Origem do discurso socioantropológico

O discurso socioantropológico: origem e desenvolvimento. Artigo publicado na Ayrton’s Biblical Page em 2000. 

O objetivo deste artigo é esboçar um panorama da origem e do desenvolvimento de duas ciências sociais que estão sendo hoje muito utilizadas na leitura da Bíblia. Trata-se da Sociologia e da Antropologia Cultural ou Social, somadas no discurso que caracterizamos como Socioantropológico. Em inglês, a terminologia comumente utilizada é Social-Scientific Criticism.

Continue a leitura clicando aqui. A bibliografia, no final do texto, foi atualizada em 2015.

Lembro que este texto está presente também no seguinte livro:

DIAS DA SILVA, C. M., com a colaboração de especialistas, Metodologia de exegese bblica. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 355-450.

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Leitura socioantropológica da Bíblia Hebraica

Leitura socioantropológica da Bíblia Hebraica. Cadernos do Cearp, Ribeirão Preto, n. 11, p. 75-98, 1999.

Philip R. Davies, exegeta britânico, ao falar dos métodos usados na leitura da Bíblia nas últimas duas décadas, sugere que a combinação das abordagens literárias e sociológicas apresenta hoje o mais promissor caminho para o avanço dos estudos da Bíblia Hebraica. É que estas abordagens examinam não somente a literatura e a realidade social de Israel, mas também as forças sociais subjacentes à produção da literatura bíblica, onde se distingue a sociedade que está por trás do texto da sociedade que aparece dentro do texto. Além disso, sublinha ainda Philip R. Davies, estas abordagens situam Israel no seu contexto histórico apropriado e questionam preconceitos teológicos que, frequentemente, estorvam os especialistas em exegese bíblica.

Na mesma direção sinaliza Norman K. Gottwald, quando diz que a leitura sociológica fecha a porta “firme e irrevogavelmente, às ilusões idealistas e supernaturalistas que ainda impregnam e enfeitiçam nossa perspectiva religiosa”, quando abordamos um texto bíblico. E acrescenta: “Cumpre que tanto Iahweh como ‘seu’ povo sejam desmistificados, desromantizados, desdogmatizados e desidolizados. Somente quando realizarmos esta desmitologização da fé javista, e dos seus derivados judaico e cristão, seremos capazes, aqueles dentre nós que foram formados e alimentados por esses símbolos judeus e cristãos curiosamente ambíguos, de alinharmos coração e cabeça, de combinarmos teoria e prática”.

Vale lembrar aqui outro aspecto: a aplicação das Ciências Sociais ao estudo da Bíblia vem conseguindo responder satisfatoriamente a questões que a clássica “teologia bíblica” não conseguiu abordar de modo adequado até agora.

É igualmente importante salientar que a leitura sociológica da Bíblia está relacionada especialmente com os métodos histórico-críticos e com a leitura popular. Na medida em que toda abordagem sociológica de um texto histórico é também uma abordagem histórica, a leitura sociológica tem complementado e corrigido a leitura histórico-crítica. Especialmente importante é a percepção de que sua colaboração se faz necessária quando a historiografia não se contenta em descrever as ações dos grupos dominantes de determinada sociedade, mas a história quer revelar a atividade total de um povo. Do mesmo modo, a leitura popular que vem sendo feita entre nós se beneficia das contribuições das Ciências Sociais. No estudo do contexto em que foram escritos os textos bíblicos, por exemplo, costuma-se olhar os quatro lados da situação enfocada: os lados econômico, social, político e ideológico. Esta é uma atitude sociológica, entre outras que poderiam ser aqui citadas.

É sobre esta atitude que David J. Chalcraft, organizador de um livro sobre a aplicação das Ciências Sociais ao Antigo Testamento, diz: “A crítica social científica não deve se restringir a modelos e teorias preditivas no seu esforço para reconstruir o que está ‘atrás dos textos’: mais do que isso, ela abarca toda uma série de questões, teorias, conceitos e metodologias. Ela, e isso é o mais importante, implica em ‘modos de pensar’ sociológico e antropológico”*.

Este artigo foi publicado na Ayrton’s Biblical Page. Confira: Leitura socioantropológica da Bíblia Hebraica. A bibliografia foi atualizada em 2012.

Lembro que este texto está presente também no seguinte livro:

DIAS DA SILVA, C. M., com a colaboração de especialistas, Metodologia de exegese bíblica. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 355-450.

* Cinco notas de rodapé, presentes nesta introdução, foram aqui omitidas.

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O EI está mesmo destruindo artefatos assírios?

O terrível do terrorismo é que ele ocupa as mentes. Nas guerras e guerrilhas precisa-se ocupar o espaço físico para efetivamente triunfar. No terror não. Basta ocupar as mentes, distorcer o imaginário e introjetar medo (Leonardo Boff).

Primeiro, a notícia:

Estado Islâmico destrói estátuas milenares da civilização assíria no Iraque – Opera Mundi 26/02/2015

O EI (Estado Islâmico) divulgou, nesta quinta-feira (26/02), um vídeo em que integrantes do grupo jihadista aparecem destruindo diversas estátuas e esculturas com mais de três mil anos com marretas (…)  O material era parte do patrimônio cultural da civilização assíria, que habitou o norte do Iraque e da Síria desde o século X a.C. (…) As estátuas destruídas são parte da coleção do museu de Mossul, capital da província de Nínive e que é controlada pelo EI desde junho de 2014.

 

Em seguida, por recomendação de Charles E. Jones, na lista ANE-2, uma análise do episódio:

For a good preliminary analysis of today’s video of the destruction in Mosul Museum and Nineveh have a look at Sam Hardy’s Conflict Antiquities: Islamic State has toppled, sledgehammered and jackhammered (drilled out) artefacts in Mosul Museum and at Nineveh.

Um trecho do texto diz:

There is no doubt that the Islamic State is profiting from the illicit trade in antiquities. Although the criminals have destroyed some ancient artefacts (whether complete objects or fragmentary reconstructions), they have also destroyed a lot [some] of modern reproductions – as is visible, for example, around 00h03m58s. [The reinforcing steel (“rebar”) is the “skeleton” that connects fragments in reproductions.] All this video really shows is that they are willing to destroy things that they can’t ship out and sell off.

O que parece estar acontecendo é a destruição de material que eles não conseguem vender. Seriam reproduções modernas das antigas peças assírias… É bem provável que o Estado Islâmico esteja mesmo é lucrando muito com o mercado ilegal de artefatos arqueológicos da Mesopotâmia.

Infelizmente a destruição de preciosos artefatos e sítios arqueológicos assírios pelo Estado Islâmico está se tornando rotina. Clique aqui.

Marcos, hoje aclamado, já foi negligenciado

Hoje aclamado pelos especialistas, o evangelho de Marcos foi negligenciado na época patrística. Como ele conseguiu sobreviver?

Michael J.  Kok, que mantém um blog dedicado ao estudo acadêmico de Marcos, escreve, neste fevereiro, em The Bible and Interpretation, um artigo que aborda o tema de seu recente livro.

O artigo: Why Did the Gospel of Mark Survive?

A revista explica:
In spite of the virtually unanimous ecclesiastical tradition that the evangelist Mark was the interpreter of Peter, the most prestigious leader among the Apostles in Christian memory, the Gospel of Mark was mostly neglected in the Patristic period. Moreover, the explicit Patristic comments about the evangelist Mark reveal some ambivalence about the Gospel’s literary and theological value. This paper will explore the reasons why some later Christian intellectuals were hesitant to embrace Mark, especially highlighting their concerns that Mark could be read as amenable to the theological views of their opponents.

 

O livro: The Gospel on the Margins: The Reception of Mark in the Second Century. Minneapolis: Fortress Press, 2015, 240 p. – ISBN 9781451490220. Para Kindle, aqui.

Diz a editora:
Scholars of the Gospel of Mark usually discuss the merits of patristic references to the Gospel’s origin and Mark’s identity as the “interpreter” of Peter. But while the question of the Gospel’s historical origins draws attention, no one has asked why, despite virtually unanimous patristic association of the Gospel with Peter, one of the most prestigious apostolic founding figures in Christian memory, Mark’s Gospel was mostly neglected by those same writers. Not only is the text of Mark the least represented of the canonical Gospels in patristic citations, commentaries, and manuscripts, but the explicit comments about the Evangelist reveal ambivalence about Mark’s literary or theological value. Michael J. Kok surveys the second-century reception of Mark, from Papias of Hierapolis to Clement of Alexandria, and finds that the patristic writers were hesitant to embrace Mark because they perceived it to be too easily adapted to rival Christian factions. Kok describes the story of Mark’s Petrine origins as a second-century move to assert ownership of the Gospel on the part of the emerging Orthodox Church.

 

Este livro é o resultado de sua tese de doutorado na Universidade de Sheffield, Reino Unido, concluída em 2013, sob a orientação do Professor James G. Crossley:

Kok, Michael J (2013) The Gospel on the Margins: The Ideological Function of the Patristic Tradition on the Evangelist Mark. PhD thesis, University of Sheffield.

O texto da tese, em pdf, pode ser baixado gratuitamente, assim como outras interessantes teses disponíveis neste site.

Leia Mais:
Marcos na Ayrton’s Biblical Page e no Observatório Bíblico

Resenhas na RBL – 13.02.2015

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Philippe Abadie
Des héros peu ordinaires: Théologie et histoire dans le livre des Juges
Reviewed by Michael S. Moore

Michael Carasik, ed.
The Commentators’ Bible: The JPS Miqra’ot Gedolot: Numbers
Reviewed by Bálint Károly Zabán

Jeffrey L. Cooley
Poetic Astronomy in the Ancient Near East: The Reflexes of Celestial Science in Ancient Mesopotamian, Ugaritic, and Israelite Narrative
Reviewed by Stephen C. Russell

Rebecca S. Hancock
Esther and the Politics of Negotiation: Public and Private Spaces and the Figure of the Female Royal Counselor
Reviewed by Christine Mitchell
Reviewed by Michael S. Moore

Annewies van den Hoek and John J. Herrmann Jr.
Pottery, Pavements, and Paradise: Iconographic and Textual Studies on Late Antiquity
Reviewed by Lee M. Jefferson

Brian Howell
In the Eyes of God: A Contextual Approach to Biblical Anthropomorphic Metaphors
Reviewed by Michael B. Hundley

Simon J. Joseph
Jesus, Q, and the Dead Sea Scrolls: A Judaic Approach to Q
Reviewed by Michael Labahn

Shula Keshet
‘Say You Are My Sister’: Danger, Seduction, and the Foreign in Biblical Literature and Beyond
Reviewed by Nancy Nam Hoon Tan

Nili Wazana
All the Boundaries of the Land: The Promised Land in Biblical Thought in Light of the Ancient Near East
Reviewed by Esias E. Meyer

>> Visite: Review of Biblical Literature Blog

Importante papiro do NT muda de nome

O P75, papiro do começo do século III, ou um pouco antes, é um dos mais antigos testemunhos do texto do Novo Testamento. Pois o Bodmer Papyrus XIV-XV (P75) passa a se chamar Hanna Papyrus 1 (Mater Verbi), em homenagem à familia Hanna que, em 2007, o comprou e doou à Biblioteca Vaticana.

Veja a nota, em italiano:

“La biblioteca Apostolica Vaticana desidera esprimere la sua profonda gratitudine alla famiglia Hanna e alla Solidarity Association per aver donato alla Biblioteca, nel gennaio 2007, uno fra i più importanti e preziosi manoscritti dei Vangeli, il Papiro Hanna 1 (Mater Verbi), precedentemente conservato presso la Bibliotheca Bodmeriana a Cologny, in Svizzera. Vergato agli inizi del III secolo d.C., è uno dei più antichi testimoni superstiti del testo del Nuovo Testamento.

Originariamente conteneva per intero i Vangeli di Luca e di Giovanni, in questo ordine; oggi, circa 1.800 anni dopo, conserva ancora circa la metà di entrambi i Vangeli in condizioni soddisfacenti, tra cui la versione lucana del Padre Nostro (Lc 11,1-4). Per alcuni passi, come Gv 6,12-16, è addirittura il testimone più antico.

Noto agli studiosi come P75 questo papiro è una delle fonti più importanti per la ricostruzione del testo dei Vangeli; è anche il più antico manoscritto in cui si vede, in un’unica pagina, la transizione tra la fine di un Vangelo e l’inizio del seguente, il che costituisce la prima testimonianza diretta dell’ordine dei libri nel canone dei Vangeli”.

O P75 pertencia à Biblioteca Bodmeriana, que fica em Cologny, Suíça.

Leia também: A New Name for P75, texto escrito por Peter M. Head no blog Evangelical Textual Criticism.

Codex Vaticano está online

O Codex Vaticano está disponível online.

O Codex Vaticano (B), assim chamado porque desde o século XV está na Biblioteca Vaticana, contém, além do AT quase todo na versão da LXX, a maior parte do NT. É do séc. IV, vem provavelmente do Egito e é um dos melhores textos do NT.

Leia um pouco sobre o Codex Vaticano e outros textos antigos do NT aqui.

Codex Vaticanus (B) is now available on-line including LXX and NT. The Vatican Library has digitised Codex Vaticanus. It is an majuscule manuscript that dates to the mid-fourth century and contains almost the entire Christian canon in Greek.

O que é a apocalíptica?

Apocalíptica: busca de um tempo sem fronteiras. Artigo publicado na Ayrton’s Biblical Page em 1999.

1. Filha e Herdeira da Profecia

O verbo grego kalýpto significa “cobrir”, “esconder”, “ocultar”, “velar”. Neste sentido ele é usado, por exemplo, em Lc 23,30 ou 2Cor 4,3. Aqui, Paulo diz: “Por conseguinte, se o nosso evangelho permanece velado (kekalymménon) está velado (kekalymménon) para aqueles que se perdem…”.

Na LXX, kalýpto é usado no mesmo sentido em Ex 24,15;27,2; Nm 9,15; 1Rs 19,13 e em muitos outros lugares. Ex 24,14 diz: “Depois, Moisés e Josué subiram à montanha. A nuvem cobriu (ekálypsen) a montanha”. Nm 9,15 diz: “No dia em que foi levantada a Habitação, a Nuvem cobriu (ekálypsen) a Habitação, ou seja, a Tenda da Reunião…”. O verbo hebraico assim traduzido é khâsah, “cobrir”, “ocultar”.

A preposição grega apó indica um movimento de afastamento ou retirada de algo que está na parte externa de um objeto. Assim é usada em Mt 5,29: “Caso o teu olho direito te leve a pecar, arranca-o e lança-o para longe de ti (apó sou)”.

Em hebraico, o verbo gâlâh é usado com o significado de “despir”, “descobrir”, “revelar”, “desvelar”. Ex 20,26 diz: “Nem subirás o degrau do meu altar, para que não se descubra (thigâleh) a tua nudez”. E 1Sm 2,27: “Um homem de Deus veio a Eli e lhe disse: ‘Assim diz Iahweh. Eis que me revelei (nighlêthî) à casa de teu pai…'”.

Dn 2,29 usa o verbo gâlâh para a revelação do que deve acontecer: “Enquanto estavas sobre o teu leito, ó rei, acorriam-te os pensamentos sobre o que deveria acontecer no futuro, e aquele que revela (weghâlê’) os mistérios te deu a conhecer o que deve acontecer”.

A LXX traduz o verbo gâlâh pelo grego apokalýptô, que significa “descobrir”, “revelar”, “desvelar”, “retirar o véu”.

O NT usa o mesmo verbo neste sentido. Mt 10,26, por exemplo: “Não tenhais medo deles, portanto. Pois nada há de encoberto que não venha a ser descoberto (apokalyfthêsetai)”. Ou Lc 10,22: “Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, e quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar (apokalýpsai)”.

Deste verbo deriva o substantivo feminino grego apokálypsis, “revelação”, “apocalipse”. Em Gl 2,2 Paulo diz a propósito de sua ida a Jerusalém: “Subi em virtude de uma revelação (apokálypsin)…”. E o livro do Apocalipse começa assim: “Revelação (apokálypsis) de Jesus Cristo…”.

De “apocalipse” deriva “apocalíptica” e é exatamente com esse nome que designamos uma corrente de pensamento e uma literatura surgidas em Israel entre os anos 200 a.C. e 100 d.C., mais ou menos.

Continue a leitura clicando no link do título do artigo. A bibliografia, no final do texto, foi atualizada em 2015.

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