Padre italiano vai ter que provar na justiça que Jesus existiu: comédia em quantos atos?

O caso relatado aqui continua. Veja o texto de Assimina Vlahou, da BBC Brasil, em Roma.

 

Italiano processa padre para que prove existência de Jesus

Pela primeira vez em 2000 anos, a existência de Jesus Cristo, depois de ter provocado guerras, disputas teológicas e conflitos religiosos, pode acabar num tribunal internacional.

É o que promete Luigi Cascioli, o homem que desafia um padre italiano a provar, na justiça, que Cristo existiu de verdade.

A primeira audiência do processo foi nesta sexta feira, na Itália.

“Primeira e última”, promete em entrevista à BBC Brasil o advogado do padre Enrico Righi, que está sendo acusado de “abuso da credulidade popular” e “substituição de pessoa”.

Filho de Judas

De acordo com o advogado Bruno Severino, o juiz dará uma resposta em poucos dias e pode arquivar o caso ou decidir que devem ser feitas outras investigações.

“Imagine uma perícia sobre a existência de Jesus!”, exclamou, incrédulo, o advogado.

O acusador é Luigi Cascioli, ex-agrônomo, aposentado, que se define como “ateu militante”.

Há três anos ele decidiu processar o pároco da cidadezinha de Bagnoreggio, perto de Roma, e através dele toda a Igreja Catolica. Estão sendo acusados de não ter provas sobre a existência de Cristo e de fazer com que as pessoas acreditem em algo que não existe.

A acusação de baseia em textos, escritos e distribuídos pelo sacerdote aos fiéis.

Além disso, segundo Cascioli, usaram uma outra pessoa, que existiu de verdade, para construir a identidade de Jesus.

Giovanni di Gamala, filho de Judas, o Galileu, da Casta dos Asmoneus, descendente da estirpe de Davi.

‘Destruir o Cristianismo’

Segundo o paroco de Bagnoreggio, que sozinho deve responder pela História da Igreja diante do tribunal italiano, Giovanni di Gamala é um desconhecido.

“Quem era e o que fez? Parece que apenas o senhor Cascioli sabe de sua existência”, escreveu na revista de sua paróquia, citando personagens históricos, não ligados ao cristianismo, que teriam comprovado a existência de Cristo, como Adriano, Marco Aurélio, Tácito.

O padre Enrico Righi coloca em dúvida a autoridade científica de seu acusador, que, segundo ele, não tem formação de historiador e nem conhece línguas antigas.

“Depois de 50 anos de sacerdócio, esperava ter um pouco de descanso e no entanto acabei no centro de uma disputa ridícula sobre a existência histórica do homem Jesus”, desabafou o padre.

O Vaticano, até agora, não se pronunciou sobre o caso.

Luigi Cascioli alega que seu objetivo é “mostrar a verdade e destruir o cristianismo”. E acredita na possibilidade de ganhar a causa com as provas que entregou ao tribunal.

Para provar que Jesus não existiu, escreveu até um livro, “A Fábula de Cristo”.

Haia

Baseando-se na análise de textos antigos e da Bíblia, ele afirma que as provas para demonstrar a existência de Cristo são a manipulação e falsificação de documentos que, na realidade, se referem a Giovanni di Gamala.

A repercussão do caso pode ajudar na divulgação do livro.

Mas Cascioli garante que este não é o seu objetivo.

“Podem dizer isto, não me importa. Não posso deixar de vender meus livros só para que não digam que quero vendê-los”, se defende.

De acordo com o advogado do padre Enrico Righi, Cascioli se acha no direito de poder expressar sua opinião e nega este direito ao sacerdote.

“Se não existe um crime de opinião, ele não pode ser acusado. Seria um caso único, ser considerado culpado porque cumpriu seu dever de ministro da Igreja Católica e exercitou seu direito de opinião, dizendo o que pensa. Nada que possa ser levado a um tribunal.”

Para o advogado Severino Bruno o caso está praticamente resolvido.

Não para Cascioli, que pretende insistir. E sempre contra o padre Righi, usado como representante da igreja e até do papa que, como chefe de Estado estrangeiro, não pode ser processado.

“Se a sentença não for satisfatória, vou recorrer. E se não der certo, estou disposto a ir até o Tribunal Internacional de Haia”, declarou Cascioli, na conversa com a BBC Brasil.

Fonte: Assimina Vlahou – BBC Brasil: 27/01/2006

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