A pesquisa recente sobre o Pentateuco em dois livros

DOZEMAN, T. B.; SCHMID, K.; RÖMER, T. (eds.) Pentateuch, Hexateuch, or Enneateuch? Identifying Literary Works in Genesis through Kings. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2011, 324 p. – ISBN 9781589835429.

“The identification of literary works in the Pentateuch and the Former Prophets is a hallmark of the modern historical-critical interpretation of the Hebrew Bible. The theories of a Tetrateuch, a Hexateuch, or a Deuteronomistic History have played a central role in recovering the literary history of the Pentateuch and the Former Prophets. The breakdown of these methodologies in recent research has forced scholars to reevaluate the criteria for identifying literary works in the formation of the Hebrew Bible. The present volume explores anew, without presupposition or exclusion, the criteria by which interpreters identify literary works in these books as a resource for recovering the composition history of the literature. It also brings North American and European approaches to the topic into a common discussion. With contributions by: Konrad Schmid, Thomas Römer, Erhard Blum, David M. Carr, Suzanne Boorer, Christoph Levin, Cynthia Edenburg, Michael Konkel, Thomas Dozeman, Christoph Berner, Felipe Blanco Wißmann”. Disponível para download gratuito no Projeto ICI da SBL.

 

DOZEMAN, T. B.; SCHMID, K.; SCHWARTZ, B. J. (eds.) The Pentateuch: International Perspectives on Current Research.Tübingen: Mohr Siebeck, 2011, xviii + 578 p. – ISBN 9783161506130.

“The Pentateuch is both the literary capstone and the central core of the Hebrew biblical canon. It contains many of the best known and most influential literary texts of world literature. A firm conclusion of biblical research is that the sweeping narrative of the Pentateuch that begins with creation and concludes with the death of Moses was not composed by one author, but is the result of a literary process that took place over hundreds of years. Yet there remains significant debate among international researchers on the composition of the Pentateuch. The present volume contains a collection of articles from an international conference in Zürich that brought together leading voices from North America, Europe, and Israel to evaluate the present state of research on the composition of the Pentateuch. The aim of the conference was to clarify differences in methodology and to identify points of convergence in the present state of pentateuchal research as a basis for further discussion. With contributions by: Reinhard Achenbach, Rainer Albertz, Graeme Auld, Joel S. Baden, Michaela Bauks, Erhard Blum, David M. Carr, Thomas B. Dozeman, Jan Christian Gertz, Itamar Kislev, Israel Knohl, Gary N. Knoppers, Reinhard G. Kratz, Thomas Krüger, Christoph Levin, Christophe Nihan, Saul M. Olyan, Thomas Römer, Konrad Schmid, Baruch J. Schwartz, Sarah Shectman, Jean-Louis Ska, Benjamin D. Sommer, Jeffrey Stackert, Christoph Uehlinger, James W. Watts”.

“Der Pentateuch ist das literarische Herzstück und der sachliche Kern des hebräischen Bibelkanons und vereinigt in sich viele der bekanntesten und wirkungsmächtigsten Texte der Weltliteratur. Dass der von ihm umschlossene erzählerische Zusammenhang von der Schöpfung der Welt bis zum Tod Moses nicht von einem Autor stammen kann, sondern in einem mehrfach gestaffelten literarischen Prozess über Jahrhunderte hinweg entstanden ist, gehört zu den unhintergehbaren Resultaten der Bibelwissenschaft. Die internationale Forschungsdiskussion über den Pentateuch verläuft allerdings sehr divergent. Der vorliegende Band versammelt Beiträge eines internationalen Kongresses in Zürich, der sich zum Ziel gesetzt hat, die maßgeblichen Stimmen der Pentateuchforschung aus Nordamerika, Europa und Israel zu versammeln, Differenzen und Konvergenzen in Voraussetzungen, Methoden und Resultaten der gegenwärtigen internationalen Pentateuchforschung zu benennen und so eine Grundlage für weitere Diskussionen zu schaffen”.

Programa do seminário do Bíblico para professores

Como noticiado em junho no post PIB cria seminário para professores de Bíblia, o primeiro seminário oferecido pelo Bíblico tem a orientação dos professores José Luis Sicre Díaz e Georg Fischer e será realizado de 23 a 27 de janeiro de 2012. O tema será o profetismo, privilegiando os textos de Isaías e Jeremias.

A programação está disponível, em italiano, na página do Pontifício Instituto Bíblico. Veja o arquivo, em pdf, aqui.

O seminário de 2012 será em italiano. Mas a notícia pode ser lida em Italiano ou em English.

Faça o download do livro A Voz Necessária

Meu livro A voz necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C. foi publicado pela Paulus em 1998.

Em julho de 2009 recebi comunicado da editora dizendo que meu livro estava esgotado e que os direitos autorais retornavam ao autor. Por isso o estou colocando aqui para download gratuito.

Clique no link abaixo e faça o download de

A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C.

São 120 páginas em formato pdf e o arquivo tem 842 KB. O texto pode ser baixado e utilizado para fins educacionais e não comerciais.

O texto aqui publicado é o mesmo da edição impressa. Mas os trechos que tratam do contexto histórico, o texto bíblico, as notas de rodapé e a bibliografia foram atualizados.

No livro proponho o seguinte roteiro para a compreensão do profetismo:DA SILVA, A. J. A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C. Brodowski, 2011, 120 p.

1. No primeiro capítulo, um olhar sobre a origem do movimento profético em Israel, originado das contradições da sociedade monárquica tributária.

2. Em seguida, uma análise do discurso profético. Discurso de teor teológico que denuncia a ruptura da aliança como a idolatria que substitui Iahweh por Baal, pelo Poder e pela Riqueza. O objetivo desta denúncia é o restabelecimento da aliança javista.

3. No terceiro capítulo, uma leitura do conhecido profeta do século VIII a.C., camponês originário de Técua, o pastor e vaqueiro Amós.

4. No quarto capítulo, um roteiro de leitura de outro profeta do século VIII a.C., Oseias, que atuou em Samaria um pouco depois de Amós e viu a decadência e derrota de seu país, o reino de Israel.

5. No quinto capítulo o assunto é Isaías, o célebre profeta de Jerusalém, o grande poeta e defensor arguto dos marginalizados de Judá. Seus oráculos ficaram tão célebres que seu livro sofreu várias releituras e acréscimos.

6. Contemporâneo de Isaías, o profeta Miqueias, feroz defensor dos oprimidos judaítas, é o assunto do sexto capítulo.

Para terminar, uma cronologia do século VIII a.C. e um vocabulário dos termos bíblicos e históricos mais importantes usados no texto pretende facilitar a leitura dos profetas. A bibliografia, atualizada, completa o livro.

Visitas aos textos dos alunos para o Mês da Bíblia 2011

Os textos escritos pelos alunos do Primeiro Ano de Teologia do CEARP para o Mês da Bíblia 2011 ficaram entre os 30 posts mais acessados do Observatório Bíblico no mês de setembro, de acordo com as estatísticas do Google Analytics.

Na lista abaixo, os textos dos alunos classificados segundo o número de acessos de 01.09.2011 a 01.10.2011:

1. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo a CNBB – Por Ferdinando Henrique Pavan Rubio

2. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo Mesters e Orofino – Por Luciano Giopato Roncoleta

3. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo Mercedes Lopes – Por André Luís Rodrigues

4. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo a Vida Pastoral – Por Edson Carlos Braz

5. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo o Centro Bíblico Verbo – Por Wesley Gonçalves de Oliveira

6. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo Estudos Bíblicos – Por Victor Mariano Rodrigues

7. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo a revista Concilium – Por Sebastião de Magalhães Viana Junior

8. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo o SAB – Por Thiago José Barbosa de Oliveira Santos

9. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo Pixley – Por Mateus Morais e Silva

10. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo Balancin e Ivo – Por Bruno Luiz Ferreira da Silva

11. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo Valmor da Silva – Por Severino Germano da Silva

Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo Mercedes Lopes

LOPES, M. Deus liberta escravos e faz nascer um povo novo: Êxodo 15 a 18. São Leopoldo: CEBI/Paulus, 2011, 74 p. – ISBN 9788577331284

Por André Luís Rodrigues

Mercedes Lopes cursou Teologia e Bíblia na Universidad Bíblica Latinoamericana, em San José, Costa Rica (1995) e é Doutora em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (2007). Além de outros grupos, assessora o CEBI.

A autora começa a Introdução deste subsídio preparado para o Mês da Bíblia de 2011 fazendo uma reflexão sobre os vários êxodos ainda hoje existentes em toda a América Latina, como os do povo Guarani e dos afro-americanos. Mas também dos que são obrigados a sair de sua terra em busca de sobrevivência, ameaçados, cada vez mais, por desastres ecológicos ou pelo latifúndio. Nestes processos, para que o caminho seja em direção à liberdade e não a uma nova escravidão, é preciso deixar a cultura dominante da ganância e do individualismo e reaprender a solidariedade que celebra a vida, diz a autora.

Em seguida, Mercedes traça um panorama histórico do contexto do êxodo, no século XIII a.C., dos variados grupos étnicos que teriam dele participado, do enfoque teológico do relato que vê Deus como o libertador e explica, por fim, a lenta e complexa formação do Livro do Êxodo como um processo de séculos, com redação final só no pós-exílio. Bem, o que se lê aqui é o usual, aquilo que lemos em qualquer livro que trate deste tema.

Dividido em oito círculos bíblicos, o livro quer oferecer às comunidades uma ferramenta que as conduzam pelos meandros do êxodo e, ao mesmo tempo, as ajudem a pensá-lo como uma realidade sempre atual. Isto tudo em uma perspectiva celebrativa.

Acredito que a melhor maneira de abarcar com um só olhar a totalidade dos círculos bíblicos sejam os títulos que a autora lhes dá. Assim:

  • Primeiro Círculo: Ex 15,1-21 – Cantando e dançando se faz teologia (o cântico de Miriam)
  • Segundo Círculo: Ex 1,15-2,10 – Elas fizeram acontecer o Novo (o papel fundamental das mulheres para a sobrevivência do menino Moisés)
  • Terceiro Círculo: Ex 15,22-27 – Aprender a viver no deserto das grandes cidades (o episódio de Mara)
  • Quarto Círculo: Ex 16,2-3.9-17 – Desaprendendo a acumulação dos faraós (o maná e as codornizes)
  • Quinto Círculo: Ex 17,1-7 – Sem água não há caminhada (a água da rocha)
  • Sexto Círculo: Ex 17,8-15 – A presença de Deus sustenta o povo na luta pela vida (combate contra os amalecitas)
  • Sétimo Círculo: Ex 18,1-12 – O bom êxito da caminhada depende das relações interpessoais (a família de Moisés vem ao seu encontro)
  • Oitavo Círculo: Ex 18,13-27 – Urge fazer circular o poder para a defesa da vida (a instituição dos juízes)

Para terminar, lembro que Mercedes Lopes utiliza os círculos bíblicos como um mecanismo que estabelece um diálogo dinâmico e transformador. Ela diz: “Através da leitura e meditação da Palavra em círculo, ocorre uma experiência tão simples e vital que faz arder o coração e liga as pessoas entre si”. E explica: “O verdadeiro segredo dos círculos bíblicos é que eles levam a descobrir a presença escondida de Deus no meio de nós, gerando relações novas de reciprocidade e compromisso” (p. 19).

Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo Mesters e Orofino

MESTERS, C.; OROFINO, F. A Caminhada do Povo de Deus. Os desafios da travessia: Ex 15-18. São Leopoldo: CEBI, 2011, 48 p. – ISBN 9788577331253

Por Luciano Giopato Roncoleta

Carlos Mesters nasceu na Holanda em 20 de outubro de 1931, mas veio para o Brasil em 1949. Cursou Teologia no Angelicum, em Roma, e Ciências Bíblicas no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na École Biblique de Jerusalém. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa do Instituto Teológico São Paulo (ITESP). Idealizador do CEBI, Mesters é um dos principais exegetas brasileiros. Francisco Orofino é biblista e educador popular. É também assessor nacional do CEBI e do ISER. Fez doutorado em Teologia Bíblica na PUC-Rio (2000).

Ao apresentar este subsídio, os autores explicam o assunto, o tema, o lema e o objetivo a ser alcançado neste Mês da Bíblia de 2011. Explicam também que a palavra “caminhada”, entendida como travessia de uma situação de opressão para a situação de vida plena, presente no título deste livro, era a mais usada pelos primeiros cristãos para designar o movimento de Jesus e que até hoje esta é a palavra mais usada para designar o movimento de renovação da Igreja através das CEBs. O livro, dizem, tem duas partes: uma curta e uma longa. A curta dá uma visão global da Caminhada do Povo de Deus descrita no Livro do Êxodo; a longa traz oito Círculos Bíblicos que fazem uma Leitura Orante de Ex 15-18 e Ex 20.

:: Na primeira parte do livro, a curta, se mostra como Ex 15-24, em dez capítulos e duas partes, descreve a caminhada o povo após a travessia do mar e, em seguida, a celebração da Aliança entre Deus e o povo no Sinai.

Ora, os casos contados em Ex 15-18 são muito simples, bem populares, às vezes exagerados – quem conta um conto, aumenta um ponto! -, mas não para enganar e sim para mostrar melhor a mensagem que os fatos tinham para a caminhada do povo. E em Ex 19-24 os seis capítulos trazem um roteiro litúrgico no qual o povo celebra tudo aquilo que tinha aprendido na caminhada pelo deserto. No Mês da Bíblia deste ano aprofundaremos a primeira parte – Ex 15-18 (e Ex 20) – desta que os autores chamam de Cartilha da Caminhada do Povo de Deus.

Cartilha que é, como dizem, uma parede nova feita com tijolos velhos. Os tijolos podem ser lá do começo de Israel – séculos XII e XI a.C. – mas a parede foi feita devagar, começando talvez na época do rei Ezequias, no século VIII a.C., continuando na época do rei Josias, século VII a.C., e só terminando lá pelo século V a.C., no pós-exílio, na época de Esdras. Esta Cartilha foi, em Israel, uma das ferramentas mais importantes para animar o povo nas dificuldades, para lembrá-lo de suas origens e da necessidade de manter o compromisso da Aliança. É uma Cartilha que traz o passado para o presente do povo, para mostrar que o êxodo continua acontecendo na sua vida, assim, como nós, ao retomarmos o tema, queremos lembrar que o êxodo acontece sempre, acontece aqui no Brasil hoje.

:: Na segunda parte do livro, a longa, estão os oito Círculos Bíblicos. Olhando para estes textos se vê que, durante a caminhada contada em Ex 15-18, o povo reclama, a toda hora, de Moisés e até de Deus. Quem escreveu o Livro do Êxodo chamou isso de murmuração, que é uma fala em voz baixa, um resmungo. Dizemos: “que sujeito mais resmungão”; ou: “pare de resmungar, menino”! Por isso, nos Círculos é bom a gente ver como eles conseguiram vencer as causas da murmuração, do resmungo, e continuar sua caminhada.

Assim, na lista dos oito Círculos Bíblicos a palavra “murmuração” sempre aparece:

  • Primeiro Círculo: Ex 15,1-21 – a força do canto da vitória vence a murmuração provocada pelo medo
  • Segundo Círculo: Ex 15,22-27 – a luz da Lei de Deus vence a murmuração provocada pela sede
  • Terceiro Círculo: Ex 16,1-36 – a segurança da partilha vence a murmuração provocada pela fome
  • Quarto Círculo: Ex 17,1-7 – a certeza do Deus conosco vence a murmuração causada pela descrença.
  • Quinto Círculo: Ex 17,8-16 – a esperança da oração vence a murmuração causada pelo desânimo
  • Sexto Círculo: Ex 18,1-12 – a união das famílias vence a murmuração causada pela divisão
  • Sétimo Círculo: Ex 18,13-27 – a participação nas decisões vence a murmuração causada pela dominação
  • Oitavo Círculo: Ex 20,1-21 – a liberdade dos mandamentos vence a murmuração causada pelo legalismo.

Para cada Círculo Bíblico os autores propõem a seguinte dinâmica:
Acolhida – preparando o ambiente
1. Vivências da caminhada do povo de hoje – pensar numa situação real e fazer perguntas para despertar a partilha
2. Vivências da caminhada do povo da Bíblia – chave de leitura; leitura lenta e atenta do texto; refletir para enxergar melhor; fazer perguntas que ajudam a descobrir a mensagem para nós hoje
3. Chegar a um compromisso diante de Deus – ligar o ontem com o hoje e orar
4. Uma reflexão para enxergar melhor – subsídio para ajudar a diminuir a distância que nos separa do êxodo no tempo e no espaço: do século XII a.C. para hoje são mais de 3 mil anos, do norte da África para o Brasil são cerca de 12 mil km…

Como todo mundo já sabe, os livros de Carlos Mesters – aqui com Francisco Orofino – são escritos em uma linguagem clara, fácil, prática, que cativa o leitor já no primeiro parágrafo. Não são invenções teológicas amargas enfiadas à força na goela do povo, pois a preocupação é sempre ler a vida com a ajuda da Bíblia e não a Bíblia com a ajuda da vida.

Ou, dizendo de outro modo: estimulado pelos problemas da realidade (pré-texto), o povo busca uma luz na Bíblia (texto), que é lida e aprofundada dentro da comunidade (con-texto). O pré-texto e o con-texto determinam o “lugar” de onde se lê e interpreta o texto. Sobre este método, as pessoas interessadas podem ler mais aqui.

Mensagem de Dom Jacinto Bergmann para o Mês da Bíblia 2011

Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo de Pelotas e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética divulgou a seguinte mensagem para o Mês da Bíblia 2011:

Mês de Setembro para a nossa Igreja no Brasil já é, por uma bonita tradição, sinônimo de MÊS DA BÍBLIA. O grande São Jerônimo, presbítero e doutor, cuja memória celebramos no final do mês de setembro, dia 30, nos motivou desde o início e motiva ainda hoje para a dedicação do mês de setembro inteiro para ser o da Bíblia. Sabemos da importância do trabalho bíblico de São Jerônimo realizando a tradução da Vulgata; e sua frase é emblemática: “Desconhecer as Escrituras é desconhecer o Cristo”.

Também já é uma bonita tradição, a CNBB, através da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, oferecer um tema para o Mês da Bíblia para o estudo, a reflexão, a oração e a vivência da Palavra de Deus. O tema pode girar ou em torno de trechos bíblicos, ou de um Livro bíblico, ou até de um conjunto de Livros bíblicos. A escolha do tema para o Mês da Bíblia deste ano de 2011, concentrou-se no trecho do Livro do Êxodo, capítulos 15,22 a 18,27, que é conhecido como o “Livro da Travessia”. É necessário olharmos as etapas da travessia desértica do Povo de Deus, saindo do Egito e buscando a Terra Prometida: as dificuldades enfrentadas pelo Povo de Deus, tanto os problemas da natureza, quanto os desafios oriundos pela convivência humana, criaram a necesidade de enraizar e vivenciar a fé, a esperança e o amor em Deus. Queremos aprender com o Povo de Deus a realizarmos a nossa travessia de discipulado e missão. Eis, pois, o tema tão propício para o Mês da Bíblia de 2011: “Travessia, passo a passo, o caminho se faz”. Mas, o fundamental em tudo isso, é estar próximo ao Senhor Deus. Assim, do capítulo 16, versículo 9, é tirado também o lema: “Aproximai-vos do Senhor”.

Vamos viver intensamente o Mês da Bíblia em todas as nossas comunidades cristãs espalhadas pelo território nacional. Que bom que temos um Subsídio elaborado pela Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, que, usado em nossos Grupos Bíblicos, nos ajudará a conhecer e interpretar, a comungar e orar, a evangelizar e proclamar a Palavra de Deus e assim caminharmos sempre mais para uma verdadeira ANIMAÇÃO BÍBLICA DA PASTORAL, formando entusiastas discípulos missionários de Jesus Cristo.

Fonte: CNBB – 01 de setembro de 2011 09:41

Leia Mais:
Mês da Bíblia 2011: Ex 15,22-18,27 – Um
Mês da Bíblia 2011: Ex 15,22-18,27 – Dois
Mês da Bíblia 2011: subsídios apresentados pelos alunos
Alguns comentários do Livro do Êxodo

Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo Pixley

PIXLEY, G. V., Êxodo. São Paulo: Paulus, 1987, 252 p. – ISBN 8505006224 – Original disponível online: Éxodo, una lectura evangélica y popular. México, 1983

Por Mateus Morais e Silva

O presente texto tem como objetivo apresentar interpretações relevantes a partir da proposta da CNBB para o Mês da Bíblia de 2011. A obra Éxodo, una lectura evangélica y popular, de George V. Pixley, traduzida do espanhol para o português por J. Rezende Costa é o embasamento deste trabalho.

É necessário salientar que não se trata de esgotar as interpretações ou comentários exegéticos sobre os textos bíblicos abordados. Mas de auxiliar na compreensão de tais textos, que no decorrer da história contribuíram de alguma forma para o reconhecimento e/ou descobrimento de um Deus que não oprime, mas que liberta das mãos dos opressores.

De acordo com Pixley, a exegese liberal – predominante nos séculos XIX e metade do XX – muito cooperou para valorizar o Antigo Testamento. Tal contribuição foi sendo aprimorada nos grandes centros de estudos, sobretudo dos países desenvolvidos, vindo ao encontro de uma maneira já “popularizada” de ler a Bíblia nos países menos desenvolvidos. Alguns avanços foram possíveis graças à aproximação dos trabalhadores e camponeses com a Sagrada Escritura.

É indispensável para o povo cristão saber como se lê o livro do Êxodo, pois ele apresenta a libertação do povo do Deus, sendo este o ponto de partida para a compreensão do que mais tarde será um evento determinante e salvífico, o anuncio do Reino, a Boa Nova.

São de suma importância algumas informações sobre o Livro do Êxodo: é o segundo dos cinco livros atribuídos a Moisés e possui quarenta capítulos. A palavra Êxodo significa “saída” e vem da Septuaginta (LXX), a mais antiga tradução grega do Antigo Testamento hebraico.

Êxodo conta a história da saída de toda uma nação – Israel – do Egito para começar uma vida nova. Não há em toda a história humana uma coisa mais espetacular do que a saída de Israel do Egito, uma revelação de Deus mais solene do que a do Monte de Sinai, uma construção (estrutura) mais significante do que o Tabernáculo e nem uma figura humana maior do que Moisés no Antigo Testamento.

O personagem principal deste livro é Moisés. Ele foi chamado para a importante missão de libertar o povo do Egito e conduzi-lo para a Terra Prometida. Mas também Deus é personagem principal, pois é Ele mesmo quem caminha com o povo e com ele faz história. Em Ex 3,13-14 Deus revela seu verdadeiro Nome, e diz que é o mesmo Deus da Promessa feita aos Patriarcas.

Pixley procura explicar os textos do Êxodo como um todo literário. Assim sendo, vale ressaltar que é fundamental o reconhecimento de que o Pentateuco não é obra de apenas um autor. Três grandes tradições, em três épocas diferentes, estão misturadas nos livros do Pentateuco. Em primeiro lugar a Javista (J), aquela que sempre chamava Deus de Javé, em seguida a Eloísta (E), que se refere a Deus usando o termo Elohim, e, por fim, a tradição Sacerdotal (P, do alemão “Priester” = Sacerdote).

A tradição Sacerdotal (P) é muito particular e por isso se distingue das outras. Quando se fala do Sinai, por exemplo, existe uma complexidade literária tão grande que é difícil perceber onde estão as tradições Javista ou Eloísta, enquanto que a tradição Sacerdotal pode ser facilmente reconhecida. Tomadas em conjunto, porém, estas três dimensões ajudam a esclarecer o texto.

No decorrer da história os relatos foram sendo modificados para responder aos interesses do povo em seus diferentes momentos. Nos textos sobre o Êxodo, quatro momentos podem ser vistos, cada um em seu próprio contexto. Vamos falar, assim, de quatro níveis do relato.

O primeiro nível corresponde ao grupo que viveu a experiência da libertação do Egito. Explica Pixley: “Este nível do texto está tão encoberto por níveis posteriores, que já não se pode identificá-lo no texto atual, mas é de certa importância não perdê-lo totalmente de vista, justamente por ser o primeiro relato do êxodo. Neste comentário proponho a hipótese de que o grupo que experimentou o êxodo foi um grupo heterogêneo de camponeses no Egito, acompanhado por um grupo de imigrantes das regiões orientais” (p. 10).

o segundo nível possui marcas de reprodução das tribos de Israel na terra de Canaã. Havia nas cidades os senhores, os quais cobravam pesados impostos, assim sendo, os camponeses contrários a estes senhores provocaram uma série de levantes contra a exorbitante cobrança dos tributos. As tribos que diretamente viviam sob esta condição se refugiavam pelas montanhas e começavam, então, a formar alianças para garantir a própria segurança. Uma aliança dessas tribos rebeldes ficou conhecida como Israel.

Mas quando chegamos ao terceiro nível, o êxodo é apresentado como uma luta entre dois povos, Israel, liderado por Moisés, e o Egito, liderado pelo Faraó. Isto é resultado da instituição da monarquia israelita, que necessita de uma produção ideológica que sustente o novo consenso nacional e que não deve ser nem revolucionária e nem antimonárquica. “Como parte deste esforço se reproduziu o relato indispensável do êxodo, para fazer dele uma luta de libertação nacional e não mais mera luta de classes” (p. 11). Neste nível, Pixley situa as tradição Javista (J), mas também situa a tradição mais crítica e de linha profética conhecida como Eloísta (E).

O quarto nível, enfim, exibe com destaque a libertação como um ato de Iahweh, “para demonstrar sua indiscutível divindade, e do Sinai o momento em que Iahweh revela a seu povo o culto que lhe devia prestar. Este é o período da vida judaica sob o império persa no século V a.C.” (p. 12). Podemos identificar este nível com o relato Sacerdotal (P), quando a história do êxodo torna-se a história da fundação da comunidade religiosa daqueles que obedecem, com exclusividade, a Iahweh e seus preceitos.

Ora, fazendo uma inversão e olhados na ordem em que aparecem no texto atual, de cima para baixo, os quatro níveis da reprodução do relato do Êxodo são:
4) Iahweh x ídolos: história da fundação da comunidade religiosa (P)
3) Israel x Egito : libertação nacional – luta pela identidade nacional (J e E)
2) Israel x Canaã: luta contra a monarquia que sustenta as cidades cananeias – fase oral dos relatos
1) Moisés x Faraó: camponeses e imigrantes se levantam contra o Faraó – o nível da experiência do êxodo encoberto pelos textos atuais

Apresento, enfim, algumas características que permeiam o itinerário de todo o texto do Livro do Êxodo.

A falta de água (Ex 15, 22-27), era o grande desafio e perigo maior enfrentado no deserto. O povo, frente a tal dificuldade, murmura contra Moisés. Iahweh indica a Moisés como tornar a água de Mara (amarga) em água potável.

Também a falta de alimentos era uma forma de ameaça para o povo (Ex 16, 1-36). No Egito o alimento estava garantido, mas no deserto Israel se encontrava em situação difícil e daqui resulta o perigo da fome. Moisés apresentava Iahweh àquele povo como o libertador, porém não o viam assim, devido ao modo de vida que tinham no deserto. Iahweh vem ao encontro do povo para resolver a sua grande aflição.

Ao faltar água novamente, parece haver um confronto com Moisés, mas, na verdade, o povo duvida que a ação de Iahweh aconteça na história. Contudo, quando o profeta se depara com a lamentação do povo, recorre a Iahweh e reconhece a intervenção divina que o fizera sair de uma situação de morte para poder viver.

E as atribulações e provações se multiplicam, como, por exemplo, um ataque dos amalecitas, inimigos que atacavam Israel vindos de fora do país…

Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo a Vida Pastoral

VV.AA. Animação Bíblica da Pastoral: passo a passo a travessia se faz. Vida Pastoral, São Paulo, n. 280, setembro-outubro de 2011, 64 p.

Por Edson Carlos Braz

A revista Vida Pastoral de setembro-outubro de 2011 – ano 52 – n. 280, traz 4 textos sobre Ex 15,22-18,27. Pelo menos durante os meses de setembro/outubro, pode-se fazer o download deste número da Vida Pastoral, que está disponível na Internet, no site da Paulus/Paulinos, em formato pdf.

Os textos foram escritos pela Equipe do Centro Bíblico Verbo, destacando-se os nomes de Maria Antônia Marques e Shigeyuki Nakanose.

Observo aqui que os artigos são versões um pouco mais resumidas de 4 dos 6 textos que foram publicados pelo mesmo Centro Bíblico Verbo no livro A caminhada no deserto: entendendo o livro do Êxodo 15,22-18,27. São Paulo: Paulus, 2011, 112 p., aqui apresentado pelo estudante do Primeiro Ano de Teologia do CEARP, Wesley Gonçalves de Oliveira.

Os quatro artigos são:

  • A caminhada no deserto: Introdução à leitura de Êxodo 15,22-18,27 – Equipe do Centro Bíblico Verbo
  • Não acumular… memória que deve permanecer viva! Uma leitura de Êxodo 16,1-3.12-21 [os episódios do maná e das codornizes] – Maria Antônia Marques
  • Deus está em guerras? Uma leitura de Êxodo 17,8-16 [combate contra Amalec] – Shigeyuki Nakanose
  • Mulher, homem e família. Uma leitura de Êxodo 18,1-12 [chegada do sogro Jetro, da mulher Séfora e dos filhos de Moisés] – Maria Antônia Marques e Shigeyuki Nakanose

O estudo começa fazendo uma introdução de como foi a caminhada do povo, que acabara de ser liberto do Egito e estava procurando a terra prometida. Também trata do significado do nome do livro e do período em que foi escrito, especificando o seu contexto econômico, político e religioso, enfatizando a maneira em que o mesmo fora escrito, tendo havido muito tempo de transmissão oral até a época bem mais recente da escrita. O artigo está dividido em três etapas: 1. o contexto das narrativas da travessia no deserto; 2. como entender o livro do êxodo e 3. chaves de leitura para os textos de Ex 15-18.

Como parte do Pentateuco ou Torá (Lei), o Livro do Êxodo conta o começo da história de Israel, falando sobre o povo escolhido que anseia em chegar à terra prometida. Os acontecimentos do Êxodo são fundamentais para a reflexão teológica de Israel, pois fala de um povo que está a caminho e essa caminhada deve ser sempre recordada.

Entretanto, essa história da saída do Egito foi transmitida de forma oral e só muitos séculos depois veio a ser escrita. Por isso, as narrativas expressam, muitas vezes, conflitos posteriores do povo israelita. Se as narrativas remontam a uma memória do século XIII a.C., a forma final, escrita, como a temos hoje, pode ser situada no pós-exílio, no final do século V a.C., por volta do ano 400, em pleno regime teocrático sob o controle dos sacerdotes do Templo de Jerusalém, que, por sua vez, obedeciam aos interesses geopolíticos do Império Persa. Marcas deste período nos textos são, por exemplo, as instituições oficiais e a teologia monoteísta do Deus único.

Maria Antônia Marques faz, no segundo artigo, uma leitura de Êxodo 16,1-3.12-21, onde está o relato do maná, que em hebraico é “man hû”, que, é, afinal, uma pergunta: “O que é isso?” Trata-se da secreção produzida por insetos que se alimentam de tamargueiras e é composta de uma substância açucarada que se solidificada no ar seco e frio da noite, mas que derrete sob o calor do sol. É possível encontrá-la na região central do Sinai, nos meses de maio e junho.

No mês de setembro as codornizes retornam de sua migração na Europa, impelidas pelo vento oeste, e são facilmente abatidas, e em grande quantidade, na costa do deserto. A autora nos alerta que “é possível que esse capítulo reúna memórias de diferentes grupos que deixaram o Egito separadamente (cf. Ex 7,8;11,1), seguindo por diferentes caminhos(Ex 13,17). Em sua fuga, o povo foi se ajeitando como era possível, alimentando-se com o que encontrava no deserto. Depois de muitos anos, o povo revê a sua trajetória e relê esses fatos como providência especial de Deus” (p. 26).

Na última parte deste artigo, Maria Antônia Marques explica o significado do milagre na Bíblia, que não é visto como algo que viola as leis da natureza (desconhecidas na época), mas como um prodígio, uma maravilha, fato extraordinário que revela a ação de Deus.

Há ainda dois outros artigos. Mas, para terminar, quero lembrar que quando fazemos um estudo de textos bíblicos é preciso nos situarmos no tempo, na história e saber entender o ambiente em que foi escrito e a maneira pela qual foi transmitida a mensagem antes da mesma ser escrita.

O Êxodo, livro da saída, quer mostrar a busca do povo por uma terra justa onde as pessoas não fossem oprimidas e vivessem dignamente, na solidariedade e respeito mútuo. E essa busca também está presente na sociedade hodierna, onde há pessoas exploradas e vítimas de preconceito, mas vivendo em busca de um norte para sua realização. Ao fazer memória é sempre preciso ter em mente as perdas e conquistas, para prosseguir continuamente.

Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo Estudos Bíblicos

SCHWANTES, M. et al. A memória popular do êxodo. 2. ed. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 16, 1996, 84 p.

Por Victor Mariano Rodrigues

Os biblistas Milton Schwantes, Hans Alfred Trein, Ana Flora Anderson, Gilberto Gorgulho, Carlos Arthur Dreher, Sandro Gallazzi e José Comblin, em um conjunto de sete artigos, apresentam o êxodo a partir de sua origem e desenvolvimento na memória popular. Este número da revista Estudos Bíblicos traz também duas recensões escritas por Ludovico Garmus sobre os livros de J. Severino Croatto, Êxodo: uma hermenêutica da liberdade e George V. Pixley, Êxodo. Apesar da “idade” deste número, que teve sua primeira edição publicada em 1988, os artigos trabalham muito bem temas que permanecem atuais. Estes estudos podem ser úteis para a compreensão global do êxodo e, portanto, para o Mês da Bíblia deste ano.

Antes do desenvolvimento e aprofundamento da memória popular no decorrer da história do povo de Israel, o êxodo é apresentado como revelação de Deus para a libertação de todos. O êxodo, memorial da libertação, apresenta Javé, o Deus que liberta o seu povo da escravidão e assegura um novo modelo igualitário. O êxodo é o centro da interpretação da lei e dos profetas e nos ajuda a compreender o êxodo de Jesus em sua missão e em sua prática libertadora.

No primeiro artigo, Milton Schwantes aborda o êxodo como evento exemplar que ilumina toda a história da Bíblia, pois apresenta o Deus libertador. Neste sentido a Bíblia é testemunha de Deus que escuta o clamor do seu povo. O êxodo é um verdadeiro memorial que perdura por toda a Bíblia. Mesmo em o Novo Testamento não se pode esquecer que a crucificação e ressurreição de Jesus ocorrem no contexto da Páscoa. A Páscoa era a festa de ação de graças a Deus daquele povo libertado. Da mesma forma toda a humanidade celebra a nova Páscoa em memória de Jesus libertador. Nas palavras do autor: “O êxodo é um paradigma. Faz as vezes de; é um exemplo. Assemelha-se a uma lâmpada. Ilumina toda a história bíblica. Aparece como sua vela principal” (p. 9).

Importante ressaltar que o êxodo, em nossos dias, acontece constantemente, principalmente para os povos latino-americanos. O êxodo rural, onde acontece uma violenta expulsão de pequenos proprietários, lavradores e sem-terra, o operário que é jogado de um emprego para o outro, migrantes oprimidos, famílias são empurradas de uma periferia à outra. E o autor coloca a questão: Ir para onde? Onde está a terra que mana leite e mel?

No segundo artigo Hans Alfred Trein trata da situação histórica dos hebreus no Egito e no Antigo Testamento. Hebreus: a que está se referindo este nome no Antigo Testamento? A palavra hebreus aparece pela primeira vez como qualificativo das parteiras que recebem ordem do faraó para que deixem viver somente as meninas (Ex 1,15ss). Hebreus podem ser denominados também como filhos de Israel, ou é uma designação para escravos por tempo limitado. Nos outros livros da Bíblia hebreus aparece com outra função, tanto para se referir ao povo escravo como para falar dos israelitas ou filhos de Israel. O que é nítido no Antigo Testamento é que os hebreus têm uma vida parecida com a do povo oprimido dos nossos dias.

No terceiro artigo, a origem social dos textos de Ex 1-15 é uma importante questão levantada por Milton Schwantes: “A pergunta pela origem é (…) a pergunta pelos setores sociais e as lutas populares que geraram e criaram os textos” (p. 31). A questão não é, entretanto, descobrir a intenção dos autores destes textos – em geral apelidados de javista, eloísta e sacerdotal na chamada ‘teoria das fontes do Pentateuco’, hoje em profunda crise -, mas localizar os portadores da memória do êxodo. O êxodo libertador foi preservado e transmitido pelos camponeses e lavradores no âmbito da chamada “guerra santa”, uma prática de luta contra os inimigos no meio clânico-tribal, na qual. todos unidos, viam a divindade como seu guia e protetor.

A origem destes textos está na memória face às experiências dos setores populares e dos camponeses na tentativa de se libertar de qualquer tipo de opressão. “As experiências da ‘guerra santa’ foram locais bastante privilegiados para a rememorização dos episódios ocorridos aos hebreus no Egito. A autodefesa contra invasores prepotentes trazia à memória a estupenda derrota do Faraó. Por ocasião da recepção na aldeia, as mulheres cantavam a memória do êxodo, quando Javé precipitara no mar ‘o cavalo e o o seu cavaleiro'” (p. 36).

Ana Flora Anderson e Gilberto Gorgulho mostram, no quarto artigo, que, na luta pela libertação, como está narrado em Ex 1-15, as mulheres tiveram importante papel. Arqueólogos e antropólogos sugerem que foi na época da libertação dos escravos do Egito que as mulheres mudaram de posição social. Na transição da Idade do Bronze para a Idade do Ferro foi necessário uma mudança do papel da mulher que teve sua participação no cultivo da terra e sua participação nas lutas dos camponeses e dos pastores. “Este período foi decisivo para a condição das mulheres no novo modelo social procurado pelas tribos libertadas. A nova condição das mulheres relaciona-se com o cultivo da terra, assolada por pragas, doenças endêmicas, fome e violência (…) O papel das mulheres concentrou-se na defesa da casa, geração e criação de filhos, trabalho da terra e participação nas lutas de defesa” (p. 40-41).

Nas lutas camponesas destacam-se algumas mulheres que lutaram pela libertação do seu povo contra a opressão e as doenças que ameaçavam a sobrevivência. Como figuras inspiradoras desta luta aparecem, no relato do êxodo, Miriam, as parteiras, a mãe de Moisés, Séfora…

A revista traz ainda os artigos de Carlos Arthur Dreher, Sandro Gallazzi e José Comblin. Que tratam das tradições do êxodo e do Sinai (Dreher), de Ex 3 e o profetismo camponês (Gallazzi) e, finalmente, do êxodo na teologia paulina (Comblin).

Como diz Milton Schwantes no editorial, os artigos deste número de Estudos Bíblicos “são uma ajuda para descobrir a riqueza inesgotável do êxodo como o foco principal e inspirador de uma teologia que queira ser um discernimento de fé a partir da prática histórica da libertação dos pobres e dos oprimidos” (p. 7).