A tomada de Laquis por Senaquerib em 701 a.C. – 2

Estou lendo trechos do livro de KALIMI, I. ; RICHARDSON, S. (eds.) Sennacherib at the Gates of Jerusalem: Story, History and Historiography. Leiden: Brill, 2014, XII + 548 p. – ISBN 9789004265615.

Resumi os pontos principais do capítulo 4 sobre a tomada de Laquis.KALIMI, I. ; RICHARDSON, S. (eds.) Sennacherib at the Gates of Jerusalem: Story, History and Historiography. Leiden: Brill, 2014

1. Laquis na época da campanha de Senaquerib
3. Os relevos de Laquis

 

Nas páginas 79-85, diz David Ussishkin:

O ataque assírio a Laquis

Quando Senaquerib chegou a Laquis no comando de seu exército, ele não teve que deliberar muito sobre onde dirigir o seu ataque à cidade fortificada. A resposta óbvia foi ditada pela topografia do local e pelo terreno circundante. A cidade estava cercada por vales profundos de quase todos os lados, e somente no ângulo sudoeste havia uma ligação, através de uma depressão, com a colina vizinha. As fortificações neste lado eram especialmente reforçadas, mas o ângulo sudoeste e a porta da cidade, que ficava nas vizinhanças, eram os pontos mais vulneráveis e lógicos a serem atacados. Por isso, é bastante natural que o lado sudoeste tenha sofrido o impacto do ataque assírio.

Ao chegar a Laquis, o exército deve ter acampado, como era usual nas campanhas assírias. Deve ter sido um acampamento espaçoso, fornecendo instalações para a força expedicionária e acomodando o séquito e o quartel-general do rei. Os acampamentos militares assírios são frequentemente retratados em relevos. Eles eram geralmente redondos ou elípticos e cercados por uma paliçada ou por um muro. O acampamento construído em Laquis é retratado de maneira semelhante nos “Relevos de Laquis”, uma série de gravuras retratando o evento da tomada da cidade, descobertas no palácio de Senaquerib em Nínive.

O cerco de Laquis por Senaquerib em 701 a. C.Parece que o local do acampamento assírio pode ser determinado com certa segurança. Considerações estratégicas sugerem (a) que o acampamento assírio deveria estar localizado não muito longe do local onde seria lançado o principal ataque às muralhas da cidade; (b) que deveria estar perto da cidade, mas fora do alcance das chamas das muralhas da cidade; (c) que não deveria ter sido topograficamente inferior ou dominado taticamente pelas muralhas da cidade; e (d) que o local do acampamento deveria ser relativamente plano e espaçoso, suficientemente grande para acomodar a força expedicionária e o quartel-general do rei. Os critérios acima se encaixam na colina a sudoeste do monte, onde agora está o povoado israelense de Moshav Lachish. Como esta colina está conectada ao monte por uma depressão, a abordagem à cidade foi bastante fácil, e o acampamento estava localizado em frente ao local onde o ataque principal deveria ocorrer. Esta colina é relativamente alta e seu cume é amplo e plano, sendo quase tão alto quanto as muralhas da cidade do lado sudoeste. Infelizmente, a reconstrução do acampamento assírio neste local não pode ser fundamentada arqueologicamente. Quaisquer restos desse acampamento, se ainda preservados, agora estão sob as casas e fazendas de Moshav Lachish.

As escavações neste lado sudoeste foram iniciadas em 1932, quando Starkey descobriu e limpou o revestimento externo ao redor de todo o monte. Grandes quantidades de pedras foram descobertas neste local, e as escavações se estenderam pela encosta à medida que mais pedras foram removidas. A área da depressão no sopé do canto sudoeste e a estrada que levava à porta da cidade foram desobstruídas de muitos milhares de toneladas de alvenaria caída. Starkey acreditava que essas pedras caíram de cima, das muralhas destruídas durante o ataque assírio. David Ussishkin retomou a escavação deste lado sudoeste em 1983. Logo se tornou evidente que as pedras encontradas por Starkey estavam irregularmente amontoadas na encosta do monte, em vez de caírem de cima, e, portanto, ficou claro que elas formam os restos da rampa do cerco assírio. Estas escavações possibilitaram, em boa medida, a reconstrução do ataque assírio. Embora parcialmente removida por Starkey, a rampa de cerco colocada no fundo da encosta ainda podia ser estudada e reconstruída. Na sua parte inferior a rampa de cerco inclinada deve ter cerca de 70 metros de largura e 50 metros de comprimento. O centro da rampa de cerco era feito inteiramente de grandes pedras amontoadas que devem ter sido coletadas nos campos ao redor. Calcula-se que o total das pedras empregadas na construção da rampa devessem pesar de 13 a 19 mil toneladas.

As pedras da camada superior da rampa de cerco estavam ligadas por dura argamassa. Essa camada era a cobertura da rampa, adicionada por cima das pedras soltas, aO ataque assírio a Laquis em 701 a. C. fim de criar uma superfície compacta que permitisse aos soldados atacantes e suas máquinas de cerco se movimentarem em terreno sólido. O topo da rampa de cerco ao pé da muralha da cidade era coroado por uma plataforma horizontal feita de terra vermelha e suficientemente larga, fornecendo terreno uniforme para as máquinas de cerco assírias. É preciso enfatizar que a rampa de cerco de Laquis é, primeiro, a mais antiga rampa de cerco descoberta até hoje em escavações arqueológicas e, segundo, a única rampa de cerco assíria até agora conhecida.

Acima da rampa de cerco foram descobertas as fortificações do lado sudoeste, que eram especialmente maciças e fortes neste ponto vulnerável. A muralha externa tinha aqui uma torre construída com tijolos de barro sobre fundações de pedra, com cerca de 6 metros de altura, preservada quase em sua altura original. A torre era encimada por um balcão protegido por um parapeito, sobre o qual os defensores podiam ficar de pé e lutar. A principal muralha da cidade se estendia atrás e acima dessa torre. Foi preservada nesse ponto quase em sua altura original, cerca de 5 metros.

Quando os defensores da cidade viram que os assírios estavam construindo uma rampa de cerco como preparação para tomar as muralhas da cidade, começaram a construir uma contrarrampa dentro da muralha principal da cidade. Despejaram ali grandes quantidades de detritos do monte, retirados dos níveis anteriores da cidade, que trouxeram da parte nordeste, e construíram uma grande rampa, mais alta que a muralha principal da cidade, o que lhes proporcionou uma segunda nova linha interna de defesa.

Como resultado da construção da contrarrampa, o canto sudoeste tornou-se a parte mais alta do monte. A contrarrampa, sem dúvida, era uma muralha muito impressionante, seu ápice subindo cerca de 3 metros acima do topo da principal muralha da cidade. Alguma cerca ou muro improvisado, talvez feito de madeira, deve ter coroado a muralha, mas seus restos não foram preservados. As sondagens no centro da contrarrampa revelaram acúmulo de detritos montanhosos contendo cerâmica muito anterior, bem como lascas de calcário, que foram despejadas em camadas diagonais. Quando os assírios alcançaram os muros e superaram a defesa, estenderam a rampa de cerco sobre a muralha da cidade em ruínas para permitir o ataque à recém-formada linha de defesa mais alta da contrarrampa.

Falando das armas e munições usadas na batalha, vale mencionar primeiro a máquina de cerco, a formidável arma usada pelos assírios para destruir a linha de defesa nas muralhas. Nada menos do que sete máquinas de cerco dispostas para a batalha no topo da rampa de cerco e perto da porta da cidade são retratadas nos relevos de Laquis. O aríete era feito de uma viga de madeira reforçada com uma ponta afiada de metal. Como demonstrado no relevo, os defensores judaítas de pé na muralha lançavam tochas flamejantes nas máquinas de cerco. Como contramedida, os soldados assírios despejavam água de longas conchas nas máquinas para impedir que pegassem fogo, pois eram feitas de madeira e couro.

Mais duas descobertas únicas estão associadas às tentativas dos defensores de destruir as máquinas de cerco. O primeiro inclui doze pedras perfuradas que foramTropas assírias de Senaquerib atacam Laquis, em Judá, em 701 a. C. descobertas ao pé das duas muralhas da cidade. São grandes blocos de pedra perfurada, com uma parte superior plana, lados retos e um fundo irregular. Cada um deles tem quase 60 cm de diâmetro e pesa cerca de 100 a 200 kg. Restos de cordas queimadas e relativamente finas foram encontrados nos buracos de duas pedras.

Conforme indicado pelos restos das cordas, parece que as pedras perfuradas foram amarradas e baixadas pelos defensores da muralha da cidade. Pode-se supor que essas pedras tenham sido baixadas de alguma instalação improvisada, como uma grossa viga de madeira que se projetava da linha da muralha. Os defensores provavelmente usaram as pedras na tentativa de danificar as máquinas de cerco e impedir que os aríetes batessem na muralha. Eles devem ter descido as pedras sobre as máquinas de cerco e as movido de um lado para o outro como um pêndulo.

A segunda descoberta é um fragmento de uma corrente de ferro contendo quatro elos longos e estreitos, que foram descobertos nos restos de tijolos de barro queimados em frente ao revestimento externo. Os defensores provavelmente usaram a corrente de ferro para desequilibrar as máquinas de cerco. Devem ter lançado a corrente abaixo do ponto de impulso do aríete para prender seu eixo quando atingiu a muralha e depois puxaram a corrente.

Algumas das munições usadas na batalha também foram encontradas. Os relevos de Laquis exibem soldados assírios com fundas atirando nos defensores das muralhas, bem como defensores judaítas atirando pedras contra os atacantes, e muitas pedras atiradas foram de fato encontradas nas escavações. São bolas de sílex ou calcário bem moldadas, semelhantes a bolas de tênis, e pesando cerca de 250 gramas ou mais.

Os relevos de Laquis exibem arqueiros assírios que apoiavam o ataque às muralhas e, de fato, cerca de mil pontas de flechas foram descobertas nas escavações no canto sudoeste. As pontas de flechas não são uniformes em tamanho ou forma, e são de tipos diferentes. Quase todos eram feitas de ferro, e algumas eram de bronze ou esculpidas em osso. A maioria das pontas de flecha foi descoberta nos destroços de tijolos de barro queimados em frente às muralhas da cidade. Aparentemente, essas flechas foram disparadas por arqueiros assírios contra os soldados judaítas que estavam nos balcões no topo das muralhas. A descoberta de tantas pontas de flecha em uma área tão pequena indica a concentração do poder de fogo assírio. Muitas pontas de flecha foram encontradas dobradas, uma indicação de que foram atiradas muito de perto contra as muralhas com arcos poderosos.

Infelizmente, os dados arqueológicos são insuficientes para responder a três perguntas básicas:
. Qual era o tamanho da população da cidade na época do cerco?
. Qual era o tamanho da força assíria?
. Quanto tempo durou o cerco?

Em relação ao número de habitantes e defensores, só podemos fazer uma estimativa aproximada. O método costumeiro para calcular o tamanho da população em umSoldados assírios em combate assentamento antigo é multiplicando a área estabelecida por um coeficiente de densidade. Adotando o coeficiente de 100 pessoas por acre, já usado por especialistas para esta época, conclui-se que pelo menos duas mil pessoas viviam em Laquis na época da invasão de Senaquerib. No entanto, esse método serve para calcular a população em um assentamento regular, enquanto Laquis era principalmente um centro militar fortificado. Além disso, é possível que o número de pessoas em Laquis tenha mudado às vésperas do cerco, seja porque as pessoas da região circundante se refugiaram ali ou devido a mudanças que foram feitas no destacamento do exército judaíta.

Quanto ao tamanho do exército assírio acampado em Laquis, ou ao tamanho da força que participou do ataque à cidade, não há dados disponíveis. Quanto à questão de quanto tempo durou o cerco da cidade, aparentemente foi um cerco breve, pois toda a campanha assíria durou apenas parte de um ano. Durante esse período, o exército assírio marchou da Assíria para Judá, subjugou a Fenícia e a Filisteia, lutou contra a força expedicionária egípcia, conquistou parte de Judá e voltou para casa. Parece que a maior parte do tempo necessário para o ataque a Laquis foi gasto na construção da rampa de cerco, enquanto o ataque às muralhas da cidade foi relativamente breve. Ephʿal tentou calcular o tempo necessário para a instalação da rampa de assédio e sugeriu que tenha demorado vinte e poucos dias. No entanto, todos os dados básicos necessários para os cálculos, como a quantidade de pedras despejadas na rampa de cerco, a distância de onde foram levadas, o número de carregadores empregados para transportá-las e os atrasos causados ​​pela oposição dos defensores, só podem ser supostos.

 

The Assyrian Attack on Lachish

When Sennacherib arrived at the head of his army at Lachish, he did not have to deliberate at length on where to direct the main thrust of his onslaught on the fortified city. The obvious answer was dictated by the topography of the site and the surrounding terrain. The city was enveloped by deep valleys on nearly all sides, and only at the southwest corner did a topographical saddle connect the mound with the neighboring hillock. The fortifications at this corner were specially strengthened, but nevertheless the southwest corner and the nearby city-gate were the most vulnerable and the most logical points to assault. Hence it is quite natural that the southwest corner bore the brunt of the Assyrian attack.

Upon arrival at Lachish, the Assyrian army must have pitched its camp, as was the common practice in Assyrian campaigns. It must have been a large camp, providing Prisioneiros judaítas sendo esfolados pelos assírios em Laquis em 701 a. C.facilities for the expeditionary force and accommodating the king’s retinue and headquarters (cf. 2 Chronicles 32:9). Assyrian military camps are often portrayed schematically in Assyrian reliefs; they were generally round or elliptical in plan and surrounded by a fence or a wall. In some portrayals a central track is shown extending across the camp, and in others it is divided into four parts by two bisecting tracks. The camp constructed at Lachish is portrayed in a similar fashion in the “Lachish reliefs” to be discussed below.

It seems that the site of the Assyrian camp can be fixed with much certainty. Strategic considerations suggest (a) that the Assyrian camp should have been located not far from the place where the main attack on the city-walls was to be launched; (b) that it should have been near the city but beyond the range of fire from the city-walls; (c) that it should not have been topographically lower than, or tactically dominated by, the city-walls; and (d) that the site of the camp should have been relatively flat and spacious, sufficiently large to accommodate the expeditionary force and the king’s headquarters. The above criteria fit the hillock to the southwest of the mound, where the Israeli village Moshav Lachish is now located. Since this hillock is connected to the mound by the saddle described above, the approach to the city was fairly easy, and the camp was located opposite the place where the main attack was to take place. This hillock is relatively high and its summit broad and flat, rising nearly as high as the city-walls in the southwest corner. Unfortunately, the reconstruction of the Assyrian camp at this place cannot be archaeologically substantiated. Any remains of such a camp, if still preserved, are now obscured by the houses and farms of Moshav Lachish.

The excavations in the southwest corner were started in 1932, when Starkey cleared the face of the outer revetment around the entire mound. Large amounts of stones were uncovered at this spot, and the digging extended down the slope as more stones were removed. As the excavations developed, the saddle area at the foot of the southwest corner and the roadway leading up to the city-gate were cleared of many thousand tons of fallen masonry. Starkey believed that these stones collapsed from above, from the strong fortifications of the southwest corner destroyed during the Assyrian attack. We resumed the excavation of the southwest corner in 1983. It soon became apparent that the stones encountered by Starkey were irregularly heaped against the slope of the mound rather than fallen from above, and hence it became clear that they form the remains of the Assyrian siege-ramp. The excavations at our trench enabled us to reconstruct the Assyrian attack to a large degree. Although partly removed by Starkey, the siege-ramp laid at the bottom of the slope could still be studied and reconstructed. At its bottom, the sloping siege-ramp must have been about 70m (210ft) wide, and about 50m (150ft) long. The core of the siege-ramp was made entirely of heaped large stones which must have been collected in the fields around. We estimated that the stones invested in the construction of the ramp weighed 13,000 to 19,000 tons.

The stones of the upper layer of the siege-ramp were found stuck together by hard mortar. This layer was the mantle of the ramp, added on top of the loose boulders in order to create a compact surface which enabled the attacking soldiers and their siege-machines to move on solid ground. The top of the siege-ramp at the foot of the city-wall was crowned by a horizontal platform; it was made of red soil and was sufficiently wide, thus providing even ground for the Assyrian siege-machines to stand upon.To end the discussion of the siege-ramp, it has to be emphasized that the siege-ramp of Lachish is, first, the earliest siege-ramp so far uncovered in archaeological excavations, and second, the only Assyrian siege-ramp which is known today.

Above the siege-ramp were uncovered the fortifications of the southwest corner which were especially massive and strong at this vulnerable point. The outer revetment formed here a kind of tower; it was built of mud-brick on stone foundations and stood about 6m (18ft) high, preserved nearly to its original height. The tower was topped by a kind of “balcony,” protected by a mud-brick parapet, on which the defenders could stand and fight. The main city-wall extended behind and above this tower. It was preserved at this point nearly to its original height—almost 5m (15ft).

Once the defenders of the city saw that the Assyrians were constructing a siege-ramp in preparation for storming the city-walls, they started to lay down a counter-ramp inside the main city-wall. They dumped here large amounts of mound debris taken from earlier city-levels which they brought from the northeast part of the mound, and constructed a large ramp, higher than the main city-wall, which provided them with a second, new inner line of defense.

As a result of the construction of the counter-ramp, the southwest corner became the highest part of the mound. The counter-ramp undoubtedly was a very impressive rampart, its apex rising about 3m (10ft) above the top of the main city-wall. Some makeshift fence or wall, perhaps made of wood, must have crowned the rampart, but its remains were not preserved. Our soundings in the core of the counter-ramp revealed accumulation of mound debris containing much earlier pottery, as well as limestone chips, which was dumped in diagonal layers. Significantly, once the Assyrians reached the walls and overcame the defense, they extended the siege-ramp over the ruined city-wall—we called it the “second stage” of the siege-ramp—to enable the attack on the newly-formed, higher defense line on the counter-ramp.

Prisioneiros judaítas empalados pelos assírios em Laquis em 701 a. C.Turning to weapons and ammunition used in the battle, I shall first mention the siege-machine, the formidable weapon used by the Assyrians to destroy the defense line on the walls. No fewer than seven siege-machines arrayed for battle on top of the siege-ramp and near the city-gate are portrayed in the Lachish reliefs. The siege-machine moved on four wheels, partly protected by its body, which was made in six or more separate sections for easy dismantling and reassembling. The ram, made of a wooden beam reinforced with a sharp metal point, was probably suspended from one or more ropes, like a pendulum, and several crouching soldiers must have moved it backwards and forwards. As shown in the relief, the Judahite defenders standing on the wall were throwing flaming torches on the siege-machines. As a counter-measure, Assyrian soldiers standing on the roof of the siege-machines were pouring water from long ladles on the façade of the machines to prevent them from catching fire. The relief emphasizes the fact that the fighting between the two sides took place at close quarters, something very difficult for us to imagine at the present time when long-range guns and missiles form the main weapons.

Two more unique finds are apparently associated with the attempts of the defenders to destroy the siege-machines. The first one includes twelve perforated stones which were discovered at the foot of both city-walls. These are large perforated stone blocks, with a flat top, straight sides, and an irregular bottom. Each of them is nearly 60cm (2ft) in diameter and weighs about 100 to 200kg. Remains of burnt, relatively thin ropes were found in the holes of two stones.

As indicated by the remains of the ropes, it seems that the perforated stones were tied to ropes and lowered by the defenders from the city-wall. I assume that these stones were lowered from some makeshift installation, such as a thick wooden beam projecting from the line of the wall. The defenders probably used the stones in an attempt to damage the siege-machines and prevent the rams from hitting the wall; they must have dropped the stones on the siege-machines and swung them to and fro like a pendulum.

The second find is a fragment of an iron chain containing four long, narrow links, which was uncovered in the burnt mud-brick debris in front of the outer revetment. The defenders probably used the iron chain in order to unbalance the siege-machines. We assume that they lowered the chain below the point of thrust of the ram in order to catch its shaft when it reached the wall, and then raised the chain.

Some of the ammunition used in the battle was also found. The Lachish reliefs display Assyrian slingers shooting at the walls as well as Judahite defenders shooting sling stones at the attackers, and many sling stones were indeed found in the excavations. These are well-shaped balls of flint or limestone, resembling tennis balls, and weighing about 250 grams or more.

The Lachish reliefs display Assyrian archers supporting the attack on the walls, and indeed close to one thousand arrowheads were discovered in the excavation of the southwest corner. The arrowheads are not uniform in size or shape, and different types are represented. Almost all of them were made of iron, and a few were cast of bronze or carved of bone. In some cases ashes, the remains of the wooden shafts of the arrows, could still be discerned when exposed in the excavation. Most of the arrowheads were uncovered in the burnt mud-brick debris in front of the city-walls. Apparently these arrows were shot by Assyrian archers at the Judahite warriors standing on the “balconies” on top of the walls. The discovery of so many arrowheads in such a small area indicates how concentrated the Assyrian firepower was. Many arrowheads were found bent—an indication that they were shot at the walls with powerful bows from close range.

Laquis em 701 a. C.Unfortunately, the archaeological data are insufficient to answer three basic questions: what was the size of the city’s population at the time of the siege; what was the size of the Assyrian force; and how long did the siege last? Regarding the number of inhabitants and defenders, we can only make a rough estimate. The accepted method for estimating the size of the population in an ancient settlement is by multiplying the settled area by a density coefficient. Adopting the coefficient of 100 people per acre used by Broshi and Finkelstein in their study of the Iron II period it follows that fewer than 2000 people lived at Lachish at that time. However, this method is meant to estimate the population in a regular settlement, while Lachish was mainly a military, fortified center. Moreover, it is possible that the number of people in Lachish changed on the eve of the siege, either because people from the surrounding region took refuge here, or due to changes being made in the deployment of the Judahite army.

As to the size of the Assyrian army encamped at Lachish, or the size of the force which took part in the attack on the city, no data are available. As to the question of how long the siege of the city lasted, it apparently was a brief siege, as the entire Assyrian campaign lasted for only part of one year. During that period of time, the Assyrian army marched from Assyria to Judah, subjugated Phoenicia and Philistia, fought the Egyptian expeditionary force, conquered part of Judah, and returned home. It seems that most of the time needed for the attack on Lachish was spent in laying the siege-ramp, while the attack on the city-walls was relatively brief. Ephʿal tried to calculate the time needed for laying the siege-ramp, and suggested that it took twenty-three days.8 However, all the basic data needed for the calculations, such as the quantity of stones dumped in the siege-ramp, the distance from where they were taken, the number of porters employed in carrying them, and the delays caused by opposition of the defenders, can only be surmised.

A tomada de Laquis por Senaquerib em 701 a.C. – 1

Estou lendo trechos do livro de KALIMI, I. ; RICHARDSON, S. (eds.) Sennacherib at the Gates of Jerusalem: Story, History and Historiography. Leiden: Brill, 2014, XII + 548 p. – ISBN 9789004265615.

Resumi os pontos principais do capítulo 4 sobre a tomada de Laquis.KALIMI, I. ; RICHARDSON, S. (eds.) Sennacherib at the Gates of Jerusalem: Story, History and Historiography. Leiden: Brill, 2014

O capítulo foi escrito pelo arqueólogo David Ussishkin, que escavou Laquis, e trata da campanha de Senaquerib em Judá em perspectiva arqueológica com ênfase em Laquis e Jerusalém.

Na maior parte das vezes apenas traduzi alguns trechos ou organizei em outra ordem as palavras do autor. Vou publicar estas anotações em 3 posts que abordam:

1. Laquis na época da campanha de Senaquerib
2. O ataque assírio a Laquis
3. Os relevos de Laquis

O texto original em inglês é transcrito na íntegra, no final, mas retirando as notas de rodapé e as referências às imagens que ilustram o livro.

 

USSISHKIN, D. Sennacherib’s Campaign to Judah: The Archaeological Perspective with an Emphasis on Lachish and Jerusalem. In KALIMI, I. ; RICHARDSON, S. (eds.) Sennacherib at the Gates of Jerusalem: Story, History and Historiography. Leiden: Brill, 2014, p. 76-79, diz:

Laquis na época da campanha de Senaquerib

A elevação onde ficava Laquis (Tell ed-Duweir) tem cerca de 7 hectares. As encostas são muito íngremes devido às enormes fortificações da cidade antiga construída aqui. Escavações extensas foram realizadas em Laquis por três expedições arqueológicas. As primeiras escavações foram conduzidas em larga escala entre 1932 e 1938 por uma expedição britânica dirigida por James Leslie Starkey. Em 1966 e 1968, Yohanan Aharoni, na época na equipe da Universidade Hebraica de Jerusalém, realizou uma pequena escavação no ‘Santuário Solar’ do período persa. Finalmente, escavações sistemáticas, de longo prazo e em larga escala, foram dirigidas por David Ussishkin, do Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv, entre 1972 e 1993.

Durante a primeira metade do século IX a.C., um dos reis de Judá construiu ali uma formidável fortaleza, transformando Laquis na cidade mais importante de Judá depois A invasão de Judá por Senaquerib em 701 a. C.de Jerusalém. Como não há inscrições, não se sabe qual rei construiu a cidade e em que data isto foi feito. A cidade fortaleza continuou a servir como a principal fortaleza real dos reis de Judá até sua destruição por Senaquerib, em 701 a.C.

A cidade fortaleza, quase retangular, era protegida por duas muralhas: uma externa, ao redor do local, no meio da encosta, e a muralha principal da cidade se estendendo ao longo da borda superior do local. A maciça muralha externa foi descoberta na íntegra pela expedição britânica. Somente sua parte inferior, construída de pedras, foi preservada. Já a muralha principal foi construída de tijolos de barro sobre fundações de pedra. Com mais de 6 metros de espessura e cerca de 5 metros de altura, seu topo proporcionava espaço suficiente para os defensores se movimentarem e lutar.

Uma estrada levava do canto sudoeste do local até a antiga porta da cidade. O complexo da porta da cidade incluía, na verdade, duas portas: uma externa, ligada à muralha externa, e uma interna, ligada à muralha principal da cidade. E havia um pátio aberto e espaçoso entre as duas portas.

Da porta interna uma estrada levava ao palácio-forte que ficava no cume da elevação. O palácio-forte servia como a residência do governador real e como base para a guarnição.

Muito pouco se sabe sobre o palácio-forte, pois apenas suas fundações abaixo do nível do solo foram preservadas. A estrutura das fundações se assemelha a uma grande caixa que se eleva acima da superfície circundante. Algumas partes das paredes externas da estrutura da fundação foram expostas nas escavações. Essas paredes têm cerca de 3 metros de espessura. O piso do edifício se estendia no topo das fundações. É claro que um edifício magnífico e monumental se ergueu na época acima dessas fundações. Um grande pátio e dois outros edifícios foram anexados ao palácio-forte. Parece que um dos edifícios era um estábulo e que uma unidade de carros ficava estacionada ali.

Um poço profundo, principal fonte de água da fortaleza, estava localizado próximo à muralha da cidade, no canto nordeste. Aparentemente, fornecia quantidades A elevação onde ficava Laquis (Tell ed-Duweir)suficientes de água durante os períodos de paz e de guerra. A parte superior do poço era revestida por blocos de pedra e a parte inferior era escavada na rocha. O poço tem 44 metros de profundidade e ainda continha água quando os arqueólogos britânicos o descobriram na década de 30 do século XX.

A cidade foi completamente destruída por um incêndio em 701 a.C. quando Laquis foi conquistada pelo exército assírio. Parece razoável supor que, após o ataque bem-sucedido à cidade, soldados assírios com tochas nas mãos passassem sistematicamente de casa em casa e incendiassem tudo. Os restos da destruição foram encontrados onde quer que as escavações atingissem os prédios públicos e as residências particulares. As casas eram em grande parte construídas com tijolos de barro, e o fogo foi tão intenso que os tijolos de barro secos ao sol foram queimados e, em alguns casos, pode-se observar como as paredes das casas desabaram. Os pisos das casas foram encontrados cobertos com uma camada de cinzas, vasos de cerâmica quebrados e vários utensílios domésticos – todos enterrados sob o desabamento.

 

Lachish on the Eve of Sennacherib’s Campaign

Tel Lachish (Tell ed-Duweir), the site of the biblical city, is one of the largest and most prominent ancient mounds in southern Israel. The mound is nearly rectangular, its flat summit covering about 18 acres. The slopes of the mound are very steep due to the massive fortifications of the ancient city constructed here. Extensive excavations were carried out at Lachish by three expeditions. The first excavations were conducted on a large scale between 1932 and 1938 by a British expedition directed by James Starkey. In 1966 and 1968 Yohanan Aharoni, at that time on the staff of the Hebrew University of Jerusalem, conducted a small excavation, limited in scope and scale, in the ‘Solar Shrine’ of the Persian period. Finally, systematic, long-term and large-scale excavations were directed by me on behalf of the Institute of Archaeology of Tel Aviv University between 1972 and 1993.

A fortaleza de Laquis, em JudáDuring the earlier part of the ninth century b.c.e., one of the kings of Judah constructed here a formidable fortress city, turning Lachish into the most important city in Judah after Jerusalem. With the absence of inscriptions, it is not known which king built the city and at what date. The fortress city continued to serve as the main royal fortress of the kings of Judah until its destruction by Sennacherib in 701 b.c.e.

The nearly rectangular fortress city was protected by two city-walls—an outer revetment surrounding the site at mid-slope, and the main city-wall extending along the upper periphery of the site. The massive outer revetment was uncovered in its entirety by the British expedition. Only its lower part, built of stones, was preserved. It probably served mainly to support a rampart or glacis which reached the bottom of the main city-wall. This massive wall was built of mud-brick on stone foundations. Being more than 6m (20ft) thick, its top provided sufficient, spacious room for the defenders to stand and fight.

A roadway led from the southwest corner of the site to the ancient city-gate. The gate is the largest, strongest and most massive city-gate known today in the Land of Israel. The city-gate complex included in fact two gates: an outer gatehouse, connected to the outer revetment, and an inner gatehouse, connected to the main city-wall, and an open, spacious courtyard extending between the two gates.

From the inner gate, a roadway led the way to the huge palace-fort complex which crowned the center of the summit. The palace-fort served as the residence of the royal Judahite governor and as the base for the garrison.

The palace-fort is undoubtedly the largest and most massive edifice known today from ancient Judah. Very little is known about the building proper, as only its foundations below floor level have been preserved. The structure of the foundations resembles a big box rising above the surrounding surface. Some parts of the exterior walls of the foundation structure were exposed in the excavations. These walls are about 3m (9ft) thick. The spaces between the foundation walls were filled with earth and the exterior walls were supported by an earth rampart. The floor of the building extended at the top of the foundations. It is clear that a magnificent, monumental edifice rose at the time above these foundations. A large courtyard and two annexed buildings were attached to the palace-fort. It seems that one of the buildings was a stable, and that a unit of chariots was stationed here.

A fortaleza de Laquis em 701 a. C.A deep well, which formed the main water source of the settlement, was located near the city-wall in the northeast corner of the site. Apparently, it provided sufficient quantities of water during times of peace and siege alike. The upper part of the well was lined by stone blocks and the lower part was hewn in the rock. The well is 44m (132ft) deep and still contained water when the British archaeologists uncovered it.

The city of Level III was completely destroyed by fire in 701 b.c.e. when Lachish was conquered by the Assyrian army. It seems reasonable to assume that following the successful attack on the city, Assyrian soldiers holding burning torches in their hands walked systematically from house to house and set everything on fire. The remains of the destruction have been encountered wherever the excavations reached the public buildings and domestic houses of Level III. The domestic houses were largely built of mud-brick, and the fire was so intense that the sun-dried mud-bricks were baked and colored, and in some cases it can be observed how the walls of the houses collapsed. The floors of the houses were found covered with a layer of ashes, smashed pottery vessels and various household utensils—all buried under the collapse.

Um retrato de Senaquerib, rei da Assíria

Estas são notas de leitura do capítulo 1 (Portrait of Sennacherib) do livro de ELAYI, J. Sennacherib, King of Assyria. Atlanta: SBL, 2018, p. 11-27.

 

Aparência física
. há muitas representações de Senaquerib, em várias atitudes e contextosSenaquerib, rei da Assíria de 705 a 681 a. C.
. a maior parte foi encontrada no Palácio Sudoeste, em Nínive
. sua aparência, suas vestes, seus ornamentos, suas armas: tudo muito elegante e refinado
. em muitos aspectos, ele é retratado semelhante a uma divindade
. não é um retrato realista, é um retrato convencional de um rei assírio, é uma imagem idealizada
. como ele era realmente, não sabemos

 

Nome e família
. seu nome Sīn-aḫḫē-erība significa, em acádico, “Sin substituiu os irmãos”
. possivelmente uma referência à morte de todos os seus irmãos antes de seu nascimento
. filho de Sargão II, neto de Tiglat-Pileser III
. quem era sua mãe? Atalia ou Raimâ?
. teve vários irmãos, mais velhos e mais jovens do que ele, e pelo menos uma irmã
. segundo o costume assírio, Senaquerib tinha um harém
. pelo menos duas esposas são conhecidas pelo nome: Tash-mêtu-sharrat e Naqiʾa.
. ambas usaram o título de “rainha” (sēgallu). Tash-mêtu-sharrat foi a primeira, Naqiʾa a sucedeu.
. Naqi’a foi a mãe do sucessor de Senaquerib, Assaradon
. Senaquerib teve pelo menos sete filhos, cujos nomes são conhecidos. Somente uma sua filha é conhecida pelo nome

 

Infância
. nasceu por volta de 745 a.C. e viveu sua infância provavelmente em Nimrud, onde seu pai Sargão II e seu avô Tiglat-Pileser III moravam
. sua educação não foi a de um príncipe herdeiro, porque o sucessor de Tiglat-Pileser III foi Salmanasar V, seu tio
. quando seu pai Sargão II sucedeu ao irmão, ou meio-irmão, Salmanasar V, e ele foi proclamado príncipe herdeiro, é que sua preparação para ser rei deve ter se iniciado

 

Personalidade
. costuma-se deduzir sua personalidade das inscrições, mas estas foram feitas por escribas que usavam um modelo estereotipado aplicado a vários reis
. vê-se aí, entretanto, muito orgulho, alto conceito de si mesmo, inteligência, homem perfeito, com representações de si mesmo em várias localidades do império
. tendo vivido como príncipe herdeiro por mais de 15 anos, ele era um homem experiente quando subiu ao trono
. não sonhava em conquistar o mundo, suas campanhas militares foram para conter revoltas e reconquistar territórios perdidos
. as cruéis punições a que submetia seus inimigos derrotados seguiam um padrão assírio de intimidação e terror psicológico
. aplicou-se muito mais em ser grande construtor e disso se orgulhava
. as campanhas militares eram uma necessidade, as grandes obras eram uma realização
. os relatos de seus feitos como construtor ocupam, com frequência, muito mais espaço nas inscrições reais do que as suas campanhas militares
. as obras em Nínive, que ele transformou na capital do império*, especialmente o “palácio sem rival”, chamado pelos arqueólogos de “Palácio Sudoeste”, são grandiosas
. ele se orgulhava de ter introduzido em seu reino uma série de inovações arquitetônicas, metalúrgicas e hortícolas
. não temos como saber suas crenças pessoais, mas os textos o mostram exaltando os tradicionais deuses assírios, especialmente o deus Assur
. rituais religiosos tradicionais são retratados em suas gravuras, na guerra e na paz
. em suma, Senaquerib queria projetar uma imagem de inteligência, capacidade, justiça, piedade, benevolência e energia

 

Na conclusão do livro, na p. 203, a autora faz uma avaliação do reinado de Senaquerib. Ela começa assim:

Quem exatamente era Senaquerib? Ele era diferente da imagem negativa transmitida a nós através dos séculos, porque atacou Judá e destruiu Babilônia. Ele também era diferente da imagem de propaganda que queria promover através de suas inscrições reais e dos relevos do palácio: uma imagem de inteligência, habilidade, justiça, piedade, benevolência e energia. De fato, essas duas imagens divergentes não são completamente falsas, pois contêm alguns elementos de sua personalidade…

Who exactly was Sennacherib? He was different from the negative image conveyed to us through the centuries because he attacked Judah and destroyed Babylon. He was also different from the propaganda image that he wanted to promote through his royal inscriptions and his palace reliefs: an image of intelligence, ability, justice, piety, benevolence, and energy. In fact, these two converse images are not completely false, as they contain some elements of his personality… (Conclusion: Assessment of Sennacherib’s Reign, in ELAYI, J., o. c., p. 203)

 

* A Assíria teve 4 capitais:

1. Assur: capital da Assíria desde o II milênio a.C. e cidade de grande importância religiosa ao longo de toda a sua história
2. Kalhu (Nimrud), escolhida como capital por Assurnasírpal (reinou de 883 a 859 a.C.)
3. Dur-Sharrukkin (Khorsabad), construída por Sargão II a partir de 713 a.C.
4. Nínive, escolhida como capital por Senaquerib (reinou de 705 a 681 a.C.)

O cerco de Jerusalém por Senaquerib em 701 a.C.

Senaquerib governou a Assíria durante 24 anos, de 705 a 681 a.C. No quarto ano de seu reinado, em 701 a.C., ele partiu para a Fenícia e a Palestina em sua terceira campanha militar. Seus alvos foram Lulî, rei de Sidon; Ṣidqâ, da cidade de Ascalon; os nobres e os habitantes da cidade de Ekron e seus aliados egípcios e etíopes; Ezequias, rei de Judá em Jerusalém.

Em meu artigo sobre O contexto da Obra Histórica Deuteronomista escrevi:

Em 701 a.C. Senaquerib começou por Tiro, vencendo-a. Logo os reis de Biblos, Arvad, Ashdod, Moab, Edom e Amon se entregaram e pagaram tributo a Senaquerib. Somente Ascalon e Ekron, juntamente com Judá, resistiram. Senaquerib tomou primeiro Ascalon. Os egípcios tentaram socorrer Ekron e foram derrotados. E foi a vez de Judá. Senaquerib tomou 46 cidades fortificadas em Judá e cercou Jerusalém.

Testemunhos arqueológicos da devastação foram encontrados em várias escavações por todo o território. Especialmente significativos são a representação assíria daSenaquerib, rei da Assíria de 705 a 681 a.C. tomada de Laquis encontrada no palácio de Senaquerib em Nínive – hoje está no British Museum – e a escavação, feita pelos britânicos na década de 30 e por David Ussishkin, da Universidade de Tel Aviv, na década de 70 do século XX, da poderosa fortaleza, esta que era a segunda mais importante cidade do reino e protegia a entrada de Judá.

Entretanto, por motivos ainda hoje desconhecidos, talvez uma peste, Senaquerib levantou o cerco de Jerusalém e retornou à Assíria. A cidade voltou a respirar, no último minuto, mas teve que pagar forte tributo aos assírios. Não se sabe porque Jerusalém se salvou. 2Rs 19,35-37 diz que o Anjo de Iahweh atacou o acampamento assírio. Existe uma notícia de Heródoto, História II,141, segundo a qual num confronto com os egípcios os exércitos de Senaquerib foram ataca­dos por ratos (peste bubônica?). Talvez Senaquerib tenha partido por causa de alguma rebelião na Mesopotâmia. Ou ainda: há autores que pensam que Jerusalém nem precisou ser sitiada para ser vencida. Nos Anais de Senaquerib se diz o seguinte: “Quanto a Ezequias do país de Judá, que não se tinha submetido ao meu jugo, sitiei e conquistei 46 cidades que lhe pertenciam (…) Quanto a ele, encerrei-o em Jerusalém, sua cidade real, como um pássaro na gaiola…”.

 

ELAYI, J. Sennacherib, King of Assyria. Atlanta: SBL, 2018, p. 76-81 diz:

O cerco de Jerusalém por Senaquerib em 701 a.C. é uma questão difícil, principalmente por causa das contradições entre as fontes assírias e bíblicas.

Muitos autores pensam que não houve um cerco de Jerusalém, mas somente um bloqueio da capital que ficou isolada do resto do país. Como dão a entender os Anais de Senaquerib que dizem: Quanto a ele (Ezequias), eu o confinei (e-sir-šu) dentro da cidade de Jerusalém, sua cidade real, como um pássaro em uma gaiola. Montei bloqueios (ḫal-ṣu.MEŠ) contra ele e o fiz ter pavor de sair pela porta da cidade.

Um bloqueio de Jerusalém cortaria suprimentos e deixaria a cidade sem qualquer socorro externo. O objetivo era fazer Ezequias se render. Enquanto isso o exército assírio poderia continuar a conquista do território.

Teria Senaquerib sido incapaz de tomar Jerusalém? Seriam as técnicas de cerco assírias não tão avançadas como se alardeava? Ou seria Jerusalém muito bem fortificada? Mas se Senaquerib conquistou Laquis, por que não poderia fazer o mesmo com Jerusalém? Além do que, técnicas de bloqueio já tinham sido usadas por Tiglat-Pileser III, avô de Senaquerib, contra o rei Rezin de Damasco.

Por outro lado, os textos bíblicos em 2Rs 18,13-19,37; Is 36-37; 2Cr 32 trazem várias informações que não estão nas textos assírios de que dispomos. Ezequias se prepara militarmente, melhora suas defesas, negocia com emissários assírios, embora tal negociação pareça, pela linguagem usada, ser coisa mais dos redatores dos textos bíblicos do que um fato histórico.

Como consequência do bloqueio, Judá perdeu territórios para os filisteus, segundo os textos assírios. E isto é plausível, pois a prática assíria de tirar partes do território de vassalos rebeldes e entregá-las a reis leais é conhecida.

O resultado do bloqueio é a submissão de Ezequias a Senaquerib e o pagamento de pesado tributo, um dos maiores de todos os citados nas várias campanhas militares de Senaquerib.

Uma questão continua sendo debatida: por que Ezequias envia o tributo após a volta de Senaquerib para Nínive, como narram as fontes assírias?

Alguns acham que, por Ezequias aceitar pagar o tributo, Senaquerib pode voltar ao seu país, pois o pagamento estava, nas circunstâncias, garantido. Outros acham que Ezequias quer, com o envio do tributo, evitar outro ataque de Senaquerib.

Mas, pode-se também entender a coisa toda na dinâmica das guerras da época: Senaquerib volta a Nínive com a cavalaria e sua guarda pessoal, antes da infantaria de seu exército que se move mais lentamente, com os produtos do saque em carros de boi e os prisioneiros de guerra em lentas montarias ou a pé.

Entretanto é mais provável que os assírios tenham deixado tropas no território, que poderiam retaliar caso Ezequias não demonstrasse submissão pagando o tributo.

E agora a questão principal: por que Senaquerib deixa Jerusalém sem destruí-la?

Os textos assírios não o dizem, mas os relatos bíblicos sim.

O debate acadêmico tem trabalhado 4 aspectos dos relatos bíblicos:

1. 2Rs 18,13-16 – o pagamento do tributo teria levado ao recuo de Senaquerib. Mas se o tributo foi pago posteriormente em Nínive, não teria sido isso que levou ao recuo do rei assírio
2. 2Rs 19,7 – a profecia de Isaías, mas isto é teologia, não história
3. 2Rs 19, 8-9 – uma intervenção egípcia, mas mesmo que isso tivesse acontecido, por que Senaquerib se retiraria do território?
4. 2Rs 19,35-36 – a ação do Anjo de Iahweh, que pode ser uma versão teológica da praga de ratos relatada por Heródoto – mas a autora considera o argumento circular, pois Heródoto é usado para explicar o relato bíblico e vice-versa.

Ou seja: nenhum aspecto dos relatos bíblicos explica realmente o que aconteceu.

Os textos assírios e bíblicos nos deixam ver duas ideologias em confronto: do ponto de vista assírio, Senaquerib é o poderoso rei que nunca sofre uma derrota; do ponto de vista bíblico, Ezequias é o rei fiel a Iahweh que é por ele socorrido.

E se a política assíria tivesse como objetivo apenas quebrar a força da rebelião na região, como fazia rotineiramente em outras situações, e não destruir tudo?

O que para Judá pode ter parecido um grande evento militar, era coisa corriqueira para a Assíria, tal a diferença de forças em jogo.

Mas e Laquis? Laquis pode ter sido destruída para servir de exemplo de como resistir era inútil.

Com a perda do território da Sefelá, Judá ficou sem o controle da rota comercial para o Egito. Ficou arrasado economicamente. Mas um Judá submisso ainda preenchia, junto com as cidades filisteias, a função de estado tampão com o Egito.

E a ameaça babilônica, neutralizada na campanha seguinte, em 700 a.C. poderia ser a que realmente preocupava Senaquerib.

 

Dizem os Anais de Senaquerib:

The Chicago/Taylor Prism

(iii 18) Moreover, (as for) Hezekiah of the land Judah, who had not submitted to my yoke, I surrounded (and) conquered forty-six of his fortified cities, (iii 20) fortresses, and small(er) settlements in their environs, which were without number, by having ramps trodden down and battering rams brought up, the assault of foot soldiers, sapping, breaching, and siege engines. I brought out of them 200,150 people, young (and) old, male and female, (iii 25) horses, mules, donkeys, camels, oxen, and sheep and goats, which were without number, and I counted (them) as booty.

(iii 27b) As for him (Hezekiah), I confined him inside the city Jerusalem, his royal city, like a bird in a cage. I set up blockades against him and (iii 30) made him dread exiting his city gate. I detached from his land the cities of his that I had plundered and I gave (them) to Mitinti, the king of the city Ashdod, Padî, the king of the city Ekron, and Ṣilli-Bēl, the king of the city Gaza, and (thereby) made his land smaller. (iii 35) To the former tribute, their annual giving, I added the payment (of) gifts (in recognition) of my overlordship and imposed (it) upon them (text: “him”).

(iii 37b) As for him, Hezekiah, fear of my lordly brilliance overwhelmed him and, after my (departure), he had the auxiliary forces and his elite troops whom (iii 40) he had brought inside to strengthen the city Jerusalem, his royal city, thereby gaining reinforcements, along with 30 talents of gold, 800 talents of silver, choice antimony, large blocks of …, ivory beds, armchairs of ivory, elephant hide(s), elephant ivory, (iii 45) ebony, boxwood, every kind of valuable treasure, as well as his daughters, his palace women, male singers, (and) female singers brought into Nineveh, my capital city, and he sent a mounted messenger of his to me to deliver (this) payment and to do obeisance.

The Jerusalem Prism

(iii 18) Moreover, (as for) Hezekiah of the land Judah, who had not submitted to my yoke, I surrounded (and) conquered forty-six of his fortified cities, (iii 20) fortresses, and small(er) settlements in their environs, which were without number, by having ramps trodden down and battering rams brought up, the assault of foot soldiers, sapping, breaching, and siege engines. I brought out of them 200,150 people, young (and) old, male and female, (iii 25) horses, mules, donkeys, camels, oxen, and sheep and goats, which were without number, and I counted (them) as booty.

(iii 27b) As for him (Hezekiah), I confined him inside the city Jerusalem, his royal city, like a bird in a cage. I set up blockades against him and (iii 30) made him dread exiting his city gate. I detached from his land the cities of his that I had plundered and I gave (them) to Mitinti, the king of the city Ashdod, Padî, the king of the city Ekron, and Ṣilli-Bēl, the king of the city Gaza, and (thereby) made his land smaller. (iii 35) To the former tribute, their annual giving, I added the payment (of) gifts (in recognition) of my overlordship and imposed (it) upon them (text: “him”).

(iii 37b) As for him, Hezekiah, fear of my lordly brilliance overwhelmed him and, after my (departure), he had the auxiliary forces and his elite troops whom (iii 40) he had brought inside to strengthen the city Jerusalem, his royal city, thereby gaining reinforcements, along with 30 talents of gold, 800 talents of silver, choice antimony, large blocks of …, ivory beds, armchairs of ivory, elephant hide(s), elephant ivory, (iii 45) ebony, boxwood, every kind of valuable treasure, as well as his daughters, his palace women, male singers, (and) female singers brought into Nineveh, my capital city, and he sent a mounted messenger of his to me to deliver (this) payment and to do obeisance.

Rassam Cylinder

(49) (As for) Hezekiah of the land Judah, I surrounded (and) conquered forty-six of his fortified walled cities and small(er) settlements in their environs, which were without number, (50) by having ramps trodden down and battering rams brought up, the assault of foot soldiers, sapping, breaching, and siege engines. I brought out of them 200,150 people, young (and) old, male and female, horses, mules, donkeys, camels, oxen, and sheep and goats, which were without number, and I counted (them) as booty.

(52) As for him (Hezekiah), I confined him inside the city Jerusalem, his royal city, like a bird in a cage. I set up blockades against him and made him dread exiting his city gate. I detached from his land the cities of his that I had plundered and I gave (them) to Mitinti, the king of the city Ashdod, and Padî, the king of the city Ekron, (and) Ṣilli-Bēl, the king of the land Gaza, (and thereby) made his land smaller. To the former tribute, their annual giving, I added the payment (of) gifts (in recognition) of my overlordship and imposed (it) upon them.

(55) As for him, Hezekiah, fear of my lordly brilliance overwhelmed him and, after my (departure), he had the auxiliary forces (and) his elite troops whom he had brought inside to strengthen the city Jerusalem, his royal city, thereby gaining reinforcements, (along with) 30 talents of gold, 800 talents of silver, choice antimony, large blocks of …, ivory beds, armchairs of ivory, elephant hide(s), elephant ivory, ebony, boxwood, garments with multi-colored trim, linen garments, blue-purple wool, red-purple wool, utensils of bronze, iron, copper, tin, (and) iron, chariots, shields, lances, armor, iron belt-daggers, bows and uṣṣu-arrows, equipment, (and) implements of war, (all of) which were without number, together with his daughters, his palace women, male singers, (and) female singers brought into Nineveh, my capital city, and he sent a mounted messenger of his to me to deliver (this) payment and to do obeisance.

 

Vídeos sobre Nínive, o palácio de Senaquerib em Nínive e a tomada de Laquis:Palácio de Senaquerib em Nínive - Archaeology Illustrated

3D Digital Art Ancient Nineveh – Ashurbanipal, Assyria – 3D by Kais Jacob – 18 de março de 2016

Flyover of the ancient citadel at Nineveh – Learning Sites – 28 de novembro de 2017

Southwest Palace, Nineveh, flyover and flythrough showing Carlos Museum fragments in context – Learning Sites – 2 de maio de 2019

The Lachish Reliefs – Megalim Institute – 2 de dezembro de 2013

As inscrições reais do período neoassírio

Fontes neoassírias? Os textos estão disponíveis no Projeto RINAP, da Universidade da Pensilvânia.

The Royal Inscriptions of the Neo-Assyrian Period (RINAP)

Numerous royally commissioned texts were composed between 744 BC and 609 BC, a period during which Assyria became the dominant power in southwestern Asia. Eight hundred and fifty to nine hundred such inscriptions are known today. The Royal Inscriptions of the Neo-Assyrian Period (RINAP) Project, under the direction of Professor Grant Frame of the University of Pennsylvania, will publish in print and online all of the known royal inscriptions that were composed during the reigns of the Assyrian kings Tiglath-pileser III (744–727 BC), Shalmaneser V (726–722 BC), Sargon II (721–705 BC), Sennacherib (704–681 BC), Esarhaddon (680–669 BC), The Taylor Prism - Library of Ashurbanipal - Date: 691BC - British MuseumAshurbanipal (668–ca. 631 BC), Aššur-etel-ilāni (ca. 631–627/626 BC), Sîn-šumu-līšir (627/626 BC), Sîn-šarra-iškun (627/626–612 BC), and Aššur-uballiṭ II (611–609 BC), rulers whose deeds were also recorded in the Bible and in some classical sources. The individual texts range from short one-line labels to lengthy, detailed inscriptions with over 1200 lines (4000 words) of text.

These Neo-Assyrian royal inscriptions (744–609 BC) represent only a small, but important part of the vast Neo-Assyrian text corpus. They are written in the Standard Babylonian dialect of Akkadian and provide valuable insight into royal exploits, both on the battlefield and at home, royal ideology, and Assyrian religion. Most of our understanding of the political history of Assyria, and to some extent of Babylonia, comes from these sources. Because this large corpus of texts has not previously been published in one place, the RINAP Project will provide up-to-date editions (with English translations) of Assyrian royal inscriptions from the reign of Tiglath-pileser III (744–727 BC) to the reign of Aššur-uballiṭ II (611–609 BC) in seven print volumes and online, in a fully lemmatized and indexed format. The aim of the project is to make this vast text corpus easily accessible to scholars, students, and the general public. RINAP Online will allow those interested in Assyrian culture, history, language, religion, and texts to efficiently search Akkadian and Sumerian words appearing in the inscriptions and English words used in the translations. Project data will be fully integrated into the Cuneiform Digital Library Initiative (CDLI) and the Open Richly Annotated Cuneiform Corpus (Oracc).

 

Sobre os Anais de Senaquerib, confira:

A. Kirk Grayson & Jamie Novotny, ‘Survey of the Inscribed Objects Included in Part 1‘, RINAP 3: Sennacherib, The RINAP 3 sub-project of the RINAP Project, 2019.

 

Um exemplo de como ler as inscrições:

Precisa conferir os Anais de Senaquerib sobre a invasão de Judá em 701 a.C. durante o reinado de Ezequias?

O texto cuneiforme original transliterado e em tradução para o inglês está aqui. Uma opção é: clique em Sennacherib [261] > Sennacherib 022 – Chicago/Taylor Prism, leia a partir de (iii 18).

Lembrando, porém, que há outros textos, no mesmo endereço, que tratam da invasão de Judá em 701 a.C., como o Jerusalem Prism e o Rassam Cylinder.

O jeito assírio de organizar um império

Curso online gratuito sobre o império assírio:

Organising an Empire: The Assyrian Way – By Karen Radner

Discover the mighty kingdom of Assyria, which came to be the world’s first great empire three thousand years ago. From the 9th to the 7th centuries BC, during the imperial phase of Assyria’s long history, modern day northern Iraq was the central region of a state reaching from the Mediterranean Sea to the Persian Gulf, and incorporating what is now Iraq, Syria, and Lebanon, as well as half of Israel, and wide parts of south-eastern Turkey, and Western Iran.

In its geographical extent, this state was unprecedentedly large, and the distinct geography of the Middle East, with deserts and high mountain ranges, posed challenges to communication and cohesion. What were the mechanisms that kept the Empire running? This course explores the methods the Assyrian government employed to ensure unity and maintain loyalty across vast distances, using traditional as well as innovative strategies. Some of these imperial techniques have marked parallels in the ways modern multi-national corporations are operating, others will strike you as profoundly alien.

This course focusses on how the Assyrians organised their empire by analysing key aspects, namely:Karen Radner

· The CEO – the king, a religious, political and military leader, who is charged to govern by his master, the god Assur;

· Home Office – the royal palace in the central region and the royal court that form the administrative centre of the state;

· The Regional Managers – the governors and client-rulers to whom local power is delegated;

· Human Resources – the Empire’s people are its most precious assets, its consumers and its key product, as the goal of the imperial project was to create “Assyrians”; an approach with lasting repercussions that still reverberate in the Middle East today; and finally

· The Fruits of Empire – it takes a lot of effort, so what are the rewards?

When we explore these topics we will contextualise them with information about the lives led by ordinary Assyrian families.

Taking this course will provide you with an overview of the political, social, religious, and military history of the world’s first superpower. It will give you insight into the geography and climatic conditions of the Middle East and contribute to your understanding of the opportunities and challenges of that region. It will present you with a vision of the Middle East at a time when its political and religious structures were very different from today.

Karen Radner (1972) é uma assirióloga austríaca. Professora de História do Antigo Oriente Médio na Ludwig-Maximilians-Universität München, Alemanha.

A invasão de Judá por Senaquerib: as fontes

ELAYI, J. Sennacherib, King of Assyria. Atlanta: SBL, 2018, p. 69-70 diz:

Há uma notável variedade de fontes: as inscrições de Senaquerib registrando o episódio várias vezes com várias variantes, relatos bíblicos (2Rs 18,13-19,37; Is 36-37; 2Cr 32), representações em relevos assírios, descobertas arqueológicas, fontes egípcias e gregas e fontes problemáticas.

A principal dificuldade para o historiador é o fato de existirem várias contradições entre essas fontes e nenhuma delas ser totalmente confiável. No entanto, alguns autores parecem acreditar que as fontes relacionadas ao seu campo de pesquisa são as melhores; outros, estudando a história de Israel e Judá, consideram as inscrições reais assírias como fontes confiáveis ​​de informações históricas sobre os eventos dessa região. Como é sabido, as inscrições reais assírias são caracterizadas por intenções ideológicas e propagandísticas, que devem ser detectadas usando uma abordagem crítica. Os relatos bíblicos são ainda mais problemáticos porque o texto passou por uma elaborada história de redação e edição. As fontes assírias engrandecem a honra de Senaquerib, enquanto os relatos bíblicos sublinham a honra de Javé.

O melhor método seria considerar cada uma das fontes com uma abordagem crítica rigorosa e combiná-las todas para alcançar o melhor entendimento possível da fase judaica da terceira campanha de Senaquerib, mesmo que alguns autores tenham escrito que reconciliar todas as fontes é inaceitável ou impossível.

O número de monografias e artigos dedicados a esse assunto desde o século XIX até o presente é tão grande que nem todos podem ser considerados e analisados. As principais pesquisas úteis desta bibliografia são as de Brevard S. Childs, Lester L. Grabbe, William R. Gallagher e Nazek Khalid Matty.

 

Bibliografia em língua inglesa

:: Inscrições de Senaquerib
GRAYSON, A. K. ; NOVOTNY, J. The Royal Inscriptions of Sennacherib, King of Assyria (704–681 BC). 2 vols. RINAP 3.1–2. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2012–2014. Online aqui. Cf. o texto sobre a invasão de Judá por Senaquerib aqui [clique em Sennacherib [261] > Sennacherib 022 – Chicago/Taylor Prism, leia a partir de (iii 18)].
LAATO, A. Assyrian Propaganda and the Falsification of History in the Royal Inscriptions of Sennacherib. VT 45, p. 198–226, 1995.

:: Relevos assírios
RUSSELL, J. M. Sennacherib’s Palace without Rival at Nineveh. Chicago: University of Chicago Press, 1991.
MATTY, N. K. Sennacherib’s Campaign against Judah and Jerusalem in 701 B.C.: A Historical Reconstruction. Berlin: de Gruyter, 2016.

:: Descobertas arqueológicas
GRABBE, L. L. (ed.) ‘Like a Bird in a Cage’: The Invasion of Sennacherib in 701 BCE. Sheffield: Sheffield Academic Press, 2003.

:: Fontes problemáticas
GALLAGHER, W. R. Sennacherib’s Campaign to Judah: New Studies. Leiden: Brill, 1999, p. 9-21.

:: Fontes bíblicas
BOSTOCK, D. A Portrayal of Trust: The Theme of Faith in the Hezekiah Narratives. Milton Keynes, UK: Paternoster, 2006.

Para saber onde consultar fontes assírias, clique aqui. Algumas dessas obras podem ser encontradas aqui, aqui ou aqui.

 

Bibliografia consultada pela autora
CHILDS, B. S. Isaiah and the Assyrian Crisis. London: SCM, 1967.
GALLAGHER, W. R. Sennacherib’s Campaign to Judah: New Studies. Leiden: Brill, 1999.
GRABBE, L. L. (ed.) ‘Like a Bird in a Cage’: The Invasion of Sennacherib in 701 BCE. Sheffield: Sheffield Academic Press, 2003.
MATTY, N. K. Sennacherib’s Campaign against Judah and Jerusalem in 701 B.C.: A Historical Reconstruction. Berlin: de Gruyter, 2016.

ELAYI, J. Sennacherib, King of Assyria. Atlanta: SBL, 2018

There are a remarkable variety of sources: Sennacherib’s inscriptions recording the episode several times with a number of variants, biblical accounts (2 Kgs 18:13–19:37; Isa 36–37; 2 Chr 32), representations on Assyrian reliefs, archaeological discoveries, Egyptian and Greek sources, and problematic sources. The main difficulty for the historian is the fact that several contradictions exist between these sources and that none of them is entirely reliable. However, some authors seem to believe that the sources related to their field of research are the best; others, studying the history of Israel and Judah, consider the Assyrian royal inscriptions as reliable sources of historical information concerning the events of this region. As is well known, the Assyrian royal inscriptions are characterized by ideological and propagandistic intentions, which have to be detected using a critical approach. The biblical accounts are still more problematic because the text has gone through an elaborate history of writing and editing. The Assyrian sources were intended to enhance the honor of Sennacherib, while the biblical accounts seek to enhance the honor of Yahweh. The best method would be to consider each of the sources with an adapted critical approach and to combine them all in order to reach the best possible understanding of the Judean phase of Sennacherib’s third campaign, even if some authors have written that reconciling all the sources is unacceptable or impossible. The number of monographs and articles dedicated to this subject from the nineteenth century up to the present is so large that they cannot all be considered and analyzed. The main useful surveys of this bibliography are those of Brevard S. Childs, Lester L. Grabbe, William R. Gallagher, and Nazek Khalid Matty.

Os relatos mesopotâmicos do dilúvio

WASSERMAN, N. The Flood: The Akkadian Sources. A New Edition, Commentary, and a Literary Discussion. Leuven: Peeters, 2020, 187 p. – ISBN 9789042941731.

A história do dilúvio que exterminou toda a vida na terra, exceto uma família, é encontrada em diferentes textos da antiga Mesopotâmia, de onde chegou às tradições literárias bíblicas e clássicas. Este livro recolhe sistematicamente os primeiros testemunhos do mito do dilúvio, a saber, todas as fontes acádicas em escrita cuneiforme desde a antiga Babilônia até os períodos neoassírio e neobabilônico, incluindo a tabuinha XI da Epopeia de Gilgámesh. O livro os apresenta em nova edição sinótica com tradução em inglês, acompanhados de um comentário filológico detalhado e uma extensa discussão literária. O livro inclui também um glossário completo das fontes WASSERMAN, N. The Flood: The Akkadian Sources. A New Edition, Commentary, and a Literary Discussion. Leuven: Peeters, 2020acádicas.

The story of the primeval cataclysmic flood which wiped out all life on earth, save for one family, is found in different ancient Mesopotamian texts whence it reached the Biblical and Classical literary traditions. The present book systematically collects the earliest attestations of the myth of the Flood, namely all the cuneiform-written Akkadian sources – from the Old Babylonian to the Neo-Assyrian and Neo-Babylonian periods, including Tablet XI of the Epic of Gilgamesh –, presenting them in a new synoptic edition and English translation which are accompanied by a detailed philological commentary and an extensive literary discussion. The book also includes a complete glossary of the Akkadian sources.

Nathan Wasserman (Jerusalem, b. 1962) is a professor of Assyriology at the Institute of Archaeology of The Hebrew University of Jerusalem (PhD, 1993). His main fields of research are Early Akkadian literary and magical texts, as well as the history of the Old Babylonian period.

Faça o download gratuito do livro em ZORA – Zurich Open Repository and Archive.

Senaquerib, rei da Assíria

Estou estudando nestes dias, na Literatura Deuteronomista, com o Segundo Ano de Teologia do CEARP, O contexto da Obra Histórica Deuteronomista. Um dos assuntos tratados é a invasão de Judá por Senaquerib, da Assíria, em 701 a.C. quando em Jerusalém reinava Ezequias e lá estavam os profetas Isaías e Miqueias.

Andei lendo algumas coisas recentes sobre o tema. Este livro, gratuito no projeto ICI da SBL, é interessante:ELAYI, J. Sennacherib, King of Assyria. Atlanta: SBL, 2018

ELAYI, J. Sennacherib, King of Assyria. Atlanta: SBL, 2018, 256 p. – ISBN 9780884143178.

A autora trata da invasão de Judá por Senaquerib a partir da p. 52. Ela começa assim:

A terceira campanha de Senaquerib, logo após a campanha de Zagros em 701, foi a campanha para o oeste. A data de 701 é confirmada pela comparação do Cilindro Bellino, datado do epônimo de Nabû-lêʾi (702), que não menciona esta campanha, e o Cilindro Rassam, datado do epônimo de Metunu (700), que o menciona. De fato, esta campanha compreendeu três fases: contra a Fenícia, contra a Filisteia e contra Judá. No entanto, as operações militares contra Judá, também registradas na Bíblia, são as mais conhecidas e as mais discutidas. Embora as publicações relacionadas a Judá sejam exageradas e as relacionadas à Fenícia e à Filisteia sejam bastante escassas, uma abordagem histórica séria deve ser adotada, levando em consideração igualmente as três fases da terceira campanha, especialmente porque elas são parcialmente inter-relacionadas. Para Senaquerib, a terceira campanha provavelmente não foi muito diferente das duas campanhas anteriores de seu reinado, e ele não fez distinção entre as três regiões levantes, todas elas no Hatti: “Na minha terceira campanha, avancei contra o Hatti”. A campanha de 701 é geralmente interpretada como uma reação assíria à retenção do tributo imposto às cidades rebeldes fenícias, filisteias e palestinas. Vindo do norte, Senaquerib seguiu uma rota geográfica lógica e seguiu sucessivamente para a Fenícia, para a Filisteia, rumo sul, e para Judá, no leste.

 

Sennacherib’s third campaign, following on immediately from the Zagros campaign in 701, was the campaign to the west. The date of 701 is confirmed by comparing theJosette Elayi Bellino Cylinder, dated from the eponymate of Nabû-lêʾi (702), which does not mention this campaign, and the Rassam Cylinder, dated from the eponymate of Metunu (700), which does mention it. As a matter of fact, this campaign comprised three phases: against Phoenicia, against Philistia, and against Judah. However, the military operations against Judah, also recorded in the Bible, are the best known and the most discussed. Even though the publications related to Judah are overabundant and those related to Phoenicia and Philistia rather scarce, a serious historical approach must be adopted, hence giving equal consideration to the three phases of the third campaign, especially as they are partly interrelated. For Sennacherib, the third campaign was probably not very different from the two previous campaigns of his reign, and he did not distinguish between the three Levantine regions, all of them being in the Hatti: “In my third campaign, I went against the Hatti.” 47 The campaign of 701 is generally interpreted as an Assyrian reaction to the withholding of the tribute imposed on the rebellious Phoenician, Philistian, and Palestinian cities. Coming from the north, Sennacherib followed a logical geographical route, and successively proceeded to Phoenicia, to Philistia southward, and to Judah eastward (p. 52-53).

ELAYI, J. Sargon II, King of Assyria. Atlanta: SBL Press, 2017
Veja também, da mesma autora, no projeto ICI da SBL:

ELAYI, J. Sargon II, King of Assyria. Atlanta: SBL Press, 2017, 298 p. – ISBN 9781628371772.

 

Josette Elayi est une historienne française de l’Antiquité, chercheur honoraire au CNRS, née le 29 mars 1943. Elle est l’auteur de nombreux livres d’archéologie et d’histoire.

Profetas de Israel e livros proféticos da Bíblia

Ler os textos proféticos não é a mesma coisa que ouvir os profetas de carne e osso.

Entre as tendências recentes mais importantes no estudo da profecia israelita antiga está o reconhecimento de que o fenômeno social do profetismo deve ser entendido como algo bastante distinto dos textos literários dos quais coletamos nossos dados sobre as atividades proféticas. Ou, para afirmar o problema em seus termos mais básicos: os textos não são profetas. Estudar um texto é uma tarefa literária e não é o equivalente de um trabalho de campo antropológico no qual o sujeito humano pode ser observado em primeira mão.

Além disso, parece altamente provável que textos que contenham referências às atividades de figuras proféticas não tenham sido eles próprios escritos pelos profetasNEUJAHR, M. Predicting the Past in the Ancient Near East: Mantic Historiography in Ancient Mesopotamia, Judah, and the Mediterranean World. Atlanta: SBL, 2012 cujas palavras pretendem conter. Portanto, ao tratar textos que pretendem relacionar casos de atividade profética ou práticas mânticas de maneira mais ampla, é imperativo manter pelo menos um olho nos processos pelos quais a atividade mântica foi registrada em forma literária, bem como as motivações para fazê-lo. Ou seja, os processos de escrita devem ser considerados ao se estudar esses textos. Oráculos proféticos podem ter sido compostos e proferidos por figuras proféticas, mas os textos proféticos são obra dos escribas.

 

Among the more important recent trends in the study of ancient prophecy is the recognition that the social phenomenon of prophetism must be understood as something quite distinct from the literary remains from which we cull our data concerning prophetic activities. Or, to state the problem in its most basic terms: texts are not prophets. To study a text is a literary endeavor and is not the equivalent of anthropological fieldwork in which the human subject can be observed first hand. Furthermore, it seems highly likely that texts which contain references to the activities of prophetic figures were not themselves written by the prophets whose words they purport to contain. Therefore, in treating texts that purport to relate instances of prophetic activity, or mantic practices more broadly, it is imperative to keep at least one eye on the processes by which mantic activity was recorded in literary form, as well as the motivations for doing so. That is to say, the processes of scribalization must be considered when studying such texts. Prophetic oracles may have been composed and delivered by prophetic figures, but prophetic texts are the work of scribes.

 

Referência

NEUJAHR, M. Predicting the Past in the Ancient Near East: Mantic Historiography in Ancient Mesopotamia, Judah, and the Mediterranean World. Atlanta: SBL, 2012, p. 3-4.

Matthew Neujahr is a Resident Scholar at Marquette University, Milwaukee, WI, USA.