Um artigo
Archaeology, Biblical Research and Ancient Israel – By Margreet Steiner: The Bible and Interpretation – December 2019
Introdução
Quase toda semana as manchetes falam de novas descobertas que supostamente confirmam as histórias contadas na Bíblia: o palácio do rei Davi foi encontrado, uma inscrição mencionando o gigante Golias, um selo que pertenceu à rainha Jezabel, um texto em que o profeta Balaão adverte e amaldiçoa. Mas quão confiáveis são esses relatos? É possível conectar com segurança achados arqueológicos e textos bíblicos? As histórias sensacionalistas chegam à Internet e aos jornais, mas, por outro lado, os comentários críticos enviados por outras pessoas recebem muito menos atenção.
Parecia que era hora de escrever um livro para o público em geral preencher essa lacuna. Um livro que não apenas explora como os textos bíblicos retratam as pessoas que habitam a Terra Prometida e as cidades e templos que construíram, mas também mostra o que a pesquisa arqueológica revela sobre a terra, seu povo e os modos como eles viveram suas vidas. Um livro que leva o leitor até onde a arqueologia e os textos bíblicos se encontram, e que explica como interpretar as correspondências e as diferenças.
Esforcei-me por escrever esse livro com base em muitos anos de experiência dando palestras para pessoas interessadas no que costumava ser chamado de “arqueologia bíblica”. Este livro não pretende confirmar a Bíblia nem o contrário. O objetivo é explorar textos antigos, bem como os resultados de dezenas de anos de pesquisa arqueológica. As informações são coletadas de inscrições reais e cerâmicas, de histórias bíblicas heroicas e santuários escavados, de nomes mencionados em textos e ossos encontrados. Juntas, essas fontes nos permitem uma compreensão mais profunda das pessoas que habitam a terra antiga.
Agradeço a oportunidade oferecida pelos editores deste site para explicar como me posicionei sobre esse projeto. O artigo é uma versão ligeiramente adaptada e abreviada do capítulo 2 do livro Inhabiting the Promised Land: Em busca de Abraão e seus descendentes.
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Epílogo
Tantas histórias bíblicas, tantas escavações e achados, tantas inscrições, tantas opiniões e interpretações diferentes. O leitor deste livro agora seria capaz de “ler” as histórias bíblicas à luz dos resultados das escavações? Ou relacionar os achados arqueológicos com as informações extraídas da Bíblia? Provavelmente não. Mas talvez isso tenha sido esclarecido: versículos bíblicos e achados arqueológicos não podem simplesmente ser sobrepostos. Os resultados das escavações não podem e não confirmam as histórias da Bíblia, até mesmo porque os objetivos da pesquisa em arqueologia são completamente diferentes do significado da Bíblia.
A pesquisa arqueológica busca encontrar traços das pessoas que habitaram a terra e daí deduzir os sistemas sociais, econômicos, religiosos e políticos em que viviam. E sim, às vezes é possível vislumbrar seu desenvolvimento histórico. O significado da Bíblia não é descrever a vida dos povos e a história de seus reinos, mas mostrar como Deus interveio nessas vidas e histórias. As histórias bíblicas foram escritas para comunicar essa ideia central, não para serem “verdadeiras”. Isso não significa que nenhum componente historicamente confiável esteja presente nos relatos. Significa que a arqueologia e a Bíblia abordam o antigo Israel e seu povo de ângulos completamente diferentes. Às vezes, convergem, mas muitas vezes não.
Na melhor das hipóteses, os resultados de uma escavação podem fornecer uma imagem da situação material, das condições de vida na região em que as histórias bíblicas são apresentadas. E, às vezes, as histórias bíblicas podem dar uma ideia dos pensamentos e sentimentos das pessoas que viveram na Idade do Ferro, mesmo que essas histórias tenham sido escritas muito depois do fato.
Espero que, depois de ler este livro, o leitor fique desconfiado ao ouvir, mais uma vez, que a arqueologia confirma a Bíblia, que finalmente uma inscrição escavada realmente prova que Davi matou Golias ou que os arqueólogos encontraram o palácio da rainha Jezabel. Espero que ele ou ela pense comigo: Não, não é isso que a arqueologia faz ou pode fazer. A relação entre arqueologia e a Bíblia é muito mais complicada do que estas manchetes sensacionalistas transmitem.
Almost weekly, headlines shout out new findings that supposedly confirm the stories told in the Bible. The palace of King David has been found, an inscription mentioning the giant Goliath, a seal that once belonged to Queen Jezebel, a text in which the prophet Balaam cautions and curses. But how reliable are these accounts? Is it even possible to connect archaeological finds and biblical texts that unambiguous? The exultant stories reach the Internet and the newspapers; the critical comments forwarded by others get much less attention.
It seemed high time to write a book for the general public to fill in this lacuna. A book that not only explores how the biblical texts depict the people inhabiting the Promised Land and the towns and temples they built but that also shows what archaeological research reveals of the land, its people, and the ways they lived their lives. A book that takes the reader to where archaeology and biblical texts meet, and that explains how to interpret the correspondences and differences.
I have endeavored to write that book, based on many years of experience giving lectures for people interested in what used to be called “biblical archaeology.” This book does not set out to confirm the Bible nor the opposite. It aims to explore ancient texts as well as the results of dozens of years of archaeological research. Information is gleaned from royal inscriptions and mundane cooking pots, from heroic biblical stories and excavated shrines, from names mentioned in texts and pig bones in the ground. Together, these sources allow us a deeper understanding of the people inhabiting the ancient land.
I appreciate the opportunity offered by the editors of this website to explain how I set about this project. The following is a slightly adapted and shortened version of chapter 2 of the book: In search of Abraham and his descendants.
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Epilogue
So many Bible stories, so many excavations and finds, so many inscriptions, and so many different opinions and interpretations. Would the reader of this book now be capable to “read” the biblical stories in the light of the results of excavations? Or relate the archaeological finds to the information extracted from the Bible? Probably not. But maybe this has been made clear: biblical verses and archaeological finds cannot simply be superimposed. Results from excavations cannot and do not confirm stories from the Bible, if only because archaeology’s research aims are completely different from the Bible’s meaning.
Archaeological research sets out to find traces of the people inhabiting the land and from that deduce the social, economic, religious and political systems in which they lived. And yes, sometimes it is possible to glimpse their historical development. The Bible’s meaning is not to describe the lives of the peoples and the history of their kingdoms but to show how God intervened in those lives and histories. The stories were once written down to communicate this central idea, not to be “true.” That does not mean that no historically reliable components are present in the stories; it means that archaeology and the Bible approach the ancient land and its people from completely different angles. Sometimes they converge, but often they do not.
In the best of times, excavation results can provide a picture of the tangible situation “on the ground,” of the living conditions in the region in which the biblical stories are set. And – sometimes – the biblical stories can give insight into the thoughts and feelings of the people living in the Iron Age, even if these stories were written down long after the fact.
I hope that after reading this book, the reader will take a step back when hearing once again that archaeology confirms the Bible, that this time an excavated inscription really proves that David slew Goliath, or that archaeologists have found the palace of Queen Jezebel. I hope that s/he – with me – thinks: No, that is not what archaeology does or can do. The relationship between archaeology and the Bible is much more complicated than is presented here.
Um livro
STEINER, M. L. Inhabiting the Promised Land: Exploring the Complex Relationship between Archaeology and Ancient Israel as Depicted in the Bible. Oxford: Oxbow Books, 2019, 192 p. – ISBN 9781789253306
Para muitas pessoas parece evidente: as ações e crenças do antigo Israel são descritas na Bíblia. As histórias sobre seus povos e reis, lutas e guerras, divindades e santuários devem ter sido contadas e recontadas ao longo dos tempos e registradas em arquivos antigos. Em um determinado momento, essas histórias foram reunidas na Bíblia, que, assim, se torna história. No entanto, desde o século 19, pelo menos, os estudiosos duvidaram da confiabilidade histórica de muitas histórias bíblicas, e as pesquisas arqueológicas dificilmente conseguiram confirmar sua historicidade. O objetivo deste livro é descrever o relacionamento muitas vezes complicado entre arqueologia e Bíblia. Não é um livro sobre ‘arqueologia bíblica’, e a arqueologia não é usada para ilustrar as histórias bíblicas, muito menos para provar que a Bíblia está certa. Pelo contrário, concentra-se nas informações que a arqueologia pode fornecer sobre as vidas e crenças dos povos antigos que habitavam a terra em que a Bíblia foi escrita e na questão de como essas informações se relacionam com as histórias bíblicas. O objetivo é fornecer alguns exemplos de como essa interação entre arqueologia e histórias bíblicas funciona e como interpretar a discrepância que possa existir entre os resultados da pesquisa arqueológica e a narrativa bíblica. Assim, oferece uma introdução ao campo do ponto de vista de um arqueólogo. O livro é destinado ao público em geral e também será de interesse para estudiosos da Bíblia, historiadores e professores, bem como arqueólogos de outros campos. Difere do livro não acadêmico médio sobre esse assunto, pois é mais pessoal, mais eclético e mais arqueológico. As análises da edição holandesa [Op zoek naar …: de gecompliceerde relatie tussen archeologie en de Bijbel, 2015] elogiam o estilo apaixonado e a maneira como o livro se concentra no processo científico de pesquisar problemas, em vez de encontrar respostas e apresentar a solução.
Margreet L. Steiner (Doutora em Arqueologia do Antigo Oriente Médio pela Universidade de Leiden, Holanda) é uma pesquisadora independente. Fez publicações finais das escavações de Kathleen Kenyon em Jerusalém e é co-editora do livro The Oxford Handbook of Archaeology of the Levant (10.000 – 350 AEC), de 2014. Nos últimos trinta e cinco anos, ela participou ou dirigiu escavações na Jordânia, Síria, Líbano e Territórios Palestinos. Atualmente, ela é co-diretora das retomadas escavações de Tell Abu Sarbut, na Jordânia.
For many people it is clear: the actions and beliefs of Ancient Israel are described in the Bible. The stories about its peoples and kings, struggles and wars, deities and shrines, are supposed to have been told and retold throughout the ages and recorded in ancient archives. At a certain moment in time these stories have been assembled in the Bible which becomes history. However, from the 19th century at least, scholars have doubted the historical reliability of many biblical stories, and archaeological research has hardly been able to confirm their historicity. The aim of this book is to describe the often-complicated relationship between archaeology and the Bible. It is not a book on `biblical archaeology’, and archaeology is not used to illustrate the biblical stories, let alone to prove that the Bible is right. On the contrary, it focuses on the information that archaeology can provide of the lives and beliefs of the ancient peoples that inhabited the land in which the Bible was written, and on the question of how this information relates to the biblical stories. It aims at providing some examples of how this interplay of archaeology and biblical stories works, and how to interpret the discrepancy that may exist between the results of archaeological research and the biblical narrative. It thus offers an introduction into the field from the standpoint of an archaeologist. The book is intended for the general public, and will also be of interest to biblical scholars, historians and teachers, as well as archaeologists in other fields. It differs from the average non-scholarly book on this subject in that it is more personal, more eclectic, more archaeological. Reviews of the Dutch edition [Op zoek naar …: de gecompliceerde relatie tussen archeologie en de Bijbel, 2015] praise the passionate style and the way it focuses on the scientific process of researching problems, instead of on finding answers and presenting the solution.
List of figures
Prologue
1. In search of … archaeology and the Bible
2. In search of … Abraham and his descendants
3. In search of … Saul and the days of the Judges
4. In search of … Goliath, the Philistine
5. In search of … David and Solomon
6. In search of … Jezebel and the House of Omri
7. In search of … Mesha of Moab
8. In search of … Jehoiachin and the Exile
9. In search of … the prophet Balaam
10. In search of … the goddess Asherah
11. In search of … the temple of Jerusalem
Epilogue
Further reading
Margreet L. Steiner (University of Leiden, 1994) is an independent scholar in Leiden, The Netherlands. She has produced final publications of Kathleen Kenyon’s excavations in Jerusalem and is the co-editor of The Oxford Handbook of the Archaeology of the Levant (10.000 – 350 BCE). For the past thirty-five years she has participated in or directed excavations in Jordan, Syria, Lebanon and the Palestinian Territories. Currently she is co-director of the renewed excavations of Tell Abu Sarbut, Jordan. Margreet Steiner has published widely on the archaeology of the Levant.