O CEBI e a leitura ecumênica da Bíblia

Na Revista IHU On-Line, edição 296, de 08/06/2009, foi publicada uma entrevista com o biblista e assessor do CEBI Francisco Orofino. Veja:

Uma leitura bíblica libertadora e ecumênica a serviço da vida

Assim é apresentada a entrevista:
Para Francisco Orofino, do CEBI, a voz das igrejas cristãs terá maior repercussão se ela traduzir a proposta evangélica de vida em abundância para todos

Por Graziela Wolfart

Há 30 anos, foi criado o Centro de Estudos Bíblicos — CEBI. Para celebrar este aniversário, a IHU On-Line entrevistou por e-mail o biblista e assessor nacional do CEBI Francisco Orofino. Ele acredita que “a leitura ecumênica [da Bíblia] revela-se libertadora quando anima as comunidades a se organizar em defesa da vida ameaçada. (…) A Bíblia lida desta maneira revela a Palavra de Deus que convoca a todos e todas a criar comunidades e a participar nas lutas pelos direitos que são negados para a grande maioria do povo”. Sobre as três décadas de trabalho no CEBI, ele aponta que a dimensão ecumênica nos trabalhos “foi sempre um grande desafio, principalmentenaqueles estados em que a grande maioria dos participantes é da Igreja Católica Romana”. No entanto, constata: “É impossível pensar o trabalho do CEBI sem a dimensão do ecumenismo”.

Confira a entrevista.

Leia Mais:
Leitura popular da Biblia no Brasil

A importância da Bíblia na luta pela humanização

O Evangelho, o homem, a religião. Artigo de Enzo Bianchi

Artigo do monge fundador e prior da Comunidade Monástica de Bose, na Itália, Enzo Bianchi, publicado no jornal La Stampa em 03/04/2009 e reproduzido por IHU On-Line de 04/04/2009.

 

Na situação atual, muitos esperam um cristianismo vivido segundo o paradigma da religião forte e encarnado em minorias ativas e eficazes, capazes de assegurar identidades e visibilidades que se impõem, porque pensadas em uma estratégia defensiva e de concorrência. Para mim, considero que apenas vivendo a diferença cristã na companhia dos homens pode-se introduzir uma dinâmica que abale a indiferença à fé cristã e às suas exigências próprias também a muitos falsos católicos.

Acredito que, em vista de uma recuperação do primado da fé, da espera pelas coisas últimas e por uma arte da comunicação autêntica, ainda são indispensáveis a leitura e o conhecimento do Evangelho entre aqueles que compõem a comunidade cristã.

De fato, se é verdade que o cristianismo não é uma religião do Livro, é também verdade que só o Evangelho permite o conhecimento de Jesus Cristo, centro e coração do cristianismo. “A ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo”, afirmava São Girolamo, retomado não por acaso pelo Concílio Vaticano II.

Que figura de cristão pode emergir sem um conhecimento direto de Jesus Cristo e da sua humanidade exemplar como a que pode vir da leitura e da familiaridade com os Evangelhos? Como um cristianismo em que o Evangelho não inspira a vida, a esperança e a linguagem dos fiéis conseguirá não se tornar ritual, devocional e se reduzir a um fato cultural ou social, ou até mesmo um fenômeno folclórico ou supersticioso? Só com a leitura pessoal e direta da Bíblia – e, em primeiro lugar, dos Evangelhos – o cristão pode nutrir a sua fé e robustecer a sua capacidade de testemunhá-la.

Nesse sentido, seria portanto desejável um percurso de sério aprofundamento na comunidade cristã que leve em consideração, em síntese, duas exigências. A primeira é a de colocar o acento no Evangelho, sobre o texto que o Concílio quis e soube devolver nas mãos dos católicos na sua inteireza e riqueza depois de séculos de exílio da Escritura da catequese e da pregação: alguns se admiram, outros lamentam frente ao dado que nem um quinto dos italianos afirma ter lido os quatro Evangelhos.

Como é possível, sem conhecer o Evangelho, conhecer Jesus Cristo e senti-lo como Senhor? Como se pode compreender a sua humanidade exemplar para nós, homens, o ser feito homem de Deus “para nos ensinar a viver como homens neste mundo”, segundo a expressão de São Paulo? Como perceber que o objetivo da humanização de Deus é a autêntica humanização do homem?

A segunda exigência é a escuta da humanidade de hoje, homens e mulheres: uma escuta que deve ocorrer por meio da emergência da dimensão antropológica. Sim, ao manter juntos o Evangelho e o homem, a fé e a dimensão antropológica, está em jogo o futuro da fé cristã. Se houve e se há um fracasso, é o da transmissão, da “tradição” da fé, mas o antídoto consiste apenas no restabelecer o primado do Evangelho e da escuta do humano.

Em um período em que tudo é colocado em discussão – a concepção da relação com o próprio corpo, com o outro sexo, com o sofrimento, com o tempo, com a natureza… – é preciso elaborar respostas de sabedoria que digam o que é o ser humano e como ele pode se humanizar por meio de uma qualidade de vida pessoal e de convivência.

A religião precisa do exercício da razão para não cair em formas paganizadoras, mágicas ou supersticiosas, mas também precisa que esse exercício racional ocorra não sem os outros, mas com os outros, todos habitantes da mesma pólis. Juntos, cristãos e não cristãos, devemos nos colocar a questão antropológica: o que é o homem? Para onde ele vai? Como pode viver em uma sociedade que luta contra a barbárie e em favor da humanização?

Das respostas que cada um souber dar, obtendo-as do próprio patrimônio espiritual, depende certamente o nosso futuro, mas também, já hoje, a qualidade da nossa vida pessoal e da convivência civil.

O hábito da vigilância hermenêutica: métodos

A Introdução à S. Escritura compreende 2 horas semanais, no primeiro semestre de Teologia. Mais do que estudar o surgimento e o conteúdo dos vários livros bíblicos, a disciplina é voltada para a compreensão/apreensão de alguns métodos de leitura dos textos bíblicos. Esta opção se justifica, pois a introdução a cada um dos livros é feita a partir das disciplinas que abordam áreas específicas da Bíblia ao longo do curso de Teologia.

Um dos problemas típicos desta disciplina é a carga horária exígua que lhe é, em geral, atribuída. Até porque, ao tomar contato com a moderna metodologia de abordagem dos textos bíblicos, a desmontagem de noções ingênuas adquiridas na educação anterior e a dificuldade em abandonar certezas que beiram o fundamentalismo requerem tempo e paciência. Além disso, conseguir a convivência da criticidade que se vai progressivamente adquirindo em sala de aula com as necessidades pastorais dos envolvidos no processo de aprendizagem, exige a construção de uma linguagem hermenêutica adequada, outra questão espinhosa.

Por isso, uma tarefa que se impõe a quem se envereda por esse caminho, é a comparação e o confronto da teoria exegética crítica com as leituras cotidianas e costumeiras da Bíblia. Isto é feito pelos alunos, que coletam e analisam os dados necessários.

Costumo orientar este processo através de uma série de questões que são propostas para a análise de uma leitura bíblica feita no ambiente pastoral dos estudantes.

I. Ementa
A disciplina privilegia o nascimento e a estruturação dos vários métodos de leitura da Sagrada Escritura, especialmente os modernos métodos histórico-críticos, socioantropológicos e populares.

II. Objetivos
Possibilita ao aluno a visualização das diversas problemáticas envolvidas na abordagem dos textos bíblicos no contexto e no pensamento contemporâneos.

III. Conteúdo Programático

1. A leitura histórico-crítica

  • A crítica textual
  • A crítica literária
  • A crítica das formas
  • A história da redação
  • A história da tradição

2. A leitura socioantropológica

  • Por que uma leitura socioantropológica da Bíblia?
  • Origem e características do discurso sociológico
  • Origem e características do discurso antropológico
  • A Bíblia e a leitura socioantropológica
  • Algumas dificuldades da leitura socioantropológica

3. A leitura popular

  • Ler a vida com a ajuda da Bíblia
  • A opção pelos pobres
  • Da Bíblia à Sociedade: passagem para o Político

4. Oficina bíblica: leitura de textos selecionados

  • Mc 6,30-44: a primeira multiplicação dos pães
  • Lc 3,21-22: o batismo de Jesus
  • Mt 2,1-12: a visita dos magos
  • Jo 2,1-12: as bodas de Caná

IV. Bibliografia
Básica
DIAS DA SILVA, C. M. Leia a Bíblia como literatura. São Paulo: Loyola, 2007, 104 p. – ISBN 9788515033072.

MESTERS, C. Flor sem defesa: uma explicação da Bíblia a partir do povo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, 206 p.

ZENGER, E. et al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003, 560 p. – ISBN 9788515023288.

Complementar
ALMADA, S. (org.) Interpretação Bíblica em Busca de Sentido e Compromisso. Diversas aproximações ao texto de Lucas 1-2: Caleidoscópio de métodos, exegese e hermenêutica. RIBLA, Petrópolis, n. 53, 2006/1.

BUSHELL, M. BibleWorks 8. Norfolk, VA: BibleWorks, 2008 (software para o estudo da Bíblia). Acesso em: 04 fevereiro 2009.

CARTER, C. E.; MEYERS, C. L. (eds.) Community, Identity and Ideology: Social-Scientific Approaches to the Hebrew Bible. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 1996, 574 p. – ISBN 9781575060057.

CHALCRAFT, D. J. (ed.) Social-Scientific Old Testament Criticism. London: T & T Clark, 2006, 400 p. – ISBN 9780567040848

DA SILVA, A. J. A visita dos magos: Mt 2,1-12. Acesso em: 04 fevereiro 2009.

DA SILVA, A. J. Leitura socioantropológica da Bíblia Hebraica. Acesso em: 04 fevereiro 2009.

DA SILVA, A. J. Leitura socioantropológica do Novo Testamento. Acesso em: 04 fevereiro 2009.

DA SILVA, A. J. Notas sobre alguns aspectos da leitura da Bíblia no Brasil hoje. REB, Petrópolis, v. 50, n. 197, p. 117-137, mar. 1990. Acesso em: 04 fevereiro 2009.

DA SILVA, A. J. O discurso socioantropológico: origem e desenvolvimento. Acesso em: 04 fevereiro 2009.

DA SILVA, A. J. Por que milagres? O caso da multiplicação dos pães. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 22, 1989, p. 43-53.

DE OLIVEIRA, E. M. et al. Métodos para ler a Bíblia. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 32, 1991.

DIAS DA SILVA, C. M. com a colaboração de especialistas, Metodologia de Exegese Bíblica. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2003, 526 p. – ISBN 8535606432.

EGGER, W. Metodologia do Novo Testamento: Introdução aos Métodos Lingüísticos e Histórico-Críticos. São Paulo: Loyola, 1994, 238 p. – ISBN 9788515010561.

ELLIOT, J. H. What is Social-Scientific Criticism? Minneapolis: Augsburg Fortress, 1993, 174 p. – ISBN 9780800626785.

ESLER, P. F. (ed.) Ancient Israel: The Old Testament in Its Social Context. Minneapolis: Fortress, 2005. xvii + 420 p. – ISBN 0800637674.

KONINGS, J.; RIBEIRO, S. H. et al. Bíblia: Teoria e Prática. Leituras de Rute. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 98, 2008.

KONINGS, J. Sinopse dos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas e da Fonte Q. São Paulo: Loyola, 2005, 360 p. – ISBN 9788515030569.

PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA A Interpretação da Bíblia na Igreja. 6. ed. São Paulo: Paulinas, 1999.

REIMER, H.; DA SILVA, V. (orgs.) Hermenêuticas Bíblicas: Contribuições ao I Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica. São Leopoldo: Oikos Editora/UCG/ABIB, 2006, 252 p.

REIMER, I. R.; SCHWANTES, M. (org.) Leituras Bíblicas Latino-Americanas e Caribenhas. RIBLA, Petrópolis, n. 50, 2005/1.

ROHRBAUGH, R. L. (ed.) The Social Sciences and New Testament Interpretation. Peabody, Mass: Hendrickson, 2004, 240 p. – ISBN 9781565634107.

SCHNELLE, U. Introdução à exegese do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 2004, 192 p. – ISBN 9788515024919.

SIMIAN-YOFRE, H. (ed.) Metodologia do Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2000, 200 p. – ISBN 9788515018499.

TATE, W. R. Interpreting the Bible: A Handbook of Terms and Methods. Peabody, Mass.: Hendrickson, 2006, viii + 482 p. – ISBN 9781565635159.

TREBOLLE BARRERA, J. A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã. Introdução à História da Bíblia. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2000, 741 p. – ISBN 8532614370.

WEGNER, U. Exegese do Novo Testamento: Manual de Metodologia. 3. ed. São Leopoldo: Sinodal/Paulus, 2002, 407 p. – ISBN 852330598X.

Leia Mais:
Em busca da competência hermenêutica

Em busca da competência hermenêutica

Estou, nestes dias, preparando meus programas de aula para 2009. Começo a publicá-los no Observatório Bíblico. A intenção é de que possam servir, para além de meus alunos, a outras pessoas que, eventualmente, queiram ter uma noção de como se estuda a Bíblia em determinadas Faculdades de Teologia. Ou, pelo menos, parte da Bíblia, porque posso expor apenas os programas das disciplinas que leciono. Tomo aqui como referência o currículo do CEARP, onde trabalho. Já fiz isso certa vez, em 2006, mas a bibliografia vai mudando…

Quatro elementos serão levados em conta, em uma leitura da Bíblia que eu chamaria de sócio-histórica-redacional:

:: contextos da época bíblica
:: produção dos textos bíblicos
:: contextos atuais
:: leitores atuais dos textos

O sentido da Escritura, segundo este modelo, não está nem no nível dos contextos da época bíblica e/ou dos contextos atuais, nem no nível dos textos bíblicos ou da vivência dos leitores, mas na articulação que se forma entre a relação dos textos bíblicos com os seus contextos, por um lado, e entre os leitores atuais e seus contextos específicos.

Ou seja: “Da Escritura não se esperam fórmulas a ‘copiar’, ou técnicas a ‘aplicar’. O que ela pode nos oferecer é antes algo como orientações, modelos, tipos, diretivas, princípios, inspirações, enfim, elementos que nos permitam adquirir, por nós mesmos, uma ‘competência hermenêutica’, dando-nos a possibilidade de julgar por nós mesmos, ‘segundo o senso do Cristo’, ou ‘de acordo com o Espírito’, das situações novas e imprevistas com as quais somos continuamente confrontados. As Escrituras cristãs não nos oferecem um was, mas um wie: uma maneira, um estilo, um espírito. Tal comportamento hermenêutico se situa a igual distância tanto da metafísica do sentido (positivismo) quanto da pletora das significações (biscateação). Ele nos dá a chance de jogar a sério a círculo hermenêutico, pois que é somente neste e por este jogo que o sentido pode despertar” explica BOFF, C. Teologia e Prática: Teologia do Político e suas mediações. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 266-267).

As disciplinas de Bíblia no curso de graduação em Teologia podem, segundo este modelo, ser classificadas em três áreas:

1. Disciplinas Contextuais:
:: História de Israel (alternativa: História da época do Antigo Testamento e História da época do Novo Testamento)

2. Disciplinas Instrumentais:
:: Introdução à S. Escritura (alternativa: Métodos de leitura dos textos bíblicos)
:: Língua Hebraica Bíblica
:: Língua Grega Bíblica

3. Disciplinas Exegéticas:
:: Pentateuco
:: Literatura Profética
:: Literatura Deuteronomista
:: Literatura Sapiencial
:: Literatura Pós-Exílica
:: Literatura Sinótica e Atos
:: Literatura Paulina
:: Literatura Joanina
:: Apocalipse

 

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Destas disciplinas, leciono:

No primeiro semestre:
:: História de Israel: 4 hs/sem.
:: Introdução à S. Escritura: 2 hs/sem.
:: Literatura Profética: 4 hs/sem.
:: Literatura Deuteronomista: 2 hs/sem.

No segundo semestre:
:: Pentateuco: 4 hs/sem.
:: Literatura Pós-Exílica: 4 hs/sem.

Leia Mais:
O hábito da vigilância hermenêutica: métodos
História de Israel 2009: o pouco que sabemos
Pentateuco 2009: ainda sem um novo consenso
Literatura Deuteronomista 2009: o desafio
Literatura Profética 2009: A Voz Necessária
Literatura Pós-Exílica 2009: tempo sem fronteiras

CEBI estreita parcerias com entidades europeias

Comitiva do CEBI vai à Europa para estreitar parcerias

Uma comitiva formada pelo Frei Carlos Mesters, por Lúcia Weiler e pelo secretário executivo do CEBI, Edmilson Schinelo, embarcou nesta segunda-feira, 24 de novembro,Carlos Mesters - nascido em 1931 para a Europa, em missão junto às entidades parceiras da cooperação internacional e comunidades locais. A viagem de 15 dias – o retorno é no dia 10 de dezembro – inicia pela Holanda, passa pela Alemanha e termina na Suíça.

Na Holanda, de 25 a 27 de novembro, o grupo participa de um Seminário com membros do Comitê Regional de Missão e Diaconia, além de realizar visitas a entidades locais. A comitiva brasileira também fará conferência para pastores e pastoras e agentes de pastoral holandeses sobre o que é a Leitura Popular da Bíblia e como se organizou. Vão coordenar, ainda, um seminário com integrantes da Igreja da região (a maioria com experiência de leitura intercultural com a América Latina).

O dia 28 é reservado para uma reunião com Equipe de ICCO/Kerkinactie e com prof. Hans de Wit. No dia seguinte, o grupo visita Amsterdã e participa de um encontro com grupos locais e pastores em Emmen. Ainda nesta localidade, vão a um culto na região e mantém um encontro com membros de paróquias diversas e seus respectivos pastores. A visita à Holanda encerra com um contato com as Irmãs da Divina Providência, em Telegen, no dia 1º de dezembro.

A viagem pela Alemanha inicia por Hamburgo, nos dias 2 e 3 de dezembro, com um encontro com NMZ e lideranças locais, passa por Essen, no dia 4, em visita à Adveniat, por Bonn, para uma reunião com a EED e MzF, no dia 5, e encerra nos dias 6 e 7 em Horn.

No dia 8 dezembro, o grupo vai à Genebra, onde visita a Federação Luterana Mundial (FLD) e o CMI. No dia seguinte viaja à Luzerna para uma visita à Fastenopfer, de onde retorna ao Brasil.

Fonte: CEBI – 25/11/2008

Simpósio sobre leitura e ensino da Bíblia no Brasil

Leitura e ensino da Bíblia no Brasil é tema de simpósio

A Leitura e Ensino da Bíblia no Brasil é o tema do Simpósio que Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE) promove de 15 a 18 de dezembro de 2008, em São Leopoldo. O evento será realizado no Seminário Concórdia da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), com participação de Milton Schwantes, Paulo Teixeira e Vilson Scholz.

A programação do simpósio conta com uma mesa redonda com professores da área de Bíblia sobre o ensino das disciplinas bíblicas nas escolas de teologia. Também será assunto do evento o panorama da hermenêutica no Brasil, bem como as percepções sobre leituras da Bíblia.

Além disso, haverá uma oficina sobre ferramentas para o ensino das línguas bíblicas e outra sobre o ensino da metodologia exegética.

As inscrições podem ser feitas junto ao site da ASTE.

Fonte: CEBI – 25/11/2008

Mauro Pesce fala sobre o Sínodo

“Così l’esegesi cattolica va verso l’isolamento”: Intervista a Mauro Pesce sul sinodo dei vescovi

Con l’approvazione delle 55 proposizioni presentate dall’assemblea sinodale al papa, si sono conclusi lo scorso 25 ottobre i lavori del Sinodo dei vescovi sulla parola di Dio (v. Adista nn. 75 e 77/08). Fra i nodi fondamentali trattati dai padri sinodali nelle proposte presentate al papa, c’era anche il rapporto tra lo studio scientifico della Bibbia, con gli strumenti offerti dalla ricerca storica, e la sua lettura teologica. Il Sinodo, come annunciato, ha inoltre chiesto la revisione e l’allargamento del ministero del lettorato (uno degli ordini minori cancellati dal Concilio Vaticano II) per dare alle donne un ruolo più ampio all’interno della vita della Chiesa. Quest’ultima proposta, malgrado la sua limitatissima portata, che la configura come poco di più che un ‘contentino’ per le donne, ha comunque raccolto, al momento della votazione dei padri sinodali, un’opposizione più forte di tutte le altre proposizioni sinodali: 45 voti contrari su 243.

Di fronte alla richiesta del Sinodo, il movimento femminile di riforma della Chiesa FutureChurch, se da una parte “accoglie calorosamente il riconoscimento” del ruolo delle donne da parte dei vescovi, dall’altra ricorda che sarebbe necessario “allargare le occasioni di predicazione per donne e uomini laici ben preparati, nei Paesi sviluppati così come nei Paesi in via di sviluppo”. “Il ministero del lettorato – ricorda il movimento – anche se non chiamato formalmente in questo modo, è già aperto alla donne, che proclamano le Letture durante la Messa da oltre 30 anni. È difficile capire quale sia il guadagno di chiamare formalmente le donne ‘lettrici'”. Infine, FutureChurch ricorda ai vescovi che “farebbero meglio a riaprire la discussione per cambiare le regole sul celibato obbligatorio e l’ordinazione delle donne al diaconato”.

Del Sinodo e di altri temi abbiamo parlato con Mauro Pesce, biblista, professore di Storia del Cristianesimo all’Università di Bologna, nonché autore (insieme a Corrado Augias) del best seller Inchiesta su Gesù, duramente attaccato da autorevoli voci del mondo cattolico istituzionale proprio per aver avvicinato il grande pubblico all’approccio storico ai Vangeli e alle fonti del cristianesimo delle origini (v. Adista 17/07). (emilio carnevali)

Professore, quali sono le prime impressioni che ha tratto dal Sinodo dei vescovi che si è appena concluso a Roma?

Il Sinodo dei vescovi è un grande evento perché, trattandosi di un’assemblea collettiva dell’episcopato – per quanto abbia solo un valore consultivo e non deliberativo -, certamente non mancherà di produrre effetti importanti, anche al di là dell’eventuale enciclica che il papa potrà scrivere sull’interpretazione della Bibbia oggi. È dunque un avvenimento molto importante, su cui è necessario riflettere con attenzione.

A me sembra che questo Sinodo, più che una sintesi, un approfondimento o un ulteriore progresso rispetto all’atteggiamento che la Chiesa ha avuto nell’interpretazione della Bibbia dai tempi di Leone XIII (con l’enciclica Providentissimus Deus) fino al Concilio Vaticano II, abbia al contrario promosso un arretramento e un restringimento. È stato l’espressione di una particolare corrente teologica che oggi è maggioritaria in certi ambienti ecclesiastici cattolici, ma che non è l’unica teologia cattolica contemporanea e ovviamente nemmeno l’unica teologia importante manifestatasi negli ultimi cinquant’anni.

Il Messaggio finale del Sinodo mi è sembrato fortemente ecclesiocentrico; non primariamente teocentrico e neppure primariamente cristocentrico. Per quanto non si dica più che fuori della Chiesa cattolica non vi è alcuna salvezza, la Chiesa cattolica diventa il punto di riferimento unico per il messaggio cristiano agli uomini lungo l’asse Rivelazione-Cristo-Chiesa-Missione. A mio avviso ci si sarebbe potuti servire di una teologia più teocentrica, in cui si riconosca che l’agire di Dio nel mondo si manifesta attraverso una pluralità di disegni per l’umanità che non possono essere tutti riassunti nella Bibbia o che veda già nella Bibbia un’apertura ad altre manifestazioni di Dio.

Anche la cristologia con questo restringimento ecclesiologico si impoverisce, perché Cristo viene immaginato soltanto come una specie di ricapitolazione cristiana dell’Antico Testamento. Penso ai contributi che altre teologie potevano dare: dalla concezione di Clemente Alessandrino di una rivelazione di Dio che si diffonde nel mondo, alla pluralità delle vie di salvezza di San Tommaso Moro nel suo libro L’Utopia, al cardinale Nicola Cusano, per arrivare ai grandi teologi del ‘900 come Karl Rahner.

Che tipo di teologia viene a delinearsi al termine di questi progressivi restringimenti e sottrazioni?

Nella teologia espressa non solo nel documento finale ma in tutta l’impostazione e in diversi documenti del Sinodo sembra assente quel riconoscimento della diversità e autonomia dei piani – naturale e soprannaturale – che era stato tipico della teologia tomista. Qui il tomismo mi sembra accantonato. Siamo lontani dall’umanesimo integrale di Jaques Maritain, siamo lontani dalla teologia tomista di Yves Congar o di Marie Dominique Chenu. Sembra invece affermarsi una teologia che tende a sfumare l’autonomia della natura, del piano razionale, a favore di uno strettissimo rapporto tra natura e sovranatura sulla scia di Maurice Blondel e del suo interprete teologico Henri De Lubac.

Quali sono le conseguenze di questa involuzione teologica sul piano dell’ecumenismo e del dialogo interreligioso?

L’ecumenismo, insistendo sulla pluralità delle Chiese e quindi sulla pluralità delle interpretazioni del messaggio cristiano, avrebbe dovuto essere parte integrante del dibattito del Sinodo, invece proprio a causa dell’ecclesiocentrismo cattolico che ne ha caratterizzato l’impostazione teologica la dimensione ecumenica è stata praticamente assente.

E anche per quanto concerne il dialogo interreligiso, questo Sinodo ha segnato un arretramento rispetto a molti documenti pontifici precedenti. Sul dialogo con gli ebrei, ad esempio, alcuni documenti ufficiali della Santa Sede avevano insistito nei decenni precedenti sull’autonomia dell’antica alleanza, un’alleanza che non è mai tramontata, come aveva detto Giovanni Paolo II. La teologia cattolica aveva dato spazio al riconoscimento di una pluralità legittima di interpretazioni dell’Antico Testamento, e dunque riconosceva anche la legittimità dell’interpretazione ebraica. Su questo punto la mancanza di riferimenti essenziali allo sforzo teologico della Chiesa cattolica negli ultimi cinquant’anni da parte del Sinodo è davvero impressionante.

Cosa pensa dei giudizi emersi durante il Sinodo sul metodo storico-critico nell’interpretazione delle Sacre Scritture?

Vorrei fare innanzitutto una precisazione. Io non amo molto la definizione di “metodo storico-critico”, preferisco parlare semplicemente di “metodo storico”. Il metodo storico applicato alle scienze bibliche nasce con l’umanesimo, si sviluppa alla fine del ‘500 anche in ambito cattolico e poi ha la sua grande fioritura soprattutto nel XIX e nel XX secolo. L’enciclica di Pio XII del 1943 accettava pienamente questo metodo di indagine, che sostanzialmente consiste nell’interpretare un testo biblico alla luce del significato che voleva dargli l’autore umano, e quindi alla luce della cultura e della mentalità del tempo in cui è stato elaborato. Ciò che il metodo storico vuole evitare è la proiezione sul testo sacro delle teologie che le diverse Chiese cristiane – luterane, cattoliche ed ortodosse – hanno elaborato in seguito. Inoltre c’è anche un’altra differenza sostanziale tra esegesi storica e interpretazione teologica. La storia considera i diversi testi neotestamentari, insieme alle altre fonti protocristiane come fonte per conoscere ciò che è avvenuto. L’interpretazione teologica vuole solo comprendere il messaggio del testo come luogo del messaggio per la Chiesa di oggi. Ad un certo tipo di interpretazione teologica non interessa la storia ricostruibile mediante i testi, ma solo il messaggio che se ne può trarre.

Ora, non credo che questo Sinodo abbia voluto mettere completamente da parte il metodo storico, ma certamente lo ha marginalizzato. Si propone una lettura teologica della Bibbia che non riconosce un’autonomia sufficiente all’analisi storica dei testi, e questo alla lunga non potrà che portare l’esegesi cattolica all’isolamento rispetto al resto della scienza biblica mondiale. Già oggi l’esegesi cattolica, soprattutto in certi Paesi, è mediamente arretrata rispetto alla ricerca internazionale; con queste linee di tendenza del Sinodo in un prossimo futuro la frattura si approfondirà e ci troveremo di fronte ad uno scontro tra le acquisizioni delle scienze storiche e sociali sui testi sacri e le posizioni della Chiesa cattolica.

Da cosa ha origine la recente diffidenza della Chiesa nei confronti del metodo storico?

Il Concilio Vaticano II, con la Costituzione dogmatica Dei Verbum ed altri importanti documenti, ha portato la Bibbia al centro della vita della Chiesa: è stato detto che sia nella formazione catechetica dei bambini, sia nel breviario dei preti, sia nella liturgia, sia nella teologia stessa è necessario avere come riferimento la Bibbia. Mettere al centro della vita dei fedeli la Bibbia ha significato dunque che ciascun fedele, qualunque fosse la sua formazione e il suo livello culturale, dovesse avere un accesso diretto ai testi sacri. A questo punto la Chiesa in tutti i suoi livelli si è accorta che i libri di esegesi prodotti dagli specialisti erano troppo difficili, troppo tecnici per essere utilizzati dal popolo fedele.

La risposta a questo problema – che è un problema assolutamente reale – è stata quella di evitare le difficoltà più che di superarle. Si è cercato di rimuovere il problema, di allontanarsi da esso fornendo un’interpretazione semplificata della Bibbia che non facesse venire in contatto i fedeli con i nodi della ricerca storica, con il fatto ad esempio che i quattro vangeli sono diversi l’uno rispetto all’altro, che la teologia di Paolo è diversa da quella di Giovanni, che ci sono state tante forme di cristianesimo primitivo, ecc. Che le forme teologiche, dogmatiche e istituzionali delle Chiese successive sono diverse da quelle dei primi tempi. Tutto questo, senza una formazione teologica almeno elementare, non può essere comprensibile dal popolo fedele. Perciò si è scelto di abbandonare sempre di più l’esegesi storica, che creava troppi problemi, a favore di un’interpretazione spiritualizzante e armonizzante dei testi biblici.

Tuttavia, sul lungo periodo questa scelta ha un effetto disastroso, perché produce a livello di base un’interpretazione dei testi di stampo fondamentalista. Non è che la Chiesa cattolica sia su posizioni fondamentaliste: sarebbe una stupidaggine affermarlo. La teologia dell’attuale papa non è una teologia fondamentalista. Però il desiderio giusto di dare la Bibbia al popolo, nelle mani del popolo semplice, ha trovato realizzazione in un modo che ha portato ad una forma di spiegazione della Bibbia che nega quei fatti storici che l’esegesi ha sempre riconosciuto. E tutto ciò produce inevitabilmente col tempo una deriva fondamentalista, soprattutto nei cosiddetti movimenti che controllano molta parte dei fedeli cattolici.

Oltre al pervertimento di esigenze pastorali, alla base della diffidenza della Chiesa per il metodo storico non crede ci sia anche la paura per un’eventuale delegittimazione dell’istituzione Chiesa in quanto tale?

Credo siano presenti entrambi i fattori. Tuttavia il secondo fattore, quello del timore che venga messo in discussione l’aspetto istituzionale della Chiesa cattolica, secondo me sta crescendo nell’ultimo decennio, ma non è il motivo principale della diffidenza verso il metodo storico. Io continuo a pensare che il motivo principale sia di ordine pastorale.

Non si può negare però che là dove si attribuisce autonomia al metodo storico nell’interpretazione della scrittura ma anche della storia della Chiesa dei primi secoli, si offre la possibilità di fornire anche strumenti per poter modificare gli assetti attuali. Faccio un esempio: si insiste molto sul ruolo di Pietro nella storia della Chiesa, però gli storici sanno che in realtà non c’è stato un episcopato monarchico nella Chiesa di Roma fino alla fine del II secolo. E questo cambia sostanzialmente la visione: non è vero che Pietro è stato il primo papa e poi ci sono stati dei successori. Sono stati dei Collegi a dirigere la Chiesa di Roma per molti decenni. Questi dati non portano a distruggere completamente, in modo irriverente, le istituzioni ecclesiastiche cattoliche, ma presentano dei fatti che la teologia deve poter elaborare, anche in un contesto di carattere ecumenico.

Ecco, nella misura in cui si dice che senza una fede cattolica non si possono interpretare i testi, si finisce per rendere molto difficile la stessa possibilità di una ricerca biblica da un punto di vista storico, perché una volta che il presupposto di fede deve essere necessariamente quello cattolico e non quello protestante o quello ortodosso, è inevitabile che si cerchi più o meno consapevolmente nei testi quello che l’istituzione e la teologia attuale affermano.

Senza negare le preoccupazioni pastorali che spingono alcuni a privilegiare un’esegesi spiritualitista che non distingue sufficientemente il piano storico da quello della fede cattolica, sarebbe stato possibile percorre anche una seconda strada che invece mi sembra sia stata trascurata. Si sarebbe potuto distinguere il problema pastorale da quello strettamente storico-esegetico. Sarebbe bastato affermare la necessità che venisse preservato almeno uno spazio, nelle istituzioni accademiche cattoliche, per una ricerca storica sui testi che non sia in nessun modo finalizzata ad una lettura pastorale della Bibbia. I risultati dell’esegesi condotta in ambito strettamente accademico potrebbero infatti essere poi esaminati ed utilizzati dai teologi che cercheranno di mediarli in un’interpretazione appunto teologica. Seguendo questa strada, per lo meno si sarebbe permesso ad una serie di intellettuali e studiosi cattolici di poter esercitare liberamente la ricerca storica sui testi biblici senza il pericolo di una sanzione da parte dei vescovi o senza quella inevitabile autocensura che previene il pericolo di una correzione da parte delle autorità. Cosa che adesso invece sarà inevitabile, con il pericolo dell’isolamento dell’esegesi cattolica nel contesto dell’indagine internazionale. (e. c.)

Fonte: Adista, nº 79, 15/11/2008

 

Ou leia em português na IHU On-Line de 17/11/2008, da qual transcrevo pequeno trecho:

‘Desse jeito, a exegese católica caminha rumo ao isolamento’. Entrevista com Mauro Pesce

(…) Sobre o Sínodo e outros temas, falamos com Mauro Pesce, biblista, professor de História do Cristianismo na Universidade de Bolonha, assim como autor (junto com Corrado Augias) do bestseller “A Vida de Jesus Cristo” [A Vida de Jesus Cristo: O Homem que mudou o mundo. Queluz de Baixo, Barcarena: Presença, 2008, 220 p. – ISBN 9789722339124], duramente atacado por vozes expoentes do mundo católico institucional por ter aproximado o grande público à abordagem histórica dos Evangelhos e às fontes do cristianismo das origens.

“O Sínodo dos bispos é um grande evento porque, em se tratando de uma assembléia coletiva do episcopado – mesmo tendo só um valor consultivo e não deliberativo –, certamente não deixará de produzir efeitos importantes, mesmo além da eventual encíclica que o papa poderá escrever sobre a interpretação da Bíblia hoje. É também um acontecimento muito importante, sobre o qual é necessário refletir com atenção. Parece-me que esse Sínodo, mais do que uma síntese, um aprofundamento ou um progresso posterior com relação à postura que a Igreja teve sobre a interpretação da Bíblia desde os tempos de Leão XIII (com a encíclica “Providentissimus Deus”) até o Concílio Vaticano II, promoveu, pelo contrário, um retrocesso [italiano: arretramento] e um restringimento. Foi a expressão de uma corrente teológica particular que hoje é majoritária em certos ambientes eclesiásticos católicos, mas que não é a única teologia católica contemporânea, nem obviamente a única teologia importante que se manifestou nos últimos 50 anos. A Mensagem final do Sínodo me pareceu fortemente eclesiocêntrica; não primariamente teocêntrica nem primariamente cristocêntrica. Mesmo que não se diga que fora da Igreja católica não há salvação, a Igreja católica se torna o único ponto de referência para a mensagem cristã aos homens pelo eixo Revelação-Cristo-Igreja-Missão. Na minha opinião, eles poderiam ter se servido de uma teologia mais teocêntrica, em que se reconheça que o agir de Deus no mundo se manifesta por meio de uma pluralidade de formas para a humanidade que não podem ser todas resumidas na Bíblia ou que veja já na Bíblia uma abertura a outras manifestações de Deus”.

Leia Mais:
Quem é Mauro Pesce?

Entrevista com Johan Konings sobre o Sínodo

Está em Notícias – IHU On-Line de 16/11/2008: Sínodo dos Bispos atualizou o Concílio Vaticano II. Entrevista especial com Johan Konings

Konings, Mestre em Filologia Bíblica, 1968, e Doutor em Teologia pela Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica, 1972, é coordenador de nosso grupo de estudos bíblicos que se reúne em Belo Horizonte, os “Biblistas Mineiros“. É Professor da FAJE, Faculdade Jesuita de Filosofia e Teologia, de Belo Horizonte, MG.

Konings participou do Sínodo como assessor, e faz, nesta entrevista, uma avaliação bastante positiva do que lá aconteceu. Destaco três trechos da entrevista:

:: (…) “O Sínodo [realizado de 5 a 26 de outubro] de 2008 teve como tema: ‘A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja’. Nota-se a intenção de continuar e de atualizar o Concílio, insistindo na ‘missão’, termo que não estava no texto do Concílio. Pois desde o Concílio percebeu-se que missão não é apenas ir aos indígenas da Amazônia, mas às tribos de nossa juventude urbana e aos pagãos de nossas avenidas e campi universitários. Olhando assim, achei o Sínodo fabuloso. Foi uma oportunidade para, através da voz de 253 bispos, eleitos por seus confrades de cada região, conhecer a situação e os projetos das mais diversas regiões onde a Igreja está presente neste mundo globalizado. E pode-se dizer que não se deu um passo para trás em relação ao Concílio, mas que, pelo contrário, se mostrou uma vontade unânime de avançar”.

:: (…) “Nas proposições, ou seja, nas sugestões votadas em plenário para serem apresentadas ao Papa, aparecem claros avanços: o desejo de que a Bíblia seja mais divulgada, estudada com os devidos métodos científicos que a Igreja vem fomentando com toda a força nos últimos cinqüenta anos, claramente expostos no importantíssimo documento da Pontifícia Comissão Bíblica de 1993; o desejo de que o estudo leve à contemplação, à oração e à prática da comunhão fraterna; a valorização do trabalho dos leigos, dos agentes de pastoral bíblica, especialmente das mulheres, para as quais se pede seja estendida a ordenação ao ministério de leitorato; que os pobres sejam ‘artífices de sua própria história’, impulsionados pela Palavra de Deus acolhida nas suas comunidades; que a Bíblia esteja em todas as famílias, inclusive nas línguas dos povos pequenos e pobres; que a pastoral bíblica não seja uma pastoral ao lado das outras, mas a inspiração que permeie todas as pastorais; que finalmente se leve a sério o enriquecimento bíblico da Liturgia a partir do Vaticano II e o valor de uma homilia bem preparada pelo estudo e pela oração – além de bem proferida; essas e tantas outras foram expressões do desejo praticamente unânime dos bispos de avançar na linha do Concílio Vaticano II”.

:: “Quanto à hermenêutica ou interpretação, toda escuta e toda leitura é uma interpretação, pois senão, não se entende nada. Os fundamentalistas pensam que eles não interpretam, mas interpretam sem que saibam, e reforçam interpretações subliminares sem se darem conta disso. Ora, interpretação sempre tem uma dupla interface – por isso se chama ‘inter’-pretação: é interlocução, mediação entre o texto que representa o evento Jesus no seu momento fundador, abordado com métodos históricos e literários, e o nosso texto de hoje, o texto de nossa vida, em nossa sociedade, em nosso mundo político-econômico-social-cultural-ecológico etc., assimilado com a nossa psicologia pessoal e coletiva. Colocar tudo isso em diálogo é hermenêutica, é leitura. Também no caso da Bíblia”.