E a imprensa colaborou com mais esta tentativa de atentado político

Delegado da PF vazou fotos em ação articulada com PSDB

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse neste sábado, que o delegado da Polícia Federal, Edmilson Bruno, foi o responsável pelo vazamento das fotos do dinheiro à imprensa, em uma ação articulada com a oposição, notadamente o PSDB. Segundo Tarso, na sexta-feira, o delegado chamou seis jornalistas, passou para eles em CD com as fotos do dinheiro e afirmou “Eu estou fazendo isso para f…o governo e o Lula”.

A informação foi confirmada pelo assessor especial do presidente lula e chefe de campanha, Marco Aurélio Garcia, ao site Terra Magazine. Segundo Garcia, após manifestar sua intenção de arrebentar Lula e o governo, o delegado teria dito: “agora eu vou subir para fazer o boletim de ocorrência sobre o furto das fotos porque eu preciso me cobrir”.

Em entrevista coletiva à imprensa, em Porto Alegre, Tarso Genro disse que o delegado responsável pela perícia da investigação sobre o caso do dossiê fez uma encenação como se as fotos lhe tivessem sido roubadas. “Ele cometeu um duplo delito. Fez um registro falso de Boletim de Ocorrência, de uma parte, e de outra, vazou documentos para fins políticos, documentos que pertencem a um processo que está sob segredo de justiça”.

“Isso é tão ou mais grave do que o envolvimento de qualquer pessoa na compra ou elaboração de qualquer dossiê”, acrescentou o ministro. Ele anunciou que já foi aberta uma sindicância administrativa pela Polícia Federal para apurar a responsabilidade do delegado no caso. Durante a entrevista, Tarso Genro destacou que estava falando em nome do governo.

“A manifestação institucional do governo neste momento é de que se trata de um atentado político, que repete um cenário conhecido no país, e que merece uma rejeição tão profunda e radical como a produção e compra de dossiês. Na opinião do governo, isso é uma ação política da oposição, chefiada pelo PSDB, que vinha reiteradamente requisitando essas fotos mesmo sabendo que elas estavam sob segredo de justiça. Portanto, estamos autorizados a concluir que se tratou de uma articulação política de baixo nível, de baixo calão, que visa perturbar o processo eleitoral e gerar impressionismos de última hora”, acrescentou.

Delegado admite ser autor do vazamento

O delegado Edmilson Bruno confessou, neste sábado, que foi o responsável pelo vazamento das fotos e anunciou que, em uma entrevista coletiva na segunda-feira, dirá “coisas surpreendentes”, informou a Agência Estado. Inicialmente ele havia negado ser o autor da distribuição das fotos com o dinheiro apreendido pela Polícia Federal. Segundo sua primeira versão, o CD com as fotos havia sumido de seu arquivo pessoal entre quinta à noite e sexta de manhã. Ao perceber o desaparecimento do CD, relatou então, admitiu ter feito ligações para alguns jornalistas para checar se alguém tinha o CD.

Foi ele quem comandou a operação na madrugada de 15 de setembro, no Hotel Íbis, em São Paulo, onde foram presos Valdebran Padilha e Gedimar Passos com o dinheiro. Há 10 anos trabalhando na Polícia Federal, ele declarou-se “apartidário” e que teria votado em Lula em 2002.

Para Tarso Genro, o eleitor brasileiro tem maturidade, inteligência e experiência para não cair em armadilhas deste tipo. “Assim como a população não aceita dossiês falsos ou verdadeiros comprados, também não aceita esse tipo de atitude que vem sendo sintetizada em várias manifestações, particularmente através do presidente do PSDB (Tasso Jereissati) e de seu candidato (Geraldo Alckmin). Essa é a manifestação institucional e oficial do governo e do presidente Lula a respeito do assunto”.

Este episódio, acrescentou, representa um fato perturbador do processo eleitoral e também da investigação. “O Estado brasileiro, através da Polícia Federal, vinha apurando o caso do dossiê sem interromper qualquer tipo de ação policial ou administrativa sobre o assunto. A visão política do governo é de que isso é uma ação da oposição, particularmente do PSDB, perturbado politicamente pela provável e, na nossa opinião, já efetiva, vitória do presidente Lula nas eleições deste domingo”.

Para Tarso, trata-se de um segundo episódio Abílio Diniz. “Naquela oportunidade, foi utilizada uma imagem para vincular o candidato Lula aos seqüestradores do Abílio. Agora, as fotos vazadas pelo delegado têm o evidente objetivo de vincular o episiódio de São Paulo à candidatura Lula. Trata-se de um jogo de imagens que conta com a claríssima colaboração de decisiva parte da chamada grande mídia”, declarou ao site Terra Magazine.

Estavam presentes na coletiva, em Porto Alegre, jornalistas de alguns dos principais meios de comunicação do país: O Globo, O Estado de São Paulo, RBS, Rede Globo, Rede Bandeirantes, SBT e Rede Record, entre outros. Vamos ver agora como a imprensa noticia a denúncia do ministro Tarso Genro: se vai dá-la com o destaque que merece ou se vai escondê-la, ou minimizá-la.

Fonte: Marco Aurélio Weissheimer – Carta Maior: 30/09/2006

 

Garcia diz que PT pode provar que vazamento de fotos teve motivação política

O coordenador da campanha eleitoral do PT à Presidência, Marco Aurélio Garcia, afirmou que há provas de que o vazamento das imagens do dinheiro apreendido pela Polícia Federal que seria usado na suposta compra do dossiê contra candidatos tucanos teve motivação política.

Segundo Garcia, os profissionais de imprensa que receberam as fotos teriam gravado a conversa com o membro da PF responsável pelo vazamento em que este afirmaria que sua intenção era prejudicar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e o PT.

“Temos absoluta certeza de que estas fotos foram passadas por um delegado a vários profissionais e, no momento em que foram passadas, foi dito por este delegado que o propósito dele era, sim, um propósito político e que ele pretendia prejudicar com essas fotos –ele usou uma expressão de baixo calão que eu não vou repetir, mas que começa com ‘F’– tanto o governo quanto o PT”, relatou.

O coordenador da campanha do PT especulou ainda sobre a participação de partidos da oposição no vazamento. “Há informações, que não estão confirmadas, que haveria interferência dos dois partidos da oposição, inclusive por incentivo monetário”, disse.

Garcia não confirmou que a gravação tenha sido repassada à campanha de Lula, mas cobrou que a íntegra das informações relacionadas ao vazamento seja publicada pelos meios de comunicação que dispõem do registro.

Para ele, a imprensa agiu de forma “parcializada” ao deixar de noticiar um delito, uma vez que o membro da PF não tinha autorização para divulgar as imagens e ainda teria afirmado que sairia dali para registrar um boletim de ocorrência sobre o furto de um CD com as fotos, que lhe ajudaria a esconder sua participação.

De acordo com Garcia, o membro da PF responsável pelo vazamento é o delegado Edmílson Pereira Bruno, que atuou na prisão dos petistas no Hotel Íbis, quando também foram apreendidos os R$ 1,7 milhão que pagariam o dossiê. Bruno negou que seja responsável pelo vazamento e afirmou ontem que um CD com as fotos teria sido roubado de sua sala. O caso está sendo investigado por sindicância interna da PF.

Ao ser informado que Bruno teria ligado para algumas redações para dizer que gostaria de tornar público que ele é o responsável pelo vazamento, Garcia disse não ter “a menor dúvida” de que a atitude foi tomada porque o delegado ficou sabendo que a campanha de Lula já sabia de sua participação.

O delegado Bruno, apesar de figurar entre os principais agentes da PF no momento da prisão de Valdebran Padilha e Gedimar Passos, foi extra-oficialmente afastado das investigações. Para Garcia, é pouco provável que este fato apenas o teria motivado a divulgar as fotos do dinheiro. “Um funcionário público não opera por ressentimento”, afirmou.

“Não acredito [que a atitude do delegado] tenha sido só por razões ideológicas”, disse Garcia, fazendo nova menção ao incentivo monetário que supostamente teria sido oferecido pela oposição.

O caso

A 15 dias das eleições, a Polícia Federal apreendeu vídeo, DVD e fotos que mostram o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, na entrega de ambulâncias da máfia dos sanguessugas.

O material contra Serra seria entregue pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe dos sanguessugas e sócio da Planam, a Gedimar Pereira Passos, advogado e ex-policial federal, e Valdebran Padilha da Silva, filiado ao PT do Mato Grosso.

Gedimar e Valdebran foram presos, em São Paulo, com R$ 1,7 milhão. Eles estavam no hotel Ibis, e aguardavam por um emissário do empresário, que levaria o dossiê contra o tucano. O PT nega que o dinheiro seja do partido.

O emissário seria o tio do empresário, Paulo Roberto Dalcol Trevisan. A pedido de Vedoin, o tio entregaria o documento a Valdebran e Gedimar. Os quatro envolvidos foram presos pela PF.

Em depoimento, Gedimar disse que foi ‘contratado pela Executiva Nacional do PT’ para negociar com a família Vedoin a compra de um dossiê contra o tucano, e que do pacote fazia parte uma entrevista –supostamente à “IstoÉ”– acusando Serra de envolvimento na máfia.

Ele disse ainda que seu contato no PT era alguém de nome “Froud ou Freud”. Após a denúncia, o assessor especial da Presidência da República, Freud Godoy, pediu afastamento do cargo. Ele nega as acusações.

Após o episódio, outros nomes ligados ao PT começaram a ser relacionados ao dossiê. A crise derrubou o coordenador da campanha à reeleição de Lula, Ricardo Berzoini, presidente do PT. Ele foi substituído por Marco Aurélio Garcia.

Ex-secretário de Berzoini no Ministério do Trabalho, Oswaldo Bargas (coordenador de programa de governo da campanha), e Jorge Lorenzetti –analista de mídia e risco do PT e churrasqueiro do presidente– procuraram a revista “Época” para oferecer o dossiê. Também caíram.

O ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Afonso Veloso também foi afastado da instituição, após denúncia sobre seu suposto envolvimento com o dossiê. Valdebran disse que recebeu parte do dinheiro de uma pessoa chamada “Expedito”. Ele teria participado da operação de montagem e divulgação do documento.

Em São Paulo, o candidato ao governo Aloizio Mercadante (PT) afastou o coordenador de comunicação da campanha Hamilton Lacerda, que teria articulado a publicação da reportagem da “IstoÉ” contra Serra.

Fonte: Cristina Charão – Folha Online: 30/09/2006

Bibliografia para o estudo do Ugarítico e do Hebraico Bíblico

A Bibliography of Ugaritic Grammar and Biblical Hebrew Grammar in the Twentieth Century

Bibliografia para o estudo das gramáticas do ugarítico e do hebraico bíblico. Por Mark S. Smith, Professor de Bíblia e de Estudos do Antigo Oriente Médio na New York University, New York, USA. São 152 páginas de bibliografia em formato pdf, cobrindo a produção do século XX.

Veja também: A Bibliography of Semitic Linguistics, por Gregorio del Olmo Lete, Professor de Filologia Semítica na Universidade de Barcelona, Espanha. Traz textos publicados entre 1940 e 2012.

Imprensa se desespera com o apoio popular a Lula

Mídia ‘abafa’ investigações contra PSDB

Segundo relatos de jornalistas das principais redações do país, há ‘ordem velada’ para se poupar candidaturas tucanas. Equipes são destacadas para investigar suposta venda do dossiê, enquanto pautas sobre relação de tucanos com sanguessugas são vetadas.

Um dos últimos boletins eletrônicos de campanha do presidente Lula afirma que o “ódio” de alguns meios de comunicação pela esquerda tem “motivos simples, embora inconfessáveis”. “Acostumados ao controle que detinham sobre a opinião pública desde a redemocratização do país, alguns meios de comunicação não se conformam com a situação atual, em que a maior parte do povo vota em Lula, contra a opinião da maior parte da mídia, que é alckmista. O que mais incomoda estes setores da direita e dos meios de comunicação são as mudanças na estrutura social brasileira”, diz o texto.

Nas últimas semanas, depois da eclosão da crise do dossiê contra Serra, o presidente tem feito duras críticas ao comportamento da imprensa. Em discurso feito em Porto Alegre nesta segunda-feira (25), Lula disse que a cada erro que companheiros do partido cometem os jornais reagem como se “tivesse caído uma bomba atômica”, repercutem “meses e meses”. Já o erro dos adversários sai “no dia seguinte das páginas dos jornais”.

Estaria Lula exagerando nessa avaliação? Na última terça-feira (26), o jornal O Globo publicou uma matéria intitulada “Ataque de Lula à imprensa provoca reações”, que afirma que, na opinião de jornalistas e políticos ouvidos pelo jornal, o “episódio da compra do dossiê contra o candidato do PSDB ao governo do Estado de São Paulo, José Serra, foi criado por integrantes do partido de Lula, não por jornalistas”.

A reportagem ouve, no entanto, somente fontes que confirmam a tese de que a cobertura estaria equilibrada. Na reportagem, o jornalista Alberto Dines, do “Observatório da Imprensa”, afirma que o discurso de Lula é “esquizofrênico” e que a mídia “tem se comportado muito bem”. A outra fonte ouvida é o diretor de redação do jornal O Estado de S. Paulo, Sandro Vaia, que diz que a imprensa está cumprindo sua obrigação ao cobrir e dar espaço em suas edições ao episódio, sem “partidarismos”. O ombudsman da Folha de S.Paulo aparece dizendo que a imprensa tem agido corretamente ao dar visibilidade ao caso.

Ninguém discorda disso. No entanto, onde estaria o acompanhamento da imprensa do outro lado desta história? Por que nossas equipes de jornalismo investigativo não foram atrás, como a mesma profundidade, das informações que o dossiê trazia? Como foram determinadas as linhas de coberturas dos jornais, revistas e da televisão acerca do caso?

No dia 18 de setembro, poucos dias depois da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha em São Paulo, a análise interna de Marcelo Beraba, ombudsman da Folha de S.Paulo, dizia que parecia “correta até aqui a cobertura jornalística da Folha do dossiê contra Serra que os Vedoin tentavam vender para um membro do PT e uma revista. Desde sábado o jornal está bem informado, deu destaque necessário nas Primeiras Páginas, tem dado espaço para as várias acusações e para as várias defesas e explicações e tem tratado as acusações ainda não confirmadas com cautela”. Dois dias depois, no entanto, destacava que a “Folha relegou a uma nota pequena e sem destaque, no final da edição, à continuação da investigação que iniciou no interior de São Paulo seguindo as pistas reveladas pela entrevista dos Vedoin à IstoÉ e que relacionam os ex-ministros José Serra e Barjas Negri à máfia dos sanguessugas. Aliás, o título da nota – “Ex-prefeito admite ter sido pago por Abel”, página A14 – é impossível de ser decifrado. Quem é Abel?”.

Já no dia 21, Beraba afirma que “sumiu, na Edição SP, a única notícia que dava seqüência às investigações que a Folha vem fazendo do envolvimento de tucanos com a máfia dos sanguessugas. Na Edição Nacional, a nota “Barjas Negri é investigado em Piracicaba” está na página A7, mas depois caiu”. No dia seguinte, o ombudsman aponta uma mudança importante na manchete da primeira página:

“A Edição Nacional circulou com a declaração do presidente à TV Globo: “Lula põe ‘a mão no fogo’ por Mercadante”. Mais tarde, com o depoimento de um dos Vedoin à Polícia Federal, o título mudou: ‘Vedoin isenta Serra do caso sanguessuga’. Embora as palavras dos Vedoin já não mereçam grande credibilidade, tantos depoimentos e entrevistas contraditórios já deram; o jornal, ao optar por mais esta declaração, deveria ter colocado na formulação da manchete ou da linha de apoio a informação completa: Vedoin disse que não sabia de indícios contra Serra, mas voltou a acusar Abel Pereira de receber propinas na gestão do também tucano Barjas Negri, sucessor de Serra. O título interno contempla as duas informações e mostra que a Primeira Página teria condições de ter feito formulação parecida – ‘Vedoin isenta Serra, mas acusa sucessor’. Como está, a manchete da Folha faz parecer que a única preocupação do jornal é isentar o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, e não a apuração do esquema dos sanguessugas que teria se apropriado do Ministério da Saúde nos governos FHC e Lula”.

As críticas à cobertura do jornal continuam até esta quarta-feira (27), quando Beraba afirma que desapareceu, na Edição SP da Folha, a meia página de noticiário sobre o suposto envolvimento do ex-ministro Barjas Negri (PSDB) no escândalo dos sanguessugas publicada na Edição Nacional. “Os títulos das reportagens da Edição Nacional que caíram: ‘Presidente de CPI vê prova contra tucano’, ‘Empresário daria à Justiça papéis contra tucano’ e ‘Abel agora diz que foi duas vezes à Saúde’ (página A7). Para abrigar o noticiário dos debates que terminaram tarde, a Edição SP teve de excluir algumas reportagens publicadas da Edição Nacional. Precisavam ser exatamente as referentes ao noticiário sobre o suposto envolvimento dos tucanos?”, questiona o ombudsman.

Dentro das redações
As decisões acerca da cobertura da Folha de S. Paulo, que são apontadas, mas não explicadas, pela crítica interna da redação, não são exclusivas do jornal cujo presidente – Luis Frias – é amigo pessoal de José Serra. Em veículos do mesmo grupo, vale a regra do faz de conta: faz de conta que Abel Pereira – o empresário ligado ao PSDB que também estaria envolvido em negociações do dossiê – não existe.

“Como Abel [Pereira] não está preso, não está indiciado, então faz de conta que ele não existe. Mas ele também estava negociando o dossiê com Vedoin; havia um leilão de informações, independente do conteúdo ser verdadeiro ou falso. Era preciso investigar por que ele estava lá. Mas o que se faz é repercutir o que sai no jornal impresso do dia. Então, se a Folha não dá, aqui também não sai nada. Parece que, por alguma razão, as pessoas não conseguem entender que há um outro lado da história”, disse à Carta Maior um jornalista que trabalha numa empresa do Grupo Folha.

“Aqui não há uma pressão para que o Serra apareça bem, mas todo mundo sabe que a ordem de cima é pra poupá-lo. Se vier algo concreto contra ele, vamos dar. Mas se for uma situação nebulosa – como acontece com informações sobre outros políticos que acabam publicadas – não damos”, explica outro profissional que trabalha na empresa.

Em outro grande jornal de São Paulo, cuja linha editorial é claramente favorável aos tucanos, a cobertura da crise recente foi “como o de sempre”. “Ataquem os inimigos e finjam-se de mortos com os amigos”, relatou um repórter. “O foco da pauta desses dias foi todo no bando que comprou o dossiê, mas ninguém se preocupou em ir atrás do dossiê. A pauta do dia já vem pronta, na verdade: o repórter chega e já dizem pra ele pra onde ele vai correr. Aí ele vai pra rua, apura o que pediram pra apurar e acabou”, explica outro jornalista do mesmo jornal.

Segundo os repórteres de uma das revistas semanais de maior circulação, há uma clara diferença de comportamento entre o período “padrão” e os períodos de “crise”. As informações chegam, são apresentadas pela equipe de reportagem, mas não ganham continuidade na pauta.

“Não há uma ordem explícita. Há pequenos boicotes internos e você nunca sabe se isso é voluntário”, diz um jornalista do semanário. “Você até tenta furar o bloqueio. Apura, mostra, mas a pauta não anda. É inexplicável”, completa.

Na época da crise do mensalão, qualquer informação contra o governo era usada pela revista para confirmar a tese de autoritarismo e aparelhamento do Estado. Quando alguma coisa vazava “do outro lado” – por exemplo, quando surgiu a relação entre Marcos Valério e o tucano Eduardo Azeredo –, e não havia como sonegar a informação do leitor, “a matéria se transformava numa análise sociológica de como a política é suja no Brasil. Ou seja, uma matéria é a sujeira de um partido. A outra, é a sujeira da política no geral. Aí essas informações caem na vala comum”, explica um dos jornalistas do veículo.

Pelos relatos – e pelo fato de todos os jornalistas temerem falar abertamente sobre a cobertura política que seus veículos realizam –, fica nítido que há uma pressão clara dos donos dos meios de comunicação não apenas para que a cobertura siga determinada orientação, mas também para que não se discuta isso publicamente.

Na televisão
Na maior emissora de TV do país, o clima na redação não é diferente. Na semana passada, a Rede Globo não falou, em nenhum momento, que 70% das ambulâncias da Planam foram liberadas durante a gestão do PSDB, quando Serra estava à frente do Ministério da Saúde. A emissora também não enviou uma equipe até Piracicaba, para investigar Abel Pereira e as suspeitas que pesam sobre o ex-secretário-executivo de José Serra e atual prefeito da cidade, Barjas Negri. Durante a crise do mensalão, a emissora colocou repórteres investigando a fundo as denúncias contra Antônio Palloci em Ribeirão Preto. Mas Piracicaba parece que foi “esquecida” desta vez.

Esta semana, a emissora entrou na cobertura do “caso Abel” de forma tímida, mas com espaço para manipulações sutis. Na última terça-feira, em entrada ao vivo no jornal Hoje, o repórter da TV Centro-América, afiliada à Globo em Mato Grosso, disse que Abel Pereira esteve em Cuiabá na véspera da entrevista para a revista IstoÉ, e que Pereira é ligado a Barjas Negri, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso (Negri assumiu o ministério quando da saída de Serra). À noite, o texto da edição do Jornal Nacional descrevia Negri como “ex-ministro do governo anterior”. Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Freud Godoy são descritos dezenas de vezes ao dia como petistas. Mas Abel Pereira não pode ser tratado como lobista de um ex-ministro e prefeito tucano.

Com didatismo, a emissora relaciona o presidente Lula e os corruptos de seu governo e do partido envolvidos com a história do dossiê. O mesmo não acontece com Serra, Negri, Pereira, Vedoin e os deputados mensaleiros do Mato Grosso, que na época eram do PSDB. A pergunta que o telespectador se faz é: “Lula não sabia de nada?”. Mas ao eleitor não é dada a chance de se perguntar: “E Serra, não sabia de Abel? Se Barjas Negri era seu braço direito, como Serra não sabia dos sanguessugas atuando ali tão perto?”

O desequilíbrio da cobertura da Globo contaminou também o acompanhamento dos candidatos à presidência. Desde o início da campanha, a recomendação dos editores era a de que as entrevistas dos candidatos nas ruas deveriam ser sempre propositivas. Nada de críticas ou provocações aos adversários. No caso do PCC, por exemplo, o candidato petista ao governo de São Paulo não podia aparecer cobrando do governo do PSDB/PFL por que a polícia paulista havia perdido o controle do crime organizado. No entanto, diariamente se vê no Jornal Nacional as críticas dos demais candidatos a Lula.

Na quarta-feira (20) da última semana, Geraldo Alckmin foi agraciado com 1´20” no Jornal Nacional. Os outros candidatos tiveram 30 segundos. A justificativa dos editores cariocas foi a de que tratava-se do lançamento do programa de governo do PSDB, daí o tempo maior. No entanto, as declarações de Alckmin neste dia não foram sobre seu programa, mas atacando a corrupção do governo Lula. No dia do lançamento do programa de governo de Lula, na última semana de agosto, o candidato recebeu 1´30” – exatamente o mesmo tempo dado ao PSDB, incluindo espaço para Fernando Henrique criticar o presidente em seu discurso no Jockey Clube.

“Na redação, as pessoas estão com o estômago revirado. Ninguém duvida da necessidade de mostrar essa quadrilha de pseudo-sindicalistas que tentaram comprar o tal dossiê. Mas e o outro lado? E os sanguessugas tucanos? O que vemos, é um massacre ininterrupto no ar”, contou à Carta Maior um jornalista da TV.

Credibilidade em jogo
Em seu site pessoal, o repórter da Globo Luiz Carlos Azenha avalia que o que acontece hoje é um “espetáculo de hidrofobia que, lamentavelmente, não se fez quando a Vale do Rio Doce foi privatizada ou quando surgiram denúncias de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comprou votos no Congresso para garantir seu direito à reeleição”. “Embora isso não justifique o banditismo de integrantes do governo Lula, está claro que sanguessugas, vampiros e mensaleiros começaram a agir no governo FHC. O que fez a Polícia Federal, então? E Aristides Junqueira (sic), o engavetador-geral da República?”, questiona Azenha.

O repórter diz que se sente à vontade para escrever sobre o atual governo porque investigou e denunciou alguns de seus integrantes. “Mas o trabalho de um jornalista deve ser guiado pela imparcialidade. A pior coisa que um repórter pode fazer é trombar com os fatos”, afirma.

Nos bastidores do jornalismo, não são poucas as histórias do poder de José Serra junto aos donos dos meios de comunicação. Certa vez, ele teria ligado diretamente para Boris Casoy e pedido a cabeça de um repórter que não havia feito a “pergunta combinada” a ele numa entrevista de rua. Também não são poucas as inclinações das chefias às políticas conservadoras.

Na avaliação de Luís Nassif, em post publicado esta semana em seu blog, é evidente que há uma competição entre praticamente todos os grandes veículos da mídia para saber quem derruba Lula primeiro. “Está-se tentando repetir a história, quando o momento seria propício para o veículo que se colocasse acima das paixões, recuperasse a técnica jornalística e se comportasse como magistrado, duro, inflexível, porém justo, colocando a preocupação com o país acima das conveniências de momento”, escreveu o jornalista.

Para Nassif, a virulência do editorial de domingo (24) da Folha de S. Paulo adotou um estilo inspirado em Carlos Lacerda. Lacerdista ou não, é fato que há uma guerra declarada da mídia ao governo e uma onda – não necessariamente articulada, porque nem precisa ser – para poupar tucanos e fingir que nada se passa do lado oposto do muro. Pesquisas quantitativas e qualitativas – como as divulgadas pelo Observatório Brasileiro de Mídia – mostram como isso se reflete no tempo e no espaço de textos negativos ou positivos dados pela imprensa a cada um dos candidatos. Dentro das redações, os movimentos são sutis. Por enquanto, as pesquisas eleitorais mostram que, apesar da artilharia, o efeito surtido questiona a eficiência da estratégia. Resta saber se, depois das eleições, o caminho escolhido pela imprensa brasileira não afetará sua credibilidade e sua capacidade de continuar influenciando a opinião pública.

Fonte: Bia Barbosa – Carta Maior: 29/09/2006