SOTER 2011: Religião e Educação para a Cidadania

A SOTER – Sociedade de Teologia e Ciências da Religião – comunica que seu 24º Congresso Anual terá como tema Religião e Educação para a Cidadania e será realizado na PUC-Minas, em Belo Horizonte, de 11 a 14 de julho de 2011.

Diz a página do Congresso:

O 24º Congresso Anual da SOTER terá como tema Religião e Educação para a Cidadania, e ocorrerá entre os dias 11 e 14 de julho de 2011, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), em Belo Horizonte – MG. Evento tradicional da área, com reconhecimento nacional e internacional, recebeu da Capes, em 2008, a avaliação Qualis “A”. Prova dessa repercussão são a tradução para o espanhol de alguns Anais de nossos Congressos e a constante presença de um membro da Diretoria nacional da SOTER na vice-presidência da INSeCT (“Rede Internacional de Sociedades Católicas de Teologia”, com sede jurídica na Alemanha). Visto que todo ano há um aumento de participantes, a expectativa de presença para 2011 é de 250 sócios, além de cerca de 250 pesquisadores da área, num total de 500 participantes. Dando prosseguimento às discussões dos congressos anteriores, cuja preocupação tem sido o papel das religiões nos distintos aspectos de nossa sociedade, o congresso deste ano pretende mostrar a relação entre Religião, Educação e Cidadania, numa abordagem multidisciplinar, tão necessária hoje para a teologia e as ciências da religião.

Mais detalhes na página do Congresso.

Jornada Teológica da América Central e do Caribe

Realizou-se, na semana passada, a Jornada Teológica da América Central e do Caribe, na Guatemala. Trata-se da primeira Jornada Regional que prepara a realização do Congresso Continental de Teologia a ser realizado de 08 a 11 de outubro de 2012, em São Leopoldo, RS.

Guillermo Meléndez, do Departamento Ecumênico de Investigação (DEI), coordenador regional de Amerindia Centro América e Conrado San Jur, da Coordenação Nacional Cristã Héctor Gallego, do Panamá, fazem uma primeira avaliação do evento, em entrevista concedida à Federación Guatemalteca de Escuelas Radiofónicas – FGER, e publicada por Adital em 02/05/2011.

Para uma agenda teológica 2011-2013 do FMTL

Agenda planetária para a teologia para os próximos anos

A Comissão Teológica da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo – ASETT/EATWOT irá participar da Assembleia do Fórum Mundial de Teologia e Libertação – FMTL, entre os dias 9 a 10 de fevereiro, em Dakar, no Senegal.

Sua participação visará elaborar uma agenda para a teologia em nível global pelos próximos dois anos. Publicamos aqui o documento da Comissão Teológica da EATWOT como uma contribuição para um ponto de partida para a discussão. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Para uma agenda teológica 2011-2013 do Fórum Mundial de Teologia e Libertação

Seminário Teológico do FMTL 2001

Coconstruindo uma Agenda Planetária para a Teologia para os próximos (dois?) anos

1. Introdução

Esta é uma atividade do FMTL:
(Tentando demarcar o “Seminário de Elaboração Teológica” nos objetivos do FMTL)

– O objetivo deste seminário do FMTL, realizando no contexto do Fórum Social Mundial – FSM, âmbito privilegiado único para a teologia, é elaborar uma “agenda” para a teologia em seu nível planetário. Não estamos defendendo nossas próprias prioridades locais ou regionais para colocá-las nessa agenda global da teologia. Trazendo nossas visões locais sobre o global, queremos programar-sugerir uma agenda teológica global. Damos por suposto que as agendas locais e regionais permanecem.

– Devemos esclarecer se essa agenda teológica do FMTL deve ser pensada em função das comunidades de fé e de pertença religiosa (cristãs e não cristãs), ou em função de uma teologia com responsabilidade macroecumênica, inter-religiosa, suprarregional… planetária e “axial”… Ou combinando as duas responsabilidades… Em todo caso, como o FMTL, nosso trabalho teológico quer ser multirreligioso por princípio, embora, de fato, ainda nos falte muito para a realização dessa dimensão (um desafio a ser estudado em Dakar).

– Estamos pensando não em uma “agenda teológica do FMTL” única e vinculante, mas sim em um conjunto amplo de prioridades temáticas e de propostas operativas (consultas teológicas, colaborações interinstitucionais, publicações coletivas…), assumidas como patrocinadas pelo FMTL, como a sua contribuição para fazer avançar nossas teologias no nível planetário nos próximos (dois?) anos, no que consideraríamos as fronteiras teológicas mais urgentes. Não pretendemos que todos trabalhemos em todos os temas.

– Não temos nem buscamos uma linguagem comum, uma única categorização universal, impossível epistemologicamente. Buscamos uma plataforma ampla, na qual, com linguagens e jogos de categorias diferentes, possamos nos entender, dialogar e, incorporando as diferenças, colaborar em algumas prioridades assumidas como comuns.

Esquema sobre o qual localizamos essas ideias:

O FMTL não fala para nem em nome de todas as teologias, mas sim a partir de e para as “teologias libertadoras contextuais que trabalham por `outro mundo possível`”. Queremos tomar essa constatação precisamente como o esquema de pensamento sobre o qual ordenaremos nossa proposta:

– Teologias LIBERTADORAS: impulsionadas pelo “princípio-libertação”
que concebem a realidade como história
como processo utópico-libertador
a partir da opção pelos pobres (que inclui muitas diferentes “pobrezas”).

– Teologias CONTEXTUAIS:
que, encarnadas em seus contextos locais, partem da realidade
e que voltam a ela com um compromisso militante
de práxis de transformação histórica, tanto local como global.

– Teologias DO OUTRO MUNDO POSSÍVEL, que nós chamaremos de AXIAIS, isto é, aquelas…
que reconhecem seu centro de gravidade mais do lado do futuro do que do passado,
que assumem já conscientemente que estamos em um tempo axial de rupturas e de novas dimensões,
e que tentam construir realmente a outra teologia possível, em meio aos tsunamis culturais e paradigmáticos que viemos experimentando.

Vamos estruturar nossa proposta a partir desse mesmo esquema tripartido, sobre essas três dimensões de nossa teologia, por motivos de simplicidade e clareza, e só como um modesto ponto de partida para o debate coletivo.

1. Prioridades para uma agenda de trabalho das Teologias da Libertação para os próximos (dois?) anos, esquematizada em três dimensões (libertação, contextualidade e axialidade)

• Na dimensão libertadora

Cremos que, apesar da juventude da nossa teologia libertadora, sua consistência, seu sentido, suas propostas fundamentais alcançaram maturidade há várias décadas e, apesar dos maus tempos que correm, se mantêm firmes e não estão em perigo. O fundamento da teologia libertadora, o “princípio-libertação”, goza de boa saúde e não é motivo de preocupação em si mesmo neste momento. Seria, no entanto, necessário confirmar nossos fundamentos clássicos com as novas propostas acadêmicas em matéria de filosofia política e sociologia, que propõem, há já muito tempo, uma reconsideração da política precisamente em torno à “ideia de Justiça” (Rawls, Sen)? Não deveríamos estar presentes intensivamente nesse debate? Deveríamos, assim mesmo, incorporar esses atuais avanços em uma versão renovada da próprio fundamentação de nossas Teologias da Libertação, para que possam dialogar com essa corrente tão importante e atual?

Em nível da prática diária, o que mais urge a nossa atenção de acompanhamento é a crise econômica mundial. Devemos denunciar com mais energia profética e mais penetração teórica econômica a “pressão” que a dominação econômica, nas mãos das grandes multinacionais e do sistema econômico global, dos eufemisticamente chamados “mercados”, está fazendo sobre os pobres e as classes médias, em meio a uma hegemonia cultural que conseguiu impor com os meios de comunicação a seu serviço, apresentando-se como um sacrifício inevitável e benéfico para a humanidade.

Como Teologias da Libertação, temos a obrigação de desafiar essa hegemonia cultural neoliberal que submete os pobres e de acompanhar mais de perto e mais eficazmente as iniciativas e movimentos populares e inclusive governamentais que resistem atualmente (na América Latina, concretamente, vivemos isso na ALBA e no movimento bolivariano). Talvez necessitamos revisitar teologicamente o tema das fronteiras e vínculos entre fé e política, e da nossa relação com as mediações civis e políticas para “o outro mundo possível” – e para o Reino – que já se dão autonomamente na sociedade, diante das quais não podemos ficar passivamente à margem.

Em um campo mais teórico, necessitam atenção urgente o encontro, o cruzamento, a reelaboração da dimensão libertadora da teologia, do “princípio-libertação”, nos novos paradigmas da atual “época axial” que atravessamos, para ir preparando a teologia libertadora própria da nova época, a teologia de uma libertação holística que seja realmente axial ou pós-axial. Essa releitura, que já está iniciada, deveria, sim, ser incorporada à nossa agenda operativa para esses próximos anos. Não podemos viver da renda de uma teologia libertadora cujos fundamentos teóricos foram estabelecidos em um tempo que já não é atual e que demanda essas novas abordagens e cruzamentos.

• Na dimensão contextual

A dimensão contextual da nossa teologia a reveste de rostos e urgências plurais, conforme a irredutível variedade dos diferentes lugares geográficos, sociais e humanos nos quais nos movemos. Nesse nível, é cada teologia que sente melhor as urgências próprias de seu contexto e, portanto, sua agenda operativa local ou regional.

Diante de uma agenda global, o FSM é um lugar ideal para perceber as urgências maiores do nosso contexto em nível planetário. Nesse seminário, podemos discerni-las e escolher consensualmente as que nos pareçam prioritárias entre as quais percebemos no FSM. Nós só sugeriríamos, só como um ponto de partida para o debate, se forem aceitas, estas prioridades:

as vítimas da crise econômica mundial,
as vítimas (humanas ou não) do adveniente desastre climático (a Terra, a água, a comunidade da vida, a humanidade, o patrimônio cultural e espiritual acumulado…),
as vítimas dos conflitos interculturais e inter-religiosos do choque de civilizações…
as vítimas das guerras e das armas.

• Na dimensão axial (teologias “do outro mundo possível”)

Depois de quase 50 anos de teologias libertadoras e 10 anos do Fórum Social Mundial, cremos que há suficiente clareza para dar um impulso notável a essa terceira dimensão, sobre cujo eixo o horizonte vem se curvando há tempos. O “outro mundo possível” não é só o que, com o nosso esforço, queremos construir. É também uma transformação cultural radical que estamos experimentando, como resultado de um concurso de forças que não conhecemos nem poderíamos controlar, um verdadeiro tsunami cultural.

Estamos – como vêm anunciando os melhores observadores – em um “tempo axial”, em uma transformação que contorna a realidade sobre um eixo cuja exploração pode nos ajudar a nos ajustar ao seu movimento na nova dimensão. Só entrando decididamente nessa consciência de axialidade, poderemos ajudar a construir o outro mundo possível e sua teologia correspondente, a “outra teologia possível”. Como teólogos/as, homens e mulheres especialmente voltados para a amplitude maior do horizonte do futuro, necessitamos optar mais decididamente por esse tempo novo que já vivemos e, como FMTL, tomar consciência de seu caráter verdadeiramente “axial” e dar prioridade nessa segunda década de FMTL-FSM a acompanhar e ajudar nessa transformação axial, com todas as transformações e rupturas que sejam necessárias, que propomos agrupar aqui em quatro núcleos paradigmáticos:

– O paradigma de gênero

Acompanha as teologias libertadoras desde o princípio, fazendo-se presente nos movimentos e teologias feministas (e também wumanista, mujerista, a teologia das mulheres africanas, das asiáticas e outras), com um conjunto de ferramentas peculiares (como a categoria de análise “gênero”, que se converteu em um instrumento de referência obrigatório para toda teologia) e um leque de desenvolvimentos temáticos que foram aprofundando e enriquecendo notavelmente a sua proposta sobre a corporalidade, a sexualidade, as orientações sexuais, o racismo, o etnorracismo, a violência de gênero, a marginalização da mulher, a feminilização da pobreza, o cruzamento ecofeminismo etc. Pode-se dizer que, há várias décadas, trata-se de um dos filões mais eficientes e ativos dentre o conjunto dos movimentos das teologias da libertação. Não se trata de um campo temático sectorial (teologias “de genitivo”), mas sim uma perspectiva de teologia fundamental, que implica em uma transformação transversal de todo o campo teológico e uma afetação global à vida: da prática mais cotidiana até a própria imagem de Deus e outros símbolos religiosos, tudo é transformado por essa nova perspectiva superadora do patriarcalismo, do kyrialismo, do racionalismo desengajado do oikos multirrelacional e holístico do qual, equivocadamente, nos separamos em algum momento da nossa história ancestral.

Embora essa perspectiva e a Causa que a move não sejam “assunto de mulheres”, mas sim uma realidade profundamente humana e humanizadora, e embora não é preciso ser mulher para sentir a necessidade urgente de assumir decididamente essa Causa, cremos que são principalmente os agrupamentos específicos nessa linha teológica, presentes neste Fórum, que com melhor conhecimento de causa poderão nos propor as prioridades (tanto em conteúdos temáticos como em enfoques hermenêuticos) que deveríamos assumir para a agenda teológica global que pretendemos elaborar neste FMTL.

E isso não só porque elas são especialistas em teologia feminista, mas também porque são as mulheres que mais sofrem na própria carne o sexismo e porque, como teologias da libertação, não só queremos falar em favor dos pobres, mas também acolher em nossa teologia as vozes das pessoas às quais a opressão silencia.

– O paradigma pluralista

O inclusivismo atualmente hegemônico nas Igrejas e nas teologias não é mais do que uma forma de exclusivismo atemperado. Necessitamos terminar de cruzar a ponte e passar para o novo território emergente, o “pluralismo de princípio”. Nossas religiões foram elaboradas em um tempo em que era possível o exclusivismo, a absoluticidade e a unicidade de cada religião.

Esse tempo acabou, embora as religiões se empenhem em prolongá-lo, com a cumplicidade das teologias que ainda não despertaram. O passo que foi dado do exclusivismo ao inclusivismo não resolve os problemas, só os posterga. É hora de reconstruir toda a nossa teologia sobre a evidência do “pluralismo de princípio”, o fim do mito da superioridade religiosa de princípio e o deslocamento do horizonte para uma “religação profunda”, que nos situa para além dos exclusivismos e inclusivismos históricos.

Porém, a maior parte das nossas teologias são confessionais, inclusivistas e não poucas vezes criptoexclusivistas; não estão preparadas para dialogar e colaborar/intercambiar com as outras religiões em pé de igualdade; não exploram a possibilidade de fazer teologia a partir de uma responsabilização planetária inter-religiosa, única forma de possibilitar a convivência fraterna das religiões e uma aliança de todas elas em favor da Paz e do Bem Comum da Humanidade e do Planeta.

Só uma teologia assim, axialmente “pluralista”, que abandone definitivamente os exclusivismos, as superioridades, as autoatribuições de unicidade e absoluticidade, e a consequente visão proselitista do mundo… poderá ser teologia “axial”, do novo tempo, uma teologia que assuma lucidamente os eixos em torno dos quais o mundo atual já está girando e se abrindo a outro tipo de consciência. Reconverter toda a teologia tradicional a partir da nova perspectiva pluralista poderia ser uma tarefa prioritária na qual muitos de nós poderíamos nos propor a convergir nestes (dois?) próximos anos.

E embora se saia da nossa área estritamente teológica, deveríamos nos perguntar se o FMTL poderia estudar a possibilidade de propiciar um Fórum Macroecumênico das religiões e tradições espirituais, para unir no dar resposta à urgência climática e econômica atual.

– O paradigma ecológico

Uma boa parte das nossas teologias continuam se movimentando no imaginário elaborado pelos relatos míticos religiosos da “história da salvação (humana)”, revelada nos últimos quatro milênios, ignorando o que hoje sabemos sobre os 13,7 bilhões de anos de história cósmica deste universo. Boa parte das nossas teologias ainda continuam sendo dualistas, imaginando que estão diante de um segundo piso superior, sobrenatural, divino, eterno… para o qual é preciso viver, frente a este piso inferior em que estamos, natural, maligno e tentador, efêmero, simples despensa material de recursos utilizáveis.

Certas teologias continuam falando – às vezes um pouco pudorosamente – de uma salvação pós-mortal celestial do ser humano, como se esse fosse o objetivo único da vida humana. Segue sendo uma teologia antropocêntrica, que nos confina em nosso software particular, desengajando-nos e alienando-nos com relação à Terra e o cosmos.

Nossa teologia não deixará de legitimar a destruição da natureza enquanto não mudar sua visão. Não deixaremos de destruir a natureza enquanto não adquirirmos a convicção religiosa de que somos parte dela.

A maior parte das nossas religiões e teologias ainda mantem o divino e o sagrado confinados na chamada “transcendência”, concebendo a Deus como “theos”, como um “Senhor” aí fora, aí em cima, deixando este mundo privado de divindade, e até de sacralidade, e sedento de reencantamento.

O planeta se confronta com a sexta extinção massiva da vida. Agora, não por um asteroide, mas sim pelo próprio ser humano. Com o seu sistema de vida, ele se converteu de fato em uma força geológica destruidora da biodiversidade em um ritmo mil vezes maior do que antes da aparição do ser humano. Com a contaminação atmosférica, estamos provocando um aquecimento planetário – já quase com segurança – maior do que os 3ºC considerados o limite cuja transgressão desencadeará um caos irreversível que extinguirá massivamente a vida e a própria humanidade. E nossas religiões e teologias, que não denunciaram essa orientação suicida durante os séculos passados, ainda hoje se mostram reticentes, lentas para assumir essa urgência de vida ou morte, que já cobra anualmente centenas de milhares de vítimas, que dentro de 20 anos se calcula que chegarão a um milhão.

Grande parte da teologia ainda pensa que o ecológico é importante, mas que só seria um capítulo adicional a ser encaixado no velho esquema de pensamento, o mesmo que nos levou ao ecocídio atual. Falta-nos desenvolver essa teologia com bases novas que já iniciamos; uma teologia oikocentrada, que rompa com a velha distinção entre o natural e o “sobrenatural”, e que descarte a ideia estritamente transcendente da divindade que dessacraliza e despoja a natureza da dimensão divina; uma teologia que dialogue com a “ecologia profunda” e deixe de entender antropocêntricamente a realidade como “história de salvação da humanidade” e se oriente para um oikocentrismo… Isto é, uma teologia axialmente nova, concebida a partir desses novos eixos.

Deveríamos concordar em introduzir em nossa agenda teológica imediata essa prioridade urgentíssima de desenvolver essa teologia já iniciada. As teologias indígenas e feministas têm muito a dizer e a contribuir nesse campo.

– O paradigma pós-religional

Já se tornou lugar comum, inclusive na sociedade civil, a crise da religião que já alcança meio planeta, enquanto na outra metade uma reviviscência religiosa explode em novas Igrejas, religiões, espiritualidades sincréticas e uma avalanche neopentecostal… De qual dessas duas metades da humanidade será o futuro?

Os dados tão contraditórios que observamos possibilitam os diagnósticos mais díspares. Mas, levantando o olhar para ver o trecho mais amplo possível do rio da história, parece que, apesar de todos os meandros e redemoinhos, o rio como conjunto encaminha as suas águas para uma única direção global… As populações que saem da pobreza e têm acesso à educação e à cultura urbana moderna logo se ressentem em sua religiosidade tradicional.

Contando como nunca com o apoio de um amplo espectro de ciências da religião, se submetem a novo escrutínio natureza e a origem da religião e seus mecanismos de funcionamento; ela já não é considerada gratuitamente como o conhecimento privilegiado e o instrumento de espiritualidade preferencial o único como sempre se considerou; distingue-se cada vez com mais frequência entre religião e espiritualidade, e se estende por todo o lugar a tese de que as “religiões” – não a religiosidade, não a “religação” – são também construção humana, datada no tempo da revolução agrária, de matriz rural e com possível data de caducidade, ligada ao desaparecimento dessa mesma época agrária, desaparecimento que muitos analistas acreditam estar ocorrendo em nossa atualidade. A espiritualidade, a religiosidade, a “religação” é essencial ao ser humano; as religiões, as formas concretas que essa religação assumiu na época agrária, não o são, podem se transformar radicalmente ou até desaparecer.

Essa visão já está presente em muitos ambientes culturais e nas prospecções antropológicas civis de nossas sociedades. Não está no campo de visão das instituições religiosas, nem das massas populares com menor acesso à educação. Trata-se de um dos desafios maiores, nos quais se põe em jogo quase tudo pelo todo das religiões. Impõe-se a urgência de reavaliar a religião (uma nova reflexão teológica sobre a religião, uma nova “teologia da religião”), de estudar a fundo a possibilidade de sua anunciada superação (rumo a um ser humano arreligioso ou suprarreligional?) e de dar efetivamente “prioridade à religião sobre a religião”, pondo a teologia efetivamente a serviço da religação, não das religiões, como objetivo último.

Toda essa problemática (que chamaremos de “pós-religional”, para não dizer pós-religiosa, já que as pessoas não perdem sua dimensão religiosa profunda quando abandonam os modos das religiões) inclui, entre seus múltiplos conteúdos, a reavaliação do teísmo. Tido por indubitável e imprescindível em boa parte das tradições, hoje ele diminui a sua qualificação epistemológica, não sem que intervenha nisso a convivência agora muito próximo entre religiões teístas e não teístas. O eclipse de Deus e a crise da religião adquiriram já dimensões epocais na Europa e no Primeiro Mundo em geral, mas, nos outros continentes, muitos setores também começam a senti-las, mesmo em meio da efervescência neopentecostal. Não deveríamos nos propor já essa necessidade dessa nova reflexão sobre a própria religião, a urgência de uma releitura e reconversão do religioso ao “pós-religional” (a espiritualidade além das religiões)?

Nesse desafio, a experiência europeia nos parece ser um verdadeiro “lugar teológico”. Sua exposição neste mesmo seminário sobre a “crise da religião” e a “crise de Deus” expressa melhor e confirma essa problemática. Sem dúvida, os teólogos/as europeus/ias têm muito a contribuir com todos nós nesse aspecto.

– O paradigma epistemológico

O ser humano está mudando nessa dimensão tão sutil e difícil de perceber: muda a sua forma de conhecer, seus pressupostos acríticos, postulados e axiomas milenares nos quais se fundamentava sem saber, os modos de inferência até agora utilizados e as forças e dimensões neles implicadas. Uma revolução epistemológica que afeta todo o conhecimento e, mediante ele, todo o resto.

Durante muito tempo, estivemos instalados em um cômodo “realismo ingênuo”, que postulava a adaequatio rei et intellectus, uma correspondência direta entre o que pensamos ou expressamos e a realidade. Interpretamos de forma literal as crenças que os mitos religiosos veiculam, como se estes fossem descritivos da realidade, porque teriam sido revelados de fora por uma autoridade absoluta… Mantivemos laços muito estreitos com a metafísica, o racionalismo e o substancialismo, à margem do evolutivo, do caótico e do processual.

O novo paradigma epistemológico considera que o nosso conhecimento não descreve a realidade, mas sim simplesmente a modela, e que o conhecimento religioso também é construção humana, elaborado com base em metáforas aproximativas, que com o tempo se tornam obsoletas e até prejudiciais… Assistimos há muito tempo a dissolução da metafísica, o que significa uma crise radical de fundamentos, sobretudo para a teologia cristã tradicional.

Como outrora e em outro sentido Kant pediu, o novo paradigma nos pede para “despertar do sonho dogmático religioso” que até agora sonhávamos. Estamos passando do paradigma metafísico e dogmático para o paradigma epistemológico e hermenêutico. O mundo religioso tradicional de crenças religiosas veiculadas por mitos tidos como literalmente certos desaparece. A epistemologia realista, ingênua, acrítica, mítica, vai se tornando impossível na nova sociedade de conhecimento para a qual avançamos.

Em não poucos lugares do planeta, está sendo experimentada uma ruptura na transmissão das religiões: novas religiões sentem-se incapazes de aceitar o legado de seus mais velhos. A religião já não vai poder consistir em “crer”, em “submeter-se” à revelação vinda de fora, nem em aceitar verdades ou doutrinas… Talvez vamos rumo a uma religião sem verdades, sem doutrinas, reduzida à sua essência: a “religação”, a espiritualidade… Tudo o que foi milenarmente elaborado e expressado mediante aquela epistemologia ancestral precisa ser reformulado.

O pluralismo cultural e religioso crescente de nossas sociedades acrescenta uma nova dimensão à nova perspectiva epistemológica: a interculturalidade. Tornamo-nos conscientes da limitação de toda tradição cultural, assim como da necessidade de compensar sua atávica tendência centrípeta exclusivista. Acabou-se o mundo da uniculturalidade, imposta ou hegemônica. Devemos passar definitivamente para a interculturalidade ou para a multiculturalidade… Há como encontrar um campo (categorias, linguagem, epistemologia…) comum em que possamos nos encontrar para dialogar, para teologizar e para a práxis histórica de libertação?

As novas ciências, principalmente a quântica, a cosmológica e as ciências da mente, continuam difundindo-se irrefreavelmente na opinião pública e nos meios de comunicação, inclusive em setores que pareceria que as preocupações das pessoas são mais primárias e elementares… Muitas das perguntas religiosa clássicas agora parecem ter a ver mais com essas novas ciências do que com a religião. Muitas pessoas, diariamente, optam por confiar o sentido de sua vida mais à nova ciência do que à religião. Faz-se necessária uma reformulação da teologia em diálogo com a ciência. É um tema candente e uma prioridade inadiável.

Uma revolução epistemológica se assoma, urgindo-nos, pois, a uma reavaliação das seguranças de objetividade que acreditávamos ter em religião e a uma reinterpretação da religião mais claramente como religação, liberta de verdades, doutrinas, dogmas, morais, cânones, institucionalizações… Uma mudança verdadeiramente axial. Não é um bom momento para nos propormos a enfrentá-la em nível global?

Sem dúvida, há muitos outros enfoques possíveis, muitas outras categorizações e também muitas outras visões locais sobre as prioridades globais, razão pela qual esta proposta poderá ser complementada e corrigida. Da EATWOT/ASETT, com toda modéstia, oferecemos essa nossa visão, para o debate no FMTL, tal como nos foi solicitado.

2. Elaboração de propostas operativas para a nossa “agenda teológica 2011-2013”.

Sugerimos dois passos talvez simultâneos:

A. Escolher neste seminário as prioridades temáticas que irão constitui nossa agenda teológica em nível de FMTL – que não é o único nível de nossas agendas teológicas. Fazer isso mediante debate em grupos tanto linguísticos quanto geográficos ou regionais, ou segundo algum outro critério oportuno. Fazer uma eleição realista: não um elenco de todas as prioridades que nos preocupam e que não deveriam faltar em uma “Summa” da teologia da libertação, mas sim uma seleção realista, limitada a um número manejável de projetos temáticos que possam ser realizados adequadamente nos (dois?) próximos anos (até um próximo FMTL?) nesse âmbito ou nível planetário que, pela primeira vez, queremos organizar a partir de um FMTL.

B. Decidir uma metodologia para a realização dessa “agenda teológica”. Adiantamos essa proposta de metodologia, como um simples ponto de partida para o debate:

– Neste Seminário do FMTL, talvez só poderemos debater e escolher algumas poucas prioridades e orientações metodológicas com as quais trabalharemos nessa primeira experiência de uma “agenda teológica do FMTL”.

– O Secretário Permanente do FMTL, talvez ajudado por alguns representantes escolhidos, poderia ficar alguns dias mais em Dakar para dar forma adequada a essa proposta de agenda, que poderia incluir e detalhar:

as prioridades escolhidas como linhas de ação;
as linhas de investigação que poderiam ser postas em marcha;
as Consultas temáticas que poderiam ser realizadas em nível local, regional e/ou internacional;
as publicações (livros, revistas monográficas, congressos ou eventos) oportunos…

O FMTL tornaria pública imediatamente a agenda em sua versão final.

– Poderíamos dar um prazo de um mês – ou talvez mais – para que instituições teológicas acadêmicas possam estudar a proposta e considerar seu envolvimento ativo, assumindo algumas iniciativas da agenda, comprometendo-se a realizá-las ou liderá-las em algum de seus níveis (local, regional, internacional/mundial). O Secretariado acolheria as eventuais iniciativas e faria o serviço de dar orientações úteis para sua melhor coordenação. Poderia ser, por exemplo, para cada projeto temático, desta maneira:

– Estabelecer um “período de exploração e provocação”, convidando entidades acadêmicas e organizações-associações teológicas maiores a publicar tomadas de posição ou alguma “declaração de princípios básicos” com relação ao tema.

– Realizar em uma segunda etapa algumas “Consultas teológicas”, seja a cargo das instituições que que tenham se oferecido a assumir a ideia ou a cargo do próprio FMTL (principalmente alguma de nível internacional ou mundial ou alguma que não tenha sido assumida por entidades particulares), sobre cada temática, oportunamente publicada.

– Propiciar, em seguida, um tempo para a participação mais ampla possível nessa investigação e reflexão, mediante a produção de livros coletivos e/ou números monográficos de revistas internacionais (livros e revistas que obrigatoriamente deveriam ter uma versão em formato digital ao alcance gratuito de todos – teólogos, inclusive estudantes, público em geral –, acolhendo em suas páginas a participação seccionada por concurso a participação mais ampla possível.

– O Secretariado poderia assumir a animação e a coordenação da realização dessas tarefas, tentando fazer com que elas cheguem a um desenvolvimento aceitável antes do próximo FMTL.

Necessitamos que algumas instituições maiores, associações continentais ou mundiais, Universidades, meios de comunicação teológica (revistas) e Agências financiadoras… apoiem concretamente a realização do programa da agenda teológica para os próximos (dois?) anos. E todos/as ficaríamos convidados a fazer com que nosso trabalho teológico convirja nessa agenda global, sem descuidar de nossas agendas teológicas de nível local ou regional, às quais aqui não nos referimos, mas que continuam sob a nossa consideração local e regional.

A EATWOT, desde já, se adianta a pôr ao serviço da comunidade teológica internacional e oferece seus vários projetos e plataformas para ajudar a desenvolver essa metodologia.

José María Vigil
Comissão Teológica Internacional da EATWOT/ASETT

Fonte: IHU On-Line: 09/01/2011

Sobre o Congresso Continental de Teologia em 2012

Leio no Blog do IHU em 17 de novembro de 2010: Adital e IHU discutindo o Congresso Continental de Teologia

Leia também em Notícias: IHU On-Line, de 27/08/2010: Congresso Latino-Americano de Teologia: uma análise da situação sociorreligiosa-eclesial atual. Entrevista especial com Agenor Brighenti

O ano de 2012 é significativo para a Igreja na América Latina. “São os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II, pelo Papa João XXIII (11 de outubro de 1962) e os 40 anos da publicação da obra de Gustavo Gutiérrez [1], Teología de la liberación. Perspectivas (Lima: Centro de Estudios y Publicaciones, 1971) , que inaugura a rica trajetória da teologia em nosso Continente”, explica Agenor Brighenti durante a entrevista que concedeu à IHU On-Line, por email. É por isso que acontece em 2012 o Congresso Continental de Teologia com o objetivo de analisar a situação sociorreligiosa-eclesial atual do continente.

“A definição do local foi fruto de um longo e difícil discernimento. Dado o momento eclesial que vivemos, sobretudo da Igreja Católica, não é em qualquer país que é possível realizar um evento com a agenda e a metodologia do Congresso”, justifica Brighenti. Foi por este motivo que o Brasil e, mais precisamente o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, sediará o evento. “A academia precisa de autonomia para pensar e de liberdade para criar, o que nem sempre, infelizmente, estão presentes em muitos espaços eclesiais nos diferentes países do Continente”, disse.

Agenor Brighenti é licenciado em Filosofia e graduado em Teologia pela Universidade do Sul de Santa Catarina. É especialista em Pastoral Social e Planejamento Pastoral pelo Instituto Teológico-Pastoral do Celam e doutor em Ciências Teológicas e Religiosas pela Universidade Católica de Louvain (Bélgica). Atualmente, é professor no Programa de Pós-graduação em Teologia da PUC-Paraná.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Em que contexto eclesial se dará o Congresso Continental de Teologia?

Agenor Brighenti – A V Conferência dos Bispos da América Latina, realizada em Aparecida do Norte no ano de 2007, deu um novo impulso à tradição latino-americana, tecida em torno à “recepção criativa” do Concílio Vaticano II. Sem dúvida, o principal avanço de Aparecida foi muito mais do que ter evitado um retrocesso, na perspectiva do atual processo de “involução eclesial” no seio do catolicismo, que vem desde os anos 1980. Este momento resgatou o Vaticano II em suas intuições básicas e eixos fundamentais, assim como o “rosto latino-americano”, plasmado em torno às Conferências anteriores.

Diante deste momento novo na Igreja, pareceu bem à Ameríndia convidar outros segmentos e instâncias da Igreja no Continente e juntar esforços na convocação de um Congresso Continental de Teologia. É um momento oportuno para mobilizar a comunidade teológica ligada à teologia latino-americana da libertação, depois de anos particularmente difíceis, marcado por tensões, desencanto, falta de perspectivas, dispersão e inclusive por certa desmobilização dos teólogos e teólogas.

A decisão de realizar este Congresso Continental de Teologia no ano de 2012 deve-se ao fato de ser um ano muito significativo para a igreja na América Latina. São os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II, pelo Papa João XXIII (11 de outubro de 1962) e os 40 anos da publicação da obra de Gustavo Gutiérrez, Teología de la liberación. Perspectivas (Lima: Centro de Estudios y Publicaciones, 1971), que inaugura a rica trajetória da teologia em nosso Continente.

Estes dois referenciais comemorativos dão a ótica do evento: reler, desde o novo contexto em que vivemos, a tradição latino-americana, tecida em torno da “recepção criativa” do Vaticano II, das práticas das comunidades eclesiais inseridas num contexto de injustiça social, da centralidade da Palavra e da leitura popular da Bíblia; também em torno da opção pelos pobres, do testemunho dos mártires das causas sociais e de nossa peculiar reflexão teológica, em perspectiva libertadora.

IHU On-Line – O senhor pode nos explicar o que é esse Congresso? Quais são os principais objetivos dele?

Agenor Brighenti – A finalidade primeira do Congresso não é fazer balanço da trajetória da teologia na América Latina. Em grande medida, esta difícil e importante tarefa já foi feita em diversos congressos nacionais e internacionais, nos últimos anos. O que mais urge na atualidade é voltar nosso olhar para o futuro, ousar olhar longe e, portanto, a oportunidade de um congresso prospectivo. É importante que se pergunte sobre os desafios e tarefas futuras da teologia na América Latina, desde nosso novo contexto cultural, social, político, econômico, ecológico, religioso e eclesial, globalizado e excludente.

Para isso, o Congresso Continental de 2012 quer propiciar uma análise da situação sociorreligiosa-eclesial no momento atual, para que, a partir da identificação dos novos desafios, a Inteligência da fé não perca de vista o “real da realidade” de nossos povos e continue sendo instância retroalimentadora das comunidades eclesiais, inseridas no mundo em perspectiva libertadora.

IHU On-Line – Quais são as respostas que o Vaticano tem dado às questões da América Latina?

Agenor Brighenti – A tradição latino-americana é herdeira do Vaticano II. Mais do que “ponto de chegada”, o Vaticano II para a Igreja na América Latina foi um “ponto de partida”. Em suas inovações, a Igreja da América Latina não rompe com o Concílio, apenas faz desdobramentos de suas intuições básicas e eixos fundamentais. O Vaticano II continua inspirando nossa Igreja e respondendo a nossos desafios. Como ilustração disso, podemos fazer menção às raízes de alguns dos traços do rosto próprio de nossa Igreja.

Por exemplo:

a) o Concílio concebe a Igreja como Povo de Deus, a comunidade dos batizados, na comunhão da radical igualdade em dignidade de todos os ministérios; para a Igreja na América Latina, só há Igreja-comunidade em pequenas comunidades e a forma mais adequada de se fazer uma real vivência da fraternidade cristã é no seio de comunidades eclesiais de base, inseridas profeticamente no mundo;

b) o Vaticano II, ao afirmar a base laical da Igreja, fundada no tríplice ministério da Palavra, da Liturgia e da Caridade, faz da comunidade dos fiéis o sujeito eclesial; Medellín verá a Igreja, toda ela e em cada um de seus membros, sem distinção, como os sujeitos da missão evangelizadora;

c) o Vaticano II, na perspectiva de João XXIII, propõe “uma Igreja dos pobres para ser a Igreja de todos”; para Medellín não basta uma Igreja “dos pobres”, é preciso uma “Igreja pobre”, solidária com sua situação e comprometida com sua causa, de um mundo onde caibam todos;

d) o Vaticano II, rompendo com uma fé metafísica e abstrata, fala de Deus e partir do ser humano e busca servir a Deus, servindo o ser humano; para a Igreja na América Latina, optar pelo ser humano, dado o contexto marcado por escandalosa exclusão da maioria, que são os preferidos de Deus, significa optar antes pelos pobres, pois se trata de promover a fraternidade de todo o gênero humano;

e) o Vaticano II, superando o eclesiocentrismo, afirma que a Igreja, ainda sem ser deste mundo, está no mundo, existe para ser mediação de salvação do mundo e, portanto, precisa inserir-se no mundo; a Igreja na América Latina se perguntará: a Igreja deve inserir-se no mundo, mas dentro de que mundo? Do mundo dos incluídos ou dos excluídos para promover um mundo inclusivo de todos? Por isso, além da opção pelo sujeito social – o pobre –, a missão evangelizadora em vista da salvação, já na história, e que passa pela construção de uma sociedade justa e solidária, implica igualmente a opção pelo lugar social dos pobres.

E, assim, poderíamos continuar fazendo a lista dos pontos de chegada do Concílio, que a Igreja na América Latina fez e precisa continuar fazendo ponto de partida.

IHU On-Line – A Teologia da Libertação ainda é atual na América Latina? Que teologia surge no atual contexto da América Latina?

Agenor Brighenti – A eclosão de uma nova consciência na Igreja da América Latina é o resultado de uma nova sensibilidade da fé em relação com a situação política e social. Era preciso dar resposta a uma pergunta crucial: como ser cristão nesse contexto de opressão e de injustiça.

A Teologia da Libertação (TdL) seria incompreensível fora destas circunstâncias. Antes de qualquer elaboração mais sofisticada, ela foi necessidade vital de pensar teologicamente a experiência viva e concreta da comunidade eclesial. De uma experiência que era, ao mesmo tempo, experiência de Deus e responsabilidade pela realidade humana e social. Mais ainda, de uma tomada de consciência da situação social inseparável de uma experiência espiritual, isto é, de uma exigência de conversão provocada por uma finalidade maior ao Deus cristão, ao Deus que, em Jesus Cristo, se tinha feito carne e história humana. Essa foi a matriz da Teologia da Libertação, “momento segundo”, sem dúvida, mas indispensável como esforço reflexivo para iluminar essa complexa experiência.

A evolução posterior e, sobretudo, os embates aos quais foi submetida a TdL deixaram na penumbra este dado simples e, à primeira vista, sem grande importância, sem o qual, porém, é impossível compreender a originalidade desta teologia e interpretar algumas de suas características que só depois viriam a ser completamente explicitadas.

Em primeiro lugar, a vida da comunidade eclesial como lugar natural da teologia. Com isso, se afirmava não só que a teologia é inseparável da consciência viva da Igreja, mas a convicção reflexa de que a vida e a experiência de uma Igreja situada precedem a teologia. A TdL é uma teologia contextualizada original, não necessariamente pelo seu método e muito menos pelo seu produto final, mas antes pela experiência eclesial que a sustenta. O essencial deste paradigma teológico não é a teologia, mas a libertação, a experiência encarnada da fé. É a partir dali que nasce a teologia como inteligência da fé, de maneira deliberada, intencional e reflexa em, desde e para o contexto desta experiência de fé. Em última instância, a TdL inova em relação a outras teologias por mudar de lugar e de função.

Aqui está uma das grandes motivações da convocação deste Congresso, pois temos, cada vez mais, também na América Latina, uma teologia órfã de sociedade e de Igreja. Ora, nossa teologia não pode perder de vista seu novo lugar e sua nova função, para poder continuar sendo instância retroalimentadora das comunidades eclesiais inseridas, em perspectiva libertadora, num mundo que apresenta hoje novos desafios, que exigem novas respostas.

IHU On-Line – Quais os principais desafios que a Igreja enfrenta e quais as principais frentes de luta dela na América Latina de hoje?

Agenor Brighenti – Em tempos de profundas transformações e de crise em todos os campos, sem dúvida, um grande desafio, diante do medo em arriscar criar novo, é não fazer do passado um refúgio. É preciso encarar este momento como um tempo de passagem, pascal, promessa de novas possibilidades. Para isso, é fundamental superar posturas tanto retrospectivas como também catastróficas e olhar para o futuro, com visão esperançada, prospectiva, buscando discernir os novos sinais dos tempos e as interpelações do Espírito, que se dão em meio à ambiguidade da história. Os desafios, hoje, num mundo globalizado, em grande medida são desafios globais, mas que precisamos assumir desde nosso contexto particular.

Um primeiro deles é a emergência de uma nova racionalidade, que nos obriga repensar paradigmas e pressupostos, a repensar a razão, sobretudo alargando seu horizonte. Ao lado da racionalidade moderna, tributária do logos grego, emergem outras formas de razão, que também a teologia precisa receber, tal como a razão cordial e comunicativa.

Um segundo grande desafio é a emergência de um novo rosto da pobreza, pobres não somente como explorados, mas massa que sobra, descartável, constituindo o mundo da insignificância. Trata-se de uma pobreza, subproduto de uma riqueza que se alimenta da escassez da maioria. Frente a isso, também a teologia precisa ser profecia, sobretudo diante do cinismo dos satisfeitos e contribuir para um mundo onde caibam todos, expressão do ideal do Reino de Deus de uma fraternidade universal.

Um terceiro desafio é o pluralismo cultural e religioso, numa sociedade onde as diferenças tendem cada vez mais a adquirir cidadania. Não só se apresenta o desafio de conviver com os diferentes, como de aprender a se enriquecer com as diferenças. Diante de um mundo plural, a alteridade, mais que uma mera abertura, precisa ser um pressuposto a partir do qual é preciso repensar as identidades, tanto individuais, como sociais e institucionais.

IHU On-Line – Como serão as jornadas teológicas que acontecerão em 2011?

Agenor Brighenti – Para mobilizar a comunidade teológica, em vista do Congresso Continental, a Comissão Organizadora pensou oportuno realizar quatro Jornadas Teológicas Regionais em 2011: uma no México, para os mexicanos e os hispanos dos Estados Unidos; outra na Guatemala, para a América Central e o Caribe; uma terceira em Bogotá, para os países andinos; e uma quarta em Santiago do Chile, para o Cone Sul e o Brasil. A proposta é que estas jornadas se realizem dentro dos mesmos objetivos e metodologia do Congresso Continental e se constituam num momento privilegiado de sua preparação.

IHU On-Line – Qual a importância de um congresso como esse acontecer no Brasil?

Agenor Brighenti – Não é por acaso que o Congresso Continental de 2012 vai acontecer no Brasil, mais precisamente na Unisinos, sob a responsabilidade local do Instituto Humanitas Unisinos – IHU. A definição do local foi fruto de um longo e difícil discernimento. Dado o momento eclesial que vivemos, sobretudo da Igreja Católica, não é em qualquer país que é possível realizar um evento com a agenda e a metodologia do Congresso. A academia precisa de autonomia para pensar e de liberdade para criar, o que nem sempre, infelizmente, estão presentes em muitos espaços eclesiais nos diferentes países do Continente. Olhando para a situação da Igreja nos países da América Latina, constatou-se que, dificilmente, se poderia realizar este Congresso a não ser no Brasil. E, em nosso país, também não importa onde. Optamos pela Unisinos, baseados em sua trajetória, assim como em sua experiência na promoção de eventos internacionais, em torno a temas de fronteira. Sem falar na competente equipe do IHU, que generosamente se colocou à disposição para assegurar, com o apoio da Comissão Organizadora, a realização e a logística do Congresso.

Notas:
[1] Gustavo Gutiérrez é um teólogo peruano e sacerdote dominicano, considerado por muitos como o fundador da Teologia da Libertação.

Congresso Continental de Teologia em 2012

O Instituto Humanitas Unisinos – IHU está publicando o projeto e a convocação do Congresso Continental de Teologia, a ser realizado, neste Instituto da Unisinos, nos dias 8 a 11 de outubro de 2012.

Leia o texto elaborado pela Comissão Organizadora:

Congresso Continental de Teologia. Projeto e convocação – 50 anos do Vaticano II e 40 anos da Teologia Latino-americana.

Este texto foi publicado nas Notícias do Dia de 07/07/2010 e também na edição 337 da revista IHU On-Line, de 02/08/2010 e pode ser lido, por exemplo, na edição em pdf, nas p. 37-39. Gosto da versão em pdf da revista porque traz notas de rodapé, enriquecendo o texto.

São 6 itens:

1. Justificativa
O ano de 2012 será um ano muito significativo para a Igreja na América Latina e no Caribe: são os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II, realizada pelo papa João XXIII, e os 40 anos da publicação do livro de Gustavo Gutiérrez – Teologia da Libertação. Perspectivas…

2. Objetivos
Reunir, em Congresso Continental precedido por Jornadas Teológicas Regionais, a comunidade teológica do Continente em torno do Vaticano II e da teologia latino-americana, para discernir os novos desafios de uma época marcada por profundas transformações e as consequentes tarefas para uma teologia como serviço à Igreja e à humanidade, em um mundo pluralista e globalizado….

3. Estratégia: Jornadas Teológicas Regionais em 2011
Para mobilizar a comunidade teológica, em vista do Congresso, serão realizadas Jornadas Teológicas prévias, em 2011, em quatro regiões do Continente, em torno dos mesmos objetivos do Congresso Continental de 2012…

4. O Congresso Continental em 2012
Para que seja representativo do Continente e mobilize a comunidade teológica, coloca-se como meta, garantir a participação de, pelo menos, cinco teólogos por país…

5. Metodologia
Os objetivos do Congresso exigem uma metodologia que combine diferentes dinâmicas: exposições, testemunho de personagens históricos, painéis, oficinas, comunicações científicas, assim como tele-fóruns, celebrações, momentos culturais e festivos, exposições de materiais e bibliografias…

6. Organização
O evento – o Congresso Continental de Teologia e as Jornadas Teológicas Regionais – tem o suporte organizativo de quatro organismos:
. A Comissão Organizadora do Congresso Continental
. As Comissões Organizadoras das Jornadas Teológicas Regionais
. Comissão Local do Congresso Continental
. Instituições de Apoio

A TdL e a Teologia do Pluralismo Religioso

Libertação e diálogo dá tema à tese vencedora do Prêmio Soter-Paulinas

“O anúncio das 13 teses finalistas do Prêmio Soter-Paulinas de teses doutorais (veja abaixo) movimentou a noite de quarta-feira, véspera do encerramento do 23º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter), que reuniu teólogos e cientistas da religião para discutir o tema Religiões e Paz Mundial, de desde o dia 12 de julho, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).

As 13 teses concorrentes enviadas pelas Faculdades de Teologia e Programas de Pós-Graduação em Teologia e Ciências da Religião brasileiros foram apresentadas pelos professores doutores Afonso Maria Ligório Soares, presidente da Soter, Vera Bombonatto, das Edições Paulinas, Ronaldo Cavalcante, da Universidade Mackenzie, e Flávio Senra, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

A mesa informou que os avaliadores escolheram, a partir de critérios que atestam sua qualidade de pesquisa. Após o anúncio das teses concorrentes, foi informada como vencedora a tese Libertação e diálogo: a articulação entre a Teologia da Libertação e a Teologia do Pluralismo Religioso em Leonardo Boff, de Paulo Agostinho Nogueira Batista, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), orientada pelo professor Faustino Luís Couto Teixeira…”

Leia o texto completo.

Fonte: O texto é de Antonio Carlos Ribeiro e foi publicado pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC) em 16 de julho de 2010. Disponível também em Notícias: IHU On-Line – 17/07/2010.

Pluralismo Religioso: irrevogável e irredutível

Cristianismo: religião de referência ou uma entre as demais?

A mesa de debates Teologia Pluralista e Teologia da Revelação reuniu o teólogo Andrés Torres Queiruga, da Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, o teólogo Faustino Teixeira, da Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil, e o teólogo José Maria Vigil, da Associação Ecumênica de Teólogos/Teólogas do Terceiro Mundo (ASETT/EATWOT), de El Salvador. O debate aconteceu no 23º Congresso da SOTER, que terminou ontem em Belo Horizonte.

O texto é de Antonio Carlos Ribeiro e foi publicado pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC) em 15 de julho de 2010. Disponível também em Notícias: IHU On-Line: 16/07/2010.

Andrés Torres Queiruga desenvolveu a noção de pluralismo assimétrico que, mesmo sendo uma abstração, pode ser utilizada em relação ao outras religiões, mas sem se afastar do específico do Cristo para a tradição cristã. Admite que existem muitos pluralismos, mas há alguns com os quais ele tem dificuldades, como o dos ateus, embora respeite o discurso e se disponha a dialogar, mesmo sendo distinto do cristão. Por outro lado, não tem dificuldade de estabelecer contato com teólogos católicos e protestantes, desde que seja possível dialogar e crescer (…) Faustino Teixeira aprofundou a noção do pluralismo religioso, chamando-o de irrevogável e irredutível, e não sendo visto mais como estrutural e passageiro, mas reivindicando legitimidade e permanência (…) José Maria Vigil chamou os teólogos a olharem para o futuro, observando que mesmo a Teologia da Libertação clássica foi inclusivista. No entanto, “não podemos dizer que o que foi dito no passado possa ser dito do mesmo modo hoje”. Até porque naquela época nem sabíamos que hoje estaríamos debatendo os limites do exclusivismo sobre o diálogo inter-religioso. Assim, apoiou integralmente a visão de Faustino Teixeira.

Leia o texto completo.

Leia Mais:
A Teologia do Pluralismo Religioso e seus desafios
O pluralismo religioso é a democratização do campo religioso

O pluralismo religioso é a democratização do campo religioso

Uma entrevista interessante: Pluralismo religioso: entre a diversidade e a liberdade. Entrevista especial com Wagner Lopes Sanchez

Publicada por Notícias: IHU On-Line em 11/07/2010.

Wagner Lopes Sanchez é filósofo e historiador, com Mestrado e Doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Atualmente, é professor assistente-doutor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da mesma instituição. É membro da diretoria do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular – CESEP.

Transcrevo as três primeiras questões:

IHU On-Line – Como podemos entender, em linhas gerais, o fenômeno do pluralismo religioso atual?
Wagner Lopes Sanchez – Nas sociedades ocidentais, o pluralismo é uma característica constante em diversas esferas. Com a liberdade de pensamento e de expressão, o pluralismo torna-se uma consequência fundamental. No caso do campo religioso, o pluralismo religioso é reflexo de dois fatores: existência da diversidade religiosa e reivindicação de liberdade religiosa. O pluralismo religioso é uma condição social própria de sociedades onde não há hegemonia religiosa ou onde a hegemonia religiosa tende a desaparecer. O pluralismo religioso é, na verdade, a democratização do campo religioso, em que todos os sujeitos religiosos são reconhecidos como legítimos em suas reivindicações, desde que respeitados os princípios éticos.

IHU On-Line – Em sociedades cada vez mais plurais, qual a importância do diálogo inter-religioso? Quais as condições e a “pauta” desse diálogo, em sua opinião?
Wagner Lopes Sanchez – Uma das exigências de sociedades democráticas é justamente a convivência dialogal entre as várias visões de mundo. Os diversos sujeitos, individuais ou coletivos, numa sociedade plural, são convidados constantemente a dialogar sobre as grandes questões que estão colocadas, e a reconhecer o direito à diferença como legítimo. Obviamente, isso se aplica também às religiões. De um lado, elas são convidadas a contribuir na solução dos grandes problemas humanos e, de outro lado, são convidadas a reconhecer a necessidade da convivência até mesmo como uma necessidade de sobrevivência. Por isso, em sociedades caracterizadas pelo pluralismo religioso, a questão do diálogo inter-religioso coloca-se como um imperativo e como um desafio. Essa exigência não é fundamental apenas para as próprias religiões, mas também para o conjunto da sociedade. Com o diálogo inter-religioso todos ganham: a sociedade em geral, aqueles que têm adesão religiosa e aqueles que não têm nenhuma referência religiosa. A inexistência do diálogo inter-religioso, em contrapartida, pode trazer problemas para as próprias religiões e para o conjunto da sociedade. Quanto à pauta, levanto quatro itens que, penso, são muito atuais: justiça, paz, defesa do meio ambiente e construção da tolerância.

IHU On-Line – Como o cristianismo se posiciona diante do pluralismo religioso e do diálogo inter-religioso? Dentro disso, quais os desafios e possibilidades que se colocam diante dele?
Wagner Lopes Sanchez – O cristianismo é um campo religioso muito heterogêneo, e, por isso, é muito difícil falar em posições unívocas. De qualquer forma, em linhas gerais, podemos identificar três grandes posições no interior desse campo. A primeira posição, que é conhecida como exclusivismo, afirma que o cristianismo é a única religião verdadeira e que, por isso, somente ele é o portador da salvação. As demais religiões não têm nenhum valor salvífico. A segunda posição é a inclusivista, que reconhece a importância das diversas religiões no plano da salvação, mas afirma que a possibilidade dessas religiões salvarem depende do cristianismo. Essa posição, na verdade, é uma tentativa de preservar a importância do cristianismo e, ao mesmo tempo, de reconhecer o valor das demais expressões religiosas. A terceira posição, denominada de pluralista, defende que todas as religiões são expressões humanas verdadeiras do desejo profundo de salvação e, em virtude disso, são legítimas. As posições inclusivista e pluralista são aquelas que favorecem o diálogo inter-religioso, pois colocam as religiões numa atitude de diálogo e de compreensão com as demais. A crescente diversidade religiosa tanto dentro como fora do próprio cristianismo está fazendo com que igrejas e movimentos cristãos assumam uma atitude de humildade diante dos diversos interlocutores religiosos. Num campo religioso cada vez mais marcado pela diversidade religiosa e pelo florescimento religioso, muitos segmentos do cristianismo estão sendo levados a reverem os seus posicionamentos diante das outras religiões.

Migração humana

A REB 70, fascículo 278, abril de 2010, tem como assunto principal Mobilidade Humana e Evangelização.

Os artigos:
Carmem Lussi – Mobilidade humana e evangelização. Contribuições a partir do contexto brasileiro
Alfredo José Gonçalves – Migrantes: profetas da esperança
Roberto Marinucci – Caminhos da Igreja junto a imigrantes e refugiados. Representações sociais e desafios pastorais
Caro Milva – Pastoral intercultural. Em prol dos jovens e dos jovens migrantes