Pentateuco 2015

 >> Atualizado em 05.01.2016 – 09h30

A disciplina Pentateuco é estudada no segundo semestre do primeiro ano, com carga horária de 4 horas semanais. Tempo que atualmente se tornou curto, pois há uma profunda crise nesta área de estudos, muito semelhante à crise da História de Israel. A teoria clássica das fontes JEDP do Pentateuco, elaborada no século XIX por Hupfeld, Kuenen, Reuss, Graf e, especialmente, Wellhausen, vem sofrendo, desde meados da década de 70 do século XX, sérios abalos, de forma que hoje muitos pesquisadores consideram impossível assumir, sem mais, este modelo como ponto de partida. O consenso wellhauseniano foi rompido, contudo, ainda não se conseguiu um novo consenso e muitas são as propostas hoje existentes para explicar a origem e a formação do Pentateuco.

I. Ementa
Oferece ao aluno um panorama da pesquisa exegética na área da formação e composição dos cinco primeiros livros da Bíblia e estuda os seus principais textos.

II. Objetivos
Familiariza o aluno com as tradições históricas de Israel e com as mais recentes pesquisas na área do Pentateuco para que o uso do texto na prática pastoral possa ser feito de forma consciente.

III. Conteúdo Programático
1. A redação do Pentateuco em três tempos
2. Novos paradigmas no estudo do Pentateuco
3. O Decálogo: Ex 20,1-17 e Dt 5,6-21
4. Códigos do Antigo Oriente Médio
5. O Código da Aliança: Ex 20,22-23,19
6. A criação: Gn 1,1-2,4a e Gn 2,4b-25
7. O pecado em quatro quadros: Gn 3,1-24
8. Caim e Abel: Gn 4,1-26
9. Patriarcas pré-diluvianos – de Adão a Noé: Gn 5,1-28.30-32
10. O dilúvio: Gn 6,5-9,19
11. A cidade e a torre de Babel: Gn 11,1-9
12. As tradições patriarcais: Gn 11,27-37,1
13. A história de José: Gn 37,5-50,26
14. O êxodo do Egito: Ex 1-15

IV. Bibliografia
Básica
MESTERS, C. Paraíso terrestre: saudade ou esperança? 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2012, 176 p. – ISBN 9788532603319.

SCHWANTES, M. Projetos de esperança: meditações sobre Gênesis 1-11. São Paulo: Paulinas, 2009, 144 p. – ISBN 857311844X.

SKA, J.-L. Introdução à leitura do Pentateuco: chaves para a interpretação dos cinco primeiros livros da Bíblia. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2014, 304 p. – ISBN 8515024527.

Complementar
BERLEJUNG, A.; FREVEL, C. (orgs.) Dicionário de termos teológicos fundamentais do Antigo e do Novo Testamento. São Paulo: Loyola/Paulus, 2011, 536 p. – ISBN 9788515037872

BLENKINSOPP, J. Creation, Un-creation, Re-creation: A Discursive Commentary on Genesis 1–11. London: Bloomsbury T. & T. Clark, 2011, xii + 214 p. – ISBN 9780567372871.

BRIEND, J. (org.) A criação e o dilúvio segundo os textos do Oriente Médio Antigo. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1990, 128 p. – ISBN 850501118X.

BOUZON, E. Uma coleção de direito babilônico pré-hammurabiano: leis do reino de Eshnunna. Petrópolis: Vozes, 2001, 208 p. – ISBN 8532624839.

BOUZON, E. O Código de Hammurabi. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2003, 240 p. – ISBN 8532607780.

CRÜSEMANN, F. A Torá. Teologia e História Social da Lei do Antigo Testamento. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2008, 599 p. – ISBN 8532623603.

CRÜSEMANN, F. Preservação da Liberdade: O Decálogo numa Perspectiva Histórico-Social. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal/EST/CEBI, 2008, 88 p. – ISBN 8523304002.

DA SILVA, A. J. O Pentateuco e a História de Israel. In: Teologia na pós-modernidade. Abordagens epistemológica, sistemática e teórico-prática. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 173-215. – ISBN 853561110X

DA SILVA, A. J. Pequena bibliografia sobre o Livro do Êxodo, o Pentateuco e o Êxodo do Egito. Observatório Bíblico: 19 de julho de 2011.

DE PURY, A. (org.) O Pentateuco em questão: as origens e a composição dos cinco primeiros livros da Bíblia à luz das pesquisas recentes. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2002, 324 p. – ISBN 8532615899.

DOZEMAN, T. B. (ed.) Methods for Exodus. Cambridge: Cambridge University Press, 2010, xiv + 254 p. – ISBN 9780521710015.

DOZEMAN, T. B.; SCHMID, K. (eds.) A Farewell to the Yahwist? The Composition of the Pentateuch in Recent European Interpretation. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2006, viii + 198 p. – ISBN 9781589831636. Disponível online.

DOZEMAN, T. B.; SCHMID, K.; SCHWARTZ, B. J. (eds.) The Pentateuch: International Perspectives on Current Research.Tübingen: Mohr Siebeck, 2011, xviii + 578 p. – ISBN 9783161506130.

GARCÍA LÓPEZ, F. O Pentateuco. São Paulo: Ave-Maria, 2009, 328 p. – ISBN 8527610574.

GRUEN, W. et al. Os dez mandamentos: várias leituras. 2. ed. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 9, 1987.

GERSTENBERGER, E. et al. A Lei. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 51, 1996.

MESTERS, C. Bíblia, livro da aliança. 7. ed. São Paulo: Paulus, 1997, 40 p. – ISBN 853490667X.

PIXLEY, G. V. Êxodo. São Paulo: Paulus, 1987. Disponível online, no original espanhol.

SCHWANTES, M. et al. A memória popular do êxodo. 2. ed. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 16, 1996.

SCHWANTES, M. et al. Pentateuco. RIBLA, Petrópolis/São Leopoldo, n. 23, 1996/1. Disponível online.

STORNIOLO, I. Mandamentos, ontem e hoje (Entrevista com Pe. Ivo Storniolo). Vida Pastoral, São Paulo, n. 149 , p. 27-29, nov./dez. 1989. Disponível online.

STORNIOLO, I. Como ler o livro do Levítico: a formação de um povo santo. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1997, 72 p. – ISBN 8534906378.

STORNIOLO, I. A cidade e sua torre: bênção ou castigo? Vida Pastoral, São Paulo, n. 152 , p. 2-7, maio/junho 1990.

VAN SETERS, J. The Pentateuch: A Social-Science Commentary. 2. ed. London: Bloomsbury T & T Clark, 2015, 224 p. – ISBN 9780567658791.

Leia Mais:
Preparando meus programas de aula para 2015
História de Israel 2015
Língua Hebraica Bíblica 2015
Literatura Deuteronomista 2015
Literatura Profética 2015
Literatura Pós-Exílica 2015

Língua Hebraica Bíblica 2015

 >> Atualizado em 05.01.2016 – 14h00

O curso de Língua Hebraica Bíblica compreende apenas 45 horas no segundo semestre do primeiro ano de Teologia. É um tempo insuficiente mesmo para a aprendizagem elementar do hebraico bíblico. Por isso – utilizando recursos de audição do hebraico, imagens gif que mostram a construção do alfabeto, somados à distribuição de CDs com o aplicativo e vários outros recursos disponíveis na internet – o curso se propõe apenas familiarizar o estudante de Teologia com o universo da língua hebraica e o modo semítico de pensar. No transcorrer das aulas os três itens principais – ouvir, ler e escrever – são trabalhados simultaneamente e não sequencialmente. Este curso está disponível para download na Ayrton’s Biblical Page > Hebraico.

I. Ementa
Introdução elementar à língua hebraica bíblica, que parte de um texto específico, Gn 1,1-8, e trabalha com os elementos de ortoépia (pronúncia normal e correta dos sons), ortografia (escrita correta das palavras) e etimologia (formação das palavras e suas flexões) encontrados neste pequeno trecho. O método escolhido foi o de ouvir, ler e escrever a língua hebraica. Informações complementares sobre a história da língua e análise do vocabulário de Gn 1,1-8 também são oferecidas.

II. Objetivos
Trabalha conceitos semíticos importantes para a compreensão do texto bíblico vétero-testamentário.

III. Conteúdo Programático
História
O hebraico é uma língua semítica. As línguas semíticas constituem um ramo da grande família das línguas afro-asiáticas, anteriormente chamada camito-semítica. A família afro-asiática compreende seis ramos: semítico, egípcio, berbere, cuxita, homótico e chádico. Nesta seção o hebraico é situado no grande quadro das línguas semíticas e tenta-se, em seguida, esboçar uma rápida história da língua hebraica, salientando suas características específicas.

  • Línguas Semíticas
  • Hebraico

1. Ouvir
Ouvir repetidamente o hebraico. Até o ouvido se acostumar com os sons estranhos. Não há aqui a preocupação em entender. O objetivo é fixar a atenção nos sons e acompanhar o texto de cada versículo, palavra por palavra. Até começar a distinguir onde está o leitor, no caso o cantor.

  • Ouvir Gn 1,1-8

2. Ler
Nesta seção o objetivo é tentar ler o hebraico. Está disponível, para cada versículo de Gn 1,1-8, a pronúncia e a transliteração. A pronúncia está bem simplificada, somente chamando a atenção para as tônicas, sem dizer se o som da vogal é aberto ou fechado. Já a transliteração, representação dos caracteres hebraicos em caracteres latinos, é uma coisa complicada e tem que ser detalhada. Há transliteração de cada palavra, e também de cada consoante, vogal e semivogal (shevá, em hebraico). É algo trabalhoso e parece desnecessário, mas o estudante de hebraico tem que se acostumar com a ideia de que o som da língua nada, ou quase nada, tem a ver com o português! O hebraico tem suas próprias características. E a transliteração o ajuda a perceber isso.

  • Ler Gn 1,1-8
  • O Alfabeto

3. Escrever
Escrever o hebraico… parece ruim, mas é necessário! Nesta seção o estudante vai aprender algumas regras básicas da gramática hebraica. Regras que permitirão uma escrita mínima de palavras e expressões. Mas a gramática é muito mais do que isto que aí está. Para isso existe uma bibliografia com gramáticas, vocabulários, dicionários… E há revisões. Uma para cada versículo. As revisões ajudarão o estudante de hebraico verificar o seu nível de absorção do ouvir, do ler e do escrever. Poderão servir igualmente para as avaliações da disciplina.

  • As Sílabas
  • O Shevá
  • O Dâghesh
  • Revisão I
  • Vav Conjuntivo
  • O Artigo
  • As Preposições
  • Revisão II
  • O Substantivo
  • Revisão III
  • O Adjetivo
  • Os Numerais
  • Revisão IV
  • O Verbo I
  • Revisão V
  • O Verbo II
  • Vav Consecutivo
  • Revisão VI
  • O Verbo III
  • Revisão VII

Vocabulário
Nesta seção o que se pretende é analisar o vocabulário de Gn 1,1-8 no seu contexto. Serve, entre outras coisas, como preparação para o estudo de uma parcela (mínima, mas importante) do Pentateuco, que é estudado no mesmo semestre.

IV. Bibliografia
Básica
DA SILVA, A. J. Noções de hebraico bíblico. Aplicativo em linguagem html. Brodowski, 2001. Revisto e atualizado em 11.06.2015.

BUSHELL, M. BibleWorks 10. Norfolk, VA: BibleWorks, 2015.

Complementar
ELLIGER, K.; RUDOLPH, W. Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, [1967/1977], 1997, lviii + 1574 p. – ISBN 9783438052193. A BHS pode ser encontrada e adquirida no site SBB pontocom > Edições Acadêmicas > Línguas Originais. Disponível também online gratuitamente.

FARFÁN NAVARRO, E. Gramática do hebraico bíblico. São Paulo: Loyola, 2010, 192 p. – ISBN 9788515037445.

KALTNER, J.; MCKENZIE, S. L. (eds.) Beyond Babel: A Handbook for Biblical Hebrew and Related Languages. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2002. Disponível online.

KELLEY, P. H. Hebraico Bíblico: uma Gramática Introdutória. 9. ed. ampliada. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2013 (?).

KIRST, N. et alii Dicionário Hebraico-Português e Aramaico-Português. 30. ed. São Leopoldo/Petrópolis: Sinodal/Vozes, 2015, 305 p. – ISBN 8523301305.

LAMBDIN, T. O. Gramática do Hebraico Bíblico. São Paulo: Paulus, 2003 [3. reimpressão: 2013], 398 p. – ISBN 8534920931.

MENDES, P. Noções de Hebraico Bíblico. Texto Programado. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011, 192 p. – ISBN 9788527504584.

MITCHEL, L. A.; OSVALDO C. PINTO, C.; METZGER, B. M. Pequeno dicionário de línguas bíblicas: hebraico e grego. São Paulo: Vida Nova, 2003, 312 p. – ISBN 8527502879.

ORTIZ, P. Dicionário do hebraico e aramaico bíblicos. São Paulo: Loyola, 2010, 176 p. – ISBN 9788515018970.

SAYÃO, L. (ed.) Antigo Testamento Poliglota. São Paulo: Vida Nova, 2003, 1952 p. – ISBN 8527503018.

SCHÖKEL, L. A. Dicionário Bíblico Hebraico-Português. 8. ed. São Paulo: Paulus, 1997 [6. reimpressão: 2014], 798 p. – ISBN 8534910464.

Leia Mais:
Preparando meus programas de aula para 2015
História de Israel 2015
Pentateuco 2015
Literatura Deuteronomista 2015
Literatura Profética 2015
Literatura Pós-Exílica 2015

Resenhas na RBL – 09.01.2015

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Andrew T. Abernethy, Mark G. Brett, Tim Bulkeley, and Tim Meadowcroft, eds.
Isaiah and Imperial Context: The Book of Isaiah in the Times of Empire
Reviewed by Alan J. Hauser

Bernard F. Batto
In the Beginning: Essays on Creation Motifs in the Bible and the Ancient Near East
Reviewed by Thomas Wagner

Moshe J. Bernstein
Reading and Re-reading Scripture at Qumran
Reviewed by Carol A. Newsom

Stefan Gehrig
Leserlenkung und Grenzen der Interpretation: Ein Beitrag zur Rezeptionsästhetik am Beispiel des Ezechielbuches
Reviewed by Sven Petry

Willa M. Johnson
The Holy Seed Has Been Defiled: The Interethnic Marriage Dilemma in Ezra 9–10
Reviewed by Nasili Vaka’uta

Luise Schottroff
Der erste Brief an die Gemeinde in Korinth
Reviewed by H. H. Drake Williams III

Jens Schröter and Jürgen K. Zangenberg, eds.
Texte zur Umwelt des Neuen Testaments
Reviewed by Pieter van der Horst

Todd D. Still and David E. Wilhite, eds.
Tertullian and Paul
Reviewed by Judith M. Lieu

Anthony C. Thiselton
The Holy Spirit—In Biblical Teaching, through the Centuries, and Today
Reviewed by Cornelis Bennema
Reviewed by Chris L. de Wet

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Resenhas na RBL – 06.01.2015

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Thomas M. Bolin
Ezra, Nehemiah
Reviewed by Bryan J. Cook

Rosemary Canavan
Clothing the Body of Christ at Colossae: A Visual Construction of Identity
Reviewed by Scott D. Charlesworth

Aaron Chalmers
Exploring the Religion of Ancient Israel: Prophet, Priest, Sage and People
Reviewed by Bob Becking

Gregor Geiger
Das hebräische Partizip in den Texten aus der judäischen Wüste
Reviewed by Samuel Arnet

Gary A. Knoppers
Jews and Samaritans: The Origins and History of Their Early Relations
Reviewed by Jürgen Zangenberg

Hermann Lichtenberger, ed.
Martin Hengels “Zeloten”: Ihre Bedeutung im Licht von fünfzig Jahren Forschungsgeschichte
Reviewed by M. Eugene Boring

Gerry Schoberg
Perspectives of Jesus in the Writings of Paul: A Historical Examination of Shared Core Commitments with a View to Determining the Extent of Paul’s Dependence on Jesus
Reviewed by John Paul Heil

F. Scott Spencer
Salty Wives, Spirited Mothers, and Savvy Widows: Capable Women of Purpose and Persistence in Luke’s Gospel
Reviewed by Susanne Luther

R. Alan Streett
Subversive Meals: An Analysis of the Lord’s Supper under Roman Domination during the First Century
Reviewed by Peter-Ben Smit

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História de Israel 2015

Este curso de História de Israel compreende 4 horas semanais, com duração de um semestre, o primeiro dos oito semestres do curso de Teologia. Aos alunos são distribuídos um roteiro impresso do curso e um CD com os roteiros de todas as minhas disciplinas do ano em curso. Os sistemas de avaliação e aprendizagem seguem as normas da Faculdade e são, dentro do espaço permitido, combinados com os alunos no começo do curso.

I. Ementa
Discute com o aluno os elementos necessários para uma compreensão global e essencial da história econômica, política e social do povo israelita, como base para um aprofundamento maior da história teológica desse povo. Possibilita ao aluno uma reflexão séria sobre o processo histórico de Israel desde suas origens até o século I d.C.

II. Objetivos
Oferece ao aluno um quadro coerente da História de Israel e discute as tendências atuais da pesquisa na área. Constrói uma base de conhecimentos histórico-sociais necessários ao aluno para que possa situar no seu contexto a literatura bíblica veterotestamentária produzida no período.

III. Conteúdo Programático
1. Noções de geografia do Antigo Oriente Médio
:: O crescente fértil
:: A Mesopotâmia
:: O Egito
:: A Síria e a Fenícia
:: A Palestina

2. As origens de Israel
:: A teoria da conquista
:: A teoria da instalação pacífica
:: A teoria da revolta
:: A teoria da evolução pacífica e gradual

3. Os governos de Saul, Davi e Salomão
:: Nascimento e morte da monarquia a partir dos textos bíblicos
:: A ruptura do consenso
:: As fontes: seu peso, seu uso
:: Dois exemplos de fontes primárias: as estelas de Tel Dan e de Merneptah
:: A questão teórica: como nasce um Estado antigo?
:: As soluções de Lemche e de Finkelstein & Silberman

4. O reino de Israel
:: Israel de Jeroboão I a Jeroboão II
:: Israel é destruído pela Assíria
:: As conclusões de Finkelstein & Silberman

5. O reino de Judá
:: Os reis de Judá
:: A reforma de Ezequias e a invasão de Senaquerib
:: A reforma de Josias e o Deuteronômio
:: Os últimos dias de Judá
:: Por que Judá caiu?

6. A época persa e as conquistas de Alexandre
:: A situação da Grécia e a política macedônia
:: As conquistas de Alexandre Magno (356-323 a.C.)
:: Quem é Alexandre Magno?
:: A anexação da Judeia por Alexandre
:: A situação da Judeia no momento da anexação

7. Os Ptolomeus governam a Palestina
:: Os diádocos lutam pela herança de Alexandre
:: A situação da Palestina de 323 a 301 a.C.
:: As guerras sírias entre Ptolomeus e Selêucidas
:: Alexandria e os judeus
:: O governo dos Ptolomeus
:: A administração ptolomaica da Palestina

8. Os Selêucidas: a helenização da Palestina
:: O governo de Antíoco III, o Grande
:: Antíoco IV e a proibição do judaísmo
:: As causas da helenização

9. Os Macabeus I: a resistência
:: Matatias e o começo da revolta
:: A luta de Judas Macabeu (166-160 a.C.)
:: Jônatas, o primeiro Sumo Sacerdote Macabeu (160-143 a.C.)

10. Os Macabeus II: a independência
:: Simão consegue a independência da Judeia
:: João Hircano I e as divisões internas dos judeus
:: Aristóbulo I e a reaproximação com o helenismo
:: Alexandre Janeu, o primeiro rei macabeu
:: Salomé Alexandra e o poder dos fariseus
:: Aristóbulo II e a intervenção de Pompeu

11. O domínio romano
:: A “”pax romana” chega a Jerusalém
:: O sistema socioeconômico da Palestina

IV. Bibliografia
Básica
FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N. A. A Bíblia não tinha razão. São Paulo: A Girafa, 2003, 515 p. – ISBN 8589876187.

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: história antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008, 544 p. – ISBN 9788515035557.

PIXLEY, J. A História de Israel a partir dos pobres. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2013, 136 p. – ISBN 9788532602824.

Complementar
BERQUIST, J. L. (ed.)  Approaching Yehud: New Approaches to the Study of the Persian Period. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2007, ix + 249 p. – ISBN 9781589831452. Disponível online.

COOTE, R. B.; WHITELAM, K. W. The Emergence of Early Israel in Historical Perspective. Sheffield: Sheffield Phoenix Press, 2010, 220 p. – ISBN 9781906055455.

CURTIS, A. Oxford Bible Atlas. 4. ed. New York: Oxford University Press, 2007, 224 p. – ISBN 9780191001581.

DA SILVA, A. J. A História Antiga de Israel no Brasil: três opiniões. Acesso em: 23 janeiro 2015.

DA SILVA, A. J. A história de Israel na pesquisa atual. In: História de Israel e as pesquisas mais recentes. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 43-87 – ISBN 8532628281.

DA SILVA, A. J. A história de Israel na pesquisa atual. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 71, p. 62-74, 2001.

DA SILVA, A. J. A história de Israel no debate atual. Acesso em: 23 janeiro 2015.

DA SILVA, A. J. A origem dos antigos Estados israelitas. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 78, p. 18-31, 2003.

DA SILVA, A. J. História de Israel. Acesso em: 04 janeiro 2016.

DA SILVA, A. J. O Pentateuco e a História de Israel. In: Teologia na pós-modernidade. Abordagens epistemológica, sistemática e teórico-prática. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 173-215. – ISBN 853561110X

DA SILVA. A. J. Os essênios: a racionalização da solidariedade. Acesso em: 23 janeiro 2015.

DA SILVA, A. J. Pode uma ‘história de Israel’ ser escrita? Observando o debate atual sobre a história de Israel. Acesso em: 23 janeiro 2015.

DA SILVA, A. J. Religião e formação de classes na antiga Judeia. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 120, p. 413-434, 2013.

DA SILVA, A. J. The History of Israel in the Current Research. Journal of Biblical Studies 1:2, Apr.-Jun. 2001. Acesso em: 23 janeiro 2015.

DAVIES, P. R. In Search of ‘Ancient Israel’. 2. ed. London: Bloomsbury T & T Clark, [1992] 2015, 166 p. – ISBN 9781850757375.

DONNER, H. História de Israel e dos povos vizinhos. 2v. 6. ed. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2014, 540 p. Vol 1: ISBN 9788562865244; Vol. 2: ISBN 9788562865411.

FINKELSTEIN, I. O reino esquecido: arqueologia e história de Israel Norte. São Paulo: Paulus, 2015, 232 p. – ISBN 9788534942393.

FINKELSTEIN, I. The Forgotten Kingdom: The Archaeology and History of Northern Israel. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2013, 210 p. – ISBN 9781589839106. Disponível online.

FINKELSTEIN, I.; MAZAR, A. The Quest for the Historical Israel: Debating Archaeology and the History of Early Israel. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2007, 220 p. – ISBN 9781589832770. Disponível online.

FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N. A. David and Solomon: In Search of the Bible’s Sacred Kings and the Roots of the Western Tradition. New York: The Free Press, 2007, 352 p. – ISBN 9780743243636.

GERSTENBERGER, E. S. Israel no tempo dos persas: Séculos V e IV antes de Cristo. São Paulo: Loyola, 2014, 552 p. – ISBN 9788515040759.

GOTTWALD, N. K. As Tribos de Iahweh: Uma Sociologia da Religião de Israel Liberto, 1250-1050 a.C. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004, 939 p. – ISBN 8534922330.

GRABBE, L. L. A History of the Jews and Judaism in the Second Temple Period: Vol 1, A History of the Persian Province of Judah. London: Bloomsbury T. & T. Clark, 2006, 496 p. – ISBN 0567043525.

GRABBE, L. L. A History of the Jews and Judaism in the Second Temple Period: Vol. 2, The Coming of the Greeks, the Early Hellenistic Period 335-175 BCE. London: Bloomsbury T. & T. Clark, 2011, 458 p. – ISBN 9780567541192.

GRABBE, L. L. Ancient Israel: What Do We Know and How Do We Know It? London: Bloomsbury T. & T. Clark, 2007, 328 p. – ISBN 9780567032546.

HORSLEY, R. A. Arqueologia, história e sociedade na Galileia: o contexto social de Jesus e dos Rabis. São Paulo: Paulus, 2000 [reimpressão: 2012], 196 p. – ISBN 8534915679.

HORSLEY, R. A. Jesus e a espiral da violência: Resistência judaica popular na Palestina Romana. São Paulo: Paulus, 2010, 304 p. – ISBN 9788534926355.

KAEFER, J. A. A Bíblia, a arqueologia e a história de Israel e Judá. São Paulo: Paulus, 2015, 112 p. – ISBN 9788534941549.

KAEFER, J. A. Arqueologia das terras da Bíblia. São Paulo: Paulus, 2012, 96 p. – ISBN 9788534933773.

KESSLER, R. História social do antigo Israel. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2010, 304 p. – ISBN 9788535625295.

KIPPENBERG, H. G. Religião e formação de classes na antiga Judeia: estudo sociorreligioso sobre a relação entre tradição e evolução social. São Paulo: Paulus, 1997, 184 p. – ISBN 8505006798.

LOWERY, R. H. Os reis reformadores: culto e sociedade no Judá do Primeiro Templo. São Paulo: Paulinas, 2012, 351 p. – ISBN 8535612912.

MAZAR, A. Arqueologia na terra da Bíblia: 10.000 – 586 a.C. São Paulo: Paulinas, 2012, 558 p. – ISBN 8535610316.

MOORE, M. Philosophy and Practice in Writing a History of Ancient Israel. London: Bloomsbury T & T Clark, 2006, x + 205 p. – ISBN 9780567029812.

MOREGENZTERN, I.; RAGOBERT, T. A Bíblia e seu tempo – um olhar arqueológico sobre o Antigo Testamento. 2 DVDs. Documentário baseado no livro The Bible Unearthed [A Bíblia não tinha razão], de Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman. São Paulo: História Viva – Duetto Editorial, 2007.

PFOH, E. The Emergence of Israel in Ancient Palestine: Historical and Anthropological Perspectives. Abingdon: Routledge, 2009, 236 p. – ISBN 9781845535292.

SCHWANTES, M. História de Israel: local e origens. 3. ed. São Leopoldo: Oikos, 2008, 141 p. – ISBN 9788589732963.

STEGEMANN, W. Jesus e seu tempo. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2013, 576 p. – ISBN 9788562865886.

VAN SETERS, J. Em Busca da História: Historiografia no Mundo Antigo e as Origens da História Bíblica. São Paulo: EDUSP, 2008, 400 p. – ISBN 8531411017.

WILLIAMSON, H. G. M. (ed.), Understanding the History of Ancient Israel. Oxford: Oxford University Press, 2007, 452 p. – ISBN 9780197264010.

ZABATIERO, J. P. T. Uma história cultural de Israel. São Paulo: Paulus, 2013, 296 p. – ISBN 9788534937597.

Leia Mais:
Preparando meus programas de aula para 2015
Língua Hebraica Bíblica 2015
Pentateuco 2015
Literatura Deuteronomista 2015
Literatura Profética 2015
Literatura Pós-Exílica 2015

Preparando meus programas de aula para 2015

Estou, nestes dias, preparando meus programas de aula de Bíblia para 2015. Começo a publicá-los no Observatório Bíblico. A intenção é de que possam servir, para além de meus alunos, a outras pessoas que, eventualmente, queiram ter uma noção de como se estuda a Bíblia em determinadas Faculdades de Teologia. Ou, pelo menos, parte da Bíblia, porque posso expor apenas os programas das disciplinas que leciono. Tomo aqui como referência o currículo do CEARP, onde trabalho. Já fiz isso em 2006, 2009, 2011 e 2013, mas a bibliografia vai mudando: livros novos, livros esgotados, links quebrados…

Quatro elementos serão levados em conta, em uma leitura da Bíblia que eu chamaria de sócio-histórica-redacional:

:: contextos da época bíblica
:: produção dos textos bíblicos
:: contextos atuais
:: leitores atuais dos textos

O sentido da Escritura, segundo este modelo, não está nem no nível dos contextos da época bíblica e/ou dos contextos atuais, nem no nível dos textos bíblicos ou da vivência dos leitores, mas na articulação que se forma entre a relação dos textos bíblicos com os seus contextos, por um lado, e entre os leitores atuais e seus contextos específicos.

Ou seja: “Da Escritura não se esperam fórmulas a ‘copiar’, ou técnicas a ‘aplicar’. O que ela pode nos oferecer é antes algo como orientações, modelos, tipos, diretivas, princípios, inspirações, enfim, elementos que nos permitam adquirir, por nós mesmos, uma ‘competência hermenêutica’, dando-nos a possibilidade de julgar por nós mesmos, ‘segundo o senso do Cristo’, ou ‘de acordo com o Espírito’, das situações novas e imprevistas com as quais somos continuamente confrontados. As Escrituras cristãs não nos oferecem um was, mas um wie: uma maneira, um estilo, um espírito. Tal comportamento hermenêutico se situa a igual distância tanto da metafísica do sentido (positivismo) quanto da pletora das significações (biscateação). Ele nos dá a chance de jogar a sério o círculo hermenêutico, pois que é somente neste e por este jogo que o sentido pode despertar” explica BOFF, C. Teologia e Prática: Teologia do Político e suas mediações. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 266-267.

As disciplinas de Bíblia no curso de graduação em Teologia podem, segundo este modelo, ser classificadas em três áreas:

1. Disciplinas Contextuais:
:: História de Israel (alternativa: História da época do Antigo Testamento e História da época do Novo Testamento)

2. Disciplinas Instrumentais:
:: Introdução à S. Escritura (alternativa: Métodos de leitura dos textos bíblicos)
:: Língua Hebraica Bíblica
:: Língua Grega Bíblica

3. Disciplinas Exegéticas:
:: Pentateuco
:: Literatura Profética
:: Literatura Deuteronomista
:: Literatura Sapiencial
:: Literatura Pós-Exílica
:: Literatura Sinótica e Atos
:: Literatura Paulina
:: Literatura Joanina
:: Apocalipse

——————————–
Destas disciplinas, leciono:

No primeiro semestre:
:: História de Israel: 4 hs/sem.
:: Literatura Profética: 4 hs/sem.
:: Literatura Deuteronomista: 2 hs/sem.

No segundo semestre:
:: Língua Hebraica Bíblica: 3 hs/sem.
:: Pentateuco: 4 hs/sem.
:: Literatura Pós-Exílica: 4 hs/sem.

Leia Mais:
História de Israel 2015
Língua Hebraica Bíblica 2015
Pentateuco 2015
Literatura Deuteronomista 2015
Literatura Profética 2015
Literatura Pós-Exílica 2015

Ainda algumas fotos: Alagoas e Patos

A fazenda de papai fica perto de Alagoas, distrito de Patos de Minas.

Capela de Alagoas, distrito de Patos de Minas
Capela de Alagoas, distrito de Patos de Minas
Capela de Alagoas em 17.01.2015
Capela de Alagoas em 17.01.2015
Túmulo de minha avó materna no cemitério de Alagoas
Túmulo de minha avó materna no cemitério de Alagoas
Catedral de Patos de Minas
Catedral de Patos de Minas
Ao fundo, a Catedral em 15.01.2015
Ao fundo, a Catedral em 15.01.2015
Fogão de lenha na casa de meu irmão Geraldo
Fogão de lenha na casa de meu irmão Geraldo

 

Mais fotos dos 91 anos de José Nicolau

No dia 16 fomos à fazenda do tio Tonico, que foi de meu avô Antônio Nicolau, passando pela Serra do Jatobá, de onde é possível ver, além de Patos de Minas, mais algumas cidades da região.

Na Serra, fazenda do tio Tonico
Na Serra, fazenda do tio Tonico
Na Serra em 16 de janeiro de 2015
Na Serra em 16 de janeiro de 2015
No alto da Serra
No alto da Serra
Patos de Minas está no alto, à esquerda
Patos de Minas está no alto, à esquerda
Ainda na Serra em 16.01.2015
Ainda na Serra em 16.01.2015

 

Na fazenda do tio Tonico
Na fazenda do tio Tonico
Na fazenda do tio Tonico em 16.01.2015
Na fazenda do tio Tonico em 16.01.2015
Na casa de tio Tonico em 16.01.2015
Na casa de tio Tonico em 16.01.2015

 

José Nicolau, meu pai: 91 anos

No dia 16 deste mês de janeiro, José Mariano da Silva, meu pai, mais conhecido como José Nicolau, ou “seo” Zé Nicolau, completou 91 anos de vida.

Cerca de 40 pessoas da família estiveram, no dia 17, na casa de papai para comemorar seu aniversário. Rita e eu chegamos a Patos de Minas no dia 15 e ficamos até dia 18.

Parabéns, papai, por seus 91 anos de vida.

Algumas fotos [veja também a comemoração dos 90 anos]:

 

José Nicolau com seus 9 filhos

José Nicolau com noras e genro

José Nicolau com seus 12 netos

José Nicolau com suas bisnetas

Papai, eu e… uma sanfona

Com papai e tio Tonico (Antônio Mariano)

Com Papai e Dindinho (tio Clóvis)

 

Andando na fazenda do papai

Marcos: um relato da prática de Jesus

Leia primeiro aqui.

Este é um texto mais curto do que o anterior e em linguagem mais simples, que foi preparado em 1981 para ser usado pelo Serviço de Pastoral Litúrgica da Arquidiocese de Ribeirão Preto em 1982 e que fez parte do Projeto Marcos, um conjunto de atividades pastorais tendo o evangelho de Marcos como centro. O projeto foi estudado na reunião do clero em setembro, em Brodowski, e aprovado na reunião da Coordenação de Pastoral no dia 16 de setembro de 1981 com a presença do arcebispo Dom Bernardo José Miele. O texto da revista Estudos Bíblicos da postagem anterior é mais longo e a abordagem mais acadêmica, mas neste aqui a proposta de leitura de Marcos é a mesma.

Chegar em Marcos de que lado? Geralmente a gente começa pelo autor, data e lugar  em que o livro foi escrito, e as pessoas para quem o autor escreveu. Só depois é que se vai ao texto. 


Vamos percorrer outro caminho. Não é atalho não. Talvez seja até mesmo dar volta. Mas deve valer a pena. Vamos começar pelo texto. Depois que compreendermos o texto e a maneira como foi criado, vamos compreender o resto. É uma proposta.

1. Narrando um prática
De entrada uma coisa chama a nossa atenção em Marcos. Ainda no início do evangelho, Mc 1,21-22, diz o texto: “Entraram em Cafarnaum e, logo no sábado, foram à sinagoga. E ali ele ensinava. Ficaram encantados com o seu ensino, porque lhes ensinava com autoridade e não como os escribas – (os doutores da Lei)”.

Logo no v. 23 o texto passa a contar uma ação de Jesus. E o que é que ele ensinava? O texto não diz. Casos como esses vão se repetir por todo o evangelho (Marcos só indica o conteúdo deste ensinamento ou pregação quando trata da paixão (8,31; 9,31) e de ensinamentos particulares (capítulos 11-12). O que significa isto?

É que o texto de Marcos, ao contrário de Mateus e Lucas, preocupa-se muito mais com a prática de Jesus do que com seu discurso (seu ensinamento). A narração de Marcos não é, na verdade, uma coleção de “palavras” ou de “discursos” de Jesus, mas a exposição de suas práticas e estratégias. E podemos esclarecer: para Marcos a atuação concreta de Jesus, sua prática é que é seu ensinamento. A boa nova não é um ensinamento só em palavras, mas um ensinamento através de determinadas ações concretas.

2. Os atores do texto
Então, percebendo isto, é bom a gente começar a se preocupar com as atitudes do personagem principal do texto, que é Jesus. E também com as atitudes dos outros personagens que se movimentam ao redor de Jesus ao longo desses 16 capítulos.

Quem são esses personagens?

O personagem principal, sem sombra de dúvida, é Jesus. Ao redor dele movem-se seus seguidores, os discípulos. Por sinal, o Jesus de Marcos é sempre um Jesus com os discípulos, menos em duas ocasiões; quando os discípulos partem em missão e quando Jesus é preso. Outro grupo que se destaca é a multidão que procura Jesus, porque o admira e precisa de seus milagres. Finalmente, do outro lado da barricada, estão os representantes do poder judaico: fariseus, escribas, herodianos, anciãos, chefes dos sacerdotes, saduceus. E romanos. São os seus inimigos, gente que o procura para vigiar, investigar, prender e matar.

Agora, começando pelo início do evangelho, podemos observar como é que se movimentam estes personagens na construção do texto de Marcos.

3. Caminho programático
Mc 1,1 é o título do livro. Um título que é uma confissão de fé, uma afirmação que Marcos vai demonstrar ao longo dos 16 capítulos. Jesus é confessado como o Cristo e como o Filho de Deus.

Mc 1,2-15, a introdução do evangelho, nos oferece três destaques que vale a pena anotar:
1. Observamos, em primeiro lugar, a importância da voz: do profeta, de João, do céu, de Jesus. A voz do céu interrompe de vez a de João, que desaparece e autoriza a voz de Jesus. Sua pregação começa já nos vv. 14-15.
2. Há, neste início de evangelho, um caminho geográfico seguido por Jesus: Galileia – Judeia – Galileia. Este caminho é programático, ou seja, é o programa geográfico de todo o evangelho. Antecipa, programando, o caminho seguido por Jesus: atuação na Galileia – na Judeia – volta à Galileia, ressuscitado. É bom a gente notar, desde já, que esta geografia de Mc é artificial, não é real.
3. A descida do Espírito inicia um tempo novo, que será o tempo da atuação de Jesus.

4. Um dia de Jesus na Galileia
Mc 1,16-45 descreve um dia de Jesus na Galileia, num arranjo artificial de Marcos. E, neste primeiro dia do texto, já são definidas várias posições:
1. Jesus situa-se em um grupo, para começar a ação própria de sua missão. Este primeiro grupo é formado por seus discípulos Simão, André, Tiago e João, filhos de Zebedeu. Todos pescadores, galileus, gente pobre e marginalizada na sociedade israelita. Esta ação de Jesus acontece em Cafarnaum e arredores, atingindo pouco a pouco toda a Galileia.
2. A ação de Jesus é de três tipos:

  • ensinamento novo, com autoridade
  • expulsão dos espíritos impuros
  • curas

3. Esta ação de Jesus provoca uma estratégia da multidão, isto é, ela usa certos meios para conseguir seu objetivo: procurar Jesus. E Jesus responde com outra estratégia: evitar a multidão, ficando fora das cidades.

5. A subversão da ideologia judaica
Mc 2,1-3,6 vai apresentar cinco controvérsias (discussões) de Jesus com os escribas e os fariseus. A ação de Jesus provoca duas leituras da realidade, duas maneiras diferentes de ver a realidade:

  • a dos seus adversários, que querem guardar a ideologia judaica, e que seguem a Lei e os esquemas sociais da época
  • e a do próprio Jesus, que está baseada num esquema novo: a chegada do reino de Deus, dentro do qual ele se situa.

Observamos, portanto, nestas cinco controvérsias, que:
1. A ação de Jesus é sistematicamente apresentada como subversiva da ideologia judaica
2. Os inimigos de Jesus, representados pelos escribas, fariseus e herodianos, utilizam a estratégia da tentação (= provocação), que chega ao máximo na decisão de matá-lo
3. Este conjunto de textos é excelente para mostrar como cada um interpreta os acontecimentos de acordo com o lugar que ocupa na sociedade (“Cada um puxa a brasa para a sua sardinha”, diz o ditado).

Mc 3,6 termina uma primeira parte do texto e está na hora de fazermos um balanço do que aconteceu até aqui. Relendo Mc 1,2-3,6 anotamos quatro coisas importantes:
1. A voz do céu em 1,11 é dirigida a Jesus. Ele é eleito por Deus, que lhe dá a capacidade para sua missão.
2. Em 1,14 Jesus inaugura as suas atividades, começando uma série de ações que provocam algumas perguntas entre os seus ouvintes:

  • Quem é Jesus?
  • Com que autoridade ele age?
  • Será que chegou o momento da intervenção definitiva de Deus na história dos homens?

3. Os adversários analisam a ação de Jesus a partir de seus esquemas sociais e legais. Jesus apresenta suas ações como subversivas da ideologia judaica e as analisa segundo um esquema novo: da chegada do reino de Deus, dentro do qual ele se situa. Isto leva os adversários a decidirem a sua morte.
4. Qual é a estratégia de Jesus? Ele não quer que sua messianidade seja revelada pelos demônios. Estes, como seres não humanos, sabem quem ele é. Também a multidão não deve divulgar que Jesus é o Messias.

6.  Mc 3,7-8,30: Jesus é o Messias, dizem os discípulos
A partir de Mc 3,7 o texto sofre uma reviravolta: começa aqui uma distinção clara entre a multidão e os discípulos: “Jesus retirou-se com os seus discípulos” e a multidão o seguia. Esta separação entre os dois grupos vai sendo realizada progressivamente até chegar ao máximo em 8,29 com a confissão de Pedro reconhecendo Jesus como o Messias. O barco, usado a partir deste momento, será um elemento fundamental para definir o círculo “Jesus + discípulos” que se distancia, geográfica e estrategicamente, da multidão. Mc 3,7-12 é uma espécie de programa do texto que vai até 8,30, onde termina a primeira parte do evangelho de Marcos.

Olhando do alto, podemos anotar em Mc 3,7-8,30 seis elementos de destaque:
1. O barco é um elemento de união destes trechos narrativos. Ele aparece em 3,9 e desaparece em 8,14.
2. Os personagens principais que tomam conta do texto são: Jesus, a multidão e os discípulos. Os adversários aparecem bem menos.
3. O texto separa claramente o ensinamento à multidão e o ensinamento aos discípulos. Somente os discípulos saberão ler as práticas de Jesus como sendo práticas messiânicas.
4. Observando-se o texto, vemos as várias leituras feitas a partir da ação de Jesus. Vê-se também a sua estratégia como resposta a estas leituras. Assim parece que o tema central aqui é o segredo messiânico, elemento fundamental no evangelho de Marcos.
5. Relendo a estratégia de Jesus:

  • em relação aos inimigos: ele evita as cidades; entra às escondidas; deixa-os e vai para outro lugar. O motivo: os adversários querem matá-lo.
  • em relação à multidão: às pessoas curadas por ele (e aos demônios) ele proíbe de falar, para evitar um messianismo político. Por outro lado, ele não rejeita a multidão. Está no meio dela, curando e ensinando. Mas, em geral, ele se afasta quando há um número exagerado de pessoas.
  • em relação aos discípulos: formam um círculo ao redor de Jesus e ele age e ensina-lhes separado da multidão. Insiste para que o reconheçam como o Messias.

6. Mc 8,27-30 é o miolo do evangelho. O barco é substituído pelo caminho. Os discípulos ao redor dele, passam a ser os discípulos que o seguem. Jesus, finalmente, faz diretamente aos discípulos a primeira pergunta:”Quem dizem os homem que eu sou?” E separa claramente a multidão e os discípulos: “E vocês, quem dizem que eu sou?” A resposta de Pedro é fundamental: “Tu és o Messias”. Só os discípulos chegam a compreender a ação de Jesus como messiânica. Pedro é o símbolo dos cristãos de todos os tempos.

7. A subida a Jerusalém
Mc 8,31-10,52 é o passo seguinte. A partir de 8,31 Jesus estará preocupado em mostrar aos seus discípulos que o caminho seguido por ele é diferente da esperança messiânica israelita na libertação do poder romano. Podemos resumir isto em quatro pontos:
1. A partir da confissão feita pelos discípulos, reconhecendo o messianismo, Jesus vai explicar-lhes que tipo de Messias ele é: não um Messias glorioso e rei poderoso, como esperavam os judeus, mas um Messias que sofre e morre na cruz, ressuscitando em seguida.
2. Este ensinamento é dado em parte na Galileia (estar ao redor de Jesus) e em parte no caminho para Jerusalém (seguir Jesus).
3. A subida para Jerusalém mostra uma estratégia precisa de Jesus: ele vai se colocar frente a frente com o pensamento judaico, representado pelos sumos sacerdotes, anciãos, escribas e saduceus.
4. Jesus propõe uma prática messiânica e eclesial oposta à maneira de pensar e de agir da sociedade da época: eles querem dominar, Jesus manda servir; querem guardar a vida para si, Jesus manda perdê-la; querem ser ricos, Jesus prefere a pobreza; fazem de tudo para serem os primeiros, Jesus prefere os últimos; eles querem parecer adultos, Jesus pede para que se tornem como crianças.

8. A rejeição definitiva do judaísmo
Mc 11,1-13,37 mostra o confronto de Jesus com o centro do poder judaico, em Jerusalém, no Templo. Confronto que vai acabar na rejeição definitiva do judaísmo por parte de Jesus e de Marcos. É que devemos pensar que Marcos se preocupa com a vida da comunidade em Antioquia ou na Galileia (talvez em Roma), para a qual ele escreve seu evangelho por volta de 70 d.C. Resumindo em três pontos, observamos que:
1. Nestes textos Jesus age e ensina no Templo, centro do poder religioso judaico. Só que durante a noite ele se retira de Jerusalém para os povoados vizinhos, onde certamente está mais seguro.
2. A prática e o ensinamento messiânicos de Jesus rejeitam o judaísmo em favor de uma abertura do cristianismo aos gentios (os não-judeus). E isto porque os judeus primeiro rejeitam o Messias. Esta abertura ao mundo gentio acontecia nas primeiras comunidades. Seu grande teórico foi Paulo de Tarso, que defendia a salvação também para os gentios que não viviam debaixo da Lei e das obrigações judaicas.
3. O Templo de Jerusalém, simbolizado pela figueira que nada produz, será destruído no ano 70 por Tito, general romano. Marcos mostra que isto é uma consequência da rejeição do Messias pelos sumos sacerdotes, escribas e anciãos.

9. Abandonado por todos, Jesus é executado como rebelde
Mc 14,1-16,8 conta os últimos acontecimentos vividos por Jesus em Jerusalém: é o momento da sua prisão, morte e ressurreição. Vejamos como isto nos é contado por Marcos:
1. É o momento do encontro final entre “Jesus + discípulos” com os adversários. Isto só é possível na medida em que um discípulo, Judas Iscariot, passa para o outro lado e o entrega.
2. Não é só Judas quem o nega. Também Pedro o faz. Mas há uma diferença essencial nas duas rejeições: Pedro nega em palavras, mas não o faz de fato; Judas não o diz, mas faz.
3. O texto tem a preocupação constante de mostrar que Jesus caminhou conscientemente para a sua morte: é a única maneira de abafar o escândalo de seu fracasso, transformando-o em vitória.
4. A partir de sua prisão, Jesus é levado passivamente de um lado para outro, em flagrante contraste com sua atitude tão autônoma e independente quando demonstrava o seu messianismo através de variados sinais.
5. Os seus adversários não aparecem como indivíduos, ninguém é chamado pelo nome, mas são vistos como classe, defensores da ordem judaica. Diante deles, Jesus declara claramente o seu messianismo. Todo o processo é descrito como uma farsa e Pilatos condena Jesus como se fosse zelota, agitador político, “rei dos judeus”.
6. Contra Jesus unem-se o poder judaico, os romanos e a multidão. Multidão nacionalista que prefere libertar um dos seus líderes zelotas. Jesus está complemente só.
7. O evangelho de Marcos termina em 16,8. Não se sabe, segundo seu texto, das aparições de Jesus ressuscitado. As mulheres que encontraram o túmulo vazio nada contam a ninguém. Parece que Marcos esperava a volta definitiva do Messias na Galileia, para breve. O texto se abre para o mundo gentio (não-judeu). Mais tarde, a comunidade, que não entendeu estar completo o texto até Mc 16,8, acrescenta-lhe os vv. 9-20.

10. Quem é o autor do texto?
A tradição identificou o autor com João Marcos, judeu de Jerusalém (At 12,12), companheiro de Paulo e Barnabé (At 12,25;13,5.13;15,37-39), também companheiro de Pedro em Roma (1Pd 5,13).

Mas é preciso tomar cuidado com estas afirmações. O autor foi um cristão da segunda geração cristã! Só isto é que sabemos com toda certeza.

Marcos é o primeiro evangelho a ser escrito, talvez por volta do ano 70, em algum lugar do Império Romano, sendo Antioquia, na Síria, o lugar mais cotado. Ou talvez na Galileia ou mesmo em Roma. Escrito em grego, com um vocabulário simples e popular, Marcos tem como leitores, com certeza, uma comunidade composta em sua maioria de pobres e gentios.

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