Assíria

Todas as postagens sobre a Assíria publicadas no Observatório Bíblico. Em ordem cronológica, da mais recente à mais antiga:

:: Fontes textuais para o Akitu durante o Primeiro Milênio a.C. – 21.11.2024Senaquerib, rei da Assíria de 705 a 681 a.C.

:: Layard e Botta em Nínive em 1842 – 17.10.2024

:: Assíria e Egito na Palestina na época de Josias – 03.10.2024

:: A escavação arqueológica da Assíria – 17.08.2024

:: O império assírio: ascensão e queda – 11.06.2024

:: Tiglat-Pileser I, rei da Assíria de 1115 a 1076 a.C. – 18.05.2024

:: Notas sobre o começo da arqueologia na Mesopotâmia – 20.03.2024

:: Como ser um assiriólogo? – 28.06.2023

:: Eles criam uma solidão e a chamam de paz: o domínio assírio na Palestina – 16.03.2022

:: As campanhas militares de Tiglat-Pileser III na Síria e na Palestina – 13.03.2022

:: A imperialização da Assíria: uma abordagem arqueológica – 16.02.2022

:: Projeto Biblioteca de Assurbanípal – 03.02.2022

:: Revisitando o legado de Layard – 16.03.2021

:: A tomada de Laquis por Senaquerib em 701 a.C. – 3 — 27.04.2020Assurbanípal, rei da Assíria (668-627 a.C.)

:: A tomada de Laquis por Senaquerib em 701 a.C. – 2 — 27.04.2020

:: A tomada de Laquis por Senaquerib em 701 a.C. – 1 — 27.04.2020

:: Um retrato de Senaquerib, rei da Assíria – 16.04.2020

:: O cerco de Jerusalém por Senaquerib em 701 a.C. – 11.04.2020

:: As inscrições reais do período neoassírio – 07.04.2020

:: A invasão de Judá por Senaquerib: as fontes – 28.03.2020

:: Senaquerib, rei da Assíria – 14.03.2020

:: Eu sou Assurbanípal: exposição no Museu Britânico – 04.02.2019

:: Ensaios sobre a Assíria – 02.01.2018

:: Sargão II, rei da Assíria – 13.10.2017Os relevos de Laquis no British Museum, Londres

:: Religião e ideologia na Assíria – 13.06.2017

:: Assíria: a pré-história do imperialismo – 08.06.2017

:: O EI e a destruição do patrimônio arqueológico na Síria e no Iraque – 05.09.2015

:: A invasão de Judá por Senaquerib em 701 a.C. – 22.03.2015

:: O EI está mesmo destruindo artefatos assírios? – 27.02.2015

:: Ezequias e os espiões da Assíria – 01.02.2007

:: As campanhas de Tiglat-Pileser III contra Damasco e Samaria entre 734 e 732 a.C. – 21.06.2006

Um guia para a leitura do livro de Isaías

HAYS, C. B. (ed.) The Cambridge Companion to the Book of Isaiah. Cambridge: Cambridge University Press, 2024, 400 p. – ISBN 9781108456784.

Poucos escritos moldaram o mundo tanto quanto o livro de Isaías. Seu lirismo, imagens, teologia e ética estão profundamente arraigados em nós e na cultura judaica eHAYS, C. B. (ed.) The Cambridge Companion to the Book of Isaiah. Cambridge: Cambridge University Press, 2024, 400 p. cristã em geral. Tem sido um fenômeno cultural desde o momento em que foi formado e influenciou também autores bíblicos posteriores.

O livro de Isaías também é uma obra literária complexa, densa em poesia, retórica e teologia, e ricamente entrelaçada com a história antiga. Por todas essas razões, é um desafio lê-lo bem.

The Cambridge Companion to Isaiah serve como um guia atualizado e confiável para este livro bíblico. Incluindo diversas perspectivas de estudiosos renomados de todo o mundo, ele aborda Isaías a partir de uma ampla gama de abordagens metodológicas. Ele também apresenta os mundos em que o livro foi produzido, a maneira como foi formado e os impactos que teve no público contemporâneo e posterior de uma forma acessível.

Christopher B. Hays é professor de Antigo Testamento e Estudos do Antigo Oriente Médio no Seminário Teológico Fuller, Pasadena, Califórnia, USA, e pesquisador associado da Universidade de Pretória, África do Sul.

 

Few writings have shaped the world as much as the book of Isaiah. Its lyricism, imagery, theology, and ethics are all deeply ingrained into us, and into Jewish and Christopher B. HaysChristian culture more generally. It has been a ­cultural touchstone from the time when it was formed, and it ­influenced later biblical authors as well. The book of Isaiah is also a complex work of literature, dense with poetry, rhetoric, and ­theology, and richly intertwined with ancient history. For all these reasons, it is a challenge to read well. The Cambridge Companion to Isaiah serves as an up-to-date and reliable guide to this biblical book. Including diverse perspectives from leading scholars all over the world, it approaches Isaiah from a wide range of methodological approaches. It also ­introduces the worlds in which the book was produced, the way it was formed, and the impacts it has had on contemporary and later audiences in an accessible way.

Christopher B. Hays is the D. Wilson Moore Professor of Old Testament and Ancient Near Eastern Studies at Fuller Theological Seminary and a research associate of the University of Pretoria (South Africa). He is the author of The Origins of Isaiah 24–27 (Cambridge University Press, 2019) and Death in the Iron Age II and in First Isaiah (2011), and ­coauthor of Isaiah: A Paradigmatic Prophet and His Interpreters (2022). He co-translated Isaiah for the Common English Bible.

Uma introdução ao livro de Isaías

TIEMEYER, L-S. (ed.) The Oxford Handbook of Isaiah. New York: Oxford University Press, 2020, 756 p. – ISBN 9780190669249.

O livro de Isaías é sem dúvida um dos livros mais importantes da Bíblia hebraica/Antigo Testamento, como evidenciado por seu lugar de destaque nas tradições judaica eTIEMEYER, L.S. (ed.) The Oxford Handbook of Isaiah. New York: Oxford University Press, 2020, 756 p. cristã, bem como na arte e na música. A maioria das pessoas, acadêmicos e leigos, estão familiarizados com as palavras de Isaías acompanhadas pelos tons magníficos do “Messias” de Handel.

Isaías também é um dos livros mais complexos devido à sua variedade e pluralidade, e tem sido, consequentemente, o foco do debate acadêmico nos últimos 2000 anos.

Dividido em oito seções, The Oxford Handbook of Isaiah constitui uma coleção de ensaios sobre um dos livros mais longos da Bíblia. Eles cobrem diferentes aspectos sobre a formação, interpretações e recepção do livro de Isaías, e também oferecem informações atualizadas em um formato atraente e facilmente acessível.

O resultado não representa um ponto de vista unificado; em vez disso, as contribuições individuais refletem o amplo e variado espectro de envolvimento acadêmico com o livro. Os autores dos ensaios também representam uma ampla gama de tradições acadêmicas de diversos continentes e afiliações religiosas, acompanhados de recomendações abrangentes para leituras adicionais.

Lena-Sofia Tiemeyer é professora de Exegese do Antigo Testamento na Escola de Teologia de Örebro, Suécia, e pesquisadora associada no Departamento de Antigo Testamento e Escrituras Hebraicas, Faculdade de Teologia e Religião, Universidade de Pretória, África do Sul.

 

The book of Isaiah is without doubt one of the most important books in the Hebrew Bible/Old Testament, as evidenced by its pride of place in both Jewish and Christian traditions as well as in art and music. Most people, scholars and laity alike, are familiar with the words of Isaiah accompanied by the magnificent tones of Handel’s ‘Messiah’.

Isaiah is also one of the most complex books due to its variety and plurality, and it has accordingly been the focus of scholarly debate for the last 2000 years.

Lena-Sofia Tiemeyer - nascida em 1969Divided into eight sections, The Oxford Handbook of Isaiah constitutes a collection of essays on one of the longest books in the Bible. They cover different aspects regarding the formation, interpretations, and reception of the book of Isaiah, and also offer up-to-date information in an attractive and easily accessible format. The result does not represent a unified standpoint; rather the individual contributions mirror the wide and varied spectrum of scholarly engagement with the book. The authors of the essays likewise represent a broad range of scholarly traditions from diverse continents and religious affiliations, accompanied by comprehensive recommendations for further reading.

Lena-Sofia Tiemeyer is Professor of Old Testament Exegesis at Örebro School of Theology, Sweden, and Research Associate at the Department of Old Testament and Hebrew Scriptures, Faculty of Theology and Religion, University of Pretoria, South Africa.

Um Paulo judeu

THIESSEN, M. A Jewish Paul: The Messiah’s Herald to the Gentiles. Grand Rapids: Baker Academic, 2023, 208 p. – ISBN 9781540965714.

Qual era a relação do apóstolo Paulo com o judaísmo? Como ele via a lei judaica? Como ele entendia o evangelho da messianidade de Jesus em relação aos judeus étnicos e gentios? Essas continuam sendo questões perenes tanto para os estudiosos do Novo Testamento quanto para todos os leitores sérios da Bíblia.THIESSEN, M. A Jewish Paul: The Messiah's Herald to the Gentiles. Grand Rapids: Baker Academic, 2023, 208 p.

O respeitado estudioso do Novo Testamento Matthew Thiessen oferece uma contribuição importante para esta discussão. Um Paulo judeu: o arauto do Messias para os gentios é uma introdução acessível que situa Paulo claramente dentro do judaísmo do primeiro século, não se opondo a ele. Thiessen defende uma leitura historicamente mais plausível de Paulo. Paulo não rejeitou o judaísmo ou a lei judaica, mas acreditava que estava vivendo nos últimos dias, quando o Messias de Israel libertaria as nações do pecado e da morte. Paulo se via como um enviado às nações, desejando apresentá-las ao Messias e seu Espírito vivificante e transformador.

 

Leio na Introdução do livro:

A maioria das pessoas, talvez até mesmo uma boa porcentagem do clero cristão, provavelmente continua inconsciente do fato de que as pessoas que passam suas carreiras estudando e escrevendo sobre Paulo discordam fortemente umas das outras sobre o que ele diz. Mesmo aqueles de nós que dedicaram partes ou todas as nossas carreiras a pensar e escrever sobre Paulo lutam para dar sentido às diferentes cartas de Paulo, para pegar escritos ocasionais e fornecer um relato coerente, embora inevitavelmente incompleto, do que ele pensava. Nas últimas décadas, temos visto livros cada vez mais longos delineando o pensamento de Paulo. Para se ter uma noção dessa corrida armamentista exegética (e teológica), onde mais longo parece ser equiparado a melhor, veja estes três exemplos: em 1997, James Dunn publicou The Theology of Paul the Apostle (844 páginas), em 2009, Douglas Campbell publicou The Deliverance of God (1.248 páginas) e em 2013, N. T. Wright publicou Paul and the Faithfulness of God (1.700 páginas). Não acredito que exista um tratamento mais longo da teologia de Paulo, mas, dada essa tendência, o próximo grande livro sobre Paulo deve ter pelo menos 2.100 páginas.

Este pequeno livro não busca ser exaustivo. Não discutirei todos os versículos ou mesmo todos os temas nas cartas de Paulo. Em vez disso, procuro apresentar aos leitores uma questão particularmente espinhosa: como Paulo se relaciona com o judaísmo (ou, talvez melhor, os judaísmos) de sua época? Esta é uma questão histórica, mas para os cristãos modernos (e quaisquer judeus interessados) é uma questão histórica que tem relevância teológica e ecumênica. Paulo condena e abandona o judaísmo? Ele o vê como algo inferior ou pelo menos ultrapassado na esteira de Jesus? Se sim, como os cristãos de hoje devem pensar sobre o judaísmo e se relacionar com os judeus? Olhando para os últimos dois mil anos, sabemos que a maioria dos cristãos viu o judaísmo como inferior ou mesmo pernicioso, algo deixado para trás ou algo que morreu. Consequentemente, muitos cristãos trataram judeus individuais e comunidades judaicas com desprezo, repulsa, ódio e violência. As cartas de Paulo frequentemente serviram como suporte bíblico para o antijudaísmo cristão.

É possível que haja uma maneira diferente de ler as cartas de Paulo, uma que não denigra o judaísmo? A questão da relação de Paulo com o judaísmo dominou os estudos paulinos nas últimas décadas, resultando em (pelo menos) quatro maneiras pelas quais os acadêmicos tentaram dar sentido aos escritos de Paulo em relação ao judaísmo; essas quatro maneiras são comumente chamadas de leituras “luterana”, “nova perspectiva”, “apocalíptica” e “nova perspectiva radical” (ou “Paulo dentro do judaísmo”). Algumas dessas “escolas” podem ser mais familiares aos leitores do que outras. Mas lembre-se, familiaridade não significa necessariamente que tal leitura esteja correta.

(…)

Nas páginas seguintes, esboçarei um breve relato do pensamento de Paulo de uma forma que busca situá-lo dentro e não contra o mundo judaico que fazia parte do mais amplo mundo antigo do Mediterrâneo. Embora eu apresente meu próprio relato, ele compartilha muitas (mas não todas) coisas em comum com uma quarta corrente dos estudos paulinos que recebeu alguns nomes diferentes: a leitura Sonderweg de Paulo associada a Lloyd Gaston e John Gager, a nova perspectiva radical associada a Stanley Stowers e Pamela Eisenbaum, e a leitura Paulo dentro do judaísmo associada a William Campbell, Kathy Ehrensperger, Paula Fredriksen, Mark Nanos e Magnus Zetterholm*.

* Gaston, Paul and the Torah; Gager, Reinventing Paul; Stowers, Rereading of Romans; Eisenbaum, Paul Was Not a Christian; W. Campbell, Unity and Diversity in Christ; Ehrensperger, Searching Paul; Fredriksen, Paul; Nanos, Reading Paul within Judaism; and Zetterholm, Approaches to Paul.

Matthew Thiessen é professor de estudos religiosos na McMaster University em Hamilton, Ontário, Canadá. Veja algumas de suas publicações.

 

What was the apostle Paul’s relationship to Judaism? How did he view the Jewish law? How did he understand the gospel of Jesus’s messiahship relative to both ethnic Jews and gentiles? These remain perennial questions both to New Testament scholars and to all serious Bible readers.

Respected New Testament scholar Matthew Thiessen offers an important contribution to this discussion. A Jewish Paul is an accessible introduction that situates Paul clearly within first-century Judaism, not opposed to it. Thiessen argues for a more historically plausible reading of Paul. Paul did not reject Judaism or the Jewish law but believed he was living in the last days, when Israel’s Messiah would deliver the nations from sin and death. Paul saw himself as an envoy to the nations, desiring to introduce them to the Messiah and his life-giving, life-transforming Spirit.

 

Most people, perhaps even a good percentage of Christian clergy, likely remain unaware of the fact that people who spend their careers studying and writing on Paul disagree quite strongly with each other about what he says.5 Even those of us who have dedicated parts or all of our careers to thinking and writing about Paul struggle to make sense of Paul’s different letters, to take occasional writings and provide a coherent, if inevitably incomplete, account of what he thought. In recent decades we have seen longer and longer books outlining Paul’s thinking. To get a sense of this exegetical (and theological) arms race, where longer seems to be equated with better, take these three examples: in 1997 James Dunn published The Theology of Paul the Apostle (844 pages), in 2009 Douglas Campbell published The Deliverance of God (1,248 pages), and in 2013 N. T. Wright published Paul and the Faithfulness of God (1,700 pages). I don’t believe there exists a longer treatment of Paul’s theology, but given this trend, the next big book on Paul should be at least 2,100 pages in length.

This little book does not seek to be exhaustive. I won’t discuss every verse or even every theme in Paul’s letters. Instead, I seek to introduce readers to one particularly thorny question: How does Paul relate to the Judaism (or, perhaps better, Judaisms) of his day? This is a historical question, but for modern Christians (and any interested Jews) it is a historical question that has theological and ecumenical relevance. Does Paul condemn and abandon Judaism? Does he view it as something inferior or at least outdated in the wake of Jesus? If so, how should Christians today think about Judaism and relate to Jews? Looking back over the last two thousand years, we know that most Christians have viewed Judaism as inferior or even pernicious, something left behind or something that has died.6 Consequently, many Christians have treated individual Jews and Jewish communities with contempt, revulsion, hatred, and violence. Paul’s letters have frequently served as scriptural support for Christian anti-Judaism.

Matthew ThiessenIs it possible that there is a different way to read Paul’s letters, one that does not denigrate Judaism? The question of Paul’s relationship to Judaism has dominated Pauline scholarship over the last several decades, resulting in (at least) four ways that academics have tried to make sense of Paul’s writings as they relate to Judaism; these four ways are commonly called the “Lutheran,” “new perspective,” “apocalyptic,” and “radical new perspective” (or “Paul within Judaism”) readings. Some of these “schools” may be more familiar to readers than others. But remember, familiarity doesn’t necessarily mean that such a reading is correct.

(…)

In the following pages, I will sketch a brief account of Paul’s thinking in a way that seeks to situate him within and not against the Jewish world that was part of the larger ancient Mediterranean world. While I present my own account, it is one that shares many (but not all) things in common with a fourth stream of Pauline scholarship that has gone by a few different names: the Sonderweg reading of Paul associated with Lloyd Gaston and John Gager, the radical new perspective associated with Stanley Stowers and Pamela Eisenbaum, and the Paul within Judaism reading associated with William Campbell, Kathy Ehrensperger, Paula Fredriksen, Mark Nanos, and Magnus Zetterholm* (From Introduction).

* Gaston, Paul and the Torah; Gager, Reinventing Paul; Stowers, Rereading of Romans; Eisenbaum, Paul Was Not a Christian; W. Campbell, Unity and Diversity in Christ; Ehrensperger, Searching Paul; Fredriksen, Paul; Nanos, Reading Paul within Judaism; and Zetterholm, Approaches to Paul.

Matthew Thiessen (PhD, Duke University) is associate professor of religious studies at McMaster University in Hamilton, Ontario. He is the author of numerous books, including Paul and the Gentile Problem, Jesus and the Forces of Death, and Contesting Conversion: Genealogy, Circumcision, and Identity in Ancient Judaism and Christianity.

Paulo dentro do judaísmo

BIRD, M. et alii (eds.) Paul Within Judaism: Perspectives on Paul and Jewish Identity. Tübingen: Mohr Siebeck, 2023, 371 p. – ISBN ‎ 9783161623257. Disponível online.

O volume Paul Within Judaism [Paulo dentro do judaísmo] é baseado em um simpósio acadêmico online organizado pelo Ridley College em Melbourne, Austrália,
graciosamente patrocinado pelo Australian College of Theology, realizado de 21 a 24 de setembro de 2021.BIRD, M. et alii (eds.) Paul Within Judaism: Perspectives on Paul and Jewish Identity. Tübingen: Mohr Siebeck, 2023, 371 p.

O tema foi escolhido por causa do fascínio ocidental pelo apóstolo Paulo e por causa do persistente desafio que é explorar Paulo em relação à sua herança judaica e sua crença no Messias. Em certo sentido, a tensão a ser explorada ou explicada é como Paulo é tanto “Paulo, o judeu/judeu seguidor de Jesus” quanto, simultaneamente, o “São Paulo” da fé e do testemunho da Igreja. Este é o assunto que continua a mover os acadêmicos em sua articulação tanto da história antiga quanto dos compromissos teológicos contemporâneos e que também pesa nos relacionamentos inter-religiosos.

Os colaboradores deste volume não são monolíticos e representam uma pluralidade de perspectivas e diversidade de abordagens sobre Paulo e sua relação com o judaísmo antigo. A esperança dos editores é de que este volume dê continuidade à conversa sobre Paulo e sua condição de judeu.

 

Our volume Paul within Judaism is based on an on-line scholarly symposium organized by Ridley College in Melbourne, Australia, graciously sponsored by the Australian College of Theology, held during 21–24 September 2021. The topic of exploration was chosen because of the western fascination with the apostle Paul and the persistent challenge of exploring Paul in relation to both his Jewish heritage and his Messiah-believing commitments. In a sense, the tension to be explored or explained is how is Paul both “Paul the Jewish/Judean follower of Jesus” and simultaneously “St. Paul” of the church’s faith and witness. This is the subject which continues to excite and energize scholars in their articulation of both ancient history as well as contemporary theological commitments and informing inter-faith relationships. The contributors to this volume are not monolithic and they represent a plurality of perspectives and diversity of approaches to Paul vis-à-vis ancient Judaism. It is the hope of the editors that this volume will continue the conversation about Paul and his Jewishness, not despite his being a Messiah-believer, but precisely as part of it.

Michael Bird, born 1974; 2005 PhD; Academic Dean and Lecturer in New Testament at Ridley College, Melbourne, Australia (Australian College of Theology).

Ruben Bühner, born 1990; 2020 Dr. theol.; PostDoc and Lecturer at the Department of New Testament Studies at the University of Zurich, Switzerland.

Jörg Frey, born 1962; 1996 Dr. theol.; 1998 Habilitation; Professor of New Testament Studies at the University of Zurich, Switzerland.

Brian Rosner, born 1959; 1991 PhD; Principal and Lecturer in New Testament at Ridley College, Melbourne, Australia (Australian College of Theology).

 

O que significa Paulo dentro do judaísmo?

O seguinte texto explica:

Já se passaram quase quarenta anos [Nota: este texto é de 2016; em 2024 já são quase cinquenta anos] desde que a publicação de Paul and Palestinian Judaism (1977) de E.P. Sanders iniciou uma revolução nos estudos paulinos.

Até aquele ponto, os intérpretes protestantes liam Paulo como uma crítica ao judaísmo por sua justificação pelas obras da Lei, denunciando seu legalismo inerente, em Romanos e Gálatas, e defendendo a justificação somente pela fé. Nessa visão, as pessoas desfrutam da salvação apenas como um presente que podem receber e que não pode ser conquistado. O evangelho paulino brilhou intensamente em contraste com o pano de fundo sombrio do judaísmo com sua obrigação assumida de ganhar a salvação pelo acúmulo de mérito por meio de boas obras.

Argumentando contra isso, Sanders alegou que o judaísmo do primeiro século não era uma religião de justificação pelas obras, mas de graça. Os judeus desfrutavam da salvação em virtude da eleição e sua observância da Lei simplesmente mantinha seu relacionamento de aliança com Deus.

Embora a discussão subsequente de Sanders sobre Paulo tenha deixado muito a desejar, outros intérpretes, principalmente James Dunn e N. T. Wright, basearam-se em sua compreensão revisada do judaísmo para liderar uma reconsideração de Paulo que durou mais de três décadas.

De acordo com sua “Nova Perspectiva“, Paulo não rejeitou o judaísmo por causa de sua justificação pelas obras, mas sim por seu etnocentrismo. Os judeus limitaram o escopo da salvação aos judeus étnicos e Paulo se opõe a isso com o evangelho da salvação pela graça por meio de fé independente das “obras da Lei”. Eles observam que em Romanos e Gálatas “obras da Lei” indicam atos em observância aos mandamentos da Lei mosaica que apontam para a sua identidade como judeu. Quando Paulo afirma que uma pessoa não é justificada por “obras da Lei” (Rm 3,28; Gl 2,16), portanto, ele está argumentando que a identidade étnica de alguém não é relevante no que diz respeito à justificação diante de Deus.

O presente volume (NANOS, M. D.; ZETTERHOLM, M. (eds.), Paul Within Judaism: Restoring the First-Century Context to the Apostle. Minneapolis: Fortress Press, 2015) representa uma perspectiva ainda mais nova, que sustenta que a “nova perspectiva” não vai longe o suficiente, uma vez que tanto a perspectiva “nova” quanto a “tradicional” erroneamente imaginam que Paulo, de alguma forma, se opõe, dispensa ou abandona o judaísmo.

O que une os autores do livro é a convicção de que “Paulo deve ser interpretado dentro do judaísmo” (p. 1). O que as perspectivas “nova” e “tradicional” erram é que ambas consideram Paulo como o fundador de um novo movimento chamado “cristianismo”. Mesmo que esse termo não seja usado, os intérpretes frequentemente falam de Paulo fundando um “novo movimento religioso” que é “construído sobre a convicção de que há algo fundamentalmente, essencialmente ‘errado’ com, e dentro, do judaísmo” (p. 5).

NANOS, M. D.; ZETTERHOLM, M. (eds.), Paul Within Judaism: Restoring the First-Century Context to the Apostle. Minneapolis: Fortress Press, 2015De acordo com essa perspectiva “radical” ou “Paulo dentro do judaísmo” (…), “a escrita e a construção da comunidade do apóstolo Paulo ocorreram dentro do judaísmo tardio do Segundo Templo, dentro do qual ele permaneceu um representante após sua mudança de convicção sobre Jesus ser o Messias (Cristo).” Portanto, “as ‘assembleias’ que ele fundou, e para as quais ele escreveu” suas cartas, “também estavam desenvolvendo sua (sub)cultura com base em suas convicções sobre o significado de Jesus para os não judeus, bem como para os judeus dentro do judaísmo” (p. 9). Imaginar que Paulo deixou o judaísmo para fundar um novo movimento religioso – o cristianismo – é fazer história ruim. Nossos colaboradores “estão comprometidos em propor e buscar responder a perguntas pré-cristãs e certamente pré-agostinianas / protestantes sobre as preocupações de Paulo e aquelas de seu público e contemporâneos, sejam amigos ou inimigos” (p. 9). O resultado é um Paulo que não se afasta nem rejeita o judaísmo, mas cria um movimento de reforma dentro dele.

Aqueles que subscrevem esse ângulo de abordagem sustentam que a erudição do Novo Testamento é amplamente dominada por preocupações dogmáticas cristãs e é insuficientemente histórica ao realizar suas atividades, moldada como é pela divisão entre judaísmo e cristianismo. “As ideias binárias de que o cristianismo substituiu o judaísmo e que a graça cristã substituiu o legalismo judaico, por exemplo, parecem ser aspectos essenciais da maioria das teologias cristãs” (p. 34).

A tentativa aqui é retornar a uma concepção de Paulo antes do desenvolvimento do “cristianismo”. Durante a primeira geração cristã, antes da missão de Paulo, a “identidade religiosa normal dentro desse movimento era uma identidade judaica” (p. 50). Embora houvesse a expectativa de que os gentios fossem incluídos no movimento, havia desacordo sobre como isso ocorreria. “Como todos os judeus dentro do movimento continuavam a viver como judeus, enquanto reconhecia Jesus como o Messias, os conflitos refletidos nas cartas de Paulo não eram sobre a observância da Torá judaica para os judeus” (p. 50). Eles eram sobre como incluir as nações na fé de Israel.

Essencial para essa perspectiva é a noção de que as cartas de Paulo são direcionadas a seguidores não judeus de Jesus, incluindo — e especialmente — suas cartas aos crentes romanos e gálatas. Suas declarações proibindo a circuncisão e a vida sob a Lei mosaica, portanto, são mal compreendidas quando são “universalizadas” para se referir também aos judeus que vieram (ou que virão) a crer em Jesus. Paulo diz pouco ou nada sobre os crentes judeus relacionados à Lei mosaica, pois era sua suposição que eles continuariam em fiel observância da Lei como seguidores de Jesus. Já que o próprio Paulo permaneceu um judeu observante — e até mesmo essa noção deve ser esclarecida, como Karin Hedner Zetterholm busca fazer — não devemos pensar nele como um defensor de algo chamado “cristianismo”. Podemos falar mais fielmente de “judaísmo apostólico” (p. 67), já que Paulo pensou sobre “o significado de Jesus para os não judeus, bem como para os judeus dentro do judaísmo” (p. 9).

Vários dos colaboradores defendem que o apostolado de Paulo aos gentios deve ser entendido em continuidade com as concepções proféticas da restauração das nações. No último dia, Israel seria restaurado por Deus e seria novamente uma luz para as nações, adorando o Deus de Israel junto com os gentios. Embora os autores reconheçam a diversidade de visões no judaísmo do Segundo Templo sobre como isso funcionaria, eles afirmam que o relacionamento de Paulo com os seguidores judeus de Jesus teria sido entendido dentro dessa visão mais ampla.

As implicações disso são que os seguidores não judeus de Jesus adorariam o Deus de Israel em Cristo e permaneceriam não israelitas, enquanto os seguidores judeus deMichael Bird, nascido em 1974 Jesus, como Paulo, teriam permanecido observantes da lei. E alguns dos autores concordariam com a afirmação adicional de que, em vez de serem chamados de “cristãos”, o público de Paulo “pertence a um grupo especial dentro do judaísmo, composto por judeus e não judeus, em vez de constituir um povo inteiramente novo, o que veio a ser chamado pelos Padres da Igreja de ‘terceira raça'” (p. 148).

Este novo ângulo de abordagem de Paulo pode ser visto em continuidade com abordagens da Nova Perspectiva, na medida em que insiste em uma análise verdadeiramente histórica e objetiva da situação do primeiro século (continua).

Fonte: Paul Within Judaism. By Timothy Gombis, Reformation21 – February 23, 2016.

 

Claro que isto gera controvérsias. Em outra página leio:

O movimento “Paulo dentro do Judaísmo”, também conhecido como a Nova Perspectiva Radical sobre Paulo (não confundir com a Nova Perspectiva mais moderada), é uma visão do apóstolo Paulo que ganhou alguma proeminência através dos escritos de estudiosos judeus do Novo Testamento como Mark Nanos e Paula Fredricksen, bem como de estudiosos protestantes mais liberais como Matthew Theissen e Candida Moss. Algumas ideias unificadoras que emergem são as seguintes:

1. Não devemos chamar Paulo de cristão, pois ele não se chamava assim e permaneceu um judeu leal
2. Paulo teria esperado que os judeus mantivessem a Torá
3. Paulo, pelo que podemos saber, escreveu exclusivamente para gentios. Portanto, é um erro pensar que suas exortações se aplicam aos judeus.

Mais aqui.

Outras leituras possíveis:

Apóstolo judeu, não apóstata judeu: (mal) lendo o apóstolo Paulo – IHU 30 Junho 2023

Paulo: três vias de salvação. Artigo de Roberto Mela – IHU 19 Fevereiro 2022

Para Paulo há três caminhos para a salvação – Observatório Bíblico – 22.09.2020