Estudar a Bíblia em textos online e/ou impressos?

Está em andamento na biblioblogosfera uma boa discussão sobre o uso de textos impressos usados pela academia nos estudos bíblicos e as fascinantes possibilidades oferecidas pelo crescente número de textos online.

Acompanhe o debate a partir do NT Blog de Mark Goodacre, observando o marcador textbooks.

E, através dos links por ele citados, como, por exemplo, aqui e aqui, visite os vários biblioblogs que estão tratando do assunto.

Biblioblog Top 50 – Julho de 2010

Esta é a lista dos 50 biblioblogs mais frequentados no mês de julho de 2010:

BiblioBlog Rankings July 2010

Publicada por Jeremy Thompson em Free Old Testament Audio Website Blog.

Posição do Observatório Bíblico:
. junho: 41
. julho: ficou além dos 50. Pela primeira vez.

Einstein e a religião

Opiniões e discussões sobre as crenças religiosas de Albert Einstein sempre reaparecem na imprensa. Tudo o que se refere a Einstein nos fascina.

Mais um texto, que li hoje: Albert Einstein’s Faith: Was the Great Physicist Spiritual? [A fé de Albert Einstein: o grande físico era religioso?] de Krista Tippett. Publicado noAlbert Einstein conhecido site The Huffington Post em 23/07/2010.

Traduzido e reproduzido por Notícias: IHU On-Line – 01/08/2010.

 

A fé de Albert Einstein: o grande físico também era espiritual?

Publicamos aqui um trecho do livro Einstein’s God: Conversations About Science and the Human Spirit [O Deus de Einstein: Conversas sobre ciência e o espírito humano] de Krista Tippett, apresentadora e produtora do programa da TV norte-americana “Speaking of Faith” e jornalista homenageada com o Prêmio Peabody. 

A famosa equação de Albert Einstein, E=mc2, continua sendo difícil para compreender completamente. Mas eu acho que consegui entender alguma coisa do homem – o seu espírito expansivo, sua curiosidade implacável e sua reverência pela beleza e pela ordem da natureza e do pensamento. Eu estava intimidada ao começar, mas pesquisar sobre Einstein foi uma delícia.

E há uma espécie de lógica nisso, assim como o humor foi um dos aspectos da genialidade de Einstein. Freeman Dyson sugere que a sua capacidade de iluminar e rir, mesmo de si mesmo, foi uma das chaves para a magnitude das suas conquistas científicas. A ciência muitas vezes tem a ver com fracasso. O próprio Einstein afirmou que fez tantas descobertas porque não tinha medo de ser contrariado, repetidamente, em seu caminho a todas elas. Mas Einstein também empregou humor ao efeito filosófico e ético, avaliando incisivamente as fraquezas da humanidade.

Einstein mantinha uma fé profunda e sutil, senão tradicional. Eu não reconhecia isso de início. Sempre fui desconfiada da forma como a famosa frase de Einstein, “Deus não joga dados com o universo”, é citada para propósitos amplamente diferentes. Eu queria entender o que Einstein, como físico, queria dizer com isso. Como se verá, esse gracejo em particular tinha mais a ver com a física do que com Deus, como Freeman Dyson e Paul Davies revelam.

Einstein, entretanto, deixou para trás um rico conjunto de reflexão sobre a “mente” e sobre o “espírito superior”, por trás do cosmos, que nunca encontrou seu caminho na consciência popular. Ele não acreditava em um Deus pessoal, que interferia nas leis da física. Mas era fascinado com a engenhosidade dessas leis e manifestou admiração com o próprio fato de sua existência. Ao longo de sua vida, se encantava com tudo aquilo que ainda não podia compreender. Ele estava mais do que contente com aquilo que chamava de “senso religioso cósmico” – animado pelos “indícios” e pela “admiração”, ao invés de respostas e conclusões. Aqui segue uma passagem que se aproxima, penso eu, de uma descrição concisa de Einstein da sua “fé” fundamental:

Um conhecimento da existência de algo que não podemos penetrar, das manifestações da mais profunda razão e da mais radiante beleza – é esse conhecimento e essa emoção que constituem a verdadeira atitude religiosa. Nesse sentido, e apenas nisso, eu sou um homem profundamente religioso. Não posso conceber um Deus que recompensa e castiga suas criaturas, ou que tem uma vontade do tipo que estamos conscientes em nós mesmos… O mistério da eternidade da vida é suficiente para mim, assim como os indícios da maravilhosa estrutura da realidade, junto com o esforço sincero de compreender uma porção, seja ela tão minúscula, da razão que se manifesta em si mesma na natureza.

Com Paul Davies, fui capaz de buscar como Einstein mudou a nossa visão do espaço e principalmente do tempo, um assunto que sempre me intrigou. Antes de Einstein, como Davies descreve, os seres humanos pensavam o espaço e o tempo como fixos e imutáveis, o pano de fundo para o grande espetáculo da vida. Mas agora sabemos que eles são elásticos e entrelaçados, parte do próprio espetáculo. Einstein descreveu a nossa percepção do tempo como uma flecha – atravessando o passado, o presente e o futuro lineares e compartimentados – como uma “ilusão teimosamente persistente”. Essa linguagem é evocativa de um ponto de vista religioso.

Como explica Davies, ela ecoa um insight que perpassa as religiões orientais e ocidentais e as antigas culturas indígenas. Davies encontra uma afinidade entre a visão de Einstein de tempo e a noção religiosa de uma realidade “para além do tempo” e do “eterno”. E porque ele fala como uma pessoa versada nos avanços mais recentes da ciência de Einstein – cosmologia e o Big Bang, buracos negros, até mesmo a busca por vida além desta galáxia –, suas ideias me trazem um peso especial de autoridade e, sim, de admiração.

Deparei-me com muitos trechos sábios e tocantes de escritos do Einstein espiritual enquanto eu preparava estas conversas. Einstein foi um apaixonado escritor de cartas. Ele escreveu aos colegas cientistas, amigos e estranhos. Ele amava responder às cartas dos alunos. Um dos seus correspondentes, durante algum tempo, foi a rainha Isabel da Bélgica. Ele começou uma calorosa amizade com ela e com seu marido, o rei Alberto, pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Em uma época trágica em meio aos já tumultuados tempos políticos, seu marido morreu de repente, assim como sua cunhada. Einstein escreveu a ela:

Sra. Barjansky escreveu-me sobre como o próprio viver gravemente lhe causa sofrimento e sobre como a senhora está estarrecida pelos golpes indescritivelmente dolorosos que lhe têm ocorrido. E, no entanto, não devemos sofrer por aqueles que nos deixaram no auge de suas vidas, após anos felizes e frutíferos de atividades, e que foram privilegiados por realizar em plenitude sua missão em vida.

Há algo que pode refrescar e revivificar as pessoas mais velhas: a alegria pelas atividades da geração mais jovem – uma alegria, na verdade, que é encoberta por pressentimentos sombrios nestes tempos incertos. E, no entanto, como sempre, o sol da primavera traz vida nova, e nós podemos nos regozijar por essa nova vida e contribuir para o seu desenvolvimento. E Mozart continua tão belo e terno como sempre foi e sempre será. Existe, além disso, algo de eterno que está além do alcance do destino e de todas as desilusões humanas. E esse eterno se encontra mais perto de uma pessoa mais velha do que de uma pessoa mais jovem que oscila entre o medo e a esperança. Para nós, resta o privilégio de experimentar a beleza e a verdade em suas formas mais puras.

Eu saí dessas discussões com um novo sentido de Albert Einstein – não apenas como um grande espírito, mas também como um homem sábio. Ele era plenamente humano e imperfeito, certamente, em seus relacionamentos íntimos. Mas era, inegavelmente, original, e não apenas como cientista. Se o passado, o presente e o futuro são uma ilusão, como ele disse, nenhum de nós realmente desaparece. Todos nós deixamos a nossa marca naquilo que “é” agora. Eu tenho um profundo sentimento pela marca de Einstein, e isso me conforta.

Eu suspeito que se ele ficasse sabendo que era o assunto de um programa chamado “Speaking of Faith” [Falando de Fé], mais de 50 anos depois de sua morte, ele faria uma piada engraçada, amável, auto-depreciativa. Mas se ele pudesse ouvir com ouvidos do século XXI, ele poderia ficar intrigado pela forma como o seu senso religioso “cósmico” generoso e questionador é profundamente semelhante aos anseios religiosos e espirituais da nossa época.

Fonte: Dom Total – 01/08/2010

 

Duas observações sobre a tradução, para evitar descaminhos na compreensão:

Onde se lê “Mas era fascinado com a ingenuidade dessas leis e manifestou admiração com o próprio fato de sua existência”, leia-se “engenhosidade”, pois o original inglês diz: “But he was fascinated with the ingenuity of those laws and expressed awe at the very fact of their existence”“Ingenuity” quer dizer “the quality of being cleverly inventive or resourceful; inventiveness” (Webster).

E eu traduziria também, no título, spiritual por religioso, resultando: A fé de Albert Einstein: o grande físico era religioso? O significado do artigo ficaria, assim, mais claro…

E, no meu entender, no texto ainda permanece a confusão entre Fé e Religião, que são conceitos distintos

Leia também meu artigo: Inventando o Universo. Pensar Deus a partir da nova física.