Transliteração do hebraico para brasileiros

Telmo Figueiredo, que está fazendo doutorado na USP, enviou e-mail aos amigos recomendando o seguinte livro:

KIRSCHBAUM, S. et al. Transliteração do Hebraico para Leitores Brasileiros. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009, 24 p. – ISBN 9788574804255

Diz a Ateliê Editorial:
O idioma hebraico – como o russo, o árabe, o armênio – é grafado por meio de um conjunto próprio de caracteres, diferente do conjunto de caracteres utilizado no português. Em vista disso, a ocorrência de nomes próprios hebraicos, expressões etc., em literatura traduzida, em notícias de imprensa, requer que os caracteres hebraicos sejam transliterados, ou seja, representados por meio de caracteres latinos para que possam ser pronunciados da forma mais próxima possível da língua em questão por leitores brasileiros. Até agora eram utilizados, no Brasil, padrões de transliteração adequados a leitores do alemão, do inglês, do espanhol, idiomas que também fazem uso dos caracteres latinos, mas não adequados ao leitor do português, uma vez que não há correspondência plena entre os valores fonéticos dos caracteres latinos nesses idiomas. Respondendo a essa necessidade, foi constituída uma comissão em torno do Centro de Estudos Judaicos e do Programa de Pós-Graduação em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas da FFLCH/USP, com o propósito de elaborar um padrão de transliteração do hebraico adequado ao leitor brasileiro, especialista ou não, evitando importar modelos estrangeiros. Esta publicação é o resultado do trabalho da comissão, e constitui uma primeira proposta; ou seja, espera-se que o padrão proposto seja utilizado durante certo tempo, e depois revisado, incorporando-se as sugestões e críticas que tiverem surgido em decorrência dessa primeira fase de utilização.

 

Ainda não conheço o sistema utilizado. Mas fica aí o alerta para os interessados: examinem o pequeno livro, apenas 24 páginas, verifiquem se vale a pena… Confiram antes o comentário: para quem este sistema é recomendado?

A transliteração é necessária em muitas circunstâncias. Transliteração é uma ferramenta auxiliar para iniciantes e, eventualmente, precisa ser usada em publicações voltadas para o grande público sem capacitação em línguas bíblicas. Ou mesmo nas aulas de graduação em Teologia, especialmente no primeiro ano. Em meu curso de hebraico bíblico para principiantes escrevi o seguinte: A transliteração é algo trabalhoso e parece desnecessária, mas o estudante de hebraico tem que se acostumar com a ideia de que o som da língua nada, ou quase nada, tem a ver com o português! O hebraico tem suas próprias características. E a transliteração o ajuda a perceber isso.

Contudo, um alerta: para o estudante de hebraico a transliteração jamais deve substituir de maneira permanente o uso dos caracteres próprios da língua – e o dito aqui vale para o grego e outros idiomas – pois deste modo ela se tornaria uma ferramenta de não aprendizagem da língua por pura acomodação…

Qual sistema de transliteração uso em meu curso de hebraico? Aquele com o qual me acostumei na Europa quando estudante, com várias adaptações para o português quando comecei a lecionar hebraico na graduação de Teologia, primeiro em Ribeirão Preto, depois em Campinas, SP.

A primeira gramática que usei no Mestrado, com o professor Eduardo Zurro, no PIB, foi a de WEINGREEN, J. A Practical Grammar for Classical Hebrew. 2. ed. Oxford: Oxford University Press, 1959 [reprinted 1972], 316 p. Em seguida, as gramáticas de Auvray, Joüon, Gesenius etc.

Depois, como professor de hebraico aqui, utilizei, por vários anos, o sistema de transliteração que está na gramática de MENDES, P. Noções de Hebraico Bíblico. Texto Programado. São Paulo: Vida Nova, 1981 [13a. reimpressão, 2004], 192 p. – ISBN 9788527501644.
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2 comentários em “Transliteração do hebraico para brasileiros”

  1. Informação que recebi do Centro de Estudos Judaicos e do Programa de Pós-Graduação em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas da FFLCH/USP, onde este modelo de transliteração foi elaborado, diz que seu uso se destina principalmente à grande imprensa e às pessoas que desconhecem totalmente a língua hebraica. Para os estudantes de hebraico, para o mundo acadêmico e para o mundo editorial, o Centro recomenda o uso de outro sistema mais elaborado, com maior aceitação internacional. Há vários, mas o sistema usado pelo BibleWorks pode ser uma boa solução.

  2. Airton, eu trabalho com o BibleWorks-10 (BW10), e a sua transliteração hebraica (BHT) parece-me que se ajusta bem à nossa fonética. Estou enganado? Não sei até que ponto há a afinidade da transliteração do BW10 com a da “Gramática do Hebraico Bíblico” de Thomas Lambdin.

    Estou tentando converter para meu trabalho a transliteração do BHT para o Unicode, mas não há neste o código que corresponda ao fonema, por exemplo, da vogal qameṣ combinada com marca de “ole”, ou com o “silluq”, ou mesmo o “dagesh”, cuja transliteração seria em sinal de transcrição de cima para baixo, em linha vertical – acento agudo/logo abaixo o hífen isolado/e mais abaixo a vogal “a” também isolada.

    Quando a vogal abaixo da transliteração é “e” ou “o”, por exemplo, o Unicode tem o código correspondente. Consultando uma das várias fontes, a planilha Excel, no caso, no sistema decimal, tenho o código 7703 para -> ḗ – e 7763 para -> ṓ . A ausência comentada também ocorre no sistema hexadecimal.

    Minha dúvida Airton, tanto Lambdin como o BHT usam a transliteração que não consta no Unicode. Você já pensou a respeito? Se já, conseguiu vislumbrar uma solução para o caso? Ou o Unicode não tem omissão e a transliteração do BHT e do Lambdin podem ser contornados, mesmo que se utilize dos “ḗ” e “ṓ”.

    Desculpe trazer esse incômodo, mas penso que você pode ajudar de qualquer forma. Agradeço qualquer ajuda.

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