O estudo da Escritura e a busca da competência hermenêutica

Estou, nestes dias, preparando meus programas de aula do primeiro semestre de 2006. Começo a publicá-los no Observatório Bíblico. A intenção é de que possam servir, para além de meus alunos, a outras pessoas que, eventualmente, queiram ter uma noção de como se estuda a Bíblia em determinadas Faculdades de Teologia. Ou, pelo menos, parte da Bíblia, porque posso expor apenas os programas das disciplinas que leciono. Tomo aqui como referência os currículos do CEARP e da FTCR.

Quatro elementos serão levados em conta, em uma leitura da Bíblia que eu chamaria de sócio-histórica-redacional:

  • contextos da época bíblica
  • produção dos textos bíblicos
  • contextos atuais
  • leitores atuais dos textos

O sentido da Escritura, segundo este modelo, não está nem no nível dos contextos da época bíblica e/ou dos contextos atuais, nem no nível dos textos bíblicos ou da vivência dos leitores, mas na articulação que se forma entre a relação dos textos bíblicos com os seus contextos, por um lado, e entre os leitores atuais e seus contextos.

Ou seja: “Da Escritura não se esperam fórmulas a ‘copiar’, ou técnicas a ‘aplicar’. O que ela pode nos oferecer é antes algo como orientações, modelos, tipos, diretivas, princípios, inspirações, enfim, elementos que nos permitam adquirir, por nós mesmos, uma ‘competência hermenêutica’, dando-nos a possibilidade de julgar por nós mesmos, ‘segundo o senso do Cristo’, ou ‘de acordo com o Espírito’, das situações novas e imprevistas com as quais somos continuamente confrontados. As Escrituras cristãs não nos oferecem um was, mas um wie: uma maneira, um estilo, um espírito. Tal comportamento hermenêutico se situa a igual distância tanto da metafísica do sentido (positivismo) quanto da pletora das significações (biscateação). Ele nos dá a chance de jogar a sério a círculo hermenêutico, pois que é somente neste e por este jogo que o sentido pode despertar” explica BOFF, C. Teologia e Prática: Teologia do Político e suas mediações. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 266-267).

As disciplinas de Bíblia no curso de graduação em Teologia podem, segundo este modelo, ser classificadas em três áreas:

1. Disciplinas Contextuais:

  • História de Israel (alternativa: História da época do Antigo Testamento e História da época do Novo Testamento)

2. Disciplinas Instrumentais:

  • Introdução à S. Escritura (alternativa: Métodos de leitura dos textos bíblicos)
  • Língua Hebraica Bíblica
  • Língua Grega Bíblica

3. Disciplinas Exegéticas:

  • Pentateuco
  • Literatura Profética
  • Literatura Deuteronomista
  • Literatura Sapiencial
  • Literatura Pós-Exílica
  • Literatura Sinótica e Atos
  • Literatura Paulina
  • Literatura Joanina
  • Apocalipse

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Destas disciplinas, leciono:

No primeiro semestre:

  • História de Israel (CEARP – Ribeirão Preto) e História da época do Antigo Testamento (FTCR PUC-Campinas): 4 hs/sem.
  • Introdução à S. Escritura (CEARP): 2 hs/sem.
  • Literatura Profética (CEARP/FTCR): 4 hs/sem.
  • Literatura Deuteronomista (CEARP): 2 hs/sem.

No segundo semestre:

  • Língua Hebraica Bíblica (FTCR): 2 hs/sem.
  • Pentateuco (CEARP/FTCR): 4 hs/sem.
  • Literatura Pós-Exílica (CEARP): 4 hs/sem. e (FTCR): 2 hs/sem.

2 comentários em “O estudo da Escritura e a busca da competência hermenêutica”

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