Em Journal of Hebrew Scriptures, da Universidade de Alberta, Canadá, no vol. 9, artigo 18, de 2009, leio um artigo de Ernst Axel Knauf, do Institut für Bibelwissenschaft, da Universidade de Berna, Suiça:
Observations on Judah’s Social and Economic History and the Dating of the Laws in Deuteronomy.
Diz o Abstract:
Nadav Na’aman’s recent dating of the Deuteronomic Law by social history is methodologically seminal, even if I disagree with the substance of his argument. In this article, I advance the case that the care of Deuteronomy for the ‘displaced Judahite” (gr) fits the 6th century much better than the 7th, as Na’aman argues.
Em determinado ponto do artigo, com o subtítulo The Rule of Law, argumenta Axel Knauf que a datação tradicional – que ele chama de “o erro de De Wette” – do Código Deuteronômico (Dt 12-26) na época de Josias [629-609 AEC] é insustentável, já que o rei era a lei e não usava leis codificadas. Mais: para o rei, a existência de um código de leis oficial era uma violação de sua prerrogativa real. O ambiente em que estas leis deveriam funcionar era o de Mizpah e Betel após a destruição de Jerusalém pelos babilônios e a queda da monarquia em 586 AEC.
Em seguida, ele explica porque a proposta de De Wette, feita em 1805, acabou ficando tão popular.
Sabemos que W. M. L. de Wette sugeriu que o “Livro da Lei”, que impulsionou a reforma de Josias, deveria corresponder ao Deuteronômio, ou, pelo menos, a uma forma mais primitiva deste livro. Mas, mais importante ainda foi a sua conclusão de que este Deuteronômio original foi composto na época de Josias, guardado no Templo e, em seguida, utilizado como documento de propaganda para a reforma deste rei.
A tese de W. M. L. de Wette foi publicada em 1805 em sua Dissertatio criticoexegetica… Em seguida, ele retoma suas idéias em suas Beiträge zur Einleitung in das Alte Testament [Contribuições para a Introdução ao Antigo Testamento] 2 Bde. Halle: Schimmelpfennig, 1806-1807 (reimpressão em 1 volume: Hildesheim: George Olms, 1971). Cf. SKA, J.-L. Introdução à leitura do Pentateuco: chaves para a interpretação dos cinco primeiros livros da Bíblia. São Paulo: Loyola, 2003, p. 120-121.
É claro que, no mundo acadêmico, a identidade deste Livro da Lei é extremamente controvertida. Leia o meu post A descoberta do Livro da Lei na época de Josias.
Citando Axel Knauf:
The available data from social and economic history render the ‘Josianic’ dating of Deuteronomy 12–26 untenable; the basic layer of these laws reacts to the situation at Mizpah and Bethel after 586 BCE. In monarchic Judah—as in Egypt, the king was the source of justice (cf. Ps 45:6; 72:1); he barely needed codified competition in this field. As long as there was a king in Jerusalem, he had no use for a codified law, for he was the king. The scribes, who did the actual ruling of the people, had no use for a codified law, for they had the authority of the king in whose name they ruled. They had, though, limited use for a collection of the common law (like the ‘Book of the Covenant’), because justice was meted out basically by the local community (with the possibility of appeal to the king, who would discuss the matter with his scribes). For the king, the existence of an authoritative ‘law’ besides him would have meant in infringement of his royal prerogative. The popularity of what now should be called de Wette’s error —the equation of the ‘Book of the Law’ presumably found in 622 BCE with Deuteronomy or parts of it— seems to be due to some specious attitudes towards the Bible and its world: the vain wish that the Bible could prove authoritative not only in the spiritual, but also in a literary-historical sense; the assumption of more continuity than discontinuity between the cult, literature and theology of the First and Second Temples; the crypto-fundamentalist inability to realize that Israel and Judah could, and did, exist without Torah and Prophets for rather a long time. Especially in the case of German scholars these fallacies are exacerbated by an idealistic view of the scribes and their intentions: they did not care for the people, they cared for the state, and l’état, c’était eux [as notas de rodapé 9 a 14 foram omitidas aqui]
Esclareço que o artigo de Nadav Na’aman mencionado por Axel Knauf é: “Sojourners and Levites in the Kingdom of Judah in the Seventh Century BCE,” ZAR 14 (2008), 237–279.
E que ZAR é a publicação Zeitschrift für Altorientalische und Biblische Rechtsgeschichte, do Institut für Alttestamentliche Theologie, Evangelisch-Theologische Fakultät Ludwig-Maximilians-Universität München, München [Munique], Alemanha.