A complexa construção da identidade judaica e o testemunho da Literatura Pós-Exílica

A Literatura Pós-Exílica é estudada no segundo semestre do segundo ano de Teologia na FTCR e no CEARP. Com enorme abrangência e carga horária limitada – 4 horas semanais no CEARP e apenas 2 horas semanais na FTCR da PUC-Campinas – esta disciplina aborda 4 momentos:
1. Os profetas exílicos e pós-exílicos: de Ezequiel a Joel
2. Romance, novela, conto: de Rute a Judite
3. Historiografia: a Obra Histórica do Cronista e 1 e 2 Macabeus
4. A literatura apocalíptica: Daniel e os apocalípticos apócrifos (ou pseudepígrafos).

São privilegiados, pelo minguado do tempo, os momentos 2 e 4. Os profetas são vistos mais rapidamente, pois o profetismo já foi estudado no primeiro semestre; e, infelizmente, a historiografia é apenas mencionada. Já o item 2 é fundamental para se entender o complexo universo de conflitos em que se busca uma identidade judaica – que acaba plural – e o item 4, a apocalíptica, é a porta que deve ser cuidadosamente aberta para a entrada, no semestre seguinte, em o mundo do Novo Testamento.

Dispostos cronologicamente os livros, teríamos o seguinte panorama desta enorme literatura:
1. Os profetas exílicos e pós-exílicos
Ezequiel: 593-571 a.C.
Dêutero-Isaías: cerca de 550
Ageu: 29.8 a 18.12.520
Zacarias 1-8: 18.12.520 a 7.12.518
Isaías 56-66: entre 520 e 510
Malaquias: entre 480 e 450
Zacarias 9-14: final séc. IV – início séc. III
Joel: séc. IV ou III

2. Romance, novela, conto
Rute: ca. 450 a.C.
Jonas: ca. 450
Ester (hebr.): ca. 350
Tobias: ca. 200
Judite: ca. 150

3. Historiografia
OHCr: 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias: séc. IV a. C.
1 e 2 Macabeus: entre 90 e 70

4. A literatura apocalíptica (seleção)
Daniel: 164 a. C.
O livro etiópico de Henoc: séc. II-63 a.C.
O livro eslavo de Henoc: séc. I d.C.
O livro dos Jubileus: 100 a.C.
Os Salmos de Salomão: 63-40 a.C.
Os Testamentos dos 12 Patriarcas: 130-63 a.C.
Os Oráculos Sibilinos: séc. I a.C.
Assunção de Moisés: 30 a.C.-30 d.C.
O Apocalipse siríaco de Baruc: 75-100 d.C.
O IV livro de Esdras: fim do séc. I d.C.

I. Ementa
Procura compreender a vivência dos judeus no exílio, lendo os profetas Ezequiel e Dêutero-Isaías. De igual modo, no pós-exílio, através do estudo dos profetas da reconstrução, tais como Ageu, Zacarias, Trito-Isaías e outros. Aborda também os romances, novelas e contos (Rute, Jonas, Ester, Tobias, Judite), que mostram como manter a identidade judaica, tanto dentro do país como na diáspora. A literatura histórica da época, através da Obra Histórica do Cronista (1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias), também é tratada. Finalmente, a significativa literatura apocalíptica, tanto canônica, como Daniel, quanto apócrifa, até Qumran. É um momento privilegiado para a preparação dos estudos neotestamentários, no contexto dos domínios persa, grego e romano sobre a Palestina. O confronto entre o judaísmo e o helenismo é abordado em detalhes.

II. Objetivos
Possibilita ao aluno conhecer a complexidade dos vários judaísmos surgidos no pós-exílio, suas teologias e o ambiente carregado de especulações apocalípticas em que se deu a pregação de Jesus e a escrita do Novo Testamento.

III. Conteúdo Programático

1. Os profetas exílicos e pós-exílicos
Ezequiel
Dêutero-Isaías (Is 40-55)
Ageu
Zacarias 1-8
Trito-Isaías (Is 56-66)
Malaquias
Zacarias 9-14
Joel

2. Romance, novela, conto
Rute
Jonas
Ester
Tobias
Judite

3. Historiografia
A obra histórica do Cronista (1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias)
1 e 2 Macabeus

4. A literatura apocalíptica
Daniel
Os apócrifos apocalípticos

IV. Bibliografia
Básica
ARANDA PÉREZ, G. et al. Literatura Judaica Intertestamentária. São Paulo: Ave-Maria, 2000.

DA SILVA, A. J. Apocalíptica: busca de um tempo sem fronteiras. Artigo disponível na Ayrton’s Biblical Page

DIEZ MACHO A. et al. Apócrifos del Antiguo Testamento I-V. Madrid: Cristiandad, 1982-1987.

MESTERS, C. Como ler o livro de Rute: pão, terra, família. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

SCHÖKEL, L. A.; SICRE DIAZ, J. L. Profetas 2v. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2002-2004.

STORNIOLO, I. Como ler o livro de Daniel: reino de Deus x Imperialismo. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

WIÉNER, C. O profeta do novo êxodo: o Dêutero-Isaías. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

Complementar
ABADIE, Ph. O livro de Esdras e de Neemias. São Paulo: Paulus, 1998.

ABADIE, Ph. O livro das Crônicas. São Paulo: Paulus, 1998.

COLLINS, J. J.; McGINN, B.; STEIN, S. J. (eds.) The Encyclopedia of Apocalypticism: Vol. 1: The Origins of Apocalypticism in Judaism and Christianity; Vol. 2: Apocalypticism in Western History and Culture; Vol. 3: Apocalypticism in the Modern Period and the Contemporary Age. New York: Continuum, 2000.

COOK, S. L. The Apocalyptic Literature. Nashville: Abingdon, 2003.

GARCÍA MARTÍNEZ, F. Textos de Qumran: edição fiel e completa dos Documentos do Mar Morto. Petrópolis: Vozes, 1995.

GARCÍA MARTÍNEZ, F.; TREBOLLE BARRERA, J. Os homens de Qumran: literatura, estrutura e concepções religiosas. Petrópolis: Vozes, 1996.

GRABBE, L.; HAAK, R. D. (eds.) Knowing the End from the Beginning: The Prophetic, Apocalyptic and Their Relationships. London: T & T Clark, 2004.

JOSEFO, F. História dos Hebreus: obra completa. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1992.

KILLP, N. Jonas. Petrópolis/São Leopoldo: Vozes/Sinodal, 1994.

KIPPENBERG, H. G. Religião e formação de classes na antiga Judéia: estudo sociorreligioso sobre a relação entre tradição e evolução social. São Paulo: Paulus, 1997.

LACOCQUE, A. Le Livre de Ruth. Genève: Labor et Fides, 2004. Resenha: Kirsten Nielsen, University of Aarhus, Aarhus, Dinamarca.

MEIN, A. Ezekiel and the Ethics of Exile. Oxford: Oxford University Press, 2001. Resenha: David G. Garber Jr., Emory University, Atlanta, GA, USA.

RUSSEL, D. S. Desvelamento divino: uma introdução à apocalíptica judaica. São Paulo: Paulus, 1997.

SHANKS, H. (org.) Para compreender os manuscritos do Mar Morto. Rio de Janeiro: Imago, 1993.

SHIGEYUKI N.; DE PAULA PEDRO, E. Como ler o livro de Malaquias: defender a tradição ou a vida? 3. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

SOLANO ROSSI, L. A. Como ler o livro de Zacarias: o profeta da reconstrução. São Paulo: Paulus, 2000.

STORNIOLO, I. Como ler o livro de Ester: o poder a serviço da justiça. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

STORNIOLO, I.; BORTOLINI, J. Como ler o livro de Tobias: a família gera vida 2. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

STORNIOLO, I. Como ler o livro de Judite: a viúva que salvou o seu povo. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

Novidades na bibliografia da Ayrton’s Biblical Page

Livros novos acrescentados à bibliografia comentada da Ayrton’s Biblical Page.

Sobre apocalíptica:

  • COLLINS, John J.; McGINN, Bernard; STEIN, Stephen J. (eds.) The Encyclopedia of Apocalypticism: Vol. 1: The Origins of Apocalypticism in Judaism and Christianity, 520 p.; Vol. 2: Apocalypticism in Western History and Culture, 544 p.; Vol. 3: Apocalypticism in the Modern Period and the Contemporary Age, 520 p. New York: Continuum, 2000.
  • COOK, Stephen L. The Apocalyptic Literature. Nashville: Abingdon, 2003. 233 p.
  • GRABBE, Lester; HAAK, Robert D. (eds.) Knowing the End from the Beginning: The Prophetic, Apocalyptic and Their Relationships. London: T & T Clark, 2004. ix + 226 p.

Sobre profetismo:

  • MEIN, A. Ezekiel and the Ethics of Exile. Oxford: Oxford University Press, 2001. xii + 298 p.

Onde se faz a maior parte da pesquisa atual sobre o Jesus Histórico?

Vale a pena ler a reflexão de Mark Goodacre no seu Mark Goodacre’s NT Blog sobre a atual situação da pesquisa sobre o Jesus Histórico. Leia

American Jesus scholarship coming of age?

Ou seja: A pesquisa norte-americana sobre o Jesus Histórico está chegando à maioridade?

 

American Jesus scholarship coming of age?

I am preparing a lecture at the moment on the contemporary scene in Historical Jesus scholarship (having taking a lecture on Schweitzer, then a lecture on Bultmann, Käsemann and the new quest, then a lecture on Geza Vermes and Ed Sanders) and as I re-read some materials on the Jesus Seminar, I am struck by this comment from the late Robert Funk, just a little over twenty years ago:

Perhaps most important of all, these developments have taken place predominantly, though not exclusively, in American scholarship. We need not promote chauvinism; we need only recognize that American biblical scholarship threatens to come of age, and that in itself is a startling new stage in our academic history. We may even be approaching the time when Europeans, if they know what they are about, will come to North America on sabbaticals to catch up, rather than the other way around. It is already clear that Europeans who do not read American scholarship are falling steadily behind. (Opening Remarks of Jesus Seminar Founder, Robert Funk, 21-24 March 1985)

It’s interesting to read that prophecy of not so long ago, and in many ways Funk has been proved right. In Historical Jesus studies at least, one’s mind naturally turns to Germans, and a handful of Brits prior to 1970. But the last thirty years or so have been quite different.

I’m wondering about geographical affiliations of Jesus questers in recent times. I suppose that a surprising number of so-called third questers have an association with the U.K., Geza Vermes, Anthony Harvey, Tom Wright. Ed Sanders had written Jesus and Judaism prior to coming to Oxford in 1984, but it was published in 1985. Then there’s Gerd Theissen in Germany. There are of course many prominent Americans too, Ben Meyer, John P. Meier, Paula Fredriksen, Dale Allison and more. Jesus Seminar folk, on the other hand, tend to be almost exclusively based in the US, and perhaps that is no coincidence in the light of Funk’s remarks above.

An aside on the same topic, I have struggled with attempts to categorize recent Jesus scholarship and I am inclined to agree with Dale Allison in “The Secularizing of the Historical Jesus”* that the now standard division into three quests is misleading and unhelpful. Nevertheless, I was struck today to see that Lane McGaughy consciously aligns the Jesus Seminar’s work with the work of the New Quest (The Search for the Historical Jesus: Why start with the sayings?). I was struck because I had thought that Tom Wright’s category “renewed new quest” in his inventory in Jesus and the Victory of God was a kind of marginalizing of the work of Crossan et al. I had not realized that it was in the Jesus Seminar’s own self-description. Notice, in particular, the following:

The agenda of the Jesus Seminar thus evolved from the New Quest and its attempt to reconstruct the teaching of the historical Jesus. In distinction from the so-called Third Quest which is attempting to locate Jesus within the religious and social world of first-century Judaism, the work of the Jesus Seminar may be seen as a renewal and extension of the New Quest (though some members of the Jesus Seminar may see their own work as part of the Third Quest). In chapter four of his recent book Honest to Jesus, Robert Funk refers to the work of the Jesus Seminar not as part of the Third Quest, but as the Renewed Quest for Jesus . . . . The work of the Jesus Seminar can thus be seen as the continuation of the New Quest for the historical Jesus.

I’m really surprised by the explicit acknowledgement that there are others who are engaged in a different enterprise, and the apparent distancing from the task of “attempting to locate jesus within hte religious and social world of first-century Judaism”. I thought that everyone took for granted that one of the very reasons for the collapse of the new quest was its negative evaluation of what it so shockingly called “late Judaism”.

* This was on-line on Dale Allison’s homepage for ages, but it seems that it is no longer there, nor are any of his other articles (and there’s a new pic.). Google locates a version here but I don’t know if it’s legitimate or not. Anyway, if you have a copy of Resurrecting Jesus (and if you haven’t, why not?), it’s the first essay in there, and a cracking read, as is the whole book.

Fonte: Mark Goodacre – NT Blog: January 22, 2006