Um livro sobre a evolução dos livros

VALLEJO, I. O infinito em um junco: a invenção dos livros no mundo antigo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022, 496 p. – ISBN 9786555604689.VALLEJO, I. O infinito em um junco: a invenção dos livros no mundo antigo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022

Um livro sobre a evolução dos livros, um passeio pela trajetória desse artefato fascinante que inventamos para que as palavras pudessem ser transportadas pelo espaço e pelo tempo. O infinito em um junco conta a história desse objeto desde sua criação, milênios atrás, passando por todos os modelos e formatos que testamos ao longo da jornada humana.

A obra de Irene Vallejo é também sobre viagens e diferentes lugares. Uma rota com paradas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, e na Vila dos Papiros sepultada pelas lavas do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra e na cena do crime de Hipátia, nas primeiras livrarias e nas oficinas de cópia manuscrita, nas fogueiras em que eram queimados códices proibidos, no gulag, na Biblioteca de Sarajevo e no labirinto subterrâneo de Oxford no ano 2000. Um fio que une os clássicos ao mundo contemporâneo, conectando-os aos debates atuais: Aristófanes e os processos judiciais contra os humoristas, Safo e a voz literária das mulheres, Tito Lívio e o fenômeno dos fãs, Sêneca e a pós-verdade.

Acima de tudo, esta é uma fabulosa aventura coletiva protagonizada por milhares de pessoas que, ao longo do tempo, protegeram e tornaram o livro possível: contadores de histórias, escribas, iluminadores, tradutores, vendedores ambulantes, professores, sábios, espiões, rebeldes, freiras, aventureiros; leitores de todos os cantos, nas capitais onde se concentra o poder e nas regiões mais remotas, onde o conhecimento se refugia em tempos de caos. Pessoas comuns cujos nomes muitas vezes são apagados da história; gente que salva essas fontes de memória, os verdadeiros protagonistas desta obra.

Irene Vallejo (1979-)Leia resenhas sobre a obra. Fenômeno editorial espanhol traduzido para mais de 30 idiomas, ensaio sobre a história do livro vem conquistando prêmios e leitores.

O original, em espanhol, é de 2019.

Irene Vallejo nasceu em Zaragoza, Espanha, em 1979, e estudou filologia clássica. Fez doutorado nas universidades de Zaragoza e Florença. Dedica-se a um intenso trabalho de divulgação do mundo clássico ministrando conferências e cursos, e colabora com o El País Semanal, entre outros. De sua obra literária, destacam-se os romances La luz sepultada (2011) e El silbido del arquero (2015).

O Enuma Elish em português

BRANDÃO, J. L. Epopeia da criação: Enuma eliš. Belo Horizonte: Autêntica, 2022, 432 p. – ISBN 9786559282012.

O Enuma Elish foi recuperado na metade do século XIX pelo inglês Austen Henry Layard e seu assistente Hormuzd Rassam quando a biblioteca do rei assírioBRANDÃO, J. L. Epopeia da criação: Enuma eliš. Belo Horizonte: Autêntica, 2022, 432 p. Assurbanípal foi descoberta em Nínive. Além de Nínive, cópias do Enuma Elish foram encontradas nas cidades assírias de Assur, Nimrud e Sultantepe e nas cidades babilônicas de Borsippa, Kish, Sippar, Úruk e na própria Babilônia. Quase uma centena de manuscritos gravados em tabuinhas de argila, em escrita cuneiforme e língua acádica foram preservados e hoje estão no Museu Britânico, em Londres. Não temos nenhuma narrativa completa, os textos estão fragmentados, mas é possível reconstruir a narrativa usando as cópias duplicadas.

A publicação do Enuma Elish foi feita por George Smith em 1876. O texto considerado padrão hoje, com transliteração do acádico e tradução em inglês, é o de Wilfred George Lambert, Babylonian Creation Myths. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 2013.

O Enuma Elish está escrito em sete tabuinhas e contém cerca de 1100 linhas. As cópias mais antigas que temos podem ser datadas por volta de 900 a.C. E quando foi escrito? A data mais provável: durante o reinado de Nabucodonosor I (1125-1104 a.C.).

O nome Enuma Elish corresponde às primeiras palavras do texto e significa “Quando acima” ou “Quando no alto”. O Enuma Elish é considerado, às vezes, em uma ou outra publicação, como o texto padrão da criação da Mesopotâmia, mas o assunto central do texto não é a criação e sim a ascensão de Marduk como chefe do panteão babilônico.

Apesar disso, esta é a mais bem elaborada cosmogonia da antiga Mesopotâmia e são vários os elementos criados por Marduk e por seu pai Ea. O Enuma Elish era recitado na Festa do Ano Novo na cidade de Babilônia. Esta festa, o Akitu, tem forte componente político.

O poema começa falando de um tempo antes da existência dos deuses quando as águas primordiais, Apsu e Tiámat, constituíam uma massa indiferenciada e nem céus, terra e deuses existiam. Então nasceram os deuses: os casais Lahmu e Lahamu, Ánshar e Kíshar; depois, este último casal gera o deus Ánu, que gera o deus Ea (= Nudímmud).

A atividade dos deuses provoca a hostilidade de Apsu, mas, antes que ele faça algo, Ea o mata com uma magia enquanto ele dorme e constrói um palácio sobre seu cadáver. Neste palácio Ea e Damkina geram Marduk, que se manifesta como mais poderoso do que qualquer um de seus antecessores. Por sua vez, o barulho dos jovens deuses não deixa Tiámat repousar e ela encarrega seu companheiro Qingu, no comando de um grupo de monstros, de destruir os deuses, dando-lhe a Tabuinha dos Destinos. Ánshar, o rei dos jovens deuses, convida Ánu e depois Ea para comandar a resistência dos deuses, mas ambos, amedrontados, se recusam. Ea propõe, então, a Marduk que combata Qingu. Ele aceita com a condição de que a assembleia dos deuses transfira para ele o poder de determinar os destinos. Isto feito, Marduk vence e mata Tiámat em combate singular, fazendo de seu corpo dividido as duas partes do universo, os céus e a terra. Marduk torna-se o chefe dos deuses e anuncia que Babilônia será sua morada, ordenando a Ea que faça do sangue do vencido Qingu uma nova criatura, o homem. Os deuses constroem para Marduk uma cidade e um templo e o honram com 50 nomes.

Jacyntho Lins Brandão - Rio Espera, MG, 1952 Desde o início do novo milênio as edições críticas do Enuma Elish se sucedem, explica J. L. Brandão na Introdução de seu texto:
. Em 2005, Philippe Talon publicou The Standard Babylonian Creation Myth Enūma eliš, com introdução, texto cuneiforme, transliteração, lista de signos, tradução para o francês e glossário.
. Em 2012, apareceu o volume Das babylonische Weltschöpfungsepos Enūma eliš, da autoria de T. R. Kämmerer e L. A. Metzler, parte da série “Alter Orient und Altes Testament”, publicada pela Universidade de Münster.
. Em 2013, a editora Eisenbrauns, de Winona Lake, lançou Babylonian Creation Myths, obra póstuma de Wilfred G. Lambert, com o texto acádico transliterado e tradução para o inglês, acompanhados dos comentários antigos do poema, ao que se somam extensos estudos sobre aspectos importantes da obra, posta em confronto com ampla documentação cosmogônica e mitológica suméria e acádica.
. Finalmente, em 2019 Philippe Talon publicou mais uma vez o texto acádico acompanhado de tradução para o francês em Enūma eliš: Lorsqu’en haut.

Acrescente-se o trabalho de Alberto Elli, que em 2016 lançou Enūma eliš: Il mito babilonese della creazione, em que reproduz o texto cuneiforme da edição de Talon (de 2012), acompanhado de transliteração, normalização do acádico verso a verso e tradução para o italiano, a que se acrescem notas relativas ao léxico e a aspectos gramaticais, livro disponibilizado gratuitamente no site Mediterraneo Antico.

Jacyntho Lins Brandão é Professor Emérito de Língua e Literatura Grega na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Publicou Ele que o abismo viu: Epopeia de Gilgámesh. Belo Horizonte: Autêntica, 2017 e outras obras. Suas traduções do Enuma Elish e da Epopeia de Gilgámesh foram feitas a partir dos textos em acádico.

Veja também:

Live de lançamento da Epopeia da Criação, Enūma eliš, com Jacyntho Lins Brandão – Rafael Silva: 20 de outubro de 2022

Teoria linguística e texto bíblico

ROSS, W. A.; ROBAR, E. (eds.) Linguistic Theory and the Biblical Text. Cambridge, UK: Open Book Publishers, 2023, 374 p. – ISBN 9781805111085.

Este volume, que está disponível para download gratuito, é o resultado da sessão de 2021 do grupo de pesquisa linguística e texto bíblico do Institute for BiblicalROSS, W. A. ; ROBAR, E. (eds.) Linguistic Theory and the Biblical Text. Cambridge, UK: Open Book Publishers, 2023, 374 p. Research, que aborda a história, relevância e perspectivas de amplos quadros teóricos linguísticos no campo dos estudos bíblicos.

Linguística Cognitiva, Gramática Funcional, linguística generativa, linguística histórica, teoria da complexidade e análise computacional recebem, cada um deles, um capítulo, descrevendo os principais compromissos teóricos de cada abordagem, seus principais conceitos e/ou métodos e suas importantes contribuições para o estudo contemporâneo do texto bíblico.

À medida que as disciplinas acadêmicas e as publicações acadêmicas proliferam e se tornam mais complexas em um contexto digital e global, a síntese de volumes como este assume uma nova importância tanto para especialistas quanto para generalistas. Esse é particularmente o caso em áreas interdisciplinares de pesquisa.

Este volume, portanto, pretende tornar a teoria linguística mais clara e mais acessível aos estudiosos da Bíblia em particular, não apenas através de uma explicação cuidadosa, mas também através de ilustrações específicas, recorrendo às antigas línguas hebraica, aramaica e grega dentro do corpus bíblico cristão.

As bibliografias fornecidas são estruturadas para os não especialistas, observando manuais, complementos e glossários, introduções gerais e textos fundamentais.

Ao fazê-lo, este volume apresenta não apenas um corte transversal totalmente atualizado da pesquisa linguística em estudos bíblicos, mas também um caminho explícito para o campo, ao mesmo tempo em que destaca caminhos importantes para investigação e colaboração contínuas.

William A. RossWilliam A. Ross (PhD, Universidade de Cambridge, 2018) é professor associado de Antigo Testamento no Reformed Theological Seminary em Charlotte, Carolina do Norte.

Elizabeth Robar (PhD, Universidade de Cambridge, 2013) é autora de The Verb and the Paragraph: A Cognitive Linguistic Approach (Brill, 2014), uma adaptação de sua tese de doutorado. Fundadora de Scriptura (antigo Cambridge Digital Bible Research). Sua pesquisa é de natureza filológica, linguística e exegética, com foco no sistema verbal do hebraico bíblico, sintaxe, mudança linguística e nas ramificações da pesquisa nessas áreas para interpretação exegética.

 

This volume is the result of the 2021 session of the Linguistics and the Biblical Text research group of the Institute for Biblical Research, which addresses the history, relevance, and prospects of broad theoretical linguistic frameworks in the field of biblical studies. Cognitive Linguistics, Functional Grammar, generative linguistics, historical linguistics, complexity theory, and computational analysis are each allotted a chapter, outlining the key theoretical commitments of each approach, their major concepts and/or methods, and their important contributions to contemporary study of the biblical text.As academic disciplines and academic publishing proliferate and become more complex in a digital and global context, synthesising volumes such as this one have taken on new importance for both specialists and generalists alike. That is particularly the case in interdisciplinary areas of research. This volume therefore sets out to make linguistic theory clearer and more accessible to biblical scholars in particular, not only by careful explanation but also by specific illustration, drawing upon ancient Hebrew, Aramaic, and Greek languages within the Christian biblical corpus. The volume assists the reader in distinguishing the separate assumptions and scope of study for the separate theories, recognising methods of approach that can be applied to any of the theories, and the role of an umbrella theory to enable all the others to fruitfully interact.

The bibliographies provided are structured for the non-specialist, noting handbooks, companions, and glossaries, general introductions, and foundational texts.Elizabeth Robar

In so doing, this volume presents not only a fully up-to-date cross-section of linguistic research in biblical scholarship but also an explicit path into the field, while highlighting important avenues for continued investigation and collaboration.

William A. Ross (PhD, University of Cambridge, 2018) is associate professor of Old Testament at Reformed Theological Seminary in Charlotte, North Carolina. His publications include Postclassical Greek Prepositions and Conceptual Metaphor (edited with Steven E. Runge; De Gruyter, 2022) and Postclassical Greek and Septuagint Lexicography (SBL Press, 2022). His research focuses on the Septuagint, linguistics and lexicography, and the history of biblical philology.

Elizabeth Robar (PhD, University of Cambridge, 2013) is author of The Verb and the Paragraph: A Cognitive Linguistic Approach (Brill, 2014), an adaptation of her doctoral dissertation. She founded Cambridge Digital Bible Research, a charity to make biblical scholarship available, accessible, and useful to interpreters of the Bible. Her research is philological, linguistic, and exegetical in nature, focusing on the Biblical Hebrew verbal system, syntax, linguistic change, and the ramifications of research in these areas for exegetical interpretation.

Ciro, o Grande

MITCHELL, L. Cyrus the Great: A Biography of Kingship. Abingdon: Routledge, 2023, 188 p. – ISBN 9781138024106.

Ciro, o Grande, foi uma celebridade do mundo antigo, o fundador de um dos primeiros impérios mundiais no antigo Oriente Médio, cuja vida e feitos foram celebradosMITCHELL, L. Cyrus the Great: A Biography of Kingship. Abingdon: Routledge, 2023, 188 p. através de muitas histórias contadas sobre ele, naquela época e durante milênios.

Este livro oferece uma análise dessas histórias, localizando-as nas ricas culturas narrativas do antigo Mediterrâneo e do Oriente Médio. Embora existam poucos pontos fixos na carreira de Ciro, é possível perceber através dessas narrativas a forma como sua realeza se desenvolveu, de modo que ele se tornou não apenas o instrumento dos deuses, mas também seu companheiro.

Mitchell explora o que essas histórias revelam sobre as diferentes sociedades e culturas que se envolveram com a mitologia que cercava Ciro, a fim de examinar suas próprias concepções de grandes homens, liderança, realeza e poder. Sua celebridade na antiguidade era tamanha que as histórias sobre sua realeza permaneceram influentes ao longo de dois mil e quinhentos anos na era moderna.

Ciro, o Grande: uma biografia da realeza é de interesse para estudantes e estudiosos que estudam os aquemênidas e a antiga realeza, especialmente porque é retratado nas tradições literárias e históricas do antigo Oriente Médio, bem como para aqueles que estudam o mundo do Oriente Médio de maneira geral. Os estudiosos da história grega deste período também encontrarão muito daquilo que os interessa.

Lynette Mitchell é professora de História e Política Grega na Universidade de Exeter, Reino Unido.

 

Cyrus the Great was a celebrity of the ancient world, the founder of one of the first world empires in the ancient Near East, whose life and deeds were celebrated through the many stories told about him, then and for millennia.

This book offers an analysis of these stories, locating them within the rich storytelling cultures of the ancient Mediterranean and the Near East. Although there are few fixed points in Cyrus’ career, it is possible to see through these narratives the way his kingship developed so he became not just the instrument of the gods, but also their companion. Mitchell explores what these stories reveal about the different societies and cultures who engaged with the mythology surrounding Cyrus in order to examine their own conceptions of great men, leadership, kingship, and power. Such was his celebrity in antiquity that the stories about his kingship have remained influential over the course of two and a half thousand years into the modern era.

Cyrus the Great: A Biography of Kingship is of interest to students and scholars studying the Achaemenids and ancient kingship, particularly as it is depicted in the literary and historical traditions of the ancient Near East, as well as those working on the Near Eastern world more generally. Scholars of Greek history in this period will also find much to interest them.

Lynette Mitchell is Professor of Greek History and Politics at the University of Exeter, UK. She is the author of The Heroic Rulers of Archaic and Classical Greece, and edited with Charles Melville Every Inch a King: Comparative Studies on Kingship in the Ancient and Medieval Worlds.

A vida de Ciro, o Grande

WATERS, M. King of the World: The Life of Cyrus the Great. New York: Oxford University Press, 2022, 272 p. – ISBN 9780190927172.

O Império Persa foi a primeira hiperpotência do mundo, com território que se estendia da Ásia Central ao Nordeste da África e do Sudeste da Europa ao Vale do Indo. FoiWATERS, M. King of the World: The Life of Cyrus the Great. New York: Oxford University Press, 2022, 272 p. a força geopolítica dominante desde o final do século VI até a sua conquista por Alexandre na década de 330 a. C.

Grande parte do território do império foi conquistada por seu fundador, Ciro, o Grande, que reinou de 559 a 530 a. C. Ciro se tornou uma lenda durante sua vida, e sua carreira inspirou grande interesse dos indisciplinados vizinhos da Pérsia no oeste, os antigos gregos. O retrato idealizado de Ciro pelo grego Xenofonte teve um impacto profundo nos debates antigos, medievais e modernos sobre governo.

O livro fornece um relato confiável e acessível da vida, carreira e legado de Ciro, o Grande. Embora as fontes gregas permaneçam centrais para qualquer narrativa sobre Ciro, uma riqueza de evidências primárias é encontrada no antigo Oriente Médio, incluindo material documental, arqueológico, de história da arte e bíblico. Matt Waters baseia-se em todas essas fontes, ao mesmo tempo que as contextualiza de forma consistente, a fim de fornecer uma compreensão coesa de Ciro, o Grande. O autor leva os leitores numa viagem que revela o seu poderoso impacto e preserva a sua história para as gerações futuras.

Matt Waters é professor de Estudos Clássicos e História Antiga na Universidade de Wisconsin-Eau Claire, USA.

 

The Persian Empire was the world’s first hyperpower, with territory stretching from Central Asia to Northeastern Africa and from Southeastern Europe to the Indus Valley. It was the dominant geopolitical force from the later sixth century to its conquest by Alexander in the 330s BCE. Much of the empire’s territory was conquered by its founder, Cyrus the Great, who reigned from 559-530 BCE. Cyrus became a legend in his own lifetime, and his career inspired keen interest from Persia’s unruly neighbors to the west, the ancient Greeks. The idealized portrait of Cyrus by the Greek Xenophon had a profound impact on ancient, medieval, and early modern debates about rulership.

King of the World provides an authoritative and accessible account of Cyrus the Great’s life, career, and legacy. While Greek sources remain central to any narrative about Cyrus, a wealth of primary evidence is found in the ancient Near East, including documentary, archaeological, art historical, and biblical material. Matt Waters draws from all of these sources while consistently contextualizing them in order to provide a cohesive understanding of Cyrus the Great. This overview addresses issues of interpretation and reconciles limited material, while the narrative keeps Cyrus the Great’s compelling career at the forefront. Cyrus’ legacy is enormous and not fully appreciated– King of the World takes readers on a journey that reveals his powerful impact and preserves his story for future generations.

Matt Waters is Professor of Classics and Ancient History at the University of Wisconsin-Eau Claire. He is the author of Ctesias’ Persica and Its Near Eastern Context and Ancient Persia: A Concise History of the Achaemenid Empire, 550-330 BCE, among other works.

Uma parábola, dois filhos, três leituras: Mt 21,28-32

De repente, meus alunos encontraram duas versões da parábola dos dois filhos de Mt 21, 28-32. Examinamos a questão na sala de aula. Descobrimos que há três leituras possíveis para esta parábola.

:. Diz o texto da Bíblia de Jerusalém (São Paulo: Paulus, 2002):Bíblia de Jerusalém e Bíblia do Peregrino

28“Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha’. 29Ele respondeu: ‘Não quero’; mas depois, pego pelo remorso, foi. 30Dirigindo-se ao segundo, disse a mesma coisa. Este respondeu: ‘Eu irei, senhor’; mas não foi. 31Qual dos dois realizou a vontade do pai?” Responderam-lhe: “O primeiro”. Então Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precederão no Reino de Deus. 32Pois João veio a vós, num caminho de justiça, e não crestes nele. Os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, vendo isso nem sequer tivestes remorso para crer nele.

:. Diz o texto da Bíblia do Peregrino (São Paulo: Paulus, 2002):

28 Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigiu-se ao primeiro: Filho, vai hoje trabalhar na minha vinha.

29Repondeu-lhe: Sim, senhor. Mas não foi. 30Depois foi dizer o mesmo ao segundo. Este respondeu: Não quero. Mas logo se arrependeu e foi. 31Qual dos dois cumpriu a vontade de seu pai?

Dizem-lhe:

– O último.

E Jesus lhes diz:

-Eu vos asseguro que os coletores e as prostitutas entrarão antes de vós no reino de Deus. 32Porque veio João, ensinando o caminho da honradez, e não crestes nele, ao passo que os coletores e as prostitutas creram. E vós, mesmo depois de ver isso, não vos arrependestes nem crestes nele.

Nos versículos 29 e 30 a ordem das repostas está invertida nos dois textos:

Bíblia de Jerusalém: o primeiro filho disse não, mas foi; o segundo filho disse sim, mas não foi. Quem realizou a vontade do pai? O primeiro.

Bíblia do Peregrino: o primeiro filho disse sim, mas não foi; o segundo filho disse não, mas foi. Quem realizou a vontade do pai? O último.

 

Explica Bruce M. Metzger em A Textual Commentary on the Greek New Testament. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft/United Bible Societies, 2. ed., 2006:

METZGER, B. M. A Textual Commentary on the Greek New Testament. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft/United Bible Societies, 2. ed., 2006A transmissão textual da parábola dos dois filhos é muito confusa.

O filho que recusa, mas que depois obedece, é mencionado em primeiro ou em segundo lugar?

Qual dos dois filhos os judeus pretendiam afirmar ter cumprido a ordem do pai e que palavra eles usaram em sua resposta à pergunta de Jesus (πρῶτος ou ἔσχατος ou ὕστερος ou δεύτερος)?

Existem três formas principais de texto:

(a) De acordo com א [Sinaiticus] C* [Ephraemi Rescriptus] K W Δ II itc.q vg syrc.p.h al, o primeiro filho diz “não”, mas depois se arrepende e vai. O segundo filho diz “sim”, mas não faz nada. Qual deles fez a vontade do pai? Resposta: ὁ πρῶτος [o primeiro].

(b) De acordo com D [Bezae Cantabrigiensis] ita.b.d.e.ff2.h.l syrs al, o primeiro filho diz “não”, mas depois se arrepende e vai. O segundo filho diz “sim”, mas não faz nada. Qual deles fez a vontade do pai? Resposta: ὁ ἔσχατος [o último].

(c) De acordo com B [Vaticanus] Θ, f13 700 syrpal arm geo al, o primeiro filho diz “sim”, mas não faz nada. O segundo diz “não”, mas depois se arrepende e vai. Qual deles fez a vontade do pai? Resposta: ὁ ὕστερος (B) [o último], ou ὁ ἔσχατος (© [12 700 arm) [o último], ou ὁ δεύτερος (4 273) [o segundo], ou ὁ πρῶτος (geo*) [o primeiro].

Como (b) é a mais difícil das três formas de texto, vários estudiosos (Lachmann, Merx, Wellhausen, Hirsch) pensaram que ela deve ser preferida, explicando as outras duas como correções inseridas pelos copistas para dar maior coerência ao texto.

Mas (b) não é apenas difícil, é absurda – o filho que diz “sim”, mas não faz nada, é quem obedece à vontade do pai?

Jerônimo, que conhecia, em sua época, manuscritos que continham respostas absurdas, sugeriu que, por meio da perversidade, os judeus deram intencionalmente uma resposta absurda, a fim de estragar o sentido da parábola.

Mas esta explicação requer a suposição adicional de que os judeus não só reconheceram que a parábola era dirigida contra eles próprios, mas escolheram dar uma resposta absurda em vez de simplesmente permanecerem em silêncio.

Como tais explicações atribuem aos judeus, ou a Mateus, motivos psicológicos rebuscados ou literários, excessivamente sutis, o Comitê julgou que a origem da leitura (b) se deve a copistas que, ou cometeram um erro de transcrição, ou que foram motivados por tendências antifarisaicas (ou seja, visto que Jesus caracterizou os fariseus como aqueles que dizem, mas não praticam, eles devem ser representados como aprovadores do filho que disse “eu vou” e não foi).

Deste modo, ficamos com as leituras (a) e (c), sendo a leitura (a), mais provavelmente, a original.

Não só os testemunhos que apoiam (a) são ligeiramente melhores do que aqueles que leem (c), mas haveria uma tendência natural para transpor a ordem de (a) para a de (c) porque:

(1) poderia argumentar-se que se o primeiro filho obedecesse, não havia razão para convocar o segundo

(2) era natural identificar o filho desobediente com os judeus em geral ou com os principais sacerdotes e anciãos (v. 23) e o filho obediente com os gentios ou com os cobradores de impostos e as prostitutas (v. 31) – e de acordo com qualquer uma das linhas de interpretação, o filho obediente deveria vir por último na sequência cronológica.

Também pode ser observado que a inferioridade da forma (c) é demonstrada pela grande diversidade de leituras no final da parábola.

 

B. M. Metzger classifica os textos analisados nesta obra com as letras A, B, C e D entre colchetes. Este texto da parábola dos dois filhos está classificado como {C}.Bruce Manning Metzger (1914 - 2007)

O que significa isso?

{A} significa que o texto é confiável

{B} significa que o texto é quase certo

{C} indica que o Comitê** teve dificuldades para decidir qual variante deveria aparecer no texto

{D} que raramente aparece, indica que o Comitê teve muitas dificuldades para chegar a uma decisão.

** O Comitê responsável pela edição de The Greek New Testament, Fourth Revised Edition. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft/United Bible Societies, 1994 era composto por Barbara Aland, Kurt Aland, Johannes Karavidopoulos, Carlo M. Martini e Bruce M. Metzger.

 

Roger L. Omanson, Variantes textuais do Novo Testamento: Análise e avaliação do Aparato Crítico de “O Novo Testamento Grego” . Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010, que é uma versão simplificada do comentário de Bruce M. Metzger, diz:

Nesses três versículos [Mt 21,29-31], há muitas diferenças entre os manuscritos, sendo que as principais delas são as seguintes:

(1) Em alguns manuscritos, o primeiro filho diz “Não”, mas depois se arrepende e vai trabalhar na vinha. O segundo filho diz “Sim”, mas não vai trabalhar. A pergunta que é feita é esta: “Qual dos dois fez a vontade do pai”? A resposta é: “o primeiro”.

Esta leitura, adotada por quase todas as traduções, tem tudo para ser original, pelas seguintes razões:

(a) Faz sentido que, no momento em que o primeiro filho disse “não”, o pai tenha pedido ao segundo filho para que fosse.

(b) Essa leitura tem um apoio de manuscritos levemente superior ao das outras variantes.

(2) Em alguns outros manuscritos, o primeiro filho diz “sim”, mas depois se recusa a ir trabalhar na vinha. O segundo filho diz “não”, mas posteriormente se arrepende e vai trabalhar. “Qual dos dois fez a vontade do pai”? Esses manuscritos têm as seguintes respostas diferentes: “O último” (ὁ ὕστερος), “O último” (ὁ ἔσχατος), “O segundo” (ὁ δεύτερος), e “O primeiro”‬ (ὁ πρῶτος).

OMANSON, R. L. Variantes textuais do Novo Testamento: Análise e avaliação do Aparato Crítico de "O Novo Testamento Grego" . Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010. Entretanto, esta leitura não faz tanto sentido quanto a anterior, apresentada acima (a leitura 1). Se o primeiro filho disse “sim”, não haveria por que o pai solicitar ao segundo filho que fosse trabalhar.

Provavelmente, esta leitura reflete o esforço dos copistas para fazer com que a ordem cronológica, no texto, coincidisse com os acontecimentos históricos.

Em outras palavras, o primeiro filho é visto com o representante dos judeus em geral, ou, mais diretamente, dos principais sacerdotes e anciãos (v. 23) e o segundo filho é visto como sendo os gentios ou os cobradores de impostos e as prostitutas (v. 31).

(3) Em alguns outros manuscritos, o primeiro filho diz “não”, mas depois se arrepende e vai trabalhar na vinha. O segundo filho diz “sim”, mas não vai trabalhar. “Qual dos dois fez a vontade do pai”? A resposta é: “o último”.

Alguns intérpretes entendem que, por ser a mais difícil, esta leitura é a original, e que os copistas teriam alterado o texto para as formulações que aparecem em (1) e (2).

Entretanto, esta leitura é tão difícil que, no contexto, não faz sentido nenhum.

 

Bibliografia

Centro para o estudo dos manuscritos do Novo Testamento. Post publicado no Observatório Bíblico em 22.03.2006.

KONINGS, J. Traduções bíblicas católicas no Brasil (2000-2015). Revista Pistis & Praxis, 8(1), p. 89–102, 2016.

Lista de manuscritos unciais do Novo Testamento – Wikipedia.

METZGER, B. M. A Textual Commentary on the Greek New Testament. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft/United Bible Societies, 2. ed., 2006 [existe uma versão em espanhol].

OMANSON, R. L. Variantes textuais do Novo Testamento: Análise e avaliação do Aparato Crítico de “O Novo Testamento Grego” . Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.

Quem matou Jesus? Judeus ou romanos?

EDWARDS, J. C. Crucified: The Christian Invention of the Jewish Executioners of Jesus. Minneapolis: Fortress Press, 2023, 237 p. – ISBN 9781506490953.

Os historiadores do cristianismo primitivo concordam unanimemente que Jesus foi executado por soldados romanos. Este consenso estende-se à população em geralEDWARDS, J. C. Crucified: The Christian Invention of the Jewish Executioners of Jesus. Minneapolis: Fortress Press, 2023 quando vê um filme sobre Jesus ou uma peça na Semana Santa e se lembra dos soldados romanos martelando os cravos na cruz.

No entanto, para os primeiros cristãos o detalhe de que Jesus foi crucificado por soldados romanos sob a direção de um governador romano ameaçava o seu desejo de uma existência estável no mundo romano. Começando com os escritos encontrados no Novo Testamento, os primeiros cristãos procuraram reescrever a sua história e transferir a culpa pela crucificação de Jesus de Pilatos e dos seus soldados para os judeus. Durante o século II, predominou uma narrativa da crucificação com algozes judeus. Durante o século IV, esta narrativa funcionou para encorajar o antijudaísmo dentro do recém-estabelecido império cristão.

No entanto, no mundo moderno, existe um grau significativo de ignorância relativamente à difusão – ou, por vezes, até à existência! – da afirmação entre os antigos cristãos de que Jesus foi executado por judeus. Esta ignorância é profundamente problemática, porque deixa uma lacuna na nossa compreensão daquilo que durante tanto tempo foi a base direta da perseguição cristã aos judeus. Além disso, isenta de culpa os venerados autores cristãos antigos que construíram e perpetuaram a afirmação de que os judeus executaram Jesus. E a um nível inconsciente, ainda pode influenciar a compreensão dos cristãos sobre os judeus e o judaísmo.

Leia o prefácio do livro, em pdf, clicando aqui.

J. Christopher Edwards é professor de Estudos Religiosos no St. Francis College, Brooklyn, New York.

Algumas resenhas

Roma matou Jesus, mas os judeus foram levaram a culpa. Por que isso aconteceu, quando e como? Passo a passo, texto por texto, J. Christopher Edwards traça o desenvolvimento desta terrível tradição, ao mesmo tempo que convoca os seus leitores a refletirem sobre as suas consequências morais e teológicas para o cristianismo. Esta é uma história assustadora, contada de forma convincente. —Paula Fredriksen, Universidade de Boston / Universidade Hebraica de Jerusalém

Quem matou Jesus? A realidade histórica – que os romanos crucificaram Jesus – foi abandonada pouco depois da sua morte. Neste livro muito legível e envolvente, Christopher Edwards nos conduz cuidadosamente pelas evidências. Ele mostra-nos o surgimento do mito que culpava os judeus e como funcionou entre os primeiros seguidores de Jesus para justificar a ruptura do cristianismo com o judaísmo e acusar falsamente os judeus do pior crime: o deicídio. Seu livro é um esforço crucial para corrigir esse “erro sagrado”. —Susannah Heschel, autora de The Aryan Jesus: Christian Theologians and the Bible in Nazi Germany.

Neste livro acadêmico, mas acessível, J. Christopher Edwards investiga a afirmação errônea de que os judeus crucificaram Jesus. Ele traça o seu desenvolvimento desde os primeiros documentos cristãos, incluindo os Evangelhos, até o século IV. Ele elucida as diferentes circunstâncias em que esta acusação surgiu e as diferentes formas como foi utilizada, bem como o seu papel na criação de um antijudaísmo cristão. Edwards escreve com sobriedade e equilíbrio louváveis, mas ao fazê-lo nunca se esquiva das questões moralmente complexas e perturbadoras que acompanham o estudo de tal assunto. —James Carleton Paget, Universidade de Cambridge.

J, Christopher Edwards (1982-)Historians of early Christianity unanimously agree that Jesus was executed by Roman soldiers. This consensus extends to members of the general population who have seen a Jesus movie or an Easter play and remember Roman soldiers hammering the nails. However, for early Christians, the detail that Jesus was crucified by Roman soldiers under the direction of a Roman governor threatened their desire for a stable existence in the Roman world. Beginning with the writings found in the New Testament, early Christians sought to rewrite their history and shift the blame for Jesus’s crucifixion away from Pilate and his soldiers and onto Jews. During the second century, a narrative of the crucifixion with Jewish executioners predominated. During the fourth century, this narrative functioned to encourage anti-Judaism within the newly established Christian empire. Yet, in the modern world, there exists a significant degree of ignorance regarding the pervasiveness–or sometimes even the existence!–of the claim among ancient Christians that Jesus was executed by Jews. This ignorance is deeply problematic, because it leaves a gaping hole in our understanding of what for so long was the direct underpinning of Christian persecution of Jews. Moreover, it excuses from blame the venerated ancient Christian authors who constructed and perpetuated the claim that the Jews executed Jesus. And on an unconscious level, it may still influence Christians’ understanding of Jews and Judaism.

J. Christopher Edwards (PhD, University of St Andrews) is professor of religious studies at St. Francis College, Brooklyn. He is the author of Early New Testament Apocrypha and The Ransom Logion in Mark and Matthew.