Resenhas na RBL – 13.06.2013

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Mersha Alehegne
The Ethiopian Commentary on the Book of Genesis: Critical Edition and Translation
Reviewed by James C. VanderKam

Daniel E. Fleming
The Legacy of Israel in Judah’s Bible: History, Politics, and the Reinscribing of Tradition
Reviewed by Yitzhaq Feder
Reviewed by Frank H. Polak

Mark Leuchter and Jeremy M. Hutton, eds.
Levites and Priests in Biblical History and Tradition
Reviewed by Pekka Pitkanen

Tremper Longman III
Job
Reviewed by Michael Collender

Christian Metzenthin
Jesaja-Auslegung in Qumran
Reviewed by Paul Sanders

Douglas E. Oakman
The Political Aims of Jesus
Reviewed by Tobias Hagerland

B. J. Oropeza
Jews, Gentiles, and the Opponents of Paul: The Pauline Letters
Reviewed by Joseph Oryshak

Peter Pilhofer
Neues aus der Welt der frühen Christen
Reviewed by Günter Röhser

Mark R. Sneed
The Politics of Pessimism in Ecclesiastes: A Social-Science Perspective
Reviewed by Martin A. Shields

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As manifestações e a repressão: o que está acontecendo?

Não enxergar o elo entre as ruas e o ciclo histórico costuma ser fatal às lideranças de uma época. Acreditar que o elo, no caso dos recentes protestos em São Paulo, está no aumento de 20 centavos sobre uma tarifa de transporte congelada desde janeiro de 2011, é ingenuidade. Supor que a ordenação entre uma coisa e outra poderá ser  restabelecida à base de cassetetes e pedradas é o passaporte para o desastre.

:: Em nota, CONIC condena brutalidade policial – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil: 14/06/2013
“As manifestações dos povos indígenas que assistimos nos últimos dias e a manifestação que vimos ontem [13/06/2013], e todas as repressões e extermínios de jovens que acontecem nas periferias das cidades cotidianamente ilustram que algumas de nossas políticas seguem na contramão da garantia de direitos humanos”, afirma nota do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC. A nota condena energicamente a repressão policial ocorrida durante as manifestações em São Paulo por conta dos reajustes das passagens. “Não queremos apenas circo. Queremos também pão, fruto da justiça social”, concluem as Igrejas Cristãs. E continua: “Reivindicamos o cumprimento das convenções internacionais de direitos humanos. Nosso desejo é que a população seja respeitada e que políticas capazes de transformar as estruturas sociais e econômicas responsáveis pela exclusão social tornem-se reais”.

:: Manifestações no Brasil e a lógica do capitalismo hoje – Fábio Salem Daie: Opera Mundi 15/06/2013
No sentido de uma crise generalizada do contexto sócio-econômico nacional e mundial, podemos afirmar que as manifestações iniciadas contra o aumento das passagens de ônibus, em diversas cidades do Brasil, são “políticas”. No entanto, parece não ser este o sentido outorgado a elas, ao menos pelos gestores estaduais. Alarmados com a força demonstrada pela articulação popular (iniciada pelo Movimento Passe Livre), os governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro, Geraldo Alckmin (PSDB) e Sérgio Cabral (PMDB), apressaram-se em tachar os protestos, na última quinta-feira, de “políticos”: querendo significar, entretanto, que se tratam na verdade de estratégias partidárias e não de “mobilizações espontâneas”. Tal ótica não somente se mostra falsa sob o aspecto organizativo do movimento (grandemente impulsionado pelas redes sociais e composto por uma gama ampla de componentes ideológicos) como também impede que uma mobilização há muito não vista possa ser, de fato, compreendida. Algo novo surge, ainda que não se possa prever seu desdobramento. E isso é inegável. Na esteira de movimentos populares que tomaram praças e ruas ao redor do mundo nos últimos anos, também este se apresenta como uma surpresa desagradável aos gestores da res publica, tornada, a partir da década de 1990, cada vez mais assunto dos negócios privados (bem como o transporte coletivo em São Paulo e em outras regiões).  Mesmo na televisão, jornalistas comentavam, à luz dos confrontos nas ruas, que nunca haviam realizado antes a cobertura de protestos “deste tipo”.

:: Um estado policial – Mauro Santayana: Carta Maior 15/06/2013
Estamos assistindo a uma perigosíssima associação entre as forças policiais e a extrema direita de caráter fascista no mundo inteiro – o que merece uma análise mais ampla. Mas, no caso brasileiro, parece haver interesse calculado em criar um ambiente de pânico na população, que sempre favorece os golpistas.

:: E daqui, para onde vamos? – Pablo Villaça: Diário de Bordo 15/06/2013
Vivemos em tempos perigosos: a direita religiosa se torna cada vez mais influente e as grandes empresas da mídia já perceberam que o PSDB não é uma oposição viável – e, assim, decidiram ser elas mesmas a Oposição. Não é à toa que, contradizendo todos os índices econômicos divulgados por órgãos independentes, a Globo, a Foxlha, a Veja e o Estadão vêm pintando um quadro de instabilidade crescente: inflação alta, dólar alto, PIB decrescente e por aí afora, pintando um país em crise que, sejamos honestos, não corresponde ao que vemos todos os dias nas ruas. Enquanto isso, o aliado histórico dos movimentos populares, o PT, parece ter se esquecido de suas origens: tímido em sua resposta à brutalidade da PM, Haddad apenas embaraçou-se ao relativizar os excessos da polícia – e sua proposta de se reunir com as lideranças do movimento Passe Livre vem tardio, já que estas já não representam mais as massas na rua. Enquanto isso, Dilma é vaiada num estádio lotado por representar o poder – mesmo que, há pouco tempo, tenha oferecido subsídios justamente para diminuir as passagens de ônibus que, ironicamente, serviram como estopim da revolta. Ora, se o PT não é visto mais como representante popular pelos manifestantes (e nem tem projeto que o aproxime da juventude) e o PSDB é claramente a mão pesada da repressão, para onde os jovens podem se voltar? Além disso, como não têm uma causa específica a defender, estes empolgados rapazes e moças criam um problema impossível, já que não há solução viável que os acalme. Como resultado, surge apenas um clima imponderável de insatisfação política generalizada – um clima complexo, intenso, raivoso e insolúvel. É deste tipo de contexto que nascem os golpes. E esta não seria uma solução que desagradaria os barões da mídia.

::Cuidado com a jaborização das manifestações – Roberto Brilhante: Carta Maior 18/06/2013
Podemos pensar que os protestos de São Paulo e do Brasil não trazem apenas demandas pontuais como a redução das tarifas. Mas como dizer que as milhares de pessoas que protestavam contra Marcos Feliciano protestavam diretamente contra Dilma? Como dizer que aqueles em São Paulo que pediam a saída do governador Geraldo Alckmin protestavam contra o governo federal? Ou ainda, que aqueles que expulsaram a rede Globo da manifestação de São Paulo protestavam contra Dilma? Só através de um discurso oportunista que é reproduzido diariamente pelos dinossauros da velha mídia.  Mas não é apenas Jabor que busca construir uma ”revolta popular” antigovernista. A Folha de S. Paulo hoje [18/06/2013] traz em seu editorial sobre os protestos o seguinte trecho em destaque: ”muda o clima político no país; governo Dilma não tem respostas para inflação nem para saúde, educação, segurança e transportes”. O mesmo tom jaboriano, de que “o povo não aguenta mais este governo federal ineficiente”. Se não tomarmos cuidado, começaremos a fazer onipresentes os chavões de Jabor dentro de nossos protestos.

:: São Paulo e Rio de Janeiro revogam aumento da tarifa de transporte público – Redação: Rede Brasil Atual – 19/06/2013 18:12
Medida é adotada por prefeitos Fernando Haddad e Eduardo Paes e pelo governador Alckmin após quase quinze dias de protestos que ganharam força e passaram a incorporar outras insatisfações da população.

:: Protestar contra tudo é o mesmo que protestar contra nada – Cynara Menezes: Socialista Morena 19/06/2013
Eu sinceramente pensei que, com tanta gente mobilizada, as pautas progressistas, tão necessárias e tão ameaçadas, fossem vir à tona (…) Que nada. O que vejo nas ruas é um festival de generalizações. Artistas divulgam nas redes sociais frases de efeito vazias: “Ou o Brasil muda ou o Brasil para”, “Ou para a roubalheira ou paramos o Brasil”. Essas palavras podem soar bonitas, mas não significam nada na prática. São apenas slogans escritos em uma cartolina por pessoas despolitizadas que não parecem genuinamente comprometidas com o País. “O gigante acordou” é trecho de propaganda de uísque. “Vem Para a Rua” é jingle de automóvel. Trechos do hino nacional ou de canções do Legião Urbana são poéticos porém inúteis. Excluíram as bandeiras dos partidos de esquerda do movimento para que ele fosse “apartidário”. Ok. Mas desde que elas saíram, o volume de pessoas nas ruas aumentou e as manifestações perderam em conteúdo. Vejo gente saltando diante das câmeras de TV que nem no carnaval e assisto a entrevistas onde os participantes não conseguem concatenar meia dúzia de ideias para justificar por que estão ali. Resumem-se a dizer que protestam “contra tudo”. Contra tudo o quê, cara-pálida? É mentira que o Brasil esteja totalmente ruim para que seja preciso protestar contra TUDO. É contra a Copa? Ótimo. Pelo menos é UMA razão. Quem protesta contra tudo, a meu ver, não está protestando contra coisa alguma. Afinal, o protesto é à vera ou é só para postar no Facebook? Uma manifestação se distingue de uma turba pelas reivindicações e pelas causas que possui. Uma manifestação sem rumo e sem causa pode se transformar facilmente em terreno fértil para aproveitadores e arruaceiros.

:: Carta aberta dos movimentos sociais à Presidenta Dilma – 19/06/2013
“Setores conservadores da sociedade buscam disputar o sentido dessas manifestações. Os meios de comunicação buscam caracterizar o movimento como anti Dilma, contra a corrupção dos políticos, contra a gastança pública e outras pautas que imponham o retorno do neoliberalismo. Acreditamos que as pautas são muitas, como também são as opiniões e visões de mundo presentes na sociedade. Trata-se de um grito de indignação de um povo historicamente excluído da vida política nacional e acostumado a enxergar a política como algo danoso à sociedade. (…) O momento é propício para que o governo faça avançar as pautas democráticas e populares, e estimule a participação e a politização da sociedade. Propomos a realização com urgência de uma reunião nacional, que  envolva os governos estaduais, os prefeitos das principais capitais,  e os representantes de todos os movimentos sociais. De nossa parte estamos abertos ao diálogo, e achamos que essa reunião é a única forma de encontrar saídas  para enfrentar a grave crise urbana que atinge nossas grandes cidades. O momento é favorável. São as maiores manifestações que a atual geração vivenciou e outras maiores virão. Esperamos que o atual governo escolha governar com o povo e não contra ele” (assinam mais de 30 organizações e movimentos, entre os quais a CUT, UNE, MST,UBES, Vila Campesina, Levante Popular, Intervozes etc).

:: MPL acusa onda conservadora e desiste de novas manifestações – Ana Krepp:  Folha de S. Paulo 21/06/2013 – 10h53
O Movimento Passe Livre anunciou hoje a suspensão de novas manifestações em São Paulo. Segundo um dos integrantes do grupo, que pleiteia tarifa zero nos transportes públicos, “grupos conservadores se infiltraram nas manifestações” e defenderam, ontem, propostas como a redução da maioridade penal. “A gente acha que grupos conservadores se infiltraram nos últimos atos para defender propostas que não nos representam”, disse Siqueira. De acordo com ele, o recuo do movimento foi decidido no final da noite de ontem, por consenso, após os incidentes na Paulista.  Durante o ato, o MPL conversou com alguns grupos de esquerda sobre a presença de “neofascistas” agredindo pessoas na rua. “É inconcebível essa onda oportunista da direita de tomar os atos para si.” Segundo o movimento, desde o ato de terça-feira, grupos de direita (não se sabe se organizados ou não) levaram às ruas pautas que não representam o MPL, o que gerou preocupação, pois “distorce a iniciativa”. “O que preocupa não é a participação das pessoas na rua, mas pessoas claramente contra as organizações sociais e que nunca participaram de manifestações, começarem agora a usar os atos para promover a barbárie.” (…) Ontem [20/06/2013], um grupo de manifestantes, denominados “nacionalistas” entrou em confronto com pessoas que estavam com bandeiras de partidos durante protesto contra tarifas na avenida Paulista, centro de São Paulo.

:: ‘Tudo isso que tá aí’ – Emir Sader: Blog do Emir 23/06/2013
Valendo-se das mobilizações das últimas semanas, a direita trata de impor outra visão, mais radical ainda: a de que nada de importante passou no Brasil, que só agora a população “desperta” e que é preciso se opor “a tudo o que está aí”. Mais radical porque desconhece todos os avanços no combate à desigualdade, à miséria e à pobreza logrados na última década. Tenta fazer tabula rasa e apagar tudo o que os governos do Lula e da Dilma conseguiram. Só assim é possível a segunda parte da visão: opor-se “a tudo o que está aí”. Neste caso, esse “tudo” se resume ao governo, somando a ele o Congresso. Se absolvem os bancos, os monopólios midiáticos, as grandes corporações econômicas, entre outros, que seriam os beneficiários de uma derrota de “tudo o que está aí”. Se esse consenso chega a se impor – e ele tem uma massa de jovens mobilizados e sensíveis para impô-lo, multiplicado pela ação da mídia –, se apagariam os avanços da última década e se concentraria o fogo no governo como o “velho” que bloqueia o avanço do país. Nas acusações sobre os gastos da Copa – desde a suspeita de corrupção até o desvio de recursos de setores vitais –, mais além de que o governo tem argumentos contra – como se viu no discurso da Dilma –, o fracasso da política de comunicação fez com que o governo sofresse uma imensa derrota. É como se esses argumentos fossem já um consenso na opinião pública e na juventude em particular. Essa visão busca invisibilizar o povo – os trabalhadores, os sem-terra, todas as camadas populares beneficiadas pelas políticas governamentais –, reivindicando-se para eles a representação do Brasil, com o argumento forte de que eles são os jovens. Está em disputa assim o consenso geral no país, a partir de uma nova ofensiva ideológica da direita, agora se valendo dos jovens e da sua disposição espontânea de atacar “o poder, a corrupção”, “isso tudo que está aí”. Se o governo não mudar políticas fundamentais, a começar pela de comunicações – que falhou estrepitosamente – e desenvolver políticas sobre temas tão caros à juventude – como a ecologia, o aborto, a descriminalização das drogas, a internet –, criando canais de contato e discussão permanente com os jovens, vai ter muita dificuldade para recuperar sua imagem, valorizar o que foi feito e executar seus planos de futuro.

:: O que ocorre nas redes – Vinicius Wu: Carta Maior 23/06/2013
Não estamos diante de UM movimento, mas de vários. Uma rede é formada por diversos “nós”. Uns se comunicam com outros, mas nem todos interagem, ao mesmo tempo, com todos. Assim, por exemplo, um sujeito que vai às ruas em favor do transporte público de qualidade não influencia, em praticamente nada, um outro que vai a uma passeata defendendo a prisão de todos os políticos e o fechamento do Congresso Nacional. O uso que um indivíduo faz de uma rede social tem por base uma determinada seleção de informações, realizada de acordo com seus valores, gostos, preferências e aspirações. Nunca é demais lembrar, que ao utilizarmos o facebook ou o twitter o fazemos,  principalmente, enquanto usuários de um sistema de distribuição de informações em rede. O mundo produz atualmente 5 bilhões de gigabytes de informação a cada dois dias. Portanto, é evidente que “estar na rede” significa recolher uma parcela, muito pequena, de informações disponíveis na web. No caso das redes sociais, é o indivíduo – ou sua rede mais próxima de amigos e conhecidos – quem seleciona o que será exibido em seu mural ou timeline. Então, não temos um movimento mobilizando as pessoas, mas vários movimentos simultâneos que podem ser, perfeitamente, contraditórios, convergentes ou até mesmo antagônicos entre si. E o que há é exatamente isso. Estamos diante de manifestações que reúnem, ao mesmo tempo, pessoas que defendem o fim do sistema capitalista e outras que gostariam de extinguir os partidos de esquerda. É a pós-modernidade transformada em movimento de massas. Ocorre que, além disso, é importante ter consciência de que alguns “nós” influenciam mais do que outros. E o problema fundamental para a esquerda nesse processo é que há um grande partido político nesse país que, com muita habilidade, se tornou o principal “nó” dessa rede. Há, nesse momento, uma direção política, sim, conduzindo os protestos. E essa condução é dada pela grande mídia. Foi ela quem “capturou” a agenda e fez transitar a pauta principal dos protestos da luta pela redução das passagens à luta abstrata contra a corrupção.

:: A grande oportunidade – Boaventura de Sousa Santos: Carta Maior 25/06/2013
O Brasil está diante de uma grande oportunidade diante da iniciativa da presidenta Dilma, que reconheceu a energia democrática que vinha das ruas. Esse movimento pode ser o motor do aprofundamento da democracia no novo ciclo político que se aproxima. Caso contrário, a direita tudo fará para que o novo ciclo seja tão excludente quanto os velhos ciclos que durante tantas décadas protagonizou. E não esqueçamos que terá a seu lado o big brother do Norte, a quem não convém um governo de esquerda estável em nenhuma parte do mundo.

:: Brasil, da direita à esquerda – Flávio Aguiar: Carta Maior 27/06/2013
Muito grito vai continuar rolando pelas ruas brasileiras, e muitos também pelas conspirações, temores e desejos ardentes que se espraiam pelo Brasil e pelo mundo a respeito do Brasil. Na esquerda que apoia (mais ou menos), por exemplo, viceja um temor de golpe dado pela direita, com apoio em parte do aparato de Estado (alguns setores parlamentares, outros do Judiciário, como aconteceu em Honduras, Paraguai e até nos Estados Unidos, quando da primeira eleição de G. Bush Filho contra Al Gore). Na esquerda que não apoia o governo, vicejam interpretações que veem um Brasil em estado pré-revolucionário. No caminho da revolução mundial que poderia se alastrar a partir do Brasil, está a pedra do sinuoso consórcio dirigente formado por (pela ordem de importância) FIFA-Lula-Dilma-PT-Bancos-Empreiteiras e para quebrar os ovos e fazer a omelete seria necessário decapitar esta serpente. Na direita mais tradicional medra a esperança de que o governo entre em colapso (os mais afoitos) ou em parafuso (os médio afoitos) ou que a eleição em 2014 vá pelo menos para o segundo turno (os mais menos afoitos). Na extrema-direita, onde se amalgamam desde saudosos da ditadura militar ou direitistas ainda infiltrados no aparelho de Estado, vicejam golpistas à solta, com idéias na cabeça e pedras ou barras de ferro na mão, ou às vezes balas de borracha (ainda só, felizmente) do outro lado das linhas, já que barricadas propriamente ainda não há. Estas conjecturas esbarram num problema. Tirando os golpes judiciários ou parlamentares (ainda não vejo condições para tal), só há duas maneiras de derrubar um governo que não se deixe enredar nas próprias pernas ou se aprisionar no círculo de giz da velha mídia (tudo é possível no reino deste mundo, não esqueçamos). Flávio Aguiar mora em Berlim.

:: A polissemia das manifestações populares – Edson Elias de Morais e  Luana Garcia: Notícias: IHU On-Line 28/06/2013
Os partidos de Esquerda estão comemorando porque o povo está “acordando” e foi para as ruas. Os partidos de Direita estão comemorando porque o povo está “acordando” e foi para as ruas. Os apartidários estão comemorando porque o povo está “acordando” e foi para as ruas. Cada um interpreta à sua maneira e faz as ponderações e indicações segundo suas agendas. A mídia, os partidos de Direita e seus simpatizantes estão comemorando ainda mais, porque estão percebendo nisso um “filão” inesperado contra o governo Dilma e principalmente contra o PT. Estão utilizando os gritos, as revoltas, as manifestações como sinônimos de crítica ao governo e não a uma sociedade viciada politicamente, a uma sociedade corrompida estruturalmente e um sistema societário fadado à desigualdade (…) Por mais que alguns manifestantes, em sua minoria, incitem  a política sem políticos, o poder total ao povo, e levantam bandeiras anarquistas, outros manifestantes, talvez uma maioria, apontam que a representação política é necessária, mas deve contar com mais controle e vigilância do povo, para que não desvirtue os princípios democráticos, como a utilização correta dos recursos públicos (…) É uma revolta plural que pode, por defender tantos ideais, se perder no enfrentamento de metas especificas, por não ter um projeto e uma organização devido à falta de uma politização no processo de socialização. Ficam reféns do calor do momento e da esperteza de alguns partidos políticos, e por esse motivo as atuais manifestações populares podem servir a dois senhores ou mais, simultaneamente.

:: Balanço rápido e rasteiro de uma semana intensa – Gilberto Maringoni: Carta Maior 29/06/2013
A semana termina de forma bastante positiva para quem vê as manifestações e protestos como impulsionadores da democratização da sociedade [o artigo destaca 11 pontos]. O mais importante de tudo é que reabriu-se para o povo a agenda política no país. Como diria o Barão de Itararé, “Tudo pode acontecer, inclusive nada”. Apostemos as fichas no “tudo”.

:: Datafolha registra criminalização da política e romaria pró-Marina – Marcelo Salles: Carta Maior 30/06/2013
A pesquisa divulgada neste domingo indica a ação pesada dos fiéis da balança, a mídia e os evangélicos, conforme havíamos previsto. Os evangélicos na organização da campanha por Marina e contra Dilma, e a mídia com a instrumentalização dos protestos a seu favor. Eles irão continuar operando contra a presidenta até o dia do pleito, não importa o que ela faça. Simplesmente porque defendem outro projeto para o país.

A grande mídia sempre foi inimiga do Brasil?

Uma breve história da luta da grande mídia contra os interesses nacionais – Leandro Severo*: Carta Maior 16/06/2013. O texto pode ser lido aqui ou aqui.

Não é difícil perceber o quanto a submissão aos interesses econômicos estrangeiros levou a dita “grande mídia” brasileira a se afastar da nação. A se tornar, ao longo dos anos, em uma peça chave da política do Imperialismo. Em praticamente todos os principais momentos da vida nacional se inclinaram para o golpismo e a traição. Já no primeiro golpe contra Getúlio, depois, contra sua eleição, contra sua posse, contra a criação da Petrobrás, contra a eleição de Juscelino, contra João Goulart, contra as reformas de base, apoiando a Ditadura, apoiando a política econômica de Collor, apoiando Fernando Henrique e suas privatizações, atacando Lula. Hoje, ela novamente tem lado: o das concessões de estradas, portos e aeroportos, o dos leilões de privatização do petróleo e da necessidade da elevação das taxas de juros, do controle do déficit público com evidentes restrições aos investimentos governamentais, ou seja, da aceitação de um neoliberalismo tardio.

 

Em 1957, uma CPI da Câmara dos Deputados, comprovou que O Estado de São Paulo, O Globo e o Correio da Manhã foram remunerados pela publicidade estrangeira para moverem campanhas contra a nacionalização do petróleo. Em momentos cruciais para o país se inclinaram para o golpismo e a traição aos interesses nacionais: contra Getúlio, a Petrobrás, JK, contra Jango, apoiando a ditadura, Collor, FHC e suas privatizações, atacando Lula.

Em 1941, enquanto milhões de homens e mulheres derramavam seu sangue pela liberdade nos campos da Europa e da União Soviética, a elite dos círculos financeiros dos Estados Unidos já traçava seus planos para o pós-guerra. Como afirmou Nelson Rockfeller, filho do magnata do petróleo John D. Rockfeller, em memorando que apresentava sua visão ao presidente Roosevelt: “Independente do resultado da guerra, com uma vitória alemã ou aliada, os Estados Unidos devem proteger sua posição internacional através do uso de meios econômicos que sejam competitivamente eficazes…” (COLBY, p.127, 1998). Seu objetivo: o domínio do comércio mundial, através da ocupação dos mercados e da posse das principais fontes de matéria-prima. Anos mais tarde, o ex-secretário de imprensa do Congresso americano, Gerald Colby, sentenciava sobre Rockfeller: “no esforço para extrair os recursos mais estratégicos da América Latina com menores custos, ele não poupava meios” (COLBY, p.181, 1998).

Neste mesmo ano, Henry Luce, editor e proprietário de um complexo de comunicações que tinha entre seus títulos as revistas Time, Life e Fortune, convocou os norte-americanos a “aceitar de todo o coração nosso dever e oportunidade, como a nação mais poderosa do mundo, o pleno impacto de nossa influência para objetivos que consideremos convenientes e por meios que julguemos apropriados” (SCHILLER, p.11, 1976). Ele percebeu, com clareza, que a união do poder econômico com o controle da informação seria a questão central para a formação da opinião pública, a nova essência do poder nacional e internacional.

Evidentemente, para que os planos de ocupação econômica pelas corporações americanas fossem alcançados havia uma batalha a ser vencida: Como usurpar a independência de nações que lutaram por seus direitos? Como justificar uma postura imperialista do país que realizou a primeira insurreição anticolonial?

A resposta a esta pergunta foi dada com rigor pelo historiador Herbert Schiller:

“Existe um poderoso sistema de comunicações para assegurar nas áreas penetradas, não uma submissão rancorosa, mas sim uma lealdade de braços abertos, identificando a presença americana com a liberdade – liberdade de comércio, liberdade de palavra e liberdade de empresa. Em suma, a florescente cadeia dominante da economia e das finanças americanas utiliza os meios de comunicação para sua defesa e entrincheiramento, onde quer que já esteja instalada, e para sua expansão até lugares onde espera tornar-se ativa” (SCHILLER, p.13, 1976).

Foi exatamente ao que seu setor de comunicações se dedicou. Estava com as costas quentes, já que as agências de publicidade americanas cuidavam das marcas destinadas a substituir as concorrentes europeias arrasadas pela guerra. O setor industrial dos EUA havia alcançado um vertiginoso aumento de 450% em seu lucro líquido no período 1940-1945, turbinado pelos contratos de guerra e subsídios governamentais. Com esta plataforma invadiram a América Latina e o mundo.

Com o suporte do coordenador de Assuntos Interamericanos (CIIA), Nelson Rockfeller, mais de mil e duzentos donos de jornais latinos recebiam, de forma subsidiada, toneladas de papel de imprensa, transportada por navios americanos. Além disso, milhões de dólares em anúncios publicitários das maiores corporações eram seletivamente distribuídos. É claro que o papel e a publicidade não vinham sozinhos, estavam acompanhados de uma verdadeira enxurrada de matérias, reportagens, entrevistas e releases preparados pela divisão de imprensa do Departamento de Estado dos EUA.

A vontade de conquistar as novas “colônias” e ocupar novos territórios como haviam feito no século anterior, no velho oeste, não tinha limites. No Brasil, circulava desde 1942, a revista Seleções (do Reader’s Digest), trazida por Robert Lund, de Nova York. A revista, bem como outras publicações estrangeiras, pagava os devidos direitos aduaneiros, por se tratar de produtos importados, mas solicitou, e foi atendida pelo procurador da República, Temístocles Cavalcânti, o direito de ser editada e distribuída no Brasil, com o argumento de ser uma revista sem implicações políticas e limitada a publicar conteúdos culturais e científicos. Assim começou a tragédia.

Logo em seguida chegou o grupo Vision Inc., também de Nova York, com as revistas Visão, Dirigente Industrial, Dirigente Rural, Dirigente Construtor e muitos outros títulos, que vinham repletos de anúncios das corporações industriais. Um fato bastante ilustrativo foi o da revista brasileira Cruzeiro Internacional, concorrente da Life International, que, apesar de possuir grande circulação, nunca foi brindada com anúncios, enquanto a concorrente americana anunciava produtos que, muitas vezes, nem sequer estavam à venda no Brasil.

Ficava claro que os critérios até então estabelecidos para o mercado publicitário, como tempo de circulação efetiva, eficiência de mensagem e comprovação de tiragem, de nada adiantavam. O que estava em jogo era muito maior.

Um papel importantíssimo na ocupação dos novos mercados foi desempenhado pelas agências de publicidade americanas. McCann-Erickson e J. Walter Thompson eram as principais e tinham seu trabalho coordenado diretamente pelo Departamento de Estado. Para se ter uma idéia, a McCann-Erickson, nos anos 60, possuía 70 escritórios e empregava 4.619 pessoas, em 37 países, já a J. Walter Thompson tinha 1.110 funcionários, somente na sede de Londres. Os Estados Unidos tinham 46 agências atuando no exterior, com 382 filiais. Destas, 21 agências em sociedade com britânicos, 20 com alemães ocidentais e 12 com franceses. No Brasil atuavam 15 agências, todas elas com instruções absolutamente claras de quem patrocinar.

No início dos anos 50, Henry Luce, do grupo Time-Life, já estava luxuosamente instalado em sua nova sede de 70 andares na área mais nobre de Manhattan, negócio imobiliário que fechou com Nelson Rockfeller e seu amigo Adolf Berle, embaixador americano no Brasil na época do primeiro golpe contra o presidente Getúlio Vargas. Luce mantinha fortes relações com os irmãos Cesar e Victor Civita, ítalo-americanos nascidos em Nova Iorque. Cesar foi para a Argentina, em 1941, onde montou a Editorial Abril, como representante da companhia Walt Disney, já Victor, em 1950, chega ao Brasil e organiza a Editora Abril. Neste mesmo período seu filho, Roberto Civita, faz um estágio de um ano e meio na revista Time, sob a tutela de Luce e logo retorna para ajudar o pai.

Poucos anos depois, o mercado editorial brasileiro está plenamente ocupado por centenas de publicações que cantavam em prosa e verso o american way of life.Somente a Abril, financiada amplamente pelas grandes empresas americanas, edita diversas revistas: Veja, Claudia, Quatro Rodas, Capricho, Intervalo, Manequim, Transporte Moderno, Máquinas e Metais, Química e Derivados, Contigo, Noiva, Mickey, Pato Donald, Zé Carioca, Almanaque Tio Patinhas, a Bíblia Mais Bela do Mundo (1), além de diversos livros escolares.

Em 1957, uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados, comprova que O Estado de São Paulo, O Globo e o Correio da Manhã foram remunerados pela publicidade estrangeira para moverem campanhas contra a nacionalização do petróleo.

Em 1962, o grupo Time-Life encontra seu parceiro ideal para entrar de vez no principal ramo das comunicações, a Televisão: a recém-fundada TV Globo, de Roberto Marinho. Era uma estranha sociedade. O capital da Rede Globo era de 600 milhões de cruzeiros, pouco mais de 200 mil dólares, ao câmbio da época. O aporte dado “por empréstimo” pela Time-Life era de seis milhões de dólares e a empresa tinha um capital dez mil vezes maior.

Como denunciou o deputado João Calmon, presidente da Abert (Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão): “Trata-se de uma competição irresistível, porque além de receber oito bilhões de cruzeiros em doze meses, uma média de 700 milhões por mês, a TV Globo recebe do Grupo Time-Life três filmes de longa metragem por dia – por dia, repito… Só um ‘package’, um pacote de três filmes diários durante o ano todo, custa na melhor das hipóteses, dois milhões de dólares” (HERZ, p.220, 2009).

O Brasil e o mundo estão em efervescência. A tensão é crescente com revoluções vitoriosas na China e em Cuba. A luta pela independência e soberania das nações cresce em todos continentes e os EUA colocam em marcha golpes militares por todo o planeta. A Guerra Fria está em um ponto agudo.

É nesse quadro que a Comissão de Assuntos Estrangeiros do Congresso dos EUA, em abril de 1964, no relatório “Winning the Cold War: The O.S. Ideological Offensive” define:

“Por muitos anos os poderes militar e econômico, utilizados separadamente ou em conjunto, serviram de pilares da diplomacia. Atualmente ainda desempenham esta função, mas o recente aumento da influência das massas populares sobre os governos, associado a uma maior consciência por parte dos líderes no que se refere às aspirações do povo, devido às revoluções concomitantes do século XX, criou uma nova dimensão para as operações de política externa. Certos objetivos dessa política podem ser colimados tratando-se diretamente com o povo dos países estrangeiros, em vez de tratar com seus governos. Através do uso de modernos instrumentos e técnicas de comunicação, pode-se hoje em dia atingir grupos numerosos ou influentes nas populações nacionais – para informá-los, influenciar-lhes as atitudes e, às vezes, talvez, até mesmo motivá-los para uma determinada linha de ação. Esses grupos, por sua vez, são capazes de exercer pressões notáveis e até mesmo decisivas sobre seus governos” (SCHILLER, p.23, 1976).

A ordem estava dada: “informar”, influenciar e motivar. A rede está montada, o financiamento definido.

O jornalista e grande nacionalista, Genival Rabelo, exatamente nesta hora, denuncia no jornal Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro: “Há, por trás do grupo (Abril), recursos econômicos de que não dispõem as editoras nacionais, porém, muito mais importante do que isso, está o apoio maciço que a indústria e as agências de publicidade americanas darão ao próximo lançamento do Sr. Victor Civita, a exemplo do que já fizeram com as suas 18 publicações em circulação, bem como as revistas do grupo norte-americano Vision Inc.” (RABELO, p.38, 1966)

Mas é necessário mais. É preciso enfraquecer, calar e quebrar tudo que seja contrário aos interesses dos monopólios, tudo que possa prejudicar os interesses das corporações. A General Eletric, General Motors, Ford, Standard Oil, DuPont, IBM, Dow Chemical, Monsanto, Motorola, Xerox, Johnson & Johnson e seus bancos J. P. Morgan, Citibank, Chase Manhattan precisam estar seguros para praticar sua concorrência desleal, para remeter lucros sem controle, para desnacionalizar as riquezas do país se apossando das reservas minerais.

Várias são as declarações, nesta época, que deixam claro qual o caminho traçado pelos EUA. Nas palavras de Robert Sarnoff, presidente da RCA – Radio Corporation of America – “a informação se tornará um artigo de primeira necessidade equivalente a energia no mundo econômico e haverá de funcionar como uma forma de moeda no comércio mundial, convertível em bens e serviços em toda parte” (SCHILLER, p.18, 1976). Já a Comissão Federal de Comunicações (FCC), em informe conjunto dos Ministérios do Exterior, Justiça e Defesa, afirmava: “as telecomunicações evoluíram de suporte essencial de nossas atividades internacionais para ser também um instrumento de política externa” (SCHILLER, p.24, 1976).

É esclarecedor o pensamento do delegado dos Estados Unidos nas Nações Unidas, vice-ministro das Relações Exteriores, George W. Ball, em pronunciamento na Associação Comercial de Nova Iorque:

“Somente nos últimos vinte anos é que a empresa multinacional conseguiu plenamente seus direitos. Atualmente, os limites entre comércio e indústria nacionais e estrangeiros já não são muito claros em muitas empresas. Poucas coisas de maior esperança para o futuro do que a crescente determinação do empresariado americano de não mais considerar fronteiras nacionais como demarcação do horizonte de sua atividade empresarial” (SCHILLER, p.27, 1976).

A ação desencadeada pelos interesses externos já havia produzido a falência de muitos órgãos de imprensa nacionais e, por outro lado, despertado a consciência muitos brasileiros de como os monopólios utilizam seu poder de pressão e de chantagem. Em 1963, o publicitário e jornalista Marcus Pereira afirmava em debate na TV Tupi, em São Paulo: “Em última análise, a questão envolve a velha e romântica tese da liberdade de imprensa, tão velha como a própria imprensa. Acontece que a imprensa precisa sobreviver, e, para isso, depende do anunciante. Quando esse anunciante é anônimo, pequeno e disperso não pode exercer pressão, por razões óbvias. É o caso das seções de ‘classificados’ dos jornais. Mas poucos jornais têm ‘classificados’ em quantidade expressiva. A maioria dos jornais e a totalidade das revistas vivem da publicidade comercial e industrial, dos chamados grandes anunciantes. Acho que posso parar por aqui, porque até para os menos afoitos já adivinharam a conclusão” (RABELO, p.56, 1966).

Não é difícil perceber o quanto a submissão aos interesses econômicos estrangeiros levou a dita “grande mídia” brasileira a se afastar da nação. A se tornar, ao longo dos anos, em uma peça chave da política do Imperialismo. Em praticamente todos os principais momentos da vida nacional se inclinaram para o golpismo e a traição. Já no primeiro golpe contra Getúlio, depois, contra sua eleição, contra sua posse, contra a criação da Petrobrás, contra a eleição de Juscelino, contra João Goulart, contra as reformas de base, apoiando a Ditadura, apoiando a política econômica de Collor, apoiando Fernando Henrique e suas privatizações, atacando Lula.

Hoje, ela novamente tem lado: o das concessões de estradas, portos e aeroportos, o dos leilões de privatização do petróleo e da necessidade da elevação das taxas de juros, do controle do déficit público com evidentes restrições aos investimentos governamentais, ou seja, da aceitação de um neoliberalismo tardio.

Por que atuam desta forma? Genival Rabelo deu a resposta: “Um industrial inteligente desta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro me fez outro dia, esta observação, em forma de desafio: ‘Dou-lhe um doce, se nos últimos cinco anos você pegar uma edição de O Globo que não estampe na primeira página uma notícia qualquer da vida americana, dos feitos americanos, da indústria americana, do desenvolvimento científico americano, das vitórias e bombardeios americanos. A coisa é tão ostensiva que, muita vez, sem ter o que publicar sobre os Estados Unidos na primeira página, estando o espaço reservado para esse fim, o secretário do jornal abre manchete para a volta às aulas na cidade de Tampa, Miami, Los Angeles, Chicago ou Nova Iorque. Você não encontra a volta às aulas em Paris, Nice, Marselha, ou outra cidade qualquer da França, na primeira pagina de O Globo, porque, de fato, isso não interessa a ninguém. Logo, não pode deixar de haver dólar por trás de tudo isso…’ Outro amigo presente, no momento, e sendo homem de publicidade concluiu, deslumbrado com seu próprio achado: ‘É por isso que O Globo não aceita anúncio para a primeira página. Ela já está vendida. É isso. É isso!’. ‘E muito bem vendida, meu caro – arrematou o industrial – A peso de ouro’ ” (RABELO, p.258, 1966).

(*) Delegado à Conferência Nacional de Comunicação, Secretário Municipal de Comunicação em São Carlos entre 2007 e 2012 e membro do Partido Pátria Livre.

(1) O Grupo ABRIL editou também a revista Realidade entre 1966 e 1968. Hoje edita 54 títulos, entre os quais VEJA e mais suas 8 edições locais, e cinco revistas em quadrinhos, por sua subsidiária Abril Jovem.

Referências:

COLBY, G; DENNETT, C. Seja feita a vossa vontade: a conquista da Amazônia, Nelson Rockfeller e o evangelismo na idade do Petróleo. Tradução: Jamari França. Rio de Janeiro: Record, 1998.

HERZ, D. A história secreta da Rede Globo. Porto Alegre: Dom Quixote, 2009. Coleção Poder, Mídia e Direitos Humanos.

RABELO, G. O Capital Estrangeiro na Imprensa Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

SCHILLER, H. I. O Império norte-americano das comunicações. Tradução: Tereza Lúcia Halliday Petrópolis: Vozes, 1976.

Outros livros recomendados:

• Tio Sam chega ao Brasil – a penetração cultural americana – de Gerson Moura, Ed. Brasiliense – São Paulo – 5ª edição [1ª Ed. 1984] Livro de Bolso 93 p.
• O Imperialismo Sedutor – a americanização do Brasil na época da Segunda Guerra – Antonio Pedro Tota – Companhia das Letras – São Paulo – 2000. 235 p.
• A Invasão Cultural Norte-Americana – Júlia Falivene Alves São Paulo – Moderna – 1988 – 26ª edição. 144 p.

A mídia é o partido da oposição

::Se liga Dilma: a mídia é o partido da oposição – Emir Sader: Carta Maior 15/06/2013
As manchetes da mídia [um exemplo pode ser visto aqui. E a manchete da Folha de S. Paulo de hoje diz: Estreia do Brasil tem vaia a Dilma, feridos e presos] buscam criar um clima de crise (a palavra mais proferida pela mídia, junto com a de caos), visando desgastar a imagem do governo, artificialmente, a partir de dificuldades reais. Para aumentar a dimensão do problema, o governo revela não ter uma politica de comunicações para desmentir as diárias falácias que a mídia lança. A proximidade da campanha eleitoral aumentará a guerra no plano das comunicações. Não basta o governo governar bem. É preciso democratizar os canais de comunicação, ouvir e falar o tempo todo.


:: Datafolha registra criminalização da política e romaria pró-Marina – Marcelo Salles: Carta Maior 30/06/2013
A pesquisa divulgada neste domingo [30/06/2013] indica a ação pesada dos fiéis da balança, a mídia e os evangélicos, conforme havíamos previsto. Os evangélicos na organização da campanha por Marina e contra Dilma, e a mídia com a instrumentalização dos protestos a seu favor. Eles irão continuar operando contra a presidenta até o dia do pleito, não importa o que ela faça. Simplesmente porque defendem outro projeto para o país. 

Leia Mais:
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Cerca de 1000 leitores veem golpe em marcha e querem reagir – Blog da Cidadania