Mês da Bíblia 2010: Jonas, segundo Mesters e Orofino

MESTERS, C.; OROFINO, F. A parábola de Jonas. São Leopoldo: CEBI, 2010, 36 p. – ISBN 9788577330935

Por Tiago Nascimento Nigro

Carlos Mesters é um frade carmelita holandês, missionário no Brasil desde 1949. Cursou Ciências Bíblicas no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na École Biblique de Jerusalém e recebeu o título de Doutor Honoris Causa do Instituto Teológico São Paulo (ITESP). Idealizador do CEBI, Mesters é um dos principais exegetas brasileiros. Francisco Orofino é biblista e educador popular. É também assessor nacional do CEBI. Fez doutorado em Teologia Bíblica na PUC-Rio.

Ao introduzirem o leitor na compreensão do livro de Jonas, os autores traçam o perfil do profeta, as características do livro, o contexto no qual foi escrito, o sentido da obra, os personagens, algumas surpresas que surgem na parábola de Jonas e descrevem a estrutura do livro do profeta de Javé.

Diante dos desafios do seu tempo, o povo daquela época elaborou a parábola de Jonas para ajudar o pessoal a tomar uma posição frente às coisas que estavam acontecendo. Esse é o convite proposto pelos autores: reler a parábola de Jonas frente aos desafios que enfrentamos nos dias atuais.

Para trabalhar essas questões e atingir os objetivos, os autores dividem a obra em cinco círculos bíblicos a serem realizados nas comunidades. Cada círculo contém dicas para preparar o ambiente e, em seguida, passos para que o leitor e a comunidade possam olhar bem o que acontece na história de Jonas, passos que consistem numa leitura lenta e atenta do texto bíblico, num momento de silêncio e em perguntas para orientar a reflexão.

Os frutos que cada um colhe nesse primeiro passo motivam a dar o segundo passo, isto é, a partir do que cada um descobriu acerca da parábola do livro de Jonas, partilhar em comunidade a sua reflexão.

Para facilitar o trabalho, Mesters e Orofino propõem uma série de perguntas para ajudar na partilha. Após a partilha todos são convidados, a partir das descobertas feitas, a fazer preces a Deus, a assumir um compromisso, um passo para discernir o caminho espiritual. Mantendo o espírito orante do encontro, os autores propõem a oração de um salmo ou de um trecho bíblico e a relembrar com um texto a fina ironia da novela de Jonas.

No primeiro círculo intitulado “O fugitivo dorminhoco”, a comunidade é convidada a ler o primeiro capítulo do livro de Jonas, que descreve, com fina ironia, como Jonas recebeu o chamado de Deus, mas não quis atender e fugiu. O capítulo conclui com o reconhecimento por parte de Jonas de seu erro, pois a tempestade violenta era um apelo de Deus para que Jonas assumisse a missão. Para acabar com a tempestade, os marinheiros jogam Jonas no mar e este foi engolido por um peixe bem grande, acalmando o mar.

“A oração do penitente engolido” é o tema do segundo círculo que descreve como Jonas, lá no fundo da barriga do peixe, começou a orar. Ele ficou três dias e três noites na barriga do peixe, orou a Deus e foi cuspido na praia.

Tendo como referência o capítulo 3 do livro de Jonas, o terceiro círculo conta como Jonas recebeu de novo a ordem de Deus para falar ao povo de Nínive. O profeta fugitivo finalmente obedece e começa a pregar a penitência ao povo de Nínive e o povo se converte. Deus acolheu o seu esforço e não o destruiu nem o castigou.

No último capítulo do livro de Jonas informa-se que quem não gostou dessa situação foi o profeta. O título do quarto círculo, “O profeta egoísta que quer Deus só para si”, faz alusão ao profeta de Javé que se afastou indignado, ficou olhando de longe e reclamou com Deus. A falsa imagem de Deus em Jonas fez dele um grande egoísta. E a parábola termina sem dar a resposta de Jonas à pergunta final de Deus. Hoje quem deve dar resposta somos nós.

No quinto e último capítulo do círculo, Mesters e Orofino nos convidam a ver como a história de Jonas repercutiu na história do povo de Deus e como Jesus olhou no espelho a parábola de Jonas, mencionando o texto do Evangelho de Mateus em que Jesus fala do sinal de Jonas.

Deste modo, com uma linguagem simples e até divertida, com textos dinâmicos e de fácil compreensão, Mesters e Orofino elaboraram um livro a ser trabalhado nos grupos bíblicos e nas várias pastorais da Igreja. Proporcionam aos leitores motivações para a leitura, meditação e partilha da parábola de Jonas, identificando-nos com o profeta e com a vida do povo de Nínive, pois é no espelho da novela de Jonas que vejo o que acontece comigo, conosco.

Mês da Bíblia 2010: Jonas, segundo Nelson Kilpp

KILPP, N. Jonas. São Paulo: Loyola, 2008, 120 p. – ISBN 9788515035472

Por Mateus Pereira Martins

Este livro faz parte da coleção “Comentário Bíblico Latino-Americano”, antes publicada pela Vozes, agora pela Loyola. O autor, Nelson Kilpp, é pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB. Doutorou-se em Marburg, na Alemanha, na área de Antigo Testamento. É professor na Escola Superior de Teologia, de São Leopoldo – RS.

Nesta apresentação vou me limitar à Introdução da obra.

O livro de Jonas está entre os Doze Profetas Menores, especificamente entre Abdias e Miquéias. Jonas não é explicitamente designado profeta no livro que leva seu nome, mas 2Rs 14,25 menciona um profeta Jonas, filho de Amati, que atuou no tempo de Jeroboão II. Este Jonas de 2Rs atuou entre os profetas Amós e Miquéias, no entanto, é difícil dizer porque o livro foi colocado após Abdias, que é posterior. Talvez pela temática.

Contudo, a datação do livro de Jonas é incerta, por não trazer nenhum dado histórico exato. O mais correto é que pertença ao fim da época persa. O domínio persa sobre Judá, que começou em 538 a.C., terminou com a chegada de Alexandre Magno, em 332 a.C.

Muitos conhecem Jonas por causa da história do peixe. Mas o que o torna popular é o fato de a história ser fantástica e pelo valor simbólico que teve no decorrer do tempo.

O evangelista Mateus lembra uma discussão de Jesus com escribas e fariseus, que exigiam dele um sinal que legitimasse sua autoridade. Jesus afirma que não seria dado nenhum sinal, além do “sinal do profeta Jonas”.

O texto de Mateus admite três maneiras de entender o sinal de Jonas: a) Deus optou por Jonas para levar os ninivitas ao arrependimento, portanto não é um milagre que salva, mas a decisão que as pessoas tomam; b) um povo estrangeiro torna-se exemplo de arrependimento e conversão, portanto o sinal de Jonas é a aceitação da mensagem de Jesus por parte dos gentios de sua época; c) Mt 12,40 diz que o sinal de Jonas é a estada de Jonas na barriga do peixe por três dias, portanto esta história prefigura a morte e ressurreição de Jesus.

“Esta última variante foi a que mais se desenvolveu na Igreja cristã. Nas primeiras comunidades cristãs, a história de Jonas se havia tornado símbolo do reviver de uma pessoa morta. Durante muitos séculos os cristãos recorriam a este símbolo para expressar sua esperança na ressurreição dos mortos”, diz Nelson Kilpp (p. 10 – edição Vozes).

Há varias interpretações do livro: racionalistas consideram o livro como uma ficção. Ateus usam os exageros do livro para dizer que toda a Bíblia está baseada em mentiras. Fundamentalistas alegam a historicidade do livro, tentando descobrir que tipo de peixe pode engolir e abrigar um homem. Outros afirmam que Jonas é uma alegoria, identificando o personagem com o povo de Israel. Mais recentemente busca-se interpretar o livro com o auxilio da psicologia, partindo “do fato de que o motivo do herói que é engolido por um animal se encontra em várias culturas, tanto antigas quanto modernas (…) Ser engolido e permanecer no ventre do peixe representaria a viagem do herói para dentro de si mesmo em busca de transformação. Desta sua experiência o herói volta transformado e amadurecido, apto a assumir tarefas importantes” (p. 13 – edição Vozes).

Entretanto, o livro apresenta o relato de Jonas em prosa e não em forma poética como é mais comum nos livros proféticos. A única parte poética é a oração que ele faz na barriga do peixe, que é um salmo. Se desconsiderarmos o salmo, veremos que a narrativa tem características de um conto. Este conto tem algumas particularidades. Ao invés de obedecer e ir à Nínive, Jonas foge em direção oposta. Outra característica é a hipérbole ou exagero. O exagero tem a função de chamar a atenção do leitor. Temos o caso da mamoneira, o tamanho da cidade. Todas estas observações indicam que o conto é bem elaborado, quase artístico: é uma novela didática.

Após tratar do contexto histórico em que teria sido escrito o livro de Jonas, o autor vai falar da mensagem do livro. Que é como uma pérola escondida. Está nas entrelinhas. É bom analisarmos alguns aspectos como:

:: O crescimento do texto: o texto de Jonas não foi escrito de uma só vez, pois muitos contribuíram para a formação do livro. Muitos afirmam que o salmo do capítulo 2 foi colocado depois, pois o Jonas do salmo não é o mesmo da narrativa. É piedoso e não está com raiva de Deus.

:: A estrutura do texto e o significado dos nomes dos personagens e das localidades também nos ajudam a entender a sua mensagem.

:: Já as entrelinhas e o uso de palavras-chave mostram que o autor do livro de Jonas quer que ele, Jonas, ou os grupos por ele representados convivam com os outros e participem de uma nova maneira de conviver que inclua também os que não pertencem ao grupo, os que não são israelitas, até mesmo os descendentes dos inimigos e opressores. Aqui está a misericórdia de Deus.

Mês da Bíblia 2010: Jonas, segundo Balancin e Ivo

BALANCIN, E. M.; STORNIOLO, I. Como ler o livro de Jonas: Deus não conhece fronteiras. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1991, 40 p. – ISBN 8534926085

Por Daniel Bento Bejo

Este pequeno livro faz parte da coleção “Como ler a Bíblia”, da Paulus. Seus autores, Euclides Martins Balancin e Ivo Storniolo, são Mestres em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma.

Na Introdução os autores lembram que o livro de Jonas é considerado um escrito profético por causa de 2Rs 14,25, onde se menciona um profeta da época de Jeroboão II (782/1-753 a.C.) que tem o mesmo nome. Mas o escrito, de tipo sapiencial, é bem posterior, podendo ser situado no pós-exílio, entre os anos 500 e 200 a.C.

No primeiro dos 4 capítulos do livro, Balancin e Ivo dizem que Jonas, recusando a missão de ir a Nínive, faz de tudo para escapar da presença de Javé, dirigindo-se a Társis, direção oposta à cidade assíria. Jonas não aceita a possibilidade de conversão dos inimigos. “Jonas tem um julgamento e um preconceito formado e não admite que Javé possa reverter esse julgamento” (p. 13), agindo com misericórdia em relação aos ninivitas.

Entretanto, sua fuga provoca uma reação de Deus, que, além de Jonas, atingirá também os que com ele se encontram. Os marinheiros do navio no qual está fugindo para Társis, por exemplo, cada um com seu deus e seu projeto, mesmo sendo gentios, respeitam muito mais a vida do que o próprio Jonas, que se declara adorador de Javé, mas prefere morrer a cumprir sua missão.

Os autores concluem: “O primeiro capítulo de Jonas contém já o núcleo de todo o livro: ele mostra que, por bem ou por mal, quer o povo de Deus aceite ou não, a missão profética sempre se realiza (…) Disso tudo, já podemos perceber que a grande novidade deste livro é que com Deus não se brinca”. Mas “o leitor poderia pensar que o acontecido levou Jonas a uma conversão. Engano. Até o fim esta será a pergunta fundamental: Será que Jonas vai se converter?” (p. 16-17).

No segundo capítulo os autores dizem que Jn 2, quando o personagem se encontra no ventre do peixe, contém pormenores evidentemente simbólicos: o mar, que é uma realidade ambígua, é, ao mesmo tempo, uma criatura de Deus e um perigo constante para os que vivem em terra, pois pode invadi-la, levando ao caos de Gn 1,2. Assim, Jonas, jogado ao mar, “volta para o perigo desagregador da morte e do nada” (p. 19).

Já o “grande peixe” (Jn 2,1) bateu recordes de interpretação ao longo da história. Alguns o identificaram com o perigoso Leviatã, entretanto, sua função é positiva, sendo enviado pelo próprio Deus para evitar que Jonas se afogue. Nos evangelhos, como em Mt 12,39-40, o episódio é visto de forma claramente positiva. Por isso, sugerem os autores que aqui temos uma chave para compreender o episódio dentro do livro de Jonas: “O profeta rebelde deve experimentar a morte de suas próprias pretensões egoístas e, ao mesmo tempo, fazer a experiência do Deus que o salva e o traz de novo à vida. Neste caso, o mar e o grande peixe podem, numa simbologia lida psicologicamente, significar a própria interioridade, onde se desenvolve a experiência do divino” (p. 19-20). Em Jn 2 vemos como o profeta passa pela experiência de morte e salvação, “para compreender que o Deus verdadeiro é aquele que dá a vida para todos os que a buscam nele” (p. 20).

Então Jonas se converteu? A continuação do livro vai mostrar que não.

No capítulo terceiro, em Nínive – a grande cidade que simboliza o violento poder opressor do imperialismo – Jonas anuncia sua destruição dentro de quarenta dias. Por que quarenta? Ora, isto não significa provocar angústia diante da iminência do castigo, mas dar um prazo para provocar uma reação que evite o castigo. A leitura de Ez 33 nos ajuda a compreender isso. E acontece a inesperada conversão (Jn 3,8) e o perdão de Deus (Jn 3,10).

No quarto e último capítulo, observamos um Jonas extremamente irritado e descontente com o desfecho do caso. Muitas explicações já foram dadas para isso, mas o cerne da questão está em Jn 4,2: Jonas fugiu, porque sabia que o Deus verdadeiro está sempre protegendo a vida e se dispõe “a dá-la a todos aqueles que a desejarem e para ele se reabrirem” (p. 30). Atitude que Jonas não pode aceitar, porque ele personifica o povo de Deus fechado em seus próprios interesses.

E o livro termina, deixando uma pergunta aberta (Jn 4,11), sempre esperando uma resposta de quem o lê. “Qual será a nossa resposta? E quais seriam as consequências caso ela fosse positiva ou negativa?” (p. 33).

Mês da Bíblia 2010: textos apresentados pelos alunos

O livro de Jonas faz parte de meu programa de Literatura Pós-Exílica, disciplina estudada no Segundo Ano de Teologia do CEARP neste semestre.

Em geral, Jonas é estudado quase no final do ano, mas, neste ano, em função do Mês do Bíblia, que começa amanhã, nós o abordamos nos dias 26 e 27 de agosto, na semana passada.

Pedi aos alunos que se encarregassem de apresentar alguns dos estudos disponíveis em português sobre Jonas. Sete textos foram apresentados e uma síntese do que foi feito será publicada a partir de hoje no blog.

A ordem de publicação é aleatória, porque os publico à medida em que os recebo. Ao clicar nos títulos dos livros, o leitor será remetido ao post sobre ele.

Os textos apresentados:

BALANCIN, E. M.; STORNIOLO, I. Como ler o livro de Jonas: Deus não conhece fronteiras. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1991, 40 p. – ISBN 8534926085
Por Daniel Bento Bejo

CENTRO BÍBLICO VERBO Levanta-te e vai à grande cidade: Entendendo o livro de Jonas. São Paulo: Paulus, 2010, 128 p. – ISBN 9788534926362
Por Anderson Luís Moreira

KILPP, N. Jonas. São Paulo: Loyola, 2008, 120 p. – ISBN 9788515035472
Por Mateus Pereira Martins

LOPES, M. O livro de Jonas: Uma história de desencontro entre um profeta zangado e um Deus brincalhão. São Paulo: Paulus, 2010, 72 p. – ISBN 9788534931885
Por Tibério Teixeira da Silva Filho

MESTERS, C.; OROFINO, F. A parábola de Jonas. São Leopoldo: CEBI, 2010, 36 p. – ISBN 9788577330935
Por Tiago Nascimento Nigro

SAB Levanta-te, vai à grande cidade (Jn 1,2): Introdução ao estudo do profeta Jonas. São Paulo: Paulinas, 2010, 48 p.
Por Thiago Cezar Giannico

SCHÖKEL, L. A.; SICRE DIAZ, J. L. Profetas II. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2002, p. 1037-1062. – ISBN 8534919917
Por Paulo Martins Junior

O biblista Carlos Mesters está se recuperando

Frei Carlos Mesters está se recuperando

Depois de se submeter a tratamento quimioterápico, frei Carlos Mesters, fundador do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI), recupera-se, informou o teólogo e biblista Francisco Orofino.

“Neste último tempo estivemos numa ampla vigília de orações acompanhando a saúde de frei Carlos”. A razão da preocupação era “a fragilidade de seu quadro clínico bem como a dureza do tratamento quimioterápico”. Frei Carlos fez uma sessão de quimioterapia na última semana de julho. No início de agosto fez novos exames. “Diante do quadro atual, o médico receitou uma sexta e última sessão de quimioterapia para a última semana de agosto. Ao que tudo indica, o tumor está desaparecendo”, informou Orofino. Frei Carlos, que se recupera em São Paulo, poderá retornar às atividades “na medida do possível”, segundo prescrição médica. Orofino dirigiu-se a todos os integrantes do CEBI assinalando que “tudo isto é motivo para nos alegrarmos e também para elevarmos nossas preces agradecidas a Deus, Mãe e Pai da Vida Plena, que nos cura e regenera, que nos anima e renova nossas forças”. Ele agradeceu a todos e todas pelo apoio dado a Mesters neste tempo de provação e de cura.

 

O livro de Jonas na Vida Pastoral

O número de setembro-outubro de 2010 – ano 51, n. 274 – da revista Vida Pastoral, publicada pela Paulus, traz 4 artigos sobre o livro de Jonas. Foram escritos pela equipe do Centro Bíblico Verbo, de São Paulo. Jonas é o livro proposto pela CNBB para estudo e reflexão no mês da Bíblia deste ano.

Vida Pastoral é uma revista bimestral para sacerdotes e agentes de pastoral e é distribuída gratuitamente às instituições cadastradas no Anuário Católico do Brasil e a particulares que a solicitarem. Passe numa das livrarias da Paulus ou mande um e-mail e veja como conseguir um número ou a assinatura anual. A revista está também disponível online.

 

Os artigos são os seguintes:
. Maria Antônia Marques – Levanta-te e vai à grande cidade: Uma introdução ao livro de Jonas: p. 6-13
. Centro Bíblico Verbo – Os estrangeiros acreditam na ação de Javé: uma leitura de Jonas: p. 14-20
. Shigeyuki Nakanose – “Continuo a contemplar o teu santo Templo” (Jn 2,5): Uma leitura de Jonas 2,1-11: p. 21-29
. Enilda de Paula Pedro e Maria Antônia Marques – Conversão de Nínive, perdão divino e conversão de Jonas: Uma leitura de Jonas 3-4: p. 30-35

 

Recomendo, para uma melhor compreensão do domínio persa sobre Yehud – nome aramaico do Judá pós-monárquico -, época mais provável da escrita do livro de Jonas, a leitura dos seguintes textos:

. Resumo dos capítulos 2, 3 e 4 do livro de Hans G. Kippenberg, Religião e formação de classes na antiga Judeia: estudo sociorreligioso sobre a relação entre tradição e evolução social, disponível neste blog

. 6. A Época Persa e as Conquistas de Alexandre, especialmente o item 6.5. A situação da Judeia no momento da anexação, disponível na Ayrton’s Biblical Page

. Leitura socioantropológica do Livro de Rute. Estudos Bíblicos n. 98. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 107-120. Artigo disponível na Ayrton’s Biblical Page.

Mês da Bíblia 2010: texto-base

Assinado por Aíla Luzia Pinheiro de Andrade*, o texto-base do Mês da Bíblia 2010 está – pelo menos por enquanto – disponível para leitura e/ou download, em formato pdf, no site da CNBB. Como já foi dito neste blog, onde apresentei uma bibliografia mínima sobre o tema, o livro bíblico proposto para este ano é Jonas.

Começa a autora perguntando: “Quem nunca ouviu falar no profeta Jonas que foi engolido por um grande peixe? Mas seria esse episódio o que há de mais importante nesse livro bíblico? Em que esse fato seria relevante para a fé dos judeus e para fé cristã hoje? As respostas a estas perguntas dependem de um estudo atento do texto bíblico dentro de seu contexto histórico, somente assim é possível descobrir traços que indiquem o perfil de quem o escreveu, a época de seu surgimento e, seus destinatários imediatos. Com esses dados, a mensagem de Jonas se mostrará atual para o século XXI”.

Dividido em 4 partes, o texto aborda os seguintes temas:
1. O Autor
2. A época
3. A obra
4. Evangelizar é preciso, converter-se é urgente

Transcrevo alguns trechos e recomendo a leitura do texto completo, muito mais rico do que este recorte.

:: Sobre o autor, diz o texto:
“Numa leitura superficial do texto bíblico, o leitor contemporâneo pode cometer o equívoco de pensar que o autor desse livro tenha sido um profeta nacionalista de Israel do Norte, chamado Jonas, filho de Amitai, que viveu durante o reinado de Jeroboão II, por volta de 790-750 a.C., mencionado em 2Rs 14,25 e em Jn 1,1. Não é raro encontrar leituras fundamentalistas da Bíblia que tendem a concluir que o autor do livro de Jonas tenha sido aquele profeta do século VIII a.C.” (…) Mas “o autor do livro permanece anônimo e usa como pseudônimo o antigo profeta Jonas, filho de Amitai, porque esse recurso o ajuda a divulgar melhor sua mensagem. Não sabemos quem escreveu o livro de Jonas, mas podemos fazer um perfil de sua personalidade a partir do texto bíblico. É alguém com mente aberta, como diríamos hoje, para ele todas as pessoas são alvos do amor e da misericórdia de Deus. É uma pessoa bem humorada que usa o recurso da ironia para convencer os judeus nacionalistas de sua época da inconsistência da postura exclusivista que considerava apenas o judeu como merecedor do amor de Deus”.

:: Sobre a época, lemos:
“O livro de Jonas foi escrito após o período de Esdras e Neemias quando a maioria dos judeus, depois de sofrer a dominação de vários impérios estrangeiros, havia desenvolvido forte espírito de exclusivismo e de particularismo e não queria uma aproximação com outros povos e muito menos exercer a vocação missionária de fazer o Deus de Israel ser conhecido e amado pelas demais nações. Como o livro de Jonas faz parte do bloco dos doze profetas, mencionado em Eclo (Sir) 49,10-12, ele não pode ter sido escrito depois do ano 170 a.C, possível época do surgimento do Eclesiástico. Por isso a maioria dos estudiosos está de acordo que o livro de Jonas data provavelmente do final do século V a.C, ou início do século IV a.C.”

:: Sobre a obra, aprendemos que:
“O autor do livro de Jonas, unindo o recurso da pseudonímia ao da ironia, escreve um conto edificante que termina com uma lição dada por Deus ao protagonista” (…) Mas em qual contexto histórico? Ora, “a pista nos é dada no final do livro, na lição que Jonas é forçado a receber: a misericórdia de Deus está sobre todos os povos e sobre toda criatura. Se a maioria das pessoas não sabe disso é porque falta quem lhes anuncie essa boa-notícia. O autor do livro de Jonas viveu em uma época marcada por reformas radicais nacionalistas desde Esdras e Neemias” (…) Só que “ao lado dessa tendência nacionalista exacerbada caminhava uma tendência universalista que considerava o estrangeiro como filho de Deus. Defensores dessa tendência são os textos de Is 40–55 e o livro de Rute, entre outros. O autor do livro de Jonas empresta sua voz à teologia universalista para defender o direito de Deus amar a todos, sem fazer acepção de pessoa”.

:: Finalmente, a mensagem do livrinho de Jonas diz que “evangelizar é preciso, converter-se é urgente”:
Pois Jonas “tem que anunciar aos habitantes da grande cidade de Nínive que sua iniquidade subiu até Deus. Isso consiste numa parusia conforme se procedia em antigos reinos. O termo grego parusia significava a visita do rei a uma região distante da sede do governo para resolver certos problemas administrativos como o abuso de autoridade dos governantes e a prática da iniquidade por parte destes. O aviso de que o rei está sabendo da iniquidade, dava tempo aos culpados para mudar de conduta como também deixava os oprimidos cheios de esperança que o rei lhes fizesse justiça. Nesse sentido, o que Jonas deve anunciar é a parusia do verdadeiro rei do universo sobre um vassalo, o rei de Nínive. De nenhuma forma se trata de um veredicto definitivo do juiz, mas de um aviso para que haja oportunidade de mudança de atitude por parte dos que estão praticando o erro. Não é uma condenação, mas uma boa-notícia o que Jonas deve anunciar” (…) Mais interessante ainda é que “o livro de Jonas chama à conversão, não apenas os ouvintes, mas primeiramente o missionário. De fato, Jonas é, de todos os personagens desse livro, o que mais precisa de conversão. Ele pode ser definido como o desobediente. Aos três imperativos da missão (levanta-te, vai, proclama, Jn 1,2; 3,2) Jonas age em sentido contrário: desce (1,3), foge (1,3), dorme (1,5). Os estrangeiros, tanto os marinheiros quanto os ninivitas, foram mais religiosos, e até o mar, o peixe, a planta, o verme, o vento oriental, todos submetem-se à vontade de Deus. Jonas, ao contrário, mesmo quando parece ser obediente não o é de fato, pois anuncia a mensagem em apenas um dia, quando se levaria três dias para atravessar a cidade. E proclama um conteúdo diferente daquele que lhe foi indicado.” (…) Se Jonas fugiu, não foi “por medo da violência dos ninivitas nem por receio do desconhecido, como poderíamos supor. Para surpresa do leitor, Jonas diz que fugiu porque Deus é misericordioso, lento para a cólera e não faria mal a Nínive (Jn 4,2). Jonas não queria ser mensageiro de Deus porque assim evitaria que os ninivitas usufruíssem da misericórdia divina. Mas já que não conseguiu fugir dessa tarefa, agora preferia morrer a ver a salvação daqueles que considerava ímpios. À revelia disso, o Senhor do céu e da terra ama a totalidade da criação. Essa é uma afirmação revolucionária para a maioria dos judeus contemporâneos do autor do livro de Jonas, pois se o Deus de Israel cuida de todos os seres, povos e nações, qual o lugar de Israel como povo da aliança? Hoje diríamos: qual o privilégio de ser cristão, se Deus ama os ateus, os membros de outras religiões e até mesmo aqueles que maculam sua imagem com o ódio? Isso significa que o povo de Deus deve investir na salvação dos iníquos e não na destruição deles. Os opressores, os violentos, os ímpios conhecerão a misericórdia e a redenção que vem de Deus através dos missionários de boas notícias (…) O final do livro mostra o contraste entre Jonas e Deus: um deseja a morte, o outro, a vida; um quer a destruição, o outro, a salvação. O livro inteiro é uma exortação à conversão e à misericórdia, ambas são indesejáveis a Jonas e ele necessita das duas”.

E nós também.

*A autora é doutora em Teologia Bíblica (2008) pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte, MG.

Resenhas na RBL: 21.08.2010

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

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This Abled Body: Rethinking Disabilities in Biblical Studies
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Joseph Blenkinsopp
Judaism, the First Phase: The Place of Ezra and Nehemiah in the Origins of Judaism
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Political Myth: On the Use and Abuse of Biblical Themes
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Roland Boer and Jorunn Økland, eds.
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Tabularia Hethaeorum: Hethitologische Beiträge: Silvin Kosak zum 65. Geburtstag
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Yet I Loved Jacob: Reclaiming the Biblical Concept of Election
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Silent or Salient Gender? The Interpretation of Gendered God-Language in the Hebrew Bible, Exemplified in Isaiah 42, 46, and 49
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Old Testament Theology: A Thematic Approach
Reviewed by Don Collett

C. Kavin Rowe
World Upside Down: Reading Acts in the Graeco-Roman Age
Reviewed by Rubén Dupertuis

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Resenhas na RBL: 13.08.2010

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Steven L. Bridge
Getting the Old Testament: What It Meant to Them, What It Means for Us
Reviewed by Robert Wallace

Robert R. Cargill
Qumran through (Real) Time: A Virtual Reconstruction of Qumran and the Dead Sea Scrolls
Reviewed by Eibert Tigchelaar

Frances Flannery, Colleen Shantz, and Rodney A. Werline, eds.
Experientia, Volume 1: Inquiry into Religious Experience in Early Judaism and Christianity
Reviewed by David Maas

Greg Schmidt Goering
Wisdom’s Root Revealed: Ben Sira and the Election of Israel
Reviewed by Ibolya Balla

Joel B. Green, ed.
Methods for Luke
Reviewed by Stephan Witetschek

Bernd Janowski, Bernhard Greiner, and Hermann Lichtenberger, eds.
Opfere deinen Sohn! Das ‘Isaak-Opfer’ in Judentum, Christentum und Islam
Reviewed by Paul Sanders

Edith Lubetski and Meir Lubetski, eds.
The Book of Esther: A Classified Bibliography
Reviewed by Mayer I. Gruber

Nathan MacDonald
What Did the Ancient Israelites Eat? Diet in Biblical Times
Reviewed by Raz Kletter

Mark S. Smith and Wayne T. Pitard
The Ugaritic Baal Cycle: Volume 2: Introductioni with Text, Translation and Commentary of KTU/CAT 1.3-1.4
Reviewed by Frank H. Polak

Roger E. Van Harn and Brent A. Strawn
Psalms for Preaching and Worship: A Lectionary Commentary
Reviewed by Hallvard Hagelia

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Biblistas Mineiros publicam a Estudos Bíblicos 107

Recebi ontem o n. 107 da revista Estudos Bíblicos. É o terceiro número de 2010. Tem 108 páginas. E foi elaborada por nosso grupo dos Biblistas Mineiros. Há um artigo meu sobre Jeremias.

O título do número 107: Em qual lugar? Uma reflexão sobre os “lugares” na Bíblia.

O Editorial, assinado por Telmo José Amaral de Figueiredo, explica que lugar aqui é “compreendido como um produto da experiência humana, significando muito mais que o sentido geográfico de localização. Desse modo, lugar não se refere a objetos e atributos das localizações, mas a tipos de experiência e envolvimento com o mundo, à necessidade que o ser humano tem de possuir raízes e segurança, a situação a partir da qual ele se expressa, se comunica”.

São 7 artigos e uma recensão:
:: Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa – Por uma hermenêutica dos tópoi bíblicos
:: Pascal Peuzé – Deus é lugar? Algumas reflexões a partir da Bíblia e da Tradição rabínica
:: Jaldemir Vitório – O lugar do profeta: a fuga não é solução. Uma leitura de 1Rs 19,1-21 – Elias no Horeb
:: Airton José da Silva – Superando obstáculos nas leituras de Jeremias
:: Cássio Murilo Dias da Silva – Universos virtuais bíblicos
:: Neuza Silveira de Souza; Maria de Lourdes Augusta – “O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9,58): Lugar do encontro com Deus para o discípulo-missionário
:: José Luiz Gonzaga do Prado – Os lugares de Paulo: “Para todos eu me fiz de tudo” (1Cor 9,22)

:: Recensão do livro de MARGUERAT, Daniel (org.) Novo Testamento: história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2009, 654 p. – ISBN 9788515036271 – Por Johan Konings.