Uma entrevista interessante: Pluralismo religioso: entre a diversidade e a liberdade. Entrevista especial com Wagner Lopes Sanchez
Publicada por Notícias: IHU On-Line em 11/07/2010.
Wagner Lopes Sanchez é filósofo e historiador, com Mestrado e Doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Atualmente, é professor assistente-doutor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da mesma instituição. É membro da diretoria do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular – CESEP.
Transcrevo as três primeiras questões:
IHU On-Line – Como podemos entender, em linhas gerais, o fenômeno do pluralismo religioso atual?
Wagner Lopes Sanchez – Nas sociedades ocidentais, o pluralismo é uma característica constante em diversas esferas. Com a liberdade de pensamento e de expressão, o pluralismo torna-se uma consequência fundamental. No caso do campo religioso, o pluralismo religioso é reflexo de dois fatores: existência da diversidade religiosa e reivindicação de liberdade religiosa. O pluralismo religioso é uma condição social própria de sociedades onde não há hegemonia religiosa ou onde a hegemonia religiosa tende a desaparecer. O pluralismo religioso é, na verdade, a democratização do campo religioso, em que todos os sujeitos religiosos são reconhecidos como legítimos em suas reivindicações, desde que respeitados os princípios éticos.
IHU On-Line – Em sociedades cada vez mais plurais, qual a importância do diálogo inter-religioso? Quais as condições e a “pauta” desse diálogo, em sua opinião?
Wagner Lopes Sanchez – Uma das exigências de sociedades democráticas é justamente a convivência dialogal entre as várias visões de mundo. Os diversos sujeitos, individuais ou coletivos, numa sociedade plural, são convidados constantemente a dialogar sobre as grandes questões que estão colocadas, e a reconhecer o direito à diferença como legítimo. Obviamente, isso se aplica também às religiões. De um lado, elas são convidadas a contribuir na solução dos grandes problemas humanos e, de outro lado, são convidadas a reconhecer a necessidade da convivência até mesmo como uma necessidade de sobrevivência. Por isso, em sociedades caracterizadas pelo pluralismo religioso, a questão do diálogo inter-religioso coloca-se como um imperativo e como um desafio. Essa exigência não é fundamental apenas para as próprias religiões, mas também para o conjunto da sociedade. Com o diálogo inter-religioso todos ganham: a sociedade em geral, aqueles que têm adesão religiosa e aqueles que não têm nenhuma referência religiosa. A inexistência do diálogo inter-religioso, em contrapartida, pode trazer problemas para as próprias religiões e para o conjunto da sociedade. Quanto à pauta, levanto quatro itens que, penso, são muito atuais: justiça, paz, defesa do meio ambiente e construção da tolerância.
IHU On-Line – Como o cristianismo se posiciona diante do pluralismo religioso e do diálogo inter-religioso? Dentro disso, quais os desafios e possibilidades que se colocam diante dele?
Wagner Lopes Sanchez – O cristianismo é um campo religioso muito heterogêneo, e, por isso, é muito difícil falar em posições unívocas. De qualquer forma, em linhas gerais, podemos identificar três grandes posições no interior desse campo. A primeira posição, que é conhecida como exclusivismo, afirma que o cristianismo é a única religião verdadeira e que, por isso, somente ele é o portador da salvação. As demais religiões não têm nenhum valor salvífico. A segunda posição é a inclusivista, que reconhece a importância das diversas religiões no plano da salvação, mas afirma que a possibilidade dessas religiões salvarem depende do cristianismo. Essa posição, na verdade, é uma tentativa de preservar a importância do cristianismo e, ao mesmo tempo, de reconhecer o valor das demais expressões religiosas. A terceira posição, denominada de pluralista, defende que todas as religiões são expressões humanas verdadeiras do desejo profundo de salvação e, em virtude disso, são legítimas. As posições inclusivista e pluralista são aquelas que favorecem o diálogo inter-religioso, pois colocam as religiões numa atitude de diálogo e de compreensão com as demais. A crescente diversidade religiosa tanto dentro como fora do próprio cristianismo está fazendo com que igrejas e movimentos cristãos assumam uma atitude de humildade diante dos diversos interlocutores religiosos. Num campo religioso cada vez mais marcado pela diversidade religiosa e pelo florescimento religioso, muitos segmentos do cristianismo estão sendo levados a reverem os seus posicionamentos diante das outras religiões.
horrivel!!!
Por qual razão é horrível? Talvez os leitores do blog queiram ponderar.
Muitas pessoas ainda não estão preparadas para essa transformação advinda desse milênio pluralista. A verdade é que somos um só povo: o escolhido de Deus. Tudo mais são reivindicações. Acho válido, portanto, reflertir-se sobre essa questão. Ivete.