Quem ganha com o caos criado por Israel no Líbano?

Irã é vencedor imediato no Líbano

Nas voláteis e sempre explosivas crises do Oriente Médio, já surgiram novos perdedores indiscutíveis. São civis no Líbano e no norte de Israel, vítimas de bombardeios e do lançamento de foguetes.

A curto prazo, o Irã emerge como um vencedor. A crise deflagrada pela provocação do grupo xiita Hezbollah e aprofundada pela resposta israelense mostrou a capacidade do regime de Teerã de estender os seus tentáculos. Não se trata apenas do seu apoio ao Hezbollah, mas da ampliação de oportunidades para atuar como um “player” regional.

Essas oportunidades foram abertas pela reação americana aos ataques do 11 de Setembro. As invasões do Afeganistão e do Iraque foram um presente de George W. Bush ao regime de Teerã pela eliminação de inimigos fronteiriços, o Talebã e Saddam Hussein.

Os iranianos se tornaram atores-chaves no imbróglio iraquiano e, ironicamente, ao lado de Washington, peças de sustentação de um governo xiita, lance fundamental para que a nova ordem tivesse um esboço de legitimidade.

O velho Iraque foi destruído. O novo é uma ciranda de caos e morte. A invasão americana que deveria ter sido a ponta-de-lança de um admirável mundo novo ganha cada vez mais contornos vietnamitas para os americanos.

Atolado no Iraque, o governo Bush foi perdendo a capacidade de atuação no Oriente Médio. Em outros casos, como na crise palestina, foi negligente por opção. O vácuo diplomático foi cada vez mais ocupado pelos iranianos, para a inquietação de regimes árabes conservadores e sunitas.

A crise libanesa apenas melhorou a posicao iraniana. De imediato serviu para tirar o foco do seu programa nuclear. Teeran espera que os desdobramentos desta crise inclusive dividam americanos e europeus, que estao relativamente unidos em uma postura cada vez mais dura nas negociacoes nucleares com os iranianos.

Velho Líbano

Com seus aliados sírios, os iranianos visualizam claros benefícios na degringolada libanesa, em particular devido à virulenta resposta israelense.

O Líbano da onda democrática que levou à retirada das tropas sírias se tornara um cartão postal deste admirável mundo novo tramado na cabeça de Bush. Agora temos novamente o Líbano dilacerado, velho de guerra. Damasco e Teerã deram o recado de que não podem ser marginalizados ou simplesmente colocados a escanteio no Oriente Médio.

Como no caso de Israel, ainda é cedo para dizer se iranianos e sírios cometeram um erro de cálculo com suas jogadas para tirar proveito da conflagração. Vale repetir que a situacao é volátil, e vencedores do momento talvez percam a longo prazo. Mas existem outros perdedores indiscutíveis, além de civis alvejados por bombas israelenses e foguetes do Hezbollah.

Perderam os que apostavam em uma primavera democrática no Oriente Médio. Eleições podem resultar em governos como o do Hamas, no caso palestino, ou de participação ministerial de grupos como o Hezbollah, no Líbano.

Foram alguns dos desfechos não intencionados por Bush quando ele decidiu criar impetuosamente um admirável mundo novo no Oriente Médio. Agora é o momento de reversão.

Como lembrou o editorial de quarta-feira do jornal The Washington Post, hoje no Egito existe o “apoio tácito” de Bush ao presidente Hosni Mubarak na sua campanha para esmagar o movimento democrático que floresceu no ano passado.

Como ninguém, George W. Bush alterou o status quo no Oriente Médio com a invasão do Iraque em 2003. O que será montado no lugar é tão incerto como um foguete Katyusha.

Fonte: Caio Blinder – BBC Brasil: 19/07/2006

 

País foi ‘despedaçado’, diz premiê do Líbano

O primeiro-ministro libanês pediu um cessar-fogo imediato entre Israel e os militantes do Hezbollah, afirmando que seu país foi “despedaçado”.

Fouad Siniora disse que mais de 300 pessoas foram mortas e outras 500 mil tiveram que deixar suas casas em uma semana de ataques israelenses.

“O país foi despedaçado. O valor da vida humana no Líbano é menor do que o de cidadãos de outros países? A comunidade internacional pode ficar apenas olhando enquanto o Estado de Israel nos inflige um castigo tão duro?”

O discurso emocionado de Siniora foi transmitido pela televisão do país na quarta-feira.

“Peço a vocês todos (a comunidade internacional) que reajam imediatamente… e forneçam assistência humanitária internacional urgente ao nosso país”, disse Siniora.

Siniora afirmou que vai pedir compensação a Israel pela “destruição cruel” causada ao Líbano.

Em uma entrevista publicada na quarta-feira pelo jornal britânico Financial Times, o ministro da Economia do Líbano, Jihad Azour, afirmou que os prejuízos sofridos pelo país com os ataques podem chegar a US$ 2 bilhões (cerca de R$ 4,4 bilhões).

Segundo ele, os ataques já danificaram estradas, pontes, telecomunicações, eletricidade, portos, aeroportos e até instalações da indústria privada, como uma fábrica de leite e depósitos de alimentos.

Os israelenses afirmam que estão lutando para por fim ao controle do Hezbollah sobre “as vidas dos cidadãos comuns nos dois lados da fronteira”.

O grupo virtualmente controla – ou controlava, antes do início do conflito – a fronteira libanesa com Israel.

O primeiro-ministro israelense Ehud Olmert disse que a campanha contra os militantes vai continuar “pelo tempo necessário” para libertar soldados israelenses capturados e assegurar que o Hezbollah não seja mais uma ameaça.

Fonte: BBC Brasil: 20/07/2006

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