Um relato sócio-histórico das origens cristãs

Só agora, com muito atraso, consegui ler um pouco sobre o livro de James G. Crossley, do biblioblog Earliest Christian History, Professor de Origens Cristãs e Judaísmo Antigo na Universidade de Sheffield, Reino Unido.

O livro saiu no ano passado e tenta explicar com o uso da análise sócio-histórica as razões do surgimento do cristianismo.

CROSSLEY, J. G. Why Christianity Happened: A Sociohistorical Account of Christian Origins (26-50 CE). Louisville: Westminster John Knox Press, 2006, xv + 232 p. ISBN 978-0664230944.

 

Diz a editora:

CROSSLEY, J. G. Why Christianity Happened: A Sociohistorical Account of Christian Origins (26-50 CE). Louisville: Westminster John Knox Press, 2006Looking beyond theological narratives and offering a sociological, economic, and historical examination of the spread of earliest Christianity, James Crossley presents a thoroughly secular and causal explanation for why the once law-observant movement within Judaism became the beginnings of a new religion. First analyzing the historiography of the New Testament and stressing the problematic omission of a social scientific account, Crossley applies a socioeconomic lens to the rise of the Jesus movement and the centrality of sinners to his mission. Using macrosociological approaches, he explains how Jesus’ Jewish teachings sparked the shift toward a gentile religion and an international monotheistic trend. Finally, using approaches from conversion studies, he provides a sociohistorical explanation for the rise of the Pauline mission.

A obra de Crossley foi amplamente debatida nos biblioblogs (e para além deles!) no começo deste ano, mas é pouco provável que o leitor brasileiro tenha acompanhado muita coisa deste debate.

Novo livro de Martin Hengel

Está previsto para os próximos meses o lançamento, em alemão, do primeiro volume de uma História do Cristianismo Primitivo por Martin Hengel e Anna Maria Schwemer. A obra completa deverá ter 4 volumes. Este primeiro volume tem por título Jesus e o Judaísmo.

HENGEL, M.; SCHWEMER, A. M. Geschichte des frühen Christentums. Band I: Jesus und das Judentum. Tübingen: Mohr Siebeck, 2007, xxiv + 749 p. – ISBN 9783161493591.
Na página da editora Mohr Siebeck se lê:

Der erste Band dieser auf vier Bände geplanten Geschichte des frühen Christentums umfaßt den Weg und das Wirken Jesu vor dem Hintergrund des zeitgenössischen Judentums in Palästina. Daß die Darstellung Jesu selbst bereits Teil einer solchen Geschichte sein muß, sollte heute nicht mehr bestritten werden. Jesu Wirken und Leiden muß in engem Zusammenhang mit dem palästinischen Judentum und seinen religiös-politischen Gruppen gesehen werden. Bei der Überfülle der Jesusbilder kommt den Vorfragen nach den Quellen und den Kriterien einer historischen Untersuchung besondere Bedeutung zu. Hier ist wesentlich, daß aufgrund der Quellenlage nur “Annäherungen” möglich sind und die historische Gestalt Jesu von sehr verschiedenen Aspekten aus gesehen werden kann. Martin Hengel und Anna Maria Schwemer untersuchen zunächst die galiläische Herkunft Jesu, und behandeln dann weiter das Verhältnis zu Johannes dem Täufer und den historischen Rahmen seines Wirkens. Es folgen die Form seiner Verkündigung sowie deren Inhalt, der von der anbrechenden Gottesherrschaft, dem göttlichen Willen und der Liebe des Vaters bestimmt ist. Weitere Schwerpunkte bilden Jesus als Wundertäter und das umstrittene Problem seines messianischen Anspruchs, der nicht auf die Titelfrage beschränkt werden darf. Am Ende stehen der letzte Kampf in Jerusalem, seine Passion und die Erscheinungen des Auferstandenen.

Sobre os autores:
Hengel, Martin
Geboren 1926; 1959 Promotion; 1967 Habilitation; 1972-92 Professor für Neues Testament und Antikes Judentum in Tübingen, Direktor des Instituts für antikes Judentum und hellenistische Religionsgeschichte in Tübingen; seit 1992 emeritiert.

Schwemer, Anna M.
Geboren 1942; 1994 Promotion; 1997 Habilitation; Privatdozentin in Erlangen und Geschäftsführerin der Philipp-Melanchthon-Stiftung in Tübingen; 2000 Umhabilitation nach Tübingen.

 

Já li dois livros de Martin Hengel sobre judaísmo e helenismo:

:: Judaism and Hellenism: Studies in their Encounter in Palestine during the Early Hellenist Period. Eugene, OR: Wipf and Stock, 2003, 666 p. ISBN 978-1-59244-186-0. Traduzido do original alemão Judentum und Hellenismus [1973], 3. ed. 1988.

:: Ebrei, Greci e Barbari: Aspetti dell’ellenizzazione del giudaismo in epoca precristiana. Traduzido do alemão por Gianfranco Forza. Brescia: Paideia, 1981.

Sei que quando se fala em livro de Martin Hengel é bom a gente prestar atenção! Judaism and Hellenism marcou época.

O documento de Aparecida visto por oito teólogos

Na edição 224 da IHU On-Line, Revista do Instituto Humanitas Unisinos*, de 18 de junho de 2007, foi feita uma análise do documento final da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe.

Foram entrevistados 8 teólogos: Benedito Ferraro, Mário de França Miranda, Faustino Teixeira, Clodovis Boff, João Batista Libânio, Vanildo Zugno, Geraldo Hackmann e Maria Clara Bingemer.

  • Benedito Ferraro: “Surge da V Conferência um rosto indígena e afro-americano da Igreja latino-americana e caribenha”
  • Mário de F. Miranda: “O Documento de Aparecida realça a fé do povo simples como a grande riqueza da América Latina”
  • Faustino Teixeira: Uma reflexão sobre o pluralismo religioso a partir de Aparecida
  • Clodovis Boff: “O Documento de Aparecida é o ponto mais alto do Magistério da Igreja latino-americana e caribenha”
  • João Batista Libânio: “Aparecida significou quase uma surpresa”
  • Vanildo Zugno: O Documento como prova do jeito latino-americano de ser Igreja
  • Geraldo Hackmann: “Da V conferência emerge uma Igreja comprometida com a vida humana, de forma integral”
  • Maria C. Bingemer: “O documento não tem o profetismo e o sopro libertador que caracterizou Medellín e Puebla”

Leia:


Diz o Editorial:

A V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe aconteceu de 13 a 31 de maio, em Aparecida, São Paulo. As conclusões da reunião compõem o Documento Conclusivo da V Conferência, tema de capa da edição desta semana da revista IHU On-Line. O documento ainda não é oficial, pois foi entregue nas mãos do Papa Bento XVI na última segunda-feira, dia 11 de junho de 2007, para aprovação. Enquanto isso não acontece, a IHU On-Line decidiu ouvir teólogos e estudiosos que leram o documento e refletiram sobre os seus pontos principais, com o intuito de projetar os possíveis rumos da Igreja Católica a partir deste evento. Benedito Ferraro, professor na PUC-Campinas, acredita que da V Conferência surge um rosto indígena e afro-americano da Igreja latino-americana e caribenha. Já o jesuíta Mário de França Miranda afirma que o Documento de Aparecida realça a fé do povo simples como a grande riqueza da América Latina. Por sua vez, o teólogo Faustino Teixeira faz uma reflexão sobre o pluralismo religioso a partir de Aparecida. Em sua entrevista, o frei Clodovis Boff afirma que o documento conclusivo da V Conferência “é uma surpresa do Espírito, pois nada deixava prever um texto dessa qualidade. É também um milagre da Mãe Aparecida, a quem o Santo Padre tinha confiado a direção da Assembléia”. Para João Batista Libânio, “Aparecida significou quase uma surpresa”, e o professor Vanildo Zugno vê no Documento final uma prova do jeito latino-americano de ser Igreja. Também contribui com este debate o teólogo Geraldo Hackmann, professor no Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Maria Clara Bingemer igualmente participa da edição com uma entrevista sobre o Documento final da V Conferência.


* Unisinos: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil.

Entrevista do biblioblogueiro Michael Bird

Michael Bird, do biblioblog Euangelion, foi entrevistado por Guy Davies, do blog Exiled Preacher.

Não perca, pois Michael Bird tem uma experiência curiosa de vida: nasceu na Alemanha, foi para o Reino Unido, transferiu-se para a Austrália ainda criança, onde foi paraquedista do exército – (I) spent 13 years in the Australian Army as a paratrooper/intelligence operator – e hoje é professor de Novo Testamento no Highland Theological College in Dingwall, na Escócia.

Gostei muito quando Michael Bird explicou as razões do blogar:
… It is also a great way to think out aloud, disseminate your ideas, share your findings day-to-day, publicise what you’re writing, and keep abreast of what is going on, almost like a real-time link to what is happening in biblical studies.

Ou seja: Um blog é um bom meio para se pensar alto, divulgar idéias, partilhar as descobertas do dia-a-dia, tornar conhecido aquilo que se está escrevendo e manter-se atualizado, como um link em tempo real para o que está acontecendo no mundo dos estudos bíblicos.

Isto é muito próximo daquilo que penso sobre o papel dos biblioblogs e que, com outras palavras, deixei claro em minha entrevista a Jim West, no Biblioblogs.com, em setembro de 2006.

De Michael Bird leia também uma entrevista em Biblioblogs.com, de novembro de 2005.

O Dêutero-Isaías no congresso da IOSOT em 2007

A IOSOT – International Organization for the Study of the Old Testament ou Organização Internacional para o Estudo do Antigo Testamento – foi fundada em 1950 em Leiden, nos Países Baixos, com a finalidade de promover o estudo acadêmico do Antigo Testamento e áreas afins.

O XIX Congresso da IOSOT acontece em Liubliana (Ljubljana), Eslovênia, de 12 a 20 de julho de 2007. Vi os resumos (abstracts) das palestras do Congresso. Há coisas muito interessantes. Para mim, sobretudo as que tratam dos profetas. Jeremias comparece nas discussões!LEMAIRE, A. (ed.) Congress Volume Ljubljana 2007. Leiden: Brill, 2009, xvi + 640 p. - ISBN 9789004179776.

Foi publicado um volume com as principais palestras:

LEMAIRE, A. (ed.) Congress Volume Ljubljana 2007. Leiden: Brill, 2009, xvi + 640 p. – ISBN 9789004179776.

 

Interessou-me, porém, a proposta de Ulrich Berges, da Westfälische Wilhems-Universität Münster, Alemanha, sobre o Dêutero-Isaías.

O autor faz um histórico da identificação deste texto (Is 40-55) e de seu anônimo autor como um profeta do exílio babilônico (586-538 a.C.) desde Döderlein, em 1788, passando por Eichhorn, até chegar a Duhm, em 1892. Sobre isto, escrevi alguma coisa aqui. Sua proposta, contudo, é de que nada no Dêutero-Isaías nos obriga a defender um só autor para o texto, como vem sendo feito desde então. Para ele, é bem mais provável um autoria múltipla destes capítulos: It is not an individual prophet that stands behind these chapters but rather a prophetically inspired group of trained literary craftsmen probably to be linked with exiled temple-singers.

 

A seguir, o abstract de Adeus ao Dêutero-Isaías ou profecia sem um profeta.

Farewell to Deutero-Isaiah or prophecy without a prophet

Until the end of the 18th century the authorship and the authority of Isaiah ben Amoz for the whole of the book of Isaiah were nearly uncontested. The situation changed with Johann Gottfried Döderlein (1746-1792), Johann Gottfried Eichhorn (1752-1827) and especially with Bernhard Duhm (1847-1928). While the first of these reckoned with an anonymous exilic author for the chapters Is 40-66 [40-52 in the case of Eichhorn], the third one promoted and developed that idea by separating chapters 56-66 and by the invention of the artificial names Deutero- and Trito-Isaiah respectively. Whereas the idea of a personality behind Isa 56-66 never reached global acceptance, the invention of a prophetic persona behind Isa 40-55 was accepted to such an extent that it became the general opinion for the last hundred years. Despite some few critics the hypothesis obtained the status of an unchallenged certainty and the anonymous exilic prophet was considered “in persona” as the high point of Hebrew poetry and theology. But the points of criticism remained valid and were never sufficiently answered. Why didn’t the biblical tradition conserve the name of such a prominent figure? If this prophet even died in jail or was martyred (cf. Isa 53), why has that not been remembered by his disciples and followers? If a collective authorship for Isa 56-66 is widely admitted in our time, why isn’t the same acceptable for Isa 40-55? It has to be stressed that no prophetic “I” is found in these chapters. In 40,6 the massoretic text has to be followed and 48,16c is clearly a late addition. The first person singular in the second and third Ebed songs (49,1-6; 50,4-9) can’t be used either to fill this biographical vacuum. There is simply no prophetic persona present who acts by words and deeds but rather the one and only prophetic voice of Isaiah ben Amoz that reverberates in the whole book. The great variety of literary forms in these chapters ought not to be seen as a sign of an originally historical activity of the anonymous prophet, since the literary structure of the individual chapters is much stronger than normally acknowledged. From the point of view of redaction criticism the arguments and criteria for the separation of a deutero-isaianic “Grundschrift” turn out to be so disparate that not even a minor consensus has been achieved. The different proposed “Grundschriften” in fact result in quite different personalities of the anonymous exilic prophet. The alternative solution lies at hand: it is not an individual prophet that stands behind these chapters but rather a prophetically inspired group of trained literary craftsmen probably to be linked with exiled temple-singers. The allusions and connections to the traditions of the Psalms, the book of Lamentation, the priestly stratum, the word-theology of Deuteronomy among others do point in that direction.

Vote Agora – Vote Now

Há uma nova votação em andamento na página de abertura da Ayrton’s Biblical Page. Foi publicada ontem, dia 17 de junho. Participe. São, na verdade, 10 votações diferentes, que aparecem de modo aleatório (Random Mode) cada vez que se (re)carrega a página.

As perguntas são sobre publicações na área de estudos bíblicos e seus autores. Para cada publicação há 7 opções de resposta. Bem, todas estas obras estão citadas e comentadas em minha página.

Eis as perguntas:

  • Os autores de A Bíblia não tinha razão. São Paulo: A Girafa, 2003, são:
  • O autor de Flor sem defesa: uma explicação da Bíblia a partir do povo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, é:
  • O autor de The So-Called Deuteronomistic History: A Sociological, Historical and Literary Introduction. London: T & T Clark, 2006, é:
  • Os autores de Profetas 2v. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2002-2004, são:
  • O autor de Introdução à leitura do Pentateuco: chaves para a interpretação dos cinco primeiros livros da Bíblia. São Paulo: Loyola, 2003, é:
  • O autor de Textos de Qumran: edição fiel e completa dos Documentos do Mar Morto. Petrópolis: Vozes, 1995, é:
  • Os autores de A Grammar of Biblical Hebrew. Rome: Biblical Institute Press, 2006, são:
  • O autor de Gramática do Grego do Novo Testamento I-II. São Paulo: Paulus, 2002, é:
  • O autor de As várias Faces de Jesus. Rio de Janeiro: Record, 2006, é:
  • O autor de Oltre la Bibbia. Storia Antica di Israele. 6. ed. Roma-Bari, Laterza, 2007, é:

Elogiado comentário de Robert Jewett a Romanos

Nem é minha área específica de estudos, mas devo mencionar:

JEWETT, R. Romans: A Commentary. Minneapolis: Fortress, 2006, lxx + 1140 p. ISBN 978-0800660840.

 

Nas resenhas de Friedrich W. Horn e de James D. G. Dunn, publicadas na RBL em 2 de junho de 2007, há elogios rasgados à volumosa obra – parte da conceituada coleção Hermeneia – que representa o resultado de cerca de 20 anos de pesquisa de Robert Jewett.

James D. G. Dunn, da Universidade de Durham, Durham, Reino Unido, grande especialista em Paulo, como sabemos, diz, logo no começo da resenha de 8 páginas:

Robert Jewett’s commentary on Romans is one of the finest to have appeared in modern times. Most commentators follow a similar pattern and, if truth be told, often simply take over source references and cross-references from their predecessors. Indeed, when writing a commentary on a text such as Romans, it can be a wearisome business having to trail through predecessor after predecessor all saying much the same thing, shifting the chairs round the table, and moving the bowl of flowers, but not much else! With Jewett’s commentary, however, one can be sure that nothing is secondhand. In the twenty or so years of working toward this great commentary he has approached the whole and theindividual parts with a freshness that has often produced genuinely new material to help illuminate particular texts and that has brought a fine maturity of judgment to controverted points of exegesis. Even in surveys of earlier views and summaries of particular debates his writing has a sharpness of observation and critique that is never less than a stimulus and pleasure to engage… E termina dizendo: In short, I yield to no one in my admiration for this most admirable commentary.

E Friedrich W. Horn, da Johannes Gutenberg-Universität Mainz, Mainz, Alemanha, termina assim sua resenha:

Die mühsame und langwierige Ausarbeitung in den folgenden mehr als zwei Jahrzehnten hat ein opus magnum zu Wege gebracht. Es ist jetzt hier nicht der Ort, diesem Werk sogleich mit Anfragen und Kritik zu begegnen. Vielmehr soll abschließend der Dank an Robert Jewett ausgesprochen werden, der der zukünftigen Römerbriefauslegung einen kräftigen Impuls vermittelt hat.

Quem é Robert Jewett?
Robert Jewett, Professor of New Testament Interpretation at Garrett Evangelical Theological Seminary (1980 to 2000), is Visiting Professor of New Testament at the University of Heidelberg, Germany.