Resenhas na RBL – 27.02.2015

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Angelika Berlejung and Michael P. Streck, eds.
Arameans, Chaldeans, and Arabs in Babylonia and Palestine in the First Millennium B.C.
Reviewed by Aren M. Maeir

Matthew J. Goff
4QInstruction
Reviewed by Kenneth Atkinson
Reviewed by Jeffrey P. Garcia

T. Michael W. Halcomb
Entering the Fray: A Primer on New Testament Issues for the Church and Academy
Reviewed by C. Jason Borders

Andrew T. Lincoln
Born of a Virgin? Reconceiving Jesus in the Bible, Tradition, and Theology
Reviewed by Marianne Blickenstaff

Mark McEntire
Portraits of a Mature God: Choices in Old Testament Theology
Reviewed by Ginny Brewer-Boydston

Bert Newton
Subversive Wisdom: Sociopolitical Dimensions of John’s Gospel
Reviewed by Benjamin Reynolds

Chantal Reynier
Pour lire la lettre de Saint Paul aux Romains
Reviewed by Abson Joseph

Thomas Richter and Sarah Lange
Das Archiv des Idadda: Die Keilschrifttexte aus den deutsch-syrischen Ausgrabungen 2001–2003 im Königspalast von Qatna
Reviewed by Jan-Wim Wesselius

Frank Williams, trans.
The Panarion of Epiphanius of Salamis, Books II and III: De Fide
Reviewed by Simon Gathercole

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A lição de Esopo: os bens e os males

Ἀγαθὰ καὶ κακά

Ὑπὸ τῶν κακῶν τὰ ἀγαθὰ ἐδιώχθη ὡς ἀσθενῆ ὅντα· εἰς οὐρανὸν δὲ ἀνῆλθεν. Τὰ δὲ ἀγαθὰ ἠρώτησαν τὸν Δία πῶς εἶναι μετ’ἀνθρώπων. Ὁ δὲ εἶπεν <μὴ> μετ’ἀλλήλων πάντα, ἓν δὲ καθ’ ἓν τοῖς ἀνθρώποις ἐπέρχεσθαι. Διὰ τοῦτο τὰ μὲν κακὰ συνεχῆ τοῖς ἀνθρώποις, ὡς πλησίον ὄντα, ἐπέρχεται, τὰ δὲ ἀγαθὰ βράδιον, ἐξ οὐρανοῦ κατιόντα.

Ὅτι ἀγαθῶν μὲν οὐδεὶς ταχέως ἐπιτυγχάνει, ὑπὸ δὲ τῶν κακῶν ἕκαστος καθ’ ἑκάστην πλήττεται.

 

Les Biens et les Maux

Les Maux, profitant de la faiblesse des Biens, les chassèrent. Ceux-ci montèrent au ciel. Là, ils demandèrent à Zeus comment ils devaient se comporter avec les hommes. Le dieu leur dit de se présenter aux hommes, non pas tous ensemble, mais l’un après l’autre. Voilà pourquoi les Maux, habitant près des hommes, les assaillent san interruption, tandis que les Biens, descendant du ciel, ne viennent à eux qu’à de longs intervalles.

L’apologue fait voir que le bien se fait attendre, mais que chaque jour chacun de nous est atteint par les maux.

Fonte: Fables d’Ésope. Texte établi et traduit par Émile Chambry. Paris, 1927.

 

Os Bens e os Males

Por serem fracos, os bens, perseguidos pelos males, subiram ao céu. E perguntaram a Zeus como deveriam comportar-se com os homens. O deus lhes disse que deveriam aproximar-se dos homens não todos em conjunto, mas um de cada vez. Por isso, os males, como estão perto dos homens, aproximam-se constantemente deles, enquanto os bens, descendo do céu, o fazem lentamente.

É por essa razão que ninguém encontra os bens rapidamente mas, cada dia, cada um de nós é atingido pelos males.

Fonte: Esopo, Fábulas Completas. Tradução do grego de Neide Smolka. São Paulo: Moderna, 2005.

See also: Zeus and the Good Things.

:. Esopo viveu na Grécia no século VI a.C.

Leonardo Boff: a crise é induzida pela mídia

‘Crise é forjada, mentirosa e induzida pela mídia’, diz Leonardo Boff – Rede Brasil Atual: 11/03/2015

A crise econômica e política pela qual o país atravessa neste momento é “em grande parte forjada, mentirosa, induzida, ela não corresponde aos fatos”, afirma o teólogo Leonardo Boff. Segundo ele, a crise é amplificada por uma dramatização da mídia. “Essa dramatização que se faz aqui é feita pela mídia conservadora, golpista, que nunca respeitou um governo popular. Devemos dizer os nomes: é o jornal O Globo, a TV Globo, a Folha de S. Paulo, o Estadão, a perversa e mentirosa revista Veja.”

Em entrevista à Rádio Brasil Atual na segunda-feira (9), o teólogo disse que, no entanto, o atual nível de acirramento no cenário político não preocupa porque, para ele, comparado a outros contextos históricos, a “democracia amadureceu”. Ele diz acreditar, ainda, na emergência de uma “nova consciência política”.

Boff também considera que o cenário brasileiro é bastante diferente da Grécia, Espanha e Portugal, onde são registradas centenas de suicídios, por conta do fechamento de pequenas empresas e do desemprego, e até mesmo de países centrais, como os Estados Unidos, que veem a desigualdade social avançar.

“A situação não é igual a 64, nem igual a 54”, compara. “Agora, nós temos uma rede imensa de movimentos sociais organizados. A democracia ainda não é totalmente plena porque há muita injustiça e falta de representatividade, mas o outro lado não tem condições de dar um golpe.”

Para Boff, não interessa aos militares uma nova empreitada golpista. Restaria ao campo conservador a “judicialização da política”: “Tem que passar pelo parlamento e os movimentos sociais, seguramente, vão encher as ruas e vão querer manter esse governo que foi legitimamente eleito. Eles têm força de dobrar o Parlamento, dissuadir os golpistas e botá-los para correr”.

Sobre o ‘panelaço’ ocorrido no domingo (8), durante o discurso da presidenta Dilma Rousseff para o Dia Internacional da Mulher, Boff afirma que o protesto é “totalmente desmoralizado”, pois “é feito por aqueles que têm as panelas cheias e são contra um governo que faz políticas para encher as panelas vazias do povo pobre”.

O teólogo afirma que a manifestação expressa “indignação e ódio contra os pobres” e são símbolo da “falta de solidariedade”: “O panelaço veio exatamente dos mais ricos, daqueles que são mais beneficiados pelo sistema e que não toleram que haja uma diminuição da desigualdade e que gostariam que o povo ficasse lá embaixo”.

Sobre o ato programado pela CUT e movimentos sociais para sexta-feira (13), Leonardo Boff diz que a importância é reafirmar os valores democráticos e a defesa da soberania do país: “Aqueles que perderam, as minorias que foram vencidas, cujo projeto neoliberal foi rejeitado pelo povo, até hoje, não aceitam a derrota. Eles que tenham a elegância e o respeito de aceitar o jogo democrático”.

O teólogo frisa, mais uma vez, não temer o golpe. “É o golpe virtual, que eles fazem pelas redes sociais e pela mídia, inventando e fantasiando, projetando cenários dramáticos, que são projeções daqueles que estão frustrados e não aceitam a derrota do projeto que era antipovo.”

Ouça a entrevista completa da Rádio Brasil Atual.

A História de Israel na pesquisa atual

A História de Israel na pesquisa atual. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 71, p. 62-74, 2001.

Este artigo foi publicado, de forma mais ampliada, na Ayrton’s Biblical Page, onde acréscimos ao texto são feitos sempre que surgem novidades. A bibliografia foi atualizada em 2018.

Poucas pessoas no Brasil, na virada do milênio, mesmo entre os especialistas, estavam informadas sobre as novas pesquisas na área da “História de Israel”. E não havia quase nenhum debate sobre o tema. Quando eventualmente este acontecia, causava curiosidade, espanto ou, mais frequentemente, como posso testemunhar, rejeição. Eu mesmo senti este impacto nas primeiras leituras, como disse aqui nesta entrevista:

(…) quando li, em 1998, o livro de Philip R. Davies, In Search of ‘Ancient Israel’ [Em busca do ‘Antigo Israel’], minhas certezas sobre o antigo Israel desabaram. Este livro me deixou muito incomodado. O consenso, que eu ainda pensava existir, fora rompido. Afinal: quem é Israel e como surgiu esta entidade? O antigo Israel, de um dado aparentemente conhecido através dos relatos bíblicos, tornou-se um problema a ser abordado com outros recursos, como a arqueologia, a análise socioantropológica etc (…)  Isto me fez partir para muitas e novas leituras. Infelizmente, a maioria em inglês ou alemão, inacessível para meus alunos ou, como percebi, desinteressante para muitos colegas biblistas ou até mesmo de aparência agressiva, pois desestabilizadora, para os teólogos sistemáticos com os quais eu trabalhava.

Esta, uma das razões porque este número da revista Estudos Bíblicos foi, a pedido da Vozes, ampliado e publicado em livro:

FARIA, J. de Freitas (org.) História de Israel e as pesquisas mais recentes. Petrópolis: Vozes, 2003, 181 p.  – ISBN 8532628281. O meu texto, que aborda as novas pesquisas, está nas p. 43-87.

A primeira edição esgotou-se em 2 meses. Uma segunda edição foi imediatamente lançada, mas também já está esgotada.

Transcrevo aqui trecho da resenha feita pelo exegeta argentino José Severino Croatto:

Escrito por um grupo de cinco biblistas mineiros, esse livro é uma tentativa de situar a História de Israel na pesquisa atual. Jacir de Freitas Faria, organizador, inicia o livro fazendo um apanhado dos “personagens” bíblicos mais notáveis, assim como são apresentados na Bíblia, enfocando em cada caso ou época a problemática da terra (…) As Bíblias servem para reconstruir a história real – não a reconstrução “teológica” – de Israel? Em poucas palavras, Romi Auth explica o problema no capítulo 2. Um ensaio sumamente útil para o leitor é o de Airton José da Silva (cap. 3) sobre “A história de Israel na pesquisa atual” (p. 43-87). Os pontos essenciais da problemática histórica: patriarcas, história javista, diferença entre Canaã e Israel, existência de um império davídico-salomônico ou do exílio babilônico, assim como a questão do “Israel” das origens, são tratados de forma muito sintética, mas clara. É excelente a referência aos mais recentes autores que estão discutindo estes assuntos, e valiosa a bibliografia utilizada, que, aliás, inclui dados informativos. Realmente, uma síntese inteligente do tema, tal como está sendo debatido nos círculos acadêmicos. Uma outra visão, não historiográfica, mas da tradição teológica, é apresentada por Johan Konings no capítulo 4. Neste caso, interessam a forma literária e os temas de cada um dos livros, os quais chamamos “históricos”, em nossa linguagem. Quais elementos historiográficos eles trazem? Que tipo ‘história’ eles representam? (…) Qual é a visão do profeta Amós sobre a historia de Israel? É o que apresenta Jaldemir Vitório no capítulo 5. Esta visão, crítica em termos religiosos, é ressaltada pelo autor como um dado importante neste livro profético. O final do livro está também sob os caprichos da ‘pena’ do seu organizador, Jacir de Freitas Faria (cap. 6), quem nos descreve como a história de Israel é recebida e relida nos Salmos.

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A História de Israel no debate atual

A História de Israel no Debate Atual. Cadernos de Teologia, Campinas, n. 9, p. 42-64, 2001.

Até meados da década de 70 do século XX, havia um razoável consenso na História de Israel. Entre outras coisas, o consenso dizia que a Bíblia Hebraica era guia confiável para a reconstrução da história do antigo Israel. Dos Patriarcas a Esdras, tudo era histórico. Se algum dado arqueológico não combinava com o texto bíblico, arranjava-se uma interpretação diferente que o acomodasse ao testemunho dos textos, como no caso da destruição das (inexistentes) muralhas de Jericó pelo grupo de Josué

(…)

Mas, a ‘História de Israel’ está mudando. O consenso foi rompido. A paráfrase racionalista do texto bíblico que constituía a base dos manuais de ‘História de Israel’ não é mais aceita. A sequência patriarcas, José do Egito, escravidão, êxodo, conquista da terra, confederação tribal, império davídico-salomônico, divisão entre norte e sul, exílio e volta para a terra está despedaçada.

O uso dos textos bíblicos como fonte para a ‘História de Israel’ é questionado por muitos. A arqueologia ampliou suas perspectivas e falar de ‘arqueologia bíblica’ hoje é proibido: existe uma ‘arqueologia da Palestina’, ou uma ‘arqueologia da Síria/Palestina’ ou mesmo uma ‘arqueologia do Levante’.

O uso de métodos literários sofisticados para explicar os textos bíblicos, afasta-nos cada vez mais do gênero histórico, e as ‘estórias bíblicas’ são abordadas com outros olhares. A ‘tradição’ herdada dos antepassados e transmitida oralmente até à época da escrita dos textos frequentemente não consegue provar sua existência.

A construção de uma ‘História de Israel’ feita somente a partir da arqueologia e dos testemunhos escritos extrabíblicos é uma proposta cada vez mais tentadora. Uma ‘História de Israel’, que dispense o pressuposto teológico de Israel como ‘povo escolhido’ ou ‘povo de Deus’ que sempre a sustentou. Uma ‘História de Israel e dos Povos Vizinhos’, melhor, uma ‘História da Síria/Palestina’ ou uma ‘História do Levante’ parece ser o programa para os próximos anos.

E há pesquisadores de renome na área, como Rolf Rendtorff, exegeta alemão, professor da Universidade de Heidelberg, falecido em 2014, que já em 1993 afirmava em artigo na revista Biblical Interpretation 1, p. 34-53, que os problemas da interpretação do Pentateuco estão intimamente ligados aos problemas mais amplos da reconstrução da história de Israel e da história de sua religião.

Este artigo quer traçar um panorama destas mudanças pelas quais vem passando a ‘História de Israel’ nos últimos trinta e tantos anos, apontar as dificuldades que a crise vem criando e propor algumas pistas de leitura para os interessados no assunto.

Este artigo foi publicado, de forma mais ampliada, na Ayrton’s Biblical Page, onde acréscimos ao texto são feitos sempre que surgem novidades. A bibliografia foi atualizada em 2015. Clique aqui para ler o artigo.

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Vale a pena ler os profetas hoje?

Vale a pena ler os profetas hoje? Artigo publicado na Ayrton’s Biblical Page em 2000. A bibliografia foi atualizada em 2015.

Ainda vale a pena ler os profetas hoje? Que valor têm as suas palavras para nós hoje? O mundo mudou muito, e nós o que temos a ver com os problemas e as propostas de profetas israelitas que viveram há mais de 2500 anos?

O mundo mudou muito, mas as crises vividas pelos profetas ainda acontecem. Em contextos diferentes, é claro. Entretanto, os problemas da opressão, do domínio, do poder despótico, da manipulação da religião, da falsa consciência são mais atuais do que nunca. E é aí que entram os profetas: eles podem, com suas palavras tão antigas e tão atuais, nos ajudar a enfrentar as agudas situações de crise neste terceiro milênio.

Isto depende, porém, de um enfoque correto, de uma abordagem adequada dos textos dos profetas israelitas. O que nem sempre é fácil. Persistem ainda muitos obstáculos. Que, curiosamente, não vêm da antiguidade e da complexidade dos textos dos profetas. Vêm de nossa época e de nosso olhar: são os condicionamentos culturais ocidentais os que mais nos afastam de uma leitura proveitosa dos profetas.

É toda uma mentalidade, uma secular visão de mundo que nos domina, de tal modo que quase sempre a sobrepomos ao texto bíblico, ocultando o seu sentido original e inutilizando-o frente aos problemas reais do mundo atual.

Por isso, o que aqui proponho é a abordagem de alguns dos obstáculos hermenêuticos mais comuns, nos quais constantemente tropeçamos. Obstáculos hermenêuticos são armadilhas do pensamento. Isto servirá de alerta e alarme para nós. Pois só uma constante vigilância ideológica manterá aberta a nossa mente para a experiência do nascimento do sentido que acontece na operação de leitura dos textos proféticos.

O filósofo francês da ciência Gaston BACHELARD trabalhou de maneira muito interessante a questão dos obstáculos epistemológicos, noção na qual me inspirei para falar de obstáculos hermenêuticos. O texto de Bachelard está em sua obra La formation de l’esprit scientifique: contribution à une psychanalyse de la connaissance objective. 15. ed. Paris: Vrin, 2000, mas pode ser lido, em português, em BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. 3. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2003.

Este texto foi adaptado de meu livro Nascido Profeta: a vocação de Jeremias. São Paulo: Paulus, 1992, p. 110-122.

SOTER 2000: Teologia na América Latina

Teologia na América Latina: Prospectivas. Artigo publicado na Ayrton’s Biblical Page em 2000.

Realizou-se em Belo Horizonte, nos dias 24-28 de julho de 2000, o Congresso da SOTER, Sociedade de Teologia e Ciências da Religião. O tema, neste ano de balanços, foi Teologia na América Latina: Prospectivas. Do Congresso, que contou, pela primeira vez, com a adesão de vários países da América Latina, participaram 234 teólogos, teólogas e cientistas da religião. Destes, 77 vieram da Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, México, Peru e Uruguai, além de convidados da Áustria, Canadá, Espanha, Estados Unidos e Itália.

Alguns nomes de destaque na Teologia Latino-Americana que se fizeram presentes: Leonardo Boff, Clodovis Boff, Gustavo Gutiérrez (Peru), José Comblin, João Batista Libânio, Antônio Moser, Benedito Ferraro, Marcelo Barros, Alberto Antoniazzi, Faustino Teixeira, Pablo Richard (Costa Rica), Ronaldo Muñoz (Chile), Sergio Silva Gatica (Chile), Alberto Parra (Colômbia), José Duque (Costa Rica) e tantos outros. Sem nos esquecermos da presença do Vice-Presidente da Sociedade Europeia de Teologia e do Secretário da Sociedade Católica de Teologia dos Estados Unidos, ou do polêmico teólogo italiano Giulio Girardi, nem do fato inédito da participação e filiação à SOTER de Dom Emanuel Messias de Oliveira, Mestre em Bíblia, [então] bispo da Diocese de Guanhães, MG [atualmente, em 2024, Dom Emanuel é bispo emérito de Caratinga, MG].

Cadernos de Teologia?

Cadernos de Teologia: outra revista citada em minhas publicações e, assim como os Cadernos do Cearp, por não ter sido indexada junto aos órgãos competentes, talvez seja pouco conhecida.

Esta foi uma revista acadêmica da FTCR – Faculdade de Teologia e Ciências Religiosas –  da PUC-Campinas, que teve 11 números publicados entre outubro de 1995 e maio de 2002. Também desta revista fui o redator.

No primeiro número, Dom Gilberto Pereira Lopes, Arcebispo Metropolitano de Campinas e grão-chanceler da PUC-Campinas, diz em sua “Mensagem de Abertura”:

Com agrado, acolho a sugestão de dizer uma palavra, no início desta publicação. Uma palavra de esperança, de votos, de bênção. A semente que aqui se lança possa, à semelhança daquela da parábola, produzir muitos frutos de vida. É a Esperança que acalentamos (…) Será um grande serviço de reflexão em torno de temas que interessam a este “Cadernos de Teologia”. Que seja capaz de realizar plenamente sua missão…

E José Arlindo de Nadai, então Diretor da FTCR, no editorial deste primeiro número, acrescenta:

É com alegria e esperança que apresentamos o primeiro número de “Cadernos de Teologia” do Instituto de Teologia e Ciência Religiosas – ITCR, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCCAMP [Nota: a FTCR, naquela época, ainda era denominada ITCR]. Alegria porque, finalmente, conseguimos realizar um sonho acalentado há tantos anos! Esperança, pois, pretendemos manter periodicamente a publicação, como um serviço à comunidade. Escolhemos [para este primeiro número] a questão dos Essênios e os Manuscritos de Qumran pela atualidade do debate e avanço das pesquisas. E também pelo interesse de nossos professores e alunos do Instituto.

Quando começou, quem organizava os Cadernos de Teologia?

Diretor Responsável: José Arlindo de Nadai
Redator: Airton José da Silva
Secretário: Luiz Carlos F. Magalhães

Conselho Editorial:
Airton José da Silva
Benedito Ferraro
Éder Doniseti Justo
José Arlindo de Nadai
José Carlos de Oliveira
Luiz Carlos F. Magalhães

A revista, semestral, com tiragem de 500 exemplares distribuídos gratuitamente, trazia regularmente artigos e outras contribuições dos professores e estudantes da FTCR.

Para exemplificar, transcrevo os sumários dos números 1 e 11, primeiro e último publicados:

Número 1: ano 1 – outubro de 1995

Artigos
Airton José da Silva – Os Essênios e os Manuscritos do Mar Morto
Cássio Murilo Dias da Silva – Qumran e Jesus, Jesus e Qumran
Benedito Ferraro e Márcio Tangerino – Reino e Democracia

Pesquisas
Paulo Sérgio Lopes Gonçalves – A Igreja dos pobres nas obras de Leonardo Boff
Sávio Carlos Desan Scopinho – A epistemologia em questão
Wilson Denadai – A morte como símbolo de transformação

Notas Bibliográficas
SHANKS, H. Para compreender os Manuscritos do Mar Morto. Rio de Janeiro: Imago, 1993 – José Carlos de Oliveira
VANDERKAM, J. C. Os Manuscritos do Mar Morto hoje. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995 – Éder Donisete Justo
GARCÍA MARTÍNEZ, F. Textos de Qumran: Edição Fiel e Completa dos Documentos do Mar Morto. Petrópolis: Vozes, 1995 – Airton José da Silva

Notícias
Semana Teológica: Globalização da Economia – Alexandre Sanches Ximenes
Curso Noturno – Teologia para Leigos: “Guia do Aluno”
Diretório Acadêmico João XXIII – Luiz Carlos F. Magalhães

 

Número 11: ano 8 – maio de 2002

Artigos
Ruy Rodrigues Machado – Oriente Médio: Geopolítica, Terrorismo e Guerra
Paulo Sérgio Lopes Gonçalves – A Pesquisa na Universidade Católica
Pedro Carlos Cipolini – Teologia do Episcopado
José Antonio Trasferetti – Pastoral da Família e AIDS. Comunicação, Saúde e Conscientização
Cássio Murilo Dias da Silva – Estudo Exegético de Jeremias 5,1-9 – Um Esboço
Sandro de Souza Portela – A Universidade Solidária e a Teologia

Resenhas
GNILKA, J. Jesus de Nazaré: mensagem e história. Petrópolis: Vozes, 2000 – Rodrigo Catini Flaibam
MOLTMANN, J. Trindade e Reino de Deus: uma contribuição para a teologia. Petrópolis: Vozes, 2000 – Rodrigo Catini Flaibam
BARREIRO, A. Igreja, Povo Santo e Pecador: estudo sobre a dimensão eclesial da fé cristã e o pecado na Igreja, a crítica e a fidelidade à Igreja. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2001 – Alexander Luiz Dezotti

Leia Mais:
Sobre minhas publicações 

Cadernos do Cearp?

Em minhas publicações tenho citado esta revista. O que é? Ou, o que foi?

Cadernos do Cearp: uma revista acadêmica do Curso de Teologia do CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto – que teve 13 números elaborados (entretanto, apenas 11 publicados) entre maio de 1994 e maio de 2001. Fui o seu redator.

No primeiro número, Dom Arnaldo Ribeiro, Arcebispo Metropolitano, deixou uma mensagem na qual, entre outras coisas, diz:

Na reunião de avaliação dos trabalhos escolares do CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto – no final de 1993, foi apresentada, com muitos pormenores uma sugestão nascida nas avaliações feitas entre alunos e professores: chegou a hora de termos um órgão de divulgação de nossos estudos e da nossa vida acadêmica, criando a possibilidade de partilha com outros Centros de estudos teológicos (…) Os esforços iniciais chegam à sua plena realização. Surge o número inicial de Cadernos do CEARP. Uma nova vitória dos dedicados Professores, bem como dos estudantes que desejam sua Escola cada dia melhor, em tudo. Isto aqui é só uma simples apresentação, para dizer da minha alegria, das minhas esperanças. Com o meu abraço de parabéns…

E Francisco de Assis Correia, então Diretor do CEARP, no editorial deste primeiro número, acrescenta:

Com este primeiro número de Cadernos do CEARP, o nosso Curso de Teologia dá mais um passo, ainda que modesto. O objetivo deste órgão é: dinamizar o debate teológico existente, divulgar as pesquisas feitas pelo corpo docente e discente, dar a conhecer ao clero da Província Eclesiástica de Ribeirão Preto e aos outros Institutos de Teologia do Estado de São Paulo o trabalho do CEARP…

Quando começou, quem organizava os Cadernos do Cearp?

Diretor: Francisco de Assis Correia
Redator: Airton José da Silva
Secretário: Edmar Roberto Prandini

Conselho Editorial:
Airton José da Silva
Alfeu Piso
Edmar Roberto Prandini
Francisco de Assis Correia
Paulo Cezar Mazzi
Paulo Fernando de Mello Cunha

A revista, com tiragem de 300 exemplares distribuídos gratuitamente, trazia regularmente artigos e outras contribuições dos professores e estudantes da Teologia do Cearp e, eventualmente, de convidados das Semanas Teológicas.

Para exemplificar, transcrevo os sumários dos números 1 e 11, primeiro e último publicados:

Número 1: ano 1 – maio de 1994

Artigos
1. DO PRADO, J. L. G. Para que teus dias se prolonguem: a família, fonte de vida
2.CORREIA, F. A.  A família: uma leitura do texto-base da CF 94 sob a ótica da alteridade
3. MASIN, J. Paternidade e maternidade responsáveis e os métodos de planejamento familiar

Sínteses
1. PIVATTI, C. Síntese na área de cristologia sistemática
2. RICARDO, P. L. Liturgia – celebrar o encanto da vida

Notas bibliográficas
1. MARCÍLIO, M. L. (org.) A família, mulher, sexualidade e Igreja na História do Brasil. São Paulo: Loyola, 1993 (Edmar Roberto Prandini)
2. FERRARO, B. Cristologia em tempos de ídolos e sacrifícios. São Paulo: Paulinas, 1993 (Paulo C. Mazzi)
3. BYRNE, B. Paulo e a mulher cristã. São Paulo: Paulinas, 1993 (Paulo F. de Mello Cunha)

Notícias
1. Planejamento familiar e métodos naturais
2. Religiosidade e cultura popular

Número 11: ano 6 – maio de 1999

Artigos
1. O “Novo Clero”: Arcaico ou Moderno? – Luiz Roberto Benedetti
2. Projeto Genoma Humano (PGH): Utopia do Homem Geneticamente Perfeito – Valdomiro José de Souza
3. Ainda Sobre os Transplantes de Órgãos – Francisco de Assis Correia
4. Solidariedade x Caridade – Mário José Filho
5. A Leitura Sócio-Antropológica da Bíblia Hebraica – Airton José da Silva
6. O Ser Humano: Ser de Necessidade e de Criatividade – Carlos Barbosa
7. Teologia e Método – Leandro Carlos dos Santos Pupin

Notas Bibliográficas
1. REEVES, H. Um pouco mais de azul: a evolução cósmica. São Paulo: Martins Fontes, 1998 – Antonio Élcio de Souza e Fábio Renato Brazolin de Carvalho
2. HAUGHT, J. F. Mistério e Promessa: Teologia da Revelação. São Paulo: Paulus, 1998 – André Luiz Massaro

Leia Mais:
Sobre minhas publicações 

Leitura socioantropológica do Novo Testamento

Leitura socioantropológica do Novo Testamento. Artigo publicado na Ayrton’s Biblical Page em 2000.

1. A Antropologia do Mundo Mediterrâneo e o NT

No outro artigo falamos só da Bíblia Hebraica e das questões que ela propõe a uma leitura sociológica. Mas se considerarmos mais especificamente o Novo Testamento hoje com o auxílio da antropologia, perceberemos que o mundo mediterrâneo no qual ele foi gestado tem muito menos em comum com o Ocidente moderno do que imaginamos. É que costumamos olhar o texto com os parâmetros sociais atuais e não conseguimos, frequentemente, perceber a diferença do mundo antigo.

Considerações deste gênero são feitas, por exemplo, por Richard L. Rohrbaugh, na Introdução de um volume sobre “As Ciências Sociais e a Interpretação do Novo Testamento”, obra escrita por membros do The Context Group, “uma associação de estudiosos interessados no uso das Ciências Sociais como um instrumento heurístico na interpretação do Novo Testamento” que ao longo de mais de uma década vem trabalhando com a questão da antropologia do mundo mediterrâneo, visto como uma unidade cultural onde foi escrito o NT.

O autor nos oferece alguns exemplos que apontam para o risco da projeção de nossa visão moderna de mundo para o universo do NT. Tomemos a questão da expectativa de vida hoje nos países ricos e nas cidades pré-industriais do Império Romano: “Cerca de 1/3 daqueles que ultrapassavam o primeiro ano de vida (não contabilizados, portanto, como vítimas da mortalidade infantil) morriam até os 6 anos de idade. Cerca de 60% dos sobreviventes morriam até os 16 anos. Por volta dos 26 anos 75% já tinha morrido e aos 46 anos, 90% já desaparecido, chegando aos 60 anos de idade menos de 3% da população”.

É claro que estes dados não são uniformemente distribuídos por toda a população da época. Os que mais sofriam pertenciam às classes mais pobres das cidades e povoados, já que um pobre em Roma, no século I de nossa era, tinha uma expectativa de vida de 30 anos, quando muito. E o autor acrescenta: “Estudos feitos por paleopatologistas indicam que doenças infecciosas e desnutrição eram generalizadas. Por volta dos 30 anos a maioria das pessoas sofria de verminose, seus dentes tinham sido destruídos e sua vista acabado (…) 50% dos restos de cabelo encontrados nas escavações arqueológicas tinham lêndeas”*.

Continue a leitura clicando aqui. A bibliografia, no final do texto, foi atualizada em 2012.

Lembro que este texto está presente também no seguinte livro:

DIAS DA SILVA, C. M., com a colaboração de especialistas, Metodologia de exegese bíblica. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 355-450.

* Três notas de rodapé foram omitidas neste trecho aqui transcrito.