Einstein no CERN dia 01/12/2005: acompanhe pela Internet

O Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN), sediado em Genebra, Suíça, e o Comitê Internacional para o Ano Mundial da Física farão amanhã, 01/12/2005, doze horas de palestras sobre física. Participam grandes expoentes da física mundial, como Stephen Hawking, Murray Gell-Mann, Carlo Rubbia, Paul Davies, David Gross, Tim Berner Lee e muitos outros. Vários deles ganharam o Prêmio Nobel.

O objetivo do evento é debater a física a partir e para além de Einstein, pois neste ano – declarado como o Ano Mundial da Física – comemorou-se no mundo todo o centenário do miraculoso ano de Einstein. Com efeito, foi em 1905 que o jovem físico desenvolveu três de seus mais importantes artigos, apresentando a teoria da relatividade especial, o conceito dos quanta de luz e hipóteses sobre a movimentação das moléculas. O evento, realizado na sede do CERN, será transmitido ao vivo pela Internet. Depois disso, pelo menos parcialmente, o evento permanece gravado neste endereço e à disposição dos interessados.

 

Maratona de 12h de palestras celebra ano mundial da física

O Cern (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares, na sigla em francês) e o Comitê Internacional Para o Ano Mundial da Física realizam, na quinta-feira (1º), 12 horas de palestras de físicos, entre eles três ganhadores do prêmio Nobel.

O evento acontece na sede do Cern, em Genebra, na Suíça, e será transmitido ao vivo pela internet.

A Unesp (Universidade Estadual Paulista) vai exibir as palestras na sede do Instituto de Física Teórica, em São Paulo. Professores da universidade estarão de plantão no local para esclarecimento de dúvidas.

Os físicos abordarão temas como a relatividade, ondas gravitacionais, neutrinos, a antimatéria, nanoestruturas e as tecnologias derivadas das teorias de Albert Einstein. As palestras começam às 9h.

Fonte: Folha Online: 30/11/2005

Biblioblogs: mais problemas do que soluções?

No rescaldo da sessão sobre os biblioblogs na SBL, uma polêmica tomou conta de muitos biblioblogs: por que os biblioblogueiros são em sua quase totalidade homens, brancos, acadêmicos e de países ricos? A questão de gênero: onde estão as mulheres biblioblogueiras? O monopólio cultural: onde estão os biblioblogs de outras culturas fora do circuito acadêmico europeu/norte-americano? Seria mesmo adequado o nome biblioblog? Nomear neste caso serve para distinguir, ou o rótulo “bibliobloggers” estaria sendo utilizado para definir um “clube” específico e fechado?

E a questão da língua – predomina o inglês – que nem chegou a ser colocada? Sabemos que todo biblista competente consegue ler uma dezena ou mais de línguas, sendo o inglês, o francês e o alemão obrigatórios pela extensa bibliografia publicada nestas três línguas. Mas os falantes de língua inglesa estão preocupados em ler, por exemplo, o português? Ou não precisam aprender línguas de países periféricos, por ser sua produção acadêmica significativamente menor? Ou ainda: tudo o que sai nas “línguas periféricas” não acaba traduzido para o inglês, a língua dominante na Internet e no mundo?

“Blogo” ou não “blogo” (!): eis a questão! “Biblioblogo” ou não “biblioblogo”: onde está a solução?

Leia mais:
Death of the biblioblog?
Digital Openness and Biblical Studies (post-CARG post #1)

Biblioblogs: problemas e soluções

SBL CARG… O que será isso?

Apenas Society of Biblical Literature [Annual Meeting] Computer Assisted Research [Section] Group. É que no Encontro Anual da Sociedade de Literatura Bíblica (SBL), em Filadélfia, USA, que acontece de 19 a 22 de novembro de 2005, um Grupo de Pesquisa Auxiliada por Computador (CARG), estará debatendo, no dia 20, os biblioblogs, em tema intitulado: The Pleasures, Pains and Prospects for Biblioblogging.

Lembro que um Biblioblog ou Blog sobre Estudos Bíblicos é um diário virtual que tem como foco principal pesquisas bíblicas realizadas por exegetas ou estudantes de pós-graduação em Bíblia. E que este debate se impõe, pois o fenômeno dos biblioblogs tem crescido de maneira significativa. Especialmente os biblioblogs em língua inglesa, com clara predominância de pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido. Para um número cada vez maior de biblistas e estudantes de Bíblia, os biblioblogs têm sido uma maneira interessante de rapidamente difundir notícias e informações, trocar ideias e provocar debates.

Mas qual é o futuro dos biblioblogs? Qual é o seu real objetivo? Quem está fazendo biblioblogs? Quem lê os biblioblogs? Qual sua relação com as tradicionais páginas de Bíblia na Internet? Os biblioblogs contribuem para a pesquisa ou não passam de mais um modismo da web? Conseguem manter a profundidade do debate acadêmico ou tendem a banalizá-lo? Os softwares para blogs são adequados ou devem melhorar?

Para debater tais questões, um grupo de pioneiros em biblioblogs estará presente no encontro da SBL. Apresentam ensaios os “bibliobloggers” James Davila, University of St. Andrews, Scotland e Rich Brannan, PastoralEpistles.com, USA, em seção presidida por Mark Goodacre, Duke University, USA. No painel que se seguirá, estarão participando: A.K.M. Adam, Seabury-Western Theological Seminary, Evanston, IL; Tim Bulkeley, University of Aukland, New Zealand; Stephen Carlson, Fairfax, VA; Edward Cook, Cincinnati, OH; Torrey Seland, Volda University College, Norway; James West, Quartz Hill School of Theology, Quartz Hill, CA.

Tell es-Safi/Gat e o nome Golias

Toma conta da imprensa nestes dias, com tremendo sensacionalismo, a notícia da descoberta de um pequeno pedaço de cerâmica nas escavações de Tell es-Safi, ruínas da antiga cidade de Gat, no qual estão escritas duas palavras אלות = ‘lvth e ולת = vlth que teriam semelhança com o nome גלית = glyth, ou seja, “Golias”. Os nomes podem ser igualmente transliterados como ‘lwt e wlt ou )lwt e wlt, dependendo da convenção que se adote.

O óstracon (do grego, ostrakon, plural ostraka: um caco de cerâmica utilizado para se escrever alguma coisa) foi datado entre os séculos X e IX a.C. e as duas palavras estão escritas em um “proto-cananeu” arcaico. Tudo o que se sabe, por enquanto, é que existe a possibilidade destas palavras serem semelhantes a Goliath, ou Golias, nome que muitos especialistas acreditam ser de origem não-semítica, etimologicamente relacionado com vários nomes indo-europeus, como, por exemplo, o nome lídio Aliates. A escavação é dirigida pelo Dr. Aren Maeir, professor da Universidade Bar Ilan, em Ramat Gan, Israel.

Todo o sensacionalismo decorre da existência da narrativa de 1Sm 17, onde se conta que o jovem Davi, de Belém, no contexto das guerras entre o exército de Saul e os filisteus, enfrentou e matou um terrível guerreiro filisteu chamado Golias, originário de Gat (v. 4: “Saiu do acampamento filisteu um grande guerreiro. Chamava-se Golias, de Gat. A sua estatura era de seis côvados e um palmo“; v. 23: “Enquanto conversava com eles, o grande guerreiro – chamado Golias, o filisteu de Gat – apareceu, vindo da linha inimiga…”). Segundo esta narrativa, o estatura do Golias era de 2 metros e meio, mais ou menos!

A imprensa não especializada já está identificando, precipitadamente, os nomes encontrados em Tell es-Safi com o nome Golias e este com o personagem da narrativa bíblica, em tom bastante apologético, no estilo “a Bíblia tinha razão”. Sobretudo porque há, no mundo acadêmico, entre os chamados “minimalistas” e os “maximalistas”, uma acirrada disputa sobre o valor histórico das narrativas bíblicas, que pode ser vista aqui, e porque há um contexto político em Israel – na complexa luta entre israelenses e palestinos pelo território – que favorece este tipo de coisa. Os especialistas são mais prudentes, embora também neste meio não faltem conclusões apressadas.

A prudência, entretanto, se impõe, pois esta narrativa do livro de Samuel é considerada, nos meios acadêmicos, uma tradição deuteronomista bastante controvertida. Apresento, das muitas existentes, duas razões:
. a Obra Histórica Deuteronomista (OHDtr) foi escrita possivelmente no século VI a.C., em um gênero literário que não corresponde de modo algum ao nosso modo de escrever “história” hoje, herdado da tradição alemã
. por outro lado, o gigante Golias acaba morrendo duas vezes, pois segundo a mesma OHDtr, em 2Sm 21,19 se diz que “A guerra continuou ainda em Gob com os filisteus, e Elcanã, filho de Iari, de Belém, matou Golias de Gat; a madeira de sua lança era como cilindro de tecedeira“. Tentando conciliar as duas tradições, 1Cr 20,5, obra posterior à deuteronomista, diz: “Houve ainda outra batalha contra os filisteus. Elcanã, filho de Jair, matou Lami, irmão de Golias de Gat; a haste de sua lança era como um cilindro de tecelão” (estou utilizando a tradução da Bíblia de Jerusalém, nova edição, revista e ampliada, São Paulo, Paulus, 2a. impressão, 2003 – que, por sinal, erra, ao traduzir, em 1Cr 20,5, a palavra hebraica ‘ah por “filho” e não por “irmão”).

A Inscrição de Tel Zayit

No dia 15 de julho passado foi encontrado em Tel Zayit, sítio arqueológico situado na região de Lakish, no território de Judá, um “abecedário” hebraico. Contendo as 22 letras do alfabeto hebraico, a inscrição vem sendo considerada pelos arqueólogos como o mais antigo “alfabeto” hebraico de que se tem notícia, estando a pedra onde foi gravada inserida em uma construção do século X a.C. Fato curioso é que várias letras estão em ordem diversa do atual alfabeto hebraico, como a sequência vav, hê, hêth, záyin e têth, que hoje é hê, vav, záyin, hêth, têth. Ainda: sobre a origem e função da inscrição há opiniões divergentes entre os envolvidos em sua interpretação.

Especialistas em escrita antiga dizem que a inscrição mostra, provavelmente, um alfabeto ainda em fase de transição do fenício para o hebraico. Vale lembrar aqui que do alfabeto fenício derivam igualmente o ugarítico e o grego. A descoberta foi anunciada no dia 9 de novembro de 2005. No dia 20 de novembro a inscrição será apresentada e analisada na reunião anual da Sociedade de Literatura Bíblica (SBL), no Centro de Convenções da Filadélfia, na Pensilvânia.

Tel Zayit vem sendo escavada desde 1999 por uma equipe dirigida pelo Dr. Ron E. Tappy, professor de Bíblia e Arqueologia do Seminário Teológico de Pittsburgh, na Pensilvânia, USA. Além de financiado por doações da iniciativa privada, o projeto está ligado à ASOR – American Schools of Oriental Research -, com sede em Boston, MA, USA, e ao Instituto W. F. Albright para a Pesquisa Arqueológica, com sede em Jerusalém.

 

A Is for Ancient, Describing an Alphabet Found Near Jerusalem

In the 10th century B.C., in the hill country south of Jerusalem, a scribe carved his A B C’s on a limestone boulder — actually, his aleph-beth-gimel’s, for the string of letters appears to be an early rendering of the emergent Hebrew alphabet.

Archaeologists digging in July at the site, Tel Zayit, found the inscribed stone in the wall of an ancient building. After an analysis of the layers of ruins, the discoverers concluded that this was the earliest known specimen of the Hebrew alphabet and an important benchmark in the history of writing, they said this week.

If they are right, the stone bears the oldest reliably dated example of an abecedary — the letters of the alphabet written out in their traditional sequence. Several scholars who have examined the inscription tend to support that view.

Experts in ancient writing said the find showed that at this stage the Hebrew alphabet was still in transition from its Phoenician roots, but recognizably Hebrew. The Phoenicians lived on the coast north of Israel, in today’s Lebanon, and are considered the originators of alphabetic writing, several centuries earlier.

The discovery of the stone will be reported in detail next week in Philadelphia, but was described in interviews with Ron E. Tappy, the archaeologist at the Pittsburgh Theological Seminary who directed the dig.
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“All successive alphabets in the ancient world, including the Greek one, derive from this ancestor at Tel Zayit,” he said.

The research is supported by an anonymous donor to the seminary, which has a long history in archaeological field work. The project is also associated with the American Schools of Oriental Research and the W. F. Albright Institute for Archaeological Research, in Jerusalem.

Frank Moore Cross Jr., a Harvard expert on early Hebrew inscriptions who was not involved in the research, said the inscription “is a very early Hebrew alphabet, maybe the earliest, and the letters I have studied are what I would expect to find in the 10th century” before Christ.

P. Kyle McCarter Jr., an authority on ancient Middle Eastern writing at Johns Hopkins University, was more cautious, describing the inscription as “a Phoenician type of alphabet that is being adapted.” But he added, “I do believe it is proto-Hebrew, but I can’t prove it for certain.”

Lawrence E. Stager, an archaeologist at Harvard engaged in other excavations in Israel, said the pottery styles at the site “fit perfectly with the 10th century, which makes this an exceedingly rare inscription.” But he added that more extensive radiocarbon dating would be needed to establish the site’s chronology.

The Tel Zayit stone was uncovered at an eight-acre site in the region of ancient Judah, south of Jerusalem, and 18 miles inland from Ashkelon, an ancient Philistine port.

The two lines of incised letters, apparently the 22 symbols of the Hebrew alphabet, were on one face of the 40-pound stone. A bowl-shaped hollow was carved in the other side, suggesting that the stone had been a drinking vessel for cult rituals, Dr. Tappy said. The stone, he added, may have been embedded in the wall because of a belief in the alphabet’s power to ward off evil.

In a study of the alphabet, Dr. McCarter noted that the Phoenician-based letters were “beginning to show their own characteristics.” The Phoenician symbol for what is the equivalent of a K is a three-stroke trident; in the transitional inscription, the right stroke is elongated, beginning to look like a backward K.

Another baffling peculiarity is that in four cases the letters are reversed in sequence; an F, for example, comes before an E.

The inscription was found in the context of a substantial network of buildings at the site, which led Dr. Tappy to propose that Tel Zayit was probably an important border town established by an expanding Israelite kingdom based in Jerusalem.

A border town of such size and culture, Dr. Tappy said, suggested a centralized bureaucracy, political leadership and literacy levels that seemed to support the biblical image of the unified kingdom of David and Solomon in the 10th century B.C.

“That puts us right in the middle of the squabble over whether anything important happened in Israel in that century,” Dr. Stager said.

A vocal minority of scholars contend that the Bible’s picture of the 10th century B.C. as a golden age in Israelite history is insupportable. Some archaeological evidence, they say, suggests that David and Solomon were little more than tribal chieftains and that it was another century before a true political state emerged.

Dr. Tappy acknowledged that he was inviting controversy by his interpretation of the Tel Zayit stone and other artifacts as evidence of a fairly advanced political system 3,000 years ago. Critics who may accept the date and description of the inscription are expected to challenge him when he reports on the findings next week in Philadelphia at meetings of the American Schools of Oriental Research and the Society of Biblical Literature

Fonte: John Noble Wilford – The New York Times: Nov. 9, 2005