A lei na Bíblia Hebraica

WELLS, B. (ed.) The Cambridge Companion to Law in the Hebrew Bible. Cambridge: Cambridge University Press, 2024, 408 p. – ISBN 9781108725668.

Este livro oferece uma visão abrangente da história, natureza e legado da lei bíblica. Examinando os debates que giram em torno da natureza da lei bíblica, explora o seuWELLS, B. (ed.) The Cambridge Companion to Law in the Hebrew Bible. Cambridge: Cambridge University Press, 2024, 408 p. contexto histórico, o significado das suas regras e a sua influência no judaísmo e no cristianismo primitivos. O volume também questiona questões-chave: As regras pretendiam funcionar como a lei estatutária do antigo Israel? Há evidências que indiquem que eles serviram a um propósito diferente? Qual é a relação entre este material jurídico e outras partes da Bíblia Hebraica? Mais importante ainda, o livro fornece uma visão aprofundada do conteúdo das leis da Torá, com ensaios individuais sobre leis substantivas, processuais e rituais. Com contribuições de uma equipe internacional de especialistas, escrita especialmente para este volume, The Cambridge Companion to Law in the Hebrew Bible fornece uma visão atualizada dos estudos sobre a lei bíblica e descreve temas e tópicos para pesquisas futuras.

 

This Companion offers a comprehensive overview of the history, nature, and legacy of biblical law. Examining the debates that swirl around the nature of biblical law, it explores its historical context, the significance of its rules, and its influence on early Judaism and Christianity. The volume alsoBruce Wells interrogates key questions: Were the rules intended to function as ancient Israel’s statutory law? Is there evidence to indicate that they served a different purpose? What is the relationship between this legal material and other parts of the Hebrew Bible? Most importantly, the book provides an in-depth look at the content of the Torah’s laws, with individual essays on substantive, procedural, and ritual law. With contributions from an international team of experts, written specially for this volume, The Cambridge Companion to Law in the Hebrew Bible provides an up-to-date look at scholarship on biblical law and outlines themes and topics for future research.

Bruce Wells is Associate Professor in the Department of Middle Eastern Studies at the University of Texas, Austin. He is the author of The Law of Testimony in the Pentateuchal Codes (2004), co-author (with Raymond Westbrook) of Everyday Law in Biblical Israel (2009), and co-author (with F. Rachel Magdalene and Cornelia Wunsch) of Fault, Responsibility, and Administrative Law in Late Babylonian Legal Texts (2019).

O livro de Ezequiel na pesquisa atual

CARVALHO, C. (ed.) The Oxford Handbook of Ezekiel. New York: Oxford University Press, 2023, 555 p. – ISBN 9780190490737.

O estado atual dos estudos sobre o livro de Ezequiel é robusto. Ezequiel, ao contrário da maioria das coleções proféticas pré-exílicas,CARVALHO, C. (ed.)The Oxford Handbook of Ezekiel. New York: Oxford University Press, 2023 contém indícios evidentes de que sua circulação primária foi como um texto literário e não como uma coleção de discursos orais. O autor era altamente educado, a teologia do livro é “sombria” e sua visão da humanidade é esmagadoramente negativa. Em The Oxford Handbook of Ezekiel, a editora Corrine Carvalho reúne estudiosos de diversas perspectivas interpretativas para explorar um dos livros mais debatidos da Bíblia.

Composto por vinte e sete ensaios, o livro fornece introduções às principais tendências nos estudos de Ezequiel, abrangendo sua história, estado atual e direções emergentes. Após uma visão geral introdutória dessas tendências, cada ensaio discute um elemento importante no envolvimento acadêmico com o livro. Vários ensaios discutem a história do texto (seu contexto histórico, camadas redacionais, crítica do texto e uso de outras tradições israelitas e do antigo Oriente Médio). Outros se concentram em temas-chave do livro (como templo, sacerdócio, direito e política), enquanto outros ainda analisam a história da recepção do livro e interpretações contextuais (incluindo arte, uso cristão, abordagens de gênero, abordagens pós-coloniais e teoria do trauma) . Tomados em conjunto, estes ensaios demonstram a vitalidade da pesquisa sobre Ezequiel no século XXI.

Corrine Carvalho é Professora de Teologia na Universidade St. Thomas, em St. Paul, MN, USA. Sua principal área de pesquisa é Ezequiel, Jeremias e Lamentações. No capítulo 1 deste livro ela diz: “Tenho trabalhado em Ezequiel há mais de trinta anos. Este é um campo que tem se beneficiado de um grupo muito dedicado de acadêmicos que se reúne regularmente e partilha discussões vibrantes, que tentei representar nos autores e temas deste livro”.

 

The current state of scholarship on the book of Ezekiel, one of the three Major Prophets, is robust. Ezekiel, unlike most pre-exilic prophetic collections, contains overt clues that its primary circulation was as a literary text and not a collection of oral speeches. The author was highly educated, the theology of the book is “dim,” and its view of humanity is overwhelmingly negative. In The Oxford Handbook of Ezekiel, editor Corrine Carvalho brings together scholars from a diverse range of interpretive perspectives to explore one of the Bible’s most debated books.

Consisting of twenty-seven essays, the Handbook provides introductions to the major trends in the scholarship of Ezekiel, covering its history, current state, and emerging directions. After an introductory overview of these trends, each essay discusses an important element in the scholarly engagement with the book. Several essays discuss the history of the text (its historical context, redactional layers, text criticism, and use of other Israelite and near eastern traditions). Others focus on key themes in the book (such as temple, priesthood, law, and politics), while still others look at the book’s reception history and contextual interpretations (including art, Christian use, gender approaches, postcolonial approaches, and trauma theory). Taken together, these essays demonstrate the vibrancy of Ezekiel research in the twenty-first century.

Corrine Carvalho is Professor of Theology at the University of St. Thomas in St. Paul, MN. Her research is primarily on exilic texts (Ezekiel, Jeremiah, and Lamentations) and she is currently working on a commentary on Ezekiel. She is an active member of both the Society of Biblical Literature and the Catholic Biblical Association, and currently serves as General Editor of The Catholic Biblical Quarterly.

Contents

1. Ezekiel Scholarship in the Twenty-​first Century
Corrine Carvalho
2. Ezekiel in Its Historical Context
Marvin A. Sweeney
3. The Mesopotamian Context of Ezekiel
Daniel Bodi
4. Ezekiel and Israel’s Legal Traditions
Michael A. Lyons
5. Ezekiel among the Prophetic Tradition
Anja Klein
6. Ezekiel and Israelite Literary Traditions
Dexter E. Callender
7. Text-​Critical Issues in Ezekiel
Timothy P. Mackie
8. Rhetorical Strategies in the Book of Ezekiel
Dale Launderville
9. Ezekiel as a Written Text: Archiving Visions, Remembering Futures
Ian D. Wilson
10. Ezekiel among the Exiles
Dalit Rom-​Shiloni
11. Ezekiel and Politics
Madhavi Nevader
12. Priests, Levites, and the Nasi: New Roles in Ezekiel’s Future Temple
Tova Ganzel
13. Ezekiel’s Concept of Covenant
John Strong
14. Ezekiel and the Foreign Nations
C. L. Crouch
15. Ezekiel and the Priestly Traditions
Stephen L. Cook
16. Communications of the Book of Ezekiel: From the Iron Wall to the Voice in the Air
Soo J. Kim Sweeney
17. Ezekiel in Christian Interpretation: Gog, Magog, and Apocalyptic Politics
Andrew Mein
18. Pastoral Appropriations of Ezekiel
Steven Tuell
19. Ezekiel in the Jewish Tradition
Yedida Eisenstat
20. Where There’s Fire There’s Smoke: Text and Image in the Ezekiel Painting at Dura-​Europos
Margaret S. Odell
21. Ezekiel and Gender
Amy Kalmanofsky
22. Embodiment in Ezekiel
Rhiannon Graybill
23. Ezekiel as Trauma Literature
Ruth Poser
24. Uncertainties in First Contact? Ezekiel’s Struggle Toward a “Comparative Gaze”
Daniel L. Smith-​Christopher
25. Ezekiel’s Map of Future Past
Carla Sulzbach
26. Ezekiel Imperialized Geographies in the Nation Oracles
Steed Vernyl Davidson
27. Ezekiel’s Tangible Ethics: Physicality in the Moral Rhetoric of Ezekiel
Corrine Carvalho

Ezequiel, um estranho personagem

Quem foi Ezequiel?

Ezequiel foi um estranho personagem. Parece que ele tinha uns comportamentos inusitados, o que levou os estudiosos a terem opiniões divergentes sobre ele, tachando-o de “santo a louco”.

Pode exemplificar?

Claro. Um dia ele pegou um tijolo, gravou nele a cidade de Jerusalém, ao seu redor montou um cerco com trincheiras, aterro, acampamento, aríetes e, em seguida, deitado, imóvel, ao lado do tijolo, passou a racionar, por muitos dias, o próprio alimento e a água que bebia. Isto está em Ez 4, 1-17.

Tem mais?

Ora, se tem. Outro dia, ele pegou uma espada e com ela raspou o cabelo e a barba. Em seguida, repartiu assim os pelos em três partes: um terço foi queimado na cidade, outro terço foi cortado com a espada e o restante foi espalhado ao vento. Somente uns poucos fios foram presos à aba de sua veste. Isto está em Ez 5,1-4.

Parece esquisito mesmo. E então?

E então? Pois ele fez mais coisas estranhas. Noutra ocasião, ele, de dia, arrumou uma bagagem para viagem, e, ao anoitecer, com as mãos, abriu um buraco na parede e saiu com a carga nos ombros cobrindo o próprio rosto para não ver a terra que deixava. Isto está em Ez 12,1-20.

Acabou?

Que nada. Quando a sua mulher morreu, ele não lamentou a perda e nem ficou de luto, embora ela fosse, como ele mesmo diz, o desejo de seus olhos. E, a partir destaEzequiel de Michelangelo - Capela Sistina, Vaticano (1511) data, o profeta ficou mudo, não abrindo mais sua boca. Isto está em Ez 24, 15-27.

Quando e onde atuou Ezequiel?

Muitos textos do livro de Ezequiel são datados. E cerca de uma dúzia destas datas são consideradas seguras, o que nos leva a situar sua atuação de 593 a 571 a.C. entre os exilados judaítas da Babilônia. Filho de um sacerdote, ele seria jovem quando foi enviado para a Babilônia na primeira etapa da deportação, em 597 a.C., tendo se tornado profeta somente alguns anos depois.

Pode-se dizer, a partir destes e de outros textos, que Ezequiel é, para os pesquisadores, um controvertido personagem?

Sacerdote, viúvo, profeta, poeta, teólogo, ele já foi chamado de tudo por aí, desde maluco até uma das maiores figuras espirituais de todos os tempos. Na opinião de alguns especialistas, que tentaram diagnosticar Ezequiel, ele seria portador de alguma doença mental. Nestes estranhos comportamentos de Ezequiel alguns viram, do século XIX para cá, sintomas de catalepsia, catatonia, paranoia, esquizofrenia, psicose, delírios de perseguição e grandeza, fantasias de castração, regressão sexual inconsciente… embora muitos deles concluam que, mesmo sendo um doente mental, Ezequiel foi uma importante voz profética entre os exilados judaítas na Babilônia.

Quais autores chegaram a este tipo de conclusão?

Bem, estas são conclusões de autores como August Klostermann (1877), Edwin C. Broome (1946), Karl Jaspers (1947) e David J. Halperin (1993), para citar alguns entre os mais discutidos.

É possível descrever com mais detalhes o pensamento de algum destes autores?

Claro. Um bom exemplo é o estudo de David J. Halperin. O livro é Seeking Ezekiel: Text and Psychology. University Park, PA: Penn State University Press, 1993, 276 p. – ISBN 9780271009476.

Na Introdução, leio:

Sem dúvida, o livro de Ezequiel é poderoso. No entanto, podemos estar inclinados a ver o seu poder como o da demência e a aplicar a Ezequiel as palavras de outro profeta: “O profeta é tolo, o inspirado é louco” (Os 9,7).

“Louco” é um diagnóstico vago. Em 1946 Edwin C. Broome tentou melhorá-lo. Ele aceitou a afirmação do livro de que era obra do profeta Ezequiel, sacerdote de Jerusalém, mais tarde na Babilônia – e supôs que as estranhezas do livro eram as estranhezas do Ezequiel histórico. Ele abordou essas peculiaridades a partir de uma perspectiva psicanalítica e as unificou com um diagnóstico clínico. Elas eram, argumentou ele, sintomas de esquizofrenia paranoide.

A resposta acadêmica ao artigo de Broome foi menos do que entusiasmada. O biblista Carl Gordon Howie e o psiquiatra Ned H. Cassem prepararam refutações completas das propostas de Broome. A maioria o ignorou totalmente ou deu como certo que Howie e Cassem o haviam demolido. Bernhard Lang, escrevendo em 1981, resumiu o consenso: “O trabalho de Broome não requer mais refutações. Deve ser notado mais como uma curiosidade do que como uma contribuição séria para a compreensão do profeta”.

Este consenso está errado. O artigo de Broome contém de fato muitas coisas que podem ser refutadas e devem ser descartadas. Seu diagnóstico arrogante, mesmo que correto, oferece pouca ajuda na compreensão de Ezequiel ou de seu livro. Mas ele também oferece insights importantes e provocativos que abrem as portas para investigações frutíferas sobre o que está por trás do texto. Rejeitar o artigo de Broome como uma “curiosidade” é bater estas portas, desnecessariamente, na cara dos estudos.

Proponho reabrir as portas de Broome e avançar, em segurança, o mais longe que puder para o que está além. A peça central do meu argumento será um reexame de uma das sugestões de Broome: que o ato de abrir uma fenda na parede, descrito em Ez 8,7-12, é uma representação simbólica da relação sexual. Acredito que esta interpretação está correta e que pode e deve ser desenvolvida consideravelmente mais do que Broome.

Mas antes disso resumo o argumento de Broome e examino as respostas de Howie, Cassem, Stephen Garfinkel, Ellen F. Davis e (brevemente) outros. O objetivo do capítulo 1 é em parte polêmico. Comprometo-me a defender Broome, o que envolverá atacar os seus atacantes. Mas a controvérsia em torno do artigo de Broome também servirá como introdução a questões metodológicas mais amplas. Nem todos admitirão que os métodos psicanalíticos possam ser legitimamente aplicados aos textos bíblicos. O ceticismo neste ponto e a incapacidade de Broome em antecipá-lo e em responder a ele são responsáveis por grande parte do ridículo e da negligência que Broome recebeu. Se espero que uma abordagem psicanalítica da Bíblia seja levada a sério, não posso fugir às questões metodológicas que ela levanta.

Se o contexto literário de Ez 8,7-12 são os capítulos 8-11, seu contexto psíquico se estende a outras partes do livro. No Capítulo 4 examino esse contexto. Sugiro que oculto por trás das imagens de Ez 8,7-12 está o mesmo padrão – violenta aversão à sexualidade feminina – que é expresso abertamente nos capítulos 16 e 23 e mais secretamente no comportamento de Ezequiel por ocasião da morte de sua esposa, em Ez 24,15-24. O exame destas passagens confirmará minha interpretação de Ez 8,7-12, assim como Ez 8,7-12 ajuda a explicar a horrível intensidade dos capítulos 16 e 23.

Este material nos permitirá prosseguir nossa investigação em uma nova direção. Acredito poder detectar algo mais, algo ainda mais primário e importante, por trás do ódio relativamente direto de Ezequiel pela mulher – uma ambivalência profunda e carregada de erotismo em relação a uma figura masculina dominante. Ezequiel, defendo, tendia a deslocar os elementos positivos da sua ambivalência para o seu Deus, e os seus elementos negativos para outros homens reais ou imaginários. No entanto, ele não conseguiu levar a cabo esta divisão com absoluta consistência. A compreensão deste fato nos permitirá explicar alguns dos elementos mais estranhos e teologicamente mais perturbadores do livro de Ezequiel. Meu argumento até este ponto sugerirá uma nova solução para o velho problema da mudez de Ezequiel, o que explicará por que sua mudez cessou com a destruição do Templo. Elaborarei essa solução em meu capítulo final.

Na conclusão do livro de David J. Halperin, leio:

O argumento central deste livro reside na correlação de Ezequiel 8,7-12, capítulos 16 e 23, e 24,15-27. Essas passagens expressam, de três modos distintos, a mesma postura emocional de seu autor; ou seja, pavor e aversão à sexualidade feminina.

Esta posição é expressa quase abertamente, coberta apenas por um fino véu de alegoria histórica, nos capítulos 16 e 23. Em 8,7-12, é transmitida na linguagem simbólica dos sonhos. Ela se manifesta em 24,15-27, no comportamento autodescrito do autor. Estes três modos de expressão reforçam-se mutuamente, e cada uma das passagens relevantes confirma a interpretação que dei das outras. Eles formam, juntos, uma corda tripla que não se rompe facilmente.

Meu argumento pressupõe que o relato de Ezequiel sobre seu próprio comportamento em 24,15-27 é verdadeiro e preciso. Pressupõe, também, que 8,7-12 deve ser lido como um artefato genuíno de uma experiência alucinatória, que transmite os processos inconscientes do autor de forma tão autêntica (e tão enigmática) quanto nossos sonhos transmitem os nossos. Ambas as premissas podem ser e foram questionadas. Nenhum dos dois, entretanto, é de forma alguma implausível. O ganho exegético que vimos resultar deles justifica a nossa adoção deles.

Estamos, consequentemente, justificados em ler psicologicamente o livro de Ezequiel. Ou seja, podemos permitir-nos compreendê-lo como um documento criado por um ser não menos humano que nós, um documento não menos expressivo de sua humanidade individual do que nossos escritos expressam os nossos. Podemos supor que Ezequiel foi governado, não menos que nós, por uma realidade interior obstinadamente mantida. Uma vez que tenhamos levado em conta as diferenças históricas e culturais, podemos corajosamente procurar reconhecer e compreender a sua realidade interior com base no que sabemos da nossa.

Quem é David J. Halperin?

David J. Halperin foi professor de Estudos Religiosos na Universidade da Carolina do Norte, USA, e autor de The Faces of the Chariot: Early Jewish Responses to Ezekiel’s Vision (1988) e The Merkabah in Rabbinic Literature (1980). Ele diz de si mesmo no Prefácio de Seeking Ezekiel: “Não sou psicanalista, nem tenho uma educação formal em psicologia. Minha formação e especialização são em filologia e história, tendo como temas principais a língua hebraica e a história e literatura do judaísmo antigo. Meu conhecimento da psicanálise deriva da leitura das obras de Freud e de seus seguidores, de conversas e correspondência com profissionais de psiquiatria e da experiência pessoal como paciente analítico”.

Mas este tipo de análise ainda é costumeira ou não?

Ezequiel de Aleijadinho - Congonhas do Campo, MG (entre 1794 e 1804)O que se nota é que este tipo de análise sofreu forte retração nos últimos anos. Isto se deve a vários fatores, mas é mais do que evidente de que qualquer estudo psicológico de um homem morto há cerca de dois mil e seiscentos anos enfrenta formidáveis dificuldades metodológicas. Por isso, alguns sugerem que, ao invés de especularmos sobre hipotéticos traumas sofridos por Ezequiel em sua infância, seria bem mais sensato analisar o seu comportamento a partir da categoria de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), considerando as suas experiências de exílio e destruição de Jerusalém. O fato é que nada se ganha com a análise psicológica de personalidades bíblicas quando o trabalho exegético básico não é feito. E muitos não o fazem. E há, sim, críticos deste tipo de abordagem que chegam a dizer que tais diagnósticos de personalidades bíblicas nos dizem mais sobre seus autores do que sobre os personagens bíblicos.

Você pode citar um autor crítico deste tipo de abordagem?

Vou citar Christopher C. H. Cook, no artigo Psychiatry in scripture: sacred texts and psychopathology, publicado em The Psychiatrist 36, 2012, p. 225-229, que toma como referência de análise psiquiátrica de Ezequiel três artigos de G. Stein, publicados no British Journal of Psychiatry entre 2008 e 2010. Christopher C. H. Cook é Professor Pesquisador no Departamento de Teologia e Religião da Durham University, Reino Unido.

Ele diz, por exemplo:

Faltam evidências robustas de que Ezequiel sofria de esquizofrenia. G. Stein não explora diagnósticos diferenciais ou evidências de que os textos antigos se referem a uma forma de profecia que era entendida como cultural e religiosamente normal, mesmo que extraordinariamente desafiadora e dramática. Ele não examina se os textos foram realmente escritos por Ezequiel ou se fornecem um relato confiável no qual basear uma avaliação da psicopatologia. Ele não explora suas interpretações do texto no contexto histórico, teológico, literário e cultural da sociedade em que se originaram. Muitas das evidências oferecidas em apoio ao diagnóstico baseiam-se em interpretações errôneas dos textos dos quais foram extraídas.

Evidências psiquiátricas críticas para qualquer conclusão específica estão praticamente ausentes. Os estudos no campo dos estudos bíblicos sugeririam que fosse exercida extrema cautela no que diz respeito a interpretações simplistas de textos específicos como prova dos pensamentos, experiências ou comportamentos reais do profeta. Isto é especialmente verdade quando tais evidências são utilizadas para apoiar conclusões estranhas ao propósito teológico original para o qual o texto foi escrito e anacrônicas às suas tradições culturais e literárias.

A psiquiatria está orientada para a interpretação dos pensamentos, experiências e comportamentos humanos com o propósito específico de diagnosticar e tratar transtornos mentais. Só pode fornecer interpretações fiáveis quando o contexto cultural é levado em consideração. Quando os textos históricos fornecem a evidência diagnóstica, é ainda necessário considerar os recursos dos estudos acadêmicos associados ao estudo desses textos. Não fazer isso deixa aberto o perigo de se chegar a conclusões que não resistem ao escrutínio crítico e que podem levar as pessoas religiosas, especialmente os usuários de serviços de saúde mental, a concluir que a psiquiatria é antipática à busca espiritual ou religiosa e que as experiências e os textos associados a esta busca serão interpretados pelos psiquiatras como evidência de patologia (…).

O livro de Ezequiel é um texto considerado revelador da verdade espiritual e religiosa em pelo menos duas das principais tradições religiosas do mundo. Isto não significa que não possa ser examinado criticamente, e a riqueza de estudos associados a este livro fornece testemunho da disposição judaica e cristã de fazer perguntas difíceis sobre o texto e sua tradição. No entanto, usar a psiquiatria para examiná-la acriticamente e para chegar a conclusões de tipo estritamente psiquiátrico é um desserviço à psiquiatria e à religião.

Autores e obras citadas

BROOME, E. C. Ezekiel’s Abnormal Personality. Journal of Biblical Literature vol. 65 n. 3, 1946, p. 277-292.

CASSEM, N. H. Ezekiel’s Psychotic Personality: Reservations on the Use of the Couch for Biblical Personalities. In: CLIFFORD, R. J.; MACRAE, G. W. (eds.)The Word in the World: Essays in Honor of Frederick L. Moriarty, S.J. Cambridge, Mass.: Weston College Press, 1973, p. 59-70.

COOK, C. C. H. Psychiatry in scripture: sacred texts and psychopathology. The Psychiatrist 36, 2012, p. 225-229.

DAVIS, E. F. Swallowing the Scroll: Textuality and the Dynamics of Discourse in Ezekiel’s Prophecy. Sheffield: Almond Press, 1989.

GARFINKEL, S. Another Model for Ezekiel’s Abnormalities. Journal of the Ancient Near Eastern Society 19, 1989, p. 39-50.

HALPERIN, D. J. Seeking Ezekiel: Text and Psychology. University Park, PA: Penn State University Press, 1993.

HOWIE, C. G. The Date and Composition of Ezekiel. Philadelphia: Society of Biblical Literature, 1950.

JASPERS, K. Der Prophet Ezechiel: Eine pathographische Studie. In: VV. AA. Arbeiten zur Psychiatrie, Neurologie und ihrem Grenzgebieten. ​Heidelberg: H. Kranz, Scherer, Willsbach, 1947, p. 77-85.

KLOSTERMANN, A. Ezechiel: Ein Beitrag zu besserer Wiirdigung seiner Person und seiner Schrift. Theologische Studien und Kritiken 50, 1877, p. 391-439.

LANG, B. Ezechiel: Der Prophet und das Buch. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1981.

Introdução aos livros históricos

ABADIE, P. Os livros históricos. São Paulo: Loyola, 2024, 150 p. – ISBN 9786555042931.

Sobre a coleção ABC da Bíblia:ABADIE, P. Os livros históricos. São Paulo: Loyola, 2024, 150 p.

Trata-se de uma verdadeira “caixa de ferramentas” que ajudará o leitor a fazer uma leitura sistemática e esclarecida dos livros da Bíblia. Cada volume desta coleção identifica o autor, ou autores, de determinado livro bíblico ou de um conjunto de escritos, apresenta seu contexto histórico, cultural e redacional, analisa-o literariamente, mostra sua estrutura, resume-o, aborda seus grandes temas, estuda sua recepção, influência e atualidade, e fornece um léxico de lugares e pessoas, tabelas cronológicas, mapas e bibliografia.

O original foi publicado em francês em 2020.

Philippe Abadie é doutor em Teologia e em História das Religiões, professor de exegese bíblica na Universidade Católica de Lyon, França.

O Cântico dos Cânticos

D’HAMONVILLE, D.-M. O Cântico dos Cânticos. São Paulo: Loyola, 2024, 152 p. – ISBN 9786555043228.

Sobre a coleção ABC da Bíblia:D'HAMONVILLE, D.-M. O Cântico dos Cânticos. São Paulo: Loyola, 2024, 152 p.

Trata-se de uma verdadeira “caixa de ferramentas” que ajudará o leitor a fazer uma leitura sistemática e esclarecida dos livros da Bíblia. Cada volume desta coleção identifica o autor, ou autores, de determinado livro bíblico ou de um conjunto de escritos, apresenta seu contexto histórico, cultural e redacional, analisa-o literariamente, mostra sua estrutura, resume-o, aborda seus grandes temas, estuda sua recepção, influência e atualidade, e fornece um léxico de lugares e pessoas, tabelas cronológicas, mapas e bibliografia.

O original foi publicado em francês em 2021.

David-Marc d’Hamonville é monge beneditino da abadia de En-Calcat (Dourgne, França) e autor também de Le livre des proverbes e Jonas desta mesma coleção.

Literatura Profética II 2024

Literatura Profética II é continuação da Literatura Profética I. A carga horária semanal é de 2 horas, no segundo semestre do segundo ano de Teologia.

Ementa
Introdução e análise dos principais textos do profeta Jeremias. Introdução e análise dos livros de profetas exílicos e pós-exílicos: Ezequiel, Dêutero-Isaías (Is 40-55), Ageu, Zacarias 1-8, e Trito-Isaías (Is 56-66).

II. Objetivos
Coloca em discussão as características e a função do discurso profético e confronta os textos dos profetas com o contexto da época, possibilitando ao aluno uma leitura atualizada e crítica dos textos proféticos em confronto com a realidade contemporânea e suas exigências.

III. Conteúdo Programático
1. Jeremias
2. Ezequiel
3. Dêutero-Isaías (Is 40-55)
4. Ageu
5. Zacarias 1-8
6. Trito-Isaías (Is 56-66)

IV. Bibliografia
Básica
MESTERS, C. O profeta Jeremias: um homem apaixonado. São Paulo: Paulus/CEBI, 2016.

SCHÖKEL, L. A.; SICRE DÍAZ, J. L. Profetas 2v. 2. ed. São Paulo: Paulus, vol. I: 2004 [3. reimpressão: 2018]; vol. II: 2002 [4. reimpressão: 2015].

SICRE DÍAZ, J. L. Introdução ao profetismo bíblico. Petrópolis: Vozes, 2016.

Complementar
DA SILVA, A. J. Perguntas mais frequentes sobre o profeta Jeremias. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 04.02.2022.

DA SILVA, A. J. Superando obstáculos nas leituras de JeremiasEstudos Bíblicos, Petrópolis, n. 107, p. 50-62, 2010. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 09.07.2022.

NAKANOSE, S. et alii Como ler o Terceiro Isaías (56-66): novo céu e nova terra. São Paulo: Paulus, 2004 [4. reimpressão: 2019].

WIÉNER, C. O profeta do novo êxodo: o Dêutero-Isaías. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

WILSON, R. R. Profecia e sociedade no antigo Israel. 2. ed. revista. São Paulo: Targumim/Paulus, 2006.

Pentateuco 2024

A disciplina Pentateuco é estudada no segundo semestre do primeiro ano, com carga horária de 4 horas semanais. Há uma profunda crise nesta área de estudos, muito semelhante à crise da História de Israel. A teoria clássica das fontes JEDP do Pentateuco, elaborada no século XIX por Hupfeld, Kuenen, Reuss, Graf e, especialmente, Wellhausen, vem sofrendo, desde meados da década de 70 do século XX, sérios abalos, de forma que hoje muitos pesquisadores consideram impossível assumir, sem mais, este modelo como ponto de partida. O consenso wellhauseniano foi rompido, contudo, ainda não se conseguiu um novo consenso e muitas são as propostas hoje existentes para explicar a origem e a formação do Pentateuco.

I. Ementa
Novos paradigmas no estudo do Pentateuco. O Decálogo: Ex 20,1-17 e Dt 5,6-21. A criação: Gn 1,1-2,4a e Gn 2,4b-25. O pecado em quatro quadros: Gn 3,1-24. O dilúvio: Gn 6,5-9,19. A cidade e a torre de Babel: Gn 11,1-9. As tradições patriarcais: Gn 11,27-37,1. O êxodo do Egito: Ex 1-15.

II. Objetivos
Familiariza o aluno com as tradições históricas de Israel e com as mais recentes pesquisas na área do Pentateuco para que o uso do texto na prática pastoral possa ser feito de forma consciente.

III. Conteúdo Programático
1. Novos paradigmas no estudo do Pentateuco

2. O Decálogo: Ex 20,1-17 e Dt 5,6-21

3. A criação: Gn 1,1-2,4a e Gn 2,4b-25

4. O pecado em quatro quadros: Gn 3,1-24

5. O dilúvio: Gn 6,5-9,19

6. A cidade e a torre de Babel: Gn 11,1-9

7. As tradições patriarcais: Gn 11,27-37,1

8. O êxodo do Egito: Ex 1-15

IV. Bibliografia
Básica
MESTERS, C. Paraíso terrestre: saudade ou esperança? 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

SKA, J.-L. Introdução à leitura do Pentateuco: chaves para a interpretação dos cinco primeiros livros da Bíblia. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2014.

VOGELS, W. Abraão e sua lenda: Gn 12,1-25,11. São Paulo: Loyola, 2000.

Complementar
DA SILVA, A. J. Histórias de criação e dilúvio na antiga MesopotâmiaEstudos Bíblicos, Petrópolis, n. 140, p. 397-424, 2018. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 27.10.2023.

DA SILVA, A. J. Leis de vida e leis de morte: os dez mandamentos e seu contexto socialEstudos Bíblicos, Petrópolis, n. 9, p. 38-51, 1986. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 17.08.2022.

DA SILVA, A. J. Novos paradigmas no estudo do Pentateuco. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 10.08.2023.

FINKELSTEIN, I.; RÖMER, T. Às origens da Torá: novas descobertas arqueológicas, novas perspectivas. Petrópolis: Vozes, 2022.

SKA, J.-L. O canteiro do Pentateuco: problemas de composição e de interpretação/aspectos literários e teológicos. São Paulo: Paulinas, 2016.

Literatura Deuteronomista 2024

Lecionar Literatura Deuteronomista é um desafio e tanto. Enquanto as questões da formação do Pentateuco são discutidas há séculos, a noção da existência de uma Obra Histórica Deuteronomista (= OHDtr) só foi formulada muito recentemente, como se pode ver aqui.

Além disso, há dois problemas com a disciplina: carga horária exígua para estudar textos de livros tão complexos como, por exemplo, Josué ou Juízes – a disciplina tem apenas 2 horas semanais durante o primeiro semestre do segundo ano de Teologia – e uma bibliografia ainda insuficiente em português. Há excelente debate acadêmico hoje, contudo está em inglês e alemão, principalmente.

Para completar, prefiro estudar o livro do Deuteronômio aqui e não no Pentateuco, também por duas razões: a disciplina Pentateuco já é por demais sobrecarregada e o Deuteronômio é a chave que abre o significado da OHDtr. Por isso, ele faz muito sentido aqui.

Por outro lado, há uma integração muito grande da Literatura Deuteronomista com três outras disciplinas bíblicas: com a História de Israel, naturalmente; com a Literatura Profética, irmã gêmea; com o Pentateuco, através do elo deuteronômico.

I. Ementa
O contexto da Obra Histórica Deuteronomista. O Deuteronômio: análise de textos teológicos e leitura comentada do Código Deuteronômico. O livro de Josué e o problema das origens de Israel. O livro dos Juízes. Os livros de Samuel. Os livros dos Reis.

II. Objetivos
Pesquisar a arquitetura, as ideias basilares e a teologia da Literatura Deuteronomista como uma obra globalizante, e de cada um de seus livros, a fim de dar fundamentos para sua interpretação e atualização.

III. Conteúdo Programático
1. O contexto da Obra Histórica Deuteronomista
2. O Deuteronômio
3. O livro de Josué
4. O livro dos Juízes
5. Os livros de Samuel
6. Os livros dos Reis

IV. Bibliografia
Básica
FINKELSTEIN, I. ; SILBERMAN, N. A. A Bíblia desenterrada: A nova visão arqueológica do antigo Israel e das origens dos seus textos sagrados. Petrópolis: Vozes, 2018.

RÖMER, T. A chamada história deuteronomista: Introdução sociológica, histórica e literária. Petrópolis: Vozes, 2008.

SKA, J.-L. Introdução à leitura do Pentateuco: chaves para a interpretação dos cinco primeiros livros da Bíblia. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2014.

Complementar
DA SILVA, A. J. O Código Deuteronômico: levantamento de dados. Post publicado no Observatório Bíblico em 25.06.2020.

DA SILVA, A. J. O contexto da Obra Histórica DeuteronomistaEstudos Bíblicos, Petrópolis, n. 88, p. 11-27, 2005. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 10.03.2022.

DA SILVA, A. J. O problema das origens de Israel e o livro de Josué. In: LOPES, J. R.; SILVANO, Z. A; VITÓRIO, J. (orgs.) Josué: “Nós serviremos ao Senhor” (Js 24,15). São Paulo: Paulinas, 2022. Capítulo disponível para download no Observatório Bíblico, 19.06.2022.

KONINGS, J. et alii Obra Histórica Deuteronomista. Estudos Bíblicos, n. 88, 2005. Disponível online no site da ABIB.

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: história antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008.

Literatura Profética I 2024

Abordarei agora a Literatura Profética I, que é estudada no primeiro semestre do segundo ano de Teologia, com carga horária semanal de 2 horas. A Literatura Profética I trabalha, além de questões globais do profetismo, uma seleção de textos dos profetas do século VIII a.C. O texto que orienta a maior parte do estudo é o meu livro A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C. Os profetas dos séculos seguintes são estudados na Literatura Profética II, que vem logo no semestre seguinte.

I. Ementa
A origem do movimento profético em Israel. O teor do discurso profético: a denúncia da idolatria e a função do discurso profético. Introdução e análise dos livros dos profetas do século VIII a.C.: Amós, Oseias, Isaías 1-39 e Miqueias.

II. Objetivos
Coloca em discussão as características e a função do discurso profético e confronta os textos dos profetas do século VIII a.C. com o contexto da época, possibilitando ao aluno uma leitura atualizada e crítica dos textos proféticos em confronto com a realidade contemporânea e suas exigências.

III. Conteúdo Programático
1. A origem do movimento profético em Israel
2. O teor do discurso profético
3. Os profetas do século VIII a.C.
3.1. Amós
3.2. Oseias
3.3. Isaías 1-39
3.4. Miqueias

IV. Bibliografia
Básica
DA SILVA, A. J. A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C. São Paulo: Paulus, 1998. Atualizado em 2011 e disponível para download na Ayrton’s Biblical Page.

SCHÖKEL, L. A.; SICRE DÍAZ, J. L. Profetas 2v. 2. ed. São Paulo: Paulus, vol. I: 2004 [3. reimpressão: 2018]; vol. II: 2002 [4. reimpressão: 2015].

SICRE DÍAZ, J. L. Introdução ao profetismo bíblico. Petrópolis: Vozes, 2016.

Complementar
DA SILVA, A. J. Notas sobre a pesquisa do livro de Oseias no século XX. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 03.12.2020.

DA SILVA, A. J. Perguntas mais frequentes sobre o profeta Amós. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 22.02.2023.

DA SILVA, A. J. Perguntas mais frequentes sobre o profeta Isaías. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 22.02.2023.

SCHWANTES, M. A terra não pode suportar suas palavras“ (Am 7,10): reflexão e estudo sobre Amós. São Paulo: Paulinas, 2012.

SICRE, J. L. Com os pobres da terra: a justiça social nos profetas de Israel. São Paulo: Academia Cristã/Paulus, 2015.

Por que a Bíblia Hebraica foi escrita?

WRIGHT J. L. Why the Bible Began: An Alternative History of Scripture and Its Origins. Cambridge: Cambridge University Press, 2023, 500 p. – ISBN 978110849093.

Por que nenhuma outra sociedade antiga produziu algo como a Bíblia? Parece improvável que uma comunidade minúscula e isolada pudesse ter criado um corpusWRIGHT J. L. Why the Bible Began: An Alternative History of Scripture and Its Origins. Cambridge: Cambridge University Press, 2023 literário tão determinante para os povos de todo o mundo.

Para Jacob Wright a Bíblia não é apenas um testemunho de sobrevivência, mas também uma conquista sem paralelo na história humana. Forjada após a devastação de Jerusalém pela Babilônia, não faz da vitória, mas da humilhação total o fundamento de uma nova ideia de pertença. Lamentando a destruição da sua terra natal, os escribas que compuseram a Bíblia imaginaram um passado cheio de promessas, enquanto refletiam profundamente sobre o fracasso abjeto. Mais do que apenas escrituras religiosas, a Bíblia começou como um projeto pioneiro para uma nova forma de comunidade política.

A sua resposta à catástrofe oferece uma mensagem poderosa de esperança e restauração que é única no antigo Oriente Médio e no mundo greco-romano. A Bíblia é, portanto, um roteiro social, político e até econômico – um roteiro que permitiu a uma pequena e obscura comunidade, localizada na periferia das principais civilizações e impérios, não apenas regressar do abismo, mas, em última análise, moldar o destino do mundo.

A Bíblia fala, em última análise, de ser um povo unido mas diverso, e as suas páginas apresentam um manual de estratégias pragmáticas de sobrevivência para comunidades que enfrentam o colapso social.

 

Why did no other ancient society produce something like the Bible? That a tiny, out of the way community could have created a literary corpus so determinative for peoples across the globe seems improbable.

For Jacob Wright, the Bible is not only a testimony of survival, but also an unparalleled achievement in human history. Forged after Babylon’s devastation of Jerusalem, it makes not victory but total humiliation the foundation of a new idea of belonging. Lamenting the destruction of their homeland, scribes who composed the Bible imagined a promise-filled past while reflecting deeply on abject failure. More than just religious scripture, the Bible began as a trailblazing blueprint for a new form of political community.

Jacob L. Wright (1973-)Its response to catastrophe offers a powerful message of hope and restoration that is unique in the Ancient Near Eastern and Greco-Roman worlds. Wright’s Bible is thus a social, political, and even economic roadmap – one that enabled a small and obscure community located on the periphery of leading civilizations and empires not just to come back from the brink, but ultimately to shape the world’s destiny.

The Bible speaks ultimately of being a united yet diverse people, and its pages present a manual of pragmatic survival strategies for communities confronting societal collapse.

Jacob L. Wright is a professor of Hebrew Bible / Old Testament at Emory University. Before coming to Emory, he taught at the University of Heidelberg in Germany. As an American with a European education, he is widely known for his ability to blend a wide range of historical, religious, and geographical perspectives on the Bible. His writing and teaching are thoroughly interdisciplinary, demonstrating how the ideas of the Bible and other ancient writings bear directly on central problems that face our societies in modern times. He brings to his work first-hand acquaintance with archeological finds and primary sources from ancient Mesopotamia, Egypt, and Greece. Wright writes on an array of topics, ranging from social life in ancient Israel (feasting, war commemoration, urbicide, etc.) to the formation of biblical writings.