Ecumenismo hoje: uma reflexão teoecológica

O tema de capa da Revista IHU On-Line desta semana, edição 370, publicada em 22.08.2011, é:

O ecumenismo hoje. Uma reflexão teoecológica

O que significa ser ecumênico no atual contexto contemporâneo? Que avanços e obstáculos existem na busca de unidade das Igrejas cristãs? E, diante da chamada crise ambiental, qual o papel das cristãs e dos cristãos na defesa da Criação? Por ocasião do 6º Encontro de Agentes para o Ecumenismo (Mutirão Ecumênico), promovido pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB e Conselho Latino-Americano de Igrejas – CLAI, com a participação de agentes ecumênicos dos estados do RS, SC, PR e SP, a IHU On-Line dedica esta edição ao ecumenismo hoje, em perspectiva teoecológica.

As entrevistas:

  • Dom Francisco de Assis Silva: “Ser ecumênico é abrir-se à alteridade”
  • Walter Altmann: 500 anos depois: Recordar a Reforma, olhando para os desafios comuns da cristandade
  • Manoel João Francisco: Tolerância e alteridade: princípios para confiar no outro, reconhecendo as diferenças
  • Marcelo Barros: Ecumenismo e macroecumenismo: unidade interior na diversidade de caminhos
  • Anivaldo Padilha: “O ecumenismo é movido pelo Espírito e não pode ser considerado propriedade de nenhuma igreja”
  • Nancy Cardoso Pereira: Ecumenismo, ecologia, economia: um olhar feminino e feminista
  • Haroldo Reimer: De apocalípticos a proféticos: a metanoia necessária diante da Criação
  • Erico Hammes: “A abertura para a unidade com o outro/a é inerente à identidade”
  • Paulo Homero Gozzi: Unidade, liberdade, caridade: o desafio de superar a “ignorância” em torno do ecumenismo
  • Marcelo Schneider: Nem diplomacia, nem cordialidade: um mandato apostólico fundamental
  • Arno Kayser: Criação: denominação cristã para a sinfonia do universo

Contribuições da Teologia para a crítica à idolatria

Uma entrevista com Jung Mo Sung no IHU On-Line. Publicada hoje, 20/08/2011:

”Economia para a vida”: contribuições da teologia para a crítica à idolatria. Entrevista especial com Jung Mo Sung

“Todas as sociedades produzem deuses, que são obras de ações e interações humanas que são sacralizadas, e em seu nome se funda a ordem social existente e se exige sacrifícios de vidas humanas necessários para a reprodução da ordem”. Para o teólogo Jung Mo Sung, o neoliberalismo, hoje, apresenta uma lógica idolátrica, devido à “dimensão fascinante do capitalismo global atual”. “Diante da fascinação, não basta criticar, é preciso desvelar o processo sacrificial para desmascarar a fascinação que cega”, afirma.

Nesse contexto, “a teologia tem um papel importante a cumprir na sociedade. Podemos dizer que a crítica pela teologia da fascinação da idolatria do mercado é um papel ou uma contribuição importante a dar no espaço público da sociedade e do debate acadêmico”, defende.

Nesta entrevista, concedida por e-mail à IHU On-Line, Sung faz também uma análise das contribuições do Concílio Vaticano II, prestes a completar 50 anos de sua convocação, além das Jornadas preparatórias para o Congresso Continental de Teologia, que irá ocorrer na Unisinos, em outubro de 2012. E também explica qual a sua compreensão da importância e do significado da “teologia pública”.

Jung Mo Sung é teólogo e filósofo leigo católico. É mestre em Teologia Moral pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção e doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo – Umesp, com pós-doutorado em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba. É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Umesp.

A entrevista

HU On-Line – Qual é a importância de celebrar os 50 anos do Concílio Vaticano II? A partir dessa data especial, quais são os principais desafios que a igreja precisa discutir no atual momento histórico?

Jung Mo Sung – Uma pessoa sabe quem ela é a partir da sua memória. Quando sofre amnésia e perde completamente a memória, perde também a sua identidade, não sabe quem é, e assim não consegue compreender o seu presente e nem consegue pensar no seu futuro. Assim também funciona para instituições ou igrejas. É claro que nenhuma instituição sofre de amnésia total, mas, de forma semelhante às pessoas, a sua memória é conformada de modo seletivo. Guardamos certos fatos e esquecemo-nos de outros. Esquecer é fundamental na formação da memória e, portanto da identidade, porque não é possível guardar na memória todos os fatos. Perdoar, por exemplo, é um exercício de esquecimento.

Se sabemos quem somos a partir da nossa memória, o processo de seleção desta memória impacta não somente na identidade, mas na forma como compreendemos o presente e as tarefas e objetivos para o futuro. Assim sendo, esquecer ou lembrar-se de certos fatos ou acontecimentos do passado da Igreja Católica influencia o modo como esta igreja compreende o seu presente e os desafios do seu futuro. Por isso, celebrar os 50 anos do Concílio ou não e como se celebra são opções importantes na “organização” da memória da Igreja e, portanto, da sua identidade e do seu futuro.

Dito isso, podemos dizer que o primeiro desafio consiste na luta pela interpretação do Concílio na história recente da Igreja, pois a memória é sempre constituída de reinterpretação de fatos passados. Interpretado como uma abertura da Igreja ao Espírito de Deus e às realidades do mundo moderno, eu penso que a celebração dos 50 anos de Concílio nos coloca, em primeiro lugar, o desafio de repensar o próprio conceito de modernidade ou de mundo moderno que esteve presente no Concílio e ainda está em muitos documentos e textos teológicos de hoje.

A modernidade foi compreendida como emancipação humana, racional e secularizada, quando na verdade apresenta duas faces aparentemente contraditórias. A proposta de emancipação humana baseada na razão veio acompanhada de colonização e escravização da população do mundo não europeu ocidental. A racionalidade moderna justificou a irracionalidade da matança e exploração de centenas de milhões de pessoas em nome do progresso e civilização. Franz Hinkelammert chama a racionalidade moderna de “racionalização do irracional”.

Além disso, a dita secularização não significou negação completa da religião ou do sagrado, mas o deslocamento do sagrado para a esfera do mercado, no capitalismo, e Estado no comunismo. Na crítica teológica ao capitalismo, isso foi chamado de “idolatria do mercado”.

A compreensão da modernidade como racional e secularizada traz para a Igreja o desafio de justificar a fé diante da razão e a religião diante do mundo secular. A compreensão mais crítica do mundo moderno traz o desafio de criticar teologicamente a idolatria que explora e mata, ou não permite a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, além da degradação ambiental, em nome de um novo tipo sagrado. Como todo sagrado, este Império global que está se formando com a globalização econômica fascina e atrai ao mesmo tempo em que gera medo.

Hoje, especialmente o medo de ser expulso da globalização.

Diante do mundo assim, a Igreja Católica, que celebra os 50 anos do Concílio como abertura ao Espírito de Deus e “às alegrias e esperanças” e também aos sofrimentos do mundo, deve assumir o desafio de encontrar formas concretas mais eficientes de testemunhar o amor de Deus junto aos pobres e vítimas deste sistema imperial global.

IHU On-Line – Quais são as temáticas eclesiais ou teológicas que requerem uma mudança para que se dê continuidade ao espírito do Concílio Vaticano II?

Jung Mo Sung – Eu penso que uma das grandes novidades do Concílio foi tentar superar a noção de a Igreja ser ou estar “separada” do mundo que se fortalece no mundo moderno. A visão do mundo dividido em religioso e secular é uma criação do mundo moderno, pois antes tudo estava sob o “manto” do religioso; a vida em sua integralidade era explicada a partir do senso religioso. Com a emergência da modernidade e da separação entre Estado e Igreja, a secularização, surgiu o “espaço público” que ficou fora do controle ou da esfera do religioso, que ficou mais restrito ao campo da vida privada.

Uma das reações da Igreja foi a de se valorizar como uma instituição “separada” por Deus que tinha como função a salvação das almas das tentações e perigos do “mundo”; isto é, o caminho da salvação consistia em “sair” do mundo, ou pelo menos não se intrometer demasiadamente nos problemas do mundo. Por isso, a religião se via como não tendo relação com a política. E o clero, com o seu celibato, era uma expressão social visível desta teologia.

O Concílio procura superar esse dualismo Igreja/mundo, assumindo que as alegrias e esperanças do mundo também são as da Igreja e desenvolve também uma eclesiologia que procura superar a divisão interna das pessoas “separadas”, consagradas, sagradas, das pessoas comuns. E propõe uma visão da Igreja como Povo de Deus, dentro do qual todos os seus membros são iguais no Batismo, com diferentes serviços ou ministérios.

Para dar continuidade e aprofundamento neste caminho ou espírito, eu penso que é fundamental retomarmos o debate teológico em torno da Igreja como Povo de Deus a serviço do testemunho da presença do Reino de Deus no mundo. Superar a teologia da “separação”, teologia centrada na noção do sagrado. Pois, sagrado é aquilo que foi separado do mundo profano. Cristianismo não é uma religião que anuncia um novo sagrado, um sagrado mais poderoso do que outros; pelo contrário, anuncia que Deus se esvaziou do seu poder e se encarnou, entrou no mundo, na forma de um ser humano.

IHU On-Line – Passados 40 anos desde a obra seminal de Gustavo Gutiérrez, como a Teologia da Libertação deve ser compreendida hoje? De que libertação falamos no contexto contemporâneo, que não é mais o mesmo de 40 anos atrás?

Jung Mo Sung – Eu penso que é fundamental retomarmos as novidades fundamentais da Teologia da Libertação – TdL que a diferenciaram de outras teologias políticas ou progressistas da época. A principal novidade da TdL não consistiu em falar dos pobres ou da inserção política dos cristãos na sociedade, mas na sua “ruptura epistemológica”, na sua metodologia e princípios teóricos que norteiam o fazer teologia.

O primeiro elemento desta ruptura foi a relação práxis/teologia. A TdL se propôs a fazer sua reflexão teológica a partir e sobre problemas das práxis de libertação. A TdL não quis reler todos os tratados teológicos a partir dos pobres – como alguns pensam ainda hoje –, mas refletir e dar respostas e pistas de ação para perguntas que vinham das lutas diante de uma realidade tão injusta. Infelizmente, muitos dos livros considerados de TdL não explicitam qual problema ou pergunta que surge da realidade e das práticas que estão tentando elucidar.

O segundo elemento foi a ruptura com a noção de que existe uma abordagem universal ou neutra na busca da verdade ou das verdades na teologia ou em outras áreas de saber. A opção pelos pobres, além de ser uma opção que norteia a condução das práticas pastorais, é uma afirmação de que, em situações de opressão, não há um ponto de vista neutro ou universal para interpretar a realidade e a fé; e que a perspectiva bíblica é a perspectiva dos pobres ou das vítimas das relações de dominação.

Um terceiro elemento tem a ver com a noção de libertação que foi colocada na pergunta. No início da TdL, a noção de libertação era bem concreta; falava-se da libertação das relações de dependência no campo da economia política internacional e nacional. Na medida em que a TdL refletia as questões das lutas sociais, a noção de libertação era entendida de uma forma bem “encarnada”, dentro das possibilidades históricas. Com o passar do tempo, começou a predominar a noção de libertação como a passagem para um mundo “sem dominação e injustiça, um mundo de plena harmonia”. Isto é, uma noção abstrata de libertação que pressupõe a libertação de todas as contradições humanas e de todos os conflitos e problemas inerentes a todas as sociedades humanas. No fundo, a libertação passou a significar a “construção do Reino de Deus em plenitude” no interior da história. Com isso, perdeu-se a concretude histórica que se pretendeu no início da TdL com o diálogo com as ciências do social.

É claro que há outros elementos importantes nessa teologia, como a necessidade da “libertação da teologia” (a autocrítica da teologia, da Igreja, da religiosidade dos pobres, incluindo as CEBs) para que possa haver a teologia da libertação; mas o espaço aqui não permite alongar muito esse tema.
Para terminar a resposta a esta pergunta, eu penso que é importante repensarmos o próprio conceito de libertação antes de responder libertação do “quê” falamos hoje. Em outras palavras, repensar a relação entre a libertação, liberdade e a condição humana.

IHU On-Line – A partir dos debates da Jornada Teológica do Cone Sul e do Brasil, que ocorreram em junho, por onde anda a teologia hoje? Que questões centrais foram debatidas?

Jung Mo Sung – A Jornada Teológica que ocorreu em Santiago, Chile, precisa ser entendida dentro da realidade da Igreja Católica chilena. Não foi uma jornada de especialistas discutindo ou avaliando a situação da TdL hoje, mas foi um encontro que serviu mais para ser um “sinal dos tempos” na Igreja de Chile, que passa por dificuldades. Isto é, um evento que reuniu diversos setores da Igreja chilena para discutir temas que giravam fundamentalmente em torno do testemunho profético da Igreja na realidade social. Por isso, não é possível dizer por onde anda a teologia hoje a partir daquela jornada. Para interessados em mais detalhes sobre a jornada, vale a pena conferir o sítio que contém também textos discutidos lá: www.jornadasteologicas.cl.

IHU On-Line – O espaço dos leigos e leigas – especialmente mulheres – na Igreja continua sendo reduzido. A que “paradigma” esse fenômeno está associado? Que mudanças são necessárias para uma nova eclesiologia, menos clericalista?

Jung Mo Sung – Eu penso que o ponto nevrálgico na discussão de um novo modo de compreender a estrutura interna da Igreja está na articulação entre dois temas: a missão da Igreja no mundo e a tradição como parte da revelação.

Setores da Igreja Católica que reivindicam mudanças estruturais que ofereçam mais espaço de atuação e decisão para laicato (homens e mulheres) e possibilidade de ordenação das mulheres se fundamentam em dois pontos:

a) a missão da Igreja no mundo como testemunho profético capaz de questionar a sociedade e, por isso, a necessidade de adequações internas para fazer jus a este papel profético;

b) uma leitura da Bíblia que não se reduz a repetição das regras existentes no tempo bíblico, mas a que se utiliza da hermenêutica para “atualizar” o espírito da Bíblia nos dias de hoje.

Setores que se opõem a essas mudanças têm uma concepção da missão que se funda mais na “separação” do mundo ou na salvação eterna das almas, que têm pouco a ver com o testemunho profético. Além disso, esses setores costumam compreender a tradição da Igreja – incluindo aqui toda a história da conformação das estruturas institucionais e hierárquicas – como parte do processo de revelação da vontade de Deus no mundo.

Sendo assim, a modificação na relação clero/laicado e a ordenação das mulheres são vistas como contrárias à verdade revelada e guardada pelo magistério da Igreja.

Por isso, penso que a mudança eclesiológica pressupõe uma mudança na compreensão da relação entre a verdade revelada e a Igreja. O que implica em um debate teológico e mudança cultural muito interessante e difícil.

Mudanças profundas em instituições seculares como a Igreja Católica são resultados de dois movimentos: um interno, a partir de uma nova compreensão de si e da sua missão, que é fruto de uma luta interna em termos de debate teológico-ideológico e de relações força entre os grupos; e a pressão do contexto onde está localizada.

O crescimento de religiões não cristãs, como o islamismo, e principalmente de Igrejas evangélicas e pentecostais pode ser um fator de pressão para mudanças. Quando ficar mais claro que as respostas tradicionais não são capazes de fazer frente às novidades e pressões do contexto social e religioso, haverá mais espaço para mudanças desejadas por grupos internos que hoje não são hegemônicos.

IHU On-Line – Em sua opinião, qual é o espaço e a importância de uma “teologia pública”?

Jung Mo Sung – Eu penso que há dois tipos de compreensão quando se fala da “teologia pública”. O primeiro é no sentido de que a teologia e a Igreja têm ou devem ter um papel ou uma contribuição a dar na “esfera pública”. Uma visão mais ampla e mais “neutra” da teologia política ou TdL, na medida em que inclui na esfera pública a sociedade civil, além da esfera da política no sentido estrito. Eu usei o termo “neutro” para dizer que o fato de se assumir como teologia pública não conota necessariamente nenhum posicionamento ideológico ou político definido. Há autores da teologia política que são mais conservadores ou mais “liberais” (no sentido norte-americano) ou progressistas.

O segundo é a compreensão da teologia pública como uma presença pública da teologia nas universidades, dialogando com as ciências em geral. É uma forma de a teologia sair do “gueto” dos seminários ou faculdades de teologia e participar de forma amadurecida no âmbito da academia. Seria uma forma de superar a preconceito contra a teologia que surgiu após o Iluminismo.

Eu penso que esses dois tipos de compreensão da teologia pública são úteis e podem contribuir no diálogo e na inserção das igrejas cristãs na sociedade hoje. Mas “teologia pública” por si só não define suficientemente os pressupostos epistemológicos e opções éticas de cada corrente interna. Por isso, penso que é preciso adjetivar a expressão, como, por exemplo, “teologia pública neo-ortodoxa” ou “teologia pública profética”.

IHU On-Line – As novas tecnologias digitais mudaram os espaços, os tempos, os conceitos de comunidade, pertença etc. Como essa realidade se reflete (ou não) no campo teológico e pastoral?

Jung Mo Sung – A vida e os relacionamentos das pessoas e das comunidades estão marcados profundamente pela noção de tempo e espaço. Na medida em que novas tecnologias estão criando novo tipo de espaço, o espaço virtual, que permite, por exemplo, redes de relacionamentos que ultrapassam limites do espaço geográfico, elas modificam também a noção de tempo e assim a própria noção de pertença e do que é importante na vida.

Com certeza, essas modificações estão afetando a pastoral, mas ainda há poucas pesquisas e reflexões teológicas sobre isso. Como disse antes, a TdL deve se ocupar com temas e problemas que surgem das práticas pastorais sociais e, portanto, este deveria ser um tema urgente.

Deixe-me dar um pequeno exemplo como provocação para reflexões. Através de redes sociais estão surgindo comunidades virtuais de cristãos, com pessoas de diversas partes do mundo, em torno de visões teológicas ou religiosas convergentes. É claro que comunidades virtuais não possibilitam a experiência de “face a face”, que é fundamental na experiência comunitária. Todavia, elas permitem que pessoas que se sentem isoladas, seja porque vivem longe da sua comunidade de pertença original ou porque não aceitam a teologia ou a linha pastoral da sua igreja local, se vejam pertencendo ao que poderíamos chamar de versão tecnológica da “comunhão dos santos”. Há muitas pessoas que usam, por exemplo, Twitter como um “púlpito” para a divulgação de mensagens ou de pensamentos teológicos.

IHU On-Line – Em sua fala na Jornada Teológica, o senhor abordou as referências no âmbito econômico de conceitos religiosos ou teológicos como dogmatismo, fundamentalismo, sacralização do mercado, sacrifícios. O que isso revela a respeito da sociedade contemporânea?

Jung Mo Sung – Na verdade, eu citei autores fora da teologia, especialmente da área da economia e administração de empresas que usam esses termos religiosos para falar das práticas e teorias no campo econômico e das empresas. Este tipo de pesquisa e reflexão começou já na década de 1970, na TdL, com autores como Franz Hinkelammert e Hugo Assmann e eu tenho participado disso desde 1988.

A constatação do uso de termos religiosos e teológicos no campo da economia não é um acaso ou um simples uso de metáforas sem importância na economia. Este uso constante de termos e símbolos religiosos para sintetizar lógicas, práticas e cosmovisões econômicas revela que o mundo moderno não é não religioso. Pelo contrário, não se pode compreender o mundo moderno se não levar em consideração o fato de que ele se levanta contra o mundo feudal com a pregação de uma boa nova: a libertação humana pelo avanço tecnológico e econômico. Só que essa salvação, como toda religião, exige sacrifícios. A economia capitalista não nega a soteriologia da cristandade medieval, mas a modifica. Agora os sacrifícios necessários para a salvação são exigidos em nome do mercado. É por isso que os ideólogos e defensores do capitalismo se dão bem que setores conservadores das igrejas que defendem que não há salvação sem sacrifício.

Em resumo, o mundo moderno não é secularizado no sentido antirreligioso, mas é idólatra. Karl Marx e Max Weber já apontaram para esse aspecto do capitalismo.

IHU On-Line – Em sua crítica ao neoliberalismo, o senhor usa termos como “ídolo” e “idolatria”. Em que sentido?

Jung Mo Sung – Um dos conceitos teológicos fundamentais da Bíblia, se é que podemos dizer que é um conceito no sentido mais técnico, é o da idolatria. Todas as sociedades produzem deuses, que são obras de ações e interações humanas (objetos ou instituições) que são sacralizadas, e em seu nome se funda a ordem social existente e se exige sacrifícios de vidas humanas necessários para a reprodução da ordem.

Os profetas perceberam isso e desvelaram e criticaram esse processo de produção de deuses, os ídolos. Em oposição a ídolo, que se caracteriza por exigir sacrifícios de vidas humanas, a Bíblia nos apresenta Deus que não quer sacrifícios, mas misericórdia. Os seguidores de Deus misericordioso podem doar suas vidas por amor, na liberdade, mas não se sentem coagidos entregando suas vidas em sacrifício.

Um aspecto que é importante na crítica à idolatria é que o ídolo é sempre visto como deus por seus adoradores e, por isso, fascina e atrai. Quando digo que o neoliberalismo apresenta uma lógica idolátrica estou também querendo apontar para a dimensão fascinante do capitalismo global atual. Diante da fascinação, não basta criticar; é preciso desvelar o processo sacrificial para desmascarar a fascinação que cega. Nesta tarefa, a teologia tem um papel importante a cumprir na sociedade. Voltando ao tema da teologia pública, podemos dizer que a crítica pela teologia da fascinação da idolatria do mercado é um papel ou uma contribuição importante a dar no espaço público da sociedade e do debate acadêmico.

IHU On-Line – Para o senhor, a vida econômica hoje é percebida como uma religião, e o neoliberalismo, como uma nova religião econômica. É possível uma “outra economia”, justa e eticamente regulada? Sobre que parâmetros estaria assentada?

Jung Mo Sung – Uma ideia ampla como “economia justa e eticamente regulada” nos ajuda a pensar na superação da economia capitalista que conhecemos hoje. Mas, ao mesmo tempo, não é muito operacional e não oferece muitas pistas concretas para formular os pontos principais de uma “outra economia”. Isso porque entramos em uma discussão sem fim sobre o que é “justo” e “ético”; só para depois entrarmos na discussão de como ética pode regular economia.

Economia é o campo da produção e distribuição de bens materiais e simbólicos necessários para a reprodução da vida humana. Não basta que uma economia seja justa e ética – não importa aqui o que se entende por isso –, se não produz o suficiente para a reprodução da vida de toda a sociedade. Por isso, eu prefiro a proposta por Franz Hinkelammert de discutirmos em torno da “economia para a vida”. Esta expressão remete a Jo 10, 10, “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”, e se opõe a economia capitalista que é pensada para o crescimento econômico e acumulação do capital.

Economia para a vida implica também na preservação do meio ambiente, que é condição de vida, e na vida de todas as pessoas. Aqui estamos falando de vida corporal, a única que temos e podemos cuidar de fato – pois a vida eterna é graça de Deus.

O grande desafio para quem luta por uma sociedade mais justa e humana, onde todas as pessoas tenham a oportunidade e possibilidade de ter uma vida digna e prazerosa, é responder à pergunta: como será a nova forma de coordenação da divisão social do trabalho?

Uma característica das economias não simples é o fato da fragmentação do processo produtivo. Isto é, ninguém ou nenhum grupo pequeno produz todos os bens necessários para a sua sobrevivência. Com isso, cada um faz uma parte do trabalho necessário e há a necessidade de coordenação desses trabalhos ou processos fragmentados. O comunismo propôs, como alternativa ao capitalismo, o modelo de planejamento centralizado pelo Estado. A experiência histórica nos mostrou que esse caminho é ineficiente porque é impossível conhecer de modo eficaz todos os elementos da economia para esse planejamento. O neoliberalismo propõe que o mercado seja o único ou principal instrumento de coordenação da divisão social do trabalho.

A luta por uma “economia justa” ou uma “economia para a vida” passa necessariamente por este desafio de pensarmos uma forma alternativa dessa coordenação. Propostas econômicas alternativas no âmbito de unidades produtivas (por exemplo, empresas na linha da “economia de comunhão”) ou em âmbitos microrregionais ou marginais ao mercado global (por exemplo, muitas experiências de economia solidária) são importantes e ajudam muito na vida concreta do povo. Mas, em termos de outro sistema econômico, não há como evitar o tema dessa coordenação.

A princípio, podemos dizer que há sim alternativa ao capitalismo, pois ele não é eterno, mas não será solução perfeita ou definitiva.

(Por Moisés Sbardelotto)

O deus mercado e seus oráculos

O mercado “pensa”, o mercado “avalia”, o mercado “propõe”, o mercado “desconfia”, o mercado “sugere”, o mercado “reage”. E aí sim, de vez em quando, o tom de voz sobe e o mercado “exige”! E depois o mercado “ameaça”. O mercado “cai”, o mercado “sobe”, o mercado “se recompõe”. O mercado “se sente inseguro”, o mercado “fica satisfeito”, o mercado “comemora”. O mercado “não aceita” tal medida, o mercado “se rebela” contra tal decisão (…) O mercado “alertou”, o mercado “ponderou”, o mercado “pressionou”, o mercado “exigiu”. E, finalmente, o mercado “conseguiu” (…) Uma entidade que passa a ser reverenciada em ampla escala, coisa que era antes reduzida a uma platéia restrita. Trata-se do famoso “mercado” – muito prazer! Um dos grandes enigmas da história da humanidade (…) Tem-se a impressão de que o mercado vira gente, um dos nossos! (…) Mas o “mercado” – sujeito de tantos verbos de ação e de percepção – não tem nome! Ele não pode ser achado, pois o mercado não tem endereço. Ele não pode ser entrevistado, pois o mercado nunca comparece fisicamente nos compromissos. Ele tampouco pode ser fotografado, pois o mercado não tem rosto. O que há, de fato, são uns poucos indivíduos que fazem a transmissão de suas idéias, de seus pensamentos, de seus sentimentos. São verdadeiros profetas, que têm o poder de fazer a interlocução entre o “mercado” e o povo. Pois, não obstante a tentativa de torná-la íntima de todos nós, essa entidade não se revela para qualquer um. Ele escolhe uns poucos iluminados para representá-lo aqui entre nós. Como se, estes sim, tivessem a procuração sagrada para falar em seu nome e representar aqui seus interesses. E aos poucos o que era antes um sujeito, o indivíduo “mercado” também vai ganhando ares de divindade. Tudo se passa como ele se manifestasse exclusivamente por meio de seus oráculos, os únicos capazes de captar e interpretar o desejo do deus mercado. Pois ele pensa, fala, acha, opina, mas não se apresenta para um aperto de mão, ou mesmo para uma prosinha que seja, para confirmar o que andam falando e fazendo em seu nome…

O artigo de Paulo Kliass, Às suas ordens, dotô Mercado! foi publicado em Carta Maior, 11/08/2011.

Como o site Carta Maior foi desativado, transcrevo abaixo o artigo completo.

Uma das inúmeras lições que a atual crise econômica tem a nos oferecer é a possibilidade de compreender um pouco melhor os mecanismos de funcionamento da economia capitalista em sua fase de tão ampla e profunda internacionalização financeira. Depois de baixada a poeira e dado o devido distanciamento temporal, imagino a quantidade de teses que serão desenvolvidas para tentar entender e explicar aquilo que estamos vivendo a quente pelos quatro cantos do planeta.

As alternativas de enfoque são muitas. A relação conflituosa entre os interesses do capital produtivo e os do capital financeiro stricto sensu. A autonomia – na verdade, uma quase independência – do circuito monetário em relação ao chamado lado “real” da economia. A contradição entre o discurso liberal ortodoxo patrocinado pelos dirigentes dos países mais ricos até anteontem e a prática atual de medidas protecionistas de seus próprios interesses nacionais. A postura inequívoca e amplamente expandida de defesa das vontades das grandes instituições financeiras em primeiro lugar, sempre às custas de cortes nos gastos orçamentários na área social voltados à maioria da população de seus países. A dita solidez das estruturas do mercado financeiro, agora tão confiável quanto a de um castelo de cartas. A perda completa de credibilidade das instituições financeiras, a exemplo das chamadas agências de rating, que passam a escancarar a sua relação incestuosa com setores econômicos. O fim do mito da chamada “independência” dos Bancos Centrais, cujas políticas monetárias estariam sendo implementadas de forma neutra e isenta, uma vez que baseadas em critérios técnicos e científicos (sic…) do conhecimento econômico acumulado. A falência das correntes que se apegavam às teorias chamadas da “racionalidade dos agentes” para buscar assegurar que não haveria o que temer com o funcionamento das livres forças de mercado, pois o equilíbrio entre oferta e demanda sempre apontaria a solução mais racional possível. E por aí vai. A lista é quase infindável.

Mas um elemento, em especial, chama a atenção em meio a essa enormidade de aspectos. E trata-se de algo importante, pois diz respeito à tentativa de legitimação de toda e qualquer ação dos poderes públicos na busca da saída para a crise econômica. Com isso procura-se fugir da conseqüência mais próxima em caso de fracasso: colocar em risco a sua própria legitimidade política. Ainda que nos momentos de maior tensão seja perceptível uma contradição entre os desejos dos representantes do capital financeiro e as possibilidades oferecidas pelos agentes do governo, no final quase tudo acaba se resolvendo no conluio entre o público e o privado. Nos bastidores do poder, a ação do Estado é ditada, via de regra, pelos interesses do capital.

Mas nas conjunturas de crise profunda, como a atual, passa a operar também a chamada opinião pública. Os temas de economia e de finanças, antes restritos às páginas dos jornais especializados, ganham as manchetes de capa e se convertem em preocupação de amplos setores da sociedade. A população se assusta, exige mais explicações, quer entender melhor! Porém, não se consegue tornar tão claros os mecanismos de funcionamento da dinâmica econômica em tão pouco tempo e em tão poucas linhas. E nesse momento ganham importância os interlocutores chamados a explicar: os economistas dos grandes bancos, os analistas das instituições financeiras, os responsáveis pelas empresas de consultoria, enfim os chamados “especialistas”. Cabe a eles a tarefa de convencimento do grande público de que a crise é causada por este ou aquele fator, ou então de que as medidas anunciadas há pouco por um determinado ministro da Economia são ou não adequadas para resolver os problemas a que se propõem.

E aqui entra em campo um elemento essencial na dinâmica do discurso. Uma entidade que passa a ser reverenciada em ampla escala, coisa que era antes reduzida a uma platéia restrita. Trata-se do famoso “mercado” – muito prazer! Um dos grandes enigmas da história da humanidade, tanto estudado e ainda tão pouco desvendado em seus aspectos essenciais, passa a ser tratado como um ser humanizado, um quase indivíduo. Isso porque para justificar a necessidade das decisões duras e difíceis a serem tomadas – sempre às custas de muitos e para favorecer uns bem poucos – recorre-se às opiniões de “alguém” que conheça, que assegure que não há realmente outra solução. Tem-se a impressão de que o mercado vira gente, um dos nossos!

As matérias dos grandes jornais, as páginas das revistas de maior circulação, os sítios da internet, os programas na televisão e no rádio, enfim, por todos os meios de comunicação passamos a conhecer aquilo que nos é vendido como sendo a opinião dessa entidade, dessa quase pessoa. As frases e os estilos podem variar, mas no fundo, lá no fundo, tudo é sempre mais do mesmo. Recorrer a um mecanismo que beira a abstração para justificar as medidas mais do que concretas. Fazer um chamamento a uma entidade externa, com ares de messianismo e divindade, para convencer de que as proposições – expostas numa linguagem e numa lógica incompreensíveis para a maioria – são realmente necessárias. Sim, sim, é preciso também ter fé! Pois em caso contrário, aquilo que nos espera é ainda pior do que o péssimo do vivido agora. Será o caos!

É o que tem acontecido na atual crise da dívida norte-americana ou na seqüência dos diversos capítulos da crise dos países da União Européia. O mercado “pensa”, o mercado “avalia”, o mercado “propõe”, o mercado “desconfia”, o mercado “sugere”, o mercado “reage”. E aí sim, de vez em quando, o tom de voz sobe e o mercado “exige”! E depois o mercado “ameaça”. O mercado “cai”, o mercado “sobe”, o mercado “se recompõe”. O mercado “se sente inseguro”, o mercado “fica satisfeito”, o mercado “comemora”. O mercado “não aceita” tal medida, o mercado “se rebela” contra tal decisão.

E assim, à força de repetir à exaustão essa fórmula aparentemente tão simples, o que se busca, na verdade, é fazer um movimento de aproximação. Tornar a convivência com um ser que conhece de forma tão profunda a dinâmica da economia um ato quase amical e familiar para cada um de nós. Mas o “mercado” – sujeito de tantos verbos de ação e de percepção – não tem nome! Ele não pode ser achado, pois o mercado não tem endereço. Ele não pode ser entrevistado, pois o mercado nunca comparece fisicamente nos compromissos. Ele tampouco pode ser fotografado, pois o mercado não tem rosto. O que há, de fato, são uns poucos indivíduos que fazem a transmissão de suas idéias, de seus pensamentos, de seus sentimentos. São verdadeiros profetas, que têm o poder de fazer a interlocução entre o “mercado” e o povo. Pois, não obstante a tentativa de torná-la íntima de todos nós, essa entidade não se revela para qualquer um.

Ele escolhe uns poucos iluminados para representá-lo aqui entre nós. Como se, estes sim, tivessem a procuração sagrada para falar em seu nome e representar aqui seus interesses. E aos poucos o que era antes um sujeito, o indivíduo “mercado” também vai ganhando ares de divindade. Tudo se passa como se ele se manifestasse exclusivamente por meio de seus oráculos, os únicos capazes de captar e interpretar o desejo do deus mercado. Pois ele pensa, fala, acha, opina, mas não se apresenta para um aperto de mão, ou mesmo para uma prosinha que seja, para confirmar o que andam falando e fazendo em seu nome aqui pelos nossos lados.

Mas, apesar de toda evidente fragilidade da cena construída, não há como contestá-la. O mercado é legitimado por quem tem poder de legitimar. O discurso dos que não acreditam e dos que desconfiam não chega à maioria. Sim, pois aqui tampouco pode haver espaço para a dúvida. Nenhuma chance para o ato irresponsável que seria dar o espaço para o contraditório. A única certeza é de que o mercado sempre tem razão. E ponto final. Assim, todos passam horas na angústia e na agonia para saber como o mercado “reagirá” na abertura das bolsas de valores na manhã seguinte ou para tentar antecipar como o mercado “avaliará” hipotéticas medidas anunciadas para as transações de câmbio na noite da véspera.

O resultado de toda essa construção simbólica pode ser sintetizado na tentativa do convencimento político e ideológico dos caminhos escolhidos para a solução da crise. O mercado “alertou”, o mercado “ponderou”, o mercado “pressionou”, o mercado “exigiu”. E, finalmente, o mercado “conseguiu”. Por todo e qualquer lado que se procure, tentam nos convencer que não havia realmente outra forma possível de evitar o pior dos mundos. Como somos todos mesmo ignorantes em matéria de funcionamento dessa coisa tão complexa como a economia, somos chamados a delegar também as formas de solução para a crise. E, como sempre acontece em nossa tradição, estamos às suas ordens, Dotô Mercado…

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

Quem se interessa pelo tema deve procurar ler sobre a idolatria do mercado, reflexão teológica presente especialmente nas obras de Hugo Assmann, Franz Hinkelammert e Jung Mo Sung.

Jornadas Teológicas do Cone Sul e Brasil

Teólogos se reformulam diante de temas emergentes

As Jornadas Teológicas do Cone Sul e Brasil se concluirão amanhã (15) com propostas que buscam ajudar a Igreja Católica a se reformular frente a novos temas como a atual crise institucional e a outros não abordados pelo Concílio Vaticano II. Pelo menos 200 participantes argentinos, brasileiros, uruguaios, paraguaios e chilenos refletiram durante três jornadas consecutivas em torno de temáticas atuais que a Igreja necessita se reformular para buscar uma solução à crise institucional. Em dez mesas de trabalho, os participantes debateram os questionamentos atuais sobre Deus, a religião nas universidades, a relação da teologia com as Ciências Sociais e Naturais, a compreensão do nome e a natureza, a postura teológica indígena e a participação da mulher. Roberto Urbina, Secretário Geral da atividade, antecipou que as conclusões se centrarão principalmente na vigência do Concílio Vaticano e no diálogo entre a teologia e a ciência, conversa que durante anos tem sido “distante, longe e às vezes fechada”. “A teologia tem que se abrir pelo menos para escutar e acolher as interpelações que faz a ciência. Tem que levar em conta suas apresentações, conhecê-las, entendê-las e desde aí ver o que diz a teologia. Não são caminhos paralelos”, sustentou. Urbina comentou também que a inclusão da mulher e dos povos originários neste debate são temas que não fazem parte do último Concílio, mas que “hoje é necessário que se incorporem entre os diálogos da Igreja”.

Por Orlando Milesi – Adital: 14/07/2011

Teólogos se replantean ante temas emergentes

Las Jornadas Teológicas del Cono Sur y Brasil concluirán mañana (15) con propuestas que buscan ayudar a la Iglesia Católica a replantearse frente a nuevos temas como la actual crisis institucional y a otros no abordados por el Concilio Vaticano II. Unos doscientos participantes argentinos, brasileros, uruguayos, paraguayos y chilenos, reflexionaron durante tres jornadas consecutivas en torno a las temáticas actuales que la Iglesia necesita replantearse para buscar una solución a la crisis institucional. En diez mesas de trabajo, los participantes debatieron los cuestionamientos actuales sobre Dios, la religión en las universidades, la relación de la teología con las Ciencias Sociales y Naturales, la comprensión del hombre y la naturaleza, la postura teológica indígena y la participación de la mujer. Roberto Urbina, Secretario General de la actividad anticipó que las conclusiones se centrarán principalmente en la vigencia del Concilio Vaticano, y el diálogo entre la teología y la ciencia conversación que durante años ha sido “distante, lejana y a veces cerrada”. “La teología tiene que abrirse por lo menos a escuchar y acoger las interpelaciones que hace la ciencia. Hay que tomar en cuenta sus planteamientos, conocerlos, entenderlos y desde ahí ver lo que dice la teología. No son caminos paralelos”, sostuvo. Urbina comentó, asimismo, que la inclusión de la mujer y los pueblos originarios en este debate son temas que no forman parte del último Concilio, pero que “hoy es necesario que se incorporen entre los diálogos de la Iglesia”.

Por Orlando Milesi – Adital: 14/07/2011

Leia Mais:
A recepção do Vaticano II na América Latina

A recepção do Vaticano II na América Latina

Leio no Blog do IHU um post publicado em 05/07/2011 sobre a Jornada Teológica no Chile, que será realizada de 12 a 15 de julho:

Jornada Teológica no Chile: Uma revisão do Concílio na América Latina

Entre os dias 12 a 15 de julho, o Chile irá acolher a jornada regional do Cone Sul e do Brasil em preparação ao Congresso Continental de Teologia. A jornada será realizada na Universidade Católica Cardenal Silva Henríquez, em Santiago do Chile. A intenção da jornada, além de reunir a comunidade teológica da região, é discernir os novos desafios de uma época marcada por profundas transformações e por um mundo pluralista e globalizado. Dentro desse contexto, a proposta é também avaliar as consequentes tarefas para uma teologia como serviço às Igrejas cristãs e à humanidade. Tendo como pano de fundo a acolhida ao Concílio Vaticano II no ambiente latino-americano e caribenho, a jornada ocorre em preparação ao Congresso Continental de Teologia, que será realizado em 2012 na Unisinos. No ano que vem, completam-se os 50 anos da inauguração do Concílio Vaticano II e os 40 anos da publicação do livro Teología de la liberación, de Gustavo Gutiérrez.

Leia o texto completo.

Leia Mais:
Congresso Continental de Teologia em 2012
Sobre o Congresso Continental de Teologia em 2012
Jornada Teológica da América Central e do Caribe
Alguns livros e artigos sobre o Vaticano II
Entrevista: Gustavo Gutierrez, um dos pais da TdL

Revisitando o Vaticano II com Dom Demétrio

Dom Demétrio Valentini (São Valentim, RS, 1940), bispo de Jales – SP, falou-nos, com entusiasmo, sobre o Concílio Vaticano II, na Semana Teológica do CEARP em 2011, na tarde de 27 e na manhã de 28 de junho. Dom Demétrio era estudante de Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, quando aconteceu o Vaticano II. Morava no Colégio Pio Brasileiro, vizinho da Domus Mariae, onde estavam hospedados (também) os bispos brasileiros durante o Concílio. Viu tudo de perto, com o entusiasmo de um jovem estudante de Teologia. Beozzo, que cito abaixo, era seu colega.

Recomendo a leitura do livro de Dom Demétrio, onde o conteúdo de sua palestra poderá ser conhecido:

VALENTINI, D. Revisitar o Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulinas, 2011, 64 p. – ISBN 9788535627923.

Também transcrevo aqui, para estimular o potencial leitor, parte da apresentação do livro, feita por José Oscar Beozzo.

“O breve, mas ao mesmo tempo precioso, livro de Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales-SP, Revisitar o Concílio Vaticano II, preenche uma lacuna cada vez mais sentida em relação ao maior evento eclesial do século XX, o Concílio Vaticano II.

Cinquenta anos depois do seu anúncio pelo Papa João XXIII, praticamente desapareceu aquela geração dos bispos que participaram do Concílio e daqueles leigos e leigas, religiosos e religiosas, presbíteros, catequistas e equipes de liturgia que empreenderam, com entusiasmo e dedicação exemplares, a renovação conciliar em suas Igrejas particulares, comunidades, paróquias, pastorais, congregações religiosas e também na catequese, liturgia, teologia, formação dos leigos, leigas e presbíteros. Mesmo sem nos darmos conta, toda a nossa vida eclesial carrega as marcas da virada histórica do Vaticano II.

Para as novas gerações, o Concílio tornou-se por vezes apenas uma página da história. Revisitá-lo guiados por alguém que viveu a aventura conciliar, como jovem estudante de teologia em Roma e depois como padre e bispo, com olhar sempre atento e coração ardente e compromisso firme, é um verdadeiro privilégio.

Dom Demétrio, no seu Revisitar o Concílio Vaticano II, oferece em poucas páginas a possibilidade de entrar numa história viva, que pode e deve seguir iluminando nossa caminhada pastoral, inspirando nossa teologia e animando nossa esperança.

Em dez capítulos compactos e ágeis, ele nos devolve o Concílio em sua inteireza e complexidade. Seu livro abre-nos o apetite para tocar mais de perto os tesouros cada vez mais escondidos do Concílio.

É um convite premente para ler pela primeira vez ou reler os dezesseis documentos conciliares. Dom Demétrio, como bom pedagogo, aponta as cimeiras das montanhas e por onde devemos começar: com a Lumen Gentium, o documento sobre a Igreja, como Povo de Deus, colegialmente governado pelos bispos em comunhão com o Papa. Apresenta-o como compêndio e obra maior de toda a gesta conciliar. Ao seu lado, encontram-se as outras três Constituições, documentos mais densos, e pastoral e doutrinalmente programáticos: a Dei Verbum, sobre a Palavra de Deus; a Gaudium et Spes, sobre a presença e as responsabilidades da Igreja e dos cristãos no mundo de hoje; e a Sacrosanctum Concilium, sobre a liturgia. Ela ajudou a renovar e inculturar nossas formas de celebrar em comunidade em torno da mesa da palavra e da mesa do pão, com a participação de toda a assembleia.

Dentre os nove decretos, ele nos aconselha a começar pelo do ecumenismo, Unitatis Redintegratio, que abriu caminho para que pudéssemos estabelecer laços fraternos de afeto, comunhão e cooperação com todas aquelas Igrejas, comunidades e pessoas que, pelo Batismo, foram igualmente incorporados ao corpo único de Cristo, que é a sua Igreja. Sem o Concílio e a caminhada ecumênica por ele desencadeada, não teríamos no Brasil o Conic (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs), as traduções ecumênicas da Bíblia, o Cebi ou, pela terceira vez, depois de 2000 e 2005, a graça de nova Campanha da Fraternidade Ecumênica, em 2010, centrada no tema: Economia e Vida.

Dentre as três Declarações conciliares, ele nos chama a atenção para a Dignitatis Humanae, sobre a liberdade religiosa, e para a crescente importância do diálogo interreligioso proposto pela Nostra Aetate, em um mundo cada vez mais plural e em intensa relação, quando não em conflito, do ponto de vista cultural e religioso.

Revisitados os eventos conciliares e seus documentos, há hoje boas alternativas para seguir aprofundando o Concílio. A Igreja do Brasil, graças em boa parte ao então secretário-geral da CNBB, Dom Helder Câmara, e ao entusiasmo do seu jovem episcopado teve atuação exemplar no Concílio e lançou-se com entusiasmo à tarefa de sua recepção e aplicação, por meio do Plano de Pastoral de Conjunto, o PPC (1966-1970). (…)

Concluímos com a palavra abalizada (…) de Dom Aloísio Lorscheider: ‘O Concílio Ecumênico Vaticano II foi um Concílio pastoral-eclesiológico. Duas são as palavras-chave para entendê-lo bem: aggiornamento (atualização, renovação, rejuvenescimento, diaconia, serviço) e diálogo (comunhão, corresponsabilidade, participação). Não veio para definir ou condenar, mas para servir e salvar'”.

Sumário do livro

Apresentação
Introdução

1. Como surgiu o Concílio Vaticano II
2. A preparação do Concílio
3. Os momentos decisivos do Concílio
4. Os assuntos quentes do Concílio
5. As ideias-força do Concílio
6. O desenrolar do Concílio
7. O itinerário dos documentos conciliares
8. A organização do Concílio
9. Os movimentos que precederam o Concílio
10. As qualificações dos documentos conciliares

Conclusão

O conservadorismo católico brasileiro no Vaticano II

Para se ter uma ideia da intervenção de Rodrigo Coppe Caldeira na Semana Teológica do CEARP em 2011, nas manhãs de 27 e 28 de junho, recomendo a leitura de sua entrevista concedida à IHU On-Line, publicada em 26/03/2011 sob o título “A Igreja Católica encontrou o seu papel no século XX?” A atualidade do Vaticano II.

Em seguida, transcrevo parte do Prefácio de sua tese de doutorado, escrito por Faustino Teixeira, que foi seu orientador. E recomendo a leitura do livro.

COPPE CALDEIRA, R. Os baluartes da tradição: o conservadorismo católico brasileiro no Concílio Vaticano II. Curitiba: CRV, 2011, 336 p. – ISBN 9788580420524. Pode ser encontrado também na Livraria Cultura.

“O livro em questão nasceu de uma tese doutoral, defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora, em novembro de 2009. Trata-se de um trabalho marcado por grande originalidade, pois visa abordar uma temática bem pouco trabalhada no Brasil, ou seja, a afirmação e atuação do catolicismo antimoderno no Concílio Vaticano II (1962-1965), com base no estudo aprofundado da atuação de dois personagens brasileiros, os bispos Dom Antônio de Castro Mayer (1904-1991) [bispo de Campos – RJ] e Dom Geraldo de Proença Sigaud (1909-1982) [arcebispo de Diamantina – MG]. É um trabalho que vem complementar a rica pesquisa, também objeito de tese doutoral, de José Oscar Beozzo sobre A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 1959-1965. São Paulo: Paulinas, 2010. O autor da obra, Rodrigo Coppe Caldeira [veja o seu Currículo Lattes], já vinha se dedicando ao tema desde o período do mestrado, cursado no mesmo programa, quando trabalhou o tema do Influxo ultramontano no Brasil, fixando-se no pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira, em dissertação defendida em março de 2005.

A hipótese apresentada pelo autor é também singular. Busca-se compreender o Vaticano II como um evento que se insere num longo arco de tempo, e situar as tensões que ali ocorreram como parte de um processo anterior ao mesmo evento. Na opção metodológica escolhida, enfatiza-se o traço das ‘permanências’, ou seja, sinaliza que as ‘lutas simbólico-normativas’ que dividiram os dois grupos que buscavam hegemonia no Concílio – o grupo mais intransigente e o outro mais aberto -, já estavam em vigência mesmo antes do Concílio e estarão também presentes no pós-Concílio.

Assim como no Concílio Vaticano II, também no Brasil estavam presentes duas tendências bem vivas no âmbito do catolicismo: uma mais liberal e outras mais conservadora e intransigente. Como presenças na vertente conservadora estavam os bispos Dom Sigaud e Dom Castro Mayer, com posições político-pastorais bem próximas da “Tradição, Família e Propriedade”(TFP), que tinha em sua liderança Plínio Corrêa de Oliveira. Os dois bispos marcaram presença no Concílio, atuando junto ao grupo minoritário, e em particular no núcleo do Coetus Internationalis Patrum [= Grupo Internacional de Padres], dirigido pelo arcebispo tradicionalista Marcel Lefebvre. Atuando como secretário geral do núcleo estava Dom Sigaud, que na prática exercia um papel de grande liderança e de atuação articuladora. Durante o Concílio, os dois bispos brasileiros exerceram, junto com o Coetus, o papel de resistir teimosamente contra os projetos de abertura levados a efeito pela maioria conciliar. Enquanto Dom Sigaud cuidava mais da parte prática e da articulação do Coetus, Dom Castro Mayer aplicava-se ao trabalho teórico de estudo dos esquemas conciliares e da construção argumentativa contra as posições mais abertas, sobretudo relacionadas ao tema do aggiornamento da Igreja, da liberdade religiosa, do ecumenismo e da abertura às outras religiões. Mais atuante na aula conciliar, Dom Castro Mayer foi responsável por trinta intervenções. Em seu clássico diário do Concílio [Mon journal du Concile I: 1960-1963; II: 1964-1966. Paris: Du Cerf, 2002, 1227 p. – ISBN 9782204070171], o teólogo Yves Congar (1904 -1995) assinala o trabalho de dura resistência ao fermento renovador imposto pelo grupo do Coetus, sobretudo nos debates sobre a liberdade religiosa e o ecumenismo.

Em seu rico e detalhado trabalho doutoral, Rodrigo Coppe consegue trazer registros novidadeiros sobre a atuação dos bispos Sigaud e Castro Mayer no Vaticano II. Para enriquecer a sua pesquisa, o autor fez recurso aos arquivos do Istituto per le Scienze Religiose di Bologna, um dos mais importantes centros de estudos sobre o Vaticano II, além de dois outros acervos fundamentais: da Biblioteca Obra Social Redentorista de Pesquisa Religiosa (FVATII/SP) e da cúria de Diamantina (arquivos privados de Dom Sigaud).

A intenção de Rodrigo Coppe era ainda mais abrangente, visando abarcar a ação desses dois bispos brasileiros no pós-concílio. A riqueza e complexidade do material encontrado sobre essa atuação no Concílio acabou mudando o ritmo da proposta, de forma a concentrar o trabalho na dinâmica da formação do catolicismo antimoderno no Brasil e o exercício das lutas simbólico-normativas no próprio concílio…”

Sumário do livro

Prefácio
Introdução

Parte I: O pré-Vaticano II e as forças católicas conservadoras
Capítulo 1: Gênese do pensamento católico antimoderno
Capítulo 2: A dogmática antimoderna: notas terminológicas
Capítulo 3: O mundo e a Igreja pré-conciliar: a herança complexa
Capítulo 4: A formação de um catolicismo antimoderno no Brasil

Parte II: O Concílio Vaticano II: campo de lutas simbólico-normativas
Capítulo 5: João XXIII e a ideia de um concílio
Capítulo 6: O primeiro período: aglutinação e reorganização de tendências
Capítulo 7: O segundo período: a maioria conciliar assume o controle
Capítulo 8: O terceiro período: o coetus ex officio e sua logística
Capítulo 9: O quarto período: últimos movimentos

Conclusão
Referências
Anexos

Alguns livros e artigos sobre o Vaticano II

O tema da Semana Teológica do CEARP em 2011, que acontece de 27 a 30 de junho, é 50 anos do Concílio Vaticano II: História, Presente e Futuro. Por isso estou reunindo aqui alguns textos sobre o Vaticano II.

Uns poucos livros e artigos (estes todos online) e indicações sobre como encontrar os Documentos do Vaticano II, que estão disponíveis online em 11 línguas, ou que podem ser adquiridos em livros ou em CD-ROM.

Observo que na lista de livros estão publicações sobre o Vaticano II de Rodrigo Coppe Caldeira e de Dom Demétrio Valentini, conferencistas da Semana Teológica.

Documentos do Vaticano II

:: Documentos do Vaticano II online, no site do Vaticano, em 11 línguas: alemão, bielorrusso, chinês, espanhol, francês, inglês, italiano, latim, português, swahili, tcheco.
– 4 Constituições: Dei Verbum, Lumen Gentium, Sacrosanctum Concilium, Gaudium et Spes
– 3 Declarações: Gravissimum Educationis, Nostra Aetate, Dignitatis Humanae
– 9 Decretos: Ad Gentes, Presbyterorum Ordinis, Apostolicam Actuositatem, Optatam Totius, Perfectae Caritatis, Christus Dominus, Unitatis Redintegratio, Orientalium Ecclesiarum, Inter Mirifica

:: Documentos do Vaticano II em livros:
. Compêndio do Vaticano II: Constituições, Decretos, Declarações. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000, 744 p. – ISBN 9788532601520.
. Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2001, 736 p. – ISBN 8534918252.

:: Documentos do Vaticano II em CD:
. Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. São Paulo: Paulinas-Comep, 2010
. Documentos do Concilio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 2003

Alguns livros:

:: ALBERIGO, G. Breve história do Concílio Vaticano II. Aparecida: Santuário, 2005, 216 p. – ISBN 8536900369
Giuseppe Alberigo (1926-2007) percorre as vicissitudes do Concílio Vaticano II desde sua longa fase de preparação até seu solene encerramento, com a leitura das mensagens dirigidas a toda a humanidade. Repassa-nos também o clima daqueles anos: os entusiasmos iniciais bastante difusos sobre a possibilidade da Igreja de confrontar-se com as profundas transformações produzidas pela história, assim como as preocupações defensivas das instituições eclesiásticas diante das urgências da situação histórica.

:: ALBERIGO, G.; BEOZZO, J. O. (coords.) História do Concílio Vaticano II. Vol I. Petrópolis: Vozes, 1995, 512 p. – ISBN 9788532614728
Pesquisas sobre a história do Concílio Vaticano II, desde a decisão de João XXIII, da análise dos resultados da consulta para determinar a agenda do Concílio, até a preparação do material sobre o qual trabalharia a assembléia. Trata-se de uma avaliação atualizada da história do Concílio, após 30 anos de caminhada de renovação da Igreja.

:: ALBERIGO, G.; BEOZZO, J. O. (coords.) História do Concílio Vaticano II. Vol II. Petrópolis: Vozes, 2000, 544 p. – ISBN 9788532622006
O Concilio Vaticano II, o evento que plasmou a fisionomia do catolicismo desse século e marcou todo o âmbito cristãos do planeta, não podia até agora ser encarado com base numa reconstrução histórica orgânica. A História do Concílio Vaticano II, promovida pelo Istituto per le Scienze Religiose di Bologna e coordenada por Giuseppe Alberigo, representa a síntese de um projeto internacional apoiado numa riquíssima base documentária inédita e na contribuição de autores de diversos ambientes, línguas e âmbitos culturais. A obra – publicada contemporaneamente em seis idiomas – se articula em cinco volumes e objetiva reconstruir a dialética que animou a assembléia nas várias fases.

:: BEOZZO, J. O. A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 1959-1965. São Paulo: Paulinas, 2010, 611 p. – ISBN 9788535615982
A obra, sob um novo título, publica a tese de doutoramento do autor sobre a participação dos Padres Conciliares brasileiros no Vaticano II, apresentada em 2001 na USP. Trata-se de um estudo minucioso, baseado nas fontes primárias, sobre todos os aspectos que permitam entender a natureza e o alcance da participação do episcopado brasileiro no Concílio Vaticano II, convocado e inaugurado por João XXIII e continuado e concluído por Paulo VI.

:: COPPE CALDEIRA, R. Os baluartes da tradição: o conservadorismo católico brasileiro no Concílio Vaticano II. Curitiba: CRV, 2011, 336 p. – ISBN 9788580420524
Os anos pós-conciliares silenciaram, por algum tempo, as forças conservadoras na Igreja Católica. Elas tinham atuado no Concílio e continuavam vivas, mas guardavam pudorosa cautela no meio da onda de avanços, reformas e inovações pós-conciliares. Este livro tem o imenso valor de investigar como tal tradição antimoderna católica brasileira atuou no Concílio. Tal pesquisa ajuda-nos a entender os refluxos neoconservadores atuais, embora os protagonistas principais sejam outros. Os que labutaram no Concílio já partiram dessa vida na sua imensa maioria. O viés conservador da Igreja do Brasil tinha caído em quase total olvido, porque durante muitos anos a Presidência da Conferência Nacional dos Bispos tinha sido ocupado pela geração que fez o Concílio na sua abertura ou que o assumiu nesse espírito, enquanto o lado conservador permanecia em paciente silêncio até que os tempos lhe permitiram ressurgir das cinzas.

:: DE BROUCKER, J. As noites de um profeta: Dom Hélder Câmara no Vaticano II. Leitura das circulares conciliares de Dom Hélder Câmara (1962-1965). São Paulo: Paulus, 2008, 168 p. – ISBN 9788534929127
Dom Hélder Câmara escreveu, ao longo dos quatro anos do Concílio Vaticano II, 290 cartas nas quais se misturam reportagens, anedotas, retratos, diálogos, assuntos dos lugares e das questões problemáticas, meditações, estados d’alma. “Pactos”, “complôs”, angústias, ações de graças: esse testemunho de um místico ativo, animador discreto da maioria conciliar, teve grandes repercussões. O original francês é: Les nuits d’un prophète – Dom Helder Camara à Vatican II : Lecture des circulaires conciliaires (1962-1965). Paris: Du Cerf, 2005, 171 p. – ISBN 9782204077057. No dia 14 de abril de 2009, foi lançada, em Recife (PE), a coletânea “Circulares Conciliares”, composta por 6 livros. Leia mais aqui.

:: LIBANIO, J. B. Concílio Vaticano II: Em busca de uma primeira compreensão. São Paulo: Loyola, 2005, 224 p. – ISBN 9788515031511
João Batista Libanio busca explicar e compreender o fenômeno do Concílio Vaticano II, aludindo às estruturas que o envolveram na realização e continuam a envolvê-lo na recepção e explicitando a riqueza objetiva que ele comporta – os traços estruturais constitutivos, as opções básicas e os elementos de novidade.

:: LIBANIO, J. B.; VIGIL, J. M.; COMBLIN, J.; BEOZZO, J. O. Vaticano II: 40 anos depois. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2005, 92 p. – ISBN 8534923671
Em 2005 completamos 40 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II. Esse Concílio constitui um grande marco na vida da Igreja, pois insistiu em abrir caminhos para a valorização da comunhão, participação e partilha na Igreja, bem como em sua inserção na sociedade por meio do diálogo e do serviço.

:: LOPES GONÇALVES, P. S.; BOMBONATTO, V. I. (orgs.) Concílio Vaticano II: análise e prospectivas. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2010, 424 p. – ISBN 9788535606324
O objetivo da obra é comemorar os quarenta anos de início e término do Concílio Vaticano II (11.10.1962 – 08.12.1965) nos âmbitos acadêmico e pastoral, por meio da reflexão sobre o seu contexto e desenvolvimento histórico, em vista da manifestação de sua identidade teológica social, antropológica, eclesiológica e moral.

:: MOREIRA, A. S.; RAMMINGER, M.; SOARES, A. M. L. (orgs.) A primavera interrompida: o projeto Vaticano II num impasse. Servicios Koinonía. – ISBN 9962029260
Livro digital (e-book) de 117 páginas e 0’8 MB, com data de 08.12.2005, em formato pdf, disponível online. Reúne as principais conferências do Simpósio Internacional 40 anos do Concílio Vaticano II, ocorrido na PUC-SP, de 31 de outubro a 3 de novembro de 2005. Está em português e espanhol.

:: SOUZA, L. A. G. Do Vaticano II a um novo concílio? O olhar de um cristão leigo sobre a Igreja. São Paulo: Loyola, 2004, 280 p. – ISBN 9788515028832
Vaticano II: como foi a caminhada da Igreja da década de 60 até os nossos dias? A resposta, misturada com novas perguntas, está neste livro de Luiz Alberto Gómez de Souza. Escrito com toda a autoridade de quem viu, ouviu e sentiu cada passo dado pela instituição até hoje, quando já se fala na possibilidade de realização de um novo concílio.

:: VALENTINI, D. Revisitar o Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulinas, 2011, 64 p. – ISBN 9788535627923
Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales, SP, descreve neste livro o contexto eclesial que precedeu e seguiu o Concílio, o intenso envolvimento que suscitou, os grandes temas levantados, as ideias-chave que presidiram todos os assuntos abordados, o itinerário de cada documento produzido, o cuidado e o esmero colocados na elaboração e aprovação de cada capítulo.

Alguns artigos online:

Semana Teológica no CEARP

A Faculdade Católica de Filosofia e Teologia de Ribeirão Preto (CEARP) promove de 27 a 30 de junho de 2011, a 2ª Semana Teológica, com o tema 50 anos do Concílio Vaticano II: História, Presente e Futuro.