O mapa babilônico do mundo

Estou lendo o livro de HOROWITZ, W. Mesopotamian Cosmic Geography. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2nd Revised ed. 2011, 418 p. – ISBN 9781575062150. A primeira edição é de 1998.

Do livro diz o autor em 1994:HOROWITZ, W. Mesopotamian Cosmic Geography. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2nd Revised ed. 2011

A geografia cósmica da Mesopotâmia representa a parte principal da minha primeira década de estudo como assiriologista. O livro começou sua vida como tese de doutorado sob orientação do Professor W. G. Lambert da Universidade de Birmingham, Reino Unido. Após a conclusão da tese de doutorado em 1986, continuei a coletar materiais relevantes para o estudo das visões mesopotâmicas da cosmografia com a intenção de revisar a tese para a publicação de um livro no início da década de 1990. O livro Geografia cósmica da Mesopotâmia apresenta este exame revisado e mais maduro do tema.

Este estudo coleta e apresenta as evidências disponíveis em textos sumérios e acádicos das ideias mesopotâmicas sobre a estrutura física do universo e suas partes constituintes (céu, terra, Apsu [as águas subterrâneas], submundo). Todos os textos de todos os períodos e gêneros são considerados, desde as primeiras fases da escrita cuneiforme até o período mais recente. O que emerge deste estudo é uma visão mesopotâmica do universo que é ao mesmo tempo coesa, por um lado, e discordante e deficiente, por outro.

Tive acesso apenas à edição de 1998. Quem quiser ver o que foi modificado na segunda edição, de 2011, pode clicar na “errata” da página de apresentação do livro na Eisenbrauns. É pouca coisa, pois o autor só acrescentou ou modificou o que as pesquisas mais recentes exigem.

Anoto aqui alguns elementos de minha leitura do capítulo 2, “The Babylonian Map of the World”, p. 20-42.

 

A tabuinha

Uma tabuinha cuneiforme, em acádico, que está no Museu Britânico, BM 92687, traz o mais antigo mapa mesopotâmico até agora encontrado. O esboço, comumente chamado de mapa babilônico do mundo ou “mapa-múndi” ocupa parte do anverso, enquanto o restante do anverso e todo o reverso preservam informações textuais relacionadas.

BM 92687A tabuinha, adquirida pelo Museu Britânico em 1882, foi encontrada por Hormuzd Rassam em Sipar, que fica a cerca de 60 km ao norte da cidade de Babilônia, na margem leste do Eufrates. Acredita-se que seja originária de Borsipa e pode ser datada por volta do século VI a.C.

De qualquer maneira, o mapa foi composto na Babilônia e não na Assíria. A Babilônia é representada por um grande retângulo que abrange quase metade da largura do continente central, enquanto a Assíria é representada como uma pequena forma oval.

Não é certo que o texto no anverso e no reverso tenha sido composto junto com o mapa. O texto no verso provavelmente foi escrito para acompanhar o mapa, mas o texto no anverso provavelmente foi composto separadamente e unido ao mapa por um editor posterior. Este texto não menciona nenhum dos locais desenhados no mapa.

O texto foi publicado pela primeira vez por F. E. Peiser (1889) e depois recopiado por R. C. Thompson em 1906. Esta segunda cópia serviu de base para estudos posteriores de E. Weidner (1922) e E. Unger(1931). Em 1988, publiquei uma nova edição e cópia do BM 92687. Mais recentemente, I. Finkel identificou e juntou um fragmento minúsculo, mas importante, ao mapa no anverso.

 

O mapa

O mapa preservado representa a superfície da Terra como dois círculos concêntricos, com áreas triangulares irradiando do círculo externo. A área dentro do círculo interno representa a porção continental central da superfície terrestre, onde estão situados locais importantes como a Babilônia e a Assíria. A área entre os dois círculos é identificada como o ‘oceano’ marratu. No mapa, este oceano cósmico circunda o continente central. A área além do círculo externo consiste nas áreas triangulares, que são identificadas como ‘regiões’ nagû, e espaço inexplorado.

O desenho é único entre os mapas da antiga Mesopotâmia. Numerosos mapas ou planos de cidades e áreas rurais são conhecidos, mas apenas o mapa-múndi é desenhado em escala internacional.

 

Objetos no mapa

1. Montanha
2. Cidade
3. Urartu
4. Assíria
5. Der
6. ?
7. Pântano
8. Susa
9. Canal
10. Bit Yakin
11. Cidade
12. Haban
13. Babilônia
14 –17. Oceano
18–22. Regiões exteriores
23 –25. Não descrito

 

O continente

O continente no mapa-múndi contém várias formas geométricas que representam lugares e características topográficas. Os topônimos incluem os países da Assíria (nº 4) e Urartu (nº 3), as cidades de Babilônia (nº 13), Der (nº 5), Bit Yakin (nº 10) e Haban (nº 12). As características topográficas incluem sadu ‘montanha’ (nº 1), apparuEsboço da BM 92687 ‘pântano’ (nº 7) e bitqu ‘canal’ (nº 9). O oval denominado Susa (nº 8) é colocado dentro do círculo que representa o continente, mas está localizado do outro lado do ‘pântano’ e do ‘canal’ da Babilônia.

As linhas paralelas que começam na região marcada como ‘montanha’ e terminam no retângulo marcado como ‘canal’ e ‘pântano’ fornecem os meios para a interpretação do mapa. Em mapas e planos cuneiformes, as linhas paralelas representam as margens dos rios. No mapa-múndi as linhas paralelas não são identificadas, mas o curso das linhas indica que representam as margens do Eufrates. Perto do meio do mapa, as duas linhas paralelas dividem o retângulo denominado ‘Babilônia’. No primeiro milênio o Eufrates corria pelo centro da cidade de Babilônia.

Quando as linhas paralelas são identificadas como o Eufrates, a localização de muitas das outras características no mapa torna-se clara. A ‘montanha’ na nascente do rio representa as montanhas do sul da Turquia, enquanto que o retângulo na foz do rio marcado como apparu ‘pântano’ e bitqu ‘canal’ representa os pântanos ao longo do baixo Eufrates e um curso de água que liga a foz do Eufrates com o Golfo Pérsico.

Em contraste com a descrição relativamente precisa do curso do Eufrates, o mapa omite completamente o rio Tigre. O Tigre deveria nascer no oval marcado como ‘montanha’, passar pela Assíria e à direita do retângulo denominado ‘Babilônia’, antes de desaguar no retângulo marcado como ‘canal’ e ‘pântano’. O antigo curso do Tigre passava a aproximadamente 80 km a nordeste da Babilônia no primeiro milênio. Assim, não é possível que as duas linhas paralelas representem tanto o Eufrates como o Tigre.

A identificação de algumas localidades é problemática. A Assíria e Urartu estão corretamente localizadas a leste do Eufrates, com Urartu ao norte da Assíria, mas a Assíria está localizada muito ao sul em relação à Babilônia. Bit Yakin, a entidade mais ao sul da Babilônia durante o primeiro milênio, está corretamente posicionada perto da foz do Eufrates, mas é movida do lado leste do rio para o oeste. Susa está corretamente posicionada abaixo da saída do Eufrates, mas deveria estar localizada à direita da Babilônia, e não diretamente abaixo da cidade. Haban (nº 12) está localizada a oeste do Eufrates, embora a terra e a cidade Haban da tribo cassita Bit Haban estivessem localizadas a leste do Tigre. E há outras localidades do mapa que não podem ser identificadas.

 

O oceano

A faixa circular que envolve o continente é identificada quatro vezes no mapa como o marratu ‘oceano’ (n. 14-17).

 

O nagû

As cinco áreas triangulares (n. 18-22) que irradiam do círculo externo são identificadas como nagû. Quando completo, o mapa pode ter incluído até oito desses nagû. O texto no verso descreve oito nagû, e há espaço para nagû ausentes adicionais ao longo Desenho da tabuinha BM 92687, frente e versoda borda inferior quebrada do mapa. No entanto, não é possível correlacionar os nagû sobreviventes no mapa com aqueles descritos no verso, e não se pode sequer ter certeza de que os nagû descritos no verso sejam idênticos aos desenhados no mapa.

Os nagû no mapa podem ser ilhas, porque ficam do outro lado do mar do continente. No entanto, isto pode não ser correto, uma vez que dois lados dos nagû se estendem para uma área desconhecida. Este espaço inexplorado poderia representar um corpo de água, como uma porção do oceano além do marratu ou o Apsu. No entanto, também é possível que esta terra incógnita seja uma massa de terra distante, ou que os nagû se estendam ao longo dos limites da superfície da Terra. Neste último caso, um viajante que atravessasse os lados do nagû além do oceano cósmico poderia cair diretamente no Apsu ou no submundo.

 

O texto no anverso

O anverso preserva onze linhas de texto. Este texto é difícil de interpretar porque faltam o início e o fim de cada linha e a parte inicial do anverso está quase completamente perdida. No entanto, é perceptível uma preocupação geral com lugares distantes e tempos antigos.

As duas primeiras linhas falam de ‘cidades em ruínas’. As linhas 3-9 fornecem informações relativas aos primeiros tempos, a era da criação.

A linha 10 continua o tema de terras e tempos distantes, mas se preocupa mais com os seres humanos do que com os animais. A linha lista três figuras famosas do terceiro milênio associadas a lugares distantes: Uta-napíshti (o sobrevivente do dilúvio), Sargão de Akkad (rei de Akkad) e Nur-Dagan (rei de Burshahanda).

A linha final do anverso preserva duas frases. A primeira, ‘asas como um pássaro’, pode descrever os heróis da linha 10 ou servir a alguma outra função. Se a frase não descreve os heróis, pode referir-se a uma declaração nas linhas iniciais quebradas do anverso. Neste caso, ‘asas como um pássaro’ poderia explicar que o mapa oferece uma visão da superfície da Terra que apenas os pássaros ou passageiros nas asas dos pássaros poderiam ter visto. A possibilidade de que a linha 11 se refira à seção de abertura quebrada encontra suporte na frase de encerramento. Esta frase inclui um sufixo que não tem antecedente no texto sobrevivente. É possível que esse antecedente ausente seja kibrat erbetti, ‘quatro quadrantes da superfície da Terra’.

 

O texto no reverso

O reverso está dividido em nove seções compostas por 27 linhas de texto. As seções de dois a oito contêm descrições padronizadas do segundo ao oitavo nagû. Cada seção abre com uma linha introdutória que identifica o nagû por número e atribui uma distância de sete léguas ao nagû com a frase ‘onde você vai’. Segue-se uma breve passagem descrevendo o nagû. Estas descrições são limitadas a uma ou duas linhas, com exceção da descrição do quinto nagû, que ocupa oito linhas. Apenas as descrições do terceiro, quinto, sétimo e oitavo nagû são parcialmente inteligíveis, devido a quebras no texto.

A primeira e a nona seções do reverso não descrevem o nagû. A primeira seção está quase completamente perdida, mas os vestígios sobreviventes sugerem que ela introduz o reverso e explica como identificar o primeiro nagû. A nona seção (linhas 26-27) aparentemente fornece um resumo do reverso. Esta seção refere-se aosWayne Horowitz ‘quatro quadrantes’ do kibrat erbetti (da superfície da Terra).

 

O mapa babilônico do mundo e lugares distantes

A ênfase em lugares distantes nos textos que acompanham o mapa sugere que o objetivo da tabuinha BM 92687 era localizar e descrever regiões distantes. O mapa ilustrava a localização dessas áreas distantes em relação a locais familiares, como Babilônia, Assíria e Eufrates. O anverso relacionava esses lugares distantes com figuras literárias familiares e animais exóticos, e o reverso descrevia condições em regiões distantes. O interesse do antigo autor por lugares distantes reflete um interesse geral por áreas distantes durante a primeira metade do primeiro milênio, quando os impérios assírio e babilônico alcançaram suas maiores extensões.

Sobre o autor, confira aqui.

Por que a Bíblia Hebraica foi escrita?

WRIGHT J. L. Why the Bible Began: An Alternative History of Scripture and Its Origins. Cambridge: Cambridge University Press, 2023, 500 p. – ISBN 978110849093.

Por que nenhuma outra sociedade antiga produziu algo como a Bíblia? Parece improvável que uma comunidade minúscula e isolada pudesse ter criado um corpusWRIGHT J. L. Why the Bible Began: An Alternative History of Scripture and Its Origins. Cambridge: Cambridge University Press, 2023 literário tão determinante para os povos de todo o mundo.

Para Jacob Wright a Bíblia não é apenas um testemunho de sobrevivência, mas também uma conquista sem paralelo na história humana. Forjada após a devastação de Jerusalém pela Babilônia, não faz da vitória, mas da humilhação total o fundamento de uma nova ideia de pertença. Lamentando a destruição da sua terra natal, os escribas que compuseram a Bíblia imaginaram um passado cheio de promessas, enquanto refletiam profundamente sobre o fracasso abjeto. Mais do que apenas escrituras religiosas, a Bíblia começou como um projeto pioneiro para uma nova forma de comunidade política.

A sua resposta à catástrofe oferece uma mensagem poderosa de esperança e restauração que é única no antigo Oriente Médio e no mundo greco-romano. A Bíblia é, portanto, um roteiro social, político e até econômico – um roteiro que permitiu a uma pequena e obscura comunidade, localizada na periferia das principais civilizações e impérios, não apenas regressar do abismo, mas, em última análise, moldar o destino do mundo.

A Bíblia fala, em última análise, de ser um povo unido mas diverso, e as suas páginas apresentam um manual de estratégias pragmáticas de sobrevivência para comunidades que enfrentam o colapso social.

 

Why did no other ancient society produce something like the Bible? That a tiny, out of the way community could have created a literary corpus so determinative for peoples across the globe seems improbable.

For Jacob Wright, the Bible is not only a testimony of survival, but also an unparalleled achievement in human history. Forged after Babylon’s devastation of Jerusalem, it makes not victory but total humiliation the foundation of a new idea of belonging. Lamenting the destruction of their homeland, scribes who composed the Bible imagined a promise-filled past while reflecting deeply on abject failure. More than just religious scripture, the Bible began as a trailblazing blueprint for a new form of political community.

Jacob L. Wright (1973-)Its response to catastrophe offers a powerful message of hope and restoration that is unique in the Ancient Near Eastern and Greco-Roman worlds. Wright’s Bible is thus a social, political, and even economic roadmap – one that enabled a small and obscure community located on the periphery of leading civilizations and empires not just to come back from the brink, but ultimately to shape the world’s destiny.

The Bible speaks ultimately of being a united yet diverse people, and its pages present a manual of pragmatic survival strategies for communities confronting societal collapse.

Jacob L. Wright is a professor of Hebrew Bible / Old Testament at Emory University. Before coming to Emory, he taught at the University of Heidelberg in Germany. As an American with a European education, he is widely known for his ability to blend a wide range of historical, religious, and geographical perspectives on the Bible. His writing and teaching are thoroughly interdisciplinary, demonstrating how the ideas of the Bible and other ancient writings bear directly on central problems that face our societies in modern times. He brings to his work first-hand acquaintance with archeological finds and primary sources from ancient Mesopotamia, Egypt, and Greece. Wright writes on an array of topics, ranging from social life in ancient Israel (feasting, war commemoration, urbicide, etc.) to the formation of biblical writings.

Depois de 1177 a.C.: a sobrevivência das civilizações

CLINE, E. H. After 1177 B.C.: The Survival of Civilizations. Princeton: Princeton University Press, 2024, 360 p. – ISBN 9780691192130.

No final da aclamada história de 1177 a.C.: o ano em que a civilização entrou em colapso, muitas das civilizações da Idade Recente do Bronze do Egeu e do MediterrâneoCLINE, E. H. After 1177 B.C.: The Survival of Civilizations. Princeton: Princeton University Press, 2024 Oriental estavam em ruínas, desfeitas por invasões, revoltas, desastres naturais, fome e o fim do comércio internacional. Um mundo interligado que ostentava grandes impérios e sociedades, paz relativa, comércio robusto e arquitetura monumental foi perdido e a chamada Primeira Idade das Trevas começou. Agora, em Depois de 1177 a.C., Eric Cline conta a história do que aconteceu a seguir, ao longo de quatro séculos, em todo o mundo Egeu e Mediterrâneo Oriental. É uma história de resiliência, transformação e sucesso, bem como de fracassos, numa era de caos e reconfiguração.

Depois de 1177 a.C. conta como o colapso das poderosas civilizações da Idade do Bronze criou novas circunstâncias às quais as pessoas e as sociedades tiveram que se adaptar. Aqueles que não conseguiram ajustar-se desapareceram do cenário mundial, enquanto outros se transformaram, resultando numa nova ordem mundial que incluía fenícios, filisteus, israelitas, neo-hititas, neo-assírios e neobabilônicos. Levando a história até o ressurgimento da Grécia, marcado pelos primeiros Jogos Olímpicos em 776 a.C., o livro também descreve como inovações que mudaram o mundo, como o uso do ferro e do alfabeto, surgiram em meio ao caos.

Repleto de lições para o mundo de hoje sobre por que algumas sociedades sobrevivem a choques massivos e outras não, Depois de 1177 a.C. revela por que este período, longe de ser a Primeira Idade das Trevas, foi uma nova era com novas invenções e novas oportunidades.

 

At the end of the acclaimed history 1177 B.C., many of the Late Bronze Age civilizations of the Aegean and Eastern Mediterranean lay in ruins, undone by invasion, revolt, natural disasters, famine, and the demise of international trade. An interconnected world that had boasted major empires and societies, relative peace, robust commerce, and monumental architecture was lost and the so-called First Dark Age had begun. Now, in After 1177 B.C., Eric Cline tells the compelling story of what happened next, over four centuries, across the Aegean and Eastern Mediterranean world. It is a story of resilience, transformation, and success, as well as failures, in an age of chaos and reconfiguration.

After 1177 B.C. tells how the collapse of powerful Late Bronze Age civilizations created new circumstances to which people and societies had to adapt. Those that failed to adjust disappeared from the world stage, while others transformed themselves, resulting in a new world order that included Phoenicians, Philistines, Israelites, Neo-Hittites, Neo-Assyrians, and Neo-Babylonians. Taking the story up to the resurgence of Greece marked by the first Olympic Games in 776 B.C., the book also describes how world-changing innovations such as the use of iron and the alphabet emerged amid the chaos.

Filled with lessons for today’s world about why some societies survive massive shocks while others do not, After 1177 B.C. reveals why this period, far from being the First Dark Age, was a new age with new inventions and new opportunities.

Sobre o autor: Eric H. Cline is professor of classics and anthropology and director of the Capitol Archaeological Institute at George Washington University, Washington, D. C. An active archaeologist, he has excavated and surveyed in Greece, Crete, Cyprus, Egypt, Israel, Jordan, and the United States.

Um livro sobre a evolução dos livros

VALLEJO, I. O infinito em um junco: a invenção dos livros no mundo antigo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022, 496 p. – ISBN 9786555604689.VALLEJO, I. O infinito em um junco: a invenção dos livros no mundo antigo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022

Um livro sobre a evolução dos livros, um passeio pela trajetória desse artefato fascinante que inventamos para que as palavras pudessem ser transportadas pelo espaço e pelo tempo. O infinito em um junco conta a história desse objeto desde sua criação, milênios atrás, passando por todos os modelos e formatos que testamos ao longo da jornada humana.

A obra de Irene Vallejo é também sobre viagens e diferentes lugares. Uma rota com paradas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, e na Vila dos Papiros sepultada pelas lavas do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra e na cena do crime de Hipátia, nas primeiras livrarias e nas oficinas de cópia manuscrita, nas fogueiras em que eram queimados códices proibidos, no gulag, na Biblioteca de Sarajevo e no labirinto subterrâneo de Oxford no ano 2000. Um fio que une os clássicos ao mundo contemporâneo, conectando-os aos debates atuais: Aristófanes e os processos judiciais contra os humoristas, Safo e a voz literária das mulheres, Tito Lívio e o fenômeno dos fãs, Sêneca e a pós-verdade.

Acima de tudo, esta é uma fabulosa aventura coletiva protagonizada por milhares de pessoas que, ao longo do tempo, protegeram e tornaram o livro possível: contadores de histórias, escribas, iluminadores, tradutores, vendedores ambulantes, professores, sábios, espiões, rebeldes, freiras, aventureiros; leitores de todos os cantos, nas capitais onde se concentra o poder e nas regiões mais remotas, onde o conhecimento se refugia em tempos de caos. Pessoas comuns cujos nomes muitas vezes são apagados da história; gente que salva essas fontes de memória, os verdadeiros protagonistas desta obra.

Irene Vallejo (1979-)Leia resenhas sobre a obra. Fenômeno editorial espanhol traduzido para mais de 30 idiomas, ensaio sobre a história do livro vem conquistando prêmios e leitores.

O original, em espanhol, é de 2019.

Irene Vallejo nasceu em Zaragoza, Espanha, em 1979, e estudou filologia clássica. Fez doutorado nas universidades de Zaragoza e Florença. Dedica-se a um intenso trabalho de divulgação do mundo clássico ministrando conferências e cursos, e colabora com o El País Semanal, entre outros. De sua obra literária, destacam-se os romances La luz sepultada (2011) e El silbido del arquero (2015).

O Enuma Elish em português

BRANDÃO, J. L. Epopeia da criação: Enuma eliš. Belo Horizonte: Autêntica, 2022, 432 p. – ISBN 9786559282012.

O Enuma Elish foi recuperado na metade do século XIX pelo inglês Austen Henry Layard e seu assistente Hormuzd Rassam quando a biblioteca do rei assírioBRANDÃO, J. L. Epopeia da criação: Enuma eliš. Belo Horizonte: Autêntica, 2022, 432 p. Assurbanípal foi descoberta em Nínive. Além de Nínive, cópias do Enuma Elish foram encontradas nas cidades assírias de Assur, Nimrud e Sultantepe e nas cidades babilônicas de Borsippa, Kish, Sippar, Úruk e na própria Babilônia. Quase uma centena de manuscritos gravados em tabuinhas de argila, em escrita cuneiforme e língua acádica foram preservados e hoje estão no Museu Britânico, em Londres. Não temos nenhuma narrativa completa, os textos estão fragmentados, mas é possível reconstruir a narrativa usando as cópias duplicadas.

A publicação do Enuma Elish foi feita por George Smith em 1876. O texto considerado padrão hoje, com transliteração do acádico e tradução em inglês, é o de Wilfred George Lambert, Babylonian Creation Myths. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 2013.

O Enuma Elish está escrito em sete tabuinhas e contém cerca de 1100 linhas. As cópias mais antigas que temos podem ser datadas por volta de 900 a.C. E quando foi escrito? A data mais provável: durante o reinado de Nabucodonosor I (1125-1104 a.C.).

O nome Enuma Elish corresponde às primeiras palavras do texto e significa “Quando acima” ou “Quando no alto”. O Enuma Elish é considerado, às vezes, em uma ou outra publicação, como o texto padrão da criação da Mesopotâmia, mas o assunto central do texto não é a criação e sim a ascensão de Marduk como chefe do panteão babilônico.

Apesar disso, esta é a mais bem elaborada cosmogonia da antiga Mesopotâmia e são vários os elementos criados por Marduk e por seu pai Ea. O Enuma Elish era recitado na Festa do Ano Novo na cidade de Babilônia. Esta festa, o Akitu, tem forte componente político.

O poema começa falando de um tempo antes da existência dos deuses quando as águas primordiais, Apsu e Tiámat, constituíam uma massa indiferenciada e nem céus, terra e deuses existiam. Então nasceram os deuses: os casais Lahmu e Lahamu, Ánshar e Kíshar; depois, este último casal gera o deus Ánu, que gera o deus Ea (= Nudímmud).

A atividade dos deuses provoca a hostilidade de Apsu, mas, antes que ele faça algo, Ea o mata com uma magia enquanto ele dorme e constrói um palácio sobre seu cadáver. Neste palácio Ea e Damkina geram Marduk, que se manifesta como mais poderoso do que qualquer um de seus antecessores. Por sua vez, o barulho dos jovens deuses não deixa Tiámat repousar e ela encarrega seu companheiro Qingu, no comando de um grupo de monstros, de destruir os deuses, dando-lhe a Tabuinha dos Destinos. Ánshar, o rei dos jovens deuses, convida Ánu e depois Ea para comandar a resistência dos deuses, mas ambos, amedrontados, se recusam. Ea propõe, então, a Marduk que combata Qingu. Ele aceita com a condição de que a assembleia dos deuses transfira para ele o poder de determinar os destinos. Isto feito, Marduk vence e mata Tiámat em combate singular, fazendo de seu corpo dividido as duas partes do universo, os céus e a terra. Marduk torna-se o chefe dos deuses e anuncia que Babilônia será sua morada, ordenando a Ea que faça do sangue do vencido Qingu uma nova criatura, o homem. Os deuses constroem para Marduk uma cidade e um templo e o honram com 50 nomes.

Jacyntho Lins Brandão - Rio Espera, MG, 1952 Desde o início do novo milênio as edições críticas do Enuma Elish se sucedem, explica J. L. Brandão na Introdução de seu texto:
. Em 2005, Philippe Talon publicou The Standard Babylonian Creation Myth Enūma eliš, com introdução, texto cuneiforme, transliteração, lista de signos, tradução para o francês e glossário.
. Em 2012, apareceu o volume Das babylonische Weltschöpfungsepos Enūma eliš, da autoria de T. R. Kämmerer e L. A. Metzler, parte da série “Alter Orient und Altes Testament”, publicada pela Universidade de Münster.
. Em 2013, a editora Eisenbrauns, de Winona Lake, lançou Babylonian Creation Myths, obra póstuma de Wilfred G. Lambert, com o texto acádico transliterado e tradução para o inglês, acompanhados dos comentários antigos do poema, ao que se somam extensos estudos sobre aspectos importantes da obra, posta em confronto com ampla documentação cosmogônica e mitológica suméria e acádica.
. Finalmente, em 2019 Philippe Talon publicou mais uma vez o texto acádico acompanhado de tradução para o francês em Enūma eliš: Lorsqu’en haut.

Acrescente-se o trabalho de Alberto Elli, que em 2016 lançou Enūma eliš: Il mito babilonese della creazione, em que reproduz o texto cuneiforme da edição de Talon (de 2012), acompanhado de transliteração, normalização do acádico verso a verso e tradução para o italiano, a que se acrescem notas relativas ao léxico e a aspectos gramaticais, livro disponibilizado gratuitamente no site Mediterraneo Antico.

Jacyntho Lins Brandão é Professor Emérito de Língua e Literatura Grega na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Publicou Ele que o abismo viu: Epopeia de Gilgámesh. Belo Horizonte: Autêntica, 2017 e outras obras. Suas traduções do Enuma Elish e da Epopeia de Gilgámesh foram feitas a partir dos textos em acádico.

Veja também:

Live de lançamento da Epopeia da Criação, Enūma eliš, com Jacyntho Lins Brandão – Rafael Silva: 20 de outubro de 2022

Teoria linguística e texto bíblico

ROSS, W. A.; ROBAR, E. (eds.) Linguistic Theory and the Biblical Text. Cambridge, UK: Open Book Publishers, 2023, 374 p. – ISBN 9781805111085.

Este volume, que está disponível para download gratuito, é o resultado da sessão de 2021 do grupo de pesquisa linguística e texto bíblico do Institute for BiblicalROSS, W. A. ; ROBAR, E. (eds.) Linguistic Theory and the Biblical Text. Cambridge, UK: Open Book Publishers, 2023, 374 p. Research, que aborda a história, relevância e perspectivas de amplos quadros teóricos linguísticos no campo dos estudos bíblicos.

Linguística Cognitiva, Gramática Funcional, linguística generativa, linguística histórica, teoria da complexidade e análise computacional recebem, cada um deles, um capítulo, descrevendo os principais compromissos teóricos de cada abordagem, seus principais conceitos e/ou métodos e suas importantes contribuições para o estudo contemporâneo do texto bíblico.

À medida que as disciplinas acadêmicas e as publicações acadêmicas proliferam e se tornam mais complexas em um contexto digital e global, a síntese de volumes como este assume uma nova importância tanto para especialistas quanto para generalistas. Esse é particularmente o caso em áreas interdisciplinares de pesquisa.

Este volume, portanto, pretende tornar a teoria linguística mais clara e mais acessível aos estudiosos da Bíblia em particular, não apenas através de uma explicação cuidadosa, mas também através de ilustrações específicas, recorrendo às antigas línguas hebraica, aramaica e grega dentro do corpus bíblico cristão.

As bibliografias fornecidas são estruturadas para os não especialistas, observando manuais, complementos e glossários, introduções gerais e textos fundamentais.

Ao fazê-lo, este volume apresenta não apenas um corte transversal totalmente atualizado da pesquisa linguística em estudos bíblicos, mas também um caminho explícito para o campo, ao mesmo tempo em que destaca caminhos importantes para investigação e colaboração contínuas.

William A. RossWilliam A. Ross (PhD, Universidade de Cambridge, 2018) é professor associado de Antigo Testamento no Reformed Theological Seminary em Charlotte, Carolina do Norte.

Elizabeth Robar (PhD, Universidade de Cambridge, 2013) é autora de The Verb and the Paragraph: A Cognitive Linguistic Approach (Brill, 2014), uma adaptação de sua tese de doutorado. Fundadora de Scriptura (antigo Cambridge Digital Bible Research). Sua pesquisa é de natureza filológica, linguística e exegética, com foco no sistema verbal do hebraico bíblico, sintaxe, mudança linguística e nas ramificações da pesquisa nessas áreas para interpretação exegética.

 

This volume is the result of the 2021 session of the Linguistics and the Biblical Text research group of the Institute for Biblical Research, which addresses the history, relevance, and prospects of broad theoretical linguistic frameworks in the field of biblical studies. Cognitive Linguistics, Functional Grammar, generative linguistics, historical linguistics, complexity theory, and computational analysis are each allotted a chapter, outlining the key theoretical commitments of each approach, their major concepts and/or methods, and their important contributions to contemporary study of the biblical text.As academic disciplines and academic publishing proliferate and become more complex in a digital and global context, synthesising volumes such as this one have taken on new importance for both specialists and generalists alike. That is particularly the case in interdisciplinary areas of research. This volume therefore sets out to make linguistic theory clearer and more accessible to biblical scholars in particular, not only by careful explanation but also by specific illustration, drawing upon ancient Hebrew, Aramaic, and Greek languages within the Christian biblical corpus. The volume assists the reader in distinguishing the separate assumptions and scope of study for the separate theories, recognising methods of approach that can be applied to any of the theories, and the role of an umbrella theory to enable all the others to fruitfully interact.

The bibliographies provided are structured for the non-specialist, noting handbooks, companions, and glossaries, general introductions, and foundational texts.Elizabeth Robar

In so doing, this volume presents not only a fully up-to-date cross-section of linguistic research in biblical scholarship but also an explicit path into the field, while highlighting important avenues for continued investigation and collaboration.

William A. Ross (PhD, University of Cambridge, 2018) is associate professor of Old Testament at Reformed Theological Seminary in Charlotte, North Carolina. His publications include Postclassical Greek Prepositions and Conceptual Metaphor (edited with Steven E. Runge; De Gruyter, 2022) and Postclassical Greek and Septuagint Lexicography (SBL Press, 2022). His research focuses on the Septuagint, linguistics and lexicography, and the history of biblical philology.

Elizabeth Robar (PhD, University of Cambridge, 2013) is author of The Verb and the Paragraph: A Cognitive Linguistic Approach (Brill, 2014), an adaptation of her doctoral dissertation. She founded Cambridge Digital Bible Research, a charity to make biblical scholarship available, accessible, and useful to interpreters of the Bible. Her research is philological, linguistic, and exegetical in nature, focusing on the Biblical Hebrew verbal system, syntax, linguistic change, and the ramifications of research in these areas for exegetical interpretation.