O Enuma Elish em português

BRANDÃO, J. L. Epopeia da criação: Enuma eliš. Belo Horizonte: Autêntica, 2022, 432 p. – ISBN 9786559282012.

O Enuma Elish foi recuperado na metade do século XIX pelo inglês Austen Henry Layard e seu assistente Hormuzd Rassam quando a biblioteca do rei assírioBRANDÃO, J. L. Epopeia da criação: Enuma eliš. Belo Horizonte: Autêntica, 2022, 432 p. Assurbanípal foi descoberta em Nínive. Além de Nínive, cópias do Enuma Elish foram encontradas nas cidades assírias de Assur, Nimrud e Sultantepe e nas cidades babilônicas de Borsippa, Kish, Sippar, Úruk e na própria Babilônia. Quase uma centena de manuscritos gravados em tabuinhas de argila, em escrita cuneiforme e língua acádica foram preservados e hoje estão no Museu Britânico, em Londres. Não temos nenhuma narrativa completa, os textos estão fragmentados, mas é possível reconstruir a narrativa usando as cópias duplicadas.

A publicação do Enuma Elish foi feita por George Smith em 1876. O texto considerado padrão hoje, com transliteração do acádico e tradução em inglês, é o de Wilfred George Lambert, Babylonian Creation Myths. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 2013.

O Enuma Elish está escrito em sete tabuinhas e contém cerca de 1100 linhas. As cópias mais antigas que temos podem ser datadas por volta de 900 a.C. E quando foi escrito? A data mais provável: durante o reinado de Nabucodonosor I (1125-1104 a.C.).

O nome Enuma Elish corresponde às primeiras palavras do texto e significa “Quando acima” ou “Quando no alto”. O Enuma Elish é considerado, às vezes, em uma ou outra publicação, como o texto padrão da criação da Mesopotâmia, mas o assunto central do texto não é a criação e sim a ascensão de Marduk como chefe do panteão babilônico.

Apesar disso, esta é a mais bem elaborada cosmogonia da antiga Mesopotâmia e são vários os elementos criados por Marduk e por seu pai Ea. O Enuma Elish era recitado na Festa do Ano Novo na cidade de Babilônia. Esta festa, o Akitu, tem forte componente político.

O poema começa falando de um tempo antes da existência dos deuses quando as águas primordiais, Apsu e Tiámat, constituíam uma massa indiferenciada e nem céus, terra e deuses existiam. Então nasceram os deuses: os casais Lahmu e Lahamu, Ánshar e Kíshar; depois, este último casal gera o deus Ánu, que gera o deus Ea (= Nudímmud).

A atividade dos deuses provoca a hostilidade de Apsu, mas, antes que ele faça algo, Ea o mata com uma magia enquanto ele dorme e constrói um palácio sobre seu cadáver. Neste palácio Ea e Damkina geram Marduk, que se manifesta como mais poderoso do que qualquer um de seus antecessores. Por sua vez, o barulho dos jovens deuses não deixa Tiámat repousar e ela encarrega seu companheiro Qingu, no comando de um grupo de monstros, de destruir os deuses, dando-lhe a Tabuinha dos Destinos. Ánshar, o rei dos jovens deuses, convida Ánu e depois Ea para comandar a resistência dos deuses, mas ambos, amedrontados, se recusam. Ea propõe, então, a Marduk que combata Qingu. Ele aceita com a condição de que a assembleia dos deuses transfira para ele o poder de determinar os destinos. Isto feito, Marduk vence e mata Tiámat em combate singular, fazendo de seu corpo dividido as duas partes do universo, os céus e a terra. Marduk torna-se o chefe dos deuses e anuncia que Babilônia será sua morada, ordenando a Ea que faça do sangue do vencido Qingu uma nova criatura, o homem. Os deuses constroem para Marduk uma cidade e um templo e o honram com 50 nomes.

Jacyntho Lins Brandão - Rio Espera, MG, 1952 Desde o início do novo milênio as edições críticas do Enuma Elish se sucedem, explica J. L. Brandão na Introdução de seu texto:
. Em 2005, Philippe Talon publicou The Standard Babylonian Creation Myth Enūma eliš, com introdução, texto cuneiforme, transliteração, lista de signos, tradução para o francês e glossário.
. Em 2012, apareceu o volume Das babylonische Weltschöpfungsepos Enūma eliš, da autoria de T. R. Kämmerer e L. A. Metzler, parte da série “Alter Orient und Altes Testament”, publicada pela Universidade de Münster.
. Em 2013, a editora Eisenbrauns, de Winona Lake, lançou Babylonian Creation Myths, obra póstuma de Wilfred G. Lambert, com o texto acádico transliterado e tradução para o inglês, acompanhados dos comentários antigos do poema, ao que se somam extensos estudos sobre aspectos importantes da obra, posta em confronto com ampla documentação cosmogônica e mitológica suméria e acádica.
. Finalmente, em 2019 Philippe Talon publicou mais uma vez o texto acádico acompanhado de tradução para o francês em Enūma eliš: Lorsqu’en haut.

Acrescente-se o trabalho de Alberto Elli, que em 2016 lançou Enūma eliš: Il mito babilonese della creazione, em que reproduz o texto cuneiforme da edição de Talon (de 2012), acompanhado de transliteração, normalização do acádico verso a verso e tradução para o italiano, a que se acrescem notas relativas ao léxico e a aspectos gramaticais, livro disponibilizado gratuitamente no site Mediterraneo Antico.

Jacyntho Lins Brandão é Professor Emérito de Língua e Literatura Grega na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Publicou Ele que o abismo viu: Epopeia de Gilgámesh. Belo Horizonte: Autêntica, 2017 e outras obras. Suas traduções do Enuma Elish e da Epopeia de Gilgámesh foram feitas a partir dos textos em acádico.

Veja também:

Live de lançamento da Epopeia da Criação, Enūma eliš, com Jacyntho Lins Brandão – Rafael Silva: 20 de outubro de 2022

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