Mês da Bíblia 2010: Jonas, segundo Nelson Kilpp

KILPP, N. Jonas. São Paulo: Loyola, 2008, 120 p. – ISBN 9788515035472

Por Mateus Pereira Martins

Este livro faz parte da coleção “Comentário Bíblico Latino-Americano”, antes publicada pela Vozes, agora pela Loyola. O autor, Nelson Kilpp, é pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB. Doutorou-se em Marburg, na Alemanha, na área de Antigo Testamento. É professor na Escola Superior de Teologia, de São Leopoldo – RS.

Nesta apresentação vou me limitar à Introdução da obra.

O livro de Jonas está entre os Doze Profetas Menores, especificamente entre Abdias e Miquéias. Jonas não é explicitamente designado profeta no livro que leva seu nome, mas 2Rs 14,25 menciona um profeta Jonas, filho de Amati, que atuou no tempo de Jeroboão II. Este Jonas de 2Rs atuou entre os profetas Amós e Miquéias, no entanto, é difícil dizer porque o livro foi colocado após Abdias, que é posterior. Talvez pela temática.

Contudo, a datação do livro de Jonas é incerta, por não trazer nenhum dado histórico exato. O mais correto é que pertença ao fim da época persa. O domínio persa sobre Judá, que começou em 538 a.C., terminou com a chegada de Alexandre Magno, em 332 a.C.

Muitos conhecem Jonas por causa da história do peixe. Mas o que o torna popular é o fato de a história ser fantástica e pelo valor simbólico que teve no decorrer do tempo.

O evangelista Mateus lembra uma discussão de Jesus com escribas e fariseus, que exigiam dele um sinal que legitimasse sua autoridade. Jesus afirma que não seria dado nenhum sinal, além do “sinal do profeta Jonas”.

O texto de Mateus admite três maneiras de entender o sinal de Jonas: a) Deus optou por Jonas para levar os ninivitas ao arrependimento, portanto não é um milagre que salva, mas a decisão que as pessoas tomam; b) um povo estrangeiro torna-se exemplo de arrependimento e conversão, portanto o sinal de Jonas é a aceitação da mensagem de Jesus por parte dos gentios de sua época; c) Mt 12,40 diz que o sinal de Jonas é a estada de Jonas na barriga do peixe por três dias, portanto esta história prefigura a morte e ressurreição de Jesus.

“Esta última variante foi a que mais se desenvolveu na Igreja cristã. Nas primeiras comunidades cristãs, a história de Jonas se havia tornado símbolo do reviver de uma pessoa morta. Durante muitos séculos os cristãos recorriam a este símbolo para expressar sua esperança na ressurreição dos mortos”, diz Nelson Kilpp (p. 10 – edição Vozes).

Há varias interpretações do livro: racionalistas consideram o livro como uma ficção. Ateus usam os exageros do livro para dizer que toda a Bíblia está baseada em mentiras. Fundamentalistas alegam a historicidade do livro, tentando descobrir que tipo de peixe pode engolir e abrigar um homem. Outros afirmam que Jonas é uma alegoria, identificando o personagem com o povo de Israel. Mais recentemente busca-se interpretar o livro com o auxilio da psicologia, partindo “do fato de que o motivo do herói que é engolido por um animal se encontra em várias culturas, tanto antigas quanto modernas (…) Ser engolido e permanecer no ventre do peixe representaria a viagem do herói para dentro de si mesmo em busca de transformação. Desta sua experiência o herói volta transformado e amadurecido, apto a assumir tarefas importantes” (p. 13 – edição Vozes).

Entretanto, o livro apresenta o relato de Jonas em prosa e não em forma poética como é mais comum nos livros proféticos. A única parte poética é a oração que ele faz na barriga do peixe, que é um salmo. Se desconsiderarmos o salmo, veremos que a narrativa tem características de um conto. Este conto tem algumas particularidades. Ao invés de obedecer e ir à Nínive, Jonas foge em direção oposta. Outra característica é a hipérbole ou exagero. O exagero tem a função de chamar a atenção do leitor. Temos o caso da mamoneira, o tamanho da cidade. Todas estas observações indicam que o conto é bem elaborado, quase artístico: é uma novela didática.

Após tratar do contexto histórico em que teria sido escrito o livro de Jonas, o autor vai falar da mensagem do livro. Que é como uma pérola escondida. Está nas entrelinhas. É bom analisarmos alguns aspectos como:

:: O crescimento do texto: o texto de Jonas não foi escrito de uma só vez, pois muitos contribuíram para a formação do livro. Muitos afirmam que o salmo do capítulo 2 foi colocado depois, pois o Jonas do salmo não é o mesmo da narrativa. É piedoso e não está com raiva de Deus.

:: A estrutura do texto e o significado dos nomes dos personagens e das localidades também nos ajudam a entender a sua mensagem.

:: Já as entrelinhas e o uso de palavras-chave mostram que o autor do livro de Jonas quer que ele, Jonas, ou os grupos por ele representados convivam com os outros e participem de uma nova maneira de conviver que inclua também os que não pertencem ao grupo, os que não são israelitas, até mesmo os descendentes dos inimigos e opressores. Aqui está a misericórdia de Deus.

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