A invenção da conquista, segundo Mario Liverani

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: História antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008, p. 331-355.

Capítulo 14 – Sobreviventes e estranhos: a invenção da conquistaLIVERANI, M. Para além da Bíblia: História antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008

Mario Liverani faz uma demolição radical da conquista narrada no livro de Josué. Ele desmantela, ponto por ponto, a conquista de Josué.

Ele diz, por exemplo:

:. Sobre a conquista:
A história narrada no livro de Josué não somente não é confiável ao reconstruir uma mítica “conquista” do século XII, mas nem sequer é confiável ao reconstruir os episódios do regresso dos séculos VI-V. É um manifesto utópico que pretende dar força a um projeto de regresso que naqueles termos jamais se verificou (p. 333).

La storia narrata nel libro di Giosuè non solo non è attendibile nel ricostruire una mitica «conquista» del XII secolo, ma non è neppure attendibile nel ricostruire le vicende del rientro del VI-V secolo. È un manifesto utopico che intende dar forza ad un progetto di rientro che in quei termini non si è mai verificato.

:. Sobre os povos vencidos:
Extermina-se quem não existe – e o fato de não existirem demonstra que foram exterminados (p. 339).

Si stermina chi non c’è – e il fatto che non ci sia dimostra che lo si è sterminato.

:. Sobre o propósito do autor:
Legitimação arquetípica da posse da terra de Canaã (p. 339).

Legittimazione archetipica del possesso della terra di Canaan.

 

Algumas anotações de leitura:

1. As etapas do regresso

Os “pactos” ou “promessas” de Iahweh a Abraão e a Moisés correspondem aos editos dos reis persas no nível jurídico: fornecem a legitimação para o regresso e a posse da terra. As tradições patriarcais podiam ser invocadas como prefigurações de uma primeira presença no país, mas também podiam ser invocadas pelos remanescentes como como modelo de convivência entre grupos diversos e complementares. Assim, as tradições patriarcais fornecem, segundo Liverani, um modelo “fraco” de regresso do exílio, com pequenos grupos que ocupam espaços da terra de Yehud sem maiores conflitos com as populações locais.

Mas este não é o único modelo: a narrativa da conquista, como aparece no livro de Josué, fornece um modelo “forte” de regresso do exílio, permitindo a eliminação das populações estranhas no território de Yehud. Este modelo, defendido por grupos de linha dura, propagandeava um fechamento em relação aos povos “estranhos”.

Mas como ter-se-ia dado o regresso do exílio? Possivelmente nem “fraco” nem “forte” apenas. De modo algum unitário, mas complexo e lento. Agora, um evento militar que teria varrido o território está fora de questão.

A volta não é apenas da Babilônia, como se costuma pensar. A realidade é mais complexa e caótica. Há refugiados também no Egito, nos territórios palestinos antes ocupados pela Assíria e na Transjordânia. Os grupos que voltam do exílio têm motivações e interesses diversos. Voltam aos poucos, é preciso pensar em um regresso escalonado no tempo. Um cenário possível: grupos de pessoas amparadas financeiramente pelos que decidiram ficar na diáspora, mas que apoiam uma reocupação da terra judaíta.

Os textos sinalizam um grupo liderado por Sasabassar; outro liderado por Zorobabel e Josué, que pode ter vindo em 521 a.C., segundo ano de Dario I; outros grupos na época de Artaxerxes, 446 a.C., quando se mencionam Esdras e Neemias; outros mais tarde ainda. Mas, em nenhuma circunstância, aconteceu uma “conquista” do território na volta do exílio.

Por isso, “a história narrada no livro de Josué não somente não é confiável ao reconstruir uma mítica ‘conquista’ do século XII, mas nem sequer é confiável ao reconstruir os episódios do regresso dos séculos VI-V. É um manifesto utópico que pretende dar força a um projeto de regresso que naqueles termos jamais se verificou” (p. 333).

 

2. A Palestina no período dos aquemênidas

Um quadro dos assentamentos na época dos aquemênidas, especialmente no século V a.C., mostra uma faixa costeira mais densamente habitada e uma população bem ativa no comércio e na política local, em oposição a uma rala população na região montanhosa, que é a do assentamento judaico, o Yehud.

Estimativas arqueológicas sugerem uma pequena população judaíta, na região montanhosa, com cerca de 12 mil pessoas entre 550-450 a.C. e com cerca de 17 mil pessoas entre 450-330 a.C. Na região de Samaria: cerca de 42 mil pessoas.

Por que este quadro? Claramente a administração persa investiu na zona costeira da Palestina e, especialmente, da Fenícia, mais estratégica, construindo fortalezas, centros administrativos, urbanística planejada e instalações portuárias, deixando o interior montanhoso ir em frente com seus próprios recursos.

 

3. Os povos intrusos

A terra para onde regressam os descendentes dos exilados estava ocupada por vários grupos, como os que, escapando das deportações, nunca saíram de suas terras, os deportados de outras proveniências, os assentados durante o período assírio, as populações limítrofes que se deslocaram ou se expandiram para a terra.

Com a história de uma antiga conquista que elimina os povos residentes tenta-se negar o direito destes vários grupos à terra.

Os povos citados nesta antiga conquista originária são cananeus, heteus , amorreus, ferezeus, heveus e jebuseus.

Esses povos, com exceção dos cananeus, são fictícios, enquanto os povos reais da época do Ferro I [Ferro I=1150-900 a.C.], como fenícios, filisteus, edomitas, moabitas, amonitas, arameus e árabes não são mencionados.

Por que o destaque dado aos cananeus e por que é o único não anacrônico no final do Bronze Recente [Bronze Recente=1550-1150 a.C.]? Por ser um termo genérico, sem característica etnolinguística e unidade política, usado para as populações da região de Canaã, como o fazem os testemunhos egípcios.

Essas listas de supostos povos pré-israelitas, com exceção dos cananeus, não têm ligação alguma com a realidade histórica da Palestina, seja no século XIII (conquista), seja no século V (reocupação da terra pelos sobreviventes do exílio).

Ou seja: “extermina-se quem não existe – e o fato de não existirem demonstra que foram exterminados” (p. 339).

 

4. A fórmula do êxodo

“Outro elemento fundamental na legitimação arquetípica da posse da terra de Canaã, ao lado da teoria dos povos intrusos, é o da chegada de fora e da conquista armada, em cumprimento da promessa divina. As sagas sobre os ‘Patriarcas’ forneciam uma legitimação insuficiente, já que muito remota e localizada somente em alguns lugares-símbolo (os túmulos, as árvores sagradas). Um protótipo bem mais poderoso da conquista do país é posto em prática com a história do êxodo (ṣē’t, e outras formas de yāṣā’ ‘sair’) do Egito, sob a guia de Moisés, e da conquista armada, sob a guia de Josué” (p. 339).

Mario Liverani (nascido em Roma, em 1939)Saída (êxodo) não implica necessariamente deslocamento físico, mas saída de uma dependência política. Textos do Bronze Recente nas regiões da Síria e da Fenícia, por exemplo, indicam deslocamentos de soberania que não implicam nenhum deslocamento físico das populações envolvidas, mas sim o deslocamento da fronteira política.

Esta linguagem metafórica, porém, fica mais dramática, e passa a significar uma situação concreta, quando os assírios operaram as deportações cruzadas dos dominados no final do século VIII a.C. Liverani calcula que esta prática assíria de “deportação cruzada” de populações, envolveu, ao longo de três séculos, algo como 4 milhões e meio de pessoas no antigo Oriente Médio (cf. p. 193).

A fórmula do êxodo (algo como: Eu [Iahweh] vos fiz sair do Egito para vos fazer habitar nesta terra que vos dei) vai ser ligada a outras fórmulas, como a transumância pastoril patriarcal entre o Sinai e o delta do Nilo e o trabalho forçado dos hapiru nos empreendimentos dos raméssidas no Egito.

Isso faz do êxodo uma história de fundação do povo e do novo êxodo uma saída da diáspora assíria e babilônica. Observe-se que o Israel do êxodo reflete um povo formado, mostrando um quadro muito mais da volta do exílio do que das origens de Israel.

 

5. Moisés, o deserto e os itinerários

Falando da travessia do deserto, Liverani faz um paralelo entre a narrativa de Êxodo-Números e a volta dos descendentes dos exilados da Babilônia, concluindo que a narrativa do êxodo é apenas uma metáfora da difícil travessia da Babilônia para Yehud. Ao tratar das murmurações do povo contra Moisés e do relato dos exploradores da terra de Canaã, ele diz:

“Em ambos os casos, o povo se pergunta se não terá sido um erro dar ouvidos a Moisés (= aos sacerdotes), abandonar o Egito (= Babilônia), para procurar uma terra mais dura e difícil, habitada por populações hostis e violentas. É claro que os dois motivos, da sedição e dos exploradores, refletem debates que devem ter acontecido entre quem propugnava o retorno e quem manifestava perplexidade ou sem dúvida preferia ficar numa terra de exílio que se mostrara habitável e próspera” (p. 344).

Ele conclui também que a descrição do itinerário do Egito a Canaã seguido por Israel, além de artificial, serve principalmente para criar uma ambiente adequado para a inserção de normas legais que têm outras origens e momentos. Pois observa-se que quase todas as leis são, em sucessivas redações destes textos, inseridas, em algum momento, entre a saída do Egito e a entrada em Canaã.

 

6. O difícil assentamento

Ao partir do pressuposto de que a narrativa da conquista de Josué foi construída para servir de modelo para a reconquista do território por parte dos sobreviventes do exílio na época persa, a figura de Josué deve ser lida também como um modelo para os chefes que guiaram os sobreviventes da Babilônia para Yehud. Será coincidência chamar-se o líder sacerdotal desta volta também Josué?

Liverani também trata das dificuldades enfrentadas por Neemias para reconstruir as muralhas de Jerusalém. Dizem os livros de Esdras e Neemias que uma coalização de líderes da região tentou de todos os modos impedir a reconstrução das muralhas, alegando que a história de Jerusalém era uma história de rebeldia e isso era prejudicial aos interesses persas na região.

 

7. Josué e a “guerra santa”

A narrativa das conquistas de Josué, na visão de Liverani, reúne três diferentes sagas – as conquistas do centro, sul e norte de Canaã – para passar a ideia de uma conquista total. Os descendentes dos exilados eram, e não podia ser diferente, apenas de Judá e de Benjamin, apenas duas das doze tribos. Ao passar a ideia de uma conquista ampliada e total do território, os redatores estão defendendo uma solução extremista na reconstrução do território de Yehud.

O maior testemunho disso é a ideia do hérem, “anátema”, ou guerra santa de extermínio, defendida pelos redatores deuteronomistas. Exterminada a população, suas cidades, casas e campos, já prontos, ficam à disposição dos recém-chegados. Liverani vê nisso o reflexo da realidade assíria de deportações cruzadas, aqui utilizada, como modelo utópico na relação do povo “eleito” com os povos “estranhos”. Modelo nunca realizado por Israel nem em suas origens nem em seu regresso do exílio. Que, como já se viu, não era o único modelo existente. Assim, mais uma vez, o texto nos fornece muito mais informações sobre a ideologia de quem o formulou, do que sobre acontecimentos históricos.

 

8. Paisagem e etiologia

“Além de ocupada por povos-fantasma, destinados à eliminação física para dar lugar aos recém-chegados, a Palestina estava também constelada de cidades em ruína que se prestavam a narrativas ‘etiológicas’ que explicassem esse estado ruinoso, mediante a ação de antigos heróis” (p. 350). Há muitas ocorrências de etiologia: “e (tal está assim) até o dia de hoje” – Js 4,9;5,9;6,25;7,26;8,28-29;9,27;10,27 etc.

Há uma chave litúrgica na apresentação de alguns fatos, como a tomada de Jericó (Js 6), a travessia do Jordão (Js 3-5). Além do que, cidades de Jericó e Ai não podem ter sido conquistadas nesta época, pois Jericó foi destruída no século XIV a.C. e não há indícios de destruição nos séculos XIII-XII a.C., nem de reocupação; Ai (= ruína) também já fora destruída muito tempo antes, no III milênio.

E há compromisso e convivência, pois nem todos os grupos “estranhos” foram eliminados. Há grupos que exigem histórias arquetípicas de assimilação, sendo típico o caso dos gabaonitas (Js 9), podendo ser a citação de um grupo submisso à corveia para o santuário de Jerusalém na época pós-exílica.

Quem eram os filisteus?

Quem eram os filisteus? – 3 de março de 2021

Um vídeo no canal Patheos do YouTube, onde Andrew Mark Henry explica quem eram os filisteus.

Este episódio faz parte de uma série chamada Excavating the History of the Bible: What Archeology Can Teach Us About the Biblical WorldEscavando a história da Bíblia: o que a arqueologia pode nos ensinar sobre o mundo bíblico. A série começou em 17 de fevereiro de 2021.

O episódio analisa testemunhos arqueológicos egípcios sobre os filisteus, bem como apresenta evidências que demonstram que eles eram migrantes em Canaã, viajando pelo Mediterrâneo a partir do mundo do Egeu. A seção final examina algumas das dificuldades que os estudiosos encontram ao tentar comparar a narrativa bíblica com o registro arqueológico.

 

Who Were the Philistines? March 3, 2021

This episode examines another arch-rival of the Israelites: The Philistines. The episode explores our earliest evidence of the Philistines from Egypt as well as lays out the evidence demonstrating that they were migrants to Canaan, traveling over the Mediterranean from the Aegean world. The final section examines some of the difficulties scholars encounter trying to compare the biblical narrative with the archaeological record.

O quebra-cabeças das origens de Israel

1962

MENDENHALL, G. The Hebrew Conquest of Palestine, The Biblical Archaeologist 25, 1962, p. 66.

Não existe problema da história bíblica que seja mais difícil do que a reconstrução do processo histórico pelo qual as Doze Tribos do antigo Israel se estabeleceram naGeorge Emery Mendenhall: August 13, 1916 - August 5, 2016 Palestina e norte da Transjordânia.

De fato, a narrativa bíblica enfatiza os poderosos atos de Iahweh que liberta o povo do Egito, o conduz pelo deserto e lhe dá a terra, informando-nos, deste modo, sobre a visão e os objetivos teológicos dos narradores de séculos depois, mas ocultando-nos as circunstâncias econômicas, sociais e políticas em que se deu o surgimento de Israel.

 

There is no problem of biblical history which is more difficult than that of reconstructing the historical process by which the Twelve Tribes of ancient Israel became established in Palestine and northern Transjordan.

The historical traditions in the Bible emphasize the religious significance of narrated events to the virtual exclusion of the kinds of information which the modern historian looks for and utilizes in his reconstruction of the past. This biblical emphasis upon the “acts of God” seems to modern man the very antithesis of history, for it is within the framework of economic, sociological and political organization that we of today seek understanding of ourselves and consequently of ancient man.

 

1995

DAVIES, P. R. In Search of ‘Ancient Israel’. Sheffield: Sheffield Academic Press [1992], 1995, p. 47-48, 51 e 56.

Philip R. Davies (1945-2018)Para quem se empenha numa pesquisa histórica, o Israel bíblico é um problema e não um dado (p. 47-48).

Nós não podemos transferir automaticamente nenhuma das características do ‘Israel’ bíblico para as páginas da história da Palestina (…) Nós temos que extrair nossa definição do povo da Palestina de suas próprias relíquias. Isto significa excluir a literatura bíblica (p. 51).

É simplesmente impossível pretender que a literatura bíblica ofereça um retrato suficientemente claro do que é o seu ‘Israel’, de modo a justificar uma interpretação e aplicação históricas. Desta forma, o historiador precisa investigar a história real independentemente do conceito bíblico (p. 56).

 

The biblical Israel is a problem and not a datum, when on engages in historical research.

We cannot automatically transfer any of the characteristics of the biblical ‘Israel’ onto the pages of Palestine’s history (…) We shall have to draw our definition of the people of Palestine from their own relics. That means excluding the biblical literature.

It is impossible to pretend that the biblical literature provides a clear enough portrait of what its ‘Israel’ is so as to justify an historical interpretation and application. The historian thus needs to investigate the real history independently of the biblical concept

 

2001

FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N. A. The Bible Unearthed: Archaeology’s New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts. New York: The Free Press, 2001, p. 118.

O processo que nós descrevemos aqui é, na verdade, o oposto daquele que temos na Bíblia: a emergência do Israel primitivo foi uma consequência do colapso da culturaIsrael Finkelstein (1949-) e Neil Asher Silberman (1950-) cananeia, não a sua causa. E a maior parte dos israelitas não veio de fora de Canaã – eles emergiram de dentro desta terra. Não ocorreu um êxodo em massa do Egito. Não houve uma conquista violenta de Canaã. A maior parte das pessoas que formaram o primitivo Israel eram moradores locais – as mesmas pessoas que vemos nas montanhas nas Idades do Bronze e do Ferro. Os israelitas primitivos eram – ironia das ironias – eles mesmos originariamente cananeus!

 

The process that we describe here is, in fact, the opposite of what we have in the Bible: the emergence of early Israel was an outcome of the collapse of the Canaanite culture, not its cause. And most of the ‘Israelites did not come from outside Canaan-they emerged from within it. There was no mass Exodus from Egypt. There was no violent conquest of Canaan. Most of the people who formed early Israel were local people-the same people whom we see in the highlands throughout the Bronze and Iron Ages. The early Israelites were- irony of ironies-themselves originally Canaanites!

Sobre as origens de Israel, leia mais aqui e aqui.

Descobrindo Babilônia

THELLE, R. Discovering Babylon. Abingdon: Routledge, 2019, 208 p. – ISBN 978-0367496753.THELLE, R. Discovering Babylon. Abingdon: Routledge, 2019

Este livro trata da Babilônia como ela foi representada pela cultura ocidental: por meio da Bíblia, de textos clássicos, de relatos de viagens medievais e de representações do tema da torre [de Babel] na arte. Em seguida, detalha a descoberta dos vestígios da cultura material da Babilônia desde meados do século XIX e através da grande escavação de 1899-1917, e enfoca o encontro entre a Babilônia da tradição e a Babilônia desenterrada pelos arqueólogos.

Este livro é único em sua abordagem multidisciplinar, combinando experiência em estudos bíblicos e assiriologia com perspectivas sobre história, história da arte, história intelectual, estudos de recepção e questões contemporâneas.

Diz a autora no prefácio:

Três visitas à região no início do século XXI foram o ponto de partida para minha descoberta da Babilônia. Mesmo antes dessas viagens, porém, eu já tinha certas expectativas sobre o que encontraria ao embarcar em minha “Grande Jornada Mesopotâmica”. Vários fatores levaram a essa expectativa. Há muito eu acompanhava os relatórios arqueológicos sobre a Babilônia, ficando fascinada pelas várias apropriações culturais da “Babilônia” ao longo dos séculos e impressionada com a forma como a política moderna do Oriente Médio refletia o passado. Devo confessar que os romances de Agatha Christie também contribuíram para a mística que criei sobre a Babilônia.

Este livro é baseado em meu livro em norueguês de 2014, Oppdagelsen av Babylon (A descoberta da Babilônia), publicado pela Spartacus. A editora Nina Castracane Selvik gentilmente me cedeu os direitos para retrabalhar o livro para uma versão em inglês. Para este livro, removi material voltado especificamente para o público norueguês. Também adicionei referências à literatura e traduções que estão disponíveis em inglês e fiz um esforço para encontrar material de referência acessível ao leitor em geral. A partir dessas fontes mais gerais, os leitores podem prosseguir com os tópicos sobre os quais estão particularmente interessados. Mais trabalhos acadêmicos foram citados, embora eu não tenha tentado incluir todos os estudos técnicos. Eu incorporei alguma literatura que apareceu desde 2014, mas não de uma forma abrangente.

Rannfrid Thelle

Veja uma apresentação do livro no vídeo Discovering Babylon – Prof. Rannfrid Thelle: Judaic Studies University of Arizona – 6 de nov. de 2018.

 

This volume presents Babylon as it has been passed down through Western culture: through the Bible, classical texts, in Medieval travel accounts, and through depictions of the Tower motif in art. It then details the discovery of the material culture remains of Babylon from the middle of the 19th century and through the great excavation of 1899-1917, and focuses on the encounter between the Babylon of tradition and the Babylon unearthed by the archaeologists. This book is unique in its multi-disciplinary approach, combining expertise in biblical studies and Assyriology with perspectives on history, art history, intellectual history, reception studies and contemporary issues.

Rannfrid Thelle is Assistant Professor in the Department of Women’s Studies and Religion at Wichita State University in Wichita, Kansas, USA.

História de Israel II 2021

Este curso de História de Israel II compreende 2 horas semanais, com duração de um semestre, o segundo dos oito semestres do curso de Teologia. Os alunos recebem os roteiros de todas as minhas disciplinas do ano em curso nos formatos pdf e html. Os sistemas de avaliação e aprendizagem seguem as normas da Faculdade e são, dentro do espaço permitido, combinados com os alunos no começo do curso.

I. Ementa
Discute com o aluno os elementos necessários para uma compreensão global e essencial da história econômica, política e social do povo israelita, como base para um aprofundamento maior da história teológica desse povo. Possibilita ao aluno uma reflexão séria sobre o processo histórico de Israel do exílio babilônico ao domínio romano.

II. Objetivos
Oferece ao aluno um quadro coerente da História de Israel e discute as tendências atuais da pesquisa na área. Constrói uma base de conhecimentos histórico-sociais necessários ao aluno para que possa situar no seu contexto a literatura bíblica veterotestamentária produzida no período.

III. Conteúdo Programático
1. O exílio babilônico

2. O judaísmo pós-exílico

2.1. O domínio persa

2.2. O domínio grego

2.3. O domínio romano

IV. Bibliografia

Básica
FINKELSTEIN, I. ; SILBERMAN, N. A. A Bíblia desenterrada: a nova visão arqueológica do antigo Israel e das origens dos seus textos sagrados. Petrópolis: Vozes, 2018.

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: história antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008.

MAZZINGHI, L. História de Israel das origens ao período romano. Petrópolis: Vozes, 2017.

Complementar
DA SILVA, A. J. História de Israel. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 05.10.2020.

GERSTENBERGER, E. S. Israel no tempo dos persas: séculos V e IV antes de Cristo. São Paulo: Loyola, 2014.

HORSLEY, R. A. Arqueologia, história e sociedade na Galileia: o contexto social de Jesus e dos Rabis. São Paulo: Paulus, 2000 [2a. reimpressão: 2017].

KIPPENBERG, H. G. Religião e formação de classes na antiga Judeia: estudo sociorreligioso sobre a relação entre tradição e evolução social. São Paulo: Paulus, 1997. Resumo publicado em Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 120, p. 413-434, 2013 e disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 03.12.2020.

STEGEMANN, W. Jesus e seu tempo. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2013.

História de Israel I 2021

Este curso de História de Israel I compreende 2 horas semanais, com duração de um semestre, o primeiro dos oito semestres do curso de Teologia. Os alunos recebem os roteiros de todas as minhas disciplinas do ano em curso nos formatos pdf e html. Os sistemas de avaliação e aprendizagem seguem as normas da Faculdade e são, dentro do espaço permitido, combinados com os alunos no começo do curso.

I. Ementa
Discute com o aluno os elementos necessários para uma compreensão global e essencial da história econômica, política e social do povo israelita, como base para um aprofundamento maior da história teológica desse povo. Possibilita ao aluno uma reflexão séria sobre o processo histórico de Israel desde suas origens até o exílio babilônico.

II. Objetivos
Oferece ao aluno um quadro coerente da História de Israel e discute as tendências atuais da pesquisa na área. Constrói uma base de conhecimentos histórico-sociais necessários ao aluno para que possa situar no seu contexto a literatura bíblica veterotestamentária produzida no período.

III. Conteúdo Programático
1. Noções de geografia do Antigo Oriente Médio

2. As origens de Israel

3. A monarquia tributária israelita

3.1. Os governos de Saul, Davi e Salomão

3.2. O reino de Israel

3.3. O reino de Judá

IV. Bibliografia
Básica
FINKELSTEIN, I. ; SILBERMAN, N. A. A Bíblia desenterrada: a nova visão arqueológica do antigo Israel e das origens dos seus textos sagrados. Petrópolis: Vozes, 2018.

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: história antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008.

MAZZINGHI, L. História de Israel das origens ao período romano. Petrópolis: Vozes, 2017.

Complementar
DA SILVA, A. J. História de Israel. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 05.10.2020.

DONNER, H. História de Israel e dos povos vizinhos. 2v. 7. ed. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2017.

FINKELSTEIN, I. O reino esquecido: arqueologia e história de Israel Norte. São Paulo: Paulus, 2015.

GOTTWALD, N. K. As tribos de Iahweh: uma sociologia da religião de Israel liberto, 1250-1050 a.C. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004.

KAEFER, J. A. A Bíblia, a arqueologia e a história de Israel e Judá. São Paulo: Paulus, 2015 [1. reimpressão: 2018].

Classe e poder na Palestina romana

KEDDIE, A. Class and Power in Roman Palestine: The Socioeconomic Setting of Judaism and Christian Origins. Cambridge: Cambridge University Press, 2019, 374 p. – ISBN 9781108493949.KEDDIE, A. Class and Power in Roman Palestine: The Socioeconomic Setting of Judaism and Christian Origins. Cambridge: Cambridge University Press, 2019

Em Classe e poder na Palestina romana, Anthony Keddie investiga a mudança nas relações socioeconômicas na Palestina do começo da época romana, entre 63 a.C. e 70 d.C. É uma síntese atualizada de evidências arqueológicas e literárias das mudanças socioeconômicas ocorridas neste contexto e serve como um recurso valioso para estudiosos do judaísmo antigo e das origens cristãs.

 

Anthony Keddie investigates the changing dynamics of class and power at a critical place and time in the history of Judaism and Christianity – Palestine during its earliest phases of incorporation into the Roman Empire (63 BCE–70 CE). He identifies institutions pertaining to civic administration, taxation, agricultural tenancy, and the Jerusalem Temple as sources of an unequal distribution of economic, political, and ideological power. Through careful analysis of a wide range of literary, documentary, epigraphic, and archaeological evidence, including the most recent discoveries, Keddie complicates conventional understandings of class relations as either antagonistic or harmonious. He demonstrates how elites facilitated institutional changes that repositioned non-elites within new, and sometimes more precarious, relations with privileged classes, but did not typically worsen their economic conditions. These socioeconomic shifts did, however, instigate changing class dispositions. Judaean elites and non-elites increasingly distinguished themselves from the other, through material culture such as tableware, clothing, and tombs.

Uma história de Moab

Moab está situado na Transjordânia, entre os vales do Zered e do Arnon, porém levava frequentemente sua fronteira ao norte do Arnon. Seu território principal está situado em um planalto de 1200 metros de altitude.

As cidades do ano 3000 a.C. foram destruídas e abandonadas. Aí por volta de 1300 a.C. o país foi novamente ocupado por semitas nômades e pastores.Território de Moab. Desenhado por Hilary Hatcher

Sua capital era Kir-hareseth (Kir, Kir-heres), a moderna Kerak. Outras cidades: Aroer, Dibon, Medeba e Heshbon. Cerca de oito km a oeste de Medeba está o monte Nebo ou Pisgah, segundo textos bíblicos.

No século I d.C., a sudoeste do monte Nebo estava a fortaleza de Maqueronte, onde Herodes Antipas mandou matar João Batista, segundo relatos dos evangelhos. Moab e Israel eram rivais. Antes de Israel adotar a monarquia como forma de governo, Moab já o fizera. Seu deus principal era Kemosh. Sua língua se assemelha bastante ao hebraico.

Um artigo

Ancient Moab: from the Ninth to First Centuries BCE – By Burton MacDonald

The Bible and Interpretation – June 2020

Os antigos moabitas eram constituídos por vários grupos. Eles eram provavelmente descendentes, pelo menos em parte, dos Shûtu/Sutu e/ou Shasu. Os mais antigos aparecem nas Cartas de Tell el-Amarna, datadas do século XIV a.C., como “sem lei” e “tramando rebelião”. Às vezes, porém, os egípcios os usavam como mercenários. Os textos os retratam como pastores na região do sul da Jordânia (possivelmente mais ao norte e até mesmo na Cisjordânia) a quem os egípcios permitiram levar seus rebanhos para pastar no leste do delta do Nilo. Os egípcios tentaram sedentarizá-los, mas aparentemente não tiveram sucesso. O termo acádico Shûtu/Sutu pode ser uma contrapartida do termo egípcio Shasu, que significa “andar a pé”, “vagar”. O termo Shasu aparece nos textos egípcios da Décima Nona Dinastia (de 1292 a 1189 a.C.). Refere-se a nômades e seminômades que vivem em tendas e pastoreiam rebanhos na região do sul da Transjordânia. Eles não constituíam um grupo étnico. Em vez disso, são retratados como pastores que os egípcios tinham que manter sob controle para proteger suas distantes fronteiras orientais. Em relação ao Shasu, W. G. Dever, Beyond the Texts: An Archaeological Portrait of Ancient Israel and Judah. Atlanta: SBL, 2017, p. 102, menciona a frase “o Shasu de yah“. Essa poderia ser a mais antiga menção a Iahweh.

A number of groups constituted ancient Moab. They were most likely descendants, at least in part, of the Shûtu/Sutu and/or Shasu. The former appear in the Amarna Letters, dated to the 14th century BCE, as “lawless” and “plotting rebellion.” Sometimes, however, the Egyptians co-opted them as mercenaries. The texts portray them as pastoralists in the region of southern Jordan (possibly farther north and even in Cisjordan) whom the Egyptians allowed to graze their flocks in the eastern Nile Delta. The Egyptians attempted to sedentarize them, but apparently were unsuccessful. The Akkadian term Shûtu/Sutu may be a counterpart of the Egyptian term Shasu, meaning “to move on foot,” “to wander.” The term Shasu appears in Nineteenth Dynasty (lasting from 1292 to 1189 BCE) Egyptian texts. It refers to nomadic and semi-nomadic people, living in tents and herding flocks, in the region of southern Transjordan. They did not constitute an ethnic group. Rather, they are portrayed as pastoralists whom the Egyptians had to keep in check in order to guard their remote eastern borders. Relative to the Shasu, Dever (2017: 102) mentions the phrase “the Shasu of yah.” MACDONALD, B. A History of Ancient Moab from the Ninth to First Centuries BCE. Atlanta: SBL Press, 2020Such could be the earliest mention of Yahweh.

 

Um livro

MACDONALD, B. A History of Ancient Moab from the Ninth to First Centuries BCE. Atlanta: SBL Press, 2020, 304 p. – ISBN 9781628372687

Este livro sobre Moab apresenta dados arqueológicos, epigráficos, bíblicos e pós-bíblicos para construir um panorama da história dos moabitas que habitavam na Transjordânia. A análise das descobertas arqueológicas mostra que, embora seu território não fosse rico em recursos, sua aliança com os assírios os fez prosperar.

A History of Ancient Moab from the Ninth to First Centuries BCE incorporates archaeological, epigraphic, biblical, and postbiblical evidence to construct a picture of Moabite history beginning with their origin in the Transjordan through their emergence on the international stage. Analysis of inscriptional and archaeological discoveries shows that, although their territory was not rich in resources, their service to the Assyrian Empire made them prosperous.

Sobre Wilfred George Lambert

Em 2017 “fui morar” por muitos meses na antiga Mesopotâmia para escrever um texto sobre Histórias de criação e dilúvio na antiga Mesopotâmia. E então conheci alguns textos do extraordinário assiriólogo britânico Wilfred George Lambert (1926-2011). Entre eles o atual texto acadêmico padrão do Enuma Elish: LAMBERT, W. G. Babylonian Creation Myths. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 2013.

E também conheci textos de seu ex-aluno Andrew R. George, assiriólogo da Universidade de Londres e autor do texto acadêmico padrão da Epopeia de Gilgámesh: GEORGE, A. R. The Babylonian Gilgamesh Epic: Introduction, Critical Edition and Cuneiform Texts. 2 vols. Oxford: Oxford University Press, 2003.

Andrew George publicou em 2015 uma fascinante memória biográfica de Wilfred George Lambert para a British Academy. O texto está disponível online.Wilfred George Lambert (1926-2011)

GEORGE, A. R. Wilfred George Lambert 1926-2011. Biographical Memoirs of Fellows of the British Academy, XIV, 337–359, 2015.

Vou transcrever alguns trechos aqui.

Depois de traçar o perfil intelectual de Lambert ao longo de 20 páginas, A. R. George, diz nas páginas 356-359:

Nestes parágrafos finais tentarei dar uma rápida ideia do caráter de um homem que será sempre lembrado como o mais brilhante assiriólogo britânico de sua época. Após a morte de seus pais, o único parente próximo de Lambert foi sua irmã mais velha, Muriel, que era quatro anos mais velha do que ele. Ambos permaneceram solteiros e sem filhos. Parece que a deusa Ishtar falhou em capturar suas emoções. Sua vida social foi dividida entre a Universidade de Birmingham e a Igreja Cristadelfiana da cidade. Na universidade ele frequentava regularmente as reuniões e estava sempre disposto a prolongar a noite em um restaurante indiano. Para as congregações cristadelfianas ele dava palestras sobre a Bíblia a partir da perspectiva do Antigo Oriente Médio.

Lambert era movido por uma enorme sede de conhecimento e se media com seus contemporâneos a partir disso. Só eloquência não o impressionava. Certa vez ele comentou sobre uma palestra de um arqueólogo: “Ele fala muito bem, mas não tenho certeza de que ele tenha realmente dito alguma coisa”. Para ele, a pergunta mais importante, que ele fazia para qualquer texto ou palestra acadêmica, era: “Isso me ensina algo que eu não sabia antes”? Os julgamentos feitos em resposta a essa pergunta às vezes combinavam com sua particular incapacidade de evitar uma opinião franca e direta. Isso o levava a conquistar inimigos sem querer. Embora sociável até certo ponto, ele não era um indivíduo muito falante. Possivelmente sua formação o excluía de estar à vontade na companhia de contemporâneos que ele achava que eram mais favorecidos pelo nascimento. Ele zombava dos sobrenomes alemães prefixados com ‘von’, não apenas por rivalidade com seu adversário de Münster, Wolfram von Soden, mas também porque o cristadelfianismo havia incutido nele uma antipatia pela hierarquia social.

Parece ter sido um solitário por opção. Daí que ele não tinha pessoas próximas a ele para desabafar e para o consolar quando sofria injustiças. Ele desabafava escrevendo cartas de reclamação. Ele sempre mantinha cópias em carbono. Em sua mesa, por ocasião de sua morte, havia uma correspondência com um operador ferroviário por causa de seu mau serviço, e outra com uma empresa de alimentos sobre a quantidade de grãos integrais realmente existentes em um pãozinho descrito como integral na embalagem. Mais revelador foi um dossiê de cartas de e para colegas acadêmicos, no qual ele usava linguagem franca e direta, denegrindo amargamente terceiros que ele achava que o haviam prejudicado.

Quando seu orgulho profissional não corria perigo, ele era muito mais agradável. Em seu serviço de ação de graças, Anthony Watkins, um amigo cristadelfiano, fez um discurso que se inspirava nas lembranças de muitos cristadelfianos que conheceram Lambert. Eles observaram as qualidades que estavam em evidência em sua carreira acadêmica, incluindo ‘clareza de pensamento e exposição’, ‘pensamento claro e instinto aparentemente infalível para o que era certo’. Eles também se lembraram de um homem ‘quieto e reservado’ que era ‘infalivelmente encantador, modesto e simples’ e que ‘nunca exibia suas habilidades’. Muitos colegas acadêmicos também conheciam esse lado dele. De fato, a modéstia pessoal foi o atributo mais destacado no caráter de Lambert. Muitas pessoas com muito menos importância causavam um furor maior, mas ele rejeitava a autopromoção e a vaidade onde quer que as encontrasse.

Até a doença de seus últimos anos, sua saúde era excelente. Mesmo no início dos anos oitenta, ele andava mais rápido e ia mais longe do que muitas pessoas muito mais jovens. Suas costas desenvolveram uma protuberância, mas isso não pareceu incomodá-lo. Um colega alemão escreveu cartas insistindo que havia um tratamento simples e eficaz. Lambert manteve as cartas, mas não parece ter seguido o conselho. Provavelmente ele não teve tempo para tal. Quando um câncer finalmente começou a afetar sua vitalidade, ele se queixou impaciente a vários correspondentes da mobilidade reduzida que estava sofrendo. A doença era difícil de suportar, não apenas porque era estranha para ele, mas também porque atrapalhava seu trabalho.

Ele não saía de férias, mas geralmente participava do Rencontre Assyriologique Internationale (RAI), o congresso internacional anual de assiriologia. Assim, ele encontrava boa parte do mundo acadêmico de sua área. Ele se orgulhava de escrever anotações para suas palestras em pequenos pedaços de papel enquanto viajava para o local. Suas apresentações tinham precisão, clareza e humor e sempre atraíam grandes audiências. Ás vezes seu fino humor aparecia também em suas publicações.

A frugalidade de Lambert era bem conhecida. Sua vida doméstica era espartana. Ele foi vegetariano durante toda a vida e achava desnecessária uma cozinha bem aparelhada. Ele não possuía carro ou televisão. Ele também não ouvia o rádio que sua irmã lhe deu, escondendo-o atrás de um guarda-roupa. Ele lia as notícias do Daily Telegraph. Nos anos 90 ele tentou substituir sua velha máquina de escrever manual por um computador pessoal, mas, ao comprá-lo, não encontrou ninguém que pudesse lhe explicar em vocabulário não técnico como usá-lo. A experiência confirmou sua aversão por aparelhos eletrônicos e recursos tecnológicos.

Andrew R. George (1955)Seus passatempos consistiam em tocar piano, manter sua biblioteca acadêmica atualizada e colecionar selos cilíndricos do Antigo Oriente Médio. Ele falava com orgulho que sua coleção de selos era, de certa forma, superior em qualidade à do Museu Britânico. Antes de sua morte, ele providenciou a transferência da coleção para o Museu Britânico. Assim, ele aprimorou as coleções do museu por meio de um ato de generosidade incomum, além das décadas de notável pesquisa que ali fez. Foi o seu momento mais nobre.

W. G. Lambert morreu no Hospital Queen Elizabeth, em Birmingham, em 9 de novembro de 2011. Foi cremado em 25 de novembro no Lodge Hill Cemetery, após um serviço de ação de graças no West Birmingham Christadelphian Hall, em Quinton. Ele deixou a maior parte de sua biblioteca acadêmica para sua alma mater, Christ’s College, em Cambridge. Os livros agora estão na Biblioteca Haddon do Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade. Ele deixou seus bens para as Casas Cristadelfianas de Assistência, uma instituição de caridade que cuidou de sua irmã e de muitos de seus amigos na velhice.

 

A few last paragraphs will attempt to give a rounded impression of the character of a man who will always be recalled as the most brilliant British Assyriologist of his era. After the death of his parents Lambert’s only close relative was his elder sister, Muriel, who was four years older than him. Both remained unmarried and childless. It seems the goddess Ishtar failed to capture his emotions, just as she thwarted his ambitions in Tablet IV of the god-list An = Anum. His social life was divided between the University of Birmingham and the city’s Christadelphian Ecclesiae, first Birmingham Central and later West Birmingham. At the university he was a regular in the senior common room and always ready after visitors’ lectures to prolong the evening in the Indian restaurants of Selly Oak. To ­ Christadelphian congregations he gave talks on the Bible from ancient Near Eastern perspectives.

Lambert was driven by a thirst for knowledge and measured himself against his contemporaries accordingly. Eloquence alone left him un­impressed. He once remarked LAMBERT, W. G. Babylonian Creation Myths. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 2013after a conference address delivered by an archaeologist, ‘He speaks well enough, but I am not sure that he actually said anything.’ For him the key question that he brought to any piece of academic writing or lecture was, ‘Does this teach me anything I did not know before?’ Judgements made in response to this question sometimes combined with his distinctive inability to suppress forthright opinion. This could colour social relations with fellow academics; he made enemies unwittingly. Though sociable to a point, he was not a clubbable individual. Possibly his background excluded him from being at ease in the company of contemporaries whom he felt had been better favoured by birth. He made fun of German surnames prefixed with ‘von’, not only out of rivalry with his adversary in Münster but also because Christadelphianism had instilled in him an antipathy to social hierarchy.

It seems he was solitary by choice; in consequence he lacked people close to him who might have listened to his grievances and tempered his outrage when his sense of injustice was violated. He could accuse others of spite where none existed, even in print. He let off steam by writing letters of complaint. He always kept carbon copies. On his desk at the time of his death was a correspondence with a railway operator over its poor service, and another with a grocery company over the amount of whole grain actually in a bread roll described as wholegrain on the packaging. More telling was a dossier of letters to and from fellow academics, in which he used frank language and not a little vitriol to denigrate third parties whom he thought had wronged him.

When his professional pride was not in danger of hurt, he was much more congenial. At his service of thanksgiving Anthony Watkins, a Christadelphian friend, gave an address that drew on the recollections of many Christadelphians who had known Lambert. They remarked on qualities that were much in evidence in his academic career, including ‘clarity of thought and exposition’, ‘clear thinking and seemingly unerring instinct for what was right’. They also recalled a ‘quiet and undemonstrative’ man who was ‘unfailingly charming, modest and self-effacing’ and ‘never paraded his abilities’. Many academic colleagues knew this side of him too. Indeed, personal modesty was the most salient attribute in Lambert’s character. Many people of much less distinction have made a bigger splash, but self-promotion and vanity repelled him wherever he found them.

Until the illness of his last few years, his physical health was excellent. Even in his early eighties he walked faster and further than many much younger people. His back developed a hump, but it did not seem to ­trouble him. A German colleague wrote letters insisting that there was simple and effective treatment. Lambert kept the letters but does not seem to have taken the advice. Probably he had no time to spare. When a cancer finally began to affect his vitality, he complained impatiently to several correspondents of the reduced mobility that he was suffering. Ill health was difficult to endure, not only because it was strange to him but also because it stood between him and his work.

He did not go on holiday, but usually attended the annual Rencontre Assyriologique Internationale, the peripatetic international conference for Assyriology. Thus he saw a good deal of the world and its universities. He took pride in writing notes for his conference papers on small pieces of paper while travelling to the venue. The results were delivered extempore with precision, clarity and humour, and always drew large audiences. More rarely his wit was expressed in print. In an early essay on ‘Morals in Ancient Mesopotamia’ he cited a passage of Gilgamesh XII which promises better treatment in the netherworld for those who had large families while living. ‘The family allowances of the ancients,’ he observed, ‘were apparently not paid until death.’

GEORGE, A. R. The Babylonian Gilgamesh Epic: Introduction, Critical Edition and Cuneiform Texts. 2 vols. Oxford: Oxford University Press, 2003Lambert’s frugality was well known. He was not above picking up a penny in the street. His home life was spartan. He was a lifelong vegetarian and found modern kitchen equipment unnecessary. He did not own a car or a television. Nor did he listen to the radio that his sister gave him, placing it out of sight at the back of a wardrobe. He got his news from the Daily Telegraph. In the 1990s he attempted to replace his old manual typewriter with a personal computer, but having bought one could find nobody who could explain to him in non-technical vocabulary how to use it. The experience confirmed his aversion to electrical gadgets and technological aids.

His pastimes were playing the piano, keeping his academic library up to date and collecting ancient Near Eastern cylinder seals. He maintained with pride that his collection of seals was by some distance superior in quality to that of the British Museum. Before his death he arranged for its transfer to the British Museum as a bequest. Thus he enhanced the ­ useum’s collections through an act of unusual generosity as well as through decades of remarkable scholarship. It was his noblest moment.

W. G. Lambert died at the Queen Elizabeth Hospital in Birmingham on 9 November 2011. He was cremated on 25 November at Lodge Hill Cemetery after a service of thanksgiving at West Birmingham Christadelphian Hall in Quinton. He left most of his academic library to his alma mater, Christ’s College, Cambridge. The books are now housed in the Haddon Library of the University’s Department of Archaeology and Anthropology. The residue of his estate he bequeathed to the Christadelphian Care Homes, a charity that had cared for his sister and many of his friends in their old age.

A tomada de Laquis por Senaquerib em 701 a.C. – 3

KALIMI, I. ; RICHARDSON, S. (eds.) Sennacherib at the Gates of Jerusalem: Story, History and Historiography. Leiden: Brill, 2014Estou lendo trechos do livro de KALIMI, I. ; RICHARDSON, S. (eds.) Sennacherib at the Gates of Jerusalem: Story, History and Historiography. Leiden: Brill, 2014, XII + 548 p. – ISBN 9789004265615.

Resumi os pontos principais do capítulo 4 sobre a tomada de Laquis.

1. Laquis na época da campanha de Senaquerib
2. O ataque assírio a Laquis

 

Nas páginas 85-89, diz David Ussishkin:

Os relevos de Laquis

Alguns anos após o controle de Judá, Senaquerib construiu seu palácio real em Nínive, hoje conhecido como Palácio do Sudoeste. Esse edifício está registrado em detalhesPalácio de Senaquerib em Nínive nas inscrições de Senaquerib, que o chama de Palácio sem Rival. O palácio foi amplamente escavado na metade do século XIX pelo arqueólogo inglês Austen Henry Layard em nome do Museu Britânico em Londres. Ele fez uma planta do edifício e descobriu um grande número de relevos feitos de placas de alabastro que adornavam as paredes.

As placas de alabastro que representam em relevo a conquista de Laquis foram dispostas nas paredes de uma sala especial localizada na parte de trás de uma suíte cerimonial central do palácio. Parece que toda a sala, e talvez também toda a suíte, pretendia comemorar a conquista de Judá e a vitória em Laquis. De acordo com a reconstrução de David Ussishkin, a “sala de Laquis”, rotulada por Layard “sala XXXVI”, tinha 11,5 metros de largura e 5 metros de comprimento. Suas paredes provavelmente estavam inteiramente cobertas pelos relevos de Laquis. Os relevos no lado esquerdo da sala foram deixados por Layard no local e foram perdidos, enquanto o restante da série, composto por doze placas, foi transferido por ele para o Museu Britânico em Londres e atualmente é exibido lá. O comprimento da série preservada é de cerca de 19 metros. Parece que a parte que faltava da série tinha cerca de 8 metros de comprimento. Consequentemente, a série original que descreve a conquista de Laquis deve ter cerca de 27 metros de comprimento. Esta é a série mais longa e detalhada de relevos assírios, representando o assalto e a conquista de uma única cidade fortaleza.

Os relevos ausentes não foram documentados, e a única dica sobre o seu conteúdo é a observação de Layard de que “consistiam de grandes formações de cavaleiros e quadrigários”. Mais adiante, da esquerda para a direita, são mostradas a infantaria, o assalto à cidade, a transferência do espólio, a punição de cativos, as famílias exiladas, Senaquerib sentado em seu trono, a tenda real e a carruagem e, finalmente, o acampamento assírio. Significativamente, a cena principal que retratava o assalto à cidade foi colocada exatamente no centro da parede do fundo da sala, em frente à entrada monumental. Dadas as boas condições de iluminação, qualquer um que passasse pela entrada podia ver o ataque de Laquis à sua frente quando entrasse na sala.

Os relevos de Laquis no British Museum, LondresA porta da cidade é mostrada no centro da cena, retratando o assalto à cidade, sendo atacada por uma máquina de cerco. Refugiados são mostrados carregando seus pertences e saindo da cidade através da porta. Nos dois lados da cidade sitiada estão representadas as muralhas da cidade. Os soldados judaítas estão nas muralhas e balcões no topo da guarita e atiram nos assírios atacantes. A rampa de assédio é mostrada à direita da guarita. Como mencionado, sete máquinas de cerco, apoiadas por arqueiros e atiradores com fundas, estão atacando as muralhas – cinco no topo do rampa de assédio e duas na porta da cidade, possivelmente colocadas em uma rampa de assédio adicional construída contra a guarita. Relevos assírios geralmente retratam uma e, em alguns casos, duas máquinas de cerco atacando as muralhas de uma cidade sitiada. O relevo que representa o cerco de Laquis é único ao mostrar nada menos que sete máquinas de cerco participando ativamente da batalha.

Mais à direita, são mostrados soldados assírios carregando o saque e prisioneiros, provavelmente oficiais de Ezequias, sendo severamente punidos, e os habitantes de Laquis deixando a cidade destruída. Os deportados levam seus pertences com eles, uma imagem trágica de famílias inteiras forçadas a sair de suas casas. A família mostrada aqui é composta por duas mulheres, seguidas por duas meninas e um homem que conduz um carro puxado por dois bois. O carro está carregado de utensílios domésticos e trouxas amarradas, nas quais duas crianças pequenas, um menino e uma menina, estão sentadas. As costelas dos bois aparecem destacadas, possivelmente para indicar que sofrem de desnutrição.

Os deportados se distinguem por sua aparência e vestuário, que provavelmente eram típicos do povo de Judá naquele período. As mulheres usam uma roupa longa e simples. Um longo xale cobre a cabeça, os ombros e as costas, chegando até a parte inferior do vestido. Os homens têm barba curta e suas cabeças estão enroladas em lenços com extremidades em franja. A roupa deles tem uma borla franjada pendurada entre as pernas. Homens e mulheres estão descalços.

A procissão dos soldados assírios carregando espólio, e a dos habitantes deportados, passa diante do rei assírio sentado em seu trono. A inscrição cuneiforme, gravada noHabitantes de Laquis deixam a cidade destruída pelos assírios em 701 a. C. fundo do relevo, identifica a cidade atacada como Laquis. O belo trono é ricamente ornamentado e é mencionado especificamente na inscrição. Quase certamente foi trazido da Assíria para Laquis para o uso de Senaquerib. O trono tem pernas muito altas, permitindo que o monarca sentado olhe de cima para as pessoas que estão à sua frente. Os pés do rei repousam sobre um escabelo alto. O trono e o escabelo eram decorados com marfim lindamente esculpido. Diante do rei está um alto oficial, possivelmente o comandante do exército (Tartan / turtanu). Ele é acompanhado por comandantes de menor patente, e dois eunucos segurando leques estão atrás do trono. Mais à direita, é mostrada a tenda real, identificada como a tenda de Senaquerib por uma curta inscrição cuneiforme, a carruagem cerimonial de Senaquerib, cavaleiros desmontados, o carro de batalha do rei e, finalmente, o acampamento fortificado assírio.

Laquis nos oferece uma oportunidade única de comparar um relevo assírio esculpido em pedra, que descreve detalhadamente uma cidade antiga, com o local da mesma cidade cuja topografia e fortificações são bem conhecidas por nós. Embora muitas cidades inimigas sejam mostradas nos relevos encontrados em vários palácios reais da Assíria, apenas um punhado delas pode ser identificado pelo nome. No caso de Laquis, no entanto, não apenas conhecemos bem o cenário topográfico, como também identificamos o estrato arqueológico da cidade que foi destruída pelos assírios e descobrimos os restos do ataque a essa cidade.

Nos relevos, as várias características da cidade são retratadas de acordo com as convenções rígidas e esquemáticas usuais dos artistas assírios, mas são mostradas em uma certa perspectiva, mantendo aproximadamente as proporções e relações dos vários elementos, como pareceriam para um artista observando os acontecimentos a partir de um ponto específico. Na opinião de David Ussishkin o ponto de vista a partir do qual Laquis é mostrado nos relevos está localizado a sudoeste do monte, em frente ao local presumido do acampamento assírio, entre ele e a cidade, e de frente para o principal ponto de ataque. Creio que este é o local exato em que Senaquerib, o comandante supremo, sentou-se em seu belo trono, conduziu a batalha e depois inspecionou os carregadores do saque e os deportados. Consequentemente, acredito que os relevos de Laquis apresentam a cidade sitiada como pode ser vista através dos olhos do próprio Senaquerib no seu posto de comando.

 

The Lachish Reliefs

A few years after the campaign in the Levant and the subjugation of Judah, Sennacherib constructed his royal palace in Nineveh, known today as the Southwest Palace. This extravagant edifice, its construction, size, magnificence and beauty are recorded in detail in Sennacherib’s inscriptions; he proudly called it the “Palace Without Rival.” The palace was largely excavated in 1850 c.e. by Sir Austen Henry Layard on behalf of the British Museum in London. He prepared a plan of the building and uncovered a large number of reliefs cut on alabaster slabs which adorned the walls.

O rei assírio Senaquerib em Laquis em 701 a. C.The stone slabs depicting in relief the conquest of Lachish were erected in a special room located at the back of a central ceremonial suite in the palace. It seems that the whole room—and perhaps also the entire suite— was intended to commemorate the conquest of Judah and the victory at Lachish. According to our reconstruction, the “Lachish room” (labeled by Layard “Room XXXVI”) was 11.5m (35ft) wide and 5m (15ft) long. Its walls were probably entirely covered by the Lachish reliefs. The stone reliefs on the left side of the room were left by Layard on the site and were thus lost, while the rest of the series, comprising twelve slabs, were transferred by him to the British Museum in London and are currently exhibited there. The length of the preserved series is about 19m (57ft). It seems that the missing part of the series was about 8m (24ft) long. Accordingly, the original series depicting the conquest of Lachish must have been about 27m (81ft) long. This is the longest and most detailed series of Assyrian reliefs depicting the storming and conquest of a single fortress city.

The missing relief slabs were not documented, and the only hint as to their content is Layard’s remark that “the reserve consisted of large bodies of horsemen and charioteers.” Further along, in consecutive order from left to right, are shown the attacking infantry, the storming of the city, the transfer of booty, punishment of captives, families going into exile, Sennacherib sitting on his throne, the royal tent and chariot, and finally the Assyrian military camp. Significantly, the main scene portraying the storming of the city was placed exactly in the center of the rear wall of the room, opposite the monumental entrance. Given good lighting conditions, anyone who passed through the entrance could see the storming of Lachish facing him as he entered the room.

The city-gate is shown in the center of the scene portraying the assault on the city, being attacked by a siege-machine. Refugees are shown carrying their belongings and leaving the city through the gate. On both sides of the besieged city are depicted the city-walls. Judahite warriors stand on the walls and on the “balcony” on the roof of the gatehouse and shoot at the attacking Assyrians. The siege-ramp is shown to the right of the gatehouse. As mentioned above, seven siege-machines, supported by archers and slingers, are attacking the walls—five on top of the siegeramp, and two attacking the city-gate, possibly placed on an additional siege-ramp built against the gatehouse. The royal Assyrian relief series usually portray one, and in a few cases two siege-machines attacking the walls of a besieged city. The relief portraying the siege of Lachish is unique in showing no fewer than seven siege-machines taking active part in the battle.

Further to the right are shown Assyrian soldiers carrying booty and captives—probably Hezekiah’s officials, being severely punished—and the inhabitants of Lachish Prisioneiros judaítas de Laquis levados ao rei Senaquerib em 701 a. C.leaving the destroyed city. The deported Lachishites take their belongings with them, a tragic picture of entire families forced out of their homes. The family shown here consists of two women, followed by two girls and a man leading a cart harnessed totwo oxen. The cart is laden with household goods and tied-up bundles on which two small children, a boy and a girl, are sitting. The ribs of the oxen are emphasized, possibly to point out that they suffer from malnutrition.

The deportees are distinguishable by their appearance and dress, which were probably typical to the people of Judah at that period. The women wear a long, simple garment. A long shawl covers their head, shoulders and back, reaching to the bottom of the dress. The men have a short beard and their heads are wound with scarves whose fringed ends hang down. Their garment has a fringed tassel hanging between the legs. Both men and women are barefoot.

The procession of the Assyrian soldiers carrying booty, and that of the deported inhabitants, face the Assyrian king sitting on his throne. The cuneiform inscription, carved in the background of the relief, identifies the assaulted city as Lachish. The beautiful throne is richly ornamented and is specifically mentioned in the inscription; it was almost certainly brought from Assyria to Lachish for the use of Sennacherib. The throne has very high legs, enabling the sitting monarch to look down from above at the people standing in front of him. The feet of the king rest on a high footstool. Both the throne and the stool were decorated with beautifully carved ivories. Facing the king stands a high official, possibly the commander of the army (Tartan/turtanu). He is followed by commanders of lesser rank, and two eunuchs holding fans stand behind the throne. Further to the right are shown the royal tent, identified as Sennacherib’s tent by a short cuneiform inscription, the ceremonial chariot of Sennacherib, dismounted cavalrymen, the king’s battle chariot and finally the Assyrian fortified camp, depicted in the schematic Assyrian style as described above.

Lachish provides us with a unique opportunity of comparing an Assyrian stone relief depicting in detail an ancient city with the site of the same city whose topography and fortifications are well known to us. Although many enemy cities are shown in the reliefs found in various Assyrian royal palaces, only a handful of them can be identified by name, and even fewer can be associated with places of known location and nature. In the case of Lachish, however, not only are we well acquainted with the topographical setting, but we have identified the city level that was destroyed by the Assyrians and uncovered the remains of the attack on that city.

It seems to me, in following the initial study of Richard Barnett, that the Lachish relief series portrays the city from one particular spot. In the relief, the various features of the city are depicted according to the usual rigid and schematic conventions of the Assyrian artists, but they are shown in a certain perspective, roughly maintaining the proportions and relationships of the various elements as they would appear to an onlooker standing at one specific point. In my view the particular vantage point from which Lachish is shown in the relief is located southwest of the mound, just in front of the presumed site of the Assyrian camp, between it and the city, and facing the main point of attack. I believe that this is the very spot where Sennacherib, the supreme commander, sat on his beautiful throne, conducted the battle, and later reviewed the booty bearers and the deportees. Consequently, I believe that the Lachish reliefs present the besieged city as seen through the eyes of Sennacherib himself at his command post.