Folha Online: 23/04/2006
Impeachment de gaveta é chantagem
Por Kennedy Alencar
Um pedido de impeachment geralmente prospera num cenário que combina três requisitos: legal (crime de responsabilidade previsto na Constituição), perda de maioria parlamentar (situação de Lula) e falta de apoio da população (as pesquisas eleitorais mais recentes apontaram o presidente como favorito em outubro). A oposição avalia que o primeiro requisito está atendido. O segundo é um dado da realidade. Mas falta o terceiro. Por enquanto, não existe comoção social contra o presidente, como na época do Collorgate. Ao usar um eventual pedido de impeachment apenas como ameaça, a oposição recorre à chantagem. Qual seja, o eleitorado deveria refletir muito bem antes de reeleger Lula porque o petista poderá ser impedido no segundo mandato (…) Ao agir assim, a oposição flerta com o golpismo, praga da política brasileira que parecia ter perdido força a partir da redemocratização (1985) e que, no futuro, poderá se voltar contra quem a alimenta hoje. A oposição está errando. Dificilmente a maioria do eleitorado se renderá ao argumento do “impeachment de gaveta” para eleger um presidente. A tendência é que faça uma análise pragmática sobre quem melhorará mais a sua vida a partir de 1º de janeiro de 2007, se o atual governo ou a oposição (cont.)