BALANCIN, E. M.; STORNIOLO, I. Como ler o livro de Jonas: Deus não conhece fronteiras. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1991, 40 p. – ISBN 8534926085
Este pequeno livro faz parte da coleção “Como ler a Bíblia”, da Paulus. Seus autores, Euclides Martins Balancin e Ivo Storniolo, são Mestres em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma.
Na Introdução os autores lembram que o livro de Jonas é considerado um escrito profético por causa de 2Rs 14,25, onde se menciona um profeta da época de Jeroboão II (782/1-753 a.C.) que tem o mesmo nome. Mas o escrito, de tipo sapiencial, é bem posterior, podendo ser situado no pós-exílio, entre os anos 500 e 200 a.C.
No primeiro dos 4 capítulos do livro, Balancin e Ivo dizem que Jonas, recusando a missão de ir a Nínive, faz de tudo para escapar da presença de Javé, dirigindo-se a Társis, direção oposta à cidade assíria. Jonas não aceita a possibilidade de conversão dos inimigos. “Jonas tem um julgamento e um preconceito formado e não admite que Javé possa reverter esse julgamento” (p. 13), agindo com misericórdia em relação aos ninivitas.
Entretanto, sua fuga provoca uma reação de Deus, que, além de Jonas, atingirá também os que com ele se encontram. Os marinheiros do navio no qual está fugindo para Társis, por exemplo, cada um com seu deus e seu projeto, mesmo sendo gentios, respeitam muito mais a vida do que o próprio Jonas, que se declara adorador de Javé, mas prefere morrer a cumprir sua missão.
Os autores concluem: “O primeiro capítulo de Jonas contém já o núcleo de todo o livro: ele mostra que, por bem ou por mal, quer o povo de Deus aceite ou não, a missão profética sempre se realiza (…) Disso tudo, já podemos perceber que a grande novidade deste livro é que com Deus não se brinca”. Mas “o leitor poderia pensar que o acontecido levou Jonas a uma conversão. Engano. Até o fim esta será a pergunta fundamental: Será que Jonas vai se converter?” (p. 16-17).
No segundo capítulo os autores dizem que Jn 2, quando o personagem se encontra no ventre do peixe, contém pormenores evidentemente simbólicos: o mar, que é uma realidade ambígua, é, ao mesmo tempo, uma criatura de Deus e um perigo constante para os que vivem em terra, pois pode invadi-la, levando ao caos de Gn 1,2. Assim, Jonas, jogado ao mar, “volta para o perigo desagregador da morte e do nada” (p. 19).
Já o “grande peixe” (Jn 2,1) bateu recordes de interpretação ao longo da história. Alguns o identificaram com o perigoso Leviatã, entretanto, sua função é positiva, sendo enviado pelo próprio Deus para evitar que Jonas se afogue. Nos evangelhos, como em Mt 12,39-40, o episódio é visto de forma claramente positiva. Por isso, sugerem os autores que aqui temos uma chave para compreender o episódio dentro do livro de Jonas: “O profeta rebelde deve experimentar a morte de suas próprias pretensões egoístas e, ao mesmo tempo, fazer a experiência do Deus que o salva e o traz de novo à vida. Neste caso, o mar e o grande peixe podem, numa simbologia lida psicologicamente, significar a própria interioridade, onde se desenvolve a experiência do divino” (p. 19-20). Em Jn 2 vemos como o profeta passa pela experiência de morte e salvação, “para compreender que o Deus verdadeiro é aquele que dá a vida para todos os que a buscam nele” (p. 20).
Então Jonas se converteu? A continuação do livro vai mostrar que não.
No capítulo terceiro, em Nínive – a grande cidade que simboliza o violento poder opressor do imperialismo – Jonas anuncia sua destruição dentro de quarenta dias. Por que quarenta? Ora, isto não significa provocar angústia diante da iminência do castigo, mas dar um prazo para provocar uma reação que evite o castigo. A leitura de Ez 33 nos ajuda a compreender isso. E acontece a inesperada conversão (Jn 3,8) e o perdão de Deus (Jn 3,10).
No quarto e último capítulo, observamos um Jonas extremamente irritado e descontente com o desfecho do caso. Muitas explicações já foram dadas para isso, mas o cerne da questão está em Jn 4,2: Jonas fugiu, porque sabia que o Deus verdadeiro está sempre protegendo a vida e se dispõe “a dá-la a todos aqueles que a desejarem e para ele se reabrirem” (p. 30). Atitude que Jonas não pode aceitar, porque ele personifica o povo de Deus fechado em seus próprios interesses.
E o livro termina, deixando uma pergunta aberta (Jn 4,11), sempre esperando uma resposta de quem o lê. “Qual será a nossa resposta? E quais seriam as consequências caso ela fosse positiva ou negativa?” (p. 33).