Aconteceu na sala de aula

Foi no dia 18 passado, no segundo ano de Teologia da FTCR da PUC-Campinas, quando estávamos estudando, na Literatura Pós-Exílica, o profeta anônimo apelidado pelos especialistas de Dêutero-Isaías, cujo texto sobreviveu dentro do livro de Isaías, constituindo os atuais capítulos 40-55 do referido livro.

O Dêutero-Isaías, também chamado de Segundo Isaías ou, na brilhante intuição de Carlos Mesters, de Isaías Júnior, é um profeta que atuou na segunda metade do exílio babilônico, por volta de 550 a.C. Toda a sua fala está voltada para o despertar da esperança da libertação da Babilônia e da volta para Jerusalém, tarefa na qual ele se empenha junto de exilados, ao que parece, bastante acomodados com uma situação que já durava uns 30 ou 40 anos.

O texto abordado era Is 40,12-26, quando o profeta apresenta aos seus desanimados ouvintes as garantias de Iahweh de que a libertação dos exilados de Judá das garras do poder babilônico é possível. Isto ele o faz, além de outros recursos, através de uma teologia da criação, que é bastante consistente para a cosmologia da época, pois mostra a grandeza dos céus e da terra e argumenta que só Iahweh pode criar e controlar tal imensidão, inacessível aos recursos humanos. Na tradução da Bíblia de Jerusalém, edição de 2002, segunda impressão em 2003, lemos, por exemplo:

Quem pôde medir as águas do mar na concha da mão?
Quem conseguiu avaliar a extensão dos céus a palmos,
medir o pó da terra com o alqueire
e pesar os montes na balança
e os outeiros no seus pratos? (Is 40,12)

Para ele as nações não passam de uma gota que cai do balde,
são reputadas como o pó depositado nos pratos da balança.
As ilhas pesam tanto como um grão de areia! (Is 40,15)

Elevai os olhos para o alto e vede:
Quem criou estes astros?
É ele que faz sair o seu exército
em número certo e fixo;
a todos chama pelo nome.
Tal é o seu vigor, tão grande a sua força
que nenhum deles deixa de apresentar-se (Is 40,26).

Mas aí apresentei uma questão: tal argumentação, embora consistente na época do profeta, se mostra hoje totalmente inadequada diante do conhecimento que temos do Universo e de nossa capacidade científica de manipular aquilo que nosso otimista profeta dizia ser tarefa exclusiva de Iahweh. Argumentei que uma mediação hermenêutica se faz absolutamente necessária quando utilizamos este texto hoje, que, para ser lido com eficácia, deve ser adaptado ao nosso contexto.

Foi então que Gian Carlos Pereira, estudante de Teologia daquela turma, nos lembrou que, embora nosso conhecimento técnico-científico tenha crescido enormemente, há pessoas com essa capacitação que preferem, e de fato, fazem, uma leitura literal e fundamentalista de textos como este. Pessoas, ele exemplificou, que apesar do elevado grau de instrução e pertencentes à classe média alta se contentam em “usar” a Bíblia literalmente, isentando-se de qualquer compromisso social. E há pastores e padres que, em muitas igrejas, fazem esta leitura imediatista e fundamentalista, usando a música no lugar da reflexão para se promoverem, fazendo da comunidade cristã mais um degrau para a própria ascensão social, chegando, em alguns casos, a um escancarado narcisismo.

E Gian Carlos perguntava: Como trabalhar a consciência crítica destas pessoas?

Ocorreu-me o que dissera na entrevista deste mês para o Biblioblogs.com, onde fui buscar um trecho que exemplifica tal atitude:

Vejo que, na leitura da Bíblia aqui no Brasil, há duas tendências: uma, que faz da leitura bíblica um instrumento para incentivar a organização popular e a consciência crítica, mas não pára na Bíblia e sim desemboca na vida; outra que produz uma reificação da Bíblia, conduzindo a uma espécie de “sionismo cristão”, tendo como meta a Igreja, na reestruturação de uma neocristandade…

E minha sugestão é que a leitura continue até a resposta à pergunta seguinte, onde abordo a questão do populismo!

O livro de Isaías representa a pregação de um único profeta ou será uma coletânea de ditos proféticos de várias épocas?

Como pode ser lido em meu Livro de Visitas, com data de 20 de setembro de 2006, há pessoas que discordam das conclusões acadêmicas predominantes sobre o livro do profeta Isaías.

No caso em questão, a pessoa que me honra com sua visita à Ayrton’s Biblical Page escreve: “…Gostaria de manifestar minha discordância sobre o seu ponto de vista em relação à redação do livro de Isaías, como coletânea de ditos proféticos de várias épocas…” (José Maurício P. Nepomuceno – 20/09/2006) [Observo, em 21.05.2018, que este livro de visitas não está mais disponível online].

Antes de prosseguir, quero, contudo, deixar claro que não pretendo convencer ninguém, muito menos meu visitante, pois, frequentemente, esta ou aquela argumentação pode estar fundada em crença. E crença eu não discuto, respeito. Meu empenho é acadêmico, segundo uma assentada tradição de vários séculos. O que gostaria de apresentar é apenas uma pequena amostra do que se estuda na academia, meio no qual estou desde a década de 70 do século passado.

Um ponto que quase sempre leva a muita polêmica e pouca ciência é a divergência hermenêutica em questões bíblicas. Por isso, esclareço minha posição, que pode ser eventualmente verificada em três fontes:

DA SILVA, A. J. A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C. São Paulo: Paulus, 1998. Versão atualizada em 2011. Disponível online.

PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. A Interpretação da Bíblia na Igreja. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2009. O texto está disponível online, também em português, no site do Vaticano.

SCHÖKEL, L. A. A Palavra Inspirada: a Bíblia à luz da ciência da linguagem. São Paulo: Loyola, 1992.

Mas, sobre o livro de Isaías vejamos:

  • Autores como Moisés ben Samuel Ibn Gekatilla, no século XI d.C., ou o seu continuador, Ibn Ezra, no século XII, já atribuíam a primeira parte (Is 1-39) ao profeta Isaías e a segunda (Is 40-66) à época do exílio. Hoje sabemos que: Isaías: 740-701 a.C. e exílio babilônico: 587/6- 539/8 a.C.)
  • Na pesquisa do livro de Isaías há duas datas-chave: 1789, quando J. C. Döderlein começa a falar do Dêutero-Isaías, profeta anônimo dos tempos do exílio, ao qual atribui os capítulos 40-66, e 1892, ano em que B. Duhm publica o seu comentário a Isaías, e rompe a suposta unidade dos capítulos 40-66, atribuindo-os a dois autores diferentes: 40-55 ao Dêutero-Isaías e 56-66 ao Trito-Isaías. A partir de então é comum dividir o livro de Isaías em três grandes blocos: Proto-Isaías ou Isaías I (1-39), Dêutero-Isaías ou Isaías II (40-55) e Trito-Isaías (56-66). O livro de Bernhard Duhm, em alemão, chama-se “Das Buch Jesaja” e a edição que conheço é a de 1968, publicada em Göttingen, pela editora Vandenhoeck & Ruprecht.
  • Não se pense, porém, que exista unanimidade nestas questões. Sobretudo, ainda continua existindo um grupo de nostálgicos que atribui todo o livro ao Isaías do século VIII. A lista destes autores é mais abundante do que se poderia imaginar, mas, só no século XX podemos citar aqui Margoliouth, G. L. Robinson, Lias, Ridderbos, Kaminka, Wordsworth, Kissane, Allis, Young, Slitki, R. K. Harrison, Gozzo, Mariani, Vaccari, Möller, Baron, Spadafora. Recorrem a vários argumentos, mas o que mais desagrada a este grupo é o fato de que se negue o elemento preditivo na profecia. Apesar disto, os nostálgicos perderam a batalha. Seus argumentos não convencem.

Para uma leitura sensata do livro de Isaías, recomendo um especialista muito respeitado, com obra traduzida em português, que é o Luis Alonso Schökel. Veja: SCHÖKEL, L. A.; SICRE DIAZ, J. L. Profetas I: Isaías. Jeremias. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004.

Lembro aos interessados que a tese de doutorado de Luis Alonso Schökel (1920-1998) é sobre Isaías: Estudios de poética hebrea. Barcelona: Juan Flores, 1963, 560 p.

Veja dele, ainda: A Bíblia do Peregrino, lançada na Espanha em 1996 e publicada no Brasil em 2002. As notas de rodapé são muito interessantes.

E, finalmente, leia também, em minha página: Perguntas mais frequentes sobre o profeta Isaías, com bibliografia, no final, para quem desejar saber mais.

Mais uma vez o Javista se despede do Pentateuco. Mas para onde ele estaria indo?

A SBL, na sua coleção SBL Symposium Series, publicou, recentemente, mais um estudo sobre o Pentateuco:

 

DOZEMAN, Thomas B; SCHMID, Konrad. (eds.) A Farewell to the Yahwist? The Composition of the Pentateuch in Recent European Interpretation. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2006, viii + 198 p.

Ou seja: Um adeus para o Javista? A composição do Pentateuco na interpretação européia recente.

 

Para quem vem acompanhando o debate sobre Pentateuco e, especialmente, o caso do Javista, vale a pena conferir primeiro o que escrevi no dia 5 de agosto passado no Observatório Bíblico com o título O que aconteceu com o Javista na atual pesquisa do Pentateuco? Ele desapareceu e levou consigo a Hipótese Documentária, explica Rolf Rendtorff, e no dia 24 de agosto com o título O que aconteceu com o Javista na atual pesquisa do Pentateuco? Van Seters responde a Rolf Rendtorff.

Neste volume temos valiosas contribuições de alguns dos maiores nomes da pesquisa na área de Pentateuco. Eis o sumário:

Introduction: Thomas B. Dozeman and Konrad Schmid

Part 1: Main Papers
  • Thomas Christian Römer: The Elusive Yahwist: A Short History of Research
  • Konrad Schmid: The So-Called Yahwist and the Literary Gap between Genesis and Exodus
  • Albert de Pury: The Jacob Story and the Beginning of the Formation of the Pentateuch
  • Jan Christian Gertz: The Transition between the Books of Genesis and Exodus
  • Erhard Blum: The Literary Connection between the Books of Genesis and Exodus and the End of the Book of Joshua
  • Thomas B. Dozeman: The Commission of Moses and the Book of Genesis

 

Part 2: Responses
  • Christoph Levin: The Yahwist and the Redactional Link between Genesis and Exodus
  • John Van Seters: The Report of the Yahwist’s Demise Has Been Greatly Exaggerated!
  • David M. Carr: What Is Required to Identify Pre-Priestly Narrative Connections between Genesis and Exodus? Some General Reflections and Specific Cases

A sinopse da editora diz o seguinte:

Since the “assured results” of scholarship are rarely certain, it should come as no surprise that the classical formulation of the Documentary Hypothesis has yet again been called into question. However, many North American scholars are unfamiliar with the work of a new generation of European scholars who are advancing an alternate view of the compositional history of the Pentateuch. A growing consensus in Europe argues that the larger blocks of pentateuchal tradition, especially the stories of the patriarchs and Moses, were not redactionally linked before the Priestly Code, as the J hypothesis suggests, but existed side by side as two independent, rival myths of Israel’s origins. This volume makes available both the most recent European scholarship on the Pentateuch and its critical discussion, providing a helpful resource and fostering further dialogue between North American and European interpreters.

Lembrando, finalmente, que Thomas B. Dozeman é Professor de Bíblia Hebraica no United Theological Seminary, em Dayton, Ohio, USA, enquanto Konrad Schmid é Professor de Antigo Testamento na Universidade de Zurique, Suiça. E que uma versão desta obra, em capa dura (hardback), foi publicada pela Editora Brill.

O livro pode ser encontrado em muitas livrarias online, inclusive na Amazon.com.

Os nomes de Deus na Biblia

Se você quiser ler algo interessante sobre as várias formas como Deus é designado na Bíblia Hebraica, leia o post The Name Game no biblioblog Asphaleia, de Marv.

Obs.: os links não funcionam, pois o blog não existe mais… [21.03.2008 – 11h12]

O livro do Eclesiastes é o desafio para o Mês da Bíblia de 2006

Há muitos recursos para o estudo do livro do Eclesiastes ou Coélet. Na página da CNBB, por exemplo, a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Biblico-Catequética propõe o Livro Mês da Bíblia.

Na Apresentação do Livro, diz a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética:

Com alegria colocamos em suas mãos uma sugestão para a Celebração do Dia da Bíblia (…) O Projeto Nacional de Evangelização propõe para este ano, no mês de setembro (…) o Livro de Eclesiastes (…) O mês de setembro, reconhecido nacionalmente como o mês da Bíblia, é para nós uma grande riqueza. Ele possibilita preparar, vivenciar e testemunhar com entusiasmo e empenho as Celebrações em nossas comunidades, bem como fortalecer os Círculos Bíblicos e Grupos de Reflexão que buscam na Bíblia a força na missão de evangelizar e ser evangelizado.

 

Subsídios populares:

Carlos MESTERS e Francisco OROFINO, O Varal da Vida: chave de leitura para o livro do Eclesiastes, São Leopoldo: CEBI, 2006, 52 p.

CENTRO BÍBLICO VERBO, Come teu pão com alegria! Entendendo o livro de Eclesiastes. São Paulo: Paulus, 2006, 163 p.

Darci Luiz MARIN (Redator), Eclesiastes: viver bem o presente. Vida Pastoral, São Paulo: Paulus, ano 47, n. 250, setembro-outubro de 2006.

Gilvander MOREIRA, Western CLAY, Rogério DE ALMEIDA, Jacir DE FREITAS e Adilson SCHULTZ, O povo sabe das coisas: Eclesiastes ilumina o trabalho, a vida e a religião do povo. São Leopoldo: CEBI/Contexto Editora, 2006, 126 p.

Ivo STORNIOLO e Euclides M. BALANCIN, Como ler o livro do Eclesiastes: trabalho e felicidade. 4. ed. São Paulo: Paulus, 1997, 48 p.

SAB, Come teu pão com alegria: Eclesiastes. São Paulo: Paulinas, 2006.

 

Subsídios acadêmicos:

Haroldo DE CAMPOS, com uma colaboração especial de J. Guinsburg, Qohélet / O-Que-Sabe. Eclesiastes: poema sapiencial. 2. ed. Transcriado por Haroldo de Campos. São Paulo: Perspectiva, 2004, 248 p.

Ivo STORNIOLO, Trabalho e felicidade: o livro de Eclesiastes. São Paulo: Paulus, 2002, 152 p.

José VÍLCHEZ LÍNDEZ, Eclesiastes ou Qohélet. São Paulo: Paulus, 1999, 512 p.

Lilia LADEIRA VERAS, Um primeiro contato com o livro do Eclesiastes ou o livro Coélet. RIBLA 52, 2005/3, Petrópolis: Vozes, p. 119-139 (com três páginas de bibliografia no final).

Robert MICHAUD, Qohélet et l’hellénisme. Paris: Du Cerf, 1987, 224 p.

 

Para conhecer a época em que foi escrito o Eclesiastes, recomendo o meu texto de História de Israel no item 7. Os Ptolomeus Governam a Palestina. No final deste item abordo a questão da administração ptolomaica da Palestina.

Por outro lado, já andei escrevendo algumas linhas sobre o Eclesiastes. Foi em meu artigo Judaísmo e Helenismo: encontro e conflito. Estudos Bíblicos, Petrópolis: Vozes, n. 48, 1996, p. 9-18.

Este número da revista trata da Sabedoria e, além de meu artigo, podem ser lidos os artigos de Walmor Oliveira de Azevedo, Emanuel Messias de Oliveira, Wolfgang Gruen, Romi Auth, Western Clay Peixoto, Rosana Pulga, Rodrigo P. Silva e Benjamim Carreira de Oliveira. Todos fazem parte do grupo dos “Biblistas Mineiros”.

O que aconteceu com o Javista na atual pesquisa do Pentateuco? Van Seters responde a Rolf Rendtorff

Se você leu o meu post O que aconteceu com o Javista na atual pesquisa do Pentateuco? Ele desapareceu e levou consigo a Hipótese Documentária, explica Rolf Rendtorff, agora leia as observações de Van Seters sobre o texto de Rendtorff. Estas observações foram feitas através de carta ao Forum da SBL. Cito alguns trechos de Some remarks of the paper by Rolf Rendtorff, “What happened to the ‘Yahwist’?”, escrito por Van Seters, Professor Emérito da Universidade da Carolina da Norte em Chapel Hill, USA.

Sobre Von Rad:

I strongly protested against what I regard as Rendtorff’s misrepresentation of von Rad’s position by his dismissal of the Yahwist as an author and historian. Anyone reading through von Rad’s corpus cannot be in doubt about how strongly he felt about the Yahwist as author and historian. His study, “Das formgeschichtliche Problem des Hexateuch,” was primarily to dispute Gunkel’s treatment of the Yahwist as merely a random and accidental collection of old traditions and to argue that the work is that of an historian. He says very little about the Yahwist as theologian. It was Noth, in his study of the Pentateuch, who preferred to follow Gunkel and who also spoke of the process of tradition accumulation as theological, and Rendtorff has followed this line, not that of von Rad.

 

Sobre Van Seters:

When comes to characterize my own work on the Yahwist, he tries to represent me as creating “a new kind of Yahwist … an individual personality; he is not a theologian like von Rad’s Yahwist, but a historian.” As suggested above, this misrepresents both von Rad and me. I have simply followed von Rad’s suggestion that J is a historian, but I do not deny that within J’s history there is a theology and I have written on the subject. That is a completely false choice. What is even more puzzling is Rendtorff’s assertion that for me there is only one source or author in the Pentateuch and that my views represent a “reduced documentary hypothesis, namely a one-document hypothesis.” That bears no resemblance to my views at all. I have rejected the “traditional” E source, but there were a number of scholars before me who did that so there is nothing new there. I retain Deuteronomy and P as separate sources in the largely “traditional sense” so that there remain for me three major sources. Where I part from the Documentary Hypothesis is in the rejection of the role of redactor or editor (see my book noted above) as the one who combined these sources. Instead, I advocate the theory of a successive supplementation of one source or author by another. I have even characterized my work as the “New Supplementary Hypothesis” but Rendtorff has ignored all of this.

 

Sobre o livro Abschied vom Jahwisten:

A number of those scholars who have followed Rendtorff’s lead in getting rid of the Yahwist as author are reflected in the book Abschied vom Jahwisten, which is reviewed by Rendtorff in this paper. I heard that such a book was in the works but I was not asked to contribute or respond to it. However, in a second volume on this same theme “Farewell to the Yahwist,” I have contributed a paper, “The Report of the Yahwist’s Demise has been Greatly Exaggerated!,” in which I seek to respond to this movement to get rid of the Yahwist (…) I will not comment here on any of these scholars cited by Rendtorff in his support, except to say that they have largely replaced the Yahwist by a series of redactors. They retained the source P, for some strange reason, although large chunks of it have also become the work of the ubiquitous redactor. It was the Documentary Hypothesis that created the redactor as a literary devise, a dues ex machina, to make the whole theory work. That is the only really distinctive feature of the Documentary Hypothesis and it is this part of the theory that Rendtorff and others have retained. Now we supposedly have editors without any authors, which is absurd, and the whole literary process has become known as “redaction criticism.” It is high time that the “redactor” takes his leave and the author is restored to his rightful place in literary criticism.

Van Seters faz ainda, na mesma carta, algumas observações sobre a resposta de David Clines a Rendtorff.

O que aconteceu com o Javista na atual pesquisa do Pentateuco? Ele desapareceu e levou consigo a Hipótese Documentária, explica Rolf Rendtorff

No Congresso Internacional da Society of Biblical Literature (SBL), que aconteceu em Edimburgo, Escócia, entre os dias 2 e 6 de julho de 2006, o professor Rolf Rendtorff, da Universidade de Heidelberg, Alemanha, apresentou a palestra What Happened to the “Yahwist”?: Reflections after Thirty Years [O que aconteceu com o “Javista”? Retomando o tema trinta anos depois], que agora sai publicada no Forum de agosto da SBL.

Os trinta anos do título têm a ver com o fato de Rolf Rendtorff ter apresentado, exatamente em Edimburgo, em 1974, uma exposição sobre o Javista, com o título “Der Jahwist als Theologe? Zum Dilemma der Pentateuchkritik” [O ‘Javista’ como teólogo? O dilema da crítica do Pentateuco].

No atual artigo, Rendtorff lembra as pesquisas feitas deste então, assunto que trato em um texto sobre a situação atual da pesquisa da História de Israel (e do Pentateuco) , e que convido o leitor a verificar (só o item 2: Van Seters reinventa o Javista) antes de prosseguir esta leitura. Ele diz que desde 1974 defendia o abandono da hipótese documentária do Pentateuco, mas foram refinamentos da hipótese e não o seu abandono o que veio acontecendo nos anos seguintes, de modo especial um intenso debate acerca do pilar de sustentação da hipótese, que é exatamente o Javista (But what happened instead in the following years was a discussion not about an alternative to this hypothesis but about its refinement. In particular, there began a widespread discussion about the central pillar of the hypothesis, the so-called Yahwist).

Após citar Von Rad e sua posição sobre o Javista – visto por ele como autor e teólogo – Rendtorff diz que vai apenas chamar a atenção para algumas características da pesquisa acadêmica mais recente – e não fazer um levantamento completo do que ocorreu nos últimos trinta anos (It is not my intention to unfold the whole history of research in the last thirty years. But I want to mark some characteristic positions that show the great diversity in the present scholarly debate).

Em primeiro lugar, há aqueles que ainda defendem a tradicional hipótese das fontes do Pentateuco, como Richard Elliott Friedman, em estudo publicado em 2005. Mas o que fazer com o texto após despedaçá-lo em J, E, P, D etc. E o texto em seu conjunto, como fica, pergunta R. Rendtorff?

Há também um grupo que sustenta uma ‘hipótese documentária reduzida’, eliminando o Eloísta (E) e concentrando a pesquisa no Javista (J), além de deslocá-lo para a época mais recente do Deuteronomista, a época do exílio babilônico, como John Van Seters e Hans Heinrich Schmid o fazem em suas clássicas obras da década de 70. Na mesma direção vai Christoph Levin em uma obra de 1993.

Mas há também um grupo que mais recentemente tem encontrado dificuldade em identificar o Javista. Enquanto o Sacerdotal (P) e a teologia Deuteronomista são claramente identificáveis no Pentateuco, quase tudo sobre o Javista começa a ser questionado: sua época e dimensão, sua coerência interna, características teológicas, enfim, sua existência como tal.

Por isso, em 1999, Christoph Levin convidou, em Munique, um grupo de pesquisadores para uma discussão sobre “O Javista e seus críticos”, da qual resultou o livro publicado em 2002 com o título de Abschied vom Jahwisten. Die Komposition des Hexateuch in der jüngsten Diskussion [Um adeus para o Javista. A composição do Hexateuco na discussão recente]. Sobre este livro leia o trecho que começa com E a crise do Pentateuco continua, em meu artigo já citado. É, como digo ali, “adeus” Javista (Jean Louis Ska expresses this by the title of his introductory essay: “The Yahwist, a Hero with a Thousand Faces.” Indeed, this collection of essays shows many different faces of “J.” And for many of the authors, the Yahwist has no face at all because he does not exist any longer).

Neste ponto de seu artigo, Rolf Rendtorff, após expor a posição de vários dos autores desta obra que descarta o Javista, chega à conclusão de que o fim do Javista significa também o fim da Hipótese Documentária. Em suas palavras:

In my view, this book shows very clearly that the end of the Yahwist means at the same time the end of the Documentary Hypothesis. A documentary hypothesis with just one single document cannot work like an hypothesis that was originally established and developed with four or at least three documents or sources, whose interrelations are a basic element of the method of working in the framework of this theory. As I mentioned before, only a few of the essays in this volume deal with this question, and they touch it just briefly and rather hesitantly. Instead, the question is raised of the interrelations between certain blocks, such as patriarchal stories and Exodus traditions or Genesis and the following books. These are questions beyond the Documentary Hypothesis“.

E termina seu artigo com a pergunta: “Novamente: O que aconteceu com o Javista? A resposta: desapareceu e levou com ele o edifício no qual ele habitava, porque não há ali outros moradores” (Again: What happened to the Yahwist? The answer: He faded away, and he took with him the building he had lived in because there are no inhabitants any longer).

No mesmo Forum da SBL há outro artigo: de David J. A. Clines, da Universidade de Sheffield, Reino Unido. É uma resposta ao texto de R. Rendtorff , com o título de Response to Rolf Rendtorff’s “What Happened to the Yahwist? Reflections after Thirty Years“.

Segundo Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica será realizado em Goiânia em setembro

Da página da Universidade Católica de Goiás e da página da CNBB:

II Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica
VII Semana de Estudos da Religião
(Goiânia, 4 a 6 de setembro de 2006)
Libertação – Liberdade: novos olhares

 

1. Apresentação/justificativa
O I Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica, realizado na Universidade Católica de Goiás (UCG) em Goiânia, de 8 a 10 de setembro de 2004 foi um sucesso. Nasceu daí a proposta de realizar Congressos bienais, sendo o II marcado para o mesmo local, nos dias 4 a 6 de setembro de 2006. Nasceu, no mesmo Congresso de 2004, a Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica, como fórum permanente, para reunir pessoas ligadas à pesquisa, publicação, editoração, ensino e assessoria. Além da prática de eventos bíblicos, tão divulgada nas últimas décadas, o II Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica quer ampliar o espaço para divulgação das pesquisas, entendidas como atividade científica. Abrange esforços de análise de textos originais, tradução, exegese e hermenêutica em suas diversas óticas. Envolve o mundo católico, o evangélico, a leitura judaica, a visão popular, entre outras. A presença da Bíblia, livro tão antigo e tão atual, avança nos espaços acadêmicos, especificamente nos cursos de pós-graduação em teologia e ciências da religião em nível de mestrado e doutorado. Chamam a atenção as pesquisas em perspectiva inter- e transdisciplinar, envolvendo outros campos de saber como a antropologia, história, sociologia etc. Também as relações entre Bíblia e literatura têm ganhado em relevância.

2. II Congresso
O II Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica acontecerá nos dias 4, 5 e 6 de setembro de 2006 em Goiânia, ocupando três dias cheios: segunda, terça e quarta-feira. A data prevê uma semana com feriado de 7 de setembro, para facilitar viagens e participações. Como no Congresso anterior, são convidados pesquisadores e pesquisadoras atuantes no Brasil e em outros países, que trabalhem a Bíblia de maneira científica, em nível acadêmico, ou seja, professores/as, pesquisadores/as, escritores/as, tradutores/as, editores/as e estudantes. Com base na participação no I Congresso, calcula-se em torno de 200 o número de participantes.

3. Responsáveis
Pela organização do Congresso e pela publicação dos textos estará responsável o Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião – Mestrado em Ciências da Religião da Universidade Católica de Goiás (UCG), através da seguinte equipe de coordenação: Profa. Dra. Carolina Teles Lemos, Prof. Dr. Haroldo Reimer e Prof. Dr. Valmor da Silva.

4. VII Semana de Estudos da Religião
O Congresso coincidirá com a realização da VII Semana de Estudos da Religião, promovida anualmente pelo Mestrado em Ciências da Religião. Com isso, pretende-se fomentar a participação dos mestrandos e mestrandas no Congresso através de temas relacionados com a área de Religião e sua interface com o tema do evento. A participação é aberta a todas as pessoas interessadas. Mediante inscrição, pagamento e participação será conferido um certificado aos e às participantes como curso de extensão da Universidade Católica de Goiás (24 horas).

5. Temática
O tema geral do II Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica e VII Semana de Estudos da Religião será Libertação – Liberdade: novos olhares. O tema tem a finalidade de avaliar a trajetória e a situação atual da leitura e pesquisa da Bíblia no Brasil, em torno a essa temática.

6. Programa
A programação do Congresso prevê as seguintes partes: Conferências programadas, Mesas de comunicações, Assembléia da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica.

Dia 4 de setembro – segunda-feira
8:30-10:30
Abertura oficial e celebração da Palavra
Conferência de abertura (I): Prof. Dr. Valmor da Silva
Tema: Leituras do Êxodo na América Latina

11:00-12:30
Mesas de comunicações

14:30-16:00
Mesas de comunicações

16:30-18:00
Conferência (II): Prof. Dr. Francisco Orofino
Tema: Êxodo e libertação ao longo da Bíblia

Dia 5 de setembro – terça-feira
8:30-10:30
Conferência (III): Prof. Dr. Norman K. Gottwald
Tema: As tribos de Javé revisitadas

11:00-12:30
Mesas de comunicações

14:30-16:00
Mesa de comunicações

16:30-18:00
Conferência (IV): Profa. Dra. Tânia Mara Vieira Sampaio
Tema: Êxodo e libertação: mulheres, indígenas e negras

20:00-22:00
Assembleia Geral da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica

Dia 6 de setembro – quarta-feira
8:30-10:30
Conferência (V): Prof. Dr. Jacil Rodrigues de Freitas
Tema: Êxodo, libertação e liberdade no Judaísmo

11:00-12:30
Mesas de comunicações

14:30-16:00
Conferência de encerramento (VI): Prof. Dr. Milton Schwantes
Tema: Êxodo, libertação e liberdade – uma avaliação

16:30-18:00
Assembléia da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica
Encerramento

7. Mesas de Comunicações
Estão previstos os seguintes temas para Mesas de Comunicações; outros poderão ser sugeridos a partir das inscrições e intenções dos e das participantes:
Leituras do êxodo na Bíblia
Bíblia e literatura
Traduções e novos materiais sobre Bíblia
Texto bíblico e história
Texto bíblico e arqueologia
História da religião judaica
Religião, libertação e gênero
Libertação no discurso do neopentecostalismo
Libertação nas práticas de religiosidade popular

Observações:
– Haverá limite de 3 comunicações por mesa; cada comunicação dispõe de no máximo 30 minutos (15 a 20 de apresentação + 10 a 15 minutos de debate); quem prolonga a apresentação da comunicação renuncia ao tempo de debate.

– Até o dia 20 de agosto, poderão ser feitas as inscrições das propostas de comunicação em alguma das mesas temáticas já elencadas ou, então, sugestão de nova mesa temática.

– A proposta de comunicação deverá explicitar o título da comunicação, nome do autor/a, titulação e instituição em que atua, resumo de 10 a 15 linhas (arial 12) e endereço virtual.

– Até o dia 20 de agosto poderão ser feitas propostas de outros temas para mesas de comunicações ou mesas temáticas completas. No caso de sugestão de mesa temática completa, deverá ser indicado o tema aglutinador, o nome da pessoa que coordenará a mesa, bem como tema, nome e resumos das comunicações específicas da referida mesa.

– A ‘comunicação científica’ é um gênero literário próprio, que deve se pautar por brevidade na apresentação (total de 30 minutos, sendo 15 a 20 de apresentação e o restante de debate) e clareza na formulação; a comunicação deve ser clara, contendo introdução breve e panorâmica do tema, desenvolvimento sucinto do recorte temático e conclusão; a comunicação não é um ‘borrão’, mas um texto de 3 a 5 laudas (arial 12, espaço duplo); a comunicação deverá conter: título, nome e titulação do/a autor/a, desenvolvimento, referências no final do texto.

8. Inscrições
As inscrições para o II Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica poderão ser feitas via e-mail (mcr@ucg.br e lesil@terra.com.br) ou via correio com disquete para: Universidade Católica de Goiás – Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião – Mestrado em Ciências da Religião – Av. Universitária, n.° 1069, Setor Universitário, CEP: 74.605-010 – Goiânia/GO. Os contatos poderão ser feitos pelo telefone (62) 3946-1011, com a Secretária Executiva Geyza Pereira. O material de divulgação do Congresso será disponibilizado na homepage da Universidade Católica de Goiás: www.ucg.br (clicar no ícone eventos).

Custo da inscrição:
50,00 – participantes em geral (com ou sem comunicação)
20,00 – estudantes (com ou sem comunicação)
Associados da ABIB – Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica – em dia com sua contribuição terão desconto de 50% no preço da inscrição do II Congresso.

O cadastramento como associado da ABIB poderá ser feito através de ficha cadastral própria, pagamento de anuidade de R$ 50,00 e envio da ficha e cópia do comprovante de depósito para: Haroldo Reimer, Rua 115-G, n.10, Setor Sul, 74.085-310 – Goiânia/GO (h.reimer@terra.com.br).

FICHA DE INSCRIÇÃO PARA O II CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA BÍBLICA E VII SEMANA DE ESTUDOS DA RELIGIÃO

NOME:
ENDEREÇO:
PROFISSÃO:
TELEFONE:
E-MAIL:
ENDEREÇO POSTAL:
INSTITUIÇÃO E/OU CAMPO DE ATUAÇÃO:
PRETENDE APRESENTAR TRABALHO:
TÍTULO DO TRABALHO:
RESUMO (10 a 15 linhas):
MATERIAL NECESSÁRIO:

9. Aspectos diversos
Os textos integrais das conferências e comunicações deverão ser encaminhados à comissão organizadora, para a publicação em volume de anais, a ser editado posteriormente ao evento. As Conferências acontecerão no Auditório do Básico, Área II, da Universidade Católica de Goiás (UCG), junto a Praça Universitária, Setor Universitário. As Comunicações serão realizadas em salas de aula na Área II da Universidade. A Universidade disponibilizará toda a infraestrutura do Auditório, isto é, microfones, som, retroprojetor, datashow, devendo os/as pesquisadores que apresentarem trabalhos indicar o material necessário no ato de inscrição. Haverá serviço de fotocópias à disposição dos/das participantes no Campus Universitário. A Secretaria do Mestrado em Ciências da Religião oferecerá apoio na parte de correspondências e inscrições.

10. Hospedagem
Em momento oportuno, haverá a indicação de lugares de hospedagem próximos à Universidade, tais como: Casa da Juventude, Casa das Missionárias de Jesus Crucificado, Comissão Pastoral da Terra a preços bem populares. Também será fornecida uma lista de hotéis e os respectivos preços para quem preferir. A hospedagem ficará por conta dos e das participantes. As refeições correrão por conta dos/as participantes, em lugares à sua escolha. No Campus Universitário há serviço de lanchonete e nas imediações da Universidade, serviços de restaurante. Na pasta de inscrição haverá indicação exata de tais locais para alimentação.

11. Passagens
As passagens dos e das participantes ficam por conta dos mesmos ou de suas Instituições. Pretende-se conseguir organizar um fundo para apoio de participantes com maiores custos de locomoção. Dadas as dificuldades em conseguir recursos extras, apela-se às Instituições para que apoiem seu pessoal interessado. As passagens dos conferencistas das conferências programadas, bem como sua hospedagem, em número de cinco, ficará por conta da Universidade.

12. Publicações do I Congresso
Estão à disposição, para compra, os vídeos referentes ao Congresso anterior, de 2004, sobre Hermenêuticas Bíblicas. Está no prelo e estará a disposição também o livro referente ao I Congresso com as conferências principais, comunicações enviadas e resumos de todas as comunicações.

Biblistas Mineiros preparam livro sobre a Obra Histórica Deuteronomista

O grupo dos Biblistas Mineiros, que publicou o número 88 da revista Estudos Bíblicos sobre a Obra Histórica Deuteronomista (= OHDtr), está ampliando os artigos em tamanho e número, para o lançamento de um livro a partir deste material, como tínhamos combinado no início do ano em nossa reunião em Belo Horizonte.

Recebemos hoje de nosso colega Telmo Figueiredo, que organizou a revista, o seguinte comunicado:

Até o final do mês de agosto, pediria a todos que contribuíram com artigos para o último número da revista “Estudos Bíblicos”, que me enviassem correções/acréscimos para serem incorporados à edição em formato livro que deverá ser publicada no começo do próximo ano. É importante observar esse prazo, pois, em setembro, o frei Ludovico Garmus, da Editora Vozes, já deverá ter em mãos todo o material para poder providenciar a edição do livro. Agradeço, desde já, o esforço de todos os/as colegas nesse sentido.