But legends also found their way into epic poetry and drama, and more recently into novels, comics, films and video games. You will see examples of all of these in the exhibition.

Out of approximately 140 objects, some 86 are from the British Library’s collections. To give a taste of what’s in store, I have chosen to highlight a few of the 37 exhibits from our own Asian and African collections.

The exhibition is arranged in six sections based around Alexander’s legendary life. After an introduction, A Conqueror in the Making explores the different versions of Alexander’s origins, his education by the philosopher Aristotle and Bucephalus, his faithful warhorse.

Alexander the Great: The Making of a Myth opens on 21 October. It will be accompanied by a book of the same title. Edited by Richard Stoneman, it includes nine essays by leading scholars together with images and descriptions of the exhibition items.

Fonte: Alexander the Great: The Making of a Myth – By Ursula Sims-Williams – Asian and African studies blog: 23 September 2022.

O texto pode ser lido também aqui.

Arqueologia e Bíblia no Congresso da ABIB 2022

CATENASSI, F. Z.; MARIANNO, L. D. (orgs.) História de Israel: Arqueologia & Bíblia. São Paulo: Paulinas, 2022, 232 p. – ISBN 9786558081685.CATENASSI, F. Z.; MARIANNO, L. D. (orgs.) História de Israel: Arqueologia & Bíblia. São Paulo: Paulinas, 2022, 232 p. - ISBN 9786558081685.

As últimas décadas foram testemunhas de mudanças fundamentais na área dos estudos bíblicos. Em boa medida, essas transformações foram influenciadas pelos avanços nos estudos de Arqueologia e História de Israel, os quais incidiram diretamente na Exegese e/ou na Teologia Bíblica.

O livro História de Israel: Arqueologia & Bíblia, organizado por Fabrizio Zandonadi Catenassi e Lília Dias Marianno, reúne as discussões sobre o tema em questão por ocasião do IX Congresso de Pesquisa Bíblica, organizado pela Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB), que acontece agora, de 23 a 26 de agosto de 2022.

Os autores dos capítulos se destacam, nacional e internacionalmente, por suas contribuições significativas para o conhecimento do antigo Israel e das nações vizinhas.

Leia uma amostra do livro clicando aqui.

Fabrizio Zandonadi Catenassi é doutor em Teologia (PUCPR) e professor na PUCPR. Integra a atual diretoria da ABIB. É editor-chefe da revista Estudos Bíblicos.

Lília Dias Marianno é doutora em Epistemologia e Teoria do Conhecimento (UFRJ). Filiada à ABIB. Preside a Eagle Gestão do Conhecimento.

Congresso da ABIB em 2022: História de Israel

História de Israel: Arqueologia e Bíblia é o tema do IX Congresso da ABIB, que terá lugar na Instituto Teológico São Paulo (ITESP), em São Paulo, de 23 a 26 de agosto deIX Congresso da ABIB em 2022 - História de Israel: Arqueologia e Bíblia 2022.

Com destaque para a participação de Norma Franklin, Professora de Arqueologia na Universidade de Haifa, Israel, e de Peter Dubovský, Professor de Antigo Testamento no Pontifício Instituto Bíblico, Roma, Itália.

Visite a página do Congresso. Há a opção de participação remota.

Lembro que o Congresso fora inicialmente planejado para 2020, mas a pandemia provocou seu adiamento.

Canaã no segundo milênio a.C.

GRABBE, L. L. The Dawn of Israel: History of the Land of Canaan in the Second Millennium BCE. London: T&T Clark, 2022, 320 p. – ISBN 9780567663214.

Neste volume que acompanha seu best-seller Ancient Israel: What Do We Know and How Do We Know It? Lester L. Grabbe discute a situação histórica dos principais povos eGRABBE, L. L. The Dawn of Israel: History of the Land of Canaan in the Second Millennium BCE. London: T&T Clark, 2022 impérios do Antigo Oriente Médio no segundo milênio a.C.: Babilônia, Assíria, Urartu, hititas, amorreus, egípcios.

Grabbe olha especialmente para a Palestina/Canaã na segunda metade do segundo milênio: final da Idade do Bronze e início da Idade do Ferro, o Novo Reino Egípcio, as cartas de Tell el-Amarna, os Povos do Mar, a questão do ‘êxodo’, os primeiros assentamentos na região montanhosa da Palestina e a primeira menção de Israel na estela de Merneptah.

O autor faz uso de recursos provenientes da arqueologia, das ciências sociais, das inscrições e do material iconográfico da região.

Quem é Lester L. Grabbe?

 

In this companion volume to his bestselling Ancient Israel: What Do We Know and How Do We Know It? Lester L. Grabbe provides the background history of the main ancient Near Eastern peoples and empires: Babylonia, Assyria, Urartu, Hittites, Amorites, Egyptians.

Grabbe’s focus is on Palestine/Canaan and covers the early second millennium, including the Middle Bronze Age and the Second Intermediate Period and Hyksos rule of Egypt. Grabbe also addresses the question of a ‘patriarchal period’.

The main focus of the book is on the second half of the second millennium: Late Bronze and early Iron Age, the Egyptian New Kingdom, the Amarna letters, the Sea Peoples, the question of ‘the exodus’, the early settlements in the hill country of Palestine, and the first mention of Israel in the Merenptah inscription. Archaeology and the contribution of the social sciences both feature heavily, as does inscriptional and iconographic material. As such this volume provides a fascinating portrayal of ancient Israel and this definitive work by one of the world’s leading biblical historians will be of interest to all students and scholars of biblical history.

 

Table of Contents

Abbreviations
Preface
Part I: Introduction
Chapter 1: Introduction
Chapter 2: The Third Millennium Context
Part II: Middle Bronze Age (c. 2000-1600 BCE)
Chapter 3: Ancient Near Eastern Context
Chapter 4: Syria and Palestine
Part III: Late Bronze Age (c. 1600-1200 BCE)
Chapter 5: Ancient Near Eastern Context, Including Syria
Chapter 6: Palestine/Canaan
Part IV: Early Iron Age (c. 1200-900 BCE)
Chapter 7: Ancient Near Eastern Context, Including Syria and Transjordan (1200-900 BCE)
Chapter 8: Palestine (1200-900 BCE)
Part V: Conclusions
Chapter 9: The Origins of Israel – A Holistic Approach
Bibliography
Index