O conservadorismo católico brasileiro no Vaticano II

Para se ter uma ideia da intervenção de Rodrigo Coppe Caldeira na Semana Teológica do CEARP em 2011, nas manhãs de 27 e 28 de junho, recomendo a leitura de sua entrevista concedida à IHU On-Line, publicada em 26/03/2011 sob o título “A Igreja Católica encontrou o seu papel no século XX?” A atualidade do Vaticano II.

Em seguida, transcrevo parte do Prefácio de sua tese de doutorado, escrito por Faustino Teixeira, que foi seu orientador. E recomendo a leitura do livro.

COPPE CALDEIRA, R. Os baluartes da tradição: o conservadorismo católico brasileiro no Concílio Vaticano II. Curitiba: CRV, 2011, 336 p. – ISBN 9788580420524. Pode ser encontrado também na Livraria Cultura.

“O livro em questão nasceu de uma tese doutoral, defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora, em novembro de 2009. Trata-se de um trabalho marcado por grande originalidade, pois visa abordar uma temática bem pouco trabalhada no Brasil, ou seja, a afirmação e atuação do catolicismo antimoderno no Concílio Vaticano II (1962-1965), com base no estudo aprofundado da atuação de dois personagens brasileiros, os bispos Dom Antônio de Castro Mayer (1904-1991) [bispo de Campos – RJ] e Dom Geraldo de Proença Sigaud (1909-1982) [arcebispo de Diamantina – MG]. É um trabalho que vem complementar a rica pesquisa, também objeito de tese doutoral, de José Oscar Beozzo sobre A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 1959-1965. São Paulo: Paulinas, 2010. O autor da obra, Rodrigo Coppe Caldeira [veja o seu Currículo Lattes], já vinha se dedicando ao tema desde o período do mestrado, cursado no mesmo programa, quando trabalhou o tema do Influxo ultramontano no Brasil, fixando-se no pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira, em dissertação defendida em março de 2005.

A hipótese apresentada pelo autor é também singular. Busca-se compreender o Vaticano II como um evento que se insere num longo arco de tempo, e situar as tensões que ali ocorreram como parte de um processo anterior ao mesmo evento. Na opção metodológica escolhida, enfatiza-se o traço das ‘permanências’, ou seja, sinaliza que as ‘lutas simbólico-normativas’ que dividiram os dois grupos que buscavam hegemonia no Concílio – o grupo mais intransigente e o outro mais aberto -, já estavam em vigência mesmo antes do Concílio e estarão também presentes no pós-Concílio.

Assim como no Concílio Vaticano II, também no Brasil estavam presentes duas tendências bem vivas no âmbito do catolicismo: uma mais liberal e outras mais conservadora e intransigente. Como presenças na vertente conservadora estavam os bispos Dom Sigaud e Dom Castro Mayer, com posições político-pastorais bem próximas da “Tradição, Família e Propriedade”(TFP), que tinha em sua liderança Plínio Corrêa de Oliveira. Os dois bispos marcaram presença no Concílio, atuando junto ao grupo minoritário, e em particular no núcleo do Coetus Internationalis Patrum [= Grupo Internacional de Padres], dirigido pelo arcebispo tradicionalista Marcel Lefebvre. Atuando como secretário geral do núcleo estava Dom Sigaud, que na prática exercia um papel de grande liderança e de atuação articuladora. Durante o Concílio, os dois bispos brasileiros exerceram, junto com o Coetus, o papel de resistir teimosamente contra os projetos de abertura levados a efeito pela maioria conciliar. Enquanto Dom Sigaud cuidava mais da parte prática e da articulação do Coetus, Dom Castro Mayer aplicava-se ao trabalho teórico de estudo dos esquemas conciliares e da construção argumentativa contra as posições mais abertas, sobretudo relacionadas ao tema do aggiornamento da Igreja, da liberdade religiosa, do ecumenismo e da abertura às outras religiões. Mais atuante na aula conciliar, Dom Castro Mayer foi responsável por trinta intervenções. Em seu clássico diário do Concílio [Mon journal du Concile I: 1960-1963; II: 1964-1966. Paris: Du Cerf, 2002, 1227 p. – ISBN 9782204070171], o teólogo Yves Congar (1904 -1995) assinala o trabalho de dura resistência ao fermento renovador imposto pelo grupo do Coetus, sobretudo nos debates sobre a liberdade religiosa e o ecumenismo.

Em seu rico e detalhado trabalho doutoral, Rodrigo Coppe consegue trazer registros novidadeiros sobre a atuação dos bispos Sigaud e Castro Mayer no Vaticano II. Para enriquecer a sua pesquisa, o autor fez recurso aos arquivos do Istituto per le Scienze Religiose di Bologna, um dos mais importantes centros de estudos sobre o Vaticano II, além de dois outros acervos fundamentais: da Biblioteca Obra Social Redentorista de Pesquisa Religiosa (FVATII/SP) e da cúria de Diamantina (arquivos privados de Dom Sigaud).

A intenção de Rodrigo Coppe era ainda mais abrangente, visando abarcar a ação desses dois bispos brasileiros no pós-concílio. A riqueza e complexidade do material encontrado sobre essa atuação no Concílio acabou mudando o ritmo da proposta, de forma a concentrar o trabalho na dinâmica da formação do catolicismo antimoderno no Brasil e o exercício das lutas simbólico-normativas no próprio concílio…”

Sumário do livro

Prefácio
Introdução

Parte I: O pré-Vaticano II e as forças católicas conservadoras
Capítulo 1: Gênese do pensamento católico antimoderno
Capítulo 2: A dogmática antimoderna: notas terminológicas
Capítulo 3: O mundo e a Igreja pré-conciliar: a herança complexa
Capítulo 4: A formação de um catolicismo antimoderno no Brasil

Parte II: O Concílio Vaticano II: campo de lutas simbólico-normativas
Capítulo 5: João XXIII e a ideia de um concílio
Capítulo 6: O primeiro período: aglutinação e reorganização de tendências
Capítulo 7: O segundo período: a maioria conciliar assume o controle
Capítulo 8: O terceiro período: o coetus ex officio e sua logística
Capítulo 9: O quarto período: últimos movimentos

Conclusão
Referências
Anexos

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1 comentário em “O conservadorismo católico brasileiro no Vaticano II”

  1. Professor Ayrton,
    Prezados,

    entre os dias 27 e 28 de junho de 2011 estive com os senhores proferindo duas palestras: "Caminhos da Igreja rumo ao Concílio Vaticano II" e "Um Bispo no Concílio vaticano II: D. Geraldo de Proença Sigaud e o Coetus Internationalis Patrum". Verifiquei entre minha documentação que não recebi o certificado do CEARP da segunda palestra. Necessito urgentemente deste documento para comprovação de currículo para concurso que presto neste semana. Peço, por gentileza, que me enviem brevemente este documento para que possa comprovar esta importante palestra que conferi.
    Agradeço desde já.

    Atenciosamente,

    Prof. Rodrigo Coppe Caldeira
    PUC Minas

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