Sobre o mundo conceitual da Bíblia Hebraica

WALTON, J. H. O pensamento do Antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento: Introdução ao mundo conceitual da Bíblia Hebraica. São Paulo: Vida Nova, 2021, 416 p. – ISBN 9786586136395.

Nesta obra, John H. Walton investiga como os povos vizinhos de Israel pensavam sobre os deuses e seus templos, sobre a formação do universo, sobre os seres humanosWALTON, J. H. O pensamento do Antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento: Introdução ao mundo conceitual da Bíblia Hebraica. São Paulo: Vida Nova, 2021 e seus governantes e até mesmo sobre sua produção cultural, a fim de desvendar como tudo isso moldou a forma como Israel pensava acerca de si, do mundo e de Deus.

Walton vai além do academicismo e mantém um objetivo prático ao longo da obra: ajudar seus leitores a aperfeiçoar a exegese do Antigo Testamento com base em informações do mundo antigo. Com dezenas de ilustrações e quadros com análises comparativas, Pensamento do antigo Oriente Próximo é um recurso indispensável para todos que desejam estudar e expor o texto bíblico fielmente.

O original em inglês Ancient Near Eastern thought and the Old Testament: introducing the conceptual world of the Hebrew Bible é de 2006 e a segunda edição de 2018.

John H. Walton é professor de Antigo Testamento no Wheaton College, Illinois, USA.

Veja aqui outras obras de John H. Walton. Algumas foram traduzidas para o português.

Gn 1,1: no princípio ou em princípio?

Estamos tão acostumados a ler o começo do livro do Gênesis como No princípio que dificilmente perguntamos como é em hebraico.

Em hebraico é  בְּרֵאשִׁית (berē’shîth) e Gn 1,1 pode ser ouvido aqui.Em princípio ou No princípio? Por Edson de Faria Francisco - 2018

Bereshít é formado por uma preposição (be=em), sem artigo, e por um substantivo (reshit=princípio, início, começo) e, por isso, deveria ser traduzido, literalmente, por “Em [um] princípio” ou “Em [um] começo” ou, ainda, “Em [um] início”, sem o artigo definido que usamos em “No princípio”.

Lembrando que não existe artigo indefinido em hebraico, como “um” ou “uma”. O artigo é, portanto, apenas definido, como “o” ou “a”. Mas o português exige que coloquemos “um” aqui, “Em um princípio”.

Entretanto, isto não quer dizer que todas as traduções que usam o artigo definido “o” estejam erradas. Gramáticos e comentaristas dizem que a presença do artigo pode estar implícita nesta formulação.

Quer saber mais sobre isso? Recomendo a leitura de Em princípio ou No princípio? texto muito claro escrito por Edson de Faria Francisco, da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e que está disponível para download, em pdf, em Academia.edu.

Pode ser baixado também aqui.

Recomendo ainda, para os interessados na Bíblia Hebraica e na língua hebraica bíblica, a página Bíblia Hebraica, de Edson de Faria Francisco.

O Pentateuco sapiencial

MAZZINGHI, L. O Pentateuco sapiencial: Provérbios, Jó, Coélet, Sirácida, Sabedoria. Características literárias e temas teológicos. São Paulo: Loyola, 2023, 362 p. – ISBN 9786555042917.

O aprofundamento unitário do “Pentateuco sapiencial” — composto por Provérbios, Jó, Coélet, Sirácida e Sabedoria — permite-nos fazer emergir uma riqueza teológicaMAZZINGHI, L. O Pentateuco sapiencial: Provérbios, Jó, Coélet, Sirácida, Sabedoria. Características literárias e temas teológicos. São Paulo: Loyola, 2023 que ilumina o pensamento judaico e a identidade de Israel.

O livro descreve as características literárias e históricas próprias de cada um dos livros analisados e focaliza os temas teológicos que procedem com clareza da reflexão de Israel: a dimensão experiencial própria de uma sabedoria entendida como “arte de viver”; a perspectiva pedagógica e ético-social com a qual a sabedoria é proposta dentro de um preciso projeto educativo; o papel de Deus na vida do homem; o problema do mal; a figura da Sabedoria personificada; a teologia da criação como verdadeiro coração da teologia dos sábios.

O texto configura-se como uma introdução à literatura sapiencial bíblica e se dirige sobretudo a estudantes e a pessoas interessadas em empreender um percurso de aprofundamento.

“Julguei oportuno” — escreve o autor — “evitar dois extremos: por um lado, o risco de oferecer um texto muito volumoso e excessivamente difícil […]. Por outro lado, eu quis evitar também o risco de oferecer um manual muito simples, de nível mais baixo, que deixasse de abordar problemáticas complexas e aspectos exegéticos que exigem um estudo mais aprofundado”.

O original, em italiano, é de 2012.

Luca Mazzinghi é professor de Antigo Testamento na Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma.

Escavando a terra de Jesus

STRANGE, J. R. Excavating the Land of Jesus: How Archaeologists Study the People of the Gospels. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2023, 208 p. – ISBN ‎ 9780802869500.

Ao contrário da crença popular, a arqueologia da Galileia do século I d.C. não busca ilustrar ou provar os evangelhos. Pelo contrário, a arqueologia procura compreender aSTRANGE, J. R. Excavating the Land of Jesus: How Archaeologists Study the People of the Gospels. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2023 vida das pessoas que viveram no tempo de Jesus.

Como entendemos Jesus e sua atuação como parte de um mundo maior? Como interpretamos a cultura material juntamente com as evidências textuais dos evangelhos? Como sabemos onde e como escavar?

James Riley Strange ensina aos estudantes como resolver esses problemas neste interessante livro. Baseando-se na experiência profissional como arqueólogo em Israel, Strange explica a metodologia atual para levantamento topográfico, escavação de evidências e interpretação de dados.

James Riley Strange é professor de Novo Testamento na Samford University, Homewood, Alabama, USA. Ele também dirige o projeto de escavação Shikhin na Galileia e pesquisa a arqueologia da Palestina do período helenístico ao bizantino.

Leia algumas avaliações do livro aqui.

 

Contrary to popular belief, archaeology of first-century Roman Galilee is not about illustrating or proving the Gospels, drawing timelines, or hunting treasure. Rather, it is about understanding the lives of people, just like us, who lived in the time of Jesus. How do we understand Jesus and his mission as part of a larger world? How do we interpret material culture alongside textual evidence from the Gospels? How do we know where and how to dig?

James Riley Strange teaches students how to address these problems in this essential textbook. Drawing on professional experience as a scientific archaeologist in Israel, Strange explains current methodology for ground surveying, excavating evidence, and interpreting data. Excavating the Land of Jesus is the ideal guide for students seeking answers in the dirt of the Holy Land.

James Riley Strange is the Charles Jackson Granade and Elizabeth Donald Granade Professor in New Testament at Samford University. He also directs the Shikhin Excavation Project in Israel and researches the archaeology of Palestine in the Hellenistic through Byzantine periods, early Christianity, and postbiblical Judaisms.

Table of Contents

Foreword by Luke Timothy Johnson
Preface
List of Abbreviations
Introduction: The Problem of Understanding First-Century Roman Galilee
1. The Problems of Where to Dig and How to Know Where You Are Digging
2. The Problem of How to Dig
3. The Problem of Using Texts and Archaeology
4. The Problem of Understanding Ancient Technologies
5. The Problem of Understanding Ancient Values
Conclusion: The Problem of Why Archaeologists Dig
Works Cited
Illustration Credits
Indexes

A Bíblia Paulinas

A Bíblia

Diz a editora:

Como parte deste grande projeto, a Paulinas já havia publicado, com sucesso e boa acolhida dos leitores, o Novo Testamento (2015), os Salmos (2017) e o Pentateuco (2021). Agora, chega às livrarias a edição completa, com os 73 livros que formam a Bíblia católica.A Bíblia - Paulinas 2023

A tradução de “A Bíblia” destaca-se pelo respeito às línguas originais, evitando supressões e acréscimos desnecessários.

Os tradutores e as tradutoras, especialistas da área, usaram como base os manuscritos em hebraico, aramaico e grego, a fim de que o leitor possa ter em mãos um texto fiel à mensagem original.

Nos Evangelhos, por exemplo, fez-se a harmonização das chamadas passagens sinóticas, ou seja, aquelas passagens muito semelhantes que aparecem em mais de um Evangelho, permitindo ao leitor perceber as semelhanças e as diferenças entre os quatro Evangelhos.

Fez-se também uma ampla revisão dos nomes bíblicos, de modo a identificar mais claramente as personagens e os lugares bíblicos.

Para preparar e auxiliar a leitura, foram elaboradas introduções a todos os livros bíblicos, com informações sobre a autoria, datação, estrutura e principais temas da obra.

Também foram redigidas amplas notas explicativas para todas as passagens bíblicas, com informações literárias, teológicas, históricas e geográficas, bem como com abundantes referências bíblicas, a fim de que o leitor possa consultar passagens relacionadas ao texto que está lendo.

Por fim, “A Bíblia” é enriquecida com mapas que auxiliam na contextualização dos eventos descritos nas Escrituras, guiando os leitores em uma jornada ao longo da rica e cativante história bíblica, e com um roteiro de leitura orante, a fim de ajudar as pessoas a fazerem uma experiência mais profunda e transformadora das Sagradas Escrituras.

A apresentação gráfica prima pela funcionalidade e beleza, trazendo o texto em fontes legíveis e em duas cores, impressa em papel-bíblia de cor palha, que facilita a leitura, e com capa, símbolo, ilustração e tipologia especial do artista sacro Cláudio Pastro.

Mês da Bíblia 2023: sobre a Carta aos Efésios

SEGANFREDO, A. C.; BAQUER, V. P.; SILVANO, Z. A. Carta aos Efésios: “É pela graça que fostes salvos!” (Ef 2,5). São Paulo: Paulinas, 2023, 160 p. – ISBN 9786558082217.

A Carta aos Efésios destaca-se pela sua densidade teológica, cristológica e pneumatológica, e de forma especial pela concepção de Igreja (eclesiologia).

A parteSEGANFREDO, A. C.; BAQUER, V. P.; SILVANO, Z. A. Carta aos Efésios: “É pela graça que fostes salvos!” (Ef 2,5). São Paulo: Paulinas, 2023, 160 p. parenética exorta a comunidade, formada pelos(as) batizados(as), tanto oriundos da cultura judaica como da gentílica, a manterem a unidade na diversidade; a agirem eticamente, tendo Cristo como o princípio normativo; a comportarem-se como filhos da luz; a revestirem-se da “nova humanidade” em Cristo, a mudarem as relações familiares e sociais, deixando-se guiar pelo Espírito, a fim de poder vencer tudo o que é o antirreino.

Antônio César Seganfredo é missionário scalabriniano, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (Roma), com especialização pela École Biblique et Archéologique de Jerusalém. É professor de Novo Testamento e diretor administrativo do Instituto Teológico São Paulo (ITESP), bem como secretário da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB 2023-2024).

Vinicius Pimentel Baquer é presbítero do clero da Diocese de Diamantino (MT); bacharel em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Teologia (FAJE) (Belo Horizonte/MG) e mestre em Teologia pela PUCRS (Porto Alegre/RS).

Zuleica Aparecida Silvano é irmã paulina, mestra em exegese bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma e doutora em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Teologia (FAJE) (Belo Horizonte/MG). É assessora no Serviço de Animação Bíblia/Paulinas (SAB), responsável pelo subsídio do Mês da Bíblia, por Paulinas; professora no Departamento de Teologia da FAJE; membra da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB); da Comissão Bíblica do CEBITEPAL (CELAM) e da equipe interdisciplinar da CRB.

Mês da Bíblia 2023 na Vida Pastoral

Vida Pastoral n. 353, setembro-outubro de 2023

Diz o Editorial:

No tempo em que a carta aos Efésios foi escrita, o Império Romano impunha a mão pesada sobre as populações dominadas, sem nenhuma compaixão. Os efésios viviamVida Pastoral n. 353, setembro-outubro de 2023 sob aquele regime desumano. Por isso, a expressão “vestir-se da nova humanidade” (Ef 4,24) é apelo a um estilo de vida contrário ao imposto pela tirania do imperador. “Não vos comporteis como os pagãos: com suas ideias vãs, com razão obscurecida, afastados da vida de Deus, por sua ignorância e dureza de coração” (Ef 4,17-18).

Vestir-se da nova humanidade é se contrapor às durezas de coração do império e cultivar os afetos. São os afetos que humanizam e edificam a vida. “Sede amáveis e compassivos uns com os outros” (Ef 4,32). Enquanto o palácio se pautava na violência, na força das armas e na ostentação do poder, os efésios deveriam insistir na humanização, na solidariedade e no respeito mútuo. “Quem roubava não roube mais; ao contrário, trabalhe e se afadigue com as próprias mãos para ganhar alguma coisa e estar em condição de socorrer a quem tem necessidade” (Ef 4,28).

Vestir-se da nova humanidade é opor-se à violência do império. Os efésios, “enraizados e alicerçados no amor” (Ef 3,17), são vocacionados à construção de um mundo novo: “com toda a humildade e modéstia, com paciência, suportando-vos mutuamente com amor, esforçando-vos por manter a unidade do espírito com o vínculo da paz” (Ef 4,2-3). Não a pax romana, mas a paz que é dom do Ressuscitado (Lc 24,36). Paz que supera o medo, a indiferença e toda espécie de injustiça.

Vestir-se da nova humanidade é não compactuar com os sistemas que disseminam o ódio, a mentira e o preconceito. De acordo com a carta aos Efésios, a comunidade deve ser sinal de lucidez em uma sociedade marcada pelas “obras estéreis das trevas” (Ef 5,11). Cabe aos discípulos e discípulas terem os olhos fixos em Jesus, a fim de não se deixarem enganar “com discursos vazios” (Ef 5,6). Uma comunidade verdadeiramente comprometida com o Evangelho não se deixa corromper com o fermento da hipocrisia. Conhecendo a verdade, a mente e o coração do discípulo evitam todo e qualquer fanatismo. “Comportai-vos como filhos da luz. Fruto da luz é toda bondade, justiça e verdade” (Ef 5,8-9).

Vestir-se da nova humanidade é comunicar a Boa Notícia, respeitando a diversidade e construindo pontes ao invés de muros. Como ensina o autor da carta aos Efésios, a vocação da comunidade consiste em incluir, agregar ao corpo de Cristo, todos os afastados: “por meio da Boa Notícia, os pagãos compartilham a herança e as promessas de Jesus Cristo e são membros do mesmo corpo. A mim, o último dos consagrados, foi concedida esta graça: anunciar aos pagãos a Boa Notícia, a riqueza insondável do Messias, e iluminar o segredo que Deus, criador do universo, guardava havia séculos” (Ef 3,6.8-9).

Vestir-se da nova humanidade é ter um olhar de esperança para o mundo, ainda que este mundo pareça não ter saída. Esta edição de Vida Pastoral é um convite ao leitor para a contemplação e o aprofundamento da cristologia e eclesiologia presentes em Efésios: “Um é o corpo, um o Espírito, assim como uma é a esperança a que fostes chamados” (Ef 4,4).

Nossa missão tem seu fundamento no Evangelho. Para nos contrapormos aos impérios de hoje, nossos rins estejam cingidos com a verdade, estejamos revestidos com a couraça da justiça e calçados com as sandálias da prontidão para o Evangelho da paz (Ef 6,14-15). O Espírito Santo nos guie na missão.

Profetismo e política em Estudos Bíblicos

CORREIA JÚNIOR, J. L. (org.) Profetismo e política. Estudos Bíblicos, São Paulo, v. 38, n. 146, 2022.

O profetismo bíblico tem como característica mais forte da missão o engajamento político que se expressa por meio da inserção na luta pelo bem comum. No centro dosCORREIA JUNIOR, J. L. (org.)  Profetismo e política. Estudos Bíblicos, São Paulo, v. 38, n. 146, 2022. oráculos proféticos estava a mensagem direta de um Deus surpreendente, que foi se revelando como Senhor Justo e Misericordioso ao povo de Israel. Segundo a Teologia do livro do Êxodo, esse Deus “viu a miséria” dos ancestrais escravizados em trabalhos forçados no Egito, “ouviu seu grito” por causa da exploração econômica dos opressores, e “conhece as suas angústias” sob essa dura opressão (Ex 3,7).

Os profetas e profetisas de Israel como Débora, Amós, Isaías, Jeremias e tantos outros, animados por essa consciência ético-religiosa, são porta-vozes da vontade de Deus. Denunciam os abusos da classe dominante sobre camponeses, assalariados, estrangeiros, endividados, enfim, sobre todas as pessoas cujos direitos estavam sendo suprimidos por conta da ganância econômica opressora e do poder político corrupto.

Situado no contexto histórico sociopolítico da luta pela justiça social, além de protestar contra a exclusão econômica da qual era vítima parte significativa do povo, o profetismo bíblico chega a criticar veementemente todo tipo de ritualismo religioso que, desprovido de comprometimento ético, era um insulto ao Senhor Deus do Direito e da Justiça.

Isso fica claro logo no primeiro capítulo do livro do Profeta Isaías, onde está escrito que para agradar a Deus não basta simplesmente cultuá-lo em belas celebrações religiosas alienadas e alienantes dos problemas sociais. O que realmente agrada a Deus é buscar o direito, corrigir o opressor, fazer justiça ao órfão, defender a causa da viúva (Is 1,17). Nessa linha, a crítica à classe dirigente detentora do poder político opressor é bastante dura: “Teus príncipes [principais dirigentes] são rebeldes, companheiros de ladrões; todos são ávidos por subornos e correm atrás de presentes. Não fazem justiça ao órfão, a causa da viúva não os atinge” (Is 1,23).

Não é de se estranhar que o engajamento político do profetismo esteja marcado pelo conflito com o poder econômico, com a classe política subserviente ao poder econômico, e com a classe religiosa a serviço desses poderosos. A simples presença dos profetas e profetisas nas aldeias e vilarejos demarca não só o lado que assumem na sociedade, como também de onde provém a sua força política.

É a partir desse lugar existencial de luta pela sobrevivência que os profetas e profetizas tornam-se intermediários para que Deus fale por meio de seus gestos simbólicos e de suas palavras. Desse modo, participam ativamente das grandes crises da história, tais como no estabelecimento das dinastias de Saul e Davi, no grande cisma após a morte de Salomão, na sucessiva derrubada das dinastias do Reino do Norte e na queda do Reino do Sul, posteriormente.

Pode-se inferir, portanto, que o modo como se dá a ação dos profetas e profetisas na Bíblia foi e continua sendo uma forte interpelação à prática política motivada pela fé no Deus Justo e Misericordioso. É também uma evidente crítica à prática religiosa alienante e alienada dos problemas sociais, circunscrita a ritualismos que podem até anestesiar momentaneamente o sofrimento, mas não conduzem à experiência do Deus da Vida que toma partido dos pobres.

Esse é o mesmo Deus a quem Jesus chamava de Abbá, Paizinho, em profunda intimidade familiar e afetiva, que o motivou à experiência radical de compaixão solidária com a causa das multidões abandonadas “como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34).

Daí o potencial revolucionário que tem o discipulado missionário de Jesus ainda hoje, quando não se contenta apenas com o ritualismo estéril circunscrito ao ambiente religioso, e se insere no meio das multidões insatisfeitas com os impérios deste mundo, colaborando para que, a partir delas, tome forma na história a “nova sociedade” que os Evangelhos intitulam de “Reino de Deus”.

É nesse ambiente de reflexão que está inserida a Revista Estudos Bíblicos sobre “Profetismo e Política” (Trecho do Editorial, escrito por João Luiz Correia Júnior).

A revista está disponível online no site da Abib.